1. Tiragem: 18000 Pág: 38
País: Portugal Cores: Preto e Branco
Period.: Semanal Área: 6,82 x 32,01 cm²
ID: 42894357 20-07-2012 Âmbito: Economia, Negócios e. Corte: 1 de 1
JOSÉ SARMENTO
analista de mercados da FINCOR
Abrandamento económico
vs. bancos centrais: quem vence
o braço de ferro?
Os problemas europeus são sobejamente
conhecidos pelos investidores, nomeadamente,
os problemas dos países periféricos e o
seu impacto na zona euro. As perspetivas
macroeconómicas dos países do Sul de Europa
são bastante negativas, com os países desta região
a apresentarem quedas no PIB em 2012 e,
provavelmente, também em 2013. Os pacotes
de austeridade não têm sido a solução para os
problemas devido ao impacto no crescimento.
Assim, o PIB europeu deverá cair 0.4% em 2012
e em 2013 não deverá ir além de um crescimento
de 0.7%. Como irá a Europa sair deste círculo
vicioso?
Mas estarão os problemas de crescimento
mundiais meramente afetados pela fraqueza
europeia? Infelizmente, não. Os dados
económicos dos EUA têm vindo a mostrar sinais
de fraqueza ao longo dos últimos meses, tendo
como expoente máximo os dados apresentados
recentemente do ISM (menor que 50, indicador
de recessão) e o emprego não agrícola, que se
situou novamente abaixo dos 100 mil este mês.
A média de novos empregos criados nos EUA no
segundo trimestre de 2012 é um terço dos criados
no primeiro (75 mil vs. 225 mil ao mês). Dada a
agressividade da queda apresentada em diversos
dados, assistimos a um corte de estimativas do
PIB nos EUA por parte de diversas casas de
investimento ao longo do último mês, situando-
se, neste momento, o consenso em 2%.
Nos principais mercados emergentes assistimos
também a diversos dados indicativos de
abrandamento económico. O PIB na China
cresceu 7,6% no último trimestre, o valor
mais baixo dos últimos três anos. O Brasil tem
apresentado dados económicos mais fracos que
o esperado, o que levou a cortes significativos
de estimativas do PIB para 2012. A casa de
investimento Morgan Stanley reviu a estimativa
de crescimento do PIB do Brasil de 2.7% para
1.6%.
Como vai o mundo crescer nos próximos anos?
Haverá luz ao fundo do túnel?
A resposta para a generalidade dos pedidos dos
investidores chamam-se bancos centrais. A sua
atuação nos últimos meses tem sido sempre no
sentido de estimular as economias. O Banco de
Inglaterra aumentou a LTRO em 50 mil milhões
de Libras, o FED estendeu a operação Twist, o
BCE cortou taxas de juro para mínimos, o Banco
Central da China e o da Coreia também cortaram
taxas e o Banco Central do Brasil cortou a SELIC
para os 8%, nível mínimo histórico. E agora? Será
suficiente?
Provavelmente não, mas a expectativa é de
continuação de implementação de mais medidas
de estímulo por parte dos bancos centrais no
segundo trimestre. O BCE ainda tem espaço
para novo corte de taxas de juro e as declarações
de diversos responsáveis sugerem que tal deverá
acontecer ainda este ano; o mercado espera que a
Reserva Federal implemente o terceiro programa
de “quantitative easing” ainda neste trimestre;
nos mercados emergentes, o Brasil, a China e a
Índia também deverão aumentar as medidas de
estímulo às economias, nomeadamente, através de
cortes de taxas e intervenção direta nos mercados.
Serão as intervenções dos bancos centrais
suficientes para fazer face aos problemas
estruturais das economias? Serão capazes de
vender este difícil braço de ferro? Retomará a
economia mundial os níveis de crescimento em
2013? A situação mantém-se delicada e só os
próximos desenvolvimentos poderão ajudar a
clarificar quem sairá vencedor.