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Serviço de Cirurgia Plástica e Queimados da Santa Casa de Misericórdia de São Jose do Rio Preto
Regente : Dr. Valdemar Mano Sanches
Cicatrizes Patológicas
Dr.Brunno Rosique
Classificação
As cicatrizes, uma vez estabelecidas estão sujeitas às seguintes evoluções: atrofia, hipertrofia, retração, calcificação,
discromias e degeneração maligna.
As cicatrizes patológicas assumem aspectos vários, sendo muito freqüente a associação de alguns tipos, no mesmo caso.
A sua classificação permite orientar com segurança o tratamento:
1. cicatrizes lineares e largas;
2. cicatrizes planas e largas:
a. estáveis;
b. instáveis;
3. cicatrizes deprimidas:
a. lineares;
b. largas;
c. puntiformes;
d. circulares ou constritivas;
4. cicatrizes retráteis:
a. lineares;
b. retas;
c. semicirculares ou em alçapão;
d. sinéquias;
5. cicatrizes dolorosas;
6. cicatrizes hipertróficas e quelóides;
Quelóides
É a proliferação anormal de tecido fibroso localizado na derme e caracterizado por elevação, extensão sobre o tecido
vizinho normal, de crescimento contínuo, porém intermitente, sem regressão significativa e com forte tendência a recidiva após
excisão.
Sintomas como prurido e dor são freqüentes. Na fase inicial ou durante os períodos de crescimento, a lesão tende a ser
tensa, avermelhada, ou violácea com moderada vascularização. Nas fases de estabilidade lesão tende a ser menos tensa e
vascularizada, porém permanece mais tensa e elevada do que o tecido normal.
As lesões têm predileção bem definida pela metade superior do corpo, sendo a cabeça, pescoço, região esternal, ombros e
braços os locais mais afetados.
Apesar de muitas quelóides serem facilmente diagnosticadas clinicamente, deve ser lembrado que algumas de suas
características são comuns à cicatriz hipertrófica.
A cicatriz hipertrófica é elevada, vascularizada, avermelhada, tensa, pruriginosa, e dolorosa. As características para
diferenciá-la de uma quelóide (ausência de regressão, tendência à recidiva e extensão sobre o tecido normal), são eventos que não
podem ser imediatamente identificados no exame clínico.
Patologia
Histologicamente a quelóide tem limite pouco definido, é formada por acumulo de tecido conjuntivo denso na derme.
Sua presença em submucosa é praticamente inexistente
O epitélio estratificado sobre as lesões é extremamente achatado. As papilas dérmicas e os anexos estão reduzidos ou
ausentes. Fibras elásticas também estão ausentes freqüentemente.
Incidência
A ausência de confirmação histopatológica de muitos casos diagnosticados clinicamente, dificulta os estudos da
incidência de quelóide. Na Suíça, em 1931, Naeglie relatou uma incidência de 4,5% em crianças e 13,3% em adultos.
Em relação a predileção pela raça negra calcula-se uma proporção de 6:1 a 18,7:1 (Geschickter and Lewis, 1935).
Etiologia
Muitos fatores etiológicos foram responsabilizados pela formação da quelóide, porém até hoje sem nenhuma
comprovação científica.
A raça e hereditariedade parecem ser mais importantes na susceptibilidade a formação de quelóide do que qualquer outro
fator.
Alguns estudos histoquímicos demonstraram diferenças locais significativas entre quelóides e cicatrizes. A atividade da
fosfatase ácida na camada reticular, de quelóides, está aumentada até dez vezes em relação ao tecido normal. A atividade alanina
transaminase na quelóide é duas vezes maior que o normal.
Tratamento
A combinação de excisão e radioterapia pós-operatória, foi o tratamento mais utilizado no passado. De Beurmann e
Gougerot (1906), Freund (1913), e Wickham e Degrais (1913) foram os primeiros a propor este método.
A dose recomendada é de 1000 R divididas em 4 aplicações, porém podem causar seqüelas e são contra-indicadas em
jovens nas áreas sobre cartilagens de crescimento e glândulas endócrinas.
Os quelóides imaturos podem responder favoravelmente às injeções intralesionais de triancinolona. As aplicações são
mensais, em número de 10 a 12, na dose de 10 mg. O mecanismo de ação seria pela inibição dos fibroblastos, pela remoção da
alfaglobulina (inibidora da colagenase) e pela liberação de colagenase a partir da forma precursora representada por um zimógeno.
A pressão constante por meio de malhas elásticas oferece resultados satisfatórios, desde que atue por longo período de
tempo.
Os quelóides maduros contam com a evolução de 6 a 12 meses e não respondem à radioterapia e à pressão e recidivam
após a ressecção cirúrgica.
As cicatrizes hipertróficas são tratadas por massagens com cremes à base de lanolina ou de corticosteróide.
O melhor tratamento, é previnir esses tipos de cicatrizes, pois ainda não se dispõe de meios terapêuticos seguros
(Ketchum – 1977).

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  • 1. Serviço de Cirurgia Plástica e Queimados da Santa Casa de Misericórdia de São Jose do Rio Preto Regente : Dr. Valdemar Mano Sanches Cicatrizes Patológicas Dr.Brunno Rosique Classificação As cicatrizes, uma vez estabelecidas estão sujeitas às seguintes evoluções: atrofia, hipertrofia, retração, calcificação, discromias e degeneração maligna. As cicatrizes patológicas assumem aspectos vários, sendo muito freqüente a associação de alguns tipos, no mesmo caso. A sua classificação permite orientar com segurança o tratamento: 1. cicatrizes lineares e largas; 2. cicatrizes planas e largas: a. estáveis; b. instáveis; 3. cicatrizes deprimidas: a. lineares; b. largas; c. puntiformes; d. circulares ou constritivas; 4. cicatrizes retráteis: a. lineares; b. retas; c. semicirculares ou em alçapão; d. sinéquias; 5. cicatrizes dolorosas; 6. cicatrizes hipertróficas e quelóides;
  • 2. Quelóides É a proliferação anormal de tecido fibroso localizado na derme e caracterizado por elevação, extensão sobre o tecido vizinho normal, de crescimento contínuo, porém intermitente, sem regressão significativa e com forte tendência a recidiva após excisão. Sintomas como prurido e dor são freqüentes. Na fase inicial ou durante os períodos de crescimento, a lesão tende a ser tensa, avermelhada, ou violácea com moderada vascularização. Nas fases de estabilidade lesão tende a ser menos tensa e vascularizada, porém permanece mais tensa e elevada do que o tecido normal. As lesões têm predileção bem definida pela metade superior do corpo, sendo a cabeça, pescoço, região esternal, ombros e braços os locais mais afetados. Apesar de muitas quelóides serem facilmente diagnosticadas clinicamente, deve ser lembrado que algumas de suas características são comuns à cicatriz hipertrófica. A cicatriz hipertrófica é elevada, vascularizada, avermelhada, tensa, pruriginosa, e dolorosa. As características para diferenciá-la de uma quelóide (ausência de regressão, tendência à recidiva e extensão sobre o tecido normal), são eventos que não podem ser imediatamente identificados no exame clínico. Patologia Histologicamente a quelóide tem limite pouco definido, é formada por acumulo de tecido conjuntivo denso na derme. Sua presença em submucosa é praticamente inexistente O epitélio estratificado sobre as lesões é extremamente achatado. As papilas dérmicas e os anexos estão reduzidos ou ausentes. Fibras elásticas também estão ausentes freqüentemente. Incidência A ausência de confirmação histopatológica de muitos casos diagnosticados clinicamente, dificulta os estudos da incidência de quelóide. Na Suíça, em 1931, Naeglie relatou uma incidência de 4,5% em crianças e 13,3% em adultos. Em relação a predileção pela raça negra calcula-se uma proporção de 6:1 a 18,7:1 (Geschickter and Lewis, 1935). Etiologia Muitos fatores etiológicos foram responsabilizados pela formação da quelóide, porém até hoje sem nenhuma comprovação científica. A raça e hereditariedade parecem ser mais importantes na susceptibilidade a formação de quelóide do que qualquer outro fator. Alguns estudos histoquímicos demonstraram diferenças locais significativas entre quelóides e cicatrizes. A atividade da fosfatase ácida na camada reticular, de quelóides, está aumentada até dez vezes em relação ao tecido normal. A atividade alanina transaminase na quelóide é duas vezes maior que o normal. Tratamento A combinação de excisão e radioterapia pós-operatória, foi o tratamento mais utilizado no passado. De Beurmann e Gougerot (1906), Freund (1913), e Wickham e Degrais (1913) foram os primeiros a propor este método. A dose recomendada é de 1000 R divididas em 4 aplicações, porém podem causar seqüelas e são contra-indicadas em jovens nas áreas sobre cartilagens de crescimento e glândulas endócrinas. Os quelóides imaturos podem responder favoravelmente às injeções intralesionais de triancinolona. As aplicações são mensais, em número de 10 a 12, na dose de 10 mg. O mecanismo de ação seria pela inibição dos fibroblastos, pela remoção da alfaglobulina (inibidora da colagenase) e pela liberação de colagenase a partir da forma precursora representada por um zimógeno. A pressão constante por meio de malhas elásticas oferece resultados satisfatórios, desde que atue por longo período de tempo. Os quelóides maduros contam com a evolução de 6 a 12 meses e não respondem à radioterapia e à pressão e recidivam após a ressecção cirúrgica. As cicatrizes hipertróficas são tratadas por massagens com cremes à base de lanolina ou de corticosteróide. O melhor tratamento, é previnir esses tipos de cicatrizes, pois ainda não se dispõe de meios terapêuticos seguros (Ketchum – 1977).