O documento relata o caso de uma menina que presenciou repetidas aparições noturnas de um fantasma de um cão na cabeceira de sua cama em uma casa assombrada na Irlanda. Além da menina, outras quatro pessoas sentiram o fantasma do cão saltando em suas camas ou passando sobre seus corpos. O autor analisa possíveis explicações, como alucinações ou projeções telepáticas, mas conclui que o caso parece envolver uma entidade inteligente e estranha aos percipientes.
2. Sexta categoria
Animais e fenômenos de assombração
Segundo subgrupo
Aparições de animais em locais assombrados
3. Caso 03 (Visual, com impressões coletivas)
A senhora I. Toye Warner Staples envia à revista Light (1921, pág. 553) o
relato aqui reproduzido e que fala de um caso pessoal:
4. “Espero que a minha contribuição sobre a sobrevivência da psique
animal esteja em condições de superar as exigências impostas pela
Society for Psychical Research; todavia, o fato que vou expor é
escrupulosamente autêntico e merece confiança, qualquer que seja a
explicação.
Minha infância se passou na parte ocidental da Irlanda, e desde os
quatro até os seis anos, vivi numa velha e grande casa, às margens do
rio Shannon. Minha família era inglesa e por isso não dava importância
aos relatos das pessoas do lugar, as quais afirmavam que nossa
habitação era assombrada.
Ora, foi ali que tive a primeira experiência daquilo que podemos chamar
de “o fantasma de um animal”. Durante a noite, no verão, em plena luz do
dia, às vezes ao longo de vários dias consecutivos, outras vezes com um
intervalo
de vários meses, era aterrorizada pela aparição bastante nítida e natural
de um cãozinho branco da raça pomerânia que se manifestava para mim
na cabeceira de minha cama. Ele me olhava, com a boca aberta e com a
língua para foram, como se estivesse ofegante, e se comportava como
se me visse e como se a atitude adotada por ele fosse a de pular em
minha cama. Então eu me assustava terrivelmente, certa de que não se
5. prazer, pois sempre gostei muito de animais). Às vezes, no momento em
que o animal se mostrava ao lado da janela, eu percebia os móveis do
quarto através de seu corpo branco e me punha a gritar, chamando minha
mãe e dizendo: “Leve-o daqui! Faça-o ir embora!”. Assim que mamãe
entrava no quarto, ele a seguia: quando ela saía, ele saía com ela. Então
me pegavam, levavam-me para baixo e, após vários afagos, faziam- me
esquecer o medo que tinha sentido.
O mais curioso é que, enquanto eu era a única a perceber o fantasma
canino, quatro pessoas o pressentiam. Em plena luz das manhãs de
verão, dois membros de minha família – mulheres – e uma dama e um
senhor que tinham morado na casa antes de nós percebiam
frequentemente algo constituído por um corpo sólido com as dimensões e
com o peso de um cão pequeno e que parecia saltar na cama deles, ao
lado dos pés, para em seguida passar lentamente sobre seus corpos,
chegar aos ombros e descer no chão pelo outro lado. Naquelas ocasiões,
os percipientes se sentiam como que paralisados e não eram capazes de
se mover; mas, logo em seguida, pulavam da cama e examinavam
minuciosamente o quarto, sem nada descobrir...
6. Por razões fáceis de compreender, abstenho-me de publicar o endereço
da casa; mas eu o confiarei ao professor Horace Leaf, caso este relato
seja suscetível de lhe interessar.”
É por demais complicado formular uma teoria capaz de explicar de forma
satisfatória fatos como este que acabamos de relatar; aliás, talvez melhor
seria evitar discuti-los. Se tentássemos nos orientar procedendo por
eliminação, deveríamos dizer que, no caso em questão, não poderia se
tratar de percepção psicométrica de acontecimentos passados, pois a
circunstância do pequeno cão que olhava de frente a percipiente,
dispondo-se a pular na
cama, a seguir os passos das pessoas presentes e a sair com elas, assim
como a outra circunstância das impressões táteis sentidas por quatro
pessoas, evocando um animal que passaria sobre seus corpos, indicam
uma ação no presente e não uma reprodução automática de ações que
aconteceram no passado, como acontece no caso das percepções
psicométricas.
7. Pelo mesmo motivo, deveríamos excluir a hipótese de uma projeção
telepática de um defunto, uma vez que uma projeção dessa natureza
provocaria a percepção alucinatória de um fantasma animal plasticamente
inerte ou que se deslocaria automaticamente, mas nunca de um fantasma
animal consciente do meio em que ele se encontra.
Finalmente, inclusive a hipótese alucinatória, considerada segundo a
significação psicológica desse termo, não poderia ser sustentada, já que
quatro pessoas tinham, inúmeras vezes, experimentado impressões
táteis, correspondentes às percepções visuais da pessoa, o que
demonstra certamente que na origem dos fatos deve existir um agente
único que devia ser obrigatoriamente inteligente e estranho aos
percipientes.
8. Restaria então, para o pesquisador, duas hipóteses: primeiramente a
tradicional e popular, segundo a qual os fantasmas de animais que
aparecem nos locais assombrados representam o simulacro simbólico de
um espírito humano de ordem baixa e corrupta; em seguida, aquela que
supõe que a psique animal sobrevive à morte do corpo, chegando, às
vezes, a se manifestar aos vivos.
Depois de expor estas observações a fim de cumprir meu dever de
relator, abstenho-me de toda e qualquer conclusão, uma vez que a
ausência de dados necessários não permite de forma alguma chegar a
um consenso. Limito-me a lembrar que as duas hipóteses que acabo de
citar podem explicar os fatos através da intervenção de Entidades
espirituais desencarnadas: para a primeira tratar-se-ia de entidades
humanas, enquanto que, para as segundas, tratar-se-ia de entidades
animais.