2. O que é um agênere? Kardec explica que é uma aparição de um espírito, em
que o desencarnado se reveste de forma mais precisa das aparências de um
corpo sólido, a ponto de causar completa ilusão ao observador, que supõe ter
diante de si um ser corpóreo. Kardec informa ainda que o fenômeno, por mais
extraordinário que possa parecer, não seria mais sobrenatural que outros
estudados em “O Livro dos Médiuns”. Seria uma espécie de aparição
tangível, em que o Espírito se reveste de forma física, aparentando uma
pessoa encarnada, como já foi dito, sendo diferente dessa apenas pelo fato de
não ter sido formada segundo as leis da Biologia convencional. Na verdade,
após o advento das materializações e seu estudo minucioso por parte de
diversos investigadores, não há dificuldade em se entender o que seria um
agênere e mesmo os mecanismos que norteiam a sua aparição.
3. Esse fato ocorre devido à natureza e propriedades do perispírito que
possibilitam ao Espírito, por intermédio de seu pensamento e vontade,
provocar modificações nesse corpo espiritual a ponto de torná-lo visível. Há
uma condensação (os Espíritos usam essa palavra a título de comparação
apenas) tal, que o perispírito, por meio das moléculas que o constituem,
adquire as características de um corpo sólido, capaz de produzir impressão ao
tato, deixar vestígios de sua presença, tornar-se tangível, conservando a
possibilidades de retomar instantaneamente seu estado etéreo e invisível. Para
que um Espírito condense seu perispírito, tornando-se um agênere, são
necessárias, além da sua vontade, uma combinação de fluidos afins peculiares
aos encarnados, permissão, além de outras condições cuja mecânica se
desconhece.
4. Nesses casos a tangibilidade pode chegar a tal ponto que é possível ao
observador tocar, apalpar, sentir a resistência da matéria, o que não impede
que o agênere desapareça com a rapidez de um relâmpago, através da
desagregação das moléculas fluídicas. Os seres que se apresentam nessas
condições não nascem e nem morrem como os homens; daí o nome: agênere -
do grego: a privativo, e géine, géinomai, gerado: não gerado, ou seja, que não
foi gerado. Podendo ser vistos, não se sabe de onde vieram, nem para onde
vão. Não podem ser presos, agredidos, visto que não possuem um corpo
carnal. Desapareceriam, tão logo percebessem a intenção diferente ou que os
quisessem tocar, caso não o queiram permitir. Se tomam um corpo aparente,
algumas vezes, é para gozarem as paixões humanas.
5. Os agêneres, embora possam ser confundidos com os encarnados, possuem
algo de insólito, diferente. O olhar não possui a nitidez do olhar humano e,
mesmo que possam conversar, a linguagem é breve, sentenciosa, sem a
flexibilidade da linguagem humana. Não permanecem por muito tempo entre
os encarnados, não podendo se tornar comensais de uma casa, nem figurar
como membros de uma família. A questão dos agêneres é muito curiosa para
estudos, não só do ponto de vista científico, envolvendo todas as complexas
situações que determinam a aglutinação dos fluidos necessários á formação,
em pouco tempo, de uma estrutura praticamente idêntica ao corpo físico de
um encarnado, como também do ponto de vista histórico, uma vez que
aparições de agêneres são descritas pelas escrituras e são objeto de relatos
muito interessantes, inseridos na literatura espírita.
6. Os Espíritos que se manifestam como agêneres podem pertencer às classes
inferiores ou superiores. Se ocorresse tomarem um agênere por um homem
comum, e lhe desejassem fazer um ferimento mortal este desapareceria
subitamente. Os agêneres, como Espíritos, têm as paixões de Espíritos
segundo a sua inferioridade. Se tomam um corpo aparente, algumas vezes, é
para gozarem as paixões humanas; se são elevados, tomam essa forma para
um fim útil. As leis naturais ou de Deus não lhes permitem procriar, esse
recurso é permitido somente aos seres encarnados. Se um agênere nos fosse
apresentado dificilmente haveria um meio para reconhecê-lo, a não ser pela
sua desaparição, que se faz de modo inesperado. A finalidade que pode levar
certos Espíritos a tomarem esse estado corporal, de modo geral é para
praticarem o mal, pois os bons Espíritos preferem agir pelo coração.
7. Comumente, as manifestações físicas são produzidas por Espíritos inferiores,
e estas são dessa categoria. Entretanto, os bons Espíritos também podem
tomar essa aparência corpórea quando têm eles um objetivo útil. Os Espíritos
no estado de agêneres podem tomar-se visíveis ou invisíveis à vontade, uma
vez que poderão desaparecer quando o quiserem. Os agêneres não têm um
poder oculto, superior ao dos homens senão o poder que lhes dá sua posição
como Espíritos. Eles, também, não têm uma necessidade real de se
alimentarem, pois o corpo que usam não é um corpo semelhante ao do
homem, a não ser na aparência. As vezes, podem aparecer se alimentando
(por exemplo: almoçando ou jantando) com os amigos, e lhes apertam a mão ,
mas vale repetir, isso é unicamente para dar uma aparência, pois esses seres
não necessitam de alimentos.
8. Tendo-se um agênere em casa, isso, seria antes um mal do que bem, pois de
resto, não se podem adquirir muitos conhecimentos com esses seres, por isso,
a aparição desses seres, designados sob o nome de agêneres, é muito rara, a
duração dessa aparência está submetida a condições para nós desconhecidas.
Alguns relatos sobre os agêneres: episódio envolvendo Jan Huss, o líder
religioso tcheco, considerado precursor da Reforma, movimento que
pretendeu revigorar o cristianismo em seus princípios originais. Quando Huss
se achava preso e já próximo de perecer numa fogueira, na cidade de
Constança, em 1415, aconteceu o interessante episódio com um agênere.
Quem nos narra esse comovente encontro é J.W. Rochester, na obra “Os
Luminares Tchecos”, romance histórico em torno das figuras de Jan Huss e
Jerônimo de Praga.
9. Huss, para nós, espíritas, tem grande significado, pois presume-se que tenha
reencarnado, mais adiante, como, nem mais, nem menos, Allan Kardec. Aliás,
vai além, quando revela uma outra personalidade que teria sido animada pelo
Espírito que viria a ser Kardec, o do centurião romano Quirílius, que chegou a
oferecer fuga a Jesus, quando este se encontrava preso, proposta gentilmente
recusada pelo Mestre, ao revelar-lhe que “iria ainda ter a oportunidade de
morrer por Ele, porém no futuro. O centurião mais tarde converteu-se ao
cristianismo e passou a ser o “pai João”, retratado por Rochester na obra
“Herculanum”. Huss, em sua cela, próximo da execução, ora fervorosamente
e recebe uma graça do Alto.
10. Conforme descreve magistralmente Rochester, surge à sua frente uma nuvem
esbranquiçada, crepitando em faíscas, iluminando a cela em tons levemente
azulados, dando forma, materializada, à figura alta de um homem em trajes
clericais bizantinos, trazendo nas mãos uma cruz e um evangelho. Huss
indaga de quem se trata e o agênere informa ser “aquele que primeiro trouxe a
luz divina do Evangelho à sua pátria ( República Tcheca) e cujos restos
descansam em Velegrad.” Em seguida, o agênere recomenda a Huss muita
firmeza perante a morte próxima, prometendo ajuda permanente e as
recompensas da vida espiritual. Um caso de agênere na Bíblia que merece
nossa atenção é o citado por Kardec no capítulo XXVII, parágrafo 8 de “O
Evangelho Segundo o Espiritismo”, e também no capítulo XXV da mesma
obra, no parágrafo 5, ao mencionar o agênere (“anjo”) que esteve com Tobias.
11. É importante alertar que nas edições mais populares da Bíblia nada será
encontrado sobre Tobias e o anjo, pois nestas não há o “Livro de Tobias”.
Porém, a “Bíblia de Jerusalém”, uma das mais completas e que é utilizada
comumente como fonte de pesquisa, insere no Velho Testamento “O Livro de
Tobias”, narrando em detalhes o interessante episódio envolvendo o agênere.
Na Revista Espírita , em diversas ocasiões, Kardec discorre sobre eles.
"Uma pobre mulher estava na igreja de Saint-Roque em Paris, e pedia a Deus
vir em ajuda de sua aflição. Em sua saída da igreja, na rua Saint-Honoré, ela
encontrou um senhor que a abordou dizendo-lhe: "Minha brava mulher,
estaríeis contente por encontrar trabalho?
12. - Ah! Meu bom senhor, disse ela, pedia a Deus que me fosse achá-lo, porque
sou bem infeliz. - Pois bem! Ide em tal rua, em tal número; chamareis a
senhora T...; ela vo-lo dará." Ali continuou seu caminho. A pobre mulher se
encontrou, sem tardar, no endereço indicado - Tenho, com efeito, trabalho a
fazer, disse a dama em questão, mas como ainda não chamei ninguém, como
ocorre que vindes me procurar? A pobre mulher, percebendo um retrato
pendurado na parede, disse: - Senhora, foi esse senhor ali, que me enviou. -
Esse senhor! Repetiu a dama espantada, mas isso não é possível; é o retrato
de meu filho, que morreu há três anos. - Não sei como isso ocorre, mas vos
asseguro que foi esse senhor, que acabo de encontrar saindo da igreja onde fui
pedir a Deus para me assistir; ele me abordou, e foi muito bem ele quem me
enviou aqui.
13. Na Revista Espírita, de fevereiro de 1859, encontramos:
Repetimos muitas vezes a teoria das aparições, e a lembramos em nosso
último número a propósito de fenômenos estranhos que relatamos. A eles
remetemos nossos leitores, para a inteligência do que se vai seguir. Todo
mundo sabe que, no número das manifestações extraordinárias produzidas
pelo senhor Home, estava a aparição de mãos, perfeitamente tangíveis, que
cada um podia ver e apalpar, que pressionava e estreitava, depois que, de
repente, não ofereciam senão o vazio quando as queriam agarrar de surpresa.
Aí está um fato positivo, que se produziu em muitas circunstâncias, e que
atestam numerosas testemunhas oculares.
14. Por estranho e anormal que pareça, o maravilhoso cessa desde o instante em
que se pode dele dar conta por uma explicação lógica; entra, então, na
categoria dos fenômenos naturais, embora de ordem bem diferente daqueles
que se produzem sob nossos olhos, e com os quais é preciso guardar-se para
não confundi-los. Podem-se encontrar, nos fenômenos usuais, pontos de
comparação, como aquele cego que se dava conta do clarão da luz e das cores
pelo toque da trombeta, mas não de similitudes; é precisamente a mania de
querer tudo assimilar àquilo que conhecemos, que causa decepções a certas
pessoas; pensam poder operar sobre esses elementos novos como sobre o
hidrogênio e o oxigênio. Ora, aí está o erro; esses fenômenos estão
submetidos a condições que saem do círculo habitual de nossas observações;
15. é preciso, antes de tudo, conhecê-las e com elas conformar-se, se se quiser
obter resultados. É preciso, sobretudo, não perder de vista esse princípio
essencial, verdadeira pedra principal da ciência espírita; é que o agente dos
fenômenos vulgares é uma força física, material, que pode ser submetida às
leis do cálculo, ao passo que nos fenômenos espíritas, esse agente é
constantemente uma inteligência que tem sua vontade própria, e que não
podemos submeter aos nossos caprichos. Suponhamos, pois, que um Espírito
estenda essa aparência a todas as partes do corpo, creríamos ver um ser
semelhante a nós, agindo como nós, ao passo que isso não seria senão um
vapor momentaneamente solidificado. Tal é o caso do fantasma de Bayonne.
Nessas mãos haviam a carne, pele, ossos, unhas reais? Evidentemente, não,
não eram senão uma aparência, mas tal que produzia o efeito de realidade.
16. Se um Espírito tem o poder de tornar uma parte qualquer de seu corpo etéreo
visível e palpável, não há razão que não possa ser do mesmo modo com os
outros órgãos. Convém destacar a diferença entre Materialização Completa e
um Agênere. O Agênere é uma variedade de aparição tangível. É o estado de
certos Espíritos que podem revestir momentaneamente as formas de uma
pessoa viva, ao ponto de causar completa ilusão. Um Espírito materializado
em plena luz, com toda a aparência de um homem normal. A materialização é
um fenômeno produzido a expensas do corpo do médium, que fornece os
elementos necessários, isto é, que um certo grau de desmaterialização do
médium corresponde ao começo inevitável do fenômeno de materialização do
Espírito. Chamamos de materialização ao fenômeno pelo qual um Espírito se
mostra com um corpo físico, tendo todas as aparências da vida normal.
17. Encerrando nosso trabalho sobre os agêneres, relembramos que, por mais
extraordinário que possam parecer, esses fatos se produzem dentro das leis da
Natureza, sendo apenas efeito e aplicação dessas mesmas leis.
Recomendamos que continuem a leitura sobre o tema nas Obras Básicas e na
Revista Espírita, Fevereiro de 1859, 1860 e 1863.
Muita Paz!
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A serviço da Doutrina Espírita; com estudos comentados.
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