3. Muitas pessoas sentem dificuldades ao ler livros ou textos sobre Filosofia. Isto pode
pode acontecer por vários motivos; seja por causa do vocabulário, dos conceitos abstra-
tos, pelo assunto, pela profundidade das explicações ou, até mesmo, por não conseguirem
acompanhar o raciocínio do filósofo. Não se deve deixar de considerar, porém, que muitas
das dificuldades aparecem porque a maioria dos leitores não fazem as perguntas corretas
ou adequadas ao contexto. Isto mesmo: pode-se fazer perguntas texto, ao livro e, quando
possível, ao filósofo!
Livros, geralmente, são registros do que pessoas pensaram, estudaram, elaboraram,
criaram ou experimentaram. É comum o autor não conseguir expressar, em palavras, tudo o
que deseja externar. Você sempre deve questionar: De onde o filósofo tirou isso? Que tipo
de experiência ele deve ter tido para escrever tais coisas?
No início, durante e ao final da leitura, pergunte a si mesmo: Qual é a questão que o
filósofo está buscando responder? Qual é o problema que está sendo tratado?
Não deixe de se indagar: Como o filósofo aborda essa questão? Qual é o seu estilo?
Quais são os seus principais argumentos? Quais são as palavras e ideias recorrentes?
Ao ler o texto, você sempre deve se perguntar: O que isso quer dizer na realidade? A
que isso corresponde na vida real?
Você conhece algum outro autor que já tratou da mesma questão? Ou este que você lê
é o primeiro a falar de tais assuntos? Quais são as semelhanças e as diferenças com aquilo
que você já sabe sobre o assunto? Houve acréscimo?
Seja bem-vindo à tarefa de construção de vários conhecimentos e, principalmente,
ao estudo de questões gerais e fundamentais à existência humana, que são atributos da
Filosofia.
Um abraço!
O autor.
Apresentação
4.
5. Unidade I - Conhecimento humano 8
1
Capítulo
Opinião e conhecimento 11
Juízos de Fato e Juízos de Valor 12
As diferenças entre Opinião e Conhecimento 13
2
Capítulo
O Racionalismo de Descartes 16
O “novo caminho” de Descartes 17
A Dúvida Metódica e as Ideias Inatas 18
3
Capítulo
O Empirismo de John Locke 21
O conhecimento para Locke 23
Nascemos como "uma folha em branco" 24
4
Capítulo
O conhecimento para Kant 26
A revolução de Kant 28
Razão, experiência e conhecimento 29
Unidade II - Filosofia e Política 34
5
Capítulo
Política e Poder 37
Conceito de política 38
As formas de poder 38
6
Capítulo
O Estado para Hobbes e Locke 42
Thomas Hobbes (1588 - 1670) 43
John Locke (1632 - 1704) 46
7
Capítulo
Rousseau e Adam Smith 48
Rousseau, "O Mito do Bom Selvagem" e o "O Contrato Social" 49
Adam Smith, Liberdade e Estado 51
6. 8
Capítulo
Os Poderes para Montesquieu 53
Montesquieu e a observação das sociedades 54
A liberdade e a Teoria dos Três Poderes 55
Unidade III - Pensamento autônomo 62
9
Capítulo
O valor das opiniões 65
Opiniões e Responsabilidade 66
Obstáculos para o pensamento próprio 67
10
Capítulo
Iluminismo 70
O Iluminismo 71
O projeto Enciclopédia 73
11
Capítulo
Pensadores iluministas 75
d’Alembert e Diderot: a razão como princípio 76
Voltaire: liberdade e tolerância 78
12
Capítulo
Sapere aude 80
Esclarecimento e maioridade 81
Coragem e uso público da razão 82
Unidade IV - Ética, Moral e Liberdade 88
13
Capítulo
Ética e Moral 91
Ações e decisões humanas 92
Definições de Ética e Moral 94
14
Capítulo
Virtude 98
"Uma andorinha sozinha não faz verão" 99
A noção de Virtude 99
7. 15
Capítulo
Autocontrole e felicidade 103
Felicidade: meios e fins 104
O conceito de Autocontrole 106
16
Capítulo
Liberdade 108
Os obstáculos para a Liberdade 109
O livre-arbítrio 111
Referências bibliográficas 117
9. Conhecimento humano 9
Se você olhar agora para a rua, é possí-
vel que enxergue algumas pessoas. Apesar
de nunca tê-las visto antes, você deve ad-
mitir que já tem muitas informações sobre
elas: sabe que usam as pernas para andar,
respiram e se alimentam como você, possi-
velmente, falam o mesmo idioma que você.
Sabe também que todas elas possuem suas
histórias de vida, têm preferências e gostos,
e muitos outros aspectos. Além disso, você
tem consciência de várias coisas que não
podem fazer: elas não podem voar batendo
as mãos, farejar igual a um cachorro, subir
as paredes igual a uma lagartixa, ficar muito
tempo sem respirar ou tomar água, etc.
Todos esses aspectos que você já sabe
são suficientes para dizer que conhece
aquelas pessoas? Parece que não. Qual é a
diferença do conhecimento que você tem
dessas pessoas e o que tem das pessoas da
sua família? Afinal, o que significa conhecer
algo ou alguém? Existem graus maiores ou
menores de conhecimento? Se existem, o
que determina a faculdade de se ter mais
ou menos conhecimento? O que diferencia
um conhecimento verdadeiro de um falso?
Qual é a diferença entre ter uma simples
opinião e ter um verdadeiro conhecimento
sobre algo? Será que só existe conhecimen-
to quando nós conseguimos explicar algu-
ma coisa? Enfim, o que os grandes filósofos
pensaram sobre isso?
Falar sobre conhecimento humano é
abordar um assunto amplo, que pode ser
tratado de diversas maneiras. Podemos
falar sobre o conhecimento humano por
meio das pesquisas sobre o funcionamento
do cérebro, com o uso das pesquisas antro-
pológicas, verificando como cada cultura
procura explicar o mundo em que vive. O
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10. 10 Unidade I
conhecimento também é passível de explicações por meio da Biologia, da História, da Arte
e de várias áreas desenvolvidas pelo ser humano.
Porém, em se tratando de Filosofia, o que interessa é investigar as origens e os funda-
mentos daquilo a que chamamos conhecimento.
Na História da Filosofia, é possível encontrar um debate a respeito do conhecimen-
to humano que mereceu a atenção de importantes pensadores. Tal debate envolveu três
perspectivas: o Racionalismo, o Empirismo e o Criticismo. Cada uma dessas perspectivas
pode ser representada, respectivamente, por filósofos como René Descartes, John Locke
e Immanuel Kant. As investigações e reflexões desses pensadores oferecem explicações
sobre como nós conhecemos o mundo e quais são os limites das nossas capacidades cog-
nitivas. Estudar esse longo debate filosófico pode contribuir muito para aprofundarmos o
conhecimento sobre nós mesmos, o que podemos conhecer e o que, afinal, é conhecer
alguma coisa.
Isto é o que faremos nos próximos quatro capítulos desta unidade. No capítulo 1,
vamos estudar as diferenças entre opinião e conhecimento. No capítulo 2, estudaremos
a perspectiva racionalista do filósofo René Descartes sobre o conhecimento humano. No
capítulo 3, iremos estudar a perspectiva empirista do filósofo inglês John Locke, contrária à
de Descartes. Por fim, no capítulo 4, estudaremos a perspectiva do filósofo Immanuel Kant,
que busca uma conciliação entre as posições anteriores sobre o conhecimento humano.
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às questões a seguir.
1. Qual é a lição que o "Mito de Prometeu" pode nos dar sobre o conhecimento?
2. Qual é o significado e o benefício de se compreender o conhecimento humano?
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11. Opinião e conhecimento 11
Se o seu carro estragar, aonde você deve procurar ajuda? O mais indicado seria
numa mecânica, certo? Mas por que não procuramos ajuda no restaurante mais próxi-
mo? Por que não pedir o favor de algum garçom para dar uma olhada no motor? Bem,
seria muito estranho fazer isso. Por quê? Você saberia explicar, com clareza, por que é
mais indicado procurar um mecânico do que um garçom, nesse caso?
Se levarmos ao mecânico, não será absolutamente certo que ele irá consertar o
carro. Devemos admitir que existe possibilidade de não ser possível o conserto. Sendo
assim, preferimos levar o carro ao mecânico a procurar um garçom. Recorremos ao
mecânico porque, nesse caso, é a pessoa mais indicada para entender o problema do
carro. Sabemos que o mecânico não dará uma mera opinião sobre o motor, como tal-
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12. 12 Capítulo 1
vez um garçom faria. Admitimos que o mecânico tenha mais conhecimento sobre o motor do
carro do que nós e o garçom.
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Esse exemplo basta para percebermos, facilmente, que existe uma grande diferença en-
tre opiniões e conhecimentos. Neste capítulo, vamos aprofundar essa diferenciação e com-
preender as devidas características do que venha a ser opinar e o que significa ter conheci-
mento aprofundado.
1 Juízos de Fato e Juízos de Valor
Aparentemente, a maioria das pessoas é capaz de per-
ceber a diferença entre alguém que diz “O bolo de fubá de-
veria fazer parte de todos os cafés da manhã” e alguém que
diz “O bolo de fubá foi introduzido no Brasil pelos portugue-
ses, na época da colonização, com a introdução do milho na
produção de alimentos”. Você conseguiria explicar a diferen-
ça entre essas duas sentenças? Não parece difícil perceber
que a primeira se trata de uma opinião pessoal e a segunda de uma descrição objetiva.
No entanto muitas conversas, debates e discussões geram dificuldades porque, comu-
mente as pessoas confundem essas duas coisas: opinião e conhecimento. Para começarmos
a esclarecer as diferenças entre opiniões e conhecimentos, vamos tratar de uma diferencia-
ção muito básica: a diferença entre Juízos de Fato e Juízos de Valor. O que vem a sua mente
ao ouvir a palavra juízo?
Juízo é a capacidade de avaliar, escolher, decidir e expressar verbalmente. Trata-se do
ato de julgar e avaliar alguma coisa, uma informação, um objeto ou uma situação. Por exem-
plo, quando alguém pergunta a um indivíduo “Qual é o seu juízo a respeito de tal situação?”,
está pedindo que o indivíduo avalie e julgue. Ou quando diz que “Fulano perdeu o juízo”,
está querendo dizer que fulano perdeu a capacidade de avaliar e decidir bem. Essa mesma
noção de juízo está presente na palavra juiz, aquele que avalia e emite um julgamento.
De modo básico, existem duas amplas classificações dos juízos. Vejamos.
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13. Opinião e conhecimento 13
Juízos de Fato: são afirmações que pretendem descrever, factualmente, os aspectos
da realidade. Estes juízos são afirmações objetivas, que não envolvem percepções ou valo-
res individuais.
Por exemplo, simples afirmações como “A chuva molha”, “O fogo queima”, “O tempo
passa”, são expressões que estão descrevendo a realidade de maneira objetiva, factual.
Juízos de Valor: são avaliações realizadas a partir de valores, percepções e gostos indi-
viduais. Esses juízos envolvem avaliações subjetivas.
Por exemplo, “O frio é péssimo”, “O calor é ótimo”, “A Filosofia Moderna foi um retro-
cesso”, “A Filosofia Moderna foi um avanço”, são afirmações que envolvem percepções e
valores individuais, pois há um valor atribuído ao objeto analisado.
2 As diferenças entre Opinião e Conhecimento
Para organizar e aprofundar a compreensão sobre as diferenças en-
tre opinião e conhecimento, podemos utilizar a classificação criada pelo
pensador americano Mortimer J. Adler (1902-2001).
Filósofo e educador americano, nascido em Nova York, Adler se des-
tacou como um pensador e escritor muito popular. Suas obras chamaram
atenção pela clareza da linguagem empregada. Durante muito tempo,
Adler se dedicou a divulgações dos grandes clássicos da civilização oci-
dental. Dentre suas muitas obras, se destacam Como Ler Livros (1940) e
Como pensar sobre as Grandes Ideias (2000).
De acordo com Mortimer Adler, há quatro critérios para estabelecermos a diferença en-
tre opinião e conhecimento. Mas atenção! Esses critérios não são regras matemáticas para
serem aplicadas estritamente. Relacionam-se a quatro dicas que podem tornar as diferenças
entre opinião e conhecimento mais claras, porém isso não exclui as dificuldades que possam
aparecer. Vejamos.
Validade Universal
O primeiro critério a considerar sobre uma informação recebida é verificar se ela é
válida ou não para todas as pessoas. Opiniões podem ou não serem aceitas por todos, pois
envolvem percepções e valores pessoais. Mas conhecimentos são informações que apelam
para uma validade universal: não são apenas percepções individuais. Analise as frases:
Cesta básica tem queda de 1,43%, revela pesquisa do Procon
A Filosofia não é ciência e está fadada a desaparecer, afirma pesquisador
A primeira frase é uma informação válida para todas as pessoas, pois apela para a
validade universal, não é apenas um ponto de vista ou percepção individual. Não se trata
de uma opinião, mas de uma informação que serve de conhecimento. Já a segunda frase
envolve a possibilidade de contestação ou discórdia, pois trata-se de uma perspectiva indi-
vidual, ainda que bem fundamentada.
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14. 14 Capítulo 1
Grau de Certeza
O segundo critério a considerar é o grau de certeza sobre a informação. Normalmen-
te, se o grau for alto, trata-se de uma informação mais objetiva, portanto mais passível de
ser um conhecimento. Se o grau de certeza for baixo, trata-se de uma opinião.
Analise as manchetes:
Veja as profissões que podem acabar até 2030. Veja o que dizem especialistas em merca-
do de trabalho
Pesquisas comprovaram que atividade física frequente aumenta o fluxo sanguíneo cere-
bral, aumentando a atividade dos neurotransmissores
Qual é o grau de certeza que podemos ter dessas informações? A primeira frase trata
de uma previsão: não sabemos o que exatamente irá acontecer nos próximos anos com
relação ao mercado de trabalho, ainda que um especialista faça suas apostas. Nesse caso,
podemos dizer que o grau de certeza é baixo, o que configura mais uma opinião do que um
conhecimento. Já a segunda frase anuncia estudos que podem demonstrar os impactos da
atividade física no cérebro; não são apenas suposições ou previsões de cientistas, mas uma
informação com maior grau de certeza.
É razoável discordar?
O terceiro critério diz respeito ao direito de discor-
dar. Normalmente, entramos em conflito diante de opini-
ões: não diante de conhecimentos, pois estes estão cer-
tos ou errados. Podemos entrar em conflito ou disputa
por opiniões políticas, artísticas, esportivas, etc. Mas não
faz muito sentido entrar em conflito diante de Juízos de
Fato. Não falamos que conhecimentos são conflitantes da
mesma forma que as opiniões o são. Leia as frases:
- A penicilina age impedindo que as bactérias formem uma parede celular.
- Grave acidente em posto de gasolina poderia ter sido evitado.
Considere a primeira frase sobre a penicilina. Faz sentido entrarmos em conflito a res-
peito da afirmação? A não ser que você tenha diferentes informações sobre a penicilina,
demonstrando que a afirmação está errada, não faz sentido levantar uma opinião ou per-
cepção individual diferente. Já a segunda frase apresenta uma percepção individual: a pes-
soa que apresentou a afirmação considera a hipótese de que o acidente poderia ter sido
evitado. Trata-se de uma perspectiva, diante da qual podem ser levantadas outras opiniões,
o que pode gerar um conflito de posições pessoais.
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15. Opinião e conhecimento 15
Consenso (entrar em acordo)
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O quarto critério para diferenciarmos opinião de conhecimentos é o consenso. A per-
gunta a ser feita aqui é: "Podemos entrar em acordo ou desacordo sobre esta informação?"
Se for possível, provavelmente trata-se de uma opinião. Se não for possível, provavelmente
trata-se de um conhecimento. Só deve haver concordância ou discordância com relação a
opiniões; conhecimentos estão certos ou errados.
Veja as manchetes a seguir.
Pesquisa revela crescimento de 74% dos alunos de pós-graduação no país
Confira a lista dos melhores restaurantes de cozinha variada em Brasília
A primeira frase é uma manchete que anuncia uma pesquisa quantitativa. A menos
que você tenha informações contrárias e suficientes para contradizer a pesquisa, trata-se
uma informação que não se presta à discordância ou concordância. Ou está certa, ou está
errada. Já a segunda frase, sobre os restaurantes, demonstra um ponto de vista, pois quali-
fica os restaurantes como melhores. Você pode verificar esses restaurantes e concluir que a
lista faz sentido. Pode também discordar de todas ou de algumas indicações da lista. Nesse
caso, como se trata de uma afirmação na qual cabe acordo, trata-se de uma opinião.
1. Escreva a definição de Juízo.
2. Diferencie “Juízo de Fato” de “Juízo de Valor”.
3. Descreva os quatro critérios para diferenciar opinião de conhecimento, segundo
Mortimer Adler.
4. Aponte a principal característica do critério “Consenso” para diferenciar opinião de
conhecimento.
5. Utilizando o critério de “Validade universal”, descreva a diferença entre opinião e
conhecimento.
17. O Racionalismo de Descartes 17
os maços azuis, contêm cartas com prejuízos pequenos e prêmios altos em dinheiro. A grande
questão é: Quanto tempo você levaria para descobrir essa regra?
A experiência mostrou que, em geral, depois de
virar 50 cartas, a maioria das pessoas tinha um pres-
sentimento, ou seja, surgia uma breve desconfiança de
que era melhor virar as cartas dos maços azuis. Porém
elas não sabiam explicar exatamente o porquê dessa
desconfiança. Somente depois de virar em 80 cartas,
quase todas as pessoas anunciavam que haviam des-
coberto exatamente a regra do jogo e paravam de virar
essas cartas.
Ocorre que existia um elemento a mais nessa experiência: nas mãos dos participantes
haviam sido instalados eletrodos que mediam a atividade das glândulas sudoríparas na pele.
Uma máquina que media o suor das mãos enquanto as pessoas realizavam a tarefa (considere
que a atividade das glândulas sudoríparas está relacionada ao estresse).
Os cientistas descobriram que as pessoas começavam a apresentar suor nas mãos e a
mudar seu comportamento a partir da 10ª carta! Ou seja, muito antes de começarem a des-
confiar da regra do jogo (depois de 50 cartas), já começavam a decifrar a regra, quase que
inconscientemente! Isso significa que elas passavam a tomar decisões corretas muito antes de
terem consciência do que realmente estava acontecendo.
Essa experiência levanta algumas questões importantes: O que, de fato, pode ser con-
siderado conhecimento? Conhecimento é apenas aquilo que conseguimos explicar? Conhe-
cimento é apenas aquilo que é claro e evidente? Há alguma dimensão do conhecimento que
deve ser admitida como nebulosa? Podemos ter conhecimentos corretos mesmo de modo
inconsciente? O que é conhecer alguma coisa? O que é um conhecimento verdadeiro?
Procurar saber quais são as origens, os limites e os fundamentos daquilo a que chama-
mos "conhecimento verdadeiro" foi objeto de investigação de muitos filósofos, no início da
Modernidade, entre os séculos XVI e XVII. Um dos pensadores de maior destaque daquele
momento foi René Descartes (1596-1650). Vejamos como as contribuições de Descartes po-
dem nos ajudar a compreender um pouco mais sobre o conhecimento humano.
1 O “novo caminho” de Descartes
René Descartes (1596-1650) é considerado um dos mais destacados
filósofos da Modernidade. Teve contribuições nas áreas de Matemática,
Álgebra, Física e Filosofia. O seu lugar na História da Filosofia marca um
ponto de grandes mudanças e rupturas com a Idade Média.
Quando tinha oito de anos idade, seu pai o colocou no colégio jesuíta
Royal Henry-Le-Grand, em La Flèche, um dos colégios mais prestigiados da
França. Ali, Descartes permaneceu por 9 anos como estudante. Ainda que,
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19. O Racionalismo de Descartes 19
adquiridas teoricamente fossem falsos. Depois, começou a duvidar de todos os
conhecimentos e informações obtidas pelos sentidos, já que podemos nos enganar
ao olhar ou tocar em alguma coisa.
Levando o experimento ao extremo, Descartes colocou tudo em dúvida e se
perguntou: "Se eu duvidar de todas as coisas possíveis, qual é a única coisa de que
eu não posso duvidar?". A sua conclusão foi: "Eu posso duvidar de muitas coisas,
de quase tudo. Porém a única coisa que eu não posso colocar em dúvida é que sou
eu quem está duvidando, sou eu que, por meio do pensamento, exerço a dúvida.
Se eu estou duvidando de todas as coisas, eu não posso duvidar de que sou eu que
estou duvidando". Portanto, o fato de eu estar pensando é certo e seguro, não
pode ser duvidado. Descartes havia chegado a um limite, a uma certeza inegável,
do mesmo nível que 2 mais 2 são 4. A primeira grande certeza que Descartes des-
cobriu foi a da sua existência: "Penso, logo existo", diria Descartes.
A segunda grande consideração de Descartes é que a primeira conclusão não
foi obtida por intermédio dos sentidos, mas por meio da razão, do raciocínio. As-
sim, Descartes identificou que o caminho para se chegar a verdades seguras e ina-
baláveis, tanto nas ciências como na Filosofia, não pode se basear, exclusivamente,
nos cinco sentidos e nas experiências, pois estes podem nos enganar. A busca por
conhecimentos seguros e verdadeiros deve ter como base exclusivamente a ra-
zão. Devemos considerar como conhecimento apenas aquilo que for obtido pelo
caminho claro, irrefutável e explicável de modo racional. Eis o motivo pelo qual
Descartes é conhecido como um filósofo racionalista; defende que o caminho para
a verdade deve ser exclusivamente racional.
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existo, relacionado ao conteúdo, e res-
ponda às questões a seguir.
1. O que levou Descartes a uma depressão profunda?
2. Quais são as quatro regras para chegarmos à Verdade?
A terceira grande característica do pensamento de Descartes diz respeito ao
modo como obtemos as nossas ideias. Descartes defendia a existência de três ti-
pos de ideias: as Ideias Inatas, que não são adquiridas pela experiência, mas já
nascem conosco, como capacidade lógica e racional; as Ideias Adventícias, que
são obtidas pela experiência prática, como resultado da nossa experiência com
o mundo e as Ideias Factícias, que são formadas pela imaginação, com base em
ideias anteriores.
20. 20 Capítulo 2
Dos três tipos de ideias, Descartes considerava que o erro e o engano estariam muito
presentes nas Adventícias e nas Factícias, pois são ideias que surgem das experiências. As
únicas ideias que podem nos indicar o conhecimento verdadeiro são as baseadas na raciona-
lidade, as Ideias Inatas. O que Descartes estava querendo dizer era que, de fato, recebemos,
pelas experiências, muitas informações, como, por exemplo, quando vemos que o dia está
nublado. No entanto só podemos chamar de conhecimento verdadeiro a explicação racional
dessa experiência e não a experiência de olhar o dia nublado. Descartes defendia que o co-
nhecimento verdadeiro e seguro só pode estar na explicação racional, pois a experiência e os
sentidos podem nos enganar.
Descartes foi um filósofo que buscou compreender quais são as origens do conhecimen-
to verdadeiro. Suas reflexões o levaram a concluir que o caminho racional é o mais seguro,
portanto as ciências e a Filosofia deveriam sempre privilegiar raciocínios lógicos e evidentes
ao analisar a realidade. Nada do que fosse nebuloso, confuso ou inexplicável deveria ser ad-
mitido como verdade.
Você se lembra do experimento das cartas, relatado na introdução deste capítulo? Como
Descartes explicaria o experimento? Para Descartes, haveria conhecimento verdadeiro sem a
clareza racional e explicativa? Descartes aceitaria como conhecimento apenas a desconfiança
confusa surgida depois de 50 cartas? O que você pensa a respeito disso?
1. Com relação ao experimento das cartas, da Universidade de Iowa, responda:
a) Qual era a regra que os participantes deveriam descobrir?
b) Com quantas cartas os participantes começavam a desconfiar da regra?
c) Com quantas cartas os participantes demonstraram certeza da regra do jogo?
d) Qual era o elemento adicional da experiência e o que ele revelou?
2. A respeito das reflexões filosóficas de Descartes, cite o principal incômodo quando
ele comparava a Filosofia com outras áreas do conhecimento e o que deveria ser feito.
3. Descartes se dedicou a compreender como obtemos nossas variadas ideias. Diferen-
cie Ideias Inatas, Adventícias e Factícias.
4. Escreva o significado de Ideias Inatas.
5. Descartes buscou compreender as origens do conhecimento verdadeiro. Apresente a
conclusão a que ele chegou.
22. 22 Capítulo 3
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Frantz
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3.0
Com o tempo, conhecedores de arte visitaram o museu e, ao verem a estátua, tiveram re-
ações estranhas. Evelyn Harrison, uma das maiores especialistas em escultura antiga, relata que
quando olhou a escultura, pela primeira vez, teve uma “sensação de que algo estava errado”.
Arthur Houghton, outro grande especialista americano em arte, também relata que quando
viu a escultura, imediatamente percebeu que “alguma coisa não estava certa”, algo não parecia
verdadeiro.
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Novas investigações começaram a ser realizadas. Descobriu-se que os documentos de ori-
gem da estátua eram falsos. Além disso, surgiram novas versões sobre os experimentos quími-
cos realizados, mostrando que era possível especialistas envelhecerem o mármore e dar apa-
rência de antigo. Muito provavelmente, a estátua era uma falsificação. O fato é que surgiram
tantas dúvidas em relação à autenticidade, que o Museu resolveu colocar a seguinte anotação
perto da estátua: “Cerca de 530 a.C. ou falsificação moderna”.
É possível que para muitas pessoas comuns que viram a estátua, aquele estranhamento
sentido pelos especialistas não tenha surgido. No entanto, para os especialistas, algo pareceu
estranho, ainda que eles não tenham sido capazes de explicar com exatidão. A questão aqui é:
com base em que aqueles especialistas chegaram ao estranhamento? No mundo das artes, os
chamados “conhecedores” são pessoas que possuem uma longa e vasta experiência com obras
de arte. De tanto conhecerem, visitarem e estudarem obras de arte, possuem credibilidade
quando realizam seus julgamentos. Em suma, são pessoas que têm muita experiência na área.
24. 24 Capítulo 3
Os racionalistas, como Descartes, entendiam que só podemos chamar de conhecimento
verdadeiro a explicação racional de alguma coisa que observamos. Se abrirmos nossa janela e
percebermos que há cerração, este é um fenômeno que observamos com nossos olhos. Des-
cartes não negaria que apenas através da visão é que podemos perceber que há cerração. No
entanto, para os racionalistas, a verdade não estaria na visão da cerração, e sim na explicação
racional que podemos obter do fenômeno. John Locke pensava o contrário: a verdade estaria
justamente na experiência de ver o fenômeno, não na justificação racional.
Se investigarmos de onde vieram todas as nossas ideias e conhecimentos, rastreando as
origens e os caminhos que trilhamos até chegarmos às nossas ideias, John Locke diria que, lá
no princípio, tudo começou com a experiência existente por meio dos cinco sentidos.
Imagine que, quando crianças, tivemos a oportunidade de experimentar um limão e uma
laranja; depois, um pouco de sorvete, uma carne salgada e uma manga. Todas essas sensações
foram sendo registradas em nossa mente. Com o tempo, aprendemos a dar certos nomes
àquelas sensações: azedo, doce, salgado, amargo e outros. Com o passar do tempo e desen-
volvendo mais as nossas capacidades, aprendemos que todas essas palavras poderiam ser
resumidas em apenas uma: sabor. John Locke diria que se rastreássemos a origem da palavra
sabor, por exemplo, chegaríamos às sensações recebidas pelos cinco sentidos.
Locke explicava que essas experiências, que vão sendo registradas e acumuladas em nos-
sa memória, dão origem às chamadas ideias simples. Por exemplo, azedo, doce, salgado e
amargo seriam ideias simples, pois sua origem direta é a experiência pelos sentidos. Com o
acúmulo dessas experiências, as ideias simples podem ser agrupadas em ideias mais elabo-
radas e abstratas, as quais Locke chama de ideias complexas. Neste caso, sabor seria consi-
derado uma ideia complexa, pois agrupa as ideias simples de azedo, amargo, doce, salgado
e outros. Este seria o processo básico de todo o nosso conhecimento: a experiência sensível
(por meio dos cinco sentidos) é a fonte das nossas ideias e conhecimentos. Portanto, é pre-
ciso confiar na experiência.
2 Nascemos como "uma folha em branco"
Diferentemente do pensador francês René Descartes, que
acreditava ser a explicação racional a fonte dos nossos conhe-
cimentos verdadeiros, segundo Locke a razão era a capacida-
de de organizar as informações vindas da experiência. Locke
defendia que era necessário considerarmos as experiências
como a fonte de nossas ideias e não acreditarmos que ape-
nas a razão nos mostrará o caminho da verdade. É necessá-
rio que o conhecimento tenha comprovações na experiência
real. Não terão valor as explicações racionais sobre o mundo
se não houver comprovações por meio da experiência direta.
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25. 25
O Empirismo de John Locke
Nesse sentido, John Locke discordava das Ideias Inatas, defendidas por Descartes. Para
Locke, não há possibilidade de alguém nascer com certas ideias, mas tudo vem das nossas
experiências. De acordo com Locke, nascemos como se fôssemos, uma folha em branco,
sem nenhuma ideia ou noção. Somente com o tempo, acumulamos experiências que vão
sendo registradas nessa "folha". São as experiências que irão determinar as nossas ideias e
conhecimentos, e não ideias que já nascem conosco.
Por essa razão, podemos entender John Locke como um pensador representante do Em-
pirismo (palavra que vem do latim empiria, que significa experiência).
Você se lembra do caso da estátua do Museu Paul Getty, relatada na introdução deste
capítulo? Pois bem, como John Locke explicaria o estranhamento que os especialistas em
arte sentiram diante da estátua? Ainda que não soubessem explicar, com exatidão, de onde
os especialistas tiraram seus julgamentos, com base em que os especialistas puderam avaliar
como estranhas aquelas estátuas? O que, afinal, John Locke diria sobre isso?
Considere que o conhecimento, para Locke, é o resultado do acúmulo das experiências.
Podemos entender que o conhecimento dos especialistas é o resultado de muitas experiên-
cias, vivências, pesquisas e percepções sobre artes, em especial, estátuas. Por isso, ao colo-
carem os olhos na suposta estátua grega, algo causou estranhamento na hora de julgarem
a estátua. Provavelmente, John Locke diria que tal situação não surgiu de processos lógicos
ou racionais, mas tão somente da experiência com arte, acumulada ao longo dos anos. Você
conseguiria pensar de modo diferente de Locke? Seria capaz de propor outra explicação para
esse caso?
1. Descreva o motivo pelo qual os especialistas em arte desconfiaram de que a estátua
kuoros poderia ser falsa.
2. Descreva qual é a fonte dos conhecimentos humanos, de acordo com John Locke.
3. De acordo com Locke, nossas experiências vão sendo acumuladas e dão origem a
certas ideias. Escreva a definição de Ideias simples.
4. Escreva a definição de Ideias complexas.
5. Descreva o significado da frase “Nascemos como 'folhas em branco'”, de acordo com
Locke.
26. Em 2011, pesquisadores do hospital Schillerhoehe, em Gellingen, Alemanha,
realizaram um experimento para verificar a capacidade olfativa dos cachorros. Os
cientistas treinaram os cães para farejar células cancerígenas, expondo os ani-
mais ao cheiro de tumores. Depois, os pesquisadores pediram que pessoas com
câncer de pulmão em estágio inicial soprassem em tubos de ensaio, que eram
tapados em seguida. Os animais foram treinados para, assim que sentissem o
determinado cheiro, sentassem. Diante da experiência com os tubos de ensaio,
os cachorros acertaram em 70% dos casos. Ainda que os resultados sejam usados
para investigações sobre diagnósticos de câncer, o experimento mostrou a grande
capacidade olfativa dos cães.
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29. 29
O conhecimento para Kant
Kant propôs que esta lógica fosse invertida. Perguntou-se o filósofo: "As coisas não mudariam
se o centro das atenções fosse o sujeito?" Ao invés de perguntar o que podemos conhecer dos ob-
jetos (ou seja, a sua essência), deveríamos nos perguntar sobre o que a nossa capacidade permite
conhecer dos objetos. De acordo com Kant, nós talvez nunca saibamos o que o objeto é em si mes-
mo, mas podemos investigar o que nós, por meio da nossa capacidade mental, podemos conhecer
das coisas. Por exemplo: Qual seria a verdadeira cor das plantas, a que nós percebemos ou o que
as abelhas percebem? Kant diria que essa não é a pergunta correta. Devemos nos perguntar o que
nos é possível ver por meio da nossa estrutura de conhecimento, pois fora disso, simplesmente
não temos como conhecer verdadeiramente nada. Essa atitude de inverter as explicações fez que
Kant achasse uma solução para o debate entre Racionalismo e Empirismo.
2 Razão, experiência e conhecimento
Kant propôs que o conhecimento humano é o justo resultado dessas duas perspectivas: es-
trutura racional e experiência. Para tudo o que vamos conhecer, já podemos saber, antes da ex-
periência, que existem certas condições: todo conhecimento se dará no espaço, no tempo e será
organizado de modo racional. Estes seriam os pré-requisitos racionais para todo conhecimento
possível. Kant denominava isso de as formas a priori do conhecimento, (a priori significa o tipo de
conhecimento que ocorre apenas por intermédio da razão, sem o acréscimo da experiência).
Mas para que o conhecimento aconteça de fato, necessitamos de um material, uma subs-
tância na qual aquelas formas a priori sejam aplicadas, isto é, necessitamos da experiência como
preenchimento. Essa experiência se dará por intermédio dos nossos sentidos, como explicavam
os empiristas. As informações que nos chegam pela experiência são organizadas pelas formas a
priori. A organização realizada pela nossa estrutura mental é o que poderemos chamar de conhe-
cimento.
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S
Imagine alguém fazendo biscoitos de Natal. As fôrmas de metal seriam as formas a priori
(tempo, espaço e as estruturas racionais). Para toda massa que aparecer, haverá aquela estrutura
de organização. Mas apenas as fôrmas não fazem biscoitos; é preciso a massa. A massa seria a
nossa experiência por meio dos sentidos: caótica, sem forma ou organização. Apenas quando apli-
camos as fôrmas de metal à massa é que obtemos os biscoitos. Ou seja, apenas quando submete-
mos os dados da nossa experiência à estrutura e organização da nossa razão é que podemos dizer
30. 30 Capítulo 4
que houve o conhecimento. Foi nesse sentido que Kant operou uma ligação entre o Racionalismo
e o Empirismo: pela experiência obtemos a substância na qual nossa razão dará a organização e a
forma. Isso quer dizer que nada fora da nossa experiência poderá ser conhecido verdadeiramente,
assim como nada fora da nossa razão poderá ser compreendido verdadeiramente.
1. Descreva qual é o principal questionamento que surge diante das diferenças de per-
cepções de cores e imagens entre os animais.
2. Escreva como os filósofos, antes de Kant, explicavam o conhecimento humano.
3. Apresente a proposta de Kant ao inverter a lógica das explicações sobre o conhecimen-
to humano.
4. Escreva a definição de conhecimento a priori.
5. Kant percebeu certas condições para que o conhecimento humano aconteça. Apresen-
te essas condições.
A Revolução Copernicana em Filosofia
“Até hoje admitia-se que o nosso conhecimento se devia regular pelos objetos. Po-
rém todas as tentativas para descobrir a priori, mediante conceitos, algo que ampliasse
o nosso conhecimento, malogravam-se com este pressuposto. Tentemos, pois, uma vez,
experimentar se não se resolverão melhor as tarefas da metafísica, admitindo que os
objetos se deveriam regular pelo nosso conhecimento, o que assim já concorda melhor
com o que desejamos, a saber, a possibilidade de um conhecimento a priori desses ob-
jetos, que estabeleça algo sobre eles antes de nos serem dados. Trata-se aqui de uma
semelhança com a primeira idéia de Copérnico. Este, não podendo prosseguir na expli-
cação dos movimentos celestes enquanto admitia que toda a multidão de estrelas se
movia em torno do espectador, tentou se não daria melhor resultado fazer antes girar o
espectador e deixar os astros imóveis”.
Crítica da Razão Pura, Immanuel Kant, Ed. Fundação Calouste Gulbenkian, p. 46
Faça o que se pede.
1. Apresente a proposta inovadora formulada por Kant.
2. Explique a analogia que Kant faz com a ideia de Copérnico.
Atividades Complementares
31. Fechando a unidade 31
1. Estabeleça a diferença entre conheci-
mento e opinião, sob a perspectiva da Vali-
dade Universal.
2.Estabeleçaadiferençaentreconhecimentoe
opinião, sob a perspectiva do Grau de Certeza.
3. Analise a seguinte frase: “Todas as opiniões
têmvalor”.Vocêconcordacomessaafirmação
ou discorda dela? Justifique utilizando as qua-
tro diferenças entre opinião e conhecimento.
4. Cite algum exemplo de situação em que as
pessoas confundiram conhecimento e opinião.
5. Considerando as quatro diferenças entre
conhecimento e opinião, faça uma reflexão
considerando qual é o risco de confundirmos
conhecimento e opinião.
6. Descreva quais são as três principais expli-
cações sobre o conhecimento humano, den-
tro da História da Filosofia Moderna.
7. Resuma os argumentos básicos da expli-
cação racionalista sobre o conhecimento.
8. Descreva o motivo que levou Descartes a
buscar um novo método de pensamento.
9. Descreva o que Descartes entendia por
Dúvida Metódica.
10. Descreva o significado de Ideias Inatas,
de acordo com Descartes.
11. Demonstre por que a frase de Locke
“Nascemos como uma 'folha em branco' é
representativa da explicação empirista sobre
o conhecimento humano.
12. Compare as noções de conhecimento
para Descartes e John Locke.
13. Estabeleça um quadro comparativo en-
tre os princípios básicos do Racionalismo e
do Empirismo.
14. Avalie as explicações sobre o conheci-
mento humano de Descartes e John Locke.
Qual delas parece a mais razoável? Justifique.
15. Considerando o relato do caso da estátua
nomuseuPaulGettyeasituaçãopelaqualpas-
saram os especialistas de arte, avalie o proble-
ma de presenciarmos algo, mas não conseguir-
mos explicá-lo. Quando isso pode acontecer?
16. Considerando as contribuições filosófi-
cas de Descartes, Locke e Kant, avalie qual é a
lição que podemos tirar do experimento das
cartas de Iowa, descrito no Ca
pítulo 4.
17. Crie uma suposta explicação de Descar-
tes para o experimento das cartas de Iowa,
considerando quando haveria conhecimento
verdadeiro para esse filósofo.
18. Avalie a lição aprendida com a filosofia de
Kanteresponda:oqueissopodemudarnasua
compreensão sobre o conhecimento humano?
19. (ENEM) Leia o texto:
“Até hoje admitia-se que nosso conhecimen-
to se devia regular pelos objetos. Porém, to-
das as tentativas para descobrir, mediante
conceitos, algo que ampliasse nosso conheci-
mento malogravam-se com esse pressupos-
to. Tentemos, pois, uma vez, experimentar se
não se resolverão melhor as tarefas da meta-
física, admitindo que os objetos se deveriam
regular pelo nosso conhecimento”.
(KANT, I. Crítica da razão pura. Lisboa: Calouste-Gul-
benkian, 1994 (adaptado)).
32. 32 Unidade I
O trecho em questão é uma referência ao
que ficou conhecido como Revolução Co-
pernicana da Filosofia. Nele, confrontam-se
duas posições filosóficas que
a) assumem pontos de vista opostos acer-
ca da natureza do conhecimento.
b) defendem que o conhecimento é impos-
sível, restando-nos somente o ceticismo.
c) revelam a relação de interdependência
entre os dados da experiência e a refle-
xão filosófica.
d) apostam, no que diz respeito às tarefas
da Filosofia, na primazia das ideias em
relação aos objetos.
e) refutam-se mutuamente quanto à natu-
reza do nosso conhecimento e são am-
bas recusadas por Kant.
20. Com relação às quatro diferenças entre
Opinião e Conhecimento, relacione as alter-
nativas que correspondem com as descrições.
a) A - Validade Universal
b) B - Grau de Certeza
c) C - Direito a ter...
d) D - Consenso
( ) Quando falamos que só deve haver con-
cordância ou discordância entre opiniões.
( ) Não tem sentido dizer que temos direito
a ter o nosso próprio conhecimento.
( ) Conhecimentos devem ser informações
aceitas, não questões de gosto.
( ) Se o grau for alto, provavelmente é um
conhecimento.
21. Julgue as informações e manchetes a se-
guir em opinião ou conhecimento.
a) “O que aprendemos em 2020, o pior ano
da história”
( ) Opinião ( ) Conhecimento
b) “Como a polícia desvendou contrabando
de R$ 40 milhões em marfim e chifres de
rinocerontes no Quênia.”
( ) Opinião ( ) Conhecimento
c) “Filme Tom & Jerry ultrapassa Mulher Ma-
ravilha 1984 e lidera bilheteria nacional.”
( ) Opinião ( ) Conhecimento
d) “Romance, terror e ficção: confira cinco
séries para maratonar.”
( ) Opinião ( ) Conhecimento
22. Relembre os quatro critérios para dife-
renciar opinião de conhecimento e julgue os
itens seguintes.
(1) Podemos dizer que temos direito de
possuir a nossa própria opinião, porém
quanto a conhecimentos, isso não se
aplica, pois o conhecimento ou é certo
ou errado.
(2) Falar em Validade Universal significa que
estamos nos referindo à possibilidade de
entrar em acordo sobre uma informação.
(3) Só podemos entrar em acordo com rela-
ção a conhecimentos e opiniões que têm
valor universal.
23. Considerando o Racionalismo, julgue os
itens seguintes.
(1) O grande lema do Racionalismo é a fa-
mosa frase “Nascemos como se fôsse-
mos 'uma folha em branco'”.
(2) Racionalismo pode ser entendido como
a corrente de pensamento que privilegia
a capacidade racional dos indivíduos.
(3) Podemos afirmar que o Racionalismo se
caracteriza por defender que o conheci-
mento humano, sem a utilização da Ma-
temática, é impossível.
33. Fechando a unidade 33
Hora de Filosofar!
O que é?
Criar um diálogo filosófico sobre o conhecimento humano, contendo três princi-
pais personagens: Descartes, John Locke e Kant.
Como fazer?
Considere que você viajou para um tempo em que foi possível encontrar os três
pensadores: Descartes, John Locke e Kant. Imagine que você os encontra em um pub
ou restaurante, conversando. Você é a testemunha dessa conversa. Imagine que os
assuntos tratados pelos filósofos sejam o experimento das cartas de Iowa (exposto no
capítulo 2) e o caso das estátuas gregas kuoros (expostas no Capítulo 3, da Unidade 1).
Qual seria a posição de cada pensador? O que diria cada filósofo sobre esses casos? O
que defenderia? O que acusaria? Como explicaria?
Combine com seu professor(a) a melhor maneira de confecção e entrega do tra-
balho, assim como os prazos para a realização.
35. Filosofia e Política 35
Imagine que você completou 18 anos
de idade. De acordo com as leis brasileiras,
você atingiu a maioridade. A partir de ago-
ra, muitas coisas lhe serão permitidas por
lei, como obter licença para dirigir, adquirir
bens em seu nome, trabalhar com carteira
assinada e ter direitos como trabalhador.
Porém algumas coisas que antes não eram
obrigatórias passarão a ser.
No Brasil, há cada dois anos, temos
eleições. Ora eleições municipais (prefeitos
e vereadores), ora estaduais e federais (de-
putados, senadores, governadores e presi-
dente). Digamos que, três meses depois de
você completar 18 anos, acontece uma elei-
ção. Vamos supor que você não é lá muito
ligadoempolítica,nãoacompanhouascam-
panhas e conversou pouco sobre o assunto.
Justamente no fim de semana das eleições,
você viajou com alguns amigos e amigas.
Deveria ter votado, mas não votou.
Tempos depois, sua família e você re-
solvem realizar uma viagem ao exterior. Re-
únem as economias, compram passagens e
reservam um hotel com antecedência. Só
falta tirar o seu passaporte. Você se dirige ao
órgão responsável, com a documentação, e
então recebe a notícia de que... há pendên-
cias. Lembra-se da eleição em que você não
votou? Somente se regularizar a sua situa-
ção com a Justiça Eleitoral, será possível tirar
o passaporte.
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Semen
36. 36 Unidade II
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Long
Desde 1946, no Brasil, o voto é obrigatório para pessoas alfabetizadas, maiores de 18 e me-
nores de 70 anos. Caso a pessoa não vote no dia da eleição, deverá justificar a não votação em
um cartório eleitoral. Terá 60 dias para fazer isso. Se passar esse prazo e não justificar, pagará uma
multa. Se não pagar a multa, o cidadão não poderá se inscrever em concursos públicos, obter pas-
saporte ou carteira de identidade.
O valor da multa é irrisório; por enquanto, menos de cinco reais. Ora, o cidadão, de modo
geral, pode pensar que é muito baixo e que isso não faz tanta diferença. Basta pagar! Sim. Mas
se você pensar um pouco, perceberá que a questão não é o valor. Estamos falando de algo que
é obrigatório. Simplesmente não se pode deixar de fazer, e nada acontecerá. Certamente, ha-
verá uma punição – seja pequena ou grande. Aqui entramos em um debate muito interessante
e muito importante a todos: direitos, deveres, obrigações; enfim, tudo aquilo que pode estar
relacionado ao que chamamos de Política.
Até aonde deve ir a influência e o poder do Estado na vida das pessoas? Até que ponto
o cidadão aceitaria a interferência do Estado em sua vida? Qual deve ser o papel do Estado?
O que deve ser obrigatório para todos os cidadãos? O que não deve ser obrigatório? O que
você acha que o Estado deve permitir e o que deve proibir? Estas são questões que estiveram
e estão presentes na sociedade desde os tempos da Grécia Antiga, no mínimo. E, claro, foram
temas de muitas reflexões filosóficas ao longo da História.
No início da Modernidade, entre os séculos XVI e XVIII, estas questões sobre o alcance e
o papel do Estado levantaram debates entre filósofos, assim como deram origem a posições
bem divergentes. É o caso de Thomas Hobbes, John Locke, Rousseau, Adam Smith e Montes-
quieu. Se trouxéssemos o tema Política e Estado para as nossas rodas de conversa e convidás-
semos esses filósofos para falar, o que eles teriam a nos ensinar? O que diriam sobre essas
questões? É o que vamos tratar nesta unidade.
Utilize o leitor de QR Code do seu celular para
assistir ao vídeo relacionado ao conteúdo, e res-
ponda às questões a seguir.
1. Por que não é prudente entender sobre “política” apenas como o estudo de ideias
abstratas?
2. Até onde você considera que o Estado pode interferir na vida das pessoas?
37. Política e Poder 37
Se numa discussão sobre futebol, entre pessoas que gostam desse esporte e
entendem sobre ele, você interromper e perguntar: "Afinal, o que é futebol?". Cer-
tamente obterá definições precisas. Não será difícil para alguém que entende de fu-
tebol e gosta do esporte explicar que se trata de um tipo de jogo com bola e com tais
regras. Agora, considere uma discussão sobre política, entre pessoas que discordam
entre si sobre princípios, ideologias, políticos, etc. Se você interromper a discussão e
perguntar : "Afinal, o que é política?" acha que obterá uma definição rápida e com a
mesma precisão com que as pessoas definem futebol?
Não é curioso que, muitas vezes, as pessoas discutem e conversam sobre as-
suntos que elas não conseguiriam definir com precisão? Pois essa é a uma lição ele-
mentar em Filosofia: para os filósofos ou estudiosos da Filosofia, antes de qualquer
conversa mais profunda, precisamos saber de que estamos falando, quais são os
termos que devemos usar, o tema a que nos referimos e o campo em que pensamos.
Todas as questões que foram levantadas na Introdução da Unidade tratam daquilo a
que podemos chamar de política. Afinal, o que é política?
Shutterstock: Alba_alioth
38. 38 Capítulo 5
1 Conceito de política
A origem da palavra política pode ser encontrada no latim politicus e no grego politikós.
Essa palavra era usada para fazer referência a tudo aquilo que diz respeito ao governo da
cidade e aos cidadãos, ou seja, a tudo aquilo que é público. As diversas relações entre os ci-
dadãos, as decisões importantes que afetam a coletividade, as regras que valerão para todos
e tudo o que envolve interesses e características que ultrapassam o âmbito privado e dizem
respeito ao que é de todos, ao que é público, designa o que é política.
Debates sobre leis e regras a respeito do trânsito da cidade, vacinação da população, pa-
gamento de impostos, sobre o que é ou não obrigatório para todos: seriam ou não discussões
políticas? Sim, seriam, pois são questões que dizem respeito não apenas a uma família determi-
nada, mas a muitas pessoas, muitos cidadãos em sociedade, logo, ao que é público.
Porém, numa discussão familiar sobre onde os filhos irão estudar no próximo ano, a res-
peito da organização financeira da família, o regulamento das mesadas e dos pagamentos das
contas da casa, tudo isso são questões públicas? Evidente que não. São questões familiares,
que dizem respeito aos assuntos privados. Logo, não são questões políticas.
Certamente, política não é apenas algo público; envolve muito mais fatores. No entanto
essa é a definição básica e inicial. Daqui para frente, portanto, quando tratarmos de questões
políticas, lembre-se de que estamos abordando questões que envolvem interesses, direitos e
deveres dos cidadãos na esfera pública, e não apenas de algumas pessoas , de forma privativa.
2 As formas de poder
Se observarmos atentamente as ações humanas, veremos que, em sociedade, há várias
formas de relações entre as pessoas. Existem relações amigáveis, familiares, conjugais, profis-
sionais, jurídicas e várias outras. Entre essas relações, existe uma que diz respeito à situação
de uma pessoa ser capaz de agir e causar influência, impactos ou mudanças, seja em situa-
ções ou em pessoas: chamamos a isso de poder.
A palavra poder vem do latim potere, que significa ser capaz de. Neste sentido, poder
é a capacidade ou a possibilidade de realizar algo, de produzir efeitos. Podemos realizar e
produzir efeitos sobre a natureza ou sobre pessoas. Como estamos falando de política e esta
trata de pessoas, vamos considerar poder como capacidade ou possibilidade de ação.
Não é difícil perceber que existem diversas formas de
poder, diferentes maneiras de ação e de fazer que alguém
faça o que o outro quer. Por exemplo, quando a mãe pede à
filha que arrume o quarto, ela se recusa, e a mãe, então, lan-
ça um olhar fulminante que, de repente, faz que a filha per-
ceba que é melhor arrumar o quarto... Esta foi uma maneira
de se exercer o poder, certo? Mas sabemos que não é única
nem é política.
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Kair
39. Política e Poder 39
Digamos que você tenha uma amiga a qual admira e respeita. Um dia ela lhe
pede emprestado o celular para fazer uma ligação; emprestar é uma coisa que nor-
malmente você não faz. Mas como são muito amigos, e ela insistiu de modo convin-
cente, você empresta. A sua amiga conseguiu o que ela queria, certo?
Agora imagine que você e um amigo não param de conversar durante uma aula
que consideram muito chata. No meio de uma explicação, o professor interrompe a
aula e pede que se retirem de sala. De cara fechada, vocês se levantam e saem. Por
mais que não gostem do professor, ele fez que vocês aceitassem o pedido e saíssem
da sala, certo?
Todas essas ações são formas de poder. Mas você deve ter percebido que a
fonte do poder foi diferente em cada situação. Uma surgiu da amizade, outra da au-
toridade, outra do respeito, etc. Se pudéssemos classificar, quais são as formas mais
comuns e possíveis que existem de se exercer o poder? Vejamos abaixo.
Força (física, econômica, habilidade)
A primeira forma que podemos considerar é exercer o poder por meio da for-
ça. Esta força pode ser física (quando alguém é mais forte, ou tem alguma arma, ou
está acompanhado de mais pessoas, etc.), pode ser econômica (possui mais dinhei-
ro e mais meios de mobilizar coisas para mandar nos outros) ou pode ser uma habi-
lidade (alguém que saiba fazer coisas melhor do que os outros como, por exemplo,
corre melhor, joga melhor, é mais resistente).
Considere o lutador brasileiro, Anderson Silva. Ele é campeão peso-médio do
UFC e um dos maiores lutadores de MMA da História. Anderson é lembrado pela
força e habilidade que tinha durante as lutas. Muitas vezes, imobilizava seu oponen-
te até o ponto em que esse pedia para interromper a luta, com medo de quebrar
um braço ou uma perna. Podemos dizer que Anderson exercia seu poder, dentro do
ringue, com o uso da força.
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Andre
Luiz
Moreira
41. Política e Poder 41
Um exemplo interessante é William Wallace (1270-1305), um pequeno nobre cavaleiro
escocês que se tornou um dos grandes líderes na guerra de Independência da Escócia. Em
1297, Wallace teve destaque como líder na batalha da Ponte Stirling, onde cinco mil soldados
escoceses derrotaram doze mil ingleses. A partir daí, Wallace se tornou um grande líder res-
peitado pelos escoceses, que o seguiam por admirá-lo.
Conhecimento
A quarta forma de se exercer o poder é o conhecimento. Trata-se do tipo de influência
que pode ultrapassar o tempo, mesmo depois da morte do indivíduo. Os conhecimentos
adquiridos por determinado indivíduo podem se tornar pontos de referência numa deter-
minada área do saber. Toda pessoa que for estudar essa área, querendo ou não, deverá ter
contato com tal área e compreender os ensinamentos e conhecimentos daquele indivíduo,
de tal modo que, mesmo não existindo mais força ou autoridade, e ainda que não goste da
biografia do indivíduo, a influência do seu conhecimento permanece.
Talvez a figura mais representativa para nós, nesse caso, seja Sócra-
tes (469-399 a.C.). Todas as pessoas que venham a estudar Filosofia, de
alguma forma, passarão pelos ensinamentos de Sócrates, estudarão seu
método de pensamento, seus diálogos, suas frases marcantes e, principal-
mente, o famoso lema "Conhece-te a ti mesmo". As pessoas que estudam
Filosofia têm presente a influência de Sócrates ainda nos dias de hoje, mais
de dois milênios depois de sua morte! Esse é um exemplo de poder pelo
conhecimento.
1. Descreva o conceito básico de política.
2. Descreva o conceito básico de poder.
3. Considerando as quatro formas básicas de poder, explique:
a) o que é a forma de poder por meio da força.
b) o que é a forma de poder por meio da autoridade.
c) o que é a forma de poder por meio do respeito.
d) o que é a forma de poder por meio do conhecimento.
4. Cite as três modalidades nas quais o poder por meio da força pode ser exercido.
5. Apresente três exemplos para cada uma das quatro formas de Poder.
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Gaba
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CC
BY-SA
2.5
42. Imagine que a sua família está construindo uma casa e, durante as escavações
e perfurações do solo, descobre-se que ali existe... petróleo! Você pode pensar: é a
oportunidade para enriquecermos! Bem, se você mora no Brasil, o petróleo não é
seu: é do Estado. Desde 1953, sob a lei nº 2004, reformulada em 1997, está estabele-
cido o monopólio estatal do petróleo no Brasil. Isso significa que se você achar petró-
leo no seu quintal, não poderá ser o dono, porque os recursos minerais descobertos
são do governo. Mas se acontecesse de você achar petróleo no quintal da sua casa, e
morasse nos EUA, poderia ganhar um bom dinheiro. Naquele país, a descoberta dos
recursos minerais não pertence ao Estado, mas às pessoas que os acharem em suas
Shutterstock: Zolnierek
45. O Estado para Hobbes e Locke 45
Contudo o representante ou a assembleia escolhida pode também criar con-
flitos entre si, ou mesmo tomar decisões erradas, optar por leis injustas ou desne-
cessárias, que fujam ao acordo original. Por essa razão, Hobbes defendia a exis-
tência do soberano absoluto, o governante que estaria acima do acordo geral,
pois seu dever seria o de manter os acordos originais. A esse soberano, seriam
dados todos os direitos e poderes, ou seja, todos os cidadãos transfeririam seus
direitos para o soberano, a fim de fazer o que fosse necessário para defender a
nação – interferir em opiniões, aprovar, desaprovar leis, prender, proibir ideias
e ações, independentemente de quem ou sobre o quê. Todo o poder do Estado
deveria estar nas mãos do soberano, para fazer o que fosse necessário à nação.
Essa perspectiva ficou conhecida como a justificação da Monarquia Absolutista e
foi exposta na obra Leviatã, de 1651. Mais tarde, Hobbes seria lembrado como
um teórico do poder absoluto nas mãos do Estado. O monstro Leviatã.
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Por que Leviatã?
Leviatã é o título da principal obra de Thomas Hobbes, publicada em 1651.
O nome Leviatã foi adotado por Hobbes para designar o Estado, assim como o
próprio título da sua principal obra. No Livro de Jó (cap. 40-41) da Bíblia, Levia-
tã é descrito como um monstro invencível, forte, inquebrantável, cheio de força
incomparável. “(...) Os músculos de sua carne são compactos, são sólidos e não
se movem; seu coração é duro como uma rocha, sólido como pedra de amolar.
A espada que o atinge não resiste, nem a lança, nem o dardo, nem o arpão. O
ferro para ele é como palha; o bronze, como madeira carcomida. A flecha não o
afugenta, as pedras da funda são felpas para ele”.
47. O Estado para Hobbes e Locke 47
Locke e o rei
John Locke não era contra a Monarquia. Como bom inglês, apreciava a organização po-
lítica do país com um rei no comando. No entanto desprezava a ideia de um rei absolutista,
com poderes concentrados e absolutos. Locke percebia que muitos abusos surgiam dessa
configuração política. Defendeu fortemente uma Monarquia Parlamentarista, baseada numa
organização em que os cidadãos escolheriam seus representantes para promulgar e votar leis,
enquanto os governantes e o rei deveriam executá-las. Locke também desenvolveu ideias a
respeito da separação dos Poderes, no mesmo caminho que Montesquieu trilhou.
Analisando a frase
Na obra Dois Tratados sobre o Governo (1689), Locke afirma: "O consentimento expresso
dos governados é a única fonte de poder político". Consentimento significa permissão, dar
licença a alguém, estar de acordo. Os governados seriam os cidadãos. Portanto, quando os
cidadãos concordam, escolhem e concedem uma posição de comando e autoridade a deter-
minados indivíduos, trata-se de um poder político legítimo. Se, por algum acaso, um indivíduo
ocupar o cargo de governante sem passar por esse meio de “permissão dos cidadãos” ou da
lei, esse poder não será considerado legítimo, logo pode ser contestado.
1. Considerando as reflexões filosóficas de Thomas Hobbes, explique como esse filósofo
definia a natureza humana.
2. Descreva qual deveria ser o papel do Estado, de acordo com Hobbes.
3. John Locke entendia que havia um motivo básico das nossas ações como seres huma-
nos. Apresente o motivo pelo qual os homens são levados a agir, de acordo com Locke.
4. De acordo com Locke, resuma como surgiram a sociedade e o Estado.
5. Aponte qual deveria ser o papel do Estado, segundo John Locke.
48. Imagine uma conversa entre dois pensadores que defendem pontos de vista
totalmente diferentes. Um desses pensadores defende que o interesse próprio e
o egoísmo constituem a origem dos males na sociedade, pois é isso que geraria a
ganância, a trapaça e a busca por vantagens. O outro pensador defende que, na
verdade, a busca pelos interesses próprios gera benefícios para muitas pessoas
em sociedade, direta ou indiretamente. Você consegue pensar em algum ponto
comum para essa discussão? Você consegue imaginar alguma concordância entre
as perspectivas? Qual seria a origem dos males em sociedade? Até que ponto a
busca pelos interesses próprios pode virar egoísmo e ganância? Até que ponto
pode ser benéfica ou não para a sociedade?
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52. 52 Capítulo 7
de inteira, nestes termos, diria Smith, veremos uma sociedade prosperando e aumentado
a qualidade de vida de todas as pessoas. Muito diferente de Rousseau, para Adam Smith
o vínculo social entre as pessoas naturalmente é baseado nos interesses individuais, sem
excluir a benevolência e a caridade.
O papel do Estado
Para Adam Smith, se os indivíduos tiverem a máxima liberdade para buscar os seus
interesses próprios, desenvolver os seus próprios negócios, procurar suas vantagens e seu
bem-estar, automaticamente haverá uma espécie de “harmonia natural” entre os negó-
cios, pois uns dependerão dos outros para alcançar seus próprios interesses. Adam Smith
afirmava que entre a total liberdade para os indivíduos buscarem seus interesses, há uma
espécie de mão invisível que organiza as relações entre as pessoas.
Nesse sentido, Adam Smith defendia que o Estado deveria dar o máximo de liberdade
para os indivíduos alcançarem os seus próprios interesses, seu bem-estar pessoal. Adam
entendia que o papel do Estado deveria ser o de cuidar da segurança pública, manter a ordem
e a paz, garantir a propriedade privada. Até mesmo os contratos entre negociantes, patrões e
empregados deveriam ter a liberdade de negociação, sem a interferência do Estado.
Essa total liberdade dos interesses privados se apresenta como uma perspectiva opos-
ta ao que defendia Rousseau. Adam Smith é um pensador associado às ideias da Livre Eco-
nomia e ao Liberalismo.
A Riqueza das Nações
“(...) Não é da benevolência do açougueiro, do cervejeiro e do padeiro que esperamos
o nosso jantar, mas da consideração que eles têm pelos próprios interesses. Apelamos não
à humanidade, mas ao amor-próprio, e nunca falamos de nossas necessidades, mas das
vantagens que eles podem obter”. (A Riqueza das Nações, trad. Luiz João Baraúna, ed. Nova
Cultural, SP, 1996, p. 74)
1. Descreva a hipótese do bom selvagem, de acordo com o pensamento de Rousseau.
2. Assim como os demais contratualistas, Rousseau se propôs a compreender a natu-
reza humana. Descreva como esse filósofo definia a natureza humana.
3. Resuma a proposta de um novo Contrato Social, de acordo com Rousseau.
4. Ao considerar as ações humanas em sociedade, Adam Smith se diferenciou do pen-
samento de Rousseau. Descreva como Adam Smith entendia a busca pelos interesses
próprios.
5. De acordo com Adam Smith, descreva qual deveria ser o papel do Estado.
53. Os Poderes para Montesquieu 53
Imagine que três pessoas sejam deixadas em uma floresta, com o objetivo
de encontrarem um meio de sair dela. Eles não sabem onde estão, não possuem
bússola ou mapa. Cada um tem um tipo de conhecimento, um temperamento e
uma personalidade diferente. Pensam, de modo diferente, quanto ao caminho a
seguir e em como sobreviver. Quais são as alternativas para que todos saiam com
vida da floresta?
Eles podem entender que o caminho é difícil, que não há consenso e que,
portanto, deve ser cada um por si. Possivelmente, as chances de sobrevivência
diminuem nessa situação, pois a ajuda de um ao outro pode ser melhor do que
andar ou agir sozinho.
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