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Foto: Gilvan Barreto
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artistas
Publicado em NOVA ESCOLA Edição 192, 01 de Maio | 2006
Prática Pedagógica
Pequenos artistas
Chega de casinhas com chaminés. A criatividade aparece
quando você investe no trabalho com desenhos na creche
e na pré-escola
Tatiana Achcar
Quando eu tinha 15 anos, sabia desenhar
como Rafael, mas precisei de uma vida inteira
para aprender a desenhar como as crianças."
A frase do artista espanhol Pablo Picasso
(1881-1973) - referindo-se ao pintor
renascentista Rafael Sanzio (1483-1520) -
demonstra a importância de valorizar a
riqueza artística nata dos pequenos. "É comum
a idéia de que o desenho é uma ação
espontânea da criança e que, portanto, não
precisa ser desenvolvido", afirma a psicóloga
Mônica Cintrão, da Universidade Paulista, em
São Paulo. Num outro extremo está o uso de
figuras infantilizadas produzidas por adultos, como elefantes com lacinhos,
reduzindo o aprendizado em Artes a atividades de colorir.
O resultado dessa prática aparece desde o início do Ensino Fundamental.
Muitas crianças afirmam que não sabem desenhar. Na hora da atividade,
apresentam trabalhos estereotipados, traçando casinhas com chaminé e
árvore no jardim, montanha com sol poente, gaivotas e homens-palito. Esses
mesmos desenhos vão segui-las pela vida toda.
No livro Arte na Sala de Aula, Rosa Iavelbeg, da Faculdade de Educação da
Universidade de São Paulo, aponta que os desenhistas têm idéias próprias
sobre o que fazer e são elas que regem suas ações e interpretações. O
desenho não é simplesmente a representação do mundo visível, mas uma
linguagem com características próprias, que envolve decisões individuais e de
culturas coletivas. "Ao ter isso em mente, o professor evita enquadrar os
estudantes em visões parciais e deformadas sobre os atos de desenhar e de
Foto: Gilvan Barreto
ler desenhos."
Quando o desenho é desenvolvido na Educação Infantil (leia o quadro nesta
página), não ocorre o empobrecimento do grafismo, que, de acordo com
alguns autores, se dá a partir dos 9 anos. O "cultivo" envolve informação e
intervenção do professor e a interação do aluno com a produção dos colegas,
com o meio natural e cultural e com a prática de artistas.
Atividades desse tipo têm lugar no Centro de Educação Infantil Gente Miúda,
em Curitiba, e na EMEI Papa João Paulo II e no Instituto de Educação Santiago
de Compostela, ambos em São Paulo. A professora Rosângela Barbosa
Ferreira de Medeiros, da João Paulo II, planeja seu trabalho de forma que os
alunos desconstruam o mito de que não sabem desenhar. "Quero que
valorizem suas idéias e que não se submetam ao desenho figurativo só para
agradar ao adulto."
De acordo com Rosa Iavelberg, cabe ao professor articular as práticas das
crianças ao valor da arte na vida e na sociedade, às técnicas existentes e ao
conceito de desenho. Para isso, Mônica Cintrão defende a importância de
conhecer as transformações do desenho infantil (leia o item As etapas do
grafismo). Essas informações ajudam a avaliar e a planejar as intervenções
que devem ser feitas durante todo o ano letivo.
Diferentes materiais
Para agir de forma produtiva, o professor
precisa ter consciência sobre o que os
pequenos devem aprender. Assim, pode se
guiar pelas fases dos desenhos e pelas práticas
criativas das crianças. Para começar, é
importante ampliar o conceito de desenho.
"Ele não é uma linha de contorno que
representa um objeto. É ação sobre uma
superfície que produz algo para ser visto",
explica Rosa.
Durante as aulas, é preciso criar constantemente situações em que a criança
desenhe sobre o tema que quiser e experimente vários materiais - lápis, tinta,
giz de cera, carvão - e diversos suportes - papel, chão, areia, parede...
A avaliação dos trabalhos também vai determinar a evolução das futuras
produções artísiticas. Por isso, é necessário valorizar o desenho de todos e
dialogar com os alunos sem impor o juízo estético adulto. Perguntar "o que é
isso?" aos pequenos ou pedir que eles contem a história do desenho não é
recomendável. "Isso induz a criança a tentar interpretar o desenho e a dar
nome a traços que não foram feitos com a preocupação de serem nomeados.
Foto: Reprodução
Foto: Reprodução
É preferível pedir que a criança fale do seu trabalho", diz Rosa.
Guarde as produções de cada estudante numa pasta e retome-as depois
numa roda de apreciação. "Não importa se faz tempo que o desenho foi
produzido. Mostrá-lo cria referência de que ele foi feito por alguém e
pertence a um conjunto de obras", explica Rosa. Tudo isso contribui para a
turma deslanchar e começar a elaborar traços mais criativos e bem
compostos. Para que o trabalho tenha sucesso, é importante envolver os pais.
É comum eles quererem ver as tais figuras desenhadas por adultos e
coloridas pelos filhos na pasta de atividades no final do bimestre. Por isso, na
próxima reunião, explique a importância do desenvolvimento criativo.
Mundo colorido
Crianças de 4 anos geralmente já têm noção
de espaço e desenham dentro do limite da
folha, mas ainda não estabelecem uma escala
de tamanho nem conhecem bem as cores.
Uma árvore inteira pode ser pintada de verde
e ser do tamanho de uma flor.
Para que os pequenos ampliem seu universo
pictórico e percebam a diversidade de tons,
formas e tamanhos, Nilciane Azamor Souza,
professora da escola Gente Miúda, os leva para o parque. "Peço que prestem
atenção nos detalhes das folhas, das flores, do tronco e da raiz e no tamanho
da árvore em relação a outras plantas." Em classe, ela sugere que eles
lembrem do que foi visto e pintem com guache e pincel.
Isso estimula a capacidade de reproduzir o que viram e permite perceber que
o material e o suporte influenciam o desenho.
O que se vê
Estimulada pela professora Rosângela, a
turma de 5 anos da Escola Papa João Paulo II
desenvolve a percepção eo desenho dos
detalhes do rosto. Tocando-se, os pequenos
vão percebendo a textura dos cílios, o
contorno da boca, o traçado das sobrancelhas
e as curvas das orelhas. Eles também
observam a própria imagem no espelho e
capricham nos detalhes ao desenhar cada
uma dessas partes do rosto. Na hora de fazer
o desenho de observação, um colega vira modelo ao se colocar dentro de
uma moldura. Atento à representação que os colegas fazem dele, alerta que
está faltando a orelha, que seu nariz não é assim etc. Um intervém no
Foto: Reprodução
Foto: Reprodução
Foto: Reprodução
desenho do outro e, nessa troca, todos aprendem.
Teoria
As etapas do grafismo*
As fases a seguir se sucedem, mas a idade em que elas se manifestam varia
De 2 a 4 anos - Garatuja
Desordenada - Movimentos amplos e aleatórios que não respeitam o limite
da folha.
Ordenada - Os rabiscos seguem o limite do papel.
Nomeada - Os rabiscos ganham nome: papai,
nenê, mamãe.
De 4 a 6 anos -
Pré-esquema
Boneco girino -
Tem início o
desenho da
figura humana,
com braços e
pernas que
saem da
cabeça. Mais adiante, os membros saem do corpo.
Exagero - Não há proporção nem perspectiva. As figuras são grandes ou
pequenas demais.
Omissão - Faltam partes do corpo ou do rosto. Um braço pode ser mais
comprido que o outro.
Justaposição - As figuras são misturadas na folha, sem linha de base (chão e
céu). Não há organização espacial. O sol pode surgir na parte de baixo.
*de acordo com Viktor Lowenfeld (1947-1977)
Fonte: Avaliação Escolar do Desenho Infantil: Uma Proposta de
critérios Para Análise, tese de Mônica Cintrão
Garatujas
No início do ano, as turmas da escola Santiago
de Compostela que completam 2 anos no
período letivo desenham garatujas
desordenadas e rabiscos aleatórios que extrapolam o limite do papel. Todos
os dias, durante dois meses, a professora Beatriz Massini Tartalho incentiva a
prática do desenho com lápis de cor e grafite, giz de cera e caneta hidrocor.
Foto: Gilvan Barreto
Foto: Gilvan Barreto
Desenhando e observando o trabalho dos colegas, a criança percebe o limite
da folha e ordena as garatujas. "Quando o tema é livre, os pequenos fazem
movimentos ampols e desordenados, sem pensar na figura. Se o tema é
bicho, eles começam a imaginar uma imagem e desenham formas mais
definidas", diz Beatriz. Logo, estão dando nome aos desenhos.
Alimento estético
A professora Rosângela leva para a sala de
aula reproduções de arte de qualidade de
diversas épocas e lugares. Escolhe bons
artistas, valoriza os contemporâneos e dá
preferência às cópias com boa definição. O
material fica na caixa de imagens, guardada
sobre uma bancada, ao alcance de todos e ao
lado de lápis, giz, canetas hidrocor e papéis de
vários formatos, tudo separado por cores.
Toda semana, ela atualiza o cantinho da
apreciação, um cartaz com fotos de rostos
recortados de revistas e cartões- postais com obras contemporâneas e auto-
retratos de artistas como Vincent van Gogh (1853-1890), Pablo Picasso e Joan
Miró (1893-1983). É para lá que as crianças vão sempre que têm vontade ou
sentem necessidade de buscar uma referência enquanto desenham.
Arte comentada
Na roda de apreciação, aparecem descobertas
individuais e coletivas sobre a arte que todos
estão produzindo. Alguns dias após terem
feito um desenho, as crianças da turma da
professora Rosângela sentam-se em círculo
para explicar o que observaram no próprio
trabalho, fazer comentários sobre o desenho
dos colegas e relacionar as obras com as
figuras que viram na caixa de imagens. A
professora dá chance a cada um deles de falar
sobre sua produção, sem atribuir valor estético. Assim, todos vão construindo
um repertório pictórico.
Aprimorar o desenho...
- Possibilita a expressão pela linguagem pictórica, além da oral e escrita.
- Mostra o valor da arte na vida e na sociedade.
- Evita o empobrecimento gráfico e a produção de trabalhos estereotipados.
Quer saber mais?
CONTATOS
Centro de Educação Infantil Gente Miúda, R. Julia Wanderlei, 1205, 80710-210, Curitiba, PR, tel. (41) 3335-4425
EMEI Papa João Paulo II, R. Paulo Arentino, 870, 02998-140, São Paulo, SP, tel. (11) 3949-6814
Instituto de Educação Santiago de Compostela, R. Luis Molina, 70, 04116-280, São Paulo SP, tel. (11) 5572-0071
BIBLIOGRAFIA
Arte na Sala de Aula - Cadernos da Escola da Vila 1, Zélia Cavalcanti, 80 págs., Ed. Artmed, tel. 0800-703-3444, 30
reais
Para Gostar de Aprender Arte - Sala de Aula e Formação de Professores , Rosa Iavelberg, 128 págs., Ed. Artmed,
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  • 1. Foto: Gilvan Barreto Endereço da página: https://novaescola.org.br/conteudo/1275/pequenos- artistas Publicado em NOVA ESCOLA Edição 192, 01 de Maio | 2006 Prática Pedagógica Pequenos artistas Chega de casinhas com chaminés. A criatividade aparece quando você investe no trabalho com desenhos na creche e na pré-escola Tatiana Achcar Quando eu tinha 15 anos, sabia desenhar como Rafael, mas precisei de uma vida inteira para aprender a desenhar como as crianças." A frase do artista espanhol Pablo Picasso (1881-1973) - referindo-se ao pintor renascentista Rafael Sanzio (1483-1520) - demonstra a importância de valorizar a riqueza artística nata dos pequenos. "É comum a idéia de que o desenho é uma ação espontânea da criança e que, portanto, não precisa ser desenvolvido", afirma a psicóloga Mônica Cintrão, da Universidade Paulista, em São Paulo. Num outro extremo está o uso de figuras infantilizadas produzidas por adultos, como elefantes com lacinhos, reduzindo o aprendizado em Artes a atividades de colorir. O resultado dessa prática aparece desde o início do Ensino Fundamental. Muitas crianças afirmam que não sabem desenhar. Na hora da atividade, apresentam trabalhos estereotipados, traçando casinhas com chaminé e árvore no jardim, montanha com sol poente, gaivotas e homens-palito. Esses mesmos desenhos vão segui-las pela vida toda. No livro Arte na Sala de Aula, Rosa Iavelbeg, da Faculdade de Educação da Universidade de São Paulo, aponta que os desenhistas têm idéias próprias sobre o que fazer e são elas que regem suas ações e interpretações. O desenho não é simplesmente a representação do mundo visível, mas uma linguagem com características próprias, que envolve decisões individuais e de culturas coletivas. "Ao ter isso em mente, o professor evita enquadrar os estudantes em visões parciais e deformadas sobre os atos de desenhar e de
  • 2. Foto: Gilvan Barreto ler desenhos." Quando o desenho é desenvolvido na Educação Infantil (leia o quadro nesta página), não ocorre o empobrecimento do grafismo, que, de acordo com alguns autores, se dá a partir dos 9 anos. O "cultivo" envolve informação e intervenção do professor e a interação do aluno com a produção dos colegas, com o meio natural e cultural e com a prática de artistas. Atividades desse tipo têm lugar no Centro de Educação Infantil Gente Miúda, em Curitiba, e na EMEI Papa João Paulo II e no Instituto de Educação Santiago de Compostela, ambos em São Paulo. A professora Rosângela Barbosa Ferreira de Medeiros, da João Paulo II, planeja seu trabalho de forma que os alunos desconstruam o mito de que não sabem desenhar. "Quero que valorizem suas idéias e que não se submetam ao desenho figurativo só para agradar ao adulto." De acordo com Rosa Iavelberg, cabe ao professor articular as práticas das crianças ao valor da arte na vida e na sociedade, às técnicas existentes e ao conceito de desenho. Para isso, Mônica Cintrão defende a importância de conhecer as transformações do desenho infantil (leia o item As etapas do grafismo). Essas informações ajudam a avaliar e a planejar as intervenções que devem ser feitas durante todo o ano letivo. Diferentes materiais Para agir de forma produtiva, o professor precisa ter consciência sobre o que os pequenos devem aprender. Assim, pode se guiar pelas fases dos desenhos e pelas práticas criativas das crianças. Para começar, é importante ampliar o conceito de desenho. "Ele não é uma linha de contorno que representa um objeto. É ação sobre uma superfície que produz algo para ser visto", explica Rosa. Durante as aulas, é preciso criar constantemente situações em que a criança desenhe sobre o tema que quiser e experimente vários materiais - lápis, tinta, giz de cera, carvão - e diversos suportes - papel, chão, areia, parede... A avaliação dos trabalhos também vai determinar a evolução das futuras produções artísiticas. Por isso, é necessário valorizar o desenho de todos e dialogar com os alunos sem impor o juízo estético adulto. Perguntar "o que é isso?" aos pequenos ou pedir que eles contem a história do desenho não é recomendável. "Isso induz a criança a tentar interpretar o desenho e a dar nome a traços que não foram feitos com a preocupação de serem nomeados.
  • 3. Foto: Reprodução Foto: Reprodução É preferível pedir que a criança fale do seu trabalho", diz Rosa. Guarde as produções de cada estudante numa pasta e retome-as depois numa roda de apreciação. "Não importa se faz tempo que o desenho foi produzido. Mostrá-lo cria referência de que ele foi feito por alguém e pertence a um conjunto de obras", explica Rosa. Tudo isso contribui para a turma deslanchar e começar a elaborar traços mais criativos e bem compostos. Para que o trabalho tenha sucesso, é importante envolver os pais. É comum eles quererem ver as tais figuras desenhadas por adultos e coloridas pelos filhos na pasta de atividades no final do bimestre. Por isso, na próxima reunião, explique a importância do desenvolvimento criativo. Mundo colorido Crianças de 4 anos geralmente já têm noção de espaço e desenham dentro do limite da folha, mas ainda não estabelecem uma escala de tamanho nem conhecem bem as cores. Uma árvore inteira pode ser pintada de verde e ser do tamanho de uma flor. Para que os pequenos ampliem seu universo pictórico e percebam a diversidade de tons, formas e tamanhos, Nilciane Azamor Souza, professora da escola Gente Miúda, os leva para o parque. "Peço que prestem atenção nos detalhes das folhas, das flores, do tronco e da raiz e no tamanho da árvore em relação a outras plantas." Em classe, ela sugere que eles lembrem do que foi visto e pintem com guache e pincel. Isso estimula a capacidade de reproduzir o que viram e permite perceber que o material e o suporte influenciam o desenho. O que se vê Estimulada pela professora Rosângela, a turma de 5 anos da Escola Papa João Paulo II desenvolve a percepção eo desenho dos detalhes do rosto. Tocando-se, os pequenos vão percebendo a textura dos cílios, o contorno da boca, o traçado das sobrancelhas e as curvas das orelhas. Eles também observam a própria imagem no espelho e capricham nos detalhes ao desenhar cada uma dessas partes do rosto. Na hora de fazer o desenho de observação, um colega vira modelo ao se colocar dentro de uma moldura. Atento à representação que os colegas fazem dele, alerta que está faltando a orelha, que seu nariz não é assim etc. Um intervém no
  • 4. Foto: Reprodução Foto: Reprodução Foto: Reprodução desenho do outro e, nessa troca, todos aprendem. Teoria As etapas do grafismo* As fases a seguir se sucedem, mas a idade em que elas se manifestam varia De 2 a 4 anos - Garatuja Desordenada - Movimentos amplos e aleatórios que não respeitam o limite da folha. Ordenada - Os rabiscos seguem o limite do papel. Nomeada - Os rabiscos ganham nome: papai, nenê, mamãe. De 4 a 6 anos - Pré-esquema Boneco girino - Tem início o desenho da figura humana, com braços e pernas que saem da cabeça. Mais adiante, os membros saem do corpo. Exagero - Não há proporção nem perspectiva. As figuras são grandes ou pequenas demais. Omissão - Faltam partes do corpo ou do rosto. Um braço pode ser mais comprido que o outro. Justaposição - As figuras são misturadas na folha, sem linha de base (chão e céu). Não há organização espacial. O sol pode surgir na parte de baixo. *de acordo com Viktor Lowenfeld (1947-1977) Fonte: Avaliação Escolar do Desenho Infantil: Uma Proposta de critérios Para Análise, tese de Mônica Cintrão Garatujas No início do ano, as turmas da escola Santiago de Compostela que completam 2 anos no período letivo desenham garatujas desordenadas e rabiscos aleatórios que extrapolam o limite do papel. Todos os dias, durante dois meses, a professora Beatriz Massini Tartalho incentiva a prática do desenho com lápis de cor e grafite, giz de cera e caneta hidrocor.
  • 5. Foto: Gilvan Barreto Foto: Gilvan Barreto Desenhando e observando o trabalho dos colegas, a criança percebe o limite da folha e ordena as garatujas. "Quando o tema é livre, os pequenos fazem movimentos ampols e desordenados, sem pensar na figura. Se o tema é bicho, eles começam a imaginar uma imagem e desenham formas mais definidas", diz Beatriz. Logo, estão dando nome aos desenhos. Alimento estético A professora Rosângela leva para a sala de aula reproduções de arte de qualidade de diversas épocas e lugares. Escolhe bons artistas, valoriza os contemporâneos e dá preferência às cópias com boa definição. O material fica na caixa de imagens, guardada sobre uma bancada, ao alcance de todos e ao lado de lápis, giz, canetas hidrocor e papéis de vários formatos, tudo separado por cores. Toda semana, ela atualiza o cantinho da apreciação, um cartaz com fotos de rostos recortados de revistas e cartões- postais com obras contemporâneas e auto- retratos de artistas como Vincent van Gogh (1853-1890), Pablo Picasso e Joan Miró (1893-1983). É para lá que as crianças vão sempre que têm vontade ou sentem necessidade de buscar uma referência enquanto desenham. Arte comentada Na roda de apreciação, aparecem descobertas individuais e coletivas sobre a arte que todos estão produzindo. Alguns dias após terem feito um desenho, as crianças da turma da professora Rosângela sentam-se em círculo para explicar o que observaram no próprio trabalho, fazer comentários sobre o desenho dos colegas e relacionar as obras com as figuras que viram na caixa de imagens. A professora dá chance a cada um deles de falar sobre sua produção, sem atribuir valor estético. Assim, todos vão construindo um repertório pictórico. Aprimorar o desenho... - Possibilita a expressão pela linguagem pictórica, além da oral e escrita. - Mostra o valor da arte na vida e na sociedade. - Evita o empobrecimento gráfico e a produção de trabalhos estereotipados. Quer saber mais? CONTATOS
  • 6. Centro de Educação Infantil Gente Miúda, R. Julia Wanderlei, 1205, 80710-210, Curitiba, PR, tel. (41) 3335-4425 EMEI Papa João Paulo II, R. Paulo Arentino, 870, 02998-140, São Paulo, SP, tel. (11) 3949-6814 Instituto de Educação Santiago de Compostela, R. Luis Molina, 70, 04116-280, São Paulo SP, tel. (11) 5572-0071 BIBLIOGRAFIA Arte na Sala de Aula - Cadernos da Escola da Vila 1, Zélia Cavalcanti, 80 págs., Ed. Artmed, tel. 0800-703-3444, 30 reais Para Gostar de Aprender Arte - Sala de Aula e Formação de Professores , Rosa Iavelberg, 128 págs., Ed. Artmed, 34 reais