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A Estética
Gabriel Coelho Nº14 11ºB
Trabalho realizado no âmbito da disciplina de Filosofia
Prof. José Freitas
ESAIC
Ano Letivo 2021/22
Índice
1. Introdução
2. O que é a estética?
3. O conceito de “belo”
4. A experiência estética
5. O juízo estético
1. O Objetivismo de Platão
2. O Subjetivismo de Kant
6. Teoria da Arte - Essencialismo
1. A Arte como Imitação/Representação
1. Críticas à Arte como Imitação/Representação
2. A Arte como Expressão
1. Críticas à Arte como Expressão
3. A Arte como Forma Significante
1. Críticas à Arte como Forma Signficante
7. Teoria da Arte - Não Essencialismo
1. Teoria Institucional
1. Críticas à Teoria Institucional
2. Teoria Histórica
1. Críticas à Teoria Histórica
8. Defesa da Teoria da Forma Significante
9. Análise Crítica:
1. Van Gogh de Carlos Alonso
2. Retrato de Madame X de John Singer Sarge
3. A Dança de Henri Matisse
10. Conclusão
11. Bibliografia
12. Webgrafia
Introdução
• Desde sempre o ser humano procurou a beleza no mundo à sua
volta, ou através da sua própria criação. Apesar de reconhecermos
facilmente o que consideramos belo ou feio, várias questões
perduram: a estética é responsável por responder a essas
questões.
• “A beleza aparenta ser um dos fenómenos humanos mais
claramente compreendido. Sem ser assombrado por qualquer
aura de segredo ou mistério, o seu caráter e natureza não
necessitam de complexas teorias metafísicas para a sua
explicação. A beleza é uma parte integral da experiência humana;
é tangível e inconfundível. De qualquer forma, na história do
pensamento filosófico o fenómeno de beleza sempre se destacou
como um dos seus maiores paradoxos.” – Ernst Cassirer, Ensaio
sobre o Homem
• Primeiro é necessário definir a área de estudo que denominamos
estética...
O que é a estética?
• O termo “estética” provém do grego
αἰσθητικός (aisthētikós) significando
sensação, perceção dos sentidos.
• O estudo que pode ser denominado
"estética" é bastante grande em escala.
A estética como elemento da filosofia
especula-se ter começado no início do
séc. XVIII; contudo, foram realizadas
algumas incursões neste território
anteriormente a esse período, através
de teorias de figuras notáveis como
Platão, Aristóteles, Plotino, S. Tomás
de Aquino, etc.
• Ocupa-se de questões relacionadas com
a natureza, a produção, a apreciação e
a avaliação de obras de arte, sendo das
suas questões centrais a natureza da
arte em si.
Mário Eloy, Komposição – Natureza Morta,
1934, óleo sobre madeira, 52x46cm (Centro de
Arte Moderna, Fundação Calouste
Gulbenkian, Lisboa)
A Experiência Estética
• Uma experiência estética acontece quando o sujeito estético
observa uma obra de arte ou qualquer outro objeto estético. Pode
ser negativa ou positiva – a experiência de observar algo que
consideramos bonito ou feio é igual, sendo diferente a reação do
sujeito e o juízo que elabora. A sensação desta experiência é
debatida: haverá uma emoção exclusiva à experiência estética?
• O conceito de experiência estética é apenas introduzido no séc.
XVIII, mas filósofos anteriores já expressaram semelhante
preocupação pela sensação presente ao observar um objeto estético:
"... o poder que a poesia possui de injuriosamente suscitar as emoções.
Quando ouvimos algum excerto em que um herói lamenta o seu sofrimento
(...) simpatizamos com ele e louvamos o poeta; e ainda nessa tristeza essa
demonstração de sentimentos é considerada efeminada e pouco viril. (...) A
poesia alimenta e sustenta as paixões e desejos; deixa-os governar em vez
de serem governados.“ – Platão, A República
O Juízo Estético
• A observação de um objeto estético
suscita no sujeito um juízo estético
(é belo, é feio, é sublime...),
recorrendo a valores estéticos.
Enquanto o sujeito não formular o
seu juízo, não existe estética. Para
formar um juízo, seja simples ou
elaborado, é necessário que o sujeito
estético traduza a sua experiência e
sensibilidades estéticas de forma
organizada e racional.
• Existem duas perspetivas principais
que diferenciam a presença da
beleza face ao juízo estético: o
objetivismo e subjetivismo.
Quinten
Massys,
A
Duquesa
Feia, c.
1513,
óleo sobre
madeira,
62x46cm
(National
Gallery,
Londres,
O Objetivismo de Platão
• Um objeto é belo em virtude das suas
propriedades intrínsecas, das propriedades que
se encontram no objeto e só no objeto.
• Para Platão, o belo é uma realidade absoluta,
objetiva. Independentemente de captarmos ou
não as propriedades que definem um objeto
como belo, elas existem de facto no objeto e
constituem-se como o critério objetivo da beleza
do objeto.
• Platão também não vê qualquer oposição entre
os prazeres que o belo traz e os objetivos da
filosofia. Filósofos “conhecem” o belo na
experiência em que consumam a sua mais
profunda paixão (filosofia = amor pelo
conhecimento) e adquirem a mais elevada
Herm de Platão, cópia romana de um
busto do séc. IV, mármore (Museu
Pio-Clementino, Vaticano)
O Subjetivismo de Kant
• Pelo contrário, seguindo o subjetivismo de Kant,
a beleza depende daquilo que o sujeito espetador
sente ao observar uma obra de arte, sendo uma
questão de gosto pessoal ao invés de beleza
objetiva. As propriedades intrínsecas do objeto
nada contam para a sua apreciação.
• Um objeto é belo em virtude do que sentimos
quando o observamos.
• Kant considera qualquer objeto que suscite uma
reação de comprazimento em quem o observa
belo, mas a sua definição de sublime – “... não
somente grande, mas simplesmente,
absolutamente e em todos os sentidos (acima de
toda a comparação) grande...” – é reservada
apenas à beleza natural, algo que nenhum
Johann Gottlieb Becker, Immanuel Kant, 1768, óleo sobre
tela (Museu Nacional Schiller, Merbach, Alemanha)
• No essencialismo, toda a arte possui
uma propriedade intrínseca
específica que a define, ou seja, uma
característica que lhe confere o
estatuto de obra de arte, ao invés de
ser considerada um objeto comum.
• Divide-se em várias teorias, três das
quais irei abordar neste trabalho:
• A Arte como Imitação/Representação;
• A Arte como Expressão;
• A Arte como Forma Significante.
• Todas estão em concordância na
definição da arte através de uma
característica em comum - o que as
distingue entre elas é a característica
a que atribuem a capacidade de
tornar um objeto numa obra de arte.
Autores desconhecidos, Nomes FAVSTVS e
NOTHVS escritos em forma de barcos, anterior a
79 d.C. (Pompeia, Itália) – O que pode e não pode
ser considerado arte? É esta questão que as teorias
da arte tentam resolver.
Teoria da Arte - Essencialismo
• No essencialismo, toda a arte possui
uma propriedade intrínseca
específica que a define, ou seja, uma
característica que lhe confere o
estatuto de obra de arte, ao invés de
ser considerada um objeto comum.
• Divide-se em várias teorias, três das
quais irei abordar neste trabalho:
• A Arte como Imitação/Representação;
• A Arte como Expressão;
• A Arte como Forma Significante.
• Todas estão em concordância na
definição da arte através de uma
característica em comum - o que as
distingue entre elas é a característica
a que atribuem a capacidade de
tornar um objeto numa obra de arte.
Teoria da Arte - Essencialismo
Edward Burne-
Jones, Ezequiel e a
Panela, tinta e
aguarela sobre
velino, 26x15cm
(Galeria Tate,
Londres, Inglaterra)
– Será isto uma obra
• No essencialismo, toda a arte possui
uma propriedade intrínseca
específica que a define, ou seja, uma
característica que lhe confere o
estatuto de obra de arte, ao invés de
ser considerada um objeto comum.
• Divide-se em várias teorias, três das
quais irei abordar neste trabalho:
• A Arte como Imitação/Representação;
• A Arte como Expressão;
• A Arte como Forma Significante.
• Todas estão em concordância na
definição da arte através de uma
característica em comum - o que as
distingue entre elas é a característica
a que atribuem a capacidade de
tornar um objeto numa obra de arte.
Teoria da Arte - Essencialismo
Autor(es) desconhecido(s), Bisontes Cruzados, 17000
anos AP (Lascaux, França) – Será isto uma obra de
A Arte como Imitação/Representação
• Segundo esta teoria, algo se
trata de um objeto de arte se
tem a capacidade de
representar a realidade. Por
representação
compreendemos alguma coisa
que toma o lugar de outra de
forma intencional.
• Oferece um critério de
classificação - a realidade -
que permite distinguir o que é
e não é arte. Ao mesmo tempo,
oferece um critério de
valoração - através da sua
representação da realidade, é
possível distinguir uma obra
boa de uma má.
Para Aristóteles:
• A arte imita a natureza e o ser humano, mas não é
ilusória. O artista usa as formas da natureza,
harmonizando-as para que pareçam melhor ao olho
humano.
Para Sócrates:
• Quando o artista copia os objetos do mundo esconde a
verdadeira essência da realidade.
• “O objeto que é grande quando visto de perto, aparenta
pequeno quando visto à distância? (...) E o mesmo
objeto aparenta direito quando visto fora de água e
curvado dentro dela; e o côncavo torna-se convexo,
devido à ilusão de cores a que a vista é suscetível. Logo,
todo o tipo de confusão é revelada no nosso interior;
esta é a fraqueza da mente humana em que a arte de
conjurar e enganar por luz e sombra e outros engenhos
Críticas à Arte como Imitação/Representação
• Haverá uma realidade objetiva de que todas as obras se aproximam ou afastam?
Será válido dar menos valor a uma obra por não encaixar na nossa versão da
realidade?
• A definição da arte como apenas
representação é demasiado restritiva,
não capta uma série de objetos
considerados obras de arte. Para definir
a arte é necessária uma teoria ampla,
mas que mantenha rigor.
• Ao analisar esta teoria, é possível
chegar à conclusão que a realidade,
apesar de ser considerada uma
condição necessária, não é suficiente
para completamente definir um objeto
de arte, pois existem objetos que
representam a realidade e não são
Nicolas André-Monsiau, Debate entre Sócrates e Aspásia,
1801, óleo sobre tela, 65x81cm (Museu Pushkin das Belas
Artes, Moscovo, Rússia)
A Arte como Expressão
• A arte é a expressão clarificadora de sentimentos.
• Para funcionar, esta teoria pede os seguintes aspetos:
1. O artista tem de sentir algo, “colocando” esse sentimento na sua obra (para
Collingwood, o sentimento inicial que alimenta a criação da obra nem sempre é
claro).
2. O público deve retirar o mesmo sentimento da obra.
3. Tem de haver autenticidade por parte do artista.
4. O artista deve tentar clarificar os seus sentimentos expressos.
5. A transmissão de sentimentos deve ser intencional.
• Um objeto é uma obra de arte se, e somente se, além de ser um artefacto (algo criado pelo
ser humano) exprime as emoções do artista, contagiando outras pessoas com a mesma
emoção. Logo, cabe à arte explorar o mundo interior. E, logicamente, cabe à ciência explorar
o mundo exterior.
“Evocar no próprio um sentimento que uma vez experienciou, e tê-lo evocado por outros,através de
movimentos, linhas, cores, sons, ou formas expressas em palavras, para então transmitir esse sentimento para
que outros possam experienciá-lo também - esta é a atividade da arte. A arte é uma atividade humana,
consistindo nisto, em que um homem, conscientemente, através de certos sinais externos, passar a outros
sentimentos pelos quais ele viveu, e que outras pessoas sejam contagiadas por estes sentimentos, e também os
sintam.” - Tolstoy, O que é a Arte?
Críticas à Arte como Expressão
• É difícil ter sempre acesso aos estados emocionais
do artista, e o artista nem sempre sente o que a
obra exprime. Um ator pode representar um papel
de tristeza e não se sentir triste.
• Existe arte inexpressiva - estudos anatómicos e
arte ultrarrealista, por exemplo, não exprimem
sentimentos, simplesmente retratam a realidade de
forma mais fiel possível - alguns artistas não têm
como intenção a expressão de sentimentos.
• Críticos e intérpretes podem ver propriedades ou
emoções que o artista não intencionou.
• Ex: O significado da catatua em Citizen Kane foi um
elemento muito discutido em comunidades de cinefilia
como algum tipo de analogia ou simbolismo. Quando o
realizador Orson Welles foi entrevistado sobre o seu
significado, celebremente respondeu que era
simplesmente “Para acordar o público”.
Nikolai Nikolaevitch Gae, Retrato de
Lev Tolstoy, 1884, óleo sobre tela,
72x96cm (Galeria Tretyakov, Moscovo,
A Arte como Forma Significante
• Não importa tanto a emoção que o artista quis revelar na obra, mas sim o
sentimento que a obra desperta nos espetadores - as obras não expressam
emoções, mas despertam-nas no público.
• Sabemos que estamos perante uma obra de arte quando sentimos uma emoção
ao apreciá-la. Chama-se a isto “Emoção Estética” - a experiência do espetador
ao entrar em contacto com a obra. A emoção estética distingue-se de outros
tipos de emoções, pois não tem nada a haver com interesses práticos.
• Mas que propriedade especial possuem as obras de arte para suscitar Emoções
Estéticas? É o que o filósofo Clive Bell denomina a Forma Significante.
“Que propriedade é partilhada por todos os objetos que provocam as nossas emoções estéticas?
(...) Apenas uma resposta parece possível - forma significante. Em cada [obra de arte], as linhas
e cores combinadas de um modo particular, certas formas e relações de formas, suscitam as
nossas emoções estéticas. Estas relações e combinações de linhas e cores, estas formas
esteticamente tocantes, denomino ‘Forma Significante’; e ‘Forma Significante’ é a única
propriedade comum a todas as obras de arte visual.” - Clive Bell, Arte
• Desde que o objeto desperte essas emoções estéticas, estamos perante uma obra de arte.
Críticas à Arte como Forma Significante
• Há quem não sinta qualquer reação emocional
perante um objeto que é considerado obra de
arte.
• Formas que não sejam consideradas arte,
como logótipos e sinais de trânsito, podem
gerar emoção.
• A definição é circular: define emoção estética
como forma significante e forma significante
como emoção estética.
• Existem obras de arte que não se distinguem
de objetos comuns fisicamente - A Fonte de
Duchamp, por exemplo – porque será que A
Fonte suscita emoção estética mas outro
urinol qualquer não tenha o mesmo efeito? A
questão de contexto será abordada mais à
Roger Fry, Clive Bell, c. 1924, óleo sobre tela,
73x60cm (National Portrait Gallery, Londres,
Teoria da Arte – Não Essencialismo
• De acordo com o Não Essencialismo o que torna um objeto uma
obra de arte não é uma propriedade do objeto em si. Tem de ser
encontrado fora do objeto.
• Se as condições necessárias e suficientes da arte não provêm do
objeto em si, estas características referem-se então a propriedades
extrínsecas relacionais (propriedades exteriores que se
relacionam, de algum modo, à obra), ao invés de propriedades
intrínsecas manifestas na obra em si.
• Artistas contemporâneos criam obras cada vez mais desafiadoras
ao conceito de “arte”, que acabam por não encaixar em teorias já
estabelecidas. As teorias não essencialistas surgem como reação
às insuficiências de outras teorias face a estas complicações.
Teoria Institucional
• Sendo não essencialista, a teoria institucional engloba todo o tipo de
obras de arte. Os filósofos George Dickie e Arthur Danto argumentam
que são as instituições artísticas, o “mundo da arte”, que definem a
atribuição do estatuto de obra de arte.
• “Uma obra de arte no sentido classificatório é (1) um artefato (2) um
conjunto de aspetos a que foi conferido o estatuto de candidato para
apreciação por alguma pessoa ou pessoas agindo em nome de uma
certa instituição social (o mundo da arte)” – George Dickie, O Círculo
da Arte
• O “mundo da arte” é estabelecido por Dickie como um “conjunto
vagamente organizado (...) de pessoas, que inclui artistas(...),
produtores, diretores de museus, visitantes de museus, espetadores de
teatro, jornalistas, críticos de todos os tipos de publicações,
historiadores da arte, teóricos da arte, filósofos da arte, e outros. São
estas as pessoas que mantêm em funcionamento o mecanismo do
mundo da arte, permitindo assim a continuidade da sua existência.”
Críticas à Teoria Institucional
• A definição da comunidade da arte de Dickie é
pouco clara, não sendo fácil distinguir quem está
dentro ou fora dela.
• Justifica que se considerem obras de arte os
objetos mais mundanos, superficiais e
pretensiosos. Não distingue a boa da má arte,
apenas define uma obra de arte de forma
classificativa. Contudo, a definição de “arte” não
é apenas utilizada para classificar objetos, mas
também para sugerir que esse objeto é um bom
exemplo dessa classificação.
• Como é que as instituições decidem o que é ou
não é arte? Se decidirem de forma arbitrária, a
definição de arte perde todo o sentido. Se têm
razões lógicas pela sua escolha, então não são as
instituições que definem a arte, mas os fatores
que influenciaram essa escolha. George Dickie
Teoria Histórica
• Para o filósofo Jerrold Levinson, o que conta não é o ato de alguém
propor um objeto para apreciação em nome de uma suposta instituição,
mas antes a intenção de um indivíduo independente - o próprio criador
ou proprietário do objeto. Em vez de um ato manifesto, existe uma
intenção manifesta - em vez de se agir em nome de uma instituição,
procede-se de forma independente.
• Esta teoria exige:
• A intenção do artista em criar uma obra de arte - existe uma clara intenção, por
parte do proprietário do objeto, que o produto seja visto como uma obra de arte;
• Que a obra se inscreva no curso de história da arte, ou seja, que obedeça a uma
determinada evolução da arte - deve ter uma relação com coisas já reconhecidas
como arte.
• Um objeto é uma obra de arte se uma pessoa com direitos de
propriedade sobre o seu objeto tem a intenção séria de que tal seja
encarado como arte, como outros objetos foram ao longo da história da
arte.
Críticas à Teoria Histórica
• Esta perspetiva é bastante restrita,
aplicando-se apenas à arte ocidental e
excluindo a arte primitiva e rupestre.
• O proprietário de obras de arte, como em
graffiti por exemplo, nem sempre é aparente.
• Objetos como A Fonte de Duchamp,
completamente desconectadas do resto da
história da arte, são considerados obras de
arte.
• Nem sempre é necessária a intenção de um
objeto ser considerado obra de arte para tal
ocorrer: por exemplo, as obras de Franz
Kafka são consideradas obras de arte, mas
antes de morrer, pediu que fossem destruídas.
Claramente não existe essa intenção por
parte do proprietário da classificação da sua
obra como arte, mas a sua escrita é
reconhecida como tal.
Franz Kafka, 1905
(colorizado)
Em Defesa do Anti-Essencialismo (ceticismo
• Após a análise das diferentes teorias da arte, cheguei à conclusão que
não é possível designar (pelo menos através de uma teoria já
definida) elementos que todas as obras de arte partilham. Por isso, o
meu ponto de vista enquadra-se no anti-essencialismo.
• É possível, por exemplo, considerar um sinal de STOP arte, e não
haveria qualquer forma de contradizer essa afirmação, pois a
classificação do que é ou não é arte, mesmo se definida, continua a
ser relativa. As mesmas visões da realidade ou emoções não
comunicam o mesmo a todos. Penso que o termo “obra de arte” seja
impossível de verdadeiramente definir.
• Como afirma Wittgenstein: “O assunto (estética) é enorme em escala
e completamente incompreendido...” – Ludwig Wittgenstein,
Palestras & Diálogos sobre Estética, Psicologia e Crença Religiosa
• Ou seja, a experiência e subjetividade estéticas são demasiado
extensas, sendo impossível sintetizá-las em categorias.
Análise – Van Gogh de Carlos Alonso
Carlos Alonso, Van Gogh, 1966, tinta sobre papel,
35x50cm (Museu de Arte Moderna, Nova Iorque,
EUA)
A distinção na complexidade do traço da cabeça e da
mão que segura a orelha do resto do corpo divide o
caráter de Van Gogh em duas facetas: o Van Gogh que
faz, que opera de forma impulsiva, como autómato; e o
Van Gogh que sente, que experimenta as consequências
das suas ações, surpreendido pela sua própria
brutalidade. A faca, limpa e estática, está separada da
ação, distanciando-se da realidade da mutilação. É
quase uma justificação, adicionada após o acontecido –
a orelha foi arrancada manualmente em desespero e
angústia, mas a faca muda o foco para o real e
sensivelmente possível. Essa falta de preocupação pela
relação de causa/efeito demonstra a prioridade que o
artista colocou na expressão de sentimento ao invés da
lógica. A importância que o autor desta obra atribui aos
sentimentos permite-a enquadrar-se na teoria da arte
como expressão, sendo possível compreender a emoção
que o artista sentiu e quis comunicar ao espetador.
Análise – Retrato de Madame X
de John Singer Sargent
John Singer
Sargent,
Retrato de
Madame X,
1884, óleo
sobre tela,
235x110cm
(Museu
Metropolitan
o de Arte,
Nova Iorque,
EUA)
O vestido revela através do seu audaz decote, mas
também oculta; a escuridão do tecido, juntamente com
a ambiguidade do título, confere um certo anonimato
à personagem. É uma junção de frieza e intimismo,
concentrando o seu olhar e orientando a sua postura
para fora do observador, mas com confiança e estima,
deixando-se vulnerável perante ele. O seu olhar,
apesar de dirigido para fora, é de caráter real e
sofisticado, de expressão neutra e feições helénicas. O
ambiente é vazio, de cores térreas, apenas
distanciando-se da pobreza pela elaborada mesa em
que a modelo se encosta. O seu vestuário e toilette
também indicam uma surpreendente simplicidade,
sendo o que mais capta a atenção do olho a dinâmica
cromática de claro escuro entre a sua pele nívea e as
trevas do vestido.
Análise – Retrato de Madame X
de John Singer Sargent
John Singer
Sargent,
Retrato de
Madame X,
1884, óleo
sobre tela,
235x110cm
(Museu
Metropolitan
o de Arte,
Nova Iorque,
EUA)
Das obras escolhidas, é a
que se melhor enquadra no
conceito de uma obra de
arte, segundo a teoria da
representação/imitação.
Enquadra-se nesta teoria
pois foi o objetivo do
artista reproduzir as
feições do seu modelo,
Virginie Amélie Gautreau.
Surge a questão: terá o
artista tomado liberdades
com a sua aparência? Se
sim, será que ainda se
enquadra nesta teoria?
Qual será mais bela, a Virginie Amélie Gautreau,
Análise – A Dança de Henri Matisse
Matisse, A Dança, 1910, óleo sobre tela, 260x391cm
(Hermitage, São Petersburgo, Rússia)
As figuras, entrelaçadas em movimento, são
completamente incompreensíveis em expressão e sexo
- de faces e genitália obscuras, a prioridade do artista
não é colocada na identidade das personagens, mas na
ação, na dinâmica que partilham. Contorcem-se
impossivelmente, esforçando-se para enquadrar a sua
dança frenética e instintiva no espaço limitado de
uma tela. As cores, tipicamente fauvistas, distinguem
as figuras da natureza à sua volta, dividindo o quente
e enérgico vermelho do verde da terra e azul do céu -
cores mais frias e calmas. Qual será o elemento que
esta obra tem em comum com as anteriores? De
acordo com a teoria da forma significante, não é
qualquer intenção por parte do artista, ou
proximidade da realidade, mas a impressão que esta
obra tem no observador. A sua conjugação de
diferentes partes da obra - cores, forma, linhas, etc. -
Conclusão
• Como artista, este tópico é de especial
interesse para mim, e através deste
trabalho consegui adquirir melhor
compreensão da perceção da arte por
não artistas. Penso que o ambiente da
filosofia da arte seria bastante
diferente se mais artistas
contribuíssem para o debate, e que
sofre por essa falta de diversidade.
• Contudo, dentro das suas limitações,
a estética continua a ser um campo
inovador e fundamental da filosofia. Raoul Hausmann, O Crítico de Arte, 1919-
20, litografia e colagem fotográfica em
papel, 53x25cm (Galeria Tate, Londres,
Agradecimentos
• Ao Dr. Charles T. McGruder, Ph.D., professor emérito da
Universidade de Mt. San Antonio, na Califórnia. A sua
disponibilização de informação pertinente à filosofia online
foi de inestimável valor para a realização deste trabalho.
• https://faculty.mtsac.edu/cmcgruder/
Bibliografia
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Company, 1904, p.50 - Cortesia Archive.org *
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Gradiva, 1998, pp. 218-241
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Rohden), Lousã, Imprensa Nacional - Casa da Moeda, 1992, pp. 98, 141-4
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McGruder, PhD. *
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https://ensina.rtp.pt/artigo/teorias-nao-
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• Almeida, R. (2020, 22 Junho). A Definição de Arte em
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• Hagberg, G. Wittgenstein’s Aesthetics. in E. N. Zalta
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• Eaton, M. M. (2016, 4 Outubro). Aesthetic
Experience. Encyclopedia.com.
https://www.encyclopedia.com/humanities/encyclopedi
as-almanacs-transcripts-and-maps/aesthetic-
experience [consultado a 01/06/22] *
*Informação traduzida por mim

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A Estética

  • 1. A Estética Gabriel Coelho Nº14 11ºB Trabalho realizado no âmbito da disciplina de Filosofia Prof. José Freitas ESAIC Ano Letivo 2021/22
  • 2. Índice 1. Introdução 2. O que é a estética? 3. O conceito de “belo” 4. A experiência estética 5. O juízo estético 1. O Objetivismo de Platão 2. O Subjetivismo de Kant 6. Teoria da Arte - Essencialismo 1. A Arte como Imitação/Representação 1. Críticas à Arte como Imitação/Representação 2. A Arte como Expressão 1. Críticas à Arte como Expressão 3. A Arte como Forma Significante 1. Críticas à Arte como Forma Signficante 7. Teoria da Arte - Não Essencialismo 1. Teoria Institucional 1. Críticas à Teoria Institucional 2. Teoria Histórica 1. Críticas à Teoria Histórica 8. Defesa da Teoria da Forma Significante 9. Análise Crítica: 1. Van Gogh de Carlos Alonso 2. Retrato de Madame X de John Singer Sarge 3. A Dança de Henri Matisse 10. Conclusão 11. Bibliografia 12. Webgrafia
  • 3. Introdução • Desde sempre o ser humano procurou a beleza no mundo à sua volta, ou através da sua própria criação. Apesar de reconhecermos facilmente o que consideramos belo ou feio, várias questões perduram: a estética é responsável por responder a essas questões. • “A beleza aparenta ser um dos fenómenos humanos mais claramente compreendido. Sem ser assombrado por qualquer aura de segredo ou mistério, o seu caráter e natureza não necessitam de complexas teorias metafísicas para a sua explicação. A beleza é uma parte integral da experiência humana; é tangível e inconfundível. De qualquer forma, na história do pensamento filosófico o fenómeno de beleza sempre se destacou como um dos seus maiores paradoxos.” – Ernst Cassirer, Ensaio sobre o Homem • Primeiro é necessário definir a área de estudo que denominamos estética...
  • 4. O que é a estética? • O termo “estética” provém do grego αἰσθητικός (aisthētikós) significando sensação, perceção dos sentidos. • O estudo que pode ser denominado "estética" é bastante grande em escala. A estética como elemento da filosofia especula-se ter começado no início do séc. XVIII; contudo, foram realizadas algumas incursões neste território anteriormente a esse período, através de teorias de figuras notáveis como Platão, Aristóteles, Plotino, S. Tomás de Aquino, etc. • Ocupa-se de questões relacionadas com a natureza, a produção, a apreciação e a avaliação de obras de arte, sendo das suas questões centrais a natureza da arte em si. Mário Eloy, Komposição – Natureza Morta, 1934, óleo sobre madeira, 52x46cm (Centro de Arte Moderna, Fundação Calouste Gulbenkian, Lisboa)
  • 5. A Experiência Estética • Uma experiência estética acontece quando o sujeito estético observa uma obra de arte ou qualquer outro objeto estético. Pode ser negativa ou positiva – a experiência de observar algo que consideramos bonito ou feio é igual, sendo diferente a reação do sujeito e o juízo que elabora. A sensação desta experiência é debatida: haverá uma emoção exclusiva à experiência estética? • O conceito de experiência estética é apenas introduzido no séc. XVIII, mas filósofos anteriores já expressaram semelhante preocupação pela sensação presente ao observar um objeto estético: "... o poder que a poesia possui de injuriosamente suscitar as emoções. Quando ouvimos algum excerto em que um herói lamenta o seu sofrimento (...) simpatizamos com ele e louvamos o poeta; e ainda nessa tristeza essa demonstração de sentimentos é considerada efeminada e pouco viril. (...) A poesia alimenta e sustenta as paixões e desejos; deixa-os governar em vez de serem governados.“ – Platão, A República
  • 6. O Juízo Estético • A observação de um objeto estético suscita no sujeito um juízo estético (é belo, é feio, é sublime...), recorrendo a valores estéticos. Enquanto o sujeito não formular o seu juízo, não existe estética. Para formar um juízo, seja simples ou elaborado, é necessário que o sujeito estético traduza a sua experiência e sensibilidades estéticas de forma organizada e racional. • Existem duas perspetivas principais que diferenciam a presença da beleza face ao juízo estético: o objetivismo e subjetivismo. Quinten Massys, A Duquesa Feia, c. 1513, óleo sobre madeira, 62x46cm (National Gallery, Londres,
  • 7. O Objetivismo de Platão • Um objeto é belo em virtude das suas propriedades intrínsecas, das propriedades que se encontram no objeto e só no objeto. • Para Platão, o belo é uma realidade absoluta, objetiva. Independentemente de captarmos ou não as propriedades que definem um objeto como belo, elas existem de facto no objeto e constituem-se como o critério objetivo da beleza do objeto. • Platão também não vê qualquer oposição entre os prazeres que o belo traz e os objetivos da filosofia. Filósofos “conhecem” o belo na experiência em que consumam a sua mais profunda paixão (filosofia = amor pelo conhecimento) e adquirem a mais elevada Herm de Platão, cópia romana de um busto do séc. IV, mármore (Museu Pio-Clementino, Vaticano)
  • 8. O Subjetivismo de Kant • Pelo contrário, seguindo o subjetivismo de Kant, a beleza depende daquilo que o sujeito espetador sente ao observar uma obra de arte, sendo uma questão de gosto pessoal ao invés de beleza objetiva. As propriedades intrínsecas do objeto nada contam para a sua apreciação. • Um objeto é belo em virtude do que sentimos quando o observamos. • Kant considera qualquer objeto que suscite uma reação de comprazimento em quem o observa belo, mas a sua definição de sublime – “... não somente grande, mas simplesmente, absolutamente e em todos os sentidos (acima de toda a comparação) grande...” – é reservada apenas à beleza natural, algo que nenhum Johann Gottlieb Becker, Immanuel Kant, 1768, óleo sobre tela (Museu Nacional Schiller, Merbach, Alemanha)
  • 9. • No essencialismo, toda a arte possui uma propriedade intrínseca específica que a define, ou seja, uma característica que lhe confere o estatuto de obra de arte, ao invés de ser considerada um objeto comum. • Divide-se em várias teorias, três das quais irei abordar neste trabalho: • A Arte como Imitação/Representação; • A Arte como Expressão; • A Arte como Forma Significante. • Todas estão em concordância na definição da arte através de uma característica em comum - o que as distingue entre elas é a característica a que atribuem a capacidade de tornar um objeto numa obra de arte. Autores desconhecidos, Nomes FAVSTVS e NOTHVS escritos em forma de barcos, anterior a 79 d.C. (Pompeia, Itália) – O que pode e não pode ser considerado arte? É esta questão que as teorias da arte tentam resolver. Teoria da Arte - Essencialismo
  • 10. • No essencialismo, toda a arte possui uma propriedade intrínseca específica que a define, ou seja, uma característica que lhe confere o estatuto de obra de arte, ao invés de ser considerada um objeto comum. • Divide-se em várias teorias, três das quais irei abordar neste trabalho: • A Arte como Imitação/Representação; • A Arte como Expressão; • A Arte como Forma Significante. • Todas estão em concordância na definição da arte através de uma característica em comum - o que as distingue entre elas é a característica a que atribuem a capacidade de tornar um objeto numa obra de arte. Teoria da Arte - Essencialismo Edward Burne- Jones, Ezequiel e a Panela, tinta e aguarela sobre velino, 26x15cm (Galeria Tate, Londres, Inglaterra) – Será isto uma obra
  • 11. • No essencialismo, toda a arte possui uma propriedade intrínseca específica que a define, ou seja, uma característica que lhe confere o estatuto de obra de arte, ao invés de ser considerada um objeto comum. • Divide-se em várias teorias, três das quais irei abordar neste trabalho: • A Arte como Imitação/Representação; • A Arte como Expressão; • A Arte como Forma Significante. • Todas estão em concordância na definição da arte através de uma característica em comum - o que as distingue entre elas é a característica a que atribuem a capacidade de tornar um objeto numa obra de arte. Teoria da Arte - Essencialismo Autor(es) desconhecido(s), Bisontes Cruzados, 17000 anos AP (Lascaux, França) – Será isto uma obra de
  • 12. A Arte como Imitação/Representação • Segundo esta teoria, algo se trata de um objeto de arte se tem a capacidade de representar a realidade. Por representação compreendemos alguma coisa que toma o lugar de outra de forma intencional. • Oferece um critério de classificação - a realidade - que permite distinguir o que é e não é arte. Ao mesmo tempo, oferece um critério de valoração - através da sua representação da realidade, é possível distinguir uma obra boa de uma má. Para Aristóteles: • A arte imita a natureza e o ser humano, mas não é ilusória. O artista usa as formas da natureza, harmonizando-as para que pareçam melhor ao olho humano. Para Sócrates: • Quando o artista copia os objetos do mundo esconde a verdadeira essência da realidade. • “O objeto que é grande quando visto de perto, aparenta pequeno quando visto à distância? (...) E o mesmo objeto aparenta direito quando visto fora de água e curvado dentro dela; e o côncavo torna-se convexo, devido à ilusão de cores a que a vista é suscetível. Logo, todo o tipo de confusão é revelada no nosso interior; esta é a fraqueza da mente humana em que a arte de conjurar e enganar por luz e sombra e outros engenhos
  • 13. Críticas à Arte como Imitação/Representação • Haverá uma realidade objetiva de que todas as obras se aproximam ou afastam? Será válido dar menos valor a uma obra por não encaixar na nossa versão da realidade? • A definição da arte como apenas representação é demasiado restritiva, não capta uma série de objetos considerados obras de arte. Para definir a arte é necessária uma teoria ampla, mas que mantenha rigor. • Ao analisar esta teoria, é possível chegar à conclusão que a realidade, apesar de ser considerada uma condição necessária, não é suficiente para completamente definir um objeto de arte, pois existem objetos que representam a realidade e não são Nicolas André-Monsiau, Debate entre Sócrates e Aspásia, 1801, óleo sobre tela, 65x81cm (Museu Pushkin das Belas Artes, Moscovo, Rússia)
  • 14. A Arte como Expressão • A arte é a expressão clarificadora de sentimentos. • Para funcionar, esta teoria pede os seguintes aspetos: 1. O artista tem de sentir algo, “colocando” esse sentimento na sua obra (para Collingwood, o sentimento inicial que alimenta a criação da obra nem sempre é claro). 2. O público deve retirar o mesmo sentimento da obra. 3. Tem de haver autenticidade por parte do artista. 4. O artista deve tentar clarificar os seus sentimentos expressos. 5. A transmissão de sentimentos deve ser intencional. • Um objeto é uma obra de arte se, e somente se, além de ser um artefacto (algo criado pelo ser humano) exprime as emoções do artista, contagiando outras pessoas com a mesma emoção. Logo, cabe à arte explorar o mundo interior. E, logicamente, cabe à ciência explorar o mundo exterior. “Evocar no próprio um sentimento que uma vez experienciou, e tê-lo evocado por outros,através de movimentos, linhas, cores, sons, ou formas expressas em palavras, para então transmitir esse sentimento para que outros possam experienciá-lo também - esta é a atividade da arte. A arte é uma atividade humana, consistindo nisto, em que um homem, conscientemente, através de certos sinais externos, passar a outros sentimentos pelos quais ele viveu, e que outras pessoas sejam contagiadas por estes sentimentos, e também os sintam.” - Tolstoy, O que é a Arte?
  • 15. Críticas à Arte como Expressão • É difícil ter sempre acesso aos estados emocionais do artista, e o artista nem sempre sente o que a obra exprime. Um ator pode representar um papel de tristeza e não se sentir triste. • Existe arte inexpressiva - estudos anatómicos e arte ultrarrealista, por exemplo, não exprimem sentimentos, simplesmente retratam a realidade de forma mais fiel possível - alguns artistas não têm como intenção a expressão de sentimentos. • Críticos e intérpretes podem ver propriedades ou emoções que o artista não intencionou. • Ex: O significado da catatua em Citizen Kane foi um elemento muito discutido em comunidades de cinefilia como algum tipo de analogia ou simbolismo. Quando o realizador Orson Welles foi entrevistado sobre o seu significado, celebremente respondeu que era simplesmente “Para acordar o público”. Nikolai Nikolaevitch Gae, Retrato de Lev Tolstoy, 1884, óleo sobre tela, 72x96cm (Galeria Tretyakov, Moscovo,
  • 16. A Arte como Forma Significante • Não importa tanto a emoção que o artista quis revelar na obra, mas sim o sentimento que a obra desperta nos espetadores - as obras não expressam emoções, mas despertam-nas no público. • Sabemos que estamos perante uma obra de arte quando sentimos uma emoção ao apreciá-la. Chama-se a isto “Emoção Estética” - a experiência do espetador ao entrar em contacto com a obra. A emoção estética distingue-se de outros tipos de emoções, pois não tem nada a haver com interesses práticos. • Mas que propriedade especial possuem as obras de arte para suscitar Emoções Estéticas? É o que o filósofo Clive Bell denomina a Forma Significante. “Que propriedade é partilhada por todos os objetos que provocam as nossas emoções estéticas? (...) Apenas uma resposta parece possível - forma significante. Em cada [obra de arte], as linhas e cores combinadas de um modo particular, certas formas e relações de formas, suscitam as nossas emoções estéticas. Estas relações e combinações de linhas e cores, estas formas esteticamente tocantes, denomino ‘Forma Significante’; e ‘Forma Significante’ é a única propriedade comum a todas as obras de arte visual.” - Clive Bell, Arte • Desde que o objeto desperte essas emoções estéticas, estamos perante uma obra de arte.
  • 17. Críticas à Arte como Forma Significante • Há quem não sinta qualquer reação emocional perante um objeto que é considerado obra de arte. • Formas que não sejam consideradas arte, como logótipos e sinais de trânsito, podem gerar emoção. • A definição é circular: define emoção estética como forma significante e forma significante como emoção estética. • Existem obras de arte que não se distinguem de objetos comuns fisicamente - A Fonte de Duchamp, por exemplo – porque será que A Fonte suscita emoção estética mas outro urinol qualquer não tenha o mesmo efeito? A questão de contexto será abordada mais à Roger Fry, Clive Bell, c. 1924, óleo sobre tela, 73x60cm (National Portrait Gallery, Londres,
  • 18. Teoria da Arte – Não Essencialismo • De acordo com o Não Essencialismo o que torna um objeto uma obra de arte não é uma propriedade do objeto em si. Tem de ser encontrado fora do objeto. • Se as condições necessárias e suficientes da arte não provêm do objeto em si, estas características referem-se então a propriedades extrínsecas relacionais (propriedades exteriores que se relacionam, de algum modo, à obra), ao invés de propriedades intrínsecas manifestas na obra em si. • Artistas contemporâneos criam obras cada vez mais desafiadoras ao conceito de “arte”, que acabam por não encaixar em teorias já estabelecidas. As teorias não essencialistas surgem como reação às insuficiências de outras teorias face a estas complicações.
  • 19. Teoria Institucional • Sendo não essencialista, a teoria institucional engloba todo o tipo de obras de arte. Os filósofos George Dickie e Arthur Danto argumentam que são as instituições artísticas, o “mundo da arte”, que definem a atribuição do estatuto de obra de arte. • “Uma obra de arte no sentido classificatório é (1) um artefato (2) um conjunto de aspetos a que foi conferido o estatuto de candidato para apreciação por alguma pessoa ou pessoas agindo em nome de uma certa instituição social (o mundo da arte)” – George Dickie, O Círculo da Arte • O “mundo da arte” é estabelecido por Dickie como um “conjunto vagamente organizado (...) de pessoas, que inclui artistas(...), produtores, diretores de museus, visitantes de museus, espetadores de teatro, jornalistas, críticos de todos os tipos de publicações, historiadores da arte, teóricos da arte, filósofos da arte, e outros. São estas as pessoas que mantêm em funcionamento o mecanismo do mundo da arte, permitindo assim a continuidade da sua existência.”
  • 20. Críticas à Teoria Institucional • A definição da comunidade da arte de Dickie é pouco clara, não sendo fácil distinguir quem está dentro ou fora dela. • Justifica que se considerem obras de arte os objetos mais mundanos, superficiais e pretensiosos. Não distingue a boa da má arte, apenas define uma obra de arte de forma classificativa. Contudo, a definição de “arte” não é apenas utilizada para classificar objetos, mas também para sugerir que esse objeto é um bom exemplo dessa classificação. • Como é que as instituições decidem o que é ou não é arte? Se decidirem de forma arbitrária, a definição de arte perde todo o sentido. Se têm razões lógicas pela sua escolha, então não são as instituições que definem a arte, mas os fatores que influenciaram essa escolha. George Dickie
  • 21. Teoria Histórica • Para o filósofo Jerrold Levinson, o que conta não é o ato de alguém propor um objeto para apreciação em nome de uma suposta instituição, mas antes a intenção de um indivíduo independente - o próprio criador ou proprietário do objeto. Em vez de um ato manifesto, existe uma intenção manifesta - em vez de se agir em nome de uma instituição, procede-se de forma independente. • Esta teoria exige: • A intenção do artista em criar uma obra de arte - existe uma clara intenção, por parte do proprietário do objeto, que o produto seja visto como uma obra de arte; • Que a obra se inscreva no curso de história da arte, ou seja, que obedeça a uma determinada evolução da arte - deve ter uma relação com coisas já reconhecidas como arte. • Um objeto é uma obra de arte se uma pessoa com direitos de propriedade sobre o seu objeto tem a intenção séria de que tal seja encarado como arte, como outros objetos foram ao longo da história da arte.
  • 22. Críticas à Teoria Histórica • Esta perspetiva é bastante restrita, aplicando-se apenas à arte ocidental e excluindo a arte primitiva e rupestre. • O proprietário de obras de arte, como em graffiti por exemplo, nem sempre é aparente. • Objetos como A Fonte de Duchamp, completamente desconectadas do resto da história da arte, são considerados obras de arte. • Nem sempre é necessária a intenção de um objeto ser considerado obra de arte para tal ocorrer: por exemplo, as obras de Franz Kafka são consideradas obras de arte, mas antes de morrer, pediu que fossem destruídas. Claramente não existe essa intenção por parte do proprietário da classificação da sua obra como arte, mas a sua escrita é reconhecida como tal. Franz Kafka, 1905 (colorizado)
  • 23. Em Defesa do Anti-Essencialismo (ceticismo • Após a análise das diferentes teorias da arte, cheguei à conclusão que não é possível designar (pelo menos através de uma teoria já definida) elementos que todas as obras de arte partilham. Por isso, o meu ponto de vista enquadra-se no anti-essencialismo. • É possível, por exemplo, considerar um sinal de STOP arte, e não haveria qualquer forma de contradizer essa afirmação, pois a classificação do que é ou não é arte, mesmo se definida, continua a ser relativa. As mesmas visões da realidade ou emoções não comunicam o mesmo a todos. Penso que o termo “obra de arte” seja impossível de verdadeiramente definir. • Como afirma Wittgenstein: “O assunto (estética) é enorme em escala e completamente incompreendido...” – Ludwig Wittgenstein, Palestras & Diálogos sobre Estética, Psicologia e Crença Religiosa • Ou seja, a experiência e subjetividade estéticas são demasiado extensas, sendo impossível sintetizá-las em categorias.
  • 24. Análise – Van Gogh de Carlos Alonso Carlos Alonso, Van Gogh, 1966, tinta sobre papel, 35x50cm (Museu de Arte Moderna, Nova Iorque, EUA) A distinção na complexidade do traço da cabeça e da mão que segura a orelha do resto do corpo divide o caráter de Van Gogh em duas facetas: o Van Gogh que faz, que opera de forma impulsiva, como autómato; e o Van Gogh que sente, que experimenta as consequências das suas ações, surpreendido pela sua própria brutalidade. A faca, limpa e estática, está separada da ação, distanciando-se da realidade da mutilação. É quase uma justificação, adicionada após o acontecido – a orelha foi arrancada manualmente em desespero e angústia, mas a faca muda o foco para o real e sensivelmente possível. Essa falta de preocupação pela relação de causa/efeito demonstra a prioridade que o artista colocou na expressão de sentimento ao invés da lógica. A importância que o autor desta obra atribui aos sentimentos permite-a enquadrar-se na teoria da arte como expressão, sendo possível compreender a emoção que o artista sentiu e quis comunicar ao espetador.
  • 25. Análise – Retrato de Madame X de John Singer Sargent John Singer Sargent, Retrato de Madame X, 1884, óleo sobre tela, 235x110cm (Museu Metropolitan o de Arte, Nova Iorque, EUA) O vestido revela através do seu audaz decote, mas também oculta; a escuridão do tecido, juntamente com a ambiguidade do título, confere um certo anonimato à personagem. É uma junção de frieza e intimismo, concentrando o seu olhar e orientando a sua postura para fora do observador, mas com confiança e estima, deixando-se vulnerável perante ele. O seu olhar, apesar de dirigido para fora, é de caráter real e sofisticado, de expressão neutra e feições helénicas. O ambiente é vazio, de cores térreas, apenas distanciando-se da pobreza pela elaborada mesa em que a modelo se encosta. O seu vestuário e toilette também indicam uma surpreendente simplicidade, sendo o que mais capta a atenção do olho a dinâmica cromática de claro escuro entre a sua pele nívea e as trevas do vestido.
  • 26. Análise – Retrato de Madame X de John Singer Sargent John Singer Sargent, Retrato de Madame X, 1884, óleo sobre tela, 235x110cm (Museu Metropolitan o de Arte, Nova Iorque, EUA) Das obras escolhidas, é a que se melhor enquadra no conceito de uma obra de arte, segundo a teoria da representação/imitação. Enquadra-se nesta teoria pois foi o objetivo do artista reproduzir as feições do seu modelo, Virginie Amélie Gautreau. Surge a questão: terá o artista tomado liberdades com a sua aparência? Se sim, será que ainda se enquadra nesta teoria? Qual será mais bela, a Virginie Amélie Gautreau,
  • 27. Análise – A Dança de Henri Matisse Matisse, A Dança, 1910, óleo sobre tela, 260x391cm (Hermitage, São Petersburgo, Rússia) As figuras, entrelaçadas em movimento, são completamente incompreensíveis em expressão e sexo - de faces e genitália obscuras, a prioridade do artista não é colocada na identidade das personagens, mas na ação, na dinâmica que partilham. Contorcem-se impossivelmente, esforçando-se para enquadrar a sua dança frenética e instintiva no espaço limitado de uma tela. As cores, tipicamente fauvistas, distinguem as figuras da natureza à sua volta, dividindo o quente e enérgico vermelho do verde da terra e azul do céu - cores mais frias e calmas. Qual será o elemento que esta obra tem em comum com as anteriores? De acordo com a teoria da forma significante, não é qualquer intenção por parte do artista, ou proximidade da realidade, mas a impressão que esta obra tem no observador. A sua conjugação de diferentes partes da obra - cores, forma, linhas, etc. -
  • 28. Conclusão • Como artista, este tópico é de especial interesse para mim, e através deste trabalho consegui adquirir melhor compreensão da perceção da arte por não artistas. Penso que o ambiente da filosofia da arte seria bastante diferente se mais artistas contribuíssem para o debate, e que sofre por essa falta de diversidade. • Contudo, dentro das suas limitações, a estética continua a ser um campo inovador e fundamental da filosofia. Raoul Hausmann, O Crítico de Arte, 1919- 20, litografia e colagem fotográfica em papel, 53x25cm (Galeria Tate, Londres,
  • 29. Agradecimentos • Ao Dr. Charles T. McGruder, Ph.D., professor emérito da Universidade de Mt. San Antonio, na Califórnia. A sua disponibilização de informação pertinente à filosofia online foi de inestimável valor para a realização deste trabalho. • https://faculty.mtsac.edu/cmcgruder/
  • 30. Bibliografia • TOLSTOY, Leo, What is Art? (trad. Aylmer Maude), Nova Iorque, Funk & Wagnalls Company, 1904, p.50 - Cortesia Archive.org * • COLLINGWOOD, R. G., The Principles of Art, Oxford, Clarendon Press, 1960 p. 109 - Cortesia Archive.org * • BELL, Clive, Art, Nova Iorque, Frederick A. Stokes Company, p. 8 - Cortesia Archive.org * • WARBURTON, Nigel, Elementos Básicos de Filosofia (trad. Desidério Murcho), Lisboa, Gradiva, 1998, pp. 218-241 • KANT, Immanuel, Crítica da Faculdade do Juízo (trad. António Marques e Valério Rohden), Lousã, Imprensa Nacional - Casa da Moeda, 1992, pp. 98, 141-4 • PLATO, The Republic pp. 115-6, 466 - Cortesia Mt. San Antonio College e Dr. Charles T. McGruder, PhD. * • DICKIE, George, The Art Circle, Nova Iorque, Haven Publishing, 1984, pp. 8, 21 - Cortesia Archive.org * • WITTGENSTEIN, Ludwig, Lectures & Conversations on Aesthetics, Psychology, and Religious Belief (ed. Cyril Barett), Los Angeles, Imprensa da Universidade da Califórnia, 1967, p. 1 - Cortesia Archive.org * • CASSIRER, Ernst, An Essay on Man – an Introduction to a Philosophy of Human Culture, New Haven, Imprensa da Universidade de Yale, 1944, p. 176 – Cortesia Archive.org * *Excertos traduzidos por mim
  • 31. Webgrafia • Thorne, A. [Philosophy Tube]. (2017, 6 Janeiro). Intro to Aesthetics | Philosophy Tube [Vídeo]. YouTube. https://youtu.be/2nLa-jF6hHY [consultado a 13/05/22] * • Almeida, R. (2020, 22 Junho). Introdução às Teorias Essencialistas [Vídeo]. RTP Ensina. https://ensina.rtp.pt/artigo/introducao-as-teorias- essencialistas/ [consultado a 13/05/22] • Almeida, R. (2020, 22 Junho). Teorias Não Essencialistas da Arte [Vídeo]. RTP Ensina. https://ensina.rtp.pt/artigo/teorias-nao- essencialistas-da-arte/ [consultado a 14/05/22] • Almeida, R. (2020, 22 Junho). A Definição de Arte em Filosofia [Vídeo]. RTP Ensina. https://ensina.rtp.pt/artigo/a-definicao-de-arte-em- filosofia/ [consultado a 14/05/22] • Aesthetic. (2017). In EtymOnline. https://www.etymonline.com/word/aesthetic [consultado a 20/05/22] * • Pappas, N. Plato’s Aesthetics. in E. N. Zalta (ed.) Stanford Encyclopedia of Philosophy (v. outono 2020). Universidade de Stanford. https://plato.stanford.edu/archives/fall2020/entries/pl ato-aesthetics/ [consultado a 21/05/22] * • Slater, B. H. Aesthetics. in Internet Encyclopedia of Philosophy (28 Fevereiro 2003). https://iep.utm.edu/aesthetics/ [consultado a 21/05/22] * • Sartwell, C. Beauty. in E. N. Zalta (ed.) Stanford Encyclopedia of Philosophy (v. verão 2022). Universidade de Stanford. https://plato.stanford.edu/archives/sum2022/entries/b eauty/ [consultado a 29/05/22] * • Hagberg, G. Wittgenstein’s Aesthetics. in E. N. Zalta (ed.) Stanford Encyclopedia of Philosophy (v. outono 2014). Universidade de Stanford. https://plato.stanford.edu/archives/fall2014/entries/wi ttgenstein-aesthetics/ [consultado a 30/05/22] * • Eaton, M. M. (2016, 4 Outubro). Aesthetic Experience. Encyclopedia.com. https://www.encyclopedia.com/humanities/encyclopedi as-almanacs-transcripts-and-maps/aesthetic- experience [consultado a 01/06/22] * *Informação traduzida por mim