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CENTRO DE LETRAS E CIÊNCIAS HUMANAS
ESPECIALIZAÇÃO EM ENSINO DE SOCIOLOGIA
FERNANDO GIORGETTI DE SOUZA
A SOCIOLOGIA DA INFÂNCIA: A SOCIALIZAÇÃO DA
CRIANÇA EM DIFERENTES PERSPECTIVAS TEÓRICAS.
Londrina-PR
2016
FERNANDO GIORGETTI DE SOUZA
A SOCIOLOGIA DA INFÂNCIA: A SOCIALIZAÇÃO DA
CRIANÇA EM DIFERENTES PERSPECTIVAS TEÓRICAS.
Londrina-PR
2016
Monografia apresentada ao Curso de
Pós-graduação em Ensino de
Sociologia da Universidade Estadual
de Londrina, como requisito parcial à
obtenção do título de Especialista em
Ensino de Sociologia.
Orientadora:
Profa. Dra. Ileizi Luciana Fiorelli Silva
S729a Souza, Fernando Giorgetti de
A Sociologia da Infância: a socialização da criança em
diferentes perspectivas teóricas.-- Fernando Giorgetti de
Souza.-- Londrina: Universidade Estadual de Londrina,
2016.
42f.
Monografia (Especialização em Ensino de Sociologia) –
Universidade Estadual de Londrina, 2016
1. Infância. 2. Socialização. 3. Autonomia. 4. Sociologia da
Infância. 5. Sociologia educacional. I. Titulo.
CDD 306.432
FERNANDO GIORGETTI DE SOUZA
A SOCIOLOGIA DA INFÂNCIA: A SOCIALIZAÇÃO DA CRIANÇA EM
DIFERENTES PERSPECTIVAS TEÓRICAS.
Monografia apresentada ao Departamento de
Ciências Sociais da Universidade Estadual de
Londrina, como requisito parcial à obtenção do
título de Especialista em Ensino de Sociologia.
BANCA EXAMINADORA
____________________________________
Orientadora: Profa. Dra. Ileizi Luciana Fiorelli Silva
Universidade Estadual de Londrina - UEL
____________________________________
Profa. Dra. Angélica Lyra de Araújo
Universidade Estadual de Londrina - UEL
____________________________________
Prof. Ms. Marco Antonio Rossi
Universidade Estadual de Londrina - UEL
Londrina, 18 de Abril de 2016.
Educa a criança no caminho em que deve andar; e até
quando envelhecer não se desviará dele.
Provérbios 22:6.
Dedico este trabalho a minha querida
mãe Dinoráh Luiza (in memorian) por
ter me ensinado valores na infância,
que contribuiram muito para a
formação daquilo que hoje sou,
“apesar de minhas imperfeições,
teimosias e de algumas escolhas
erradas” procuro trilhar no caminho
que conduz à sabedoria e à uma vida
feliz.
A minha família,
minha esposa Ester e aos meus filhos
Guilherme e Ana Julia, que suportaram
meus “chiliques” enquanto elaborava
meus trabalhos acadêmicos.
Amo vocês!
AGRADECIMENTOS
Agradeço primeiramente ao Deus Todo-Poderoso.
A minha orientadora Dra. Ileizi Luciana Fiorelli Silva,
A professora Dra. Angélica Lyra de Araujo (LENPES) pelo incentivo
e pelos livros,
A professora Any Marise Ortega pelas aulas de Sociologia da
Educação na FIG-UNIMESP em Guarulhos-SP,
Aos demais professores,
A Durva e Cláudio pela amizade e presteza profissional,
As turmas dos Cursos de Especialização em Ensino de Sociologia e
também da Especialização em Comunicação Popular e Comunitária, ambas (UEL-
2015), pela contribuição na construção desses conhecimentos.
Agradeço também as demais pessoas que contribuíram diretamente
ou indiretamente para a minha formação.
SOUZA, Fernando Giorgetti. A Sociologia da Infância: a socialização da criança
em diferentes perspectivas teóricas. 2016. 42f. Monografia (Especialização em
Ensino de Sociologia). Departamento de Ciências Sociais. Universidade Estadual de
Londrina, Londrina, 2016.
RESUMO
As concepções de socialização das crianças mudaram ao longo da história, devido
às dinâmicas das sociedades. Os primeiros estudos sobre as crianças foram
pautados na ótica de pedagogos, historiadores e psicólogos. Nos estudos
sociológicos dentre os autores clássicos é Émile Durkheim quem sistematiza a
Sociologia da Educação, elaborando importantes conceitos sobre a socialização, em
uma época em que a criança era apenas considerada um adulto em miniatura,
condicionada a obedecer às regras impostas pelo Estado. Com o avanço científico
no século XX e o surgimento da teoria sócio construtivista, a criança passa a ser
mediada pelos diferentes agentes educativos e Hannah Arendt discute a autonomia
delas em relação às gerações e aos seus pares. Este artigo foi produzido através de
uma pesquisa bibliográfica acadêmica e objetiva desenvolver uma reflexão sobre as
diferentes perspectivas do conceito de socialização das crianças e de suas relações
com a sociedade em diferentes perspectivas do pensamento sociológico, analisando
até que ponto os estudos durkheimianos continuam vigente na sociedade
contemporânea nos diferentes ambientes, família, escola, e outras instituições,
incluindo alguns apontamentos recentes sobre a mídia de massa e redes sociais.
Ocorreu nas décadas de 1980/90 uma revisão do conceito de socialização em
consequência da emergência e constituição de um novo campo de saber, e os
sociológos franceses e ingleses romperam com a concepção durkheimiana do ser
social e acenaram ao mundo contemporâneo o protagonismo das crianças nas
sociedades ao trabalhar com os pressupostos da Sociologia da Infância como um
fenômeno social. Ampliando as discussões Corsaro apresenta a metáfora da teia
global, apontando que as crianças, não são mais passivas no processo de
socialização, pois, transitam e interagem com os adultos e com outras crianças
simultaneamente em diferentes ambientes. Em suma, nesse artigo se observa a
importância da mediação das crianças pelas gerações adultas e a autonomia delas
como atores sociais.
Palavras-Chave: infância; socialização; autonomia; sociologia da infância;
sociologia educacional.
SOUZA, Fernando Giorgetti. The sociology of childhood: the socialization of
children in different theoretical perspectives. 2016. 42p. Monograph (Specialization in
Sociology of Education). Department of Social Sciences. State University of
Londrina, Londrina, 2016.
ABSTRACT
Conceptions on children's socialization have changed throughout history, due to the
dynamics of societies. The first studies on children were guided by the perspective of
educators, historians and psychologists. Among classical authors of sociology stands
out Durkheim, who systematized the Sociology of Education, developing important
concepts of socialization, in a time when the child is considered just a miniature adult,
conditioned to obey the rules imposed by the state. With the scientific advancement
in the twentieth century and the emergence of social constructivist theory, the child
began to be mediated by different educational agents and Hannah Arendt discusses
their autonomy in relation to generations and to their peers. This article was produced
through bibliographical research by academic literature. Its purpose is to develop a
reflection on the different perspectives of the concept of socialization of children and
their relationship with society in different prospects of sociological thought, analyzing
how far the Durkheim's studies is still current in contemporary society in different
environments, family, school, and other institutions, including some recent notes on
the mass media and social networks. During the 80’s and 90’s a review of the
concepts of socialization occurred as a result of the emergence and establishment of
a new field of knowledge, and the French and English sociologists broke Durkheim’s
conception of the social being and waved to the contemporary world the protagonism
of children on societies from the moment they started working with childhood
sociology as social phenomenon. Increasing the discussion Corsaro presents the
metaphor of the global web, pointing out that children are not passive in the
socialization process, therefore, pass and interact with adults and with other children
simultaneously in different environments. In short, this article points out the
importance of mediation of children by adult generations and empower them as
social actors.
Keywords: Childhood; socialization; autonomy; sociology of childhood; educational
sociology.
LISTA DE ILUSTRAÇÕES
Figura 1 – Modelo de teia global .............................................................................25
LISTAS DE ABREVIATURAS E SIGLAS
PPP Projeto Político Pedagógico
SME Secretaria Municipal da Educação
UEL Universidade Estadual de Londrina
UFSC Universidade Federal de Santa Catarina
9
SUMÁRIO
INTRODUÇÃO..........................................................................................................11
1. A SOCIALIZAÇÃO DA CRIANÇA NA PERSPECTIVA DURKHEIMIANA...........15
2. A SOCIALIZAÇÃO DE UMA NOVA GERAÇÃO PARA UM MUNDO NOVO ......19
3. A SOCIALIZAÇÃO DA CRIANÇA NA PERSPECTIVA CONTEMPORÂNEA .....25
CONSIDERAÇÕES FINAIS......................................................................................35
REFERÊNCIAS.........................................................................................................38
11
INTRODUÇÃO
A Sociologia da Infância é um novo campo de saber e estuda as ações e
relações sociais das crianças na contemporaneidade. Novo, porque até a década de
1980, as pesquisas sobre as crianças eram realizadas através das lentes de
pedagogos, de historiadores e de psicólogos.
Conforme observado, houve um atraso nos estudos sociológicos sobre a
criança, permitindo então a vanguarda da produção de saberes relacionados aos
aspectos biológicos, médicos e psicológicos, influenciando a educação familiar e
escolar.
Segundo Lima, Moreira e Canhoto de Lima (2014, p. 99) o que acontece
“entre” as crianças, “além do biológico e o psicológico, representa uma função de
outras áreas do saber como a Sociologia e Antropologia”.
Nesse sentido, Corsaro (2011, p. 18) entende que as crianças “foram
marginalizadas na sociologia devido a sua posição subordinada nas sociedades e às
concepções teóricas de infância e socialização. ”
Porém, na década de 1960, os estudos do francês Philippe Ariès marcaram
uma nova perspectiva e fomentaram novas discussões sobre a criança passiva e o
seu papel na sociedade, já que até aquele momento, a criança era considerada um
“adulto em miniatura”.
Cohn (2005, p. 28) aponta, que a criança “não é um adulto em miniatura”,
tampouco “alguém que treina para a vida adulta”. A antropóloga deseja que a
sociedade compreenda a interação das crianças com seus pares, com os adultos e
com o mundo, onde quer que seja, “sendo parte importante na consolidação dos
papéis que assume e de suas relações. ”
Além disso, vale ressaltar, segundo Belloni (2009, p. 2)
A ideia de infância, fruto das representações da sociedade, varia
segundo o momento histórico e as diferentes sociedades ou culturas:
não há uma infância universal, unívoca, uniforme. Existem muitas
infâncias, multiformes, diversas, particulares. Embora possa ser
identificada por características biológicas comuns em toda a espécie
humana, essa aparente naturalidade da infância não é suficiente
para compensar as profundas diferenças de ordem histórica,
antropológica e sociológica que distinguem as diferentes infâncias do
mundo de hoje.
12
Embora a Sociologia da Infância seja um saber emergente, os sociólogos
têm produzido estudos significativos sobre o desenvolvimento das crianças, e há
ainda muito a desvendar, porém isso pode não ser uma tarefa fácil, devido à
complexidade e interdisciplinaridade dos temas em discussão.
Segundo Kramer (1999, p. 271),
O significado social e ideológico da criança e o valor social atribuído
à infância têm sido objeto de estudo da sociologia, ajudando a
entender que a dependência da criança em relação ao adulto é fato
social e não natural; na base da distribuição desigual de poder entre
adultos e crianças, há razões sociais e ideológicas fortes, com
repercussões evidentes no que se refere ao controle e à dominação
de grupos.
O sociólogo inglês Anthony Giddens (2012, p. 213) entende a importância da
educação familiar e escolar para as crianças, porém, destaca também o papel da
mídia na socialização das crianças. Por isso, relata os avanços dos meios de
comunicação de massa impressos da modernidade, para os meios de comunicação
de massas eletrônicos da pós-modernidade.
É evidente que a indústria cultural e a mídia de consumo contribuem
influenciando e socializando as crianças e por isso, estudiosos do campo da
Comunicação e da Educação destacam a necessidade de mediação na recepção
das mensagens, por quem conheça as artimanhas midiáticas e publicitárias.
Paulo Freire (1996, p. 139) recomenda aos educadores progressistas: “não
podemos desconhecer a televisão mas devemos usá-las, sobretudo, discuti-la. ”
Nesse sentido, essa discussão vai além de mediar o conhecimento obtido
pela audiência televisiva, mas também, da ação/interação das crianças nas redes
sociais, seu novo ambiente de socialização.
Belloni (2009, p. 116) destaca, “Hoje, nos países ocidentais, a criança é,
cada vez mais, considerada sujeito de seus processos de socialização, sendo um
ator muito importante no mercado consumidor e alvo preferido dos publicitários, pois
parece sem dúvida influir sobre as escolhas familiares de compra. ”
Compreendendo então a relevância de pesquisas sobre as crianças e seu
papel na sociedade, o presente artigo, objetiva além de contribuir para as
discussões acadêmicas, produzir uma análise sociológica, através de leitura
bibliográfica, nos diferentes contextos históricos/sociológicos e em diferentes
perspectivas teóricas.
13
Serão abordadas três perspectivas acerca da socialização das crianças,
sendo a primeira na ótica clássica durkheimiana, seguida das discussões
sociológicas sobre as crianças e a educação em meados do século XX, e de
debates na contemporaneidade, devido à emergência desse novo campo de saber,
ou seja, a Sociologia da Infância.
A escolha de trabalhar nessa temática ocorreu durante uma conversa com a
orientadora deste artigo, sobre um projeto de Midiaeducação e Cidadania1
em
desenvolvimento naquele momento, problematizando a socialização das crianças
através dos meios de comunicação de massas.
Entendendo a emergência do Campo, a professora indicou algumas
literaturas e autores, dentre eles Émile Durkheim, Hannah Arendt e François Dubet.
Após iniciada uma pesquisa sobre o estado da arte, tendo uma visão
panorâmica do tema, a sugestão dos três autores foi aceita pela pertinência e
relevância de suas contribuições teóricas.
A preferência por Durkheim foi simplesmente pelo fato de ao lado de Karl
Marx e Max Weber - ser considerado um dos autores clássicos da sociologia – e
melhor dizendo, pela sua contribuição na construção do conhecimento sociológico
da educação.
Soma se a isso, a escolha de Arendt devido sua militância e visão contra o
pragmatismo da educação estadunidense do início do século XX, e de Dubet pelo
seu entendimento de uma escola democrática para as crianças.
Diante dessas considerações, o primeiro questionamento desse artigo,
consiste em saber de que modo os estudos de Durkheim contribuem para a
educação da criança na sociedade brasileira? Consequentemente, os apontamentos
do primeiro item pretendem responder essa questão, por intermédio das
contribuições teóricas do pensamento durkheimiano sobre a educação e
socialização das crianças.
No segundo item, a criança será vista na perspectiva sociológica do século
XX desde a escola de Frankfurt até a emergência da Sociologia da Infância no início
1
O Projeto Midiaeducação e Cidadania foi uma pesquisa participante, autorizada pela Secretaria
Municpal de Educação de Londrina - SME, realizada com os alunos do quinto ano de uma Escola
Municipal de Educação Infantil entre os meses de set./nov. de 2015, tendo em vista, os apontamentos
sobre o comportamento e respostas das crianças frente aos meios de comunicação de massa. Foram
realizadas vinte e duas oficinas, divididas em cinco temas principais: Identidade, Cidadania,
Comunidade, Leitura crítica da mídia e Elaboração de Jornais/Técnicas de Jornalismo, abordando os
pressupostos da Comunicação Comunitária, sendo elaborado um jornal escolar. (SOUZA, 2016, No
prelo).
14
da década de 1980, resgatando a visão de Hannah Arendt, Michel Foucault, Philippe
Ariès, Pierre Bourdieu e também destacando o pioneirismo do sociólogo brasileiro
Florestan Fernandes, em sua pesquisa etnográfica, procurando entender as
mudanças de comportamento das crianças em relação aos ensinos durkheimianos
da socialização.
Por fim, o terceiro item apresenta a emergência da Sociologia da Infância na
sociedade contemporânea, trabalhando os conceitos sobre socialização2
das
crianças nos diferentes ambientes, o seu papel autônomo de ator social, as suas
relações parentais, gerações e alteridade, bem como a influência midiática nos
processos de socialização das crianças.
Destaca-se nesse terceiro item, a leitura crítica feita por Maria Luiza Belloni
(2009), William Corsaro (2011), Anthony Giddens (2012), Hargreaves, Earl e Ryan
(2001), Suzanne Mollo-Bouvier (2005), Cléopâtre Montandon (2005), Jucirema
Quinteiro (2002), Manuel Jacinto Sarmento (2005), Maria da Graça Setton (2002),
Régine Sirota (2001), entre outros autores, que discutem nesse novo campo – a
Sociologia da Infância - e dão sustentação teórica para esse trabalho.
Esses autores são destacados pela importante contribuição para o campo e
por romperem com o entendimento durkheimiano sobre a socialização da criança
como um adulto em miniatura, sendo apenas um sujeito passivo, internalizando o
mundo dos adultos.
Eles entendem que as crianças nessa nova perspectiva de socialização são
“sujeitos ativos”, participam e criam suas próprias culturas e ao mesmo tempo
contribuem para a produção da cultura inclusive dos adultos.
2
Vide nota p. 28.
15
1. A SOCIALIZAÇÃO DA CRIANÇA NA PERSPECTIVA DURKHEIMIANA
O sociólogo clássico Durkheim percebe a dificuldade de mudar a educação
sem mudar as estruturas sociais. Ele demonstra o conservadorismo das instituições,
devido à existência de costumes e princípios norteadores da educação dependentes
da religião, da ciência, etc., ou seja, o passado constitui um conjunto de causas
históricas, dirigindo a educação de uma determinada sociedade.
Por isso, Durkheim (1978, p. 36) afirma: “os sistemas educativos nada têm
de real em si mesmo” e a educação ideal é uma abstração por estar a serviço das
instituições exprimindo ou refletindo o ideal e as estruturas da sociedade.
Segundo Durkheim (1978, p. 57),
a educação é a ação exercida, junto às crianças, pelos pais e
mestres. É permanentemente, de todos os instantes, geral. Não há
período na vida social, não há mesmo, por assim dizer, momento no
dia em que as novas gerações não estejam em contato com seus
maiores e, em que, por conseguinte, não recebam deles influências
educativas.
O professor Antonio Cândido em 1955 nos Anais do I Congresso de
Sociologia, contestou essa ação exercida, pois entendeu que “esta explicação
sociológica exprime a ilusão pedagógica, tão comum apesar das teorias em
contrário, segundo a qual a educação é algo que flui do educador para o educando,
envolvendo-o pela ação tutelar de princípios e valores sancionados pela experiência
da coletividade. ” (CÂNDIDO, 1987, p. 7).
Ao tratar a existência da educação e defini-la Durkheim (1978, p. 38) aponta
a questão da influência geracional. “Para que haja educação, faz mister que haja,
em face de uma geração de adultos, uma geração de indivíduos jovens, crianças e
adolescentes; e que uma ação seja exercida pela primeira, sobre a segunda. ”
Ainda segundo Durkheim (1978, p. 44) a sociedade “desperta o saber dos
homens e impõe a cultura científica como um dever” e essa imposição pode até
aparentar uma “insuportável tirania”, contudo, a submissão é de interesse do
homem, porque a ação coletiva originada da educação torna-o um ser humano
melhor. Assim, ao transformar a sociedade, se auto-transforma também.
16
Percebe-se aqui então a relação da Sociologia da Educação com a
Sociologia da Infância, porque a educação ocorre desde os primeiros anos de vida e
a socialização das crianças é uma função coletiva da sociedade.
É a sociedade que nos lança fora de nós mesmos, que nos obriga a
considerar outros interesses que não os nossos, que nos ensina a
dominar as paixões, os instintos, e dar-lhes lei, ensinando-nos o
sacrifício, a privação, a subordinação dos nossos fins individuais a
outros mais elevados. (DURKHEIM, 1978, p. 45).
Sendo assim, a consciência coletiva da sociedade prevalece sobre o
indivíduo coercitivamente. Portanto, educar segundo Durkheim é “adaptar a criança
ao meio social para o qual se destina” e constitui-se um interesse social.
Durkheim dita em sua obra As Regras do Método Sociológico:
O devoto, ao nascer, encontra prontas as crenças e as práticas da
vida religiosa; existindo antes dele, é porque existem fora dele. O
sistema de sinais de que me sirvo para exprimir pensamentos, o
sistema de moedas que emprego para pagar as dívidas, os
instrumentos de crédito que utilizo nas minhas relações comerciais,
as práticas seguidas na profissão etc. funcionam independentemente
do uso que delas faço. (DURKHEIM, 1974, p. 2)
Consequentemente, segundo Costa (2007, p. 82) a educação na perspectiva
durkheimiana conforma os indivíduos, internalizando neles as regras da sociedade
em que vivem, transformando-as em hábito.
Para Durkheim se tirarmos do homem tudo aquilo que a sociedade lhe
empresta, ele seria reduzido a condição animal, e nesse contexto, cabe então ao
professor imprimir ideias e sentimentos ao espírito da criança, a fim de harmonizá-la
com o meio social e desenvolver nela a cidadania.
Por esta razão, “ a ação exercida pela sociedade, especialmente através da
educação, não tem por objeto, ou por efeito, comprimir o indivíduo, amesquinhá-lo,
desnaturá-lo, mas ao contrário engrandecê-lo e torná-lo criatura verdadeiramente
humana. ” (DURKHEIM, 1978, p. 46-47)
Esses apontamentos são pequenos fragmentos do pensamento
durkheimianos sobre a socialização da criança e demonstram a função social das
instituições, da família e da escola, lugares onde se dão as relações sociais da
criança e respondem um primeiro questionamento sobre a autonomia das crianças,
17
ou seja, para Durkheim a criança não exerce sua autonomia, devido estar sob a
tutela da família e da escola.
Dessa forma, subentende-se que a criança não nasce pronta e segundo
Durkheim (1978, p. 53) precisa ser orientada e disciplinada para condutas coerentes.
Para tanto, cabe aos mestres e pais, serem prudentes e demonstrarem
autoridade, ao invés de autoritarismo, uma vez que nada passa sem deixar marcas
nas crianças.
Outra consideração importante para Durkheim (1978, p. 54) acerca da
educação fica por conta do dever personificado cuja “autoridade moral é a qualidade
essencial do educador”.
Em suma, para Durkheim (1978, p. 84) a educação é a transmissão através
de uma geração à outra hereditariamente.
Assim, conforme se observa, os estudos sociológicos sobre a criança eram
realizados pelo campo da Sociologia da Educação pautados da concepção
durkheimiana. Contudo, cabe ressaltar, o esforço de Durkheim em sistematizar esse
saber.
Para a professora Helena Singer3
(1997, p. 32) o contexto vivido por
Durkheim (1858-1917) foi de profundas transformações na sociedade francesa, e em
1882, a proposta para a educação, contempla a instrução laica nas escolas, a
obrigatoriedade e gratuidade para “todas as crianças dos seis aos treze anos” e com
isso, a escola é incumbida de moralizar a sociedade.
Dubet (1994 apud SILVA, 2011, p. 336) critica a perspectiva durkheimiana
de socialização ao afirmar “ Nas perspectivas sociológicas clássicas, a escola é uma
instituição socializadora, que define o ator social por sua potencialidade em
incorporar os valores e normas da sociedade de seu tempo. O ator incorpora os
princípios estáveis e homogêneos do sistema, logo o ator é o sistema. ”
Além disso, Silva (2011, p. 337) afirma
Pela leitura de Durkheim, a sociedade não existiria sem que
houvesse em seus membros certa homogeneidade, sendo função da
educação a perpetuação e o reforço dessa homogeneidade, o que
implicaria a fixação na criança de algumas similitudes necessárias à
vida coletiva. Ao mesmo tempo, sem um mínimo de diversificação
3
A socióloga é autora do livro República de crianças e se destaca pelo pioneirismo na pesquisa sobre
a Escola Democrática, sendo a escola da Ponte em Portugal uma referência mundial nesse modelo
de gestão democrática. No Brasil dentre outras escolas a E.M. Desembargador Amorim Lima em São
Paulo adota a gestão escolar semelhante desde 2004.
18
toda cooperação ou forma de solidariedade seria impossível: é a
diversificação que permite a especialização da sociedade. Essa,
portanto, seria a definição central do processo de socialização no
quadro do Funcionalismo: a presença das funções diferenciadora e
homogeneizadora das relações sociais.
Neste sentido, é possível entender a contribuição de Durkheim para a
socialização das crianças na sociedade moderna, no entanto, na perspectiva
contemporânea é preciso mudar essa visão de passividade da criança.
Assim, as crianças são para Silva (2011),
protagonistas como os adultos e educadores no sentido de que não
são seres passivos à espera de que outros sempre os eduquem
como vislumbrava os estudos da sociologia clássica representada
pelos trabalhos de Durkheim (sobre socialização) e de Weber (sobre
as lógicas de ação). Inúmeras são as transformações por que tem
passado a sociedade, em todas as esferas que a compõem. Dessa
forma, o inventar das crianças, muitas vezes, direciona a novas
formas de sociabilidade, novas formas de expressões culturais que
proliferam a cada dia.
Conforme se observa a sistematização do pensamento de Durkheim sobre a
socialização influenciou muito o sistema educacional brasileiro, entretanto, na
sociedade contemporânea, as discussões continuam e surgem novos conceitos
sobre a socialização das crianças.
Giddens (2012, p. 84) aponta as fases de desenvolvimento da teorização
sociológica e entende que os pensadores clássicos – Marx, Durkheim e Weber –
atuaram em um momento de profundas mudanças sociais.
Ele aponta ainda a importância de “colocar as velhas perspectivas em
contato com as novas, para testar e comparar sua efetividade para nos ajudar a
entender e explicar as mudanças dramáticas que estamos vivenciando. ” (GIDDENS,
2012, p. 84).
Nesse sentido, devido as constantes transformações na sociedade, são
importantes novas análises, porém, isso não significa que as perspectivas clássicas
devam ser descartadas, pelo contrário, elas devem fornecer novas visões.
19
2. A SOCIALIZAÇÃO DE UMA NOVA GERAÇÃO PARA UM MUNDO NOVO
À princípio, para uma melhor compreensão sobre a Sociologia da Infância é
preciso observar o avanço das teorias sociológicas no século XX. Para tanto,
Corsaro (2011) aponta dois modelos diferentes do processo de socialização na
sociedade moderna, sendo o primeiro determinista, cuja criança age passivamente e
é considerada uma “iniciante” com potencial para contribuir para a manutenção da
sociedade, contudo, é uma “ameaça indomada”, que deve ser cuidadosamente
controlada e treinada.
O autor compreende ainda, que no modelo determinista e suas duas
vertentes – a funcionalista e a reprodutivista – a importância das crianças, e da
infância na sociedade são ignoradas. Além disso, eles “ignoram a questão de que as
crianças não se limitam apenas a internalizar a sociedade em que nasceram. ”
(CORSARO, 2011, p. 22).
O segundo modelo apresentado por Corsaro é construtivista e considera a
criança um sujeito ativo que constrói seu mundo social e seu lugar nele.
Para ele, quando aplicadas à Sociologia da Infância,
as perspectivas interpretativas e construtivistas argumentam que as
crianças, assim como os adultos, são participantes ativos na
construção social da infância e na reprodução interpretativa de sua
cultura compartilhada. Em contraste, as teorias tradicionais veem as
crianças como “consumidores” da cultura estabelecida por adultos.
(CORSARO, 2011, p. 19).
De acordo com Belloni, “as teorias deterministas como o funcionalismo, o
estruturalismo e o marxismo, criticadas pelos pensadores da Escola de Frankfurt,
pela fenomenologia e solapadas por movimentos “pós-modernos”, foram perdendo
seu valor heurístico, ao longo da segunda metade do século. (BELLONI, 2009, p. 5)
Ela destaca ainda,
A partir daí, assistimos à progressão de correntes ditas
“construcionistas” ou “construtivistas”, que consideram que os atores
constroem o mundo em que vivem, o que significa uma espécie de
“volta ao ator”, seja no sentido weberiano (significação da ação), seja
no sentido de Goffman ou de Touraine, ou mesmo no de Bourdieu
com a noção de habitus. (BELLONI, 2009, p. 5)
20
As discussões sociológicas avançaram significativamente e segundo Dias
(2012, p. 73) a institucionalização da infância iniciou-se na modernidade “com a
criação das escolas e expansão das redes de ensino. ”
Para ela a criança “ao adentrar os muros escolares, passava a desempenhar
um novo papel, o de aluno, assumindo nova postura e novas responsabilidades. ”
(DIAS, 2012, p.73)
A propósito, no Brasil o sociólogo Florestan Fernandes (1979) em 1944,
muitos anos antes da emergência e das discussões sobre a Sociologia da Infância,
já destacava em seus estudos a socialização infantil por intermédio da cultura
folclórica4
em “As “Trocinhas” do Bom Retiro”.
Para Mazza (2001) Florestan Fernandes
por meio das observações das práticas folclóricas das "trocinhas",
chegou à análise da organização dos grupos infantis tendo por
finalidade imediata a recreação. Ele observou a formação dos grupos
infantis valendo-se da condição básica da vizinhança; a organização
dos grupos segundo a convivência primária do face à face e também
segundo as exigências próprias de cada atividade, às vezes por
sexo, outras vezes por idade, agilidade, tamanho, força física, quanto
aos deveres e direitos dos participantes do grupo, a punição feita
pelo líder, etc.
Completa ainda Mazza (2001) que “Florestan incorporou o conceito de “ser
social” de Durkheim para contrapô-lo ao “ser individual” sugerindo que os grupos
infantis socializavam a criança, agindo no mesmo sentido que a paróquia, a escola,
a família na formação do ser social e no desenvolvimento da personalidade de
imaturos”.
Em seus escritos Florestan mostra a relação espontânea das crianças com
seus pares, e por meio das simples brincadeiras troca experiências entre si sobre a
cultura infantil e até internaliza a cultura dos adultos, através do lúdico
automaticamente, sem mesmo perceber isso.
No entanto, além da socialização das crianças através de seus pares, há
também a interferência da indústria cultural na sociedade moderna. A mídia de
massa é uma das principais armas capitalistas, para manipulação e controle social
4
Roger Bastilde prefacia e elogia a obra de Florestan Fernandes (1979, p. 229) apontando: “o
folclore, durante tanto tempo abandonado aos amadores, seus únicos estudiosos, tornou-se hoje uma
ciência, que tem suas regras, seus métodos, e que exige de quem estuda qualidades especiais.”
21
desde seu surgimento, pois tem o poder de influenciar as crianças e adultos de
maneira sutil para serem consumidores de suas mercadorias.
As programações dos meios de comunicação de massa, ou seja, jornais,
revistas, televisão, cinema e rádio são massificadas, preparadas para legitimar a
cultura de uma geração e influenciá-la a consumir inconscientemente mercadorias.
Entretanto, a socialização das crianças para Jesus Martin-Barbero, é
realizada de maneira desigual entre as classes sociais, pois, “Enquanto uma classe
normalmente só pede informação à televisão, porque vai buscar em outra parte o
entretenimento e a cultura - no esporte, no teatro, no livro e no concerto -, outras
classes pedem tudo isso só à televisão. ” (MARTIN-BARBERO, 1997, p. 301).
Passadas duas décadas, contextualizando essa informação, além da
televisão, vale considerar a popularização da Internet e o acesso às redes sociais.
Nesse sentido, as mediações desses conteúdos são essenciais para a
socialização das crianças, seja qual for o lócus e a classe social em que ela esteja,
não apenas nos ambientes formais, mas também nos ambientes não-formais de
educação.
O sociólogo francês Pierre Bourdieu na década de 1970 resgata os ensinos
durkheimianos sobre a “conservação de uma cultura herdada do passado” e aponta
a família e a escola sendo as instituições responsáveis por transmitir o patrimônio
cultural as crianças. Para ele, “a transmissão entre gerações da informação
acumulada, permite às teorias clássicas dissociar a função de reprodução cultural
que cabe a qualquer sistema de ensino, de sua função de reprodução social. ”
(BOURDIEU, 2007, p. 296-297).
Na mesma perspectiva durkheimiana sobre a educação, no que se refere a
transcendência do mundo para as novas gerações, Arendt enfatiza
Só a existência de uma esfera pública e a subsequente
transformação do mundo em uma comunidade de coisas que reúne
os homens e estabelece uma relação entre eles depende
inteiramente da permanência. Se o mundo deve conter um espaço
público, não pode ser construído apenas para uma geração e
planejado somente para os que estão vivos: deve transcender a
duração da vida de homens mortais. (ARENDT, 1997, p. 64)
Tendo vivido no contexto pós-guerra na sociedade americana de massas,
Arendt escreveu sobre a crise na educação em meados de 1960 apontando dois
polos opostos, a centralização e a descentralização do poder.
22
Em seu entender, o poder ditatorial ocorre quando se centraliza o poder na
figura do professor, e oposto a isso, quando se permite a autonomia das crianças
junto aos seus pares, se observa a tirania.
Conforme pontua Arendt, a situação da criança participando em grupo, sem
a mediação de um adulto, pode ser bem pior do que antes, porque a autoridade
“mesmo que este seja um grupo de crianças, é sempre consideravelmente mais forte
e tirânica do que a mais severa autoridade de um indivíduo isolado.” (ARENDT,
1992, p. 230).
Ademais, a autora considera que ao se emancipar da autoridade dos
adultos, a criança “não foi libertada, e sim sujeita a uma autoridade muito mais
terrível e verdadeiramente tirânica, que é a tirania da maioria.” (ARENDT, 1992, p.
230).
Arendt (1992, p. 230) percebe a existência de um mundo autônomo da
criança “um ser em desenvolvimento” e a infância “uma etapa temporária” e
necessária para a preparação do mundo adulto, e por isso, os educadores devem
ensiná-las, mediando os conflitos, conduzindo-as a refletirem suas ações. Sem
dúvida, nesse processo de socialização, é importante a participação de cada ator.
Por essa via, Arendt aponta a função da escola em ensinar a autoridade na
sala de aula e ao mesmo tempo, estimular a autonomia das crianças em serem
agentes de transformação do mundo.
A função da escola é ensinar às crianças como o mundo é, e não
instruí-las na arte de viver. Dado que o mundo é velho, sempre mais
que elas mesmas, a aprendizagem volta-se inevitavelmente para o
passado, não importa o quanto a vida seja transcorrida no presente.
(ARENDT, 1992, p. 246).
Quanto ao problema da educação no mundo moderno, Arendt demonstra
que é preciso equilíbrio para não abrir mão nem da autoridade, nem da tradição e
concluindo seu raciocínio afirma:
A educação é, também, onde decidimos se amamos nossas crianças
o bastante para não expulsá-las de nosso mundo e abandoná-las a
seus próprios recursos, e tampouco arrancar de suas mãos a
oportunidade de empreender alguma coisa nova e imprevista para
nós, preparando-as em vez disso com antecedência para a tarefa de
renovar um mundo comum. (ARENDT, 1992, p. 247).
23
Assim a tarefa da educação para Arendt é conservar e renovar esse mundo
velho, junto aos mais novos, possibilitando-lhes um novo começo, um mundo novo.
Momm (2011, p. 140) debruçando na obra de Arendt, aponta a missão
intercessora dos professores na relação da criança nova em um mundo velho de
processos e suas significações, contribuindo também para a passagem dela, da
esfera privada infantil para a esfera pública do mundo adulto.
A educação para Arendt é conservadora, tendo em vista a natureza da
condição humana, mas “em benefício daquilo que é novo e revolucionário” pois,
“cada geração se transforma em um mundo antigo, de tal modo que preparar uma
nova geração para um mundo novo só pode significar o desejo de arrancar das
mãos dos recém-chegados sua própria oportunidade face ao novo.” (ARENDT,
1992, p. 226).
Partindo para a perspectiva foucaultiana, a socialização da criança acontece
sob uma coerção disciplinar do corpo pois,
O corpo humano o esquadrinha, o desarticula e o recompõe. Uma
“anatomia política”, que é também igualmente uma “mecânica do
poder”, está nascendo; ela define como se pode ter domínio sobre o
corpo dos outros, não simplesmente para que façam o que se quer,
mas para que operem como se quer, com técnicas, segundo a
rapidez e a eficácia que se determina. A disciplina fabrica assim
corpos submissos e exercitados, corpos “dóceis”. A disciplina
aumenta as forças do corpo (em termos econômicos de utilidade) e
diminui essas mesmas forças (em termos políticos de obediência).
Em uma palavra: ela dissocia o poder do corpo; faz dele por um lado
uma “aptidão”, uma “capacidade” que ela procura aumentar; e inverte
por outro lado a energia, a potência que poderia resultar disso, e faz
dela uma relação de sujeição estrita. Se exploração econômica
separa a força e o produto do trabalho, digamos que a coerção
disciplinar estabelece no corpo o elo coercitivo entre uma aptidão
aumentada e uma dominação acentuada. (FOUCAULT, 1987, p.
119).
Nessa perspectiva foucaultiana, as escolas se apresentam na mesma
disposição física dos hospitais, manicômios e prisões, e em oposição a esse modelo
de escola que vigia e pune, Singer (1997) defende o modelo de Escola Democrática5
na sociedade contemporânea.
5
De acordo com Helena Singer são três os princípios da Escola Democrática: 1) A autogestão:
participação e responsabilidade de todos envolvidos 2) Prazer pelo conhecimento, sendo
desnecessárias punições ou disciplina. 3) Não há hierarquia no conhecimento, pois todos
participantes crescem juntos no saber, são valorizados e respeitados. (apud CENTRO DE
REFERÊNCIAS EM EDUCAÇÃO INTEGRAL, 2016).
24
Para ela,
Do mesmo modo que nas prisões e nos manicômios, nas escolas
opera-se a individualização, o isolamento e a divisão das crianças,
fazendo-se do professor o ponto central de todo o processo. O
professor é o vigia que impede que ocorram faltas; nas salas de aula,
as crianças não interagem uma com as outras, elas têm a atenção
voltada para esse vigia, que pode a qualquer momento fazer valer a
sua autoridade. A metáfora do panóptico aplica-se perfeitamente
aqui. (SINGER, 1997, p.43).
A propósito, outra contribuição para a os estudos da Sociologia da Infância,
é apontada por Stuart Hall (1932-2014), sociólogo jamaicano ao descrever o
descentramento do sujeito sociológico na “modernidade tardia” e o surgimento do
movimento social na década de 1960.
Segundo Hall (2015, p. 28) o movimento feminista abriu espaços para a
militância política contra hegemônica, ou seja, “arenas inteiramente novas de vida
social – a família, a sexualidade, o trabalho doméstico, a divisão doméstica do
trabalho, o cuidado com as crianças, etc.”
Assim como se pode observar, é a partir dos anos 1960 em que as
pesquisas destacam as crianças e mudam os paradigmas até então aceitos e
internalizados pela sociedade moderna capitalista.
Conforme Singly (2007, p.130), a modernidade na Europa muda de direção
e entra em um segundo período, chamado por Giddens de ‘modernidade avançada’,
ou por Beck de ‘segunda modernidade’. ”
Singly (2007, p. 45) lembra a pesquisa sobre a criança realizada pelo
historiador social Ariès,
na qual aponta a existência de dois tipos de família: o “tipo
fecundo” que negligencia a pessoa da criança, pois, só importa o patrimônio e sua
mão-de-obra e o “tipo malthusiano” em que “a fortuna da família repousa
essencialmente na criança e no seu futuro”.
Com essas considerações até aqui realizadas, foram abordadas apenas
algumas visões de como ocorreu o processo de socialização das crianças no século
XX, até a emergência da Sociologia da Infância.
25
3. A SOCIALIZAÇÃO DA CRIANÇA NA PERSPECTIVA CONTEMPORÂNEA
Após a análise das correntes deterministas e construtivistas da sociedade
moderna, já descrita no item anterior, considerando a perspectiva contemporânea,
Corsaro propõe um novo modelo de socialização, chamado por ele de “reprodução
interpretativa”, pois,
encara a integração das crianças em suas culturas como reprodutiva,
em vez de linear. De acordo com essa visão reprodutiva, as crianças
não se limitam a imitar ou internalizar o mundo em torno delas. Elas
se esforçam para interpretar ou dar sentido a sua cultura e a
participação dela. Na tentativa de atribuir sentido ao mundo adulto,
as crianças passam a reproduzir coletivamente seus próprios
mundos e culturas pares. (CORSARO, 2011, p. 36).
O sociólogo em 1993 utiliza a metáfora da “teia de aranha”, e pondera: “a
teia global, produzida por aranhas comuns de jardins, é a mais útil para minhas
necessidades conceituais. Uma série de recursos da teia global a torna uma
metáfora útil para conceitualizar o processo de reprodução interpretativa. ”
(CORSARO, 2011, p. 37)
Figura 1 - O modelo de teia global.
Fonte: Corsaro (2011, p. 38).
26
Nesse modelo de teia de aranha segundo o autor, “a criança está sempre
participando de e integrando duas culturas – a das crianças e a dos adultos – e
essas culturas são complexamente interligadas. ” (CORSARO, 2011, p. 40).
Sem dúvida, dentre os conceitos apresentados pelos autores
contemporâneos, os escritos de Corsaro são referências para o entendimento e
estruturação dos conceitos sobre a Sociologia da Infância.
Vale lembrar, de acordo com Dias (2012, p. 66) que “a ênfase da análise
sociológica esteve presente nos métodos e instituições socializadoras, cujo objetivo
principal era a idade adulta. ”
No entanto, com a emergência desse novo campo de saber nos anos 1980,
acontece uma ruptura com os conceitos de socialização empregados por Durkheim,
e o pesquisador Sarmento indica uma revisão crítica das obras de Jenks (1996),
Corsaro (1997), Montandon (1998), Sirota (1998), para a desconstrução das bases
teóricas do pensamento durkheimiano sobre a socialização das crianças como
indivíduos pré-sociais cujos valores, normas e saberes são nelas inculcados.
Como assinala Sarmento, esse conceito de socialização em Durkheim,
Nas suas múltiplas reinterpretações futuras, incorpora
sedimentalmente a história de uma produção teórica sociológica que
se ocupou sempre das crianças como objectos [sic] manipuláveis,
vítimas passivas ou joguetes culturalmente neutros, subordinados a
modos de dominação ou de controlo [sic] social, que assumiam a
garantia da sua continuidade precisamente por esse trabalho de
condução para os lugares, os comportamentos, as atitudes ou as
práticas sociais pertinentes. (SARMENTO, 2005, p. 374).
Destarte, Sarmento encerra suas interrogações e afirmações reinterpretando
o conceito de gerações e alteridades das crianças, apontando: “ao falarmos de
crianças, não estamos verdadeiramente apenas a considerar as gerações mais
novas, mas a considerar a sociedade na sua multiplicidade, aí onde as crianças
nascem, na sua diversidade e na sua alteridade diante dos adultos. ”
No que diz respeito a emergência da Sociologia da Infância, Régine Sirota
(2001) registra a ruptura dos conceitos de socialização até então vigentes
descrevendo novas perspectivas e elaborando um estado da arte dos estudos
sociologicos franceses e ingleses, relatando os trabalhos realizados, tais como,
seminários, congressos, colóquios, e publicações de artigos em revistas
especializadas.
27
Segundo ela, “a redescoberta da sociologia interacionista, a dependência da
fenomenologia, as abordagens construcionistas vão fornecer os paradigmas teóricos
dessa nova construção do objeto. Essa releitura crítica do conceito de socialização e
de suas definições funcionalistas leva a reconsiderar a criança como ator. ”
(SIROTA, 2001, p. 9-10).
Mais adiante aponta
O afastamento em relação à posição durkheimiana é claro. Trata-se
de romper a cegueira das ciências sociais para acabar com o
paradoxo da ausência das crianças na análise científica da dinâmica
social com relação a seu ressurgimento nas práticas consumidoras e
no imaginário social. (SIROTA, 2001, p. 11)
De acordo com Giddens (2012, p. 212) há diferentes agências de
socialização6
para as crianças e esse processo divide-se em duas etapas. Na
primeira delas, denominada socialização primária, a família é fundamental para o
desenvolvimento da criança e na segunda fase, diferentes agentes de socialização
“assumem parte da responsabilidade da família”.
Através das interações das crianças com a família, escola, grupos de
amigos, organizações e meios de comunicação de massa, que se dá a socialização,
pois são transmitidos laços culturais, valores definidos pela sociedade, capital
cultural, regras básicas de sobrevivência, alimentação, saúde, higiene, etc.
Porém, nessa socialização, nem sempre as instituições reproduzem os
valores transmitidos pelas famílias.
As crianças segundo Belloni (2009, p. 70) além de objetos da ação dessas
agências especializadas, são atores e principais sujeitos ativos no processo de
socialização.
Setton (2002) observa a presença da cultura de massas socializando muitas
gerações, influenciando-as “para o bem ou para o mal”, transmitindo os valores e
padrões de conduta e conforme disse Paracelso, a educação é para a vida toda
desde a infância até a velhice.
6
Conforme Berger e Luckmann (2004, p. 138) a socialização é um processo ontogênico que introduz
o indivíduo a sociedade e é classificada em socialização primária e secundária. De acordo com
Araujo (2011, p. 85) “A socialização primária ocorre na infância sob influência da família. Já a
socialização secundária é aquela que introduz o indivíduo em novos setores da sociedade, como as
instituições sociais. ”
28
Entretanto, apesar de Belloni (2009, p. 69) compreender a socialização
sucessiva, ao longo da vida, ressalta a importância desse processo, especialmente
na infância e adolescência.
Quanto as regras em que as crianças estão expostas, segundo La Taille
(1994 apud REGO,1996, p. 86):
[...] crianças precisam sim aderir as regras (que implicam valores e
formas de conduta) e estas somente podem vir de seus educadores,
pais ou professores. Os ‘limites’ implicados por estas regras não
devem ser interpretados no seu sentido negativo: o que não pode ser
feito ou ultrapassado. Devem também ser entendidos no seu sentido
positivo: o limite situa, dá consciência de posição ocupada dentro de
algum espaço social – a família, a escola, e a sociedade como um
todo
O pesquisador François Dubet em uma entrevista concedida as professoras
Angelina Teixeira Peralva e Marília Pontes Sposito, da Universidade de São Paulo
(USP) em 1997, ao ser questionado se a escola deveria ser socializadora afirmou:
Sim, mas ela o é de fato. Ela o é, inclusive quando não funciona. Mas
não acredito que ela deva ser socializadora da maneira como muitos
entendem na França hoje em dia: conservadora, volta da moral, volta
da disciplina, volta dos princípios [...]. Eu acho que ela deve ser
socializadora de um modo muito mais democrático, muito mais
aberto. O debate não é entre permissividade e autoridade, eu acho
que isto é um falso debate. É preciso ter ao mesmo tempo autoridade
e liberdade. (DUBET; PERALVA; SPOSITO, 1997, p. 229).
Apesar de exemplificar a escola francesa, Dubet observou os modelos da
escola democrática, e esse modelo escolar de “autoridade e ao mesmo tempo
liberdade” pode muito bem ser aplicado no Projeto Político Pedagógico (PPP) das
escolas brasileiras, considerando as diferentes realidades locais e os seus diferentes
contextos.
Em estudo recente o professor Lenardão (2015, p. 9) registra a concepção e
expectativas dos cidadãos sobre a função da escola. Eles entendem que a escola
serve para:
a) socializar (moralizar) as crianças e os jovens; b) preparar para o
trabalho (socializar para o trabalho); c) servir de instrumento de
equalização das condições de aproveitamento das oportunidades
sociais e de ascensão social; d) colaborar na gestão e reprodução da
força de trabalho para o “capital”; e) consagrar a ordem social por
meio da colaboração na reprodução da estrutura de distribuição do
“capital cultural”; f) socializar o “conhecimento sistematizado”
29
Conforme destacado nessa lista de funções sociais da escola, Lenardão
(2015, p. 10) conclui que há avaliações de caráter positivo e também as de caráter
negativo e relata como primeiro pressuposto da função social da escola a
moralização das crianças e jovens, devido o comportamento do ser humano, como
“um ser egoísta, impulsivo, movido, por desejos, vontades e paixões imediatas e
apetites insaciáveis, sendo, por isso, portador de tendência ao comportamento
agressivo, tendo como a principal motivação de sua existência a “busca do prazer”
imediato.”
Em consequência do “modo de vida selvagem” do homem, ele aponta a
existência de mecanismo de controle do comportamento, ou seja, “regras, normas,
leis e agentes da lei e da ordem”, para exercerem de fora do indivíduo o controle e
moderação dos instintos e paixões, dos impulsos primitivos, dos apetites selvagens
e do egoísmo, considerados os principais impedimentos para a vida em grupo na
sociedade.
Nesse sentido, a função social da escola perpassa a ideia de formar
moralmente o cidadão e prepará-lo para o mundo do trabalho, pois é necessário
fortalecer nesse cidadão os valores de solidariedade, sentimento de pertença ao
coletivo da sociedade e, portanto, deve “sujeitar seus apetites egoístas, do seu
modo de vida selvagem” obedecendo às regras impostas, se tornando um ser social,
compromissado em transformar a sociedade.
Assim, cabe ao Estado e suas entidades, recuperar a unidade orgânica, ou
seja, segundo Durkheim (1983, p. 47) “dirigir a conduta coletiva”.
Entretanto, o professor observa a perspectiva durkheimiana acerca da
educação escolar e entende que é preciso promover os três elementos básicos da
moralidade moderna: o espírito de disciplina, o espírito de abnegação e a autonomia
da vontade para cumprir parte da meta de socialização dos indivíduos.
Entende também que a escola não reduz a importância da família, religião,
meios de comunicação, atividades profissionais e outras atividades de socialização
de crianças e jovens.
Para descrever a socialização na escola em consonância com os
educadores, Lea Paixão e Zago (2007, p. 226) argumenta: “a aprendizagem escolar
virou brinde”. Pode soar um tanto estranho, entretanto, essa frase sintetiza bem o
desabafo de um grupo de professoras participantes de uma pesquisa sobre
socialização de crianças na periferia de Niterói no Rio de Janeiro.
30
Isso porque as professoras realizam tarefas que não constituem o “oficio”
delas, porque as crianças chegam à escola com “carência de socialização”, e não
tem limites, não sabem como se comportar, só sabem correr e saltar.
Em contrapartida, do ponto de vista das famílias, a socialização das crianças
está a cargo da escola, uma vez que para trabalhar os pais ficam distantes de seus
filhos.
Portanto, quando as crianças não estão na escola, devido a violências nas
ruas, se trancam em suas casas, na ilusão de segurança, porém, ficam expostas à
mídia, considerada uma das principais responsáveis pela socialização das crianças
na sociedade contemporânea.
Segundo Kellner, (2001, p. 27)
A cultura veiculada pela mídia transformou-se numa força dominante
de socialização: suas imagens e celebridades substituem a família, a
escola e a Igreja como árbitros de gosto; valor do pensamento,
produzindo novos modelos de identificação e imagens vibrantes de
estilo, moda e comportamento
Porém, Belloni (2012, p. 35) considera a dificuldade de avaliar a televisão
enquanto uma instituição de socialização, devido à complexidade deste processo, no
qual a interiorização das normas e valores transmitidos depende também da
aceitação ativa das crianças e adolescentes, que lhes atribuem – ou não –
legitimidade.
Além disso, Giddens (2012, p. 213) destaca: “As relações entre os pares
provavelmente têm um impacto significativo para além da infância e da
adolescência. Geralmente, grupos informais de pessoas de idades semelhantes, no
trabalho e em outras situações, têm uma importância duradoura em moldar as
atitudes e o comportamento dos indivíduos. ”
Na realidade, conforme se observa, já foi o tempo em que os estudos sobre
as crianças eram realizados por pedagogos, educadores e psicólogos. Não
desprezando estes, pois as discussões se inter-relacionam, porém, nos últimos
anos, a Sociologia da Infância se apresenta como um desafio para os
pesquisadores.
A francesa Cléopâtre Montandon (2005) observa na relação parental os
diferentes fenômenos sociais, as estruturas sociais, bem como os contextos sociais
em que as crianças estão inseridas.
31
Ela estuda a relação de seus educadores e também as ações práticas
resultantes de seu aprendizado, no propósito de entender como as crianças
europeias de acordo com as suas características sociais e culturais expressam suas
emoções, ações e representações, a partir de conhecimento obtido.
Assim, Montandon pesquisa as práticas educativas, tendo em vista o papel
dos pais, dentro das estruturas familiares, do pertencimento social ou cultural, das
diferentes perspectivas, motivações meritocráticas entre as crianças da classe
média, a falta de projeto familiar e a punição para as crianças das classes populares.
O que se percebe na sociedade neoliberal é o “adestramento” das crianças,
que desde cedo, são condicionadas, moldadas e estigmatizadas na própria escola
que deveria formar o cidadão e reproduz a mentalidade do mundo do trabalho
capitalista, cujos mais “destacados” servirão para “conservar” o que está posto, e
dominar comandando os “menos dotados”.
A propósito, em seu estudo, Montandon faz uma análise quantitativa e
demonstra três modelos suíços de práticas educativas. São eles, o modelo
estruturante, autoritário (hegemônico) com 51%, o persuasivo com 44% seguido do
modelo estatutário estrito com 5% da preferência.
Ela entende que não se deve reduzir o pensamento das crianças ao
descrever o ponto de vista dos pais e educadores e a complexidade das relações
com os pares e outros agentes externos de socialização.
Ainda que Montandon aborde o apoio e o afeto dos pais, explícita o desejo
das crianças exercerem a autonomia em suas decisões, escapando do controle
deles. A autora critica a educação autoritária pautada na desigualdade e submissão
antagônicas aos valores cidadãos, porque as sociedades contemporâneas tornaram-
se mais democráticas e é preciso mudar os modos de educação dos indivíduos, e
nesse contexto, há muito ainda a ser explorado.
Compartilhando a mesma opinião de Fernandes (1990), Singer (1997)
aponta ser o discurso de Durkheim
um sintoma de um dispositivo pedagógico fundamentalmente
disciplinar, não comprometido com o ideal da autonomia dos
cidadãos livres, responsáveis e criadores. Ao contrário, é um
substituto do disposto de moralização cristã, com efeitos similares:
identificação com a norma; submissão. (SINGER, 1997, p. 24).
Acrescenta ainda
32
[...] apesar de o discurso dominante ter sido sempre para a formação
de indivíduos autônomos, a modernidade, nas suas diversas
configurações sociais, tem-se de fato caracterizado-se pela formação
de massas heterônomas, que não a questionem essencialmente e
não construam possibilidades reais de transformação. Mas pode
também significar que a proposta da escola democrática é inviável
para o social mais amplo, estando condenada desde a sua
formulação à margem. (SINGER, 1997, p.24-25).
Outra pesquisa significativa foi realizada em 1994 e publicada pela francesa
Suzanne Mollo-Bouvier (2005) e sua preocupação, reside no fato da criança ser
sujeito social da própria história para transformação e quando isso é negado de
algum modo, deixa de ser um sujeito histórico crítico e passa a reproduzir os valores
apreendidos.
Mollo-Bouvier aponta quatro fatores para a construção da Sociologia da
Infância. Em primeiro lugar a segmentação social das idades e a incerteza quanto ao
período da infância. Em segundo lugar, a tendência a favorecer a socialização em
estruturas coletivas fora da família. Em terceiro, trata a transformação e as
contradições das concepções da infância e por último trabalha o interesse
generalizado por uma educação precoce.
Além do mais, estuda o cotidiano da criança e suas interações com o
coletivo pensando na segmentação social das idades e entende existir uma lacuna
sociológica na faixa etária de 10-12 anos, justamente o período de transição da
infância para a adolescência. Sobre as características dos modos de socialização
delas, aponta os diferentes sentidos, lugares, idades e tarefas.
Apresenta ainda, um percurso institucional da socialização nos diferentes
tempos sociais das crianças, de ordem psicológica e pedagógica, que contribuem
para a socialização delas, enfatizando que a educação autoritária não é a mais
positiva e questiona como ensinar as crianças valores cidadãos e democráticos, se a
escola e a família ensinam desigualdade e submissão.
Segundo a pesquisadora, “A criança é também um desafio para os sistemas
de valores que fragmentam a sociedade. Por meio dela, movimentos políticos,
ideológicos e religiosos tentam exercer sua influência e preparar o futuro. ” (MOLLO-
BOUVIER, 2005, p. 398).
Para ela há muito para fazer e devido as mudanças sociais e políticas, os
modos de educação na sociedade contemporânea precisam ser atualizados.
33
Outro pesquisador que apresenta um tratado sociológico da infância é o
professor português Manuel Jacinto Sarmento. Ele entende a infância como objeto
de estudo da sociologia que perpassa as perspectivas reducionistas da biologia e da
psicologia, por investigar o conjunto da sociedade. E nessa perspectiva, a questão
da geração e da alteridade diante dos adultos, desvelam as condições de
existências e de atuações plenas das crianças como atores e sujeitos sociais.
Segundo Sarmento (2005, p. 363),
A infância é concebida como uma categoria social do tipo geracional
por meio da qual se revelam possibilidades e os constrangimentos da
estrutura social. O desafio a que nos propomos é interrogar o modo
como constructos teóricos como “geração” e “alteridade” se
constituem como portas de entrada para o desvelamento dos jardins
ocultos em que as crianças foram encerradas pelas teorias
tradicionais sobre a infância e de como esse conhecimento se pode
instituir em novos modos de construção de uma reflexividade sobre a
condição de existência e os trajectos [sic] de vida na actual [sic]
situação da modernidade.
Ele resgata o pensamento dos sociólogos Karl Mannheim e Qvortrup, e da
psicóloga Alanen, a fim de reconstruir o conceito de geração, pois, entende ser “a
infância historicamente construída” através das práticas sociais na relação com os
adultos.
Para Sarmento a Sociologia da Infância é uma construção histórica
inconclusa, sendo sempre atualizada com as práticas sociais através das interações
das crianças com seus pares e com os adultos.
O autor exemplifica a importância dos estudos desse novo campo de saber,
ao relatar as dificuldades das crianças portuguesas em relação as alterações das
políticas públicas da educação, da iniciação ao mundo do trabalho, da relação entre
os pais e responsáveis legais, das aspirações de empregos delas, da relação com
as novas ferramentas tecnológicas, da geração de novas linguagens e do consumo
de produtos, em especial da indústria cultural.
Esse estudo apesar de focalizar as crianças portuguesas, contribui muito
como base, para entendimento da Sociologia da Infância em diferentes contextos
culturais.
O professor registra aquilo que há de ser explorado, seguindo a lógica “de
que as crianças estabelecem uma deslocação sobre os princípios lógicos
estruturantes das gramáticas culturais adultas (sobretudo às culturas ocidentais de
34
matriz europeia; as culturas não-ocidentais não se estruturam necessariamente
sobre os mesmos princípios lógicos) e, especialmente, sobre princípios da
identidade e da sequencialidade. ” (SARMENTO, 2005, p. 375).
Contudo, é imprescindível reforçar novamente, que embora as crianças
como sujeitos de sua história, como atores sociais, mesmo na diversidade, estão
sobre a tutela dos adultos. Por isso, a insistência em questionar até que ponto elas
podem exercer suas atividades de maneira autônoma? E como os educadores
observam o desenvolvimento das práxis delas nas sociedades, se até certa idade
são tuteladas pelos pais ou familiares próximos?
Segundo Jucirema Quinteiro (2002) “a participação das crianças no
processo educativo não se limita aos aspectos exclusivamente psicológicos, mas
sociais, econômicos, políticos e históricos” e entendendo isso, cita a concepção de
Sarmento (1997) sobre as crianças serem “actores [sic] sociais de pleno direito”.
A autora acrescenta ainda, a negligência da auscultação da voz das
crianças” e a subestimação da “capacidade de atribuição de sentido às ações e aos
seus contextos. ”
Entretanto, cabe considerar também as mudanças devido o desenvolvimento
das crianças e da maturidade delas na sociedade contemporânea.
Há também evidências consideráveis de que as crianças estão
entrando na puberdade mais cedo do que as gerações anteriores.
Nos Estados Unidos, por exemplo, a idade média para início da
menstruação há 150 anos era 16 anos de idade. Atualmente, é 12,5.
Deve-se ressaltar, porém, que, embora as meninas e os meninos
tornem-se biologicamente maduros mais cedo, muitos deles levam
mais tempo para atingir a maturidade intelectual e emocional.
(TFEYA, 1989 apud HARGREAVES; EARL; RYAN, 2001, p. 22).
Em geral, essa alteração biológica acontece justamente na mesma época da
transição do ensino fundamental I para o ensino fundamental II, momento em que a
criança está vivenciando inúmeras mudanças comportamentais, físicas, biológicas,
sociológicas.
Um exemplo disso, pode ficar por conta do choque cultural em que
geralmente as crianças tem com seus pares, ao participarem de um novo ambiente
de ensino, com novas turmas, diversos professores para as matérias curriculares,
etc. e se relacionar com uma nova faixa etária daquela que participava no ensino
básico.
35
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Conforme se observa, há diferentes instituições de socialização das
crianças, e diferentes contextos históricos e sociológicos e o presente artigo analisa
as concepções de socialização das crianças desde a perspectiva funcionalista, bem
como a evolução das teorias clássica para a moderna, até a emergência da
Sociologia da Infância no mundo contemporâneo.
Na perspectiva das teorias clássicas precursoras, a criança foi considerada
um objeto na história, condicionada a aprender através da influência geracional, sem
muita força de expressão, conforme os estudos de Durkheim, de modo que nessa
visão de mundo, os adultos ensinam as crianças exercendo uma ação coercitiva
sobre elas, no propósito de torná-la mais humana. Nesse caso importa mais o
coletivo do que o individual.
Certamente os ensinos de Durkheim contribuíram em sua época e contexto
social para a socialização das crianças no modo de produção capitalista, em vias de
uma sociedade industrial em constantes transformações.
Como foi visto nesse artigo, até a década de 1960, os trabalhos sobre as
crianças em sua maioria eram ligados à área da saúde, elaborados por médicos,
psicólogos e psiquiatras, e contribuíram para a formação da base teórica da
sociologia da educação.
Hannah Arendt criticou a pedagogia estadunidense como uma pedagogia
pragmática e propôs que os adultos permitissem a autonomia das novas crianças
em descobrir o velho mundo.
Conforme observado, os estudos de Ariès foram um divisor de águas no
entendimento da socialização das crianças, pois, as ideias durkheimianas foram
contestadas e as crianças passaram a serem considerados atores sociais.
Os sociólogos entenderam que essa concepção de passividade da criança,
não condiz com a realidade da sociedade contemporânea, pois, elas não devem ser
vistas como apenas um objeto de estudo e sim como atores sociais, de modo que
apesar de sua autonomia em aprender, não deve deixar de ser mediada pelos
pares, principalmente pelos pais e educadores.
No entanto, Dubet contesta a ideia da criança ser considerada um ator
social, quando o sistema incorpora nela seus princípios. Ele entende que para a
36
criança ser considerada um ator social, deve participar de modo ativo e não passivo
na sociedade.
Um exemplo da passividade ou da criticidade da criança na sociedade
moderna, pode ser observado em relação ao seu comportamento diante dos meios
de comunicação de massa, que investe cada vez mais em publicidades
apresentando seus produtos para esses novos atores sociais.
Por sua vez, o público infantil, se expondo a mídia de consumo, pode tornar-
se vítimas e ao mesmo tempo, influenciar seus pais a comprarem tais produtos.
Como resultado, ouvem-se as famosas frases ditas pelas crianças frequentemente
nas lojas e supermercados, “eu quero”, “me dá” e “compra para mim”.
A propósito, sobre a Sociologia da Infância, na década de 1980 surgiram as
primeiras discussões entre os sociólogos franceses e ingleses, trabalhando os
pressupostos desse campo como um fenômeno social.
Ademais, com o advento da Internet, as relações sociais passam a ocorrer
por meio das redes sociais, ou seja, outra instância de socialização das crianças.
Em consequência disso, se observa que a interação entre elas ocorre em
um fluxo demasiadamente rápido e isso deve ser um alerta aos pais e educadores,
pois, elas aprendem sobre todos os assuntos, e em virtude disso, esse
conhecimento deve ser mediado para desenvolver nelas a cidadania e com isso a
participação, e não o fortalecimento de uma passividade em relação ao senso
comum.
O grande perigo enfrentado pelas crianças diante de tantas informações
recebidas, é de serem deformadas ao invés de serem informadas, ou seja, percam
os princípios básicos da educação, que constitui em educar para a cidadania e
trabalho, e não para um mundo individualista, que jaz no consumo, onde se trabalha
para consumir e acumular coisas supérfluas.
Nesse sentido, a participação dos pais e dos educadores mediando os
conflitos, as tensões sofridas pelas crianças são essenciais, pois, é preciso
desnaturalizar o que é dito como natural ou normal e não são, e com isso desvelar
as tramas do capital atrófico, ao invés de deixar que as crianças sejam adestradas
pela mídia de massa.
A socialização das crianças é um tema que não se esgota, até mesmo
devido o dinamismo da sociedade contemporânea. Trabalhos futuros poderão
37
abordar a interação das crianças com os meios de comunicação de massa,
principalmente a interação delas nas redes sociais.
Diante dessas considerações, os trabalhos relacionados à Sociologia da
Infância têm como missão ampliar os conhecimentos teóricos, provocar nos
educadores a reflexão para que possam descristalizar em seus alunos o senso
comum, e que diante dessas inúmeras possibilidades de interações sociais, desperte
nas crianças o senso crítico em relação aos problemas sociais.
Não desconsiderando o trabalho de Durkheim, porém, entendendo que a
educação é muito mais do que transferir conhecimento de uma geração à outra, é
importante que os pais e educadores, abram oportunidades para as crianças em
uma educação que vise a transformação da realidade social em que vivem.
Para tanto, diante das novas perspectivas sobre a socialização das crianças,
um dos alvos dos educadores e dos pais na cultura dos pares, é ensiná-las a utilizar
as redes sociais, não apenas para o entretenimento, ostentação e fofocas, mas
como espaço democrático, em que elas, atores sociais de uma práxis solidária e
coletiva, sejam proclamadoras de uma utopia de mudança e transformação social.
Além disso, é preciso proporcionar iniciativas que abram espaços públicos
para a socialização das crianças, lugares em que possam brincar, estudar, se
respeitar, interagir, compartilhar, amar, independente de qualquer obstáculo e
preconceito.
Decerto, os conceitos de socialização das crianças apresentados nesse
artigo, em diferentes contextos e perspectivas, podem contribuir para novas
discussões.
Novas pesquisas serão realizadas e a esperança é que as políticas que
tratam os direitos e deveres das crianças e sua voz e participação na sociedade,
possam ser ampliadas. A cada dia sejam abertos canais de comunicação e
participação das crianças, atores sociais na sociedade contemporânea.
Que os pais e educadores se esforcem mais em mediar os conhecimentos e
as crianças se apropriem dele para transformar a sociedade.
38
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A socialização da criança em diferentes perspectivas

  • 1. CENTRO DE LETRAS E CIÊNCIAS HUMANAS ESPECIALIZAÇÃO EM ENSINO DE SOCIOLOGIA FERNANDO GIORGETTI DE SOUZA A SOCIOLOGIA DA INFÂNCIA: A SOCIALIZAÇÃO DA CRIANÇA EM DIFERENTES PERSPECTIVAS TEÓRICAS. Londrina-PR 2016
  • 2. FERNANDO GIORGETTI DE SOUZA A SOCIOLOGIA DA INFÂNCIA: A SOCIALIZAÇÃO DA CRIANÇA EM DIFERENTES PERSPECTIVAS TEÓRICAS. Londrina-PR 2016 Monografia apresentada ao Curso de Pós-graduação em Ensino de Sociologia da Universidade Estadual de Londrina, como requisito parcial à obtenção do título de Especialista em Ensino de Sociologia. Orientadora: Profa. Dra. Ileizi Luciana Fiorelli Silva
  • 3. S729a Souza, Fernando Giorgetti de A Sociologia da Infância: a socialização da criança em diferentes perspectivas teóricas.-- Fernando Giorgetti de Souza.-- Londrina: Universidade Estadual de Londrina, 2016. 42f. Monografia (Especialização em Ensino de Sociologia) – Universidade Estadual de Londrina, 2016 1. Infância. 2. Socialização. 3. Autonomia. 4. Sociologia da Infância. 5. Sociologia educacional. I. Titulo. CDD 306.432
  • 4. FERNANDO GIORGETTI DE SOUZA A SOCIOLOGIA DA INFÂNCIA: A SOCIALIZAÇÃO DA CRIANÇA EM DIFERENTES PERSPECTIVAS TEÓRICAS. Monografia apresentada ao Departamento de Ciências Sociais da Universidade Estadual de Londrina, como requisito parcial à obtenção do título de Especialista em Ensino de Sociologia. BANCA EXAMINADORA ____________________________________ Orientadora: Profa. Dra. Ileizi Luciana Fiorelli Silva Universidade Estadual de Londrina - UEL ____________________________________ Profa. Dra. Angélica Lyra de Araújo Universidade Estadual de Londrina - UEL ____________________________________ Prof. Ms. Marco Antonio Rossi Universidade Estadual de Londrina - UEL Londrina, 18 de Abril de 2016.
  • 5. Educa a criança no caminho em que deve andar; e até quando envelhecer não se desviará dele. Provérbios 22:6.
  • 6. Dedico este trabalho a minha querida mãe Dinoráh Luiza (in memorian) por ter me ensinado valores na infância, que contribuiram muito para a formação daquilo que hoje sou, “apesar de minhas imperfeições, teimosias e de algumas escolhas erradas” procuro trilhar no caminho que conduz à sabedoria e à uma vida feliz. A minha família, minha esposa Ester e aos meus filhos Guilherme e Ana Julia, que suportaram meus “chiliques” enquanto elaborava meus trabalhos acadêmicos. Amo vocês!
  • 7. AGRADECIMENTOS Agradeço primeiramente ao Deus Todo-Poderoso. A minha orientadora Dra. Ileizi Luciana Fiorelli Silva, A professora Dra. Angélica Lyra de Araujo (LENPES) pelo incentivo e pelos livros, A professora Any Marise Ortega pelas aulas de Sociologia da Educação na FIG-UNIMESP em Guarulhos-SP, Aos demais professores, A Durva e Cláudio pela amizade e presteza profissional, As turmas dos Cursos de Especialização em Ensino de Sociologia e também da Especialização em Comunicação Popular e Comunitária, ambas (UEL- 2015), pela contribuição na construção desses conhecimentos. Agradeço também as demais pessoas que contribuíram diretamente ou indiretamente para a minha formação.
  • 8. SOUZA, Fernando Giorgetti. A Sociologia da Infância: a socialização da criança em diferentes perspectivas teóricas. 2016. 42f. Monografia (Especialização em Ensino de Sociologia). Departamento de Ciências Sociais. Universidade Estadual de Londrina, Londrina, 2016. RESUMO As concepções de socialização das crianças mudaram ao longo da história, devido às dinâmicas das sociedades. Os primeiros estudos sobre as crianças foram pautados na ótica de pedagogos, historiadores e psicólogos. Nos estudos sociológicos dentre os autores clássicos é Émile Durkheim quem sistematiza a Sociologia da Educação, elaborando importantes conceitos sobre a socialização, em uma época em que a criança era apenas considerada um adulto em miniatura, condicionada a obedecer às regras impostas pelo Estado. Com o avanço científico no século XX e o surgimento da teoria sócio construtivista, a criança passa a ser mediada pelos diferentes agentes educativos e Hannah Arendt discute a autonomia delas em relação às gerações e aos seus pares. Este artigo foi produzido através de uma pesquisa bibliográfica acadêmica e objetiva desenvolver uma reflexão sobre as diferentes perspectivas do conceito de socialização das crianças e de suas relações com a sociedade em diferentes perspectivas do pensamento sociológico, analisando até que ponto os estudos durkheimianos continuam vigente na sociedade contemporânea nos diferentes ambientes, família, escola, e outras instituições, incluindo alguns apontamentos recentes sobre a mídia de massa e redes sociais. Ocorreu nas décadas de 1980/90 uma revisão do conceito de socialização em consequência da emergência e constituição de um novo campo de saber, e os sociológos franceses e ingleses romperam com a concepção durkheimiana do ser social e acenaram ao mundo contemporâneo o protagonismo das crianças nas sociedades ao trabalhar com os pressupostos da Sociologia da Infância como um fenômeno social. Ampliando as discussões Corsaro apresenta a metáfora da teia global, apontando que as crianças, não são mais passivas no processo de socialização, pois, transitam e interagem com os adultos e com outras crianças simultaneamente em diferentes ambientes. Em suma, nesse artigo se observa a importância da mediação das crianças pelas gerações adultas e a autonomia delas como atores sociais. Palavras-Chave: infância; socialização; autonomia; sociologia da infância; sociologia educacional.
  • 9. SOUZA, Fernando Giorgetti. The sociology of childhood: the socialization of children in different theoretical perspectives. 2016. 42p. Monograph (Specialization in Sociology of Education). Department of Social Sciences. State University of Londrina, Londrina, 2016. ABSTRACT Conceptions on children's socialization have changed throughout history, due to the dynamics of societies. The first studies on children were guided by the perspective of educators, historians and psychologists. Among classical authors of sociology stands out Durkheim, who systematized the Sociology of Education, developing important concepts of socialization, in a time when the child is considered just a miniature adult, conditioned to obey the rules imposed by the state. With the scientific advancement in the twentieth century and the emergence of social constructivist theory, the child began to be mediated by different educational agents and Hannah Arendt discusses their autonomy in relation to generations and to their peers. This article was produced through bibliographical research by academic literature. Its purpose is to develop a reflection on the different perspectives of the concept of socialization of children and their relationship with society in different prospects of sociological thought, analyzing how far the Durkheim's studies is still current in contemporary society in different environments, family, school, and other institutions, including some recent notes on the mass media and social networks. During the 80’s and 90’s a review of the concepts of socialization occurred as a result of the emergence and establishment of a new field of knowledge, and the French and English sociologists broke Durkheim’s conception of the social being and waved to the contemporary world the protagonism of children on societies from the moment they started working with childhood sociology as social phenomenon. Increasing the discussion Corsaro presents the metaphor of the global web, pointing out that children are not passive in the socialization process, therefore, pass and interact with adults and with other children simultaneously in different environments. In short, this article points out the importance of mediation of children by adult generations and empower them as social actors. Keywords: Childhood; socialization; autonomy; sociology of childhood; educational sociology.
  • 10. LISTA DE ILUSTRAÇÕES Figura 1 – Modelo de teia global .............................................................................25
  • 11. LISTAS DE ABREVIATURAS E SIGLAS PPP Projeto Político Pedagógico SME Secretaria Municipal da Educação UEL Universidade Estadual de Londrina UFSC Universidade Federal de Santa Catarina
  • 12. 9 SUMÁRIO INTRODUÇÃO..........................................................................................................11 1. A SOCIALIZAÇÃO DA CRIANÇA NA PERSPECTIVA DURKHEIMIANA...........15 2. A SOCIALIZAÇÃO DE UMA NOVA GERAÇÃO PARA UM MUNDO NOVO ......19 3. A SOCIALIZAÇÃO DA CRIANÇA NA PERSPECTIVA CONTEMPORÂNEA .....25 CONSIDERAÇÕES FINAIS......................................................................................35 REFERÊNCIAS.........................................................................................................38
  • 13. 11 INTRODUÇÃO A Sociologia da Infância é um novo campo de saber e estuda as ações e relações sociais das crianças na contemporaneidade. Novo, porque até a década de 1980, as pesquisas sobre as crianças eram realizadas através das lentes de pedagogos, de historiadores e de psicólogos. Conforme observado, houve um atraso nos estudos sociológicos sobre a criança, permitindo então a vanguarda da produção de saberes relacionados aos aspectos biológicos, médicos e psicológicos, influenciando a educação familiar e escolar. Segundo Lima, Moreira e Canhoto de Lima (2014, p. 99) o que acontece “entre” as crianças, “além do biológico e o psicológico, representa uma função de outras áreas do saber como a Sociologia e Antropologia”. Nesse sentido, Corsaro (2011, p. 18) entende que as crianças “foram marginalizadas na sociologia devido a sua posição subordinada nas sociedades e às concepções teóricas de infância e socialização. ” Porém, na década de 1960, os estudos do francês Philippe Ariès marcaram uma nova perspectiva e fomentaram novas discussões sobre a criança passiva e o seu papel na sociedade, já que até aquele momento, a criança era considerada um “adulto em miniatura”. Cohn (2005, p. 28) aponta, que a criança “não é um adulto em miniatura”, tampouco “alguém que treina para a vida adulta”. A antropóloga deseja que a sociedade compreenda a interação das crianças com seus pares, com os adultos e com o mundo, onde quer que seja, “sendo parte importante na consolidação dos papéis que assume e de suas relações. ” Além disso, vale ressaltar, segundo Belloni (2009, p. 2) A ideia de infância, fruto das representações da sociedade, varia segundo o momento histórico e as diferentes sociedades ou culturas: não há uma infância universal, unívoca, uniforme. Existem muitas infâncias, multiformes, diversas, particulares. Embora possa ser identificada por características biológicas comuns em toda a espécie humana, essa aparente naturalidade da infância não é suficiente para compensar as profundas diferenças de ordem histórica, antropológica e sociológica que distinguem as diferentes infâncias do mundo de hoje.
  • 14. 12 Embora a Sociologia da Infância seja um saber emergente, os sociólogos têm produzido estudos significativos sobre o desenvolvimento das crianças, e há ainda muito a desvendar, porém isso pode não ser uma tarefa fácil, devido à complexidade e interdisciplinaridade dos temas em discussão. Segundo Kramer (1999, p. 271), O significado social e ideológico da criança e o valor social atribuído à infância têm sido objeto de estudo da sociologia, ajudando a entender que a dependência da criança em relação ao adulto é fato social e não natural; na base da distribuição desigual de poder entre adultos e crianças, há razões sociais e ideológicas fortes, com repercussões evidentes no que se refere ao controle e à dominação de grupos. O sociólogo inglês Anthony Giddens (2012, p. 213) entende a importância da educação familiar e escolar para as crianças, porém, destaca também o papel da mídia na socialização das crianças. Por isso, relata os avanços dos meios de comunicação de massa impressos da modernidade, para os meios de comunicação de massas eletrônicos da pós-modernidade. É evidente que a indústria cultural e a mídia de consumo contribuem influenciando e socializando as crianças e por isso, estudiosos do campo da Comunicação e da Educação destacam a necessidade de mediação na recepção das mensagens, por quem conheça as artimanhas midiáticas e publicitárias. Paulo Freire (1996, p. 139) recomenda aos educadores progressistas: “não podemos desconhecer a televisão mas devemos usá-las, sobretudo, discuti-la. ” Nesse sentido, essa discussão vai além de mediar o conhecimento obtido pela audiência televisiva, mas também, da ação/interação das crianças nas redes sociais, seu novo ambiente de socialização. Belloni (2009, p. 116) destaca, “Hoje, nos países ocidentais, a criança é, cada vez mais, considerada sujeito de seus processos de socialização, sendo um ator muito importante no mercado consumidor e alvo preferido dos publicitários, pois parece sem dúvida influir sobre as escolhas familiares de compra. ” Compreendendo então a relevância de pesquisas sobre as crianças e seu papel na sociedade, o presente artigo, objetiva além de contribuir para as discussões acadêmicas, produzir uma análise sociológica, através de leitura bibliográfica, nos diferentes contextos históricos/sociológicos e em diferentes perspectivas teóricas.
  • 15. 13 Serão abordadas três perspectivas acerca da socialização das crianças, sendo a primeira na ótica clássica durkheimiana, seguida das discussões sociológicas sobre as crianças e a educação em meados do século XX, e de debates na contemporaneidade, devido à emergência desse novo campo de saber, ou seja, a Sociologia da Infância. A escolha de trabalhar nessa temática ocorreu durante uma conversa com a orientadora deste artigo, sobre um projeto de Midiaeducação e Cidadania1 em desenvolvimento naquele momento, problematizando a socialização das crianças através dos meios de comunicação de massas. Entendendo a emergência do Campo, a professora indicou algumas literaturas e autores, dentre eles Émile Durkheim, Hannah Arendt e François Dubet. Após iniciada uma pesquisa sobre o estado da arte, tendo uma visão panorâmica do tema, a sugestão dos três autores foi aceita pela pertinência e relevância de suas contribuições teóricas. A preferência por Durkheim foi simplesmente pelo fato de ao lado de Karl Marx e Max Weber - ser considerado um dos autores clássicos da sociologia – e melhor dizendo, pela sua contribuição na construção do conhecimento sociológico da educação. Soma se a isso, a escolha de Arendt devido sua militância e visão contra o pragmatismo da educação estadunidense do início do século XX, e de Dubet pelo seu entendimento de uma escola democrática para as crianças. Diante dessas considerações, o primeiro questionamento desse artigo, consiste em saber de que modo os estudos de Durkheim contribuem para a educação da criança na sociedade brasileira? Consequentemente, os apontamentos do primeiro item pretendem responder essa questão, por intermédio das contribuições teóricas do pensamento durkheimiano sobre a educação e socialização das crianças. No segundo item, a criança será vista na perspectiva sociológica do século XX desde a escola de Frankfurt até a emergência da Sociologia da Infância no início 1 O Projeto Midiaeducação e Cidadania foi uma pesquisa participante, autorizada pela Secretaria Municpal de Educação de Londrina - SME, realizada com os alunos do quinto ano de uma Escola Municipal de Educação Infantil entre os meses de set./nov. de 2015, tendo em vista, os apontamentos sobre o comportamento e respostas das crianças frente aos meios de comunicação de massa. Foram realizadas vinte e duas oficinas, divididas em cinco temas principais: Identidade, Cidadania, Comunidade, Leitura crítica da mídia e Elaboração de Jornais/Técnicas de Jornalismo, abordando os pressupostos da Comunicação Comunitária, sendo elaborado um jornal escolar. (SOUZA, 2016, No prelo).
  • 16. 14 da década de 1980, resgatando a visão de Hannah Arendt, Michel Foucault, Philippe Ariès, Pierre Bourdieu e também destacando o pioneirismo do sociólogo brasileiro Florestan Fernandes, em sua pesquisa etnográfica, procurando entender as mudanças de comportamento das crianças em relação aos ensinos durkheimianos da socialização. Por fim, o terceiro item apresenta a emergência da Sociologia da Infância na sociedade contemporânea, trabalhando os conceitos sobre socialização2 das crianças nos diferentes ambientes, o seu papel autônomo de ator social, as suas relações parentais, gerações e alteridade, bem como a influência midiática nos processos de socialização das crianças. Destaca-se nesse terceiro item, a leitura crítica feita por Maria Luiza Belloni (2009), William Corsaro (2011), Anthony Giddens (2012), Hargreaves, Earl e Ryan (2001), Suzanne Mollo-Bouvier (2005), Cléopâtre Montandon (2005), Jucirema Quinteiro (2002), Manuel Jacinto Sarmento (2005), Maria da Graça Setton (2002), Régine Sirota (2001), entre outros autores, que discutem nesse novo campo – a Sociologia da Infância - e dão sustentação teórica para esse trabalho. Esses autores são destacados pela importante contribuição para o campo e por romperem com o entendimento durkheimiano sobre a socialização da criança como um adulto em miniatura, sendo apenas um sujeito passivo, internalizando o mundo dos adultos. Eles entendem que as crianças nessa nova perspectiva de socialização são “sujeitos ativos”, participam e criam suas próprias culturas e ao mesmo tempo contribuem para a produção da cultura inclusive dos adultos. 2 Vide nota p. 28.
  • 17. 15 1. A SOCIALIZAÇÃO DA CRIANÇA NA PERSPECTIVA DURKHEIMIANA O sociólogo clássico Durkheim percebe a dificuldade de mudar a educação sem mudar as estruturas sociais. Ele demonstra o conservadorismo das instituições, devido à existência de costumes e princípios norteadores da educação dependentes da religião, da ciência, etc., ou seja, o passado constitui um conjunto de causas históricas, dirigindo a educação de uma determinada sociedade. Por isso, Durkheim (1978, p. 36) afirma: “os sistemas educativos nada têm de real em si mesmo” e a educação ideal é uma abstração por estar a serviço das instituições exprimindo ou refletindo o ideal e as estruturas da sociedade. Segundo Durkheim (1978, p. 57), a educação é a ação exercida, junto às crianças, pelos pais e mestres. É permanentemente, de todos os instantes, geral. Não há período na vida social, não há mesmo, por assim dizer, momento no dia em que as novas gerações não estejam em contato com seus maiores e, em que, por conseguinte, não recebam deles influências educativas. O professor Antonio Cândido em 1955 nos Anais do I Congresso de Sociologia, contestou essa ação exercida, pois entendeu que “esta explicação sociológica exprime a ilusão pedagógica, tão comum apesar das teorias em contrário, segundo a qual a educação é algo que flui do educador para o educando, envolvendo-o pela ação tutelar de princípios e valores sancionados pela experiência da coletividade. ” (CÂNDIDO, 1987, p. 7). Ao tratar a existência da educação e defini-la Durkheim (1978, p. 38) aponta a questão da influência geracional. “Para que haja educação, faz mister que haja, em face de uma geração de adultos, uma geração de indivíduos jovens, crianças e adolescentes; e que uma ação seja exercida pela primeira, sobre a segunda. ” Ainda segundo Durkheim (1978, p. 44) a sociedade “desperta o saber dos homens e impõe a cultura científica como um dever” e essa imposição pode até aparentar uma “insuportável tirania”, contudo, a submissão é de interesse do homem, porque a ação coletiva originada da educação torna-o um ser humano melhor. Assim, ao transformar a sociedade, se auto-transforma também.
  • 18. 16 Percebe-se aqui então a relação da Sociologia da Educação com a Sociologia da Infância, porque a educação ocorre desde os primeiros anos de vida e a socialização das crianças é uma função coletiva da sociedade. É a sociedade que nos lança fora de nós mesmos, que nos obriga a considerar outros interesses que não os nossos, que nos ensina a dominar as paixões, os instintos, e dar-lhes lei, ensinando-nos o sacrifício, a privação, a subordinação dos nossos fins individuais a outros mais elevados. (DURKHEIM, 1978, p. 45). Sendo assim, a consciência coletiva da sociedade prevalece sobre o indivíduo coercitivamente. Portanto, educar segundo Durkheim é “adaptar a criança ao meio social para o qual se destina” e constitui-se um interesse social. Durkheim dita em sua obra As Regras do Método Sociológico: O devoto, ao nascer, encontra prontas as crenças e as práticas da vida religiosa; existindo antes dele, é porque existem fora dele. O sistema de sinais de que me sirvo para exprimir pensamentos, o sistema de moedas que emprego para pagar as dívidas, os instrumentos de crédito que utilizo nas minhas relações comerciais, as práticas seguidas na profissão etc. funcionam independentemente do uso que delas faço. (DURKHEIM, 1974, p. 2) Consequentemente, segundo Costa (2007, p. 82) a educação na perspectiva durkheimiana conforma os indivíduos, internalizando neles as regras da sociedade em que vivem, transformando-as em hábito. Para Durkheim se tirarmos do homem tudo aquilo que a sociedade lhe empresta, ele seria reduzido a condição animal, e nesse contexto, cabe então ao professor imprimir ideias e sentimentos ao espírito da criança, a fim de harmonizá-la com o meio social e desenvolver nela a cidadania. Por esta razão, “ a ação exercida pela sociedade, especialmente através da educação, não tem por objeto, ou por efeito, comprimir o indivíduo, amesquinhá-lo, desnaturá-lo, mas ao contrário engrandecê-lo e torná-lo criatura verdadeiramente humana. ” (DURKHEIM, 1978, p. 46-47) Esses apontamentos são pequenos fragmentos do pensamento durkheimianos sobre a socialização da criança e demonstram a função social das instituições, da família e da escola, lugares onde se dão as relações sociais da criança e respondem um primeiro questionamento sobre a autonomia das crianças,
  • 19. 17 ou seja, para Durkheim a criança não exerce sua autonomia, devido estar sob a tutela da família e da escola. Dessa forma, subentende-se que a criança não nasce pronta e segundo Durkheim (1978, p. 53) precisa ser orientada e disciplinada para condutas coerentes. Para tanto, cabe aos mestres e pais, serem prudentes e demonstrarem autoridade, ao invés de autoritarismo, uma vez que nada passa sem deixar marcas nas crianças. Outra consideração importante para Durkheim (1978, p. 54) acerca da educação fica por conta do dever personificado cuja “autoridade moral é a qualidade essencial do educador”. Em suma, para Durkheim (1978, p. 84) a educação é a transmissão através de uma geração à outra hereditariamente. Assim, conforme se observa, os estudos sociológicos sobre a criança eram realizados pelo campo da Sociologia da Educação pautados da concepção durkheimiana. Contudo, cabe ressaltar, o esforço de Durkheim em sistematizar esse saber. Para a professora Helena Singer3 (1997, p. 32) o contexto vivido por Durkheim (1858-1917) foi de profundas transformações na sociedade francesa, e em 1882, a proposta para a educação, contempla a instrução laica nas escolas, a obrigatoriedade e gratuidade para “todas as crianças dos seis aos treze anos” e com isso, a escola é incumbida de moralizar a sociedade. Dubet (1994 apud SILVA, 2011, p. 336) critica a perspectiva durkheimiana de socialização ao afirmar “ Nas perspectivas sociológicas clássicas, a escola é uma instituição socializadora, que define o ator social por sua potencialidade em incorporar os valores e normas da sociedade de seu tempo. O ator incorpora os princípios estáveis e homogêneos do sistema, logo o ator é o sistema. ” Além disso, Silva (2011, p. 337) afirma Pela leitura de Durkheim, a sociedade não existiria sem que houvesse em seus membros certa homogeneidade, sendo função da educação a perpetuação e o reforço dessa homogeneidade, o que implicaria a fixação na criança de algumas similitudes necessárias à vida coletiva. Ao mesmo tempo, sem um mínimo de diversificação 3 A socióloga é autora do livro República de crianças e se destaca pelo pioneirismo na pesquisa sobre a Escola Democrática, sendo a escola da Ponte em Portugal uma referência mundial nesse modelo de gestão democrática. No Brasil dentre outras escolas a E.M. Desembargador Amorim Lima em São Paulo adota a gestão escolar semelhante desde 2004.
  • 20. 18 toda cooperação ou forma de solidariedade seria impossível: é a diversificação que permite a especialização da sociedade. Essa, portanto, seria a definição central do processo de socialização no quadro do Funcionalismo: a presença das funções diferenciadora e homogeneizadora das relações sociais. Neste sentido, é possível entender a contribuição de Durkheim para a socialização das crianças na sociedade moderna, no entanto, na perspectiva contemporânea é preciso mudar essa visão de passividade da criança. Assim, as crianças são para Silva (2011), protagonistas como os adultos e educadores no sentido de que não são seres passivos à espera de que outros sempre os eduquem como vislumbrava os estudos da sociologia clássica representada pelos trabalhos de Durkheim (sobre socialização) e de Weber (sobre as lógicas de ação). Inúmeras são as transformações por que tem passado a sociedade, em todas as esferas que a compõem. Dessa forma, o inventar das crianças, muitas vezes, direciona a novas formas de sociabilidade, novas formas de expressões culturais que proliferam a cada dia. Conforme se observa a sistematização do pensamento de Durkheim sobre a socialização influenciou muito o sistema educacional brasileiro, entretanto, na sociedade contemporânea, as discussões continuam e surgem novos conceitos sobre a socialização das crianças. Giddens (2012, p. 84) aponta as fases de desenvolvimento da teorização sociológica e entende que os pensadores clássicos – Marx, Durkheim e Weber – atuaram em um momento de profundas mudanças sociais. Ele aponta ainda a importância de “colocar as velhas perspectivas em contato com as novas, para testar e comparar sua efetividade para nos ajudar a entender e explicar as mudanças dramáticas que estamos vivenciando. ” (GIDDENS, 2012, p. 84). Nesse sentido, devido as constantes transformações na sociedade, são importantes novas análises, porém, isso não significa que as perspectivas clássicas devam ser descartadas, pelo contrário, elas devem fornecer novas visões.
  • 21. 19 2. A SOCIALIZAÇÃO DE UMA NOVA GERAÇÃO PARA UM MUNDO NOVO À princípio, para uma melhor compreensão sobre a Sociologia da Infância é preciso observar o avanço das teorias sociológicas no século XX. Para tanto, Corsaro (2011) aponta dois modelos diferentes do processo de socialização na sociedade moderna, sendo o primeiro determinista, cuja criança age passivamente e é considerada uma “iniciante” com potencial para contribuir para a manutenção da sociedade, contudo, é uma “ameaça indomada”, que deve ser cuidadosamente controlada e treinada. O autor compreende ainda, que no modelo determinista e suas duas vertentes – a funcionalista e a reprodutivista – a importância das crianças, e da infância na sociedade são ignoradas. Além disso, eles “ignoram a questão de que as crianças não se limitam apenas a internalizar a sociedade em que nasceram. ” (CORSARO, 2011, p. 22). O segundo modelo apresentado por Corsaro é construtivista e considera a criança um sujeito ativo que constrói seu mundo social e seu lugar nele. Para ele, quando aplicadas à Sociologia da Infância, as perspectivas interpretativas e construtivistas argumentam que as crianças, assim como os adultos, são participantes ativos na construção social da infância e na reprodução interpretativa de sua cultura compartilhada. Em contraste, as teorias tradicionais veem as crianças como “consumidores” da cultura estabelecida por adultos. (CORSARO, 2011, p. 19). De acordo com Belloni, “as teorias deterministas como o funcionalismo, o estruturalismo e o marxismo, criticadas pelos pensadores da Escola de Frankfurt, pela fenomenologia e solapadas por movimentos “pós-modernos”, foram perdendo seu valor heurístico, ao longo da segunda metade do século. (BELLONI, 2009, p. 5) Ela destaca ainda, A partir daí, assistimos à progressão de correntes ditas “construcionistas” ou “construtivistas”, que consideram que os atores constroem o mundo em que vivem, o que significa uma espécie de “volta ao ator”, seja no sentido weberiano (significação da ação), seja no sentido de Goffman ou de Touraine, ou mesmo no de Bourdieu com a noção de habitus. (BELLONI, 2009, p. 5)
  • 22. 20 As discussões sociológicas avançaram significativamente e segundo Dias (2012, p. 73) a institucionalização da infância iniciou-se na modernidade “com a criação das escolas e expansão das redes de ensino. ” Para ela a criança “ao adentrar os muros escolares, passava a desempenhar um novo papel, o de aluno, assumindo nova postura e novas responsabilidades. ” (DIAS, 2012, p.73) A propósito, no Brasil o sociólogo Florestan Fernandes (1979) em 1944, muitos anos antes da emergência e das discussões sobre a Sociologia da Infância, já destacava em seus estudos a socialização infantil por intermédio da cultura folclórica4 em “As “Trocinhas” do Bom Retiro”. Para Mazza (2001) Florestan Fernandes por meio das observações das práticas folclóricas das "trocinhas", chegou à análise da organização dos grupos infantis tendo por finalidade imediata a recreação. Ele observou a formação dos grupos infantis valendo-se da condição básica da vizinhança; a organização dos grupos segundo a convivência primária do face à face e também segundo as exigências próprias de cada atividade, às vezes por sexo, outras vezes por idade, agilidade, tamanho, força física, quanto aos deveres e direitos dos participantes do grupo, a punição feita pelo líder, etc. Completa ainda Mazza (2001) que “Florestan incorporou o conceito de “ser social” de Durkheim para contrapô-lo ao “ser individual” sugerindo que os grupos infantis socializavam a criança, agindo no mesmo sentido que a paróquia, a escola, a família na formação do ser social e no desenvolvimento da personalidade de imaturos”. Em seus escritos Florestan mostra a relação espontânea das crianças com seus pares, e por meio das simples brincadeiras troca experiências entre si sobre a cultura infantil e até internaliza a cultura dos adultos, através do lúdico automaticamente, sem mesmo perceber isso. No entanto, além da socialização das crianças através de seus pares, há também a interferência da indústria cultural na sociedade moderna. A mídia de massa é uma das principais armas capitalistas, para manipulação e controle social 4 Roger Bastilde prefacia e elogia a obra de Florestan Fernandes (1979, p. 229) apontando: “o folclore, durante tanto tempo abandonado aos amadores, seus únicos estudiosos, tornou-se hoje uma ciência, que tem suas regras, seus métodos, e que exige de quem estuda qualidades especiais.”
  • 23. 21 desde seu surgimento, pois tem o poder de influenciar as crianças e adultos de maneira sutil para serem consumidores de suas mercadorias. As programações dos meios de comunicação de massa, ou seja, jornais, revistas, televisão, cinema e rádio são massificadas, preparadas para legitimar a cultura de uma geração e influenciá-la a consumir inconscientemente mercadorias. Entretanto, a socialização das crianças para Jesus Martin-Barbero, é realizada de maneira desigual entre as classes sociais, pois, “Enquanto uma classe normalmente só pede informação à televisão, porque vai buscar em outra parte o entretenimento e a cultura - no esporte, no teatro, no livro e no concerto -, outras classes pedem tudo isso só à televisão. ” (MARTIN-BARBERO, 1997, p. 301). Passadas duas décadas, contextualizando essa informação, além da televisão, vale considerar a popularização da Internet e o acesso às redes sociais. Nesse sentido, as mediações desses conteúdos são essenciais para a socialização das crianças, seja qual for o lócus e a classe social em que ela esteja, não apenas nos ambientes formais, mas também nos ambientes não-formais de educação. O sociólogo francês Pierre Bourdieu na década de 1970 resgata os ensinos durkheimianos sobre a “conservação de uma cultura herdada do passado” e aponta a família e a escola sendo as instituições responsáveis por transmitir o patrimônio cultural as crianças. Para ele, “a transmissão entre gerações da informação acumulada, permite às teorias clássicas dissociar a função de reprodução cultural que cabe a qualquer sistema de ensino, de sua função de reprodução social. ” (BOURDIEU, 2007, p. 296-297). Na mesma perspectiva durkheimiana sobre a educação, no que se refere a transcendência do mundo para as novas gerações, Arendt enfatiza Só a existência de uma esfera pública e a subsequente transformação do mundo em uma comunidade de coisas que reúne os homens e estabelece uma relação entre eles depende inteiramente da permanência. Se o mundo deve conter um espaço público, não pode ser construído apenas para uma geração e planejado somente para os que estão vivos: deve transcender a duração da vida de homens mortais. (ARENDT, 1997, p. 64) Tendo vivido no contexto pós-guerra na sociedade americana de massas, Arendt escreveu sobre a crise na educação em meados de 1960 apontando dois polos opostos, a centralização e a descentralização do poder.
  • 24. 22 Em seu entender, o poder ditatorial ocorre quando se centraliza o poder na figura do professor, e oposto a isso, quando se permite a autonomia das crianças junto aos seus pares, se observa a tirania. Conforme pontua Arendt, a situação da criança participando em grupo, sem a mediação de um adulto, pode ser bem pior do que antes, porque a autoridade “mesmo que este seja um grupo de crianças, é sempre consideravelmente mais forte e tirânica do que a mais severa autoridade de um indivíduo isolado.” (ARENDT, 1992, p. 230). Ademais, a autora considera que ao se emancipar da autoridade dos adultos, a criança “não foi libertada, e sim sujeita a uma autoridade muito mais terrível e verdadeiramente tirânica, que é a tirania da maioria.” (ARENDT, 1992, p. 230). Arendt (1992, p. 230) percebe a existência de um mundo autônomo da criança “um ser em desenvolvimento” e a infância “uma etapa temporária” e necessária para a preparação do mundo adulto, e por isso, os educadores devem ensiná-las, mediando os conflitos, conduzindo-as a refletirem suas ações. Sem dúvida, nesse processo de socialização, é importante a participação de cada ator. Por essa via, Arendt aponta a função da escola em ensinar a autoridade na sala de aula e ao mesmo tempo, estimular a autonomia das crianças em serem agentes de transformação do mundo. A função da escola é ensinar às crianças como o mundo é, e não instruí-las na arte de viver. Dado que o mundo é velho, sempre mais que elas mesmas, a aprendizagem volta-se inevitavelmente para o passado, não importa o quanto a vida seja transcorrida no presente. (ARENDT, 1992, p. 246). Quanto ao problema da educação no mundo moderno, Arendt demonstra que é preciso equilíbrio para não abrir mão nem da autoridade, nem da tradição e concluindo seu raciocínio afirma: A educação é, também, onde decidimos se amamos nossas crianças o bastante para não expulsá-las de nosso mundo e abandoná-las a seus próprios recursos, e tampouco arrancar de suas mãos a oportunidade de empreender alguma coisa nova e imprevista para nós, preparando-as em vez disso com antecedência para a tarefa de renovar um mundo comum. (ARENDT, 1992, p. 247).
  • 25. 23 Assim a tarefa da educação para Arendt é conservar e renovar esse mundo velho, junto aos mais novos, possibilitando-lhes um novo começo, um mundo novo. Momm (2011, p. 140) debruçando na obra de Arendt, aponta a missão intercessora dos professores na relação da criança nova em um mundo velho de processos e suas significações, contribuindo também para a passagem dela, da esfera privada infantil para a esfera pública do mundo adulto. A educação para Arendt é conservadora, tendo em vista a natureza da condição humana, mas “em benefício daquilo que é novo e revolucionário” pois, “cada geração se transforma em um mundo antigo, de tal modo que preparar uma nova geração para um mundo novo só pode significar o desejo de arrancar das mãos dos recém-chegados sua própria oportunidade face ao novo.” (ARENDT, 1992, p. 226). Partindo para a perspectiva foucaultiana, a socialização da criança acontece sob uma coerção disciplinar do corpo pois, O corpo humano o esquadrinha, o desarticula e o recompõe. Uma “anatomia política”, que é também igualmente uma “mecânica do poder”, está nascendo; ela define como se pode ter domínio sobre o corpo dos outros, não simplesmente para que façam o que se quer, mas para que operem como se quer, com técnicas, segundo a rapidez e a eficácia que se determina. A disciplina fabrica assim corpos submissos e exercitados, corpos “dóceis”. A disciplina aumenta as forças do corpo (em termos econômicos de utilidade) e diminui essas mesmas forças (em termos políticos de obediência). Em uma palavra: ela dissocia o poder do corpo; faz dele por um lado uma “aptidão”, uma “capacidade” que ela procura aumentar; e inverte por outro lado a energia, a potência que poderia resultar disso, e faz dela uma relação de sujeição estrita. Se exploração econômica separa a força e o produto do trabalho, digamos que a coerção disciplinar estabelece no corpo o elo coercitivo entre uma aptidão aumentada e uma dominação acentuada. (FOUCAULT, 1987, p. 119). Nessa perspectiva foucaultiana, as escolas se apresentam na mesma disposição física dos hospitais, manicômios e prisões, e em oposição a esse modelo de escola que vigia e pune, Singer (1997) defende o modelo de Escola Democrática5 na sociedade contemporânea. 5 De acordo com Helena Singer são três os princípios da Escola Democrática: 1) A autogestão: participação e responsabilidade de todos envolvidos 2) Prazer pelo conhecimento, sendo desnecessárias punições ou disciplina. 3) Não há hierarquia no conhecimento, pois todos participantes crescem juntos no saber, são valorizados e respeitados. (apud CENTRO DE REFERÊNCIAS EM EDUCAÇÃO INTEGRAL, 2016).
  • 26. 24 Para ela, Do mesmo modo que nas prisões e nos manicômios, nas escolas opera-se a individualização, o isolamento e a divisão das crianças, fazendo-se do professor o ponto central de todo o processo. O professor é o vigia que impede que ocorram faltas; nas salas de aula, as crianças não interagem uma com as outras, elas têm a atenção voltada para esse vigia, que pode a qualquer momento fazer valer a sua autoridade. A metáfora do panóptico aplica-se perfeitamente aqui. (SINGER, 1997, p.43). A propósito, outra contribuição para a os estudos da Sociologia da Infância, é apontada por Stuart Hall (1932-2014), sociólogo jamaicano ao descrever o descentramento do sujeito sociológico na “modernidade tardia” e o surgimento do movimento social na década de 1960. Segundo Hall (2015, p. 28) o movimento feminista abriu espaços para a militância política contra hegemônica, ou seja, “arenas inteiramente novas de vida social – a família, a sexualidade, o trabalho doméstico, a divisão doméstica do trabalho, o cuidado com as crianças, etc.” Assim como se pode observar, é a partir dos anos 1960 em que as pesquisas destacam as crianças e mudam os paradigmas até então aceitos e internalizados pela sociedade moderna capitalista. Conforme Singly (2007, p.130), a modernidade na Europa muda de direção e entra em um segundo período, chamado por Giddens de ‘modernidade avançada’, ou por Beck de ‘segunda modernidade’. ” Singly (2007, p. 45) lembra a pesquisa sobre a criança realizada pelo historiador social Ariès, na qual aponta a existência de dois tipos de família: o “tipo fecundo” que negligencia a pessoa da criança, pois, só importa o patrimônio e sua mão-de-obra e o “tipo malthusiano” em que “a fortuna da família repousa essencialmente na criança e no seu futuro”. Com essas considerações até aqui realizadas, foram abordadas apenas algumas visões de como ocorreu o processo de socialização das crianças no século XX, até a emergência da Sociologia da Infância.
  • 27. 25 3. A SOCIALIZAÇÃO DA CRIANÇA NA PERSPECTIVA CONTEMPORÂNEA Após a análise das correntes deterministas e construtivistas da sociedade moderna, já descrita no item anterior, considerando a perspectiva contemporânea, Corsaro propõe um novo modelo de socialização, chamado por ele de “reprodução interpretativa”, pois, encara a integração das crianças em suas culturas como reprodutiva, em vez de linear. De acordo com essa visão reprodutiva, as crianças não se limitam a imitar ou internalizar o mundo em torno delas. Elas se esforçam para interpretar ou dar sentido a sua cultura e a participação dela. Na tentativa de atribuir sentido ao mundo adulto, as crianças passam a reproduzir coletivamente seus próprios mundos e culturas pares. (CORSARO, 2011, p. 36). O sociólogo em 1993 utiliza a metáfora da “teia de aranha”, e pondera: “a teia global, produzida por aranhas comuns de jardins, é a mais útil para minhas necessidades conceituais. Uma série de recursos da teia global a torna uma metáfora útil para conceitualizar o processo de reprodução interpretativa. ” (CORSARO, 2011, p. 37) Figura 1 - O modelo de teia global. Fonte: Corsaro (2011, p. 38).
  • 28. 26 Nesse modelo de teia de aranha segundo o autor, “a criança está sempre participando de e integrando duas culturas – a das crianças e a dos adultos – e essas culturas são complexamente interligadas. ” (CORSARO, 2011, p. 40). Sem dúvida, dentre os conceitos apresentados pelos autores contemporâneos, os escritos de Corsaro são referências para o entendimento e estruturação dos conceitos sobre a Sociologia da Infância. Vale lembrar, de acordo com Dias (2012, p. 66) que “a ênfase da análise sociológica esteve presente nos métodos e instituições socializadoras, cujo objetivo principal era a idade adulta. ” No entanto, com a emergência desse novo campo de saber nos anos 1980, acontece uma ruptura com os conceitos de socialização empregados por Durkheim, e o pesquisador Sarmento indica uma revisão crítica das obras de Jenks (1996), Corsaro (1997), Montandon (1998), Sirota (1998), para a desconstrução das bases teóricas do pensamento durkheimiano sobre a socialização das crianças como indivíduos pré-sociais cujos valores, normas e saberes são nelas inculcados. Como assinala Sarmento, esse conceito de socialização em Durkheim, Nas suas múltiplas reinterpretações futuras, incorpora sedimentalmente a história de uma produção teórica sociológica que se ocupou sempre das crianças como objectos [sic] manipuláveis, vítimas passivas ou joguetes culturalmente neutros, subordinados a modos de dominação ou de controlo [sic] social, que assumiam a garantia da sua continuidade precisamente por esse trabalho de condução para os lugares, os comportamentos, as atitudes ou as práticas sociais pertinentes. (SARMENTO, 2005, p. 374). Destarte, Sarmento encerra suas interrogações e afirmações reinterpretando o conceito de gerações e alteridades das crianças, apontando: “ao falarmos de crianças, não estamos verdadeiramente apenas a considerar as gerações mais novas, mas a considerar a sociedade na sua multiplicidade, aí onde as crianças nascem, na sua diversidade e na sua alteridade diante dos adultos. ” No que diz respeito a emergência da Sociologia da Infância, Régine Sirota (2001) registra a ruptura dos conceitos de socialização até então vigentes descrevendo novas perspectivas e elaborando um estado da arte dos estudos sociologicos franceses e ingleses, relatando os trabalhos realizados, tais como, seminários, congressos, colóquios, e publicações de artigos em revistas especializadas.
  • 29. 27 Segundo ela, “a redescoberta da sociologia interacionista, a dependência da fenomenologia, as abordagens construcionistas vão fornecer os paradigmas teóricos dessa nova construção do objeto. Essa releitura crítica do conceito de socialização e de suas definições funcionalistas leva a reconsiderar a criança como ator. ” (SIROTA, 2001, p. 9-10). Mais adiante aponta O afastamento em relação à posição durkheimiana é claro. Trata-se de romper a cegueira das ciências sociais para acabar com o paradoxo da ausência das crianças na análise científica da dinâmica social com relação a seu ressurgimento nas práticas consumidoras e no imaginário social. (SIROTA, 2001, p. 11) De acordo com Giddens (2012, p. 212) há diferentes agências de socialização6 para as crianças e esse processo divide-se em duas etapas. Na primeira delas, denominada socialização primária, a família é fundamental para o desenvolvimento da criança e na segunda fase, diferentes agentes de socialização “assumem parte da responsabilidade da família”. Através das interações das crianças com a família, escola, grupos de amigos, organizações e meios de comunicação de massa, que se dá a socialização, pois são transmitidos laços culturais, valores definidos pela sociedade, capital cultural, regras básicas de sobrevivência, alimentação, saúde, higiene, etc. Porém, nessa socialização, nem sempre as instituições reproduzem os valores transmitidos pelas famílias. As crianças segundo Belloni (2009, p. 70) além de objetos da ação dessas agências especializadas, são atores e principais sujeitos ativos no processo de socialização. Setton (2002) observa a presença da cultura de massas socializando muitas gerações, influenciando-as “para o bem ou para o mal”, transmitindo os valores e padrões de conduta e conforme disse Paracelso, a educação é para a vida toda desde a infância até a velhice. 6 Conforme Berger e Luckmann (2004, p. 138) a socialização é um processo ontogênico que introduz o indivíduo a sociedade e é classificada em socialização primária e secundária. De acordo com Araujo (2011, p. 85) “A socialização primária ocorre na infância sob influência da família. Já a socialização secundária é aquela que introduz o indivíduo em novos setores da sociedade, como as instituições sociais. ”
  • 30. 28 Entretanto, apesar de Belloni (2009, p. 69) compreender a socialização sucessiva, ao longo da vida, ressalta a importância desse processo, especialmente na infância e adolescência. Quanto as regras em que as crianças estão expostas, segundo La Taille (1994 apud REGO,1996, p. 86): [...] crianças precisam sim aderir as regras (que implicam valores e formas de conduta) e estas somente podem vir de seus educadores, pais ou professores. Os ‘limites’ implicados por estas regras não devem ser interpretados no seu sentido negativo: o que não pode ser feito ou ultrapassado. Devem também ser entendidos no seu sentido positivo: o limite situa, dá consciência de posição ocupada dentro de algum espaço social – a família, a escola, e a sociedade como um todo O pesquisador François Dubet em uma entrevista concedida as professoras Angelina Teixeira Peralva e Marília Pontes Sposito, da Universidade de São Paulo (USP) em 1997, ao ser questionado se a escola deveria ser socializadora afirmou: Sim, mas ela o é de fato. Ela o é, inclusive quando não funciona. Mas não acredito que ela deva ser socializadora da maneira como muitos entendem na França hoje em dia: conservadora, volta da moral, volta da disciplina, volta dos princípios [...]. Eu acho que ela deve ser socializadora de um modo muito mais democrático, muito mais aberto. O debate não é entre permissividade e autoridade, eu acho que isto é um falso debate. É preciso ter ao mesmo tempo autoridade e liberdade. (DUBET; PERALVA; SPOSITO, 1997, p. 229). Apesar de exemplificar a escola francesa, Dubet observou os modelos da escola democrática, e esse modelo escolar de “autoridade e ao mesmo tempo liberdade” pode muito bem ser aplicado no Projeto Político Pedagógico (PPP) das escolas brasileiras, considerando as diferentes realidades locais e os seus diferentes contextos. Em estudo recente o professor Lenardão (2015, p. 9) registra a concepção e expectativas dos cidadãos sobre a função da escola. Eles entendem que a escola serve para: a) socializar (moralizar) as crianças e os jovens; b) preparar para o trabalho (socializar para o trabalho); c) servir de instrumento de equalização das condições de aproveitamento das oportunidades sociais e de ascensão social; d) colaborar na gestão e reprodução da força de trabalho para o “capital”; e) consagrar a ordem social por meio da colaboração na reprodução da estrutura de distribuição do “capital cultural”; f) socializar o “conhecimento sistematizado”
  • 31. 29 Conforme destacado nessa lista de funções sociais da escola, Lenardão (2015, p. 10) conclui que há avaliações de caráter positivo e também as de caráter negativo e relata como primeiro pressuposto da função social da escola a moralização das crianças e jovens, devido o comportamento do ser humano, como “um ser egoísta, impulsivo, movido, por desejos, vontades e paixões imediatas e apetites insaciáveis, sendo, por isso, portador de tendência ao comportamento agressivo, tendo como a principal motivação de sua existência a “busca do prazer” imediato.” Em consequência do “modo de vida selvagem” do homem, ele aponta a existência de mecanismo de controle do comportamento, ou seja, “regras, normas, leis e agentes da lei e da ordem”, para exercerem de fora do indivíduo o controle e moderação dos instintos e paixões, dos impulsos primitivos, dos apetites selvagens e do egoísmo, considerados os principais impedimentos para a vida em grupo na sociedade. Nesse sentido, a função social da escola perpassa a ideia de formar moralmente o cidadão e prepará-lo para o mundo do trabalho, pois é necessário fortalecer nesse cidadão os valores de solidariedade, sentimento de pertença ao coletivo da sociedade e, portanto, deve “sujeitar seus apetites egoístas, do seu modo de vida selvagem” obedecendo às regras impostas, se tornando um ser social, compromissado em transformar a sociedade. Assim, cabe ao Estado e suas entidades, recuperar a unidade orgânica, ou seja, segundo Durkheim (1983, p. 47) “dirigir a conduta coletiva”. Entretanto, o professor observa a perspectiva durkheimiana acerca da educação escolar e entende que é preciso promover os três elementos básicos da moralidade moderna: o espírito de disciplina, o espírito de abnegação e a autonomia da vontade para cumprir parte da meta de socialização dos indivíduos. Entende também que a escola não reduz a importância da família, religião, meios de comunicação, atividades profissionais e outras atividades de socialização de crianças e jovens. Para descrever a socialização na escola em consonância com os educadores, Lea Paixão e Zago (2007, p. 226) argumenta: “a aprendizagem escolar virou brinde”. Pode soar um tanto estranho, entretanto, essa frase sintetiza bem o desabafo de um grupo de professoras participantes de uma pesquisa sobre socialização de crianças na periferia de Niterói no Rio de Janeiro.
  • 32. 30 Isso porque as professoras realizam tarefas que não constituem o “oficio” delas, porque as crianças chegam à escola com “carência de socialização”, e não tem limites, não sabem como se comportar, só sabem correr e saltar. Em contrapartida, do ponto de vista das famílias, a socialização das crianças está a cargo da escola, uma vez que para trabalhar os pais ficam distantes de seus filhos. Portanto, quando as crianças não estão na escola, devido a violências nas ruas, se trancam em suas casas, na ilusão de segurança, porém, ficam expostas à mídia, considerada uma das principais responsáveis pela socialização das crianças na sociedade contemporânea. Segundo Kellner, (2001, p. 27) A cultura veiculada pela mídia transformou-se numa força dominante de socialização: suas imagens e celebridades substituem a família, a escola e a Igreja como árbitros de gosto; valor do pensamento, produzindo novos modelos de identificação e imagens vibrantes de estilo, moda e comportamento Porém, Belloni (2012, p. 35) considera a dificuldade de avaliar a televisão enquanto uma instituição de socialização, devido à complexidade deste processo, no qual a interiorização das normas e valores transmitidos depende também da aceitação ativa das crianças e adolescentes, que lhes atribuem – ou não – legitimidade. Além disso, Giddens (2012, p. 213) destaca: “As relações entre os pares provavelmente têm um impacto significativo para além da infância e da adolescência. Geralmente, grupos informais de pessoas de idades semelhantes, no trabalho e em outras situações, têm uma importância duradoura em moldar as atitudes e o comportamento dos indivíduos. ” Na realidade, conforme se observa, já foi o tempo em que os estudos sobre as crianças eram realizados por pedagogos, educadores e psicólogos. Não desprezando estes, pois as discussões se inter-relacionam, porém, nos últimos anos, a Sociologia da Infância se apresenta como um desafio para os pesquisadores. A francesa Cléopâtre Montandon (2005) observa na relação parental os diferentes fenômenos sociais, as estruturas sociais, bem como os contextos sociais em que as crianças estão inseridas.
  • 33. 31 Ela estuda a relação de seus educadores e também as ações práticas resultantes de seu aprendizado, no propósito de entender como as crianças europeias de acordo com as suas características sociais e culturais expressam suas emoções, ações e representações, a partir de conhecimento obtido. Assim, Montandon pesquisa as práticas educativas, tendo em vista o papel dos pais, dentro das estruturas familiares, do pertencimento social ou cultural, das diferentes perspectivas, motivações meritocráticas entre as crianças da classe média, a falta de projeto familiar e a punição para as crianças das classes populares. O que se percebe na sociedade neoliberal é o “adestramento” das crianças, que desde cedo, são condicionadas, moldadas e estigmatizadas na própria escola que deveria formar o cidadão e reproduz a mentalidade do mundo do trabalho capitalista, cujos mais “destacados” servirão para “conservar” o que está posto, e dominar comandando os “menos dotados”. A propósito, em seu estudo, Montandon faz uma análise quantitativa e demonstra três modelos suíços de práticas educativas. São eles, o modelo estruturante, autoritário (hegemônico) com 51%, o persuasivo com 44% seguido do modelo estatutário estrito com 5% da preferência. Ela entende que não se deve reduzir o pensamento das crianças ao descrever o ponto de vista dos pais e educadores e a complexidade das relações com os pares e outros agentes externos de socialização. Ainda que Montandon aborde o apoio e o afeto dos pais, explícita o desejo das crianças exercerem a autonomia em suas decisões, escapando do controle deles. A autora critica a educação autoritária pautada na desigualdade e submissão antagônicas aos valores cidadãos, porque as sociedades contemporâneas tornaram- se mais democráticas e é preciso mudar os modos de educação dos indivíduos, e nesse contexto, há muito ainda a ser explorado. Compartilhando a mesma opinião de Fernandes (1990), Singer (1997) aponta ser o discurso de Durkheim um sintoma de um dispositivo pedagógico fundamentalmente disciplinar, não comprometido com o ideal da autonomia dos cidadãos livres, responsáveis e criadores. Ao contrário, é um substituto do disposto de moralização cristã, com efeitos similares: identificação com a norma; submissão. (SINGER, 1997, p. 24). Acrescenta ainda
  • 34. 32 [...] apesar de o discurso dominante ter sido sempre para a formação de indivíduos autônomos, a modernidade, nas suas diversas configurações sociais, tem-se de fato caracterizado-se pela formação de massas heterônomas, que não a questionem essencialmente e não construam possibilidades reais de transformação. Mas pode também significar que a proposta da escola democrática é inviável para o social mais amplo, estando condenada desde a sua formulação à margem. (SINGER, 1997, p.24-25). Outra pesquisa significativa foi realizada em 1994 e publicada pela francesa Suzanne Mollo-Bouvier (2005) e sua preocupação, reside no fato da criança ser sujeito social da própria história para transformação e quando isso é negado de algum modo, deixa de ser um sujeito histórico crítico e passa a reproduzir os valores apreendidos. Mollo-Bouvier aponta quatro fatores para a construção da Sociologia da Infância. Em primeiro lugar a segmentação social das idades e a incerteza quanto ao período da infância. Em segundo lugar, a tendência a favorecer a socialização em estruturas coletivas fora da família. Em terceiro, trata a transformação e as contradições das concepções da infância e por último trabalha o interesse generalizado por uma educação precoce. Além do mais, estuda o cotidiano da criança e suas interações com o coletivo pensando na segmentação social das idades e entende existir uma lacuna sociológica na faixa etária de 10-12 anos, justamente o período de transição da infância para a adolescência. Sobre as características dos modos de socialização delas, aponta os diferentes sentidos, lugares, idades e tarefas. Apresenta ainda, um percurso institucional da socialização nos diferentes tempos sociais das crianças, de ordem psicológica e pedagógica, que contribuem para a socialização delas, enfatizando que a educação autoritária não é a mais positiva e questiona como ensinar as crianças valores cidadãos e democráticos, se a escola e a família ensinam desigualdade e submissão. Segundo a pesquisadora, “A criança é também um desafio para os sistemas de valores que fragmentam a sociedade. Por meio dela, movimentos políticos, ideológicos e religiosos tentam exercer sua influência e preparar o futuro. ” (MOLLO- BOUVIER, 2005, p. 398). Para ela há muito para fazer e devido as mudanças sociais e políticas, os modos de educação na sociedade contemporânea precisam ser atualizados.
  • 35. 33 Outro pesquisador que apresenta um tratado sociológico da infância é o professor português Manuel Jacinto Sarmento. Ele entende a infância como objeto de estudo da sociologia que perpassa as perspectivas reducionistas da biologia e da psicologia, por investigar o conjunto da sociedade. E nessa perspectiva, a questão da geração e da alteridade diante dos adultos, desvelam as condições de existências e de atuações plenas das crianças como atores e sujeitos sociais. Segundo Sarmento (2005, p. 363), A infância é concebida como uma categoria social do tipo geracional por meio da qual se revelam possibilidades e os constrangimentos da estrutura social. O desafio a que nos propomos é interrogar o modo como constructos teóricos como “geração” e “alteridade” se constituem como portas de entrada para o desvelamento dos jardins ocultos em que as crianças foram encerradas pelas teorias tradicionais sobre a infância e de como esse conhecimento se pode instituir em novos modos de construção de uma reflexividade sobre a condição de existência e os trajectos [sic] de vida na actual [sic] situação da modernidade. Ele resgata o pensamento dos sociólogos Karl Mannheim e Qvortrup, e da psicóloga Alanen, a fim de reconstruir o conceito de geração, pois, entende ser “a infância historicamente construída” através das práticas sociais na relação com os adultos. Para Sarmento a Sociologia da Infância é uma construção histórica inconclusa, sendo sempre atualizada com as práticas sociais através das interações das crianças com seus pares e com os adultos. O autor exemplifica a importância dos estudos desse novo campo de saber, ao relatar as dificuldades das crianças portuguesas em relação as alterações das políticas públicas da educação, da iniciação ao mundo do trabalho, da relação entre os pais e responsáveis legais, das aspirações de empregos delas, da relação com as novas ferramentas tecnológicas, da geração de novas linguagens e do consumo de produtos, em especial da indústria cultural. Esse estudo apesar de focalizar as crianças portuguesas, contribui muito como base, para entendimento da Sociologia da Infância em diferentes contextos culturais. O professor registra aquilo que há de ser explorado, seguindo a lógica “de que as crianças estabelecem uma deslocação sobre os princípios lógicos estruturantes das gramáticas culturais adultas (sobretudo às culturas ocidentais de
  • 36. 34 matriz europeia; as culturas não-ocidentais não se estruturam necessariamente sobre os mesmos princípios lógicos) e, especialmente, sobre princípios da identidade e da sequencialidade. ” (SARMENTO, 2005, p. 375). Contudo, é imprescindível reforçar novamente, que embora as crianças como sujeitos de sua história, como atores sociais, mesmo na diversidade, estão sobre a tutela dos adultos. Por isso, a insistência em questionar até que ponto elas podem exercer suas atividades de maneira autônoma? E como os educadores observam o desenvolvimento das práxis delas nas sociedades, se até certa idade são tuteladas pelos pais ou familiares próximos? Segundo Jucirema Quinteiro (2002) “a participação das crianças no processo educativo não se limita aos aspectos exclusivamente psicológicos, mas sociais, econômicos, políticos e históricos” e entendendo isso, cita a concepção de Sarmento (1997) sobre as crianças serem “actores [sic] sociais de pleno direito”. A autora acrescenta ainda, a negligência da auscultação da voz das crianças” e a subestimação da “capacidade de atribuição de sentido às ações e aos seus contextos. ” Entretanto, cabe considerar também as mudanças devido o desenvolvimento das crianças e da maturidade delas na sociedade contemporânea. Há também evidências consideráveis de que as crianças estão entrando na puberdade mais cedo do que as gerações anteriores. Nos Estados Unidos, por exemplo, a idade média para início da menstruação há 150 anos era 16 anos de idade. Atualmente, é 12,5. Deve-se ressaltar, porém, que, embora as meninas e os meninos tornem-se biologicamente maduros mais cedo, muitos deles levam mais tempo para atingir a maturidade intelectual e emocional. (TFEYA, 1989 apud HARGREAVES; EARL; RYAN, 2001, p. 22). Em geral, essa alteração biológica acontece justamente na mesma época da transição do ensino fundamental I para o ensino fundamental II, momento em que a criança está vivenciando inúmeras mudanças comportamentais, físicas, biológicas, sociológicas. Um exemplo disso, pode ficar por conta do choque cultural em que geralmente as crianças tem com seus pares, ao participarem de um novo ambiente de ensino, com novas turmas, diversos professores para as matérias curriculares, etc. e se relacionar com uma nova faixa etária daquela que participava no ensino básico.
  • 37. 35 CONSIDERAÇÕES FINAIS Conforme se observa, há diferentes instituições de socialização das crianças, e diferentes contextos históricos e sociológicos e o presente artigo analisa as concepções de socialização das crianças desde a perspectiva funcionalista, bem como a evolução das teorias clássica para a moderna, até a emergência da Sociologia da Infância no mundo contemporâneo. Na perspectiva das teorias clássicas precursoras, a criança foi considerada um objeto na história, condicionada a aprender através da influência geracional, sem muita força de expressão, conforme os estudos de Durkheim, de modo que nessa visão de mundo, os adultos ensinam as crianças exercendo uma ação coercitiva sobre elas, no propósito de torná-la mais humana. Nesse caso importa mais o coletivo do que o individual. Certamente os ensinos de Durkheim contribuíram em sua época e contexto social para a socialização das crianças no modo de produção capitalista, em vias de uma sociedade industrial em constantes transformações. Como foi visto nesse artigo, até a década de 1960, os trabalhos sobre as crianças em sua maioria eram ligados à área da saúde, elaborados por médicos, psicólogos e psiquiatras, e contribuíram para a formação da base teórica da sociologia da educação. Hannah Arendt criticou a pedagogia estadunidense como uma pedagogia pragmática e propôs que os adultos permitissem a autonomia das novas crianças em descobrir o velho mundo. Conforme observado, os estudos de Ariès foram um divisor de águas no entendimento da socialização das crianças, pois, as ideias durkheimianas foram contestadas e as crianças passaram a serem considerados atores sociais. Os sociólogos entenderam que essa concepção de passividade da criança, não condiz com a realidade da sociedade contemporânea, pois, elas não devem ser vistas como apenas um objeto de estudo e sim como atores sociais, de modo que apesar de sua autonomia em aprender, não deve deixar de ser mediada pelos pares, principalmente pelos pais e educadores. No entanto, Dubet contesta a ideia da criança ser considerada um ator social, quando o sistema incorpora nela seus princípios. Ele entende que para a
  • 38. 36 criança ser considerada um ator social, deve participar de modo ativo e não passivo na sociedade. Um exemplo da passividade ou da criticidade da criança na sociedade moderna, pode ser observado em relação ao seu comportamento diante dos meios de comunicação de massa, que investe cada vez mais em publicidades apresentando seus produtos para esses novos atores sociais. Por sua vez, o público infantil, se expondo a mídia de consumo, pode tornar- se vítimas e ao mesmo tempo, influenciar seus pais a comprarem tais produtos. Como resultado, ouvem-se as famosas frases ditas pelas crianças frequentemente nas lojas e supermercados, “eu quero”, “me dá” e “compra para mim”. A propósito, sobre a Sociologia da Infância, na década de 1980 surgiram as primeiras discussões entre os sociólogos franceses e ingleses, trabalhando os pressupostos desse campo como um fenômeno social. Ademais, com o advento da Internet, as relações sociais passam a ocorrer por meio das redes sociais, ou seja, outra instância de socialização das crianças. Em consequência disso, se observa que a interação entre elas ocorre em um fluxo demasiadamente rápido e isso deve ser um alerta aos pais e educadores, pois, elas aprendem sobre todos os assuntos, e em virtude disso, esse conhecimento deve ser mediado para desenvolver nelas a cidadania e com isso a participação, e não o fortalecimento de uma passividade em relação ao senso comum. O grande perigo enfrentado pelas crianças diante de tantas informações recebidas, é de serem deformadas ao invés de serem informadas, ou seja, percam os princípios básicos da educação, que constitui em educar para a cidadania e trabalho, e não para um mundo individualista, que jaz no consumo, onde se trabalha para consumir e acumular coisas supérfluas. Nesse sentido, a participação dos pais e dos educadores mediando os conflitos, as tensões sofridas pelas crianças são essenciais, pois, é preciso desnaturalizar o que é dito como natural ou normal e não são, e com isso desvelar as tramas do capital atrófico, ao invés de deixar que as crianças sejam adestradas pela mídia de massa. A socialização das crianças é um tema que não se esgota, até mesmo devido o dinamismo da sociedade contemporânea. Trabalhos futuros poderão
  • 39. 37 abordar a interação das crianças com os meios de comunicação de massa, principalmente a interação delas nas redes sociais. Diante dessas considerações, os trabalhos relacionados à Sociologia da Infância têm como missão ampliar os conhecimentos teóricos, provocar nos educadores a reflexão para que possam descristalizar em seus alunos o senso comum, e que diante dessas inúmeras possibilidades de interações sociais, desperte nas crianças o senso crítico em relação aos problemas sociais. Não desconsiderando o trabalho de Durkheim, porém, entendendo que a educação é muito mais do que transferir conhecimento de uma geração à outra, é importante que os pais e educadores, abram oportunidades para as crianças em uma educação que vise a transformação da realidade social em que vivem. Para tanto, diante das novas perspectivas sobre a socialização das crianças, um dos alvos dos educadores e dos pais na cultura dos pares, é ensiná-las a utilizar as redes sociais, não apenas para o entretenimento, ostentação e fofocas, mas como espaço democrático, em que elas, atores sociais de uma práxis solidária e coletiva, sejam proclamadoras de uma utopia de mudança e transformação social. Além disso, é preciso proporcionar iniciativas que abram espaços públicos para a socialização das crianças, lugares em que possam brincar, estudar, se respeitar, interagir, compartilhar, amar, independente de qualquer obstáculo e preconceito. Decerto, os conceitos de socialização das crianças apresentados nesse artigo, em diferentes contextos e perspectivas, podem contribuir para novas discussões. Novas pesquisas serão realizadas e a esperança é que as políticas que tratam os direitos e deveres das crianças e sua voz e participação na sociedade, possam ser ampliadas. A cada dia sejam abertos canais de comunicação e participação das crianças, atores sociais na sociedade contemporânea. Que os pais e educadores se esforcem mais em mediar os conhecimentos e as crianças se apropriem dele para transformar a sociedade.
  • 40. 38 REFERÊNCIAS ARAUJO, Angélica Lyra de. Desigualdade, participação política e juventude. In: LIMA, M.A.S.; SILVA, I.L.F.; REZENDE, M. J. (Org.). As persistentes desigualdades brasileiras como tema para o ensino médio [online]. Londrina: EDUEL, 2011. p. 67-115. ARENDT, Hannah. A condição humana. 8. ed. Rio de Janeiro: Forense Universitária, 1997. ARENDT, Hannah. A crise na educação. In: ______. Entre o passado e o futuro. São Paulo: Perspectiva, 1992. p. 221-247. ARIÈS, Philippe. História social da criança e da família. 2. ed. Rio de Janeiro: Guanabara, 1986. BELLONI, Maria Luiza. O que é sociologia da infância. Campinas, SP: Autores Associados, 2009. ______. O que é mídia-educação. Campinas, SP: Autores Associados, 2012. BERGER, Peter L.; LUCKMANN,Thomas. A construção social da realidade: um livro sobre sociologia do conhecimento. Dinalivro, Lisboa, 2004. BOURDIEU, Pierre. A economia das trocas simbólicas: introdução, organização e seleção Sérgio Miceli. 6. ed. São Paulo: Perspectiva, 2007. CÂNDIDO, Antonio. Tendências no desenvolvimento da sociologia da educação. In: PEREIRA, Luiz; FORACCHI, Marialice (Org.). Educação e sociedade: leituras de sociologia da educação. 13. ed. São Paulo: Editora Nacional, 1987. p. 7-18. CENTRO DE REFERÊNCIAS EM EDUCAÇÃO INTEGRAL. Educação democrática. Disponível em: <http://educacaointegral.org.br/glossario/educacao- democratica/> Acesso em: 23 maio 2016. COHN, Clarice. Antropologia da Criança. Rio de Janeiro: Zahar, 2005. CORSARO, William A. Sociologia na infância. 2. ed. Porto Alegre: ARTMED Editora, 2011. COSTA, Cristina. Sociologia: Introdução à Ciência da Sociedade. 3. ed. São Paulo: Moderna, 2007. DIAS, Sabrina da Costa. A emergência da Sociologia na Infância: rupturas conceituais no campo da Sociologia e os paradoxos da Infância na contemporaneidade. Revista Veras, São Paulo, v. 2, n.1, p. 63-80, 2012. Disponível em: <http://iseveracruz.edu.br/revistas/ index.php/ revistaveras/article/view/79>. Acesso em: 20 Jan. 2016.
  • 41. 39 DUBET, François; PERALVA, Angelina Teixeira; SPOSITO, Marilia Pontes. Quando o sociólogo quer saber o que é ser professor – Entrevista com François Dubet. Revista Brasileira de Educação, 1997. Disponível em: <http://www.uff.br/ observatoriojovem/sites/default/files/documentos/rbde05_6_19_angelina_e_marilia.p df>. Acesso em: 18 Jan. 2016. DURKHEIM, Émile. Educação e sociologia. São Paulo: Melhoramentos, 1978. ______. Lições de sociologia: a moral, o direito e o Estado. Tradução T.A. Queiroz. São Paulo: Universidade de São Paulo, 1983. ______. As regras do método sociológico. Tradução Maria Isaura P. Queiroz, São Paulo: Companhia Editora Nacional, 1974. FERNANDES, Florestan. As ‘trocinhas’ do Bom Retiro. In: ______. Folclore e mudança social na cidade de São Paulo. 2. ed. Rio de Janeiro: Vozes, 1979. p. 153-258. FERNANDES, Heloisa Rodrigues. Dispositivo de moralização laica e sintoma social dominante. Um estudo moral em Émile Durkheim. Tempo social. Revista de Sociologia da USP, São Paulo, v. 2, n. 2, p. 165-186. 2. Sem. 1990. FOUCAULT, M. Vigiar e punir: nascimento da prisão. Petrópolis: Vozes, 1987. FREIRE, Paulo. Pedagogia da autonomia - saberes necessários à prática educativa. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1996. GIDDENS, Anthony. Sociologia. 6. ed. Porto Alegre: Penso, 2012. HALL, Stuart. A identidade cultural na pós-modernidade. 12. ed. Rio de Janeiro: Lamparina, 2015. HARGREAVES, Andy; EARL, Lorna; RYAN, Jim. Educação para a mudança: recriando a escolar para adolescentes. Porto Alegre: Artmed Editora, 2001. KELLNER, Douglas. A Cultura da mídia – estudos culturais: identidade e política entre o moderno e o pós-moderno. Bauru, SP: EDUSC, 2001. KRAMER, Sonia. (Org.). Infância e educação infantil. Campinas, SP: Papirus, 1999. LENARDÃO, Elsio. Sociologia da educação: para que servem as escolas? Londrina: Eduel, 2015. LIMA, José Milton de; MOREIRA, Tony Aparecido; CANHOTO DE LIMA, Márcia Regina. A Sociologia da Infância e a educação infantil: outro olhar para as crianças e suas culturas. Revista Contrapontos, Itajaí, v. 14, n. 1, p. 95-110, jun. 2014. Disponível em: <http://www6.univali.br/seer/index.php/rc/article/view/5034>. Acesso em: 20 jan. 2016.
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