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Filosofia
1
Immanuel Kant
A obra kantiana é orientada pela razão naquilo que
pode ser dado tal auxílio. Ao desenvolver as 04 questões fun-
damentais que orientam suas Críticas, Kant estabelece:
I. O que posso saber?
II. O que devo fazer?
III. O que posso esperar?
IV. O que é o homem?
Ao longo de toda a obra kantiana, o autor preten-
de tornar clara sua contribuição tendo em vista seu contexto
iluminista. Para tanto, a fim de responder às questões norte-
adoras de sua filosofia, escreve as 03 Críticas: Crítica da Razão
Pura a fim de estabelecer os limites do conhecimento legíti-
mo (Epistemologia); Crítica da Razão Prática a fim de estabe-
lecer como o sujeito deve agir (Ética); Crítica do Juízo ou Gos-
to a fim de discutir o gosto estético (Estética); por fim a última
questão que é antropológica e, naturalmente, perpassa toda
a obra iluminista.
O filósofo alemão, Immanuel Kant, preocupado com
o uso da razão, escreveu, em 1784, o texto Resposta à per-
gunta: o que é o Esclarecimento?, a partir do qual pensa e
problematiza seu próprio tempo e apresenta orientações
para o uso da razão a fim de emancipar os seres humanos
de uma condição de minoridade. O texto propõe o debate
acerca da autonomia que ecoa no século XVIII e nos alcança
no XXI.
Nós, indivíduos, estamos situados em um contexto
social mais amplo de transformações - religiosas, culturais,
científicas, tecnológicas, artísticas e literárias - especialmente
as desencadeadas a partir do século XVIII, que marcaram as
sociedades ocidentais e também a sociedade brasileira. No
campo da história das ideias, cabe indagar: como o texto de
Kant, Resposta à pergunta: o que é o esclarecimento?, ao tratar
do uso da razão, reflete-se na possibilidade de formar ideias
e valores a respeito de classes, grupos e categorias nas quais
estamos inseridos, bem como a possibilidade de pensar em
conceitos mais abrangentes como ser humano e humanidade.
Nesse sentido, do específico ao geral, todas as áreas de conhe-
cimento podem contribuir para a formação de uma autocons-
ciência do indivíduo sobre os processos que o determinam, e
suas possibilidades de autonomia pessoal e coletiva.
Esclarecimento é a saída do homem de sua me-
noridade, da qual ele próprio é culpado. A menoridade é
a incapacidade de fazer uso de seu entendimento sem a
direção de outro indivíduo. O homem é o próprio culpado
dessa menoridade se a causa dela não se encontra na
falta de entendimento, mas na falta de decisão e cora-
gem de servir-se de si mesmo sem a direção de outrem.
Sapere aude! Tem coragem de fazer uso de teu próprio
entendimento, tal é o lema do esclarecimento. KANT. Res-
posta à pergunta: o que é o Esclarecimento?
Para a compreensão do texto de Kant é necessário
trazer à tona alguns conceitos como menoridade, maiorida-
de, liberdade, uso público da razão, entre outros. Para o au-
tor, nascemos em condição de menoridade dada pela própria
natureza, porém, permanecemos em tal condição por“medo,
preguiça ou covardia”. Neste sentido, afirma que“a menorida-
de se torna uma espécie de segunda natureza”:
A preguiça e a covardia são as causas pelas
quais uma tão grande parte dos homens, depois que a
natureza de há muito os libertou de uma direção estra-
nha (naturaliter maiorennes), continuem, no entanto de
bom grado menores durante toda a vida. São também
as causas que explicam por que é tão fácil que os outros
se constituam em tutores deles. É tão cômodo ser me-
nor.[...] É difícil, portanto, para um homem em particular
desvencilhar-se da menoridade que para ele se tornou
quase uma natureza. Chegou mesmo a criar amor a ela,
sendo por ora realmente incapaz de utilizar seu próprio
entendimento, porque nunca o deixaram fazer a tentativa
de assim proceder. Preceitos e fórmulas, estes instru-
mentos mecânicos do uso racional, ou, antes, do abuso
de seus dons naturais, são os grilhões de uma perpétua
menoridade. Quem deles se livrasse só seria capaz de
dar um salto inseguro mesmo sobre o mais estreito fos-
so, porque não está habituado a este movimento livre.
Por isso são muito poucos aqueles que conseguiram,
pela transformação do próprio espírito, emergir da meno-
ridade e empreender então uma marcha segura.
Romper com tudo o que leva à menoridade intelec-
tual é o esforço cotidiano de tornar-se racional e fundar sua
própria percepção sob este prisma. Assim, é necessário o uso
da liberdade para tornar-se senhor de si e de suas ações:
Para este esclarecimento [<Aufklärung>], porém,
nada mais se exige senão LIBERDADE. E a mais inofen-
siva entre tudo aquilo que se possa chamar liberdade, a
saber: a de fazer um uso público de sua razão em todas
as questões. Ouço, agora, porém, exclamar de todos os
lados: não raciocineis! O oficial diz: não raciocineis, mas
exercitai-vos! O financista exclama: não raciocineis, mas
pagai! O sacerdote proclama: não raciocineis, mas crede!
(Um único senhor no mundo diz: raciocinai, tanto quanto
quiserdes, e sobre o que quiserdes, mas obedecei!). Eis
aqui por toda a parte a limitação da liberdade. Que limi-
tação, porém, impede o esclarecimento [<Aufklärung>]?
Qual não o impede, e até mesmo favorece? Respondo:
o uso público de sua razão deve ser sempre livre e só
ele pode realizar o esclarecimento [<Aufklärung>] entre
os homens. O uso privado da razão pode, porém, muitas
vezes, ser muito estreitamente limitado, sem contudo por
isso impedir notavelmente o progresso do esclarecimen-
to [<Aufklärung>].
Henry David Thoreau
Henry David Thoreau é um filósofo estadunidense
do século XIX. Traz para a sua filosofia uma leitura sobre o
mundo a partir de suas perspectivas e suas relações com a
sociedade em que vive, sobretudo no que se refere às leis de
então e à sua insatisfação com o mundo tal como é organiza-
do. É um autor que entende que o Estado é uma instituição
que conserva grande poder nas mãos de poucos indivíduos e
legisla sobre eles, porém, cabe ao cidadão comum legitimar
ou não tal modelo de Estado e de poder. Neste sentido, apro-
xima-se de um individualista solidário aos demais.
A obra de Thoreau incita à reflexão acerca da au-
tonomia e liberdade, tal como Kant. Segundo ele, o ato de
Obras de Referência PAS/UnB - Filosofia 2º série
2
desobedecer às leis que lhe parecem injustas e arcar com as
consequências destas, são a expressão e valorização da liber-
dade. Faz-se importante entender que o objetivo da desobe-
diência civil não é quebrar a lei e escapar das consequências,
mas submeter-se voluntariamente à prisão e até à morte.
Em“A Desobediência Civil”publicada em 1849, Tho-
reau questiona amplamente a relação entre Homem e Esta-
do, sobretudo no que toca às leis vigentes. Afirma que nem
toda lei, embora esteja prevista, é, de fato, justa. Assim, cabe
ao sujeito obedecer ou não à lei: nisto consiste a desobediên-
cia civil. Em poucas linhas, desobediência civil é não respeitar
uma lei por achar que ela não faz o menor sentido e por não
ser justa. Se uma lei, norma ou regra não é justa, ninguém de-
veria ser ou se sentir obrigado a cumpri-la, defende. Embora
questione amplamente a obediência a regras, compreende
que o “que o melhor governo é o que não governa. Quando
os homens estiverem devidamente preparados, terão esse
governo” assim, trata-se de um defensor da liberdade eco-
nômica. Questionava amplamente a existência de impostos
pagos ao governo, já que muitos destes impostos são dire-
cionados para ações que nem sempre são justas. Em 1849,
fez seu próprio ato de desobediência e se negou a pagar os
seus impostos por saber que seriam usados pelas autorida-
des para financiar guerra dos EUA contra o México.
Grupo I
Texto I
Esclarecimento é a saída do homem de sua
menoridade, pela qual ele é o responsável. A menoridade é a
incapacidade de fazer uso de entendimento sem a condução
deumoutro.Ohomeméopróprioculpadodessamenoridade
quando sua causa reside não na falta de entendimento, mas
na falta de resolução e coragem para usá-lo sem a condução
de um outro. Sapere aude! Tem coragem de fazer uso de teu
próprio entendimento. Esse é o lema do esclarecimento.
I. Kant. O que é a ilustração? In: M. L. R. Aranha e M. H. P. Martins.
Filosofando – introdução à filosofia. São Paulo: Moderna, 1993, p. 114 (com
adaptações).
1) (PAS/UnB) Considere que uma mulher, Maria, chegou aos
quarenta anos de idade ocupando-se dos filhos e do marido
e seguindo sempre a orientação do marido. No momento da
vida em que se encontrava, iniciou seu processo de mudança,
com fundamento na noção de esclarecimento postulada por
Kant. Com base no fragmento de texto, de Kant, e na situação
hipotética acima, faça o se pede no item a seguir:
Assinale a opção que apresenta um fato hipotético que,
relacionado ao processo de mudança de Maria, esteja de
acordo com a noção kantiana de esclarecimento.
a) A decisão de Maria de mudar foi impulsionada pelo filho,
que, tendo concluído um curso universitário, estava
buscando um novo rumo para sua vida. Maria, então,
percebeu que aquele era o momento de ela crescer e
deixar de se acovardar diante da vida.
b) Maria avaliou que só poderia deixar a menoridade com
ajuda especializada e procurou um terapeuta, esperando
que ele tomasse as decisões mais difíceis por ela.
c) Maria, ao sentir vontade de ousar e tornar-se esclarecida,
considerou que, naquele momento de vida, deveria fazer
um curso superior, principalmente porque contava com
o estímulo do marido.
d) Maria percebeu que havia sido cômodo permanecer
na menoridade e encorajou-se a usar seu próprio
entendimento, mudança difícil, principalmente porque a
menoridade quase se tornara sua natureza.
2) (PAS/UnB) Julgue os itens.
(1) Ao fazer referência à "época de esclarecimento", Kant
alude a um movimento histórico e social específico , que
exerceu influências em diferentes espaços e contextos.
(2) Conclui-se do texto que qualquer pessoa em situação
de menoridade pode sair dessa situação e atingir o
esclarecimento, bastando, para isso, resolução e coragem
de fazer uso de seu entendimento sem a tutela de outra
pessoa.
(3) Conforme Kant, o homem é o responsável por
permanecer no estado de menoridade quando o que o
impede de superá-lo são a preguiça e a covardia.
(4) Para Kant, a autonomia só é possível mediante o uso
público da razão e o exercício da liberdade.
Texto II
Esclarecimento (Aufklärung) significa a saída
do homem de sua minoridade, pela qual ele próprio é
responsável. A minoridade é a incapacidade de se servir de
seu próprio entendimento sem a tutela de outro. É a si próprio
que se deve atribuir essa minoridade, uma vez que ela não
resulta da falta de entendimento, mas da falta de resolução e
de coragem necessárias para utilizar seu entendimento sem
a tutela de outro. Sapere aude! Tem a coragem de te servir
de teu próprio entendimento; tal é, portanto, a divisa do
Esclarecimento.
Immanuel Kant. Resposta à pergunta: que é o Esclarecimento? Luiz Paulo
Rouanet e Luiz Martins da Silva (Trad.). Brasília: Casa das Musas, 2008 (com
adaptações).
Texto III
A equação razão = virtude = felicidade diz
meramente o seguinte: é preciso imitar Sócrates e estabelecer
permanentemente uma luz diurna contra os apetites obscuros
— a luz diurna da razão. É preciso ser prudente, claro, luminoso
a qualquer preço: toda e qualquer concessão aos instintos, ao
inconsciente conduz para baixo. (...). Faz-se ainda necessário
indicar o erro que repousava na crença na “racionalidade a
qualquer preço”? — Imaginar a possibilidade de escapar da
décadence através do estabelecimento de uma guerra contra
ela é já um modo de iludir a si mesmo criado pelos filósofos
e moralistas. O escape está além de suas forças: o que eles
escolhem como meio, como salvação, não é senão uma nova
expressão da décadence. (...) A luz diurna mais cintilante, a
racionalidadeaqualquerpreço,avidaluminosa,fria,precavida,
consciente, sem instinto, em contraposição aos instintos não
se mostrou efetivamente senão como uma doença, outra
doença. — Ela não concretizou de forma alguma um retorno
à “virtude”, à “saúde”, à “felicidade”. Os instintos precisam ser
combatidos, esta é a fórmula da décadence. Enquanto a vida
está em ascensão, a felicidade é igual aos instintos.
F. Nietzsche. Crepúsculo dos ídolos, São Paulo: Hemus, 1976, p. 22-3 (com
Filosofia
3
adaptações).
3) (PAS/UnB) Tendo os textos II e III como referência inicial,
julgue os itens:
(1)	 O texto III aponta duas posições antagônicas disponíveis
ao indivíduo frente ao seu entendimento: não ter a
resolução e a coragem de servir-se dele sem a tutela de
outro (situação que define a minoridade), ou tê-las e, em
consequência disso, sair de sua minoridade.
(2)	 Kant não está preocupado com o elemento “felicidade”
da equação “razão = virtude = felicidade” mencionada
por Nietzsche no início do texto IV, mas importa-se com
o uso da razão como virtude, que é um princípio do
esclarecimento, sem relação necessária com a felicidade.
(3)	 A “minoridade” referida por Kant no texto III equivale ao
que Nietzsche caracteriza, no texto IV, como “uma nova
expressão da décadence”.
(4)	 Depreende-se dos textos III e IV que, na forma como Kant
o compreende, o esclarecimento é, para Nietzsche, uma
doença.
(5)	 Depreende-se do texto III que Kant considera que a
minoridade é uma forma de ceder aos instintos.
(6)	 Sabendo-se que Kant, em Fundamentação da metafísica
dos costumes, expressa o comando moral que faz
nossas ações serem moralmente boas no imperativo
categórico: “age só segundo máxima tal que possas ao
mesmo tempo querer que ela se torne lei universal”, é
correto afirmar que, para ele, o abandono da minoridade
é, necessariamente, um dever moral imposto por esse
imperativo, uma vez que a escolha pela minoridade não
pode ser universalizada.
4) (Uel, com adaptações) Leia o texto a seguir:
	 As leis morais juntamente com seus princípios não
só se distinguem essencialmente, em todo o conhecimento
prático, de tudo o mais onde haja um elemento empírico
qualquer, mas toda a Filosofia moral repousa inteiramente
sobre a sua parte pura e, aplicada ao homem, não toma
emprestado o mínimo que seja ao conhecimento do mesmo
(Antropologia).
KANT, I. Fundamentação da Metafísica dos Costumes. Trad. de Guido A. de
Almeida. São Paulo: Discurso Editorial, 2009. p.73.
Com base no texto e na questão da ética, autonomia,
conhecimento e maioridade intelectual em Immanuel Kant,
julgue os itens a seguir.
(1)	 A fonte das ações morais pode ser encontrada através
da análise da consciência moral que determina o caráter
deontológico a ação, segundo Kant.
(2)	 O elemento determinante do caráter moral de uma ação
está na inclinação da qual se origina, sendo as inclinações
serenas moralmente mais perfeitas do que as passionais.
(3)	 A razão somente pode dar uma direção à inclinação para
a ação na medida em que fornece o meio para alcançar
o que é desejado.
(4)	 Como o sujeito é livre e está encerrada no mundo natural,
suas ações são livres e autônomas.
(5)	 O ponto de partida dos juízos morais encontra-se nos
“propulsores” humanos naturais, os quais se direcionam
ao bem próprio de forma egoísta.
(6)	 O princípio supremo da moralidade deve assentar-se na
razão prática, e as leis morais devem ser independentes
de qualquer condição subjetiva da natureza humana.
(7)	 A filosofia de Kant, em sua fase pré-crítica, pressupõe o
racionalismo-dogmático.
(8)	 A leitura de Hume, segundo Kant, o mantém numa
perspectiva dogmática, visto que o ceticismo de Hume
em nada possibilita a descoberta de um modelo distinto
do que Kant estava convencido de admitir.
(9)	 Kant considera-se um filósofo crítico pelo simples fato
de submeter todos os conhecimentos obtidos pela
tradição a um exame minucioso, viabilizado pela dúvida
metódica cartesiana.
5) Proposta de redação em língua portuguesa - PAS 2018
Texto I
Propaganda é um modo específico sistemático de persuadir
visando influenciar as emoções, atitudes, opiniões ou ações
do público-alvo. Seu uso primário advém de contexto po-
lítico, referindo-se geralmente aos esforços de persuasão
de governos e partidos políticos. Ao contrário da busca de
imparcialidade na comunicação, a propaganda apresenta
informações com o objetivo principal de influenciar uma
audiência. Para tal, frequentemente apresenta os fatos seleti-
vamente (possibilitando a mentira por omissão) para encora-
jar determinadas conclusões, ou usa mensagens exageradas
para produzir uma resposta emocional e não racional à infor-
mação apresentada. O resultado desejado é uma mudança
de atitude em relação ao assunto no público-alvo para pro-
mover uma agenda política. A propaganda pode ser usada
como uma forma de luta política. Apesar de o termo propa-
ganda ter adquirido uma conotação negativa, por associação
com os exemplos da sua utilização manipuladora, em seu
sentido original ela é neutra, e pode se referir a usos conside-
rados benignos ou inócuos, como recomendações de saúde
pública e campanhas para encorajar os cidadãos a participar
de um censo ou eleição.
Internet: (com adaptações).
Texto II
Apublicidadeéumaatividadeprofissionaldedicadaàdifusão
pública de empresas, produtos ou serviços. É a divulgação de
produtos, serviços e ideias junto ao público, a fim de induzi-lo
a uma atitude dinâmica favorável. Tem caráter comercial e é
parte de um todo que se chama mercadologia, que abarca o
conjunto de meios adotados para levar o produto ou serviço
ao consumidor. É qualquer forma paga de apresentação não
pessoal e promoção de ideias, bens e serviços por um patro-
cinador identificado a uma audiência alvo através dos meios
de comunicação de massa. A publicidade ajuda a identificar
o significado e o papel dos produtos, fornecendo informação
sobre marcas, companhias e organizações.
Internet: (com adaptações).
Texto III
A publicidade é feita com a intenção de provocar em nós um
grande interesse pelo produto ou serviço que ela anuncia e
depois nos induzir a comprá-lo, mesmo que até então tal pro-
4
duto não significasse nada para nós. A linguagem da publici-
dade é persuasiva e sabe como nos influenciar até de forma
inconsciente. Ela associa o produto que quer nos vender a
imagens prazerosas, fazendo-nos acreditar que, ao comprá
-lo, alcançaremos alegria e felicidade.
Internet: (com adaptações).
Proposta: considerando o contexto suscitado pelos textos e
pelas imagens precedentes, redija um texto dissertativo dis-
cutindo a noção de autonomia apresentada a seguir, que é
uma das acepções do verbete autonomia no Dicionário ele-
trônico Houaiss da língua portuguesa.
autonomia: s.f. 2. Segundo Kant (1724-1804), capacidade da
vontade humana de se autodeterminar segundo uma legis-
lação moral por ela mesma estabelecida, livre de qualquer
fator estranho ou exógeno com uma influência subjugante,
tal como uma paixão ou uma inclinação afetiva incoercível.
Grupo II
1) Diferencie, a partir da obra de Kant, a Razão Pura e a Razão
Prática.
2) Aponte o princípio da ação moral kantiana e descreva
como é possível realizá-la.
3) A partir da sua leitura da obra“Resposta à pergunta: o que
é o Esclarecimento?” relacione os conceitos apresentados
por Kant: menoridade intelectual, maioridade intelectual,
liberdade e autonomia.
4) Segundo Thoreau, explicite o que é a desobediência civil.
5) Argumente em um parágrafo sua compreensão crítica
sobre a desobediência civil relacionando ao conceito de
justiça.
6) Por que, para Thoreau, “o melhor governo é o que não
governa”? Justifique a posição do autor em relação ao Estado.
5 Literatura
Obras de referência PAS/UnB - Literatura 2º série
A escravidão levou consigo ofícios e aparelhos,
como terá sucedido a outras instituições sociais. Não cito al-
guns aparelhos senão por se ligarem a certo ofício. Um deles
era o ferro ao pescoço, outro o ferro ao pé; havia também a
máscara de folha de flandres. A máscara fazia perder o vício
da embriaguez aos escravos, por lhes tapar a boca. Tinha só
três buracos, dois para ver, um para respirar, e era fechada
atrás da cabeça por um cadeado. Com o vício de beber, per-
diam a tentação de furtar, porque geralmente era dos vin-
téns do senhor que eles tiravam com que matar a sede, e aí
ficavam dois pecados extintos, e a sobriedade e a honesti-
dade certas. Era grotesca tal máscara, mas a ordem social e
humana nem sempre se alcança sem o grotesco, e alguma
vez o cruel. Os funileiros as tinham penduradas, à venda, na
porta das lojas. Mas não cuidemos de máscaras.
O ferro ao pescoço era aplicado aos escravos fujões.
Imaginai uma coleira grossa, com a haste grossa também, à
direita ou à esquerda, até ao alto da cabeça e fechada atrás
com chave. Pesava, naturalmente, mas era menos castigo
que sinal. Escravo que fugia assim, onde quer que andasse,
mostrava um reincidente, e com pouco era pegado.
Há meio século, os escravos fugiam com frequ-
ência. Eram muitos, e nem todos gostavam da escravidão.
Sucedia ocasionalmente apanharem pancada, e nem todos
gostavam de apanhar pancada. Grande parte era apenas re-
preendida; havia alguém de casa que servia de padrinho, e o
mesmo dono não era mau; além disso, o sentimento da pro-
priedade moderava a ação, porque dinheiro também dói. A
fuga repetia-se, entretanto. Casos houve, ainda que raros,
em que o escravo de contrabando, apenas comprado no Va-
longo, deitava a correr, sem conhecer as ruas da cidade. Dos
que seguiam para casa, não raro, apenas ladinos, pediam ao
senhor que lhes marcasse aluguel, e iam ganhá-lo fora, qui-
tandando.
Quem perdia um escravo por fuga dava algum di-
nheiro a quem lho levasse. Punha anúncios nas folhas pú-
blicas, com os sinais do fugido, o nome, a roupa, o defeito
físico, se o tinha, o bairro por onde andava e a quantia de
gratificação. Quando não vinha a quantia, vinha promessa:
“gratificar-se-á generosamente” – ou “receberá uma a grati-
ficação”. Muita vez o anúncio trazia em cima ou ao lado uma
vinheta, figura de preto, descalço, correndo, vara ao ombro,
e na ponta uma trouxa. Protestava-se com todo o rigor da lei
contra quem o acoitasse.
Ora, pegar escravos fugidios era um ofício do tem-
po. Não seria nobre, mas por ser instrumento da força com
que se mantêm a lei e a propriedade, trazia esta outra no-
breza implícita das ações reivindicadoras. Ninguém se metia
em tal ofício por desfastio ou estudo; a pobreza, a necessi-
dade de uma achega, a inaptidão para outros trabalhos, o
acaso, e alguma vez o gosto de servir também, ainda que
por outra via, davam o impulso ao homem que se sentia
bastante rijo para pôr ordem à desordem.
(ASSIS, Machado de. Pai contra mãe. Contos: uma antologia, 1998.)
1) A perspectiva do narrador diante das situações e dos fatos
relacionados à escravidão é marcada, sobretudo,
a) pelo saudosismo.
b) pela indiferença
c) pela indignação.
d) pela ironia.
2) O leitor é figura recorrente e fundamental na prosa
machadiana. Verifica-se a inclusão do leitor na narrativa no
seguinte trecho:
a) “A fuga repetia-se, entretanto. Casos houve, ainda
que raros, em que o escravo de contrabando, apenas
comprado no Valongo, deitava a correr, sem conhecer
as ruas da cidade.”(3º parágrafo)
b) “Quando não vinha a quantia, vinha promessa:
‘gratificar- se-á generosamente’– ou‘receberá uma boa
gratificação’. Muita vez o anúncio trazia em cima ou ao
lado uma vinheta, figura de preto, descalço, correndo,
vara ao ombro, e na ponta uma trouxa.”(4º parágrafo)
c) “Não cito alguns aparelhos senão por se ligarem a certo
ofício. Um deles era o ferro ao pescoço, outro o ferro ao
pé; havia também a máscara de folha de flandres.” (1º
parágrafo)
d) “O ferro ao pescoço era aplicado aos escravos fujões.
Imaginai uma coleira grossa, com a haste grossa
também, à direita ou à esquerda, até ao alto da cabeça
e fechada atrás com chave.”(2º parágrafo)
3) Em “o sentimento da propriedade moderava a ação,
porque dinheiro também dói.” (3º parágrafo), a “ação” a que
se refere o narrador diz respeito
a) à fuga dos escravos.
b) ao contrabando de escravos
c) aos castigos físicos aplicados aos escravos
d) às repreensões verbais feitas aos escravos.
Uma vez na terra, o Diabo não perdeu um minuto.
Deu-se pressa em enfiar a cogula beneditina, como hábito
de boa fama, e entrou a espalhar uma doutrina nova e
extraordinária, com uma voz que reboava nas entranhas do
século. Ele prometia aos seus discípulos e fiéis as delícias da
terra, todas as glórias, os deleites mais íntimos. Confessava
que era o Diabo; mas confessava-o para retificar a noção que
os homens tinham dele e desmentir as histórias que a seu
respeito contavam as velhas beatas.
– Sim, sou o Diabo, repetia ele; não o Diabo das
noites sulfúreas, dos contos soníferos, terror das crianças,
masoDiaboverdadeiroeúnico,oprópriogêniodanatureza,
a que se deu aquele nome para arredá-lo do coração dos
homens. Vede-me gentil e airoso. Sou o vosso verdadeiro
pai. Vamos lá: tomai daquele nome, inventado para meu
desdouro, fazei dele um troféu e um lábaro, e eu vos darei
tudo, tudo, tudo, tudo, tudo, tudo…
Era assim que falava, a princípio, para excitar o
entusiasmo, espertar os indiferentes, congregar, em suma,
as multidões ao pé de si. E elas vieram; e logo que vieram,
o Diabo passou a definir a doutrina. A doutrina era a que
podia ser na boca de um espírito de negação. Isso quanto
à substância, porque, acerca da forma, era umas vezes sutil,
outras cínica e deslavada.
Clamava ele que as virtudes aceitas deviam ser
substituídas por outras, que eram as naturais e legítimas.
A soberba, a luxúria, a preguiça foram reabilitadas, e assim
6
também a avareza, que declarou não ser mais do que a mãe
daeconomia,comadiferençaqueamãeerarobusta,eafilha
uma esgalgada. A ira tinha a melhor defesa na existência de
Homero; sem o furor de Aquiles, não haveria a Ilíada:“Musa,
canta a cólera de Aquiles, filho de Peleu”... [...] Pela sua parte
o Diabo prometia substituir a vinha do Senhor, expressão
metafórica, pela vinha do Diabo, locução direta e verdadeira,
pois não faltaria nunca aos seus com o fruto das mais belas
cepas do mundo. Quanto à inveja, pregou friamente que
era a virtude principal, origem de prosperidades infinitas;
virtude preciosa, que chegava a suprir todas as outras, e ao
próprio talento.
As turbas corriam atrás dele entusiasmadas. O
Diabo incutia-lhes, a grandes golpes de eloquência, toda
a nova ordem de coisas, trocando a noção delas, fazendo
amar as perversas e detestar as sãs.
Nada mais curioso, por exemplo, do que a definição
que ele dava da fraude. Chamava-lhe o braço esquerdo
do homem; o braço direito era a força; e concluía: Muitos
homens são canhotos, eis tudo. Ora, ele não exigia que
todos fossem canhotos; não era exclusivista. Que uns fossem
canhotos, outros destros; aceitava a todos, menos os que
não fossem nada. A demonstração, porém, mais rigorosa e
profunda, foi a da venalidade. Um casuísta do tempo chegou
a confessar que era um monumento de lógica. A venalidade,
disse o Diabo, era o exercício de um direito superior a todos
os direitos.
Se tu podes vender a tua casa, o teu boi, o teu
sapato, o teu chapéu, coisas que são tuas por uma razão
jurídica e legal, mas que, em todo caso, estão fora de ti,
como é que não podes vender a tua opinião, o teu voto, a
tua palavra, a tua fé, coisas que são mais do que tuas, porque
são a tua própria consciência, isto é, tu mesmo? Negá-lo é
cair no absurdo e no contraditório. Pois não há mulheres
que vendem os cabelos? não pode um homem vender uma
parte do seu sangue para transfundi-lo a outro homem
anêmico? e o sangue e os cabelos, partes físicas, terão um
privilégioquesenegaaocaráter,àporçãomoraldohomem?
Demonstrando assim o princípio, o Diabo não se demorou
em expor as vantagens de ordem temporal ou pecuniária;
depois, mostrou ainda que, à vista do preconceito social,
conviria dissimular o exercício de um direito tão legítimo, o
que era exercer ao mesmo tempo a venalidade e a hipocrisia,
isto é, merecer duplicadamente.
(ASSIS, Machado de. A igreja do diabo. Contos: uma antologia, 1998.)
4)“Ele prometia aos seus discípulos e fiéis as delícias da terra,
todas as glórias, os deleites mais íntimos.” (1º parágrafo) Tal
promessa do Diabo constitui, sobretudo, uma inversão da
seguinte máxima cristã:
a) “Amai-vos uns aos outros.”
b) “Aquele que não tiver pecado, atire a primeira pedra.”
c) “Não façais da casa do meu Pai casa de comércio.”
d) “Meu reino não é deste mundo.”
5) No último parágrafo, o principal recurso retórico
mobilizado pelo Diabo em sua argumentação a respeito da
venalidade é
a) a repetição.
b) a interrogação.
c) a citação.
d) a hesitação.
6) Fui até a cama; vi o cadáver, com os olhos arregalados e
a boca aberta, como deixando passar a eterna palavra dos
séculos:“Caim, que fizeste de teu irmão?”
(Machado de Assis,“Várias Histórias”, em“Obra Completa”,v. II, Rio de
Janeiro: Nova Aguilar, 1979, p. 532).
a) A qual episódio do conto essa citação bíblica remete?
b) O que leva o narrador a relacionar o episódio narrado
com a citação bíblica?
c) De que modo o desfecho do conto revela uma outra
faceta do narrador-personagem?
Assim, por uma ironia da sorte, os bens do coronel
vinham parar às minhas mãos. Cogitei em recusar a herança.
Parecia-me odioso receber um vintém do tal espólio (…).
Pensei nisso três dias, e esbarrava sempre na consideração
de que a recusa podia fazer desconfiar alguma cousa. No fim
dos três dias, assentei num meio-termo; receberia a herança
e dá-la-ia toda, aos bocados e às escondidas. (…) era
também o modo de resgatar o crime por um ato de virtude;
pareceu-me que ficava assim de contas saldas. (…) Entrando
na posse da herança, converti-a em títulos e dinheiro. Eram
então passados muitos meses, e a ideia de distribuí-la toda
em esmolas e donativos pios não me dominou como da
primeira vez; achei mesmo que era afetação.
(Machado de Assis)
7) Julgue os itens a seguir segundo o fragmento citado, do
conto“O enfermeiro”.
(1) A modéstia do narrador justifica que ele atribua o
recebimento da herança à obra do acaso.
(2) O ódio que o narrador nutrira pelo coronel, em vida,
irradiava, por isso o narrador também achava “odioso”
receber qualquer vintém do tal espólio.
(3) O receio de revelar sua ambição fazia com que o
narrador adiasse a aceitação dos bens do coronel.
(4) Sob o impacto da notícia da herança, o narrador
planeja agir considerando a opinião alheia e a sua
consciência moral.
7 Literatura
8) No fragmento transcrito, nota-se que o tempo e as
circunstâncias agiram sobre as intenções iniciais do
enfermeiro. Um dos temas prediletos do autor é justamente
o processo de transformação vivenciado pela personagem
sob a ação dessas forças, o que é ilustrado, metaforicamente,
em passagem de outra narrativa de Machado. Assinale essa
passagem.
a)	 “…nem que venham agora contra mim o sol e a lua,
não recuarei de minhas ideias”.
b)	 “Mas há ideias que são da família das moscas teimosas:
por mais que a gente as sacuda, elas tornam e pousam.”
c)	 “Que é a saudade senão uma ironia do tempo e da
fortuna?”
d)	 “Adeus, escrúpulos! Não tardou que o sapato se
acomodasse ao pé, e aí foi ele, estrada fora, pisando
folgadamente por cima de ervas e pedregulhos.”
	 “Já sabe que foi em 1860. No ano anterior, ali
pelo mês de agosto, tendo eu quarenta e dois anos, fiz-me
teólogo, — quero dizer, copiava os estudos de teologia de
um padre de Niterói, antigo companheiro de colégio, que
assim me dava, delicadamente, casa, cama e mesa. Naquele
mês de agosto de 1859, recebeu ele uma carta de um
vigário de certa vila do interior, perguntando se conhecia
pessoa entendida, discreta e paciente, que quisesse ir servir
de enfermeiro ao coronel Felisberto, mediante um bom
ordenado. O padre falou-me, aceitei com ambas as mãos,
estava já enfadado de copiar citações latinas e fórmulas
eclesiásticas. Vim à Corte despedir-me de um irmão, e segui
para a vila. Chegando à vila, tive más notícias do coronel.
Era homem insuportável, estúrdio, exigente, ninguém o
aturava, nem os próprios amigos. Gastava mais enfermeiros
que remédios.”
(ASSIS, Machado de. Obra Completa. Rio de Janeiro: Nova Aguilar 1994. v.
II. p. 32)
9) O texto, extraído do conto“O Enfermeiro”, de Machado de
Assis, permite observar o trabalho de composição estética
do autor. Com relação aos procedimentos de construção do
texto literário, julgue os itens a seguir:
(1)	 Utiliza do escapismo e da imaginação para compor um
texto lírico e emotivo, com a finalidade de comover e
persuadir o leitor.
(2)	 Faz uso da linguagem subjetiva e função emotiva
para compor um texto em verso, privilegiando a
dramaticidade do gênero teatral.
(3)	 Cria um narrador em terceira pessoa que assume
contornos épicos ao empregar como recurso estético
diversas hipérboles na caracterização do herói.
(4)	 Organiza a referência espaço-temporal, a qual é
utilizada pelo narrador personagem como estratégia
discursiva para apresentar ao leitor o universo
narrativo.
	 “Não queria arrancar-lhe as ilusões. Também ele,
em criança, e ainda depois, foi supersticioso, teve um arsenal
inteiro de crendices, que a mãe lhe incutiu e que aos vinte
anos desapareceram. No dia em que deixou cair toda essa
vegetação parasita, e ficou só o tronco da religião, ele, como
tivesse recebido da mãe ambos os ensinos, envolveu-os na
mesma dúvida, e logo depois em uma só negação total.
Camilo não acreditava em nada. Por quê? Não poderia dizê-
lo, não possuía um só argumento; limitava-se a negar tudo. E
digo mal, porque negar é ainda afirmar, e ele não formulava
incredulidade; diante do mistério, contentou-se em levantar
os ombros, e foi andando”.
[12º parágrafo]
(A cartomante, de Machado de Assis)
10) Segundo o trecho acima, Camilo
a)	 Ainda criança, preferiu não acreditar em nada.
b)	 Desde criança desprezava superstições.
c)	 Diante do desconhecido, preferiu ficar indiferente.
d)	 Era crédulo, apesar de negar qualquer fé.
11) Em relação às descrenças de Camilo, há uma opinião do
narrador em:
a)	 “diante do mistério, contentou-se em levantar os
ombros, e foi andando.”
b)	 “Camilo não acreditava em nada. Por quê? Não poderia
dizê-lo (...)”
c)	 “E digo mal, porque negar é ainda afirmar, e ele não
formulava a incredulidade”
d)	 “No dia em que deixou cair toda essa vegetação
parasita, e ficou só o tronco da religião.”
12) Em alguns momentos, o narrador deixa escapar juízos
de valor em relação aos personagens e fatos. Podemos
observar isso em
a)	 “Os dois primeiros eram amigos de infância.”
b)	 “...onde casara com uma dama formosa e tonta”
c)	 “Camilo ensinou-lhe as damas e o xadrez...”
d)	 “Era um pouco mais velha que ambos...”
13) Ao receber a primeira carta anônima, Camilo deixou de ir
com frequência a casa de Vilela pois
a)	 arrependeu-se da traição.
b)	 cansou-se da aventura.
c)	 ficou envergonhado.
d)	 queria afastar a desconfiança.
Canção do Exílio
Minha terra tem palmeiras,
Onde canta o Sabiá;
As aves, que aqui gorjeiam,
Não gorjeiam como lá.
Nosso Céu tem mais estrelas,
Nossas várzeas têm mais flores,
Nossos bosques têm mais vida,
Nossas vidas mais amores.
Em cismar, sozinho, à noite,
Mais prazer encontro eu lá;
8
Minha terra tem palmeiras,
Onde canta o Sabiá.
Minha terra tem primores,
Que tais não encontro eu cá;
Em cismar – sozinho, à noite –
Mais prazer encontro eu lá;
Minha terra tem palmeiras,
Onde canta o Sabiá.
Não permita Deus que eu morra
Sem que eu volte para lá;
Sem que desfrute os primores
Que não encontro por cá;
Sem qu’inda aviste as palmeiras,
Onde canta o Sabiá.
(Gonçalves Dias)
14) (UE-Londrina - com adaptações) A partir da leitura do
poema, julgue os itens a seguir.
(1) A pátria é retratada de maneira que se tenha um
registro fiel da sua fauna e flora, sem interferência da
emoção do poeta, como em“Canção do Exílio”.
(2) A persistência de traços do espírito clássico impede
o exagero do sentimentalismo, encontrado, por
exemplo, em Casimiro de Abreu.
(3) O indianismo é fiel à verdade da vida indígena, não
apresentando a distorção poética observada em
outros escritores.
(4) Protótipo do byroniano, convivem lado a lado o humor
negro e o extremo idealismo.
(5) Apóia-se nos cânones formais da poesia clássica greco-
romana; emprega figuras de ornamento, até com certo
exagero; evidencia a musicalidade do verso pelo uso
de aliterações.
(6) Exalta a terra natal; é nostálgica e saudosista; o tema é
tratado de modo sentimental, emotivo.
(7) Utiliza-se do verso livre, como ideal de liberdade
criativa; sua linguagem é hermética, erudita; glorifica
o canto dos pássaros e a vida selvagem.
(8) Poesia e música se confundem, como artifício
simbólico; a natureza e o tema bucólico são tratados
com objetividade; usa com parcimônia as formas
pronominais de primeira pessoa.
Ideias íntimas
Ossian o bardo é triste como a sombra
Que seus cantos povoa. O Lamartine
É monótono e belo como a noite,
Como a lua no mar e o som das ondas...
Mas pranteia uma eterna monodia,
Tem na lira do gênio uma só corda;
Fibra de amor e Deus que um sopro agita:
Se desmaia de amor a Deus se volta,
Se pranteia por Deus de amor suspira.
Basta de Shakespeare. Vem tu agora,
Fantástico alemão, poeta ardente
Que ilumina o clarão das gotas pálidas
Do nobre Johannisberg! Nos teus romances
Meu coração deleita-se... Contudo,
Parece-me que vou perdendo o gosto.
(…)
(Álvares de Azevedo, Lira dos vinte anos)
15) Considerando-se esse excerto no contexto do poema a
que pertence (Ideias íntimas), julgue os itens a seguir.
(1) O eu lírico manifesta tanto seu apreço quanto sua
insatisfação em relação aos escritores que evoca.
(2) A dispersão do eu lírico, própria da ironia romântica,
exprime-se na métrica irregular dos versos.
(3) Oeulíricorejeitaaliteraturaeosdemaispoetasporque
se identifica inteiramente com a natureza.
(4) A recusa dos autores estrangeiros manifesta o projeto
nacionalista típico da segunda geração romântica
brasileira.
(5) Lamartine é criticado por sua irreverência para com
Deus e a religião, muito respeitados pela segunda
geração romântica.
16) Sobre a obra de Álvares de Azevedo e o período em que
está inserido, julgue os itens a seguir.
(1) A obra de Álvares de Azevedo é marcada por uma
visão dualista que envolve atração e medo, desejo e
culpa, temendo, sobretudo, a realização amorosa.
(2) Articulação consciente de um projeto literário baseado
na contradição, utilizando as entidades mitológicas
Ariel e Caliban para representarem, respectivamente,
o bem e o mal.
(3) A obra de Álvares de Azevedo é caracterizada por
um grande engajamento social, conciliando ideias
de reforma social com procedimentos específicos da
poesia.
(4) É possível perceber traços do pessimismo e
da melancolia na obra de Azevedo, elementos
característicos também na obra do poeta Byron.
Elementos de humor e drama em algumas obras,
assim como traços de ironia, também são perceptíveis.
(5) Linguagem, o céu, o infinito, o deserto.
(6) Grupo composto por jovens poetas universitários de
São Paulo e Rio de Janeiro nas décadas de 50 e 60
do século XIX. Foram fortemente influenciados pela
leitura de obras literárias de Musset e Byron, escritores
cujo estilo de vida imitavam.
(7) Uma de suas principais características é o espírito do
mal do século, uma onda de pessimismo doentio que
se traduzia no apego a certos valores decadentes,
como a bebida e o vício, na atração pela noite e pela
morte.
(8) Entre as principais características do Ultrarromantismo
estão o nacionalismo, o indianismo, o regionalismo,
a pesquisa histórica, folclórica e linguística, além da
crítica aos problemas nacionais.
(9) Também conhecido como segunda geração do
romantismo, o Ultrarromantismo apresentou
características como egocentrismo exacerbado,
pessimismo, satanismo e atração pela morte.
Meus oito anos
9 Literatura
Oh ! que saudades que eu tenho
Da aurora da minha vida,
Da minha infância querida
Que os anos não trazem mais !
Que amor, que sonhos, que flores,
Naquelas tardes fagueiras
À sombra das bananeiras,
Debaixo dos laranjais !
Como são belos os dias
Do despontar da existência !
– Respira a alma inocência
Como perfumes a flor;
O mar é – lago sereno,
O céu – um manto azulado,
O mundo – um sonho dourado,
A vida – um hino d’amor !
Que auroras, que sol, que vida,
Que noites de melodia
Naquela doce alegria,
Naquele ingênuo folgar !
O céu bordado d’estrelas,
A terra de aromas cheia,
As ondas beijando a areia
E a lua beijando o mar !
Oh ! dias de minha infância !
Oh ! meu céu de primavera !
Que doce a vida não era
Nessa risonha manhã !
Em vez de mágoas de agora,
Eu tinha nessas delícias
De minha mãe as carícias
E beijos de minha irmã !
Livre filho das montanhas,
Eu ia bem satisfeito,
De camisa aberta ao peito,
– Pés descalços, braços nus –
Correndo pelas campinas
À roda das cachoeiras,
Atrás das asas ligeiras
Das borboletas azuis !
Naqueles tempos ditosos
Ia colher as pitangas,
Trepava a tirar as mangas,
Brincava à beira do mar;
Rezava às Ave-Marias,
Achava o céu sempre lindo,
Adormecia sorrindo,
E despertava a cantar !
Oh ! que saudades que eu tenho
Da aurora da minha vida
Da minha infância querida
Que os anos não trazem mais !
– Que amor, que sonhos, que flores,
Naquelas tardes fagueiras
À sombra das bananeiras,
Debaixo dos laranjais !
(Obras de Casimiro de Abreu, edição crítica de Sousa da Silveira, Cia.
Editora Nacional, São Paulo, 1940.)
17) Sobre as características da obra de Casimiro de Abreu,
julgue os itens a seguir.
(1)	 Um dos pontos altos de sua poesia é a associação do
amor à vida e à sensualidade, características que não
são observadas na obra de Álvares de Azevedo.
(2)	 Sua lírica é marcada pela abordagem graciosa de
certos temas, como a infância, a pátria, a saudade, a
solidão, a natureza e o amor.
(3)	 A principal característica de sua obra reside no projeto
literário baseado na contradição. Esse dualismo pode
ser observado em sua principal obra poética, Lira dos
vinte anos.
(4)	 Sua poesia, embora não tenha apresentado grandes
inovações estéticas para a literatura brasileira,
contribuiu para a consolidação e para a popularização
do Romantismo.
(5)	 Sua poesia é caracterizada por uma grande
preocupação espiritual, apresentando caráter
panteísta.
18) O poema de Casimiro de Abreu reflete sobre a infância,
vista no texto de maneira idealizada. Considere essa
informação e julgue os itens a seguir.
(1)	 A infância sempre parecerá aos olhos do indivíduo
como pura e perfeita, porém logo percebe-se de que
tudo é idealização.
(2)	 Apenas a infância vivida no campo, no meio da
natureza, pode ser considerada feliz e completa.
(3)	 O modo como vivemos na infância influenciará na
maneira como iremos vivenciar nossa vida adulta.
(4)	 O presente revela-se triste e repleto de desilusões,
contrastando com um passado feliz, cheio de
realizações.
19) A valorização da natureza é um traço marcante do
Romantismo Brasileiro. Destaque do poema versos em que
a natureza passa a refletir o estado de espírito do eu-lírico.
20) As características do Romantismo encontradas no
poema de Casimiro de Abreu são:
a)	 A abordagem de temas ligados a questões sociais e a
reflexão sobre problemas existenciais.
b)	 A opção pela visão idealizada da vida e o culto à
natureza.
c)	 A preocupação social do eu-lírico e a visão idealizada
do passado.
d)	 A prevalência do lirismo amoroso e a preocupação
com a temática nacionalista.
21) O poeta utiliza-se dessa visão idealizada do passado
como forma de escapismo, fugindo assim do momento
presente, visto de maneira pessimista. Que versos do poema
revelam esse presente pessimismo?
10
22) Nos versos“Oh! que saudades que eu tenho / Da aurora
da minha vida, / Da minha infância querida / Que os anos
não trazem mais!”, o eu-lírico expressa:
a) A alegria com a certeza de que esse passado feliz terá
consequências no presente.
b) A angústia diante de um passado inegavelmente
idealizado.
c) O saudosismo sentido, confirmando que esse passado
não irá refletir-se no presente.
d) O sofrimento diante da oposição de um passado feliz e
um futuro duvidoso.
Marieta
Como o gênio da noite, que desata
O véu de rendas sobre a espádua nua,
Ela solta os cabelos... Bate a lua
Nas alvas dobras de um lençol de prata.
O seio virginal, que a mão recata,
Embalde o prende a mão... cresce, flutua...
Sonha a moça ao relento... Além na rua
Preludia um violão na serenata! ...
... Furtivos passos morrem no lajedo...
Resvala a escada do balcão discreta...
Matam lábios os beijos em segredo...
Afoga-me os suspiros, Marieta!
Ó surpresa! Ó palor! Ó pranto! Ó medo!
Ai! Noites de Romeu e Julieta! ...
CASTRO ALVES.
23) Analisando o conteúdo do texto, é possível observar que
o eu lírico:
a) Pratica a poética mórbida e doentia da morte.
b) Nega a concepção da mais conhecida história de amor
de todos os tempos.
c) Projeta a figura da mulher impossível de ser atingida
amorosamente;
d) Põe em destaque a mulher sensual, erótica.
24) Sobre a literatura produzida por Castro Alves, julgue os
itens a seguir:
(1) Representa, na evolução da poesia romântica
brasileira, um momento de maturidade e transição,
substituindo temáticas ufanistas e de idealização do
amor por temáticas mais críticas e realistas.
(2) Sua produção literária estava voltada ao projeto de
construção da cultura brasileira, dando destaque ao
romance indianista.
(3) Desprezouorigordasregrasgramaticais,aproximando
a linguagem literária da linguagem falada pelo povo
brasileiro.
(4) A ironia era um traço constante em sua obra,
representando uma forma não passiva de ver a
realidade, tecendo uma fina crítica à noção de ordem e
às convenções do mundo burguês.
(5) Apresenta uma linguagem voltada para a defesa de
seusideaisliberaise,porisso,égrandiosaehiperbólica,
prenunciando a perspectiva crítica e objetiva do
Realismo.
Mas, havia ordem para não desembarcar, e Bom-
Crioulo, como toda a guarnição, passou a tarde numa
sensaboria, cabeceando de fadiga e sono, ocupado em
pequenos trabalhos de asseio e manobras rudimentares. -
Diabo de vida sem descanso! O tempo era pouco para um
desgraçado cumprir todas as ordens. E não as cumprisse!
Golilha com ele, quando não era logo metido em ferros... Ah!
Vida, vida!... Escravo na fazenda, escravo a bordo, escravo em
toda parte... E chamava-se a isso servir à Pátria!
(CAMINHA, Adolfo. O bom crioulo)
25) A respeito do narrador do romance Bom-Crioulo, de
Adolfo Caminha, julgue os itens a seguir.
(1) O narrador naturalista descreve com objetividade e
riqueza de detalhes o cenário em que se ambienta
o romance, como se observa neste trecho: “A lua,
surgindo lenta e lenta, cor de fogo, a princípio, depois
fria e opalescente, misto de névoa e luz, alma e solidão,
melancolizava o largo cenário das ondas, derramando
sobre o mar essa luz meiga, essa luz ideal que penetra o
coração do marinheiro, comunicando-lhe uma saudade
infinita dos que navegam".
(2) O narrador descreve com minúcia o pensamento
das personagens, desvendando seu refinado sistema
de valores culturais, como se observa neste trecho:
“Estimava Bom-Crioulo desde o dia em que ele,
desinteressadamente, por um acaso providencial,
livrou-a de morrer na ponta de uma faca, história de
ladrões... [...]".
(3) O narrador evidencia a percepção sofisticada de
Amaro, que fica nítida nas referências do marinheiro
à cultura grega: “Aleixo surgia-lhe agora em plena e
exuberante nudez, muito alvo, as formas roliças de
calipígio ressaltando na meia sombra voluptuosa do
aposento,napenumbraacariciadoradaqueleignorado
e impudico santuário de paixões inconfessáveis...
Belo modelo de efebo que a Grécia de Vênus talvez
imortalizasse em estrofes de ouro límpido e estátuas
duma escultura sensual e pujante".
(4) O narrador interpreta o conflito vivido pelo ex-
escravo, justapondo uma percepção animalizante ao
lado de outra, construída por meio de comparações
artísticas: “Dentro do negro rugiam desejos de touro
ao pressentir a fêmea... Todo ele vibrava, demorando-
se na idolatria pagã daquela nudez sensual como um
fetiche diante de um símbolo de ouro ou como um
artista diante duma obra-prima".
O Naturalismo fundamentou-se na ideia, extraída
do pensamento científico da época, de que o homem é
um produto do meio, da hereditariedade e do momento.
Partindodetalprincípio,procuravafazerdaficçãoumaforma
de estudar e diagnosticar leis que regiam o comportamento
de pessoas e grupos na esfera social em que atuavam. Bom-
Crioulo , romance de Adolfo Caminha, publicado em 1895,
11 Literatura
coloca em cena questões incômodas para a moral vigente e
instituições do Estado.
26) Com base no exposto e no romance O bom crioulo, de
Adolfo Caminha, julgue os itens a seguir:
(1)	 O personagem Aleixo, que dá título ao romance,
escravo fugitivo, tornou-se um marinheiro violento,
justificando-se, com isso, a tese determinista, e
naturalista, de que o meio, a raça e a hereditariedade
moldam o indivíduo.
(2)	 O enredo foca uma relação homossexual entre um
negro e um branco, que a narrativa pontua, em alguns
momentos, como caso patológico, apresentando um
desfecho trágico.
(3)	 O enredo ilustra e compara reações e desejos de Amaro
com os dos animais, metaforizando, como exemplo de
romance naturalista, a obediência instintiva às “leis
naturais”.
(4)	 O título e o enredo do romance apresentam, ao
mesmo tempo, ironia e discriminação por marcar
um preconceito e caracterizar Amaro como violento,
baderneiro e criminoso.
(5)	 O tratamento repressivo dispensado aos marinheiros
que quebravam a disciplina imposta pelos
comandantes é salientado amplamente, inclusive os
castigos corporais.
O Assinalado
Tu és o louco da imortal loucura,
O louco da loucura mais suprema.
A Terra é sempre a tua negra algema,
Prende-te nela a extrema Desventura.
Mas essa mesma algema de amargura,
Mas essa mesma Desventura extrema
Faz que tu’alma suplicando gema
E rebente em estrelas de ternura.
Tu és o Poeta, o grande Assinalado
Que povoas o mundo despovoado,
De belezas eternas, pouco a pouco…
Na Natureza prodigiosa e rica
Toda a audácia dos nervos justifica
Os teus espasmos imortais de louco!
(Cruz e Sousa)
27) Sobre a poesia de Cruz e Sousa, julgue os itens a seguir:
(1)	 Sua poesia, dentro do movimento parnasiano,
representa um momento de descontração e
investigação. Nela, verificam-se três fases: a fase
romântica; a fase parnasiana e a fase pré-simbolista.
(2)	 O poeta equilibrou a dimensão social com a dimensão
coletiva, ilustrando, por meio desse procedimento, o
comportamento característico da segunda geração
romântica.
(3)	 O desejo de fugir da realidade, de transcender a
matéria e integrar-se espiritualmente no cosmo,
posturas verificadas em sua poesia, originam-se do
sentimento de opressão produzido pelo capitalismo e
também do drama racial e pessoal que o autor vivia.
(4)	 Formalmente, o poeta revela influências árcades e
renascentistas, sem, contudo, cair no formalismo
parnasiano. Embora preferisse o verso decassílabo,
CruzeSousaexplorououtrasmétricas,particularmente
a redondilha maior.
28) Identifique nos versos finais do poema "O assinalado",
de Cruz e Sousa, os elementos que caracterizam a poesia
simbolista do autor. Depois assinale a opção correta.
a)	 A poesia é criação de belezas eternas.
b)	 A poesia é a linguagem que provoca a loucura do
poeta.
c)	 O poeta se distingue dos mortais comuns porque é
louco.
d)	 A natureza oculta a loucura do poeta.
Mal secreto
Se a cólera que espuma, a dor que mora
N’aIma, e destrói cada ilusão que nasce,
Tudo o que punge, tudo o que devora
O coração, no rosto se estampasse;
Se se pudesse, o espírito que chora,
Ver através da máscara da face,
Quanta gente, talvez, que inveja agora
Nos causa, então piedade nos causasse!
Quanta gente que ri, talvez, consigo
Guarda um atroz, recôndito inimigo,
Como invisível chaga cancerosa!
Quanta gente que ri, talvez existe,
Cuja ventura única consiste
Em parecer aos outros venturosa!
(CORREIA, R. In: PATRIOTA, M. Para compreender Raimundo Correia.
Brasilia: Alhambra, 1995.)
29) (ENEM) Coerente com a proposta parnasiana de cuidado
formal e racionalidade na condução temática, o soneto de
Raimundo Correia reflete sobre a forma como as emoções
do indivíduo são julgadas em sociedade. Na concepção do
eu lírico, esse julgamento revela que:
a)	 a necessidade de ser socialmente aceito leva o
indivíduo a agir de forma dissimulada.
b)	 o sofrimento íntimo torna-se mais ameno quando
compartilhado por um grupo social.
c)	 a capacidade de perdoar e aceitar as diferenças
neutraliza o sentimento de inveja.
d)	 o instinto de solidariedade conduz o indivíduo a
apiedar-se do próximo.
e)	 a transfiguração da angústia em alegria é um artifício
nocivo ao convívio social.
Ismália
Quando Ismália enlouqueceu,
Pôs-se na torre a sonhar...
Viu uma lua no céu,
Viu uma lua no mar.
No sonho em que se perdeu,
12
Banhou-se toda em luar...
Queria subir ao céu,
Queria descer ao mar...
E, no desvario seu,
Na torre pôs-se a cantar...
Estava perto do céu,
Estava longe do mar...
E como um anjo pendeu
As asas para voar...
Queria a lua do céu,
Queria a lua do mar...
As asas que Deus lhe deu
Ruflaram de par em par...
Sua alma subiu ao céu,
Seu corpo desceu ao mar...
(In: Obra completa. Rio de Janeiro: Aguilar, 1960 p .467.)
30) Chamamos de antítese a figura de linguagem que
consiste no emprego de termos com sentidos opostos. Qual
das alternativas a seguir apresenta uma antítese?
a) “Quando Ismália enlouqueceu,
Pôs-se na torre a sonhar...”
b) “ Estava perto do céu,
Estava longe do mar...”
c) “E como um anjo pendeu
As asas para voar...”
d) “As asas que Deus lhe deu
Ruflaram de par em par...”
31) De acordo com alguns versos do poema, Ismália
queria subir ao céu e descer ao mar. Esse desejo de Ismália
representa:
a) uma postura contraditória
b) uma postura racional
c) uma postura religiosa
d) uma postura romântica
32) O Simbolismo, por ser um movimento antilógico
e antirracional, valoriza os aspectos interiores e pouco
conhecidos da alma e da mente humana. São palavras que
compravam essa característica simbolista no texto, exceto:
a) enlouqueceu
b) sonhar
c) cantar
d) desvario
33) Sobre o poema Ismália, julgue os itens a seguir:
(1) Todo o poema é construído com base em antíteses.
As antíteses articulam-se em torno dos desejos
contraditórios de Ismália, que se dividem entre a
realidade espiritual e a realidade concreta.
(2) A partir da análise desse poema podemos afirmar que,
para os simbolistas, sonho e loucura levam à libertação,
pois a razão e a lógica aprisionam o homem. Dar vazão
ao mundo interior; explorar zonas ocultas da mente
humana é o mesmo que transcender os limites do
mundo real.
(3) De acordo com o desfecho do poema, o céu recebe a
alma; logo, liga-se ao aspecto espiritual. O mar recebe o
corpo; por conseguinte, representa o universo material.

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  • 1. Filosofia 1 Immanuel Kant A obra kantiana é orientada pela razão naquilo que pode ser dado tal auxílio. Ao desenvolver as 04 questões fun- damentais que orientam suas Críticas, Kant estabelece: I. O que posso saber? II. O que devo fazer? III. O que posso esperar? IV. O que é o homem? Ao longo de toda a obra kantiana, o autor preten- de tornar clara sua contribuição tendo em vista seu contexto iluminista. Para tanto, a fim de responder às questões norte- adoras de sua filosofia, escreve as 03 Críticas: Crítica da Razão Pura a fim de estabelecer os limites do conhecimento legíti- mo (Epistemologia); Crítica da Razão Prática a fim de estabe- lecer como o sujeito deve agir (Ética); Crítica do Juízo ou Gos- to a fim de discutir o gosto estético (Estética); por fim a última questão que é antropológica e, naturalmente, perpassa toda a obra iluminista. O filósofo alemão, Immanuel Kant, preocupado com o uso da razão, escreveu, em 1784, o texto Resposta à per- gunta: o que é o Esclarecimento?, a partir do qual pensa e problematiza seu próprio tempo e apresenta orientações para o uso da razão a fim de emancipar os seres humanos de uma condição de minoridade. O texto propõe o debate acerca da autonomia que ecoa no século XVIII e nos alcança no XXI. Nós, indivíduos, estamos situados em um contexto social mais amplo de transformações - religiosas, culturais, científicas, tecnológicas, artísticas e literárias - especialmente as desencadeadas a partir do século XVIII, que marcaram as sociedades ocidentais e também a sociedade brasileira. No campo da história das ideias, cabe indagar: como o texto de Kant, Resposta à pergunta: o que é o esclarecimento?, ao tratar do uso da razão, reflete-se na possibilidade de formar ideias e valores a respeito de classes, grupos e categorias nas quais estamos inseridos, bem como a possibilidade de pensar em conceitos mais abrangentes como ser humano e humanidade. Nesse sentido, do específico ao geral, todas as áreas de conhe- cimento podem contribuir para a formação de uma autocons- ciência do indivíduo sobre os processos que o determinam, e suas possibilidades de autonomia pessoal e coletiva. Esclarecimento é a saída do homem de sua me- noridade, da qual ele próprio é culpado. A menoridade é a incapacidade de fazer uso de seu entendimento sem a direção de outro indivíduo. O homem é o próprio culpado dessa menoridade se a causa dela não se encontra na falta de entendimento, mas na falta de decisão e cora- gem de servir-se de si mesmo sem a direção de outrem. Sapere aude! Tem coragem de fazer uso de teu próprio entendimento, tal é o lema do esclarecimento. KANT. Res- posta à pergunta: o que é o Esclarecimento? Para a compreensão do texto de Kant é necessário trazer à tona alguns conceitos como menoridade, maiorida- de, liberdade, uso público da razão, entre outros. Para o au- tor, nascemos em condição de menoridade dada pela própria natureza, porém, permanecemos em tal condição por“medo, preguiça ou covardia”. Neste sentido, afirma que“a menorida- de se torna uma espécie de segunda natureza”: A preguiça e a covardia são as causas pelas quais uma tão grande parte dos homens, depois que a natureza de há muito os libertou de uma direção estra- nha (naturaliter maiorennes), continuem, no entanto de bom grado menores durante toda a vida. São também as causas que explicam por que é tão fácil que os outros se constituam em tutores deles. É tão cômodo ser me- nor.[...] É difícil, portanto, para um homem em particular desvencilhar-se da menoridade que para ele se tornou quase uma natureza. Chegou mesmo a criar amor a ela, sendo por ora realmente incapaz de utilizar seu próprio entendimento, porque nunca o deixaram fazer a tentativa de assim proceder. Preceitos e fórmulas, estes instru- mentos mecânicos do uso racional, ou, antes, do abuso de seus dons naturais, são os grilhões de uma perpétua menoridade. Quem deles se livrasse só seria capaz de dar um salto inseguro mesmo sobre o mais estreito fos- so, porque não está habituado a este movimento livre. Por isso são muito poucos aqueles que conseguiram, pela transformação do próprio espírito, emergir da meno- ridade e empreender então uma marcha segura. Romper com tudo o que leva à menoridade intelec- tual é o esforço cotidiano de tornar-se racional e fundar sua própria percepção sob este prisma. Assim, é necessário o uso da liberdade para tornar-se senhor de si e de suas ações: Para este esclarecimento [<Aufklärung>], porém, nada mais se exige senão LIBERDADE. E a mais inofen- siva entre tudo aquilo que se possa chamar liberdade, a saber: a de fazer um uso público de sua razão em todas as questões. Ouço, agora, porém, exclamar de todos os lados: não raciocineis! O oficial diz: não raciocineis, mas exercitai-vos! O financista exclama: não raciocineis, mas pagai! O sacerdote proclama: não raciocineis, mas crede! (Um único senhor no mundo diz: raciocinai, tanto quanto quiserdes, e sobre o que quiserdes, mas obedecei!). Eis aqui por toda a parte a limitação da liberdade. Que limi- tação, porém, impede o esclarecimento [<Aufklärung>]? Qual não o impede, e até mesmo favorece? Respondo: o uso público de sua razão deve ser sempre livre e só ele pode realizar o esclarecimento [<Aufklärung>] entre os homens. O uso privado da razão pode, porém, muitas vezes, ser muito estreitamente limitado, sem contudo por isso impedir notavelmente o progresso do esclarecimen- to [<Aufklärung>]. Henry David Thoreau Henry David Thoreau é um filósofo estadunidense do século XIX. Traz para a sua filosofia uma leitura sobre o mundo a partir de suas perspectivas e suas relações com a sociedade em que vive, sobretudo no que se refere às leis de então e à sua insatisfação com o mundo tal como é organiza- do. É um autor que entende que o Estado é uma instituição que conserva grande poder nas mãos de poucos indivíduos e legisla sobre eles, porém, cabe ao cidadão comum legitimar ou não tal modelo de Estado e de poder. Neste sentido, apro- xima-se de um individualista solidário aos demais. A obra de Thoreau incita à reflexão acerca da au- tonomia e liberdade, tal como Kant. Segundo ele, o ato de Obras de Referência PAS/UnB - Filosofia 2º série
  • 2. 2 desobedecer às leis que lhe parecem injustas e arcar com as consequências destas, são a expressão e valorização da liber- dade. Faz-se importante entender que o objetivo da desobe- diência civil não é quebrar a lei e escapar das consequências, mas submeter-se voluntariamente à prisão e até à morte. Em“A Desobediência Civil”publicada em 1849, Tho- reau questiona amplamente a relação entre Homem e Esta- do, sobretudo no que toca às leis vigentes. Afirma que nem toda lei, embora esteja prevista, é, de fato, justa. Assim, cabe ao sujeito obedecer ou não à lei: nisto consiste a desobediên- cia civil. Em poucas linhas, desobediência civil é não respeitar uma lei por achar que ela não faz o menor sentido e por não ser justa. Se uma lei, norma ou regra não é justa, ninguém de- veria ser ou se sentir obrigado a cumpri-la, defende. Embora questione amplamente a obediência a regras, compreende que o “que o melhor governo é o que não governa. Quando os homens estiverem devidamente preparados, terão esse governo” assim, trata-se de um defensor da liberdade eco- nômica. Questionava amplamente a existência de impostos pagos ao governo, já que muitos destes impostos são dire- cionados para ações que nem sempre são justas. Em 1849, fez seu próprio ato de desobediência e se negou a pagar os seus impostos por saber que seriam usados pelas autorida- des para financiar guerra dos EUA contra o México. Grupo I Texto I Esclarecimento é a saída do homem de sua menoridade, pela qual ele é o responsável. A menoridade é a incapacidade de fazer uso de entendimento sem a condução deumoutro.Ohomeméopróprioculpadodessamenoridade quando sua causa reside não na falta de entendimento, mas na falta de resolução e coragem para usá-lo sem a condução de um outro. Sapere aude! Tem coragem de fazer uso de teu próprio entendimento. Esse é o lema do esclarecimento. I. Kant. O que é a ilustração? In: M. L. R. Aranha e M. H. P. Martins. Filosofando – introdução à filosofia. São Paulo: Moderna, 1993, p. 114 (com adaptações). 1) (PAS/UnB) Considere que uma mulher, Maria, chegou aos quarenta anos de idade ocupando-se dos filhos e do marido e seguindo sempre a orientação do marido. No momento da vida em que se encontrava, iniciou seu processo de mudança, com fundamento na noção de esclarecimento postulada por Kant. Com base no fragmento de texto, de Kant, e na situação hipotética acima, faça o se pede no item a seguir: Assinale a opção que apresenta um fato hipotético que, relacionado ao processo de mudança de Maria, esteja de acordo com a noção kantiana de esclarecimento. a) A decisão de Maria de mudar foi impulsionada pelo filho, que, tendo concluído um curso universitário, estava buscando um novo rumo para sua vida. Maria, então, percebeu que aquele era o momento de ela crescer e deixar de se acovardar diante da vida. b) Maria avaliou que só poderia deixar a menoridade com ajuda especializada e procurou um terapeuta, esperando que ele tomasse as decisões mais difíceis por ela. c) Maria, ao sentir vontade de ousar e tornar-se esclarecida, considerou que, naquele momento de vida, deveria fazer um curso superior, principalmente porque contava com o estímulo do marido. d) Maria percebeu que havia sido cômodo permanecer na menoridade e encorajou-se a usar seu próprio entendimento, mudança difícil, principalmente porque a menoridade quase se tornara sua natureza. 2) (PAS/UnB) Julgue os itens. (1) Ao fazer referência à "época de esclarecimento", Kant alude a um movimento histórico e social específico , que exerceu influências em diferentes espaços e contextos. (2) Conclui-se do texto que qualquer pessoa em situação de menoridade pode sair dessa situação e atingir o esclarecimento, bastando, para isso, resolução e coragem de fazer uso de seu entendimento sem a tutela de outra pessoa. (3) Conforme Kant, o homem é o responsável por permanecer no estado de menoridade quando o que o impede de superá-lo são a preguiça e a covardia. (4) Para Kant, a autonomia só é possível mediante o uso público da razão e o exercício da liberdade. Texto II Esclarecimento (Aufklärung) significa a saída do homem de sua minoridade, pela qual ele próprio é responsável. A minoridade é a incapacidade de se servir de seu próprio entendimento sem a tutela de outro. É a si próprio que se deve atribuir essa minoridade, uma vez que ela não resulta da falta de entendimento, mas da falta de resolução e de coragem necessárias para utilizar seu entendimento sem a tutela de outro. Sapere aude! Tem a coragem de te servir de teu próprio entendimento; tal é, portanto, a divisa do Esclarecimento. Immanuel Kant. Resposta à pergunta: que é o Esclarecimento? Luiz Paulo Rouanet e Luiz Martins da Silva (Trad.). Brasília: Casa das Musas, 2008 (com adaptações). Texto III A equação razão = virtude = felicidade diz meramente o seguinte: é preciso imitar Sócrates e estabelecer permanentemente uma luz diurna contra os apetites obscuros — a luz diurna da razão. É preciso ser prudente, claro, luminoso a qualquer preço: toda e qualquer concessão aos instintos, ao inconsciente conduz para baixo. (...). Faz-se ainda necessário indicar o erro que repousava na crença na “racionalidade a qualquer preço”? — Imaginar a possibilidade de escapar da décadence através do estabelecimento de uma guerra contra ela é já um modo de iludir a si mesmo criado pelos filósofos e moralistas. O escape está além de suas forças: o que eles escolhem como meio, como salvação, não é senão uma nova expressão da décadence. (...) A luz diurna mais cintilante, a racionalidadeaqualquerpreço,avidaluminosa,fria,precavida, consciente, sem instinto, em contraposição aos instintos não se mostrou efetivamente senão como uma doença, outra doença. — Ela não concretizou de forma alguma um retorno à “virtude”, à “saúde”, à “felicidade”. Os instintos precisam ser combatidos, esta é a fórmula da décadence. Enquanto a vida está em ascensão, a felicidade é igual aos instintos. F. Nietzsche. Crepúsculo dos ídolos, São Paulo: Hemus, 1976, p. 22-3 (com
  • 3. Filosofia 3 adaptações). 3) (PAS/UnB) Tendo os textos II e III como referência inicial, julgue os itens: (1) O texto III aponta duas posições antagônicas disponíveis ao indivíduo frente ao seu entendimento: não ter a resolução e a coragem de servir-se dele sem a tutela de outro (situação que define a minoridade), ou tê-las e, em consequência disso, sair de sua minoridade. (2) Kant não está preocupado com o elemento “felicidade” da equação “razão = virtude = felicidade” mencionada por Nietzsche no início do texto IV, mas importa-se com o uso da razão como virtude, que é um princípio do esclarecimento, sem relação necessária com a felicidade. (3) A “minoridade” referida por Kant no texto III equivale ao que Nietzsche caracteriza, no texto IV, como “uma nova expressão da décadence”. (4) Depreende-se dos textos III e IV que, na forma como Kant o compreende, o esclarecimento é, para Nietzsche, uma doença. (5) Depreende-se do texto III que Kant considera que a minoridade é uma forma de ceder aos instintos. (6) Sabendo-se que Kant, em Fundamentação da metafísica dos costumes, expressa o comando moral que faz nossas ações serem moralmente boas no imperativo categórico: “age só segundo máxima tal que possas ao mesmo tempo querer que ela se torne lei universal”, é correto afirmar que, para ele, o abandono da minoridade é, necessariamente, um dever moral imposto por esse imperativo, uma vez que a escolha pela minoridade não pode ser universalizada. 4) (Uel, com adaptações) Leia o texto a seguir: As leis morais juntamente com seus princípios não só se distinguem essencialmente, em todo o conhecimento prático, de tudo o mais onde haja um elemento empírico qualquer, mas toda a Filosofia moral repousa inteiramente sobre a sua parte pura e, aplicada ao homem, não toma emprestado o mínimo que seja ao conhecimento do mesmo (Antropologia). KANT, I. Fundamentação da Metafísica dos Costumes. Trad. de Guido A. de Almeida. São Paulo: Discurso Editorial, 2009. p.73. Com base no texto e na questão da ética, autonomia, conhecimento e maioridade intelectual em Immanuel Kant, julgue os itens a seguir. (1) A fonte das ações morais pode ser encontrada através da análise da consciência moral que determina o caráter deontológico a ação, segundo Kant. (2) O elemento determinante do caráter moral de uma ação está na inclinação da qual se origina, sendo as inclinações serenas moralmente mais perfeitas do que as passionais. (3) A razão somente pode dar uma direção à inclinação para a ação na medida em que fornece o meio para alcançar o que é desejado. (4) Como o sujeito é livre e está encerrada no mundo natural, suas ações são livres e autônomas. (5) O ponto de partida dos juízos morais encontra-se nos “propulsores” humanos naturais, os quais se direcionam ao bem próprio de forma egoísta. (6) O princípio supremo da moralidade deve assentar-se na razão prática, e as leis morais devem ser independentes de qualquer condição subjetiva da natureza humana. (7) A filosofia de Kant, em sua fase pré-crítica, pressupõe o racionalismo-dogmático. (8) A leitura de Hume, segundo Kant, o mantém numa perspectiva dogmática, visto que o ceticismo de Hume em nada possibilita a descoberta de um modelo distinto do que Kant estava convencido de admitir. (9) Kant considera-se um filósofo crítico pelo simples fato de submeter todos os conhecimentos obtidos pela tradição a um exame minucioso, viabilizado pela dúvida metódica cartesiana. 5) Proposta de redação em língua portuguesa - PAS 2018 Texto I Propaganda é um modo específico sistemático de persuadir visando influenciar as emoções, atitudes, opiniões ou ações do público-alvo. Seu uso primário advém de contexto po- lítico, referindo-se geralmente aos esforços de persuasão de governos e partidos políticos. Ao contrário da busca de imparcialidade na comunicação, a propaganda apresenta informações com o objetivo principal de influenciar uma audiência. Para tal, frequentemente apresenta os fatos seleti- vamente (possibilitando a mentira por omissão) para encora- jar determinadas conclusões, ou usa mensagens exageradas para produzir uma resposta emocional e não racional à infor- mação apresentada. O resultado desejado é uma mudança de atitude em relação ao assunto no público-alvo para pro- mover uma agenda política. A propaganda pode ser usada como uma forma de luta política. Apesar de o termo propa- ganda ter adquirido uma conotação negativa, por associação com os exemplos da sua utilização manipuladora, em seu sentido original ela é neutra, e pode se referir a usos conside- rados benignos ou inócuos, como recomendações de saúde pública e campanhas para encorajar os cidadãos a participar de um censo ou eleição. Internet: (com adaptações). Texto II Apublicidadeéumaatividadeprofissionaldedicadaàdifusão pública de empresas, produtos ou serviços. É a divulgação de produtos, serviços e ideias junto ao público, a fim de induzi-lo a uma atitude dinâmica favorável. Tem caráter comercial e é parte de um todo que se chama mercadologia, que abarca o conjunto de meios adotados para levar o produto ou serviço ao consumidor. É qualquer forma paga de apresentação não pessoal e promoção de ideias, bens e serviços por um patro- cinador identificado a uma audiência alvo através dos meios de comunicação de massa. A publicidade ajuda a identificar o significado e o papel dos produtos, fornecendo informação sobre marcas, companhias e organizações. Internet: (com adaptações). Texto III A publicidade é feita com a intenção de provocar em nós um grande interesse pelo produto ou serviço que ela anuncia e depois nos induzir a comprá-lo, mesmo que até então tal pro-
  • 4. 4 duto não significasse nada para nós. A linguagem da publici- dade é persuasiva e sabe como nos influenciar até de forma inconsciente. Ela associa o produto que quer nos vender a imagens prazerosas, fazendo-nos acreditar que, ao comprá -lo, alcançaremos alegria e felicidade. Internet: (com adaptações). Proposta: considerando o contexto suscitado pelos textos e pelas imagens precedentes, redija um texto dissertativo dis- cutindo a noção de autonomia apresentada a seguir, que é uma das acepções do verbete autonomia no Dicionário ele- trônico Houaiss da língua portuguesa. autonomia: s.f. 2. Segundo Kant (1724-1804), capacidade da vontade humana de se autodeterminar segundo uma legis- lação moral por ela mesma estabelecida, livre de qualquer fator estranho ou exógeno com uma influência subjugante, tal como uma paixão ou uma inclinação afetiva incoercível. Grupo II 1) Diferencie, a partir da obra de Kant, a Razão Pura e a Razão Prática. 2) Aponte o princípio da ação moral kantiana e descreva como é possível realizá-la. 3) A partir da sua leitura da obra“Resposta à pergunta: o que é o Esclarecimento?” relacione os conceitos apresentados por Kant: menoridade intelectual, maioridade intelectual, liberdade e autonomia. 4) Segundo Thoreau, explicite o que é a desobediência civil. 5) Argumente em um parágrafo sua compreensão crítica sobre a desobediência civil relacionando ao conceito de justiça. 6) Por que, para Thoreau, “o melhor governo é o que não governa”? Justifique a posição do autor em relação ao Estado.
  • 5. 5 Literatura Obras de referência PAS/UnB - Literatura 2º série A escravidão levou consigo ofícios e aparelhos, como terá sucedido a outras instituições sociais. Não cito al- guns aparelhos senão por se ligarem a certo ofício. Um deles era o ferro ao pescoço, outro o ferro ao pé; havia também a máscara de folha de flandres. A máscara fazia perder o vício da embriaguez aos escravos, por lhes tapar a boca. Tinha só três buracos, dois para ver, um para respirar, e era fechada atrás da cabeça por um cadeado. Com o vício de beber, per- diam a tentação de furtar, porque geralmente era dos vin- téns do senhor que eles tiravam com que matar a sede, e aí ficavam dois pecados extintos, e a sobriedade e a honesti- dade certas. Era grotesca tal máscara, mas a ordem social e humana nem sempre se alcança sem o grotesco, e alguma vez o cruel. Os funileiros as tinham penduradas, à venda, na porta das lojas. Mas não cuidemos de máscaras. O ferro ao pescoço era aplicado aos escravos fujões. Imaginai uma coleira grossa, com a haste grossa também, à direita ou à esquerda, até ao alto da cabeça e fechada atrás com chave. Pesava, naturalmente, mas era menos castigo que sinal. Escravo que fugia assim, onde quer que andasse, mostrava um reincidente, e com pouco era pegado. Há meio século, os escravos fugiam com frequ- ência. Eram muitos, e nem todos gostavam da escravidão. Sucedia ocasionalmente apanharem pancada, e nem todos gostavam de apanhar pancada. Grande parte era apenas re- preendida; havia alguém de casa que servia de padrinho, e o mesmo dono não era mau; além disso, o sentimento da pro- priedade moderava a ação, porque dinheiro também dói. A fuga repetia-se, entretanto. Casos houve, ainda que raros, em que o escravo de contrabando, apenas comprado no Va- longo, deitava a correr, sem conhecer as ruas da cidade. Dos que seguiam para casa, não raro, apenas ladinos, pediam ao senhor que lhes marcasse aluguel, e iam ganhá-lo fora, qui- tandando. Quem perdia um escravo por fuga dava algum di- nheiro a quem lho levasse. Punha anúncios nas folhas pú- blicas, com os sinais do fugido, o nome, a roupa, o defeito físico, se o tinha, o bairro por onde andava e a quantia de gratificação. Quando não vinha a quantia, vinha promessa: “gratificar-se-á generosamente” – ou “receberá uma a grati- ficação”. Muita vez o anúncio trazia em cima ou ao lado uma vinheta, figura de preto, descalço, correndo, vara ao ombro, e na ponta uma trouxa. Protestava-se com todo o rigor da lei contra quem o acoitasse. Ora, pegar escravos fugidios era um ofício do tem- po. Não seria nobre, mas por ser instrumento da força com que se mantêm a lei e a propriedade, trazia esta outra no- breza implícita das ações reivindicadoras. Ninguém se metia em tal ofício por desfastio ou estudo; a pobreza, a necessi- dade de uma achega, a inaptidão para outros trabalhos, o acaso, e alguma vez o gosto de servir também, ainda que por outra via, davam o impulso ao homem que se sentia bastante rijo para pôr ordem à desordem. (ASSIS, Machado de. Pai contra mãe. Contos: uma antologia, 1998.) 1) A perspectiva do narrador diante das situações e dos fatos relacionados à escravidão é marcada, sobretudo, a) pelo saudosismo. b) pela indiferença c) pela indignação. d) pela ironia. 2) O leitor é figura recorrente e fundamental na prosa machadiana. Verifica-se a inclusão do leitor na narrativa no seguinte trecho: a) “A fuga repetia-se, entretanto. Casos houve, ainda que raros, em que o escravo de contrabando, apenas comprado no Valongo, deitava a correr, sem conhecer as ruas da cidade.”(3º parágrafo) b) “Quando não vinha a quantia, vinha promessa: ‘gratificar- se-á generosamente’– ou‘receberá uma boa gratificação’. Muita vez o anúncio trazia em cima ou ao lado uma vinheta, figura de preto, descalço, correndo, vara ao ombro, e na ponta uma trouxa.”(4º parágrafo) c) “Não cito alguns aparelhos senão por se ligarem a certo ofício. Um deles era o ferro ao pescoço, outro o ferro ao pé; havia também a máscara de folha de flandres.” (1º parágrafo) d) “O ferro ao pescoço era aplicado aos escravos fujões. Imaginai uma coleira grossa, com a haste grossa também, à direita ou à esquerda, até ao alto da cabeça e fechada atrás com chave.”(2º parágrafo) 3) Em “o sentimento da propriedade moderava a ação, porque dinheiro também dói.” (3º parágrafo), a “ação” a que se refere o narrador diz respeito a) à fuga dos escravos. b) ao contrabando de escravos c) aos castigos físicos aplicados aos escravos d) às repreensões verbais feitas aos escravos. Uma vez na terra, o Diabo não perdeu um minuto. Deu-se pressa em enfiar a cogula beneditina, como hábito de boa fama, e entrou a espalhar uma doutrina nova e extraordinária, com uma voz que reboava nas entranhas do século. Ele prometia aos seus discípulos e fiéis as delícias da terra, todas as glórias, os deleites mais íntimos. Confessava que era o Diabo; mas confessava-o para retificar a noção que os homens tinham dele e desmentir as histórias que a seu respeito contavam as velhas beatas. – Sim, sou o Diabo, repetia ele; não o Diabo das noites sulfúreas, dos contos soníferos, terror das crianças, masoDiaboverdadeiroeúnico,oprópriogêniodanatureza, a que se deu aquele nome para arredá-lo do coração dos homens. Vede-me gentil e airoso. Sou o vosso verdadeiro pai. Vamos lá: tomai daquele nome, inventado para meu desdouro, fazei dele um troféu e um lábaro, e eu vos darei tudo, tudo, tudo, tudo, tudo, tudo… Era assim que falava, a princípio, para excitar o entusiasmo, espertar os indiferentes, congregar, em suma, as multidões ao pé de si. E elas vieram; e logo que vieram, o Diabo passou a definir a doutrina. A doutrina era a que podia ser na boca de um espírito de negação. Isso quanto à substância, porque, acerca da forma, era umas vezes sutil, outras cínica e deslavada. Clamava ele que as virtudes aceitas deviam ser substituídas por outras, que eram as naturais e legítimas. A soberba, a luxúria, a preguiça foram reabilitadas, e assim
  • 6. 6 também a avareza, que declarou não ser mais do que a mãe daeconomia,comadiferençaqueamãeerarobusta,eafilha uma esgalgada. A ira tinha a melhor defesa na existência de Homero; sem o furor de Aquiles, não haveria a Ilíada:“Musa, canta a cólera de Aquiles, filho de Peleu”... [...] Pela sua parte o Diabo prometia substituir a vinha do Senhor, expressão metafórica, pela vinha do Diabo, locução direta e verdadeira, pois não faltaria nunca aos seus com o fruto das mais belas cepas do mundo. Quanto à inveja, pregou friamente que era a virtude principal, origem de prosperidades infinitas; virtude preciosa, que chegava a suprir todas as outras, e ao próprio talento. As turbas corriam atrás dele entusiasmadas. O Diabo incutia-lhes, a grandes golpes de eloquência, toda a nova ordem de coisas, trocando a noção delas, fazendo amar as perversas e detestar as sãs. Nada mais curioso, por exemplo, do que a definição que ele dava da fraude. Chamava-lhe o braço esquerdo do homem; o braço direito era a força; e concluía: Muitos homens são canhotos, eis tudo. Ora, ele não exigia que todos fossem canhotos; não era exclusivista. Que uns fossem canhotos, outros destros; aceitava a todos, menos os que não fossem nada. A demonstração, porém, mais rigorosa e profunda, foi a da venalidade. Um casuísta do tempo chegou a confessar que era um monumento de lógica. A venalidade, disse o Diabo, era o exercício de um direito superior a todos os direitos. Se tu podes vender a tua casa, o teu boi, o teu sapato, o teu chapéu, coisas que são tuas por uma razão jurídica e legal, mas que, em todo caso, estão fora de ti, como é que não podes vender a tua opinião, o teu voto, a tua palavra, a tua fé, coisas que são mais do que tuas, porque são a tua própria consciência, isto é, tu mesmo? Negá-lo é cair no absurdo e no contraditório. Pois não há mulheres que vendem os cabelos? não pode um homem vender uma parte do seu sangue para transfundi-lo a outro homem anêmico? e o sangue e os cabelos, partes físicas, terão um privilégioquesenegaaocaráter,àporçãomoraldohomem? Demonstrando assim o princípio, o Diabo não se demorou em expor as vantagens de ordem temporal ou pecuniária; depois, mostrou ainda que, à vista do preconceito social, conviria dissimular o exercício de um direito tão legítimo, o que era exercer ao mesmo tempo a venalidade e a hipocrisia, isto é, merecer duplicadamente. (ASSIS, Machado de. A igreja do diabo. Contos: uma antologia, 1998.) 4)“Ele prometia aos seus discípulos e fiéis as delícias da terra, todas as glórias, os deleites mais íntimos.” (1º parágrafo) Tal promessa do Diabo constitui, sobretudo, uma inversão da seguinte máxima cristã: a) “Amai-vos uns aos outros.” b) “Aquele que não tiver pecado, atire a primeira pedra.” c) “Não façais da casa do meu Pai casa de comércio.” d) “Meu reino não é deste mundo.” 5) No último parágrafo, o principal recurso retórico mobilizado pelo Diabo em sua argumentação a respeito da venalidade é a) a repetição. b) a interrogação. c) a citação. d) a hesitação. 6) Fui até a cama; vi o cadáver, com os olhos arregalados e a boca aberta, como deixando passar a eterna palavra dos séculos:“Caim, que fizeste de teu irmão?” (Machado de Assis,“Várias Histórias”, em“Obra Completa”,v. II, Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 1979, p. 532). a) A qual episódio do conto essa citação bíblica remete? b) O que leva o narrador a relacionar o episódio narrado com a citação bíblica? c) De que modo o desfecho do conto revela uma outra faceta do narrador-personagem? Assim, por uma ironia da sorte, os bens do coronel vinham parar às minhas mãos. Cogitei em recusar a herança. Parecia-me odioso receber um vintém do tal espólio (…). Pensei nisso três dias, e esbarrava sempre na consideração de que a recusa podia fazer desconfiar alguma cousa. No fim dos três dias, assentei num meio-termo; receberia a herança e dá-la-ia toda, aos bocados e às escondidas. (…) era também o modo de resgatar o crime por um ato de virtude; pareceu-me que ficava assim de contas saldas. (…) Entrando na posse da herança, converti-a em títulos e dinheiro. Eram então passados muitos meses, e a ideia de distribuí-la toda em esmolas e donativos pios não me dominou como da primeira vez; achei mesmo que era afetação. (Machado de Assis) 7) Julgue os itens a seguir segundo o fragmento citado, do conto“O enfermeiro”. (1) A modéstia do narrador justifica que ele atribua o recebimento da herança à obra do acaso. (2) O ódio que o narrador nutrira pelo coronel, em vida, irradiava, por isso o narrador também achava “odioso” receber qualquer vintém do tal espólio. (3) O receio de revelar sua ambição fazia com que o narrador adiasse a aceitação dos bens do coronel. (4) Sob o impacto da notícia da herança, o narrador planeja agir considerando a opinião alheia e a sua consciência moral.
  • 7. 7 Literatura 8) No fragmento transcrito, nota-se que o tempo e as circunstâncias agiram sobre as intenções iniciais do enfermeiro. Um dos temas prediletos do autor é justamente o processo de transformação vivenciado pela personagem sob a ação dessas forças, o que é ilustrado, metaforicamente, em passagem de outra narrativa de Machado. Assinale essa passagem. a) “…nem que venham agora contra mim o sol e a lua, não recuarei de minhas ideias”. b) “Mas há ideias que são da família das moscas teimosas: por mais que a gente as sacuda, elas tornam e pousam.” c) “Que é a saudade senão uma ironia do tempo e da fortuna?” d) “Adeus, escrúpulos! Não tardou que o sapato se acomodasse ao pé, e aí foi ele, estrada fora, pisando folgadamente por cima de ervas e pedregulhos.” “Já sabe que foi em 1860. No ano anterior, ali pelo mês de agosto, tendo eu quarenta e dois anos, fiz-me teólogo, — quero dizer, copiava os estudos de teologia de um padre de Niterói, antigo companheiro de colégio, que assim me dava, delicadamente, casa, cama e mesa. Naquele mês de agosto de 1859, recebeu ele uma carta de um vigário de certa vila do interior, perguntando se conhecia pessoa entendida, discreta e paciente, que quisesse ir servir de enfermeiro ao coronel Felisberto, mediante um bom ordenado. O padre falou-me, aceitei com ambas as mãos, estava já enfadado de copiar citações latinas e fórmulas eclesiásticas. Vim à Corte despedir-me de um irmão, e segui para a vila. Chegando à vila, tive más notícias do coronel. Era homem insuportável, estúrdio, exigente, ninguém o aturava, nem os próprios amigos. Gastava mais enfermeiros que remédios.” (ASSIS, Machado de. Obra Completa. Rio de Janeiro: Nova Aguilar 1994. v. II. p. 32) 9) O texto, extraído do conto“O Enfermeiro”, de Machado de Assis, permite observar o trabalho de composição estética do autor. Com relação aos procedimentos de construção do texto literário, julgue os itens a seguir: (1) Utiliza do escapismo e da imaginação para compor um texto lírico e emotivo, com a finalidade de comover e persuadir o leitor. (2) Faz uso da linguagem subjetiva e função emotiva para compor um texto em verso, privilegiando a dramaticidade do gênero teatral. (3) Cria um narrador em terceira pessoa que assume contornos épicos ao empregar como recurso estético diversas hipérboles na caracterização do herói. (4) Organiza a referência espaço-temporal, a qual é utilizada pelo narrador personagem como estratégia discursiva para apresentar ao leitor o universo narrativo. “Não queria arrancar-lhe as ilusões. Também ele, em criança, e ainda depois, foi supersticioso, teve um arsenal inteiro de crendices, que a mãe lhe incutiu e que aos vinte anos desapareceram. No dia em que deixou cair toda essa vegetação parasita, e ficou só o tronco da religião, ele, como tivesse recebido da mãe ambos os ensinos, envolveu-os na mesma dúvida, e logo depois em uma só negação total. Camilo não acreditava em nada. Por quê? Não poderia dizê- lo, não possuía um só argumento; limitava-se a negar tudo. E digo mal, porque negar é ainda afirmar, e ele não formulava incredulidade; diante do mistério, contentou-se em levantar os ombros, e foi andando”. [12º parágrafo] (A cartomante, de Machado de Assis) 10) Segundo o trecho acima, Camilo a) Ainda criança, preferiu não acreditar em nada. b) Desde criança desprezava superstições. c) Diante do desconhecido, preferiu ficar indiferente. d) Era crédulo, apesar de negar qualquer fé. 11) Em relação às descrenças de Camilo, há uma opinião do narrador em: a) “diante do mistério, contentou-se em levantar os ombros, e foi andando.” b) “Camilo não acreditava em nada. Por quê? Não poderia dizê-lo (...)” c) “E digo mal, porque negar é ainda afirmar, e ele não formulava a incredulidade” d) “No dia em que deixou cair toda essa vegetação parasita, e ficou só o tronco da religião.” 12) Em alguns momentos, o narrador deixa escapar juízos de valor em relação aos personagens e fatos. Podemos observar isso em a) “Os dois primeiros eram amigos de infância.” b) “...onde casara com uma dama formosa e tonta” c) “Camilo ensinou-lhe as damas e o xadrez...” d) “Era um pouco mais velha que ambos...” 13) Ao receber a primeira carta anônima, Camilo deixou de ir com frequência a casa de Vilela pois a) arrependeu-se da traição. b) cansou-se da aventura. c) ficou envergonhado. d) queria afastar a desconfiança. Canção do Exílio Minha terra tem palmeiras, Onde canta o Sabiá; As aves, que aqui gorjeiam, Não gorjeiam como lá. Nosso Céu tem mais estrelas, Nossas várzeas têm mais flores, Nossos bosques têm mais vida, Nossas vidas mais amores. Em cismar, sozinho, à noite, Mais prazer encontro eu lá;
  • 8. 8 Minha terra tem palmeiras, Onde canta o Sabiá. Minha terra tem primores, Que tais não encontro eu cá; Em cismar – sozinho, à noite – Mais prazer encontro eu lá; Minha terra tem palmeiras, Onde canta o Sabiá. Não permita Deus que eu morra Sem que eu volte para lá; Sem que desfrute os primores Que não encontro por cá; Sem qu’inda aviste as palmeiras, Onde canta o Sabiá. (Gonçalves Dias) 14) (UE-Londrina - com adaptações) A partir da leitura do poema, julgue os itens a seguir. (1) A pátria é retratada de maneira que se tenha um registro fiel da sua fauna e flora, sem interferência da emoção do poeta, como em“Canção do Exílio”. (2) A persistência de traços do espírito clássico impede o exagero do sentimentalismo, encontrado, por exemplo, em Casimiro de Abreu. (3) O indianismo é fiel à verdade da vida indígena, não apresentando a distorção poética observada em outros escritores. (4) Protótipo do byroniano, convivem lado a lado o humor negro e o extremo idealismo. (5) Apóia-se nos cânones formais da poesia clássica greco- romana; emprega figuras de ornamento, até com certo exagero; evidencia a musicalidade do verso pelo uso de aliterações. (6) Exalta a terra natal; é nostálgica e saudosista; o tema é tratado de modo sentimental, emotivo. (7) Utiliza-se do verso livre, como ideal de liberdade criativa; sua linguagem é hermética, erudita; glorifica o canto dos pássaros e a vida selvagem. (8) Poesia e música se confundem, como artifício simbólico; a natureza e o tema bucólico são tratados com objetividade; usa com parcimônia as formas pronominais de primeira pessoa. Ideias íntimas Ossian o bardo é triste como a sombra Que seus cantos povoa. O Lamartine É monótono e belo como a noite, Como a lua no mar e o som das ondas... Mas pranteia uma eterna monodia, Tem na lira do gênio uma só corda; Fibra de amor e Deus que um sopro agita: Se desmaia de amor a Deus se volta, Se pranteia por Deus de amor suspira. Basta de Shakespeare. Vem tu agora, Fantástico alemão, poeta ardente Que ilumina o clarão das gotas pálidas Do nobre Johannisberg! Nos teus romances Meu coração deleita-se... Contudo, Parece-me que vou perdendo o gosto. (…) (Álvares de Azevedo, Lira dos vinte anos) 15) Considerando-se esse excerto no contexto do poema a que pertence (Ideias íntimas), julgue os itens a seguir. (1) O eu lírico manifesta tanto seu apreço quanto sua insatisfação em relação aos escritores que evoca. (2) A dispersão do eu lírico, própria da ironia romântica, exprime-se na métrica irregular dos versos. (3) Oeulíricorejeitaaliteraturaeosdemaispoetasporque se identifica inteiramente com a natureza. (4) A recusa dos autores estrangeiros manifesta o projeto nacionalista típico da segunda geração romântica brasileira. (5) Lamartine é criticado por sua irreverência para com Deus e a religião, muito respeitados pela segunda geração romântica. 16) Sobre a obra de Álvares de Azevedo e o período em que está inserido, julgue os itens a seguir. (1) A obra de Álvares de Azevedo é marcada por uma visão dualista que envolve atração e medo, desejo e culpa, temendo, sobretudo, a realização amorosa. (2) Articulação consciente de um projeto literário baseado na contradição, utilizando as entidades mitológicas Ariel e Caliban para representarem, respectivamente, o bem e o mal. (3) A obra de Álvares de Azevedo é caracterizada por um grande engajamento social, conciliando ideias de reforma social com procedimentos específicos da poesia. (4) É possível perceber traços do pessimismo e da melancolia na obra de Azevedo, elementos característicos também na obra do poeta Byron. Elementos de humor e drama em algumas obras, assim como traços de ironia, também são perceptíveis. (5) Linguagem, o céu, o infinito, o deserto. (6) Grupo composto por jovens poetas universitários de São Paulo e Rio de Janeiro nas décadas de 50 e 60 do século XIX. Foram fortemente influenciados pela leitura de obras literárias de Musset e Byron, escritores cujo estilo de vida imitavam. (7) Uma de suas principais características é o espírito do mal do século, uma onda de pessimismo doentio que se traduzia no apego a certos valores decadentes, como a bebida e o vício, na atração pela noite e pela morte. (8) Entre as principais características do Ultrarromantismo estão o nacionalismo, o indianismo, o regionalismo, a pesquisa histórica, folclórica e linguística, além da crítica aos problemas nacionais. (9) Também conhecido como segunda geração do romantismo, o Ultrarromantismo apresentou características como egocentrismo exacerbado, pessimismo, satanismo e atração pela morte. Meus oito anos
  • 9. 9 Literatura Oh ! que saudades que eu tenho Da aurora da minha vida, Da minha infância querida Que os anos não trazem mais ! Que amor, que sonhos, que flores, Naquelas tardes fagueiras À sombra das bananeiras, Debaixo dos laranjais ! Como são belos os dias Do despontar da existência ! – Respira a alma inocência Como perfumes a flor; O mar é – lago sereno, O céu – um manto azulado, O mundo – um sonho dourado, A vida – um hino d’amor ! Que auroras, que sol, que vida, Que noites de melodia Naquela doce alegria, Naquele ingênuo folgar ! O céu bordado d’estrelas, A terra de aromas cheia, As ondas beijando a areia E a lua beijando o mar ! Oh ! dias de minha infância ! Oh ! meu céu de primavera ! Que doce a vida não era Nessa risonha manhã ! Em vez de mágoas de agora, Eu tinha nessas delícias De minha mãe as carícias E beijos de minha irmã ! Livre filho das montanhas, Eu ia bem satisfeito, De camisa aberta ao peito, – Pés descalços, braços nus – Correndo pelas campinas À roda das cachoeiras, Atrás das asas ligeiras Das borboletas azuis ! Naqueles tempos ditosos Ia colher as pitangas, Trepava a tirar as mangas, Brincava à beira do mar; Rezava às Ave-Marias, Achava o céu sempre lindo, Adormecia sorrindo, E despertava a cantar ! Oh ! que saudades que eu tenho Da aurora da minha vida Da minha infância querida Que os anos não trazem mais ! – Que amor, que sonhos, que flores, Naquelas tardes fagueiras À sombra das bananeiras, Debaixo dos laranjais ! (Obras de Casimiro de Abreu, edição crítica de Sousa da Silveira, Cia. Editora Nacional, São Paulo, 1940.) 17) Sobre as características da obra de Casimiro de Abreu, julgue os itens a seguir. (1) Um dos pontos altos de sua poesia é a associação do amor à vida e à sensualidade, características que não são observadas na obra de Álvares de Azevedo. (2) Sua lírica é marcada pela abordagem graciosa de certos temas, como a infância, a pátria, a saudade, a solidão, a natureza e o amor. (3) A principal característica de sua obra reside no projeto literário baseado na contradição. Esse dualismo pode ser observado em sua principal obra poética, Lira dos vinte anos. (4) Sua poesia, embora não tenha apresentado grandes inovações estéticas para a literatura brasileira, contribuiu para a consolidação e para a popularização do Romantismo. (5) Sua poesia é caracterizada por uma grande preocupação espiritual, apresentando caráter panteísta. 18) O poema de Casimiro de Abreu reflete sobre a infância, vista no texto de maneira idealizada. Considere essa informação e julgue os itens a seguir. (1) A infância sempre parecerá aos olhos do indivíduo como pura e perfeita, porém logo percebe-se de que tudo é idealização. (2) Apenas a infância vivida no campo, no meio da natureza, pode ser considerada feliz e completa. (3) O modo como vivemos na infância influenciará na maneira como iremos vivenciar nossa vida adulta. (4) O presente revela-se triste e repleto de desilusões, contrastando com um passado feliz, cheio de realizações. 19) A valorização da natureza é um traço marcante do Romantismo Brasileiro. Destaque do poema versos em que a natureza passa a refletir o estado de espírito do eu-lírico. 20) As características do Romantismo encontradas no poema de Casimiro de Abreu são: a) A abordagem de temas ligados a questões sociais e a reflexão sobre problemas existenciais. b) A opção pela visão idealizada da vida e o culto à natureza. c) A preocupação social do eu-lírico e a visão idealizada do passado. d) A prevalência do lirismo amoroso e a preocupação com a temática nacionalista. 21) O poeta utiliza-se dessa visão idealizada do passado como forma de escapismo, fugindo assim do momento presente, visto de maneira pessimista. Que versos do poema revelam esse presente pessimismo?
  • 10. 10 22) Nos versos“Oh! que saudades que eu tenho / Da aurora da minha vida, / Da minha infância querida / Que os anos não trazem mais!”, o eu-lírico expressa: a) A alegria com a certeza de que esse passado feliz terá consequências no presente. b) A angústia diante de um passado inegavelmente idealizado. c) O saudosismo sentido, confirmando que esse passado não irá refletir-se no presente. d) O sofrimento diante da oposição de um passado feliz e um futuro duvidoso. Marieta Como o gênio da noite, que desata O véu de rendas sobre a espádua nua, Ela solta os cabelos... Bate a lua Nas alvas dobras de um lençol de prata. O seio virginal, que a mão recata, Embalde o prende a mão... cresce, flutua... Sonha a moça ao relento... Além na rua Preludia um violão na serenata! ... ... Furtivos passos morrem no lajedo... Resvala a escada do balcão discreta... Matam lábios os beijos em segredo... Afoga-me os suspiros, Marieta! Ó surpresa! Ó palor! Ó pranto! Ó medo! Ai! Noites de Romeu e Julieta! ... CASTRO ALVES. 23) Analisando o conteúdo do texto, é possível observar que o eu lírico: a) Pratica a poética mórbida e doentia da morte. b) Nega a concepção da mais conhecida história de amor de todos os tempos. c) Projeta a figura da mulher impossível de ser atingida amorosamente; d) Põe em destaque a mulher sensual, erótica. 24) Sobre a literatura produzida por Castro Alves, julgue os itens a seguir: (1) Representa, na evolução da poesia romântica brasileira, um momento de maturidade e transição, substituindo temáticas ufanistas e de idealização do amor por temáticas mais críticas e realistas. (2) Sua produção literária estava voltada ao projeto de construção da cultura brasileira, dando destaque ao romance indianista. (3) Desprezouorigordasregrasgramaticais,aproximando a linguagem literária da linguagem falada pelo povo brasileiro. (4) A ironia era um traço constante em sua obra, representando uma forma não passiva de ver a realidade, tecendo uma fina crítica à noção de ordem e às convenções do mundo burguês. (5) Apresenta uma linguagem voltada para a defesa de seusideaisliberaise,porisso,égrandiosaehiperbólica, prenunciando a perspectiva crítica e objetiva do Realismo. Mas, havia ordem para não desembarcar, e Bom- Crioulo, como toda a guarnição, passou a tarde numa sensaboria, cabeceando de fadiga e sono, ocupado em pequenos trabalhos de asseio e manobras rudimentares. - Diabo de vida sem descanso! O tempo era pouco para um desgraçado cumprir todas as ordens. E não as cumprisse! Golilha com ele, quando não era logo metido em ferros... Ah! Vida, vida!... Escravo na fazenda, escravo a bordo, escravo em toda parte... E chamava-se a isso servir à Pátria! (CAMINHA, Adolfo. O bom crioulo) 25) A respeito do narrador do romance Bom-Crioulo, de Adolfo Caminha, julgue os itens a seguir. (1) O narrador naturalista descreve com objetividade e riqueza de detalhes o cenário em que se ambienta o romance, como se observa neste trecho: “A lua, surgindo lenta e lenta, cor de fogo, a princípio, depois fria e opalescente, misto de névoa e luz, alma e solidão, melancolizava o largo cenário das ondas, derramando sobre o mar essa luz meiga, essa luz ideal que penetra o coração do marinheiro, comunicando-lhe uma saudade infinita dos que navegam". (2) O narrador descreve com minúcia o pensamento das personagens, desvendando seu refinado sistema de valores culturais, como se observa neste trecho: “Estimava Bom-Crioulo desde o dia em que ele, desinteressadamente, por um acaso providencial, livrou-a de morrer na ponta de uma faca, história de ladrões... [...]". (3) O narrador evidencia a percepção sofisticada de Amaro, que fica nítida nas referências do marinheiro à cultura grega: “Aleixo surgia-lhe agora em plena e exuberante nudez, muito alvo, as formas roliças de calipígio ressaltando na meia sombra voluptuosa do aposento,napenumbraacariciadoradaqueleignorado e impudico santuário de paixões inconfessáveis... Belo modelo de efebo que a Grécia de Vênus talvez imortalizasse em estrofes de ouro límpido e estátuas duma escultura sensual e pujante". (4) O narrador interpreta o conflito vivido pelo ex- escravo, justapondo uma percepção animalizante ao lado de outra, construída por meio de comparações artísticas: “Dentro do negro rugiam desejos de touro ao pressentir a fêmea... Todo ele vibrava, demorando- se na idolatria pagã daquela nudez sensual como um fetiche diante de um símbolo de ouro ou como um artista diante duma obra-prima". O Naturalismo fundamentou-se na ideia, extraída do pensamento científico da época, de que o homem é um produto do meio, da hereditariedade e do momento. Partindodetalprincípio,procuravafazerdaficçãoumaforma de estudar e diagnosticar leis que regiam o comportamento de pessoas e grupos na esfera social em que atuavam. Bom- Crioulo , romance de Adolfo Caminha, publicado em 1895,
  • 11. 11 Literatura coloca em cena questões incômodas para a moral vigente e instituições do Estado. 26) Com base no exposto e no romance O bom crioulo, de Adolfo Caminha, julgue os itens a seguir: (1) O personagem Aleixo, que dá título ao romance, escravo fugitivo, tornou-se um marinheiro violento, justificando-se, com isso, a tese determinista, e naturalista, de que o meio, a raça e a hereditariedade moldam o indivíduo. (2) O enredo foca uma relação homossexual entre um negro e um branco, que a narrativa pontua, em alguns momentos, como caso patológico, apresentando um desfecho trágico. (3) O enredo ilustra e compara reações e desejos de Amaro com os dos animais, metaforizando, como exemplo de romance naturalista, a obediência instintiva às “leis naturais”. (4) O título e o enredo do romance apresentam, ao mesmo tempo, ironia e discriminação por marcar um preconceito e caracterizar Amaro como violento, baderneiro e criminoso. (5) O tratamento repressivo dispensado aos marinheiros que quebravam a disciplina imposta pelos comandantes é salientado amplamente, inclusive os castigos corporais. O Assinalado Tu és o louco da imortal loucura, O louco da loucura mais suprema. A Terra é sempre a tua negra algema, Prende-te nela a extrema Desventura. Mas essa mesma algema de amargura, Mas essa mesma Desventura extrema Faz que tu’alma suplicando gema E rebente em estrelas de ternura. Tu és o Poeta, o grande Assinalado Que povoas o mundo despovoado, De belezas eternas, pouco a pouco… Na Natureza prodigiosa e rica Toda a audácia dos nervos justifica Os teus espasmos imortais de louco! (Cruz e Sousa) 27) Sobre a poesia de Cruz e Sousa, julgue os itens a seguir: (1) Sua poesia, dentro do movimento parnasiano, representa um momento de descontração e investigação. Nela, verificam-se três fases: a fase romântica; a fase parnasiana e a fase pré-simbolista. (2) O poeta equilibrou a dimensão social com a dimensão coletiva, ilustrando, por meio desse procedimento, o comportamento característico da segunda geração romântica. (3) O desejo de fugir da realidade, de transcender a matéria e integrar-se espiritualmente no cosmo, posturas verificadas em sua poesia, originam-se do sentimento de opressão produzido pelo capitalismo e também do drama racial e pessoal que o autor vivia. (4) Formalmente, o poeta revela influências árcades e renascentistas, sem, contudo, cair no formalismo parnasiano. Embora preferisse o verso decassílabo, CruzeSousaexplorououtrasmétricas,particularmente a redondilha maior. 28) Identifique nos versos finais do poema "O assinalado", de Cruz e Sousa, os elementos que caracterizam a poesia simbolista do autor. Depois assinale a opção correta. a) A poesia é criação de belezas eternas. b) A poesia é a linguagem que provoca a loucura do poeta. c) O poeta se distingue dos mortais comuns porque é louco. d) A natureza oculta a loucura do poeta. Mal secreto Se a cólera que espuma, a dor que mora N’aIma, e destrói cada ilusão que nasce, Tudo o que punge, tudo o que devora O coração, no rosto se estampasse; Se se pudesse, o espírito que chora, Ver através da máscara da face, Quanta gente, talvez, que inveja agora Nos causa, então piedade nos causasse! Quanta gente que ri, talvez, consigo Guarda um atroz, recôndito inimigo, Como invisível chaga cancerosa! Quanta gente que ri, talvez existe, Cuja ventura única consiste Em parecer aos outros venturosa! (CORREIA, R. In: PATRIOTA, M. Para compreender Raimundo Correia. Brasilia: Alhambra, 1995.) 29) (ENEM) Coerente com a proposta parnasiana de cuidado formal e racionalidade na condução temática, o soneto de Raimundo Correia reflete sobre a forma como as emoções do indivíduo são julgadas em sociedade. Na concepção do eu lírico, esse julgamento revela que: a) a necessidade de ser socialmente aceito leva o indivíduo a agir de forma dissimulada. b) o sofrimento íntimo torna-se mais ameno quando compartilhado por um grupo social. c) a capacidade de perdoar e aceitar as diferenças neutraliza o sentimento de inveja. d) o instinto de solidariedade conduz o indivíduo a apiedar-se do próximo. e) a transfiguração da angústia em alegria é um artifício nocivo ao convívio social. Ismália Quando Ismália enlouqueceu, Pôs-se na torre a sonhar... Viu uma lua no céu, Viu uma lua no mar. No sonho em que se perdeu,
  • 12. 12 Banhou-se toda em luar... Queria subir ao céu, Queria descer ao mar... E, no desvario seu, Na torre pôs-se a cantar... Estava perto do céu, Estava longe do mar... E como um anjo pendeu As asas para voar... Queria a lua do céu, Queria a lua do mar... As asas que Deus lhe deu Ruflaram de par em par... Sua alma subiu ao céu, Seu corpo desceu ao mar... (In: Obra completa. Rio de Janeiro: Aguilar, 1960 p .467.) 30) Chamamos de antítese a figura de linguagem que consiste no emprego de termos com sentidos opostos. Qual das alternativas a seguir apresenta uma antítese? a) “Quando Ismália enlouqueceu, Pôs-se na torre a sonhar...” b) “ Estava perto do céu, Estava longe do mar...” c) “E como um anjo pendeu As asas para voar...” d) “As asas que Deus lhe deu Ruflaram de par em par...” 31) De acordo com alguns versos do poema, Ismália queria subir ao céu e descer ao mar. Esse desejo de Ismália representa: a) uma postura contraditória b) uma postura racional c) uma postura religiosa d) uma postura romântica 32) O Simbolismo, por ser um movimento antilógico e antirracional, valoriza os aspectos interiores e pouco conhecidos da alma e da mente humana. São palavras que compravam essa característica simbolista no texto, exceto: a) enlouqueceu b) sonhar c) cantar d) desvario 33) Sobre o poema Ismália, julgue os itens a seguir: (1) Todo o poema é construído com base em antíteses. As antíteses articulam-se em torno dos desejos contraditórios de Ismália, que se dividem entre a realidade espiritual e a realidade concreta. (2) A partir da análise desse poema podemos afirmar que, para os simbolistas, sonho e loucura levam à libertação, pois a razão e a lógica aprisionam o homem. Dar vazão ao mundo interior; explorar zonas ocultas da mente humana é o mesmo que transcender os limites do mundo real. (3) De acordo com o desfecho do poema, o céu recebe a alma; logo, liga-se ao aspecto espiritual. O mar recebe o corpo; por conseguinte, representa o universo material.