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O processamento metonímico/ metafórico
à luz da teoria do caos/complexidade




                          Vera Menezes
                          (UFMG/CNPq)
Alguns conceitos

• conceitos da teoria
  caos/complexidade:
   – auto-organização
   – emergência
   – fractal
• meme
• compressão
• descompressão fractal
Complexidade
• “um sistema no qual uma rede ampla de
  componentes sem um controle central e
  como regras de operação simples dão
  origem a comportamento coletivo
  complexo, processamento de
  informação sofisticado, e adaptação via
  aprendizagem ou evolução”.
• “um sistema que exibe comportamentos
  não triviais, auto-organizados e
  emergentes”. Mitchell (2009, p. 13).
Auto-organização
• “a auto-organização é a
  capacidade apresentada por
  alguns sistemas de criar padrões
  de comportamentos não
  previsíveis, descentralizados”
  (Wikipédia)
Emergência

• A ordem que emerge do caos
  ou da desordem, sendo essa
  nova ordem mais complexa do
  que o estado anterior.
Fractal
• Mandelbrot (1977, p. 1) cunhou a palavra
  fractal a partir do adjetivo latino fractus, cujo
  verbo correspondente – frangere – significa
  quebrar, criar fragmentos irregulares. Ele
  afirma que os padrões da natureza são
  fragmentados e exibem diferentes níveis de
  complexidade. Essas formas têm também
  propriedade de escala, pois suas
  irregularidades ou fragmentações são
  semelhantes em todas as escalas
Mandelbrot (1977, p.34)
• Embora os mapas desenhados em
  escala diferentes difiram em detalhes
  específicos, eles têm as mesmas
  características gerais. Em uma
  aproximação grosseira, os detalhes
  maiores e menores das linhas costeiras
  são geometricamente idênticos exceto
  pela escala.
Recursividade
• Mandelbrot optou pelo termo cascata para nomear o
  mecanismo de geração de formas
  autosemelhantes, onde cada escala, ou nível de
  detalhamento, cria detalhes menores do que os dos
  estados precedentes.
A representação fractal da figura pode
servir também para representar o
sistema gerador da linguagem a partir
de frases. Assim, no primeiro triângulo
teríamos um período simples (SN F SV )
que se agrega a outro no segundo e
assim por diante, fazendo emergir
períodos
compostos, parágrafos, texto, textos, di
scursos.
A figura seria também adequada para a
representar o processo triádico da
recursividade da semiose peirciana:
qualidade, relação/reação, interpretação
ou o signo, seu objeto e seu
interpretante, sendo este último o
impusionador da cadeia gerativa de
significado, pois ao realizar o processo
de interpretação, gera outro signo, e
assim por diante. O interpretante é, pois,
elemento essencial na formação da
cadeia semiótica, pois é ele quem faz
emergir o signo. Essa ideia de circulação
nos remete a outro conceito, o de meme.
MEME
• Memes são melodias, ideias, um bordão, roupa
  da moda, formas de se fazer potes ou construir
  arcos. Assim como os genes se propagam de
  um corpo a outro via esperma ou óvulos, da
  mesma forma os memes se propagam de
  cérebro em cérebro em um processo que pode
  ser chamado, em sentido amplo, de imitação.
  Se o cientista ouve, ou lê sobre, uma boa
  ideia, ele a repassa aos colegas e estudantes e
  a menciona em seus artigos e palestras. Se a
  ideia pega, ela pode se propagar.
  (DAWKINS, 1976, p.192)
Compressão na linguística
       cognitiva
 • “um fenômeno na integração conceitual
   que permite que os seres humanos
   controlem simultaneamente cadeias
   difusas de raciocínio lógico para
   compreender o sentido global dessas
   cadeias” Fauconnier e Turner
   (2000, p, 283)
Fauconnier e Turner (2002, p.119) explicam:

A princípio, a rede de integração conceitual
contém suas compressões e descompressões.
Tipicamente em uso e processamento, apenas
partes da rede estão disponíveis e o resto tem
que ser construído dinamicamente. Em alguns
casos, a descompressão será o caminho
principal da construção e, em outros, será a
compressão. Mas na maioria dos casos, no
processamento ou reconhecimento de uma
descoberta cientifica ou de uma criação
artística, haverá um pouco de cada.
As compressões acontecem em escalas
diferentes
Compressão fractal de imagens

         “A compressão fractal baseia-se no
         facto de que qualquer imagem
         natural contém redundância
         afim, que por sua vez pode ser
         eliminada, resultando numa
         compressão da imagem”. A técnica
         consiste em eliminar as
         redundâncias, isto é, os
         componentes de alta frequência
         (GALABOV, 2003; KOMINEK, 2011).
Metáfora e metonímia na
 perspectiva cognitiva
     “Um mecanismo cognitivo onde
     um domínio experiencial é
     parcialmente mapeado em um
     domínio experiencial diferente, de
     tal forma que o segundo domínio
     seja parcialmente entendido em
     termos de outro”.
     (BARCELONA, 2003, p.3)
METONÍMIA
“Um processo cognitivo no
qual uma entidade
conceitual, o veículo, provê
acesso mental a outra
entidade conceitual, o
alvo, dentro de um mesmo
modelo cognitivo” Radden e
Kövecses (2007, p.336)
• A metáfora é uma operação interdomínios
  e a metonímia é uma operação
  intradomínio

• Goossens (2003, p. 350) cunha o tema
  metaftonímia (metaphtonymy) para se
  referir à interação entre os dois fenômenos.

• “Eu devia morder minha língua”
  Língua como metonímia (eu devia me calar)
  Metáfora: um pedido de desculpas por ter dito algo
  inapropriado.
Em todo processamento
metafórico, temos encaixado um
processamento metonímico, pois
quando domínios conceituais são
integrados, não
há, necessariamente, uma integração
entre todos os elementos dos
domínios fonte e alvo, mas sim de
elementos mapeados dentro de cada
domínio. Assim, teríamos, via
recursão, uma série de mapeamentos
metonímicos de cuja interação emerge
a metáfora. (PAIVA, 2010)
Várias metonímias podem ser mobilizadas
para se criar uma metáfora, via compressão.

    Efeito da morte              Rosto
                                 encoberto
                                 desconhecido




    Mortalha/                   Ferramenta
    batina                      para colheita
    presentes                      arma
    nos rituais da
    morte



                            Compressão fractal
A metonímia é uma
parte que contém o
todo, pois ao ser
acionada e
descompactada se
chega ao todo.
A metonímia é um processamento
semelhante à compressão fractal de
imagens. Quando se produz uma
metonímia, eliminam-se as
redundâncias e mapeia-se dentro
desse domínio um elemento que, ao
mesmo tempo que remete ao todo de
seu próprio domínio pode também ser
projetado em um outro domínio para
produzir um novo sentido, uma
metáfora.
Cada leitor/interpretante ao efetuar a
descompressão das integrações
conceituais projetadas por esse texto
multimodal faz emergir cadeias semióticas
diversas, dependendo das interações
entre os memes de suas redes
conceituais. O texto se auto-
organiza, mesmo que o interpretante não
efetue a integração com São
Sebastião, pois as flechas funcionam
como metonímias que remetem
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diferentes escalas, gerando cadeias
semióticas diferentes, mas apesar da
diversidade se unifica na produção de
O processamento metonímico e
metafórico são elementos
constituintes da complexidade
dos processos cognitivos.
Ambas configuram nossos
pensamentos, a forma como
percebemos o mundo, e as
diversas formas de linguagem
verbal e não verbal, ou
seja, todo o sistema semiótico
da comunicação humana.
Na motivação de metonímias e
metáforas estão os memes, que
via
interpretante, sofrem, recursivame
nte, compressões fractais, perdem
redundâncias e via
processamento metonímico
sofrem realces de aspectos que
motivarão as metáforas, como é o
caso das flechas que são a base
metonímica na construção da
metáfora multimodal do martírio.
Ao interpretar o texto da capa da
revista Veja, efetuei descompressões
cognitivas propiciadas pelo texto em
interação com os propiciamentos
(affordances) de meu próprio sistema
cognitivo, o que implica também
restrições que impedem a emergência
de outros sentidos que poderiam ser
gerados por outros interpretantes.
A rede de memes que fazem parte de
meu sistema
cognitivo, certamente, difere de outros
interpretantes, o que limita meu espaço
semiótico às minhas experiências.
Tenho, pois, consciência de que os
sentidos que emergiram neste texto são
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Metáfora e metonímia

  • 1. O processamento metonímico/ metafórico à luz da teoria do caos/complexidade Vera Menezes (UFMG/CNPq)
  • 2. Alguns conceitos • conceitos da teoria caos/complexidade: – auto-organização – emergência – fractal • meme • compressão • descompressão fractal
  • 3. Complexidade • “um sistema no qual uma rede ampla de componentes sem um controle central e como regras de operação simples dão origem a comportamento coletivo complexo, processamento de informação sofisticado, e adaptação via aprendizagem ou evolução”. • “um sistema que exibe comportamentos não triviais, auto-organizados e emergentes”. Mitchell (2009, p. 13).
  • 4. Auto-organização • “a auto-organização é a capacidade apresentada por alguns sistemas de criar padrões de comportamentos não previsíveis, descentralizados” (Wikipédia)
  • 5. Emergência • A ordem que emerge do caos ou da desordem, sendo essa nova ordem mais complexa do que o estado anterior.
  • 6. Fractal • Mandelbrot (1977, p. 1) cunhou a palavra fractal a partir do adjetivo latino fractus, cujo verbo correspondente – frangere – significa quebrar, criar fragmentos irregulares. Ele afirma que os padrões da natureza são fragmentados e exibem diferentes níveis de complexidade. Essas formas têm também propriedade de escala, pois suas irregularidades ou fragmentações são semelhantes em todas as escalas
  • 7. Mandelbrot (1977, p.34) • Embora os mapas desenhados em escala diferentes difiram em detalhes específicos, eles têm as mesmas características gerais. Em uma aproximação grosseira, os detalhes maiores e menores das linhas costeiras são geometricamente idênticos exceto pela escala.
  • 8. Recursividade • Mandelbrot optou pelo termo cascata para nomear o mecanismo de geração de formas autosemelhantes, onde cada escala, ou nível de detalhamento, cria detalhes menores do que os dos estados precedentes.
  • 9. A representação fractal da figura pode servir também para representar o sistema gerador da linguagem a partir de frases. Assim, no primeiro triângulo teríamos um período simples (SN F SV ) que se agrega a outro no segundo e assim por diante, fazendo emergir períodos compostos, parágrafos, texto, textos, di scursos.
  • 10. A figura seria também adequada para a representar o processo triádico da recursividade da semiose peirciana: qualidade, relação/reação, interpretação ou o signo, seu objeto e seu interpretante, sendo este último o impusionador da cadeia gerativa de significado, pois ao realizar o processo de interpretação, gera outro signo, e assim por diante. O interpretante é, pois, elemento essencial na formação da cadeia semiótica, pois é ele quem faz emergir o signo. Essa ideia de circulação nos remete a outro conceito, o de meme.
  • 11. MEME • Memes são melodias, ideias, um bordão, roupa da moda, formas de se fazer potes ou construir arcos. Assim como os genes se propagam de um corpo a outro via esperma ou óvulos, da mesma forma os memes se propagam de cérebro em cérebro em um processo que pode ser chamado, em sentido amplo, de imitação. Se o cientista ouve, ou lê sobre, uma boa ideia, ele a repassa aos colegas e estudantes e a menciona em seus artigos e palestras. Se a ideia pega, ela pode se propagar. (DAWKINS, 1976, p.192)
  • 12. Compressão na linguística cognitiva • “um fenômeno na integração conceitual que permite que os seres humanos controlem simultaneamente cadeias difusas de raciocínio lógico para compreender o sentido global dessas cadeias” Fauconnier e Turner (2000, p, 283)
  • 13. Fauconnier e Turner (2002, p.119) explicam: A princípio, a rede de integração conceitual contém suas compressões e descompressões. Tipicamente em uso e processamento, apenas partes da rede estão disponíveis e o resto tem que ser construído dinamicamente. Em alguns casos, a descompressão será o caminho principal da construção e, em outros, será a compressão. Mas na maioria dos casos, no processamento ou reconhecimento de uma descoberta cientifica ou de uma criação artística, haverá um pouco de cada.
  • 14. As compressões acontecem em escalas diferentes
  • 15. Compressão fractal de imagens “A compressão fractal baseia-se no facto de que qualquer imagem natural contém redundância afim, que por sua vez pode ser eliminada, resultando numa compressão da imagem”. A técnica consiste em eliminar as redundâncias, isto é, os componentes de alta frequência (GALABOV, 2003; KOMINEK, 2011).
  • 16. Metáfora e metonímia na perspectiva cognitiva “Um mecanismo cognitivo onde um domínio experiencial é parcialmente mapeado em um domínio experiencial diferente, de tal forma que o segundo domínio seja parcialmente entendido em termos de outro”. (BARCELONA, 2003, p.3)
  • 17. METONÍMIA “Um processo cognitivo no qual uma entidade conceitual, o veículo, provê acesso mental a outra entidade conceitual, o alvo, dentro de um mesmo modelo cognitivo” Radden e Kövecses (2007, p.336)
  • 18. • A metáfora é uma operação interdomínios e a metonímia é uma operação intradomínio • Goossens (2003, p. 350) cunha o tema metaftonímia (metaphtonymy) para se referir à interação entre os dois fenômenos. • “Eu devia morder minha língua” Língua como metonímia (eu devia me calar) Metáfora: um pedido de desculpas por ter dito algo inapropriado.
  • 19. Em todo processamento metafórico, temos encaixado um processamento metonímico, pois quando domínios conceituais são integrados, não há, necessariamente, uma integração entre todos os elementos dos domínios fonte e alvo, mas sim de elementos mapeados dentro de cada domínio. Assim, teríamos, via recursão, uma série de mapeamentos metonímicos de cuja interação emerge a metáfora. (PAIVA, 2010)
  • 20. Várias metonímias podem ser mobilizadas para se criar uma metáfora, via compressão. Efeito da morte Rosto encoberto desconhecido Mortalha/ Ferramenta batina para colheita presentes arma nos rituais da morte Compressão fractal
  • 21. A metonímia é uma parte que contém o todo, pois ao ser acionada e descompactada se chega ao todo.
  • 22. A metonímia é um processamento semelhante à compressão fractal de imagens. Quando se produz uma metonímia, eliminam-se as redundâncias e mapeia-se dentro desse domínio um elemento que, ao mesmo tempo que remete ao todo de seu próprio domínio pode também ser projetado em um outro domínio para produzir um novo sentido, uma metáfora.
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  • 25. Cada leitor/interpretante ao efetuar a descompressão das integrações conceituais projetadas por esse texto multimodal faz emergir cadeias semióticas diversas, dependendo das interações entre os memes de suas redes conceituais. O texto se auto- organiza, mesmo que o interpretante não efetue a integração com São Sebastião, pois as flechas funcionam como metonímias que remetem fractalmente ao conceito de martírio em diferentes escalas, gerando cadeias semióticas diferentes, mas apesar da diversidade se unifica na produção de
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  • 28. O processamento metonímico e metafórico são elementos constituintes da complexidade dos processos cognitivos. Ambas configuram nossos pensamentos, a forma como percebemos o mundo, e as diversas formas de linguagem verbal e não verbal, ou seja, todo o sistema semiótico da comunicação humana.
  • 29. Na motivação de metonímias e metáforas estão os memes, que via interpretante, sofrem, recursivame nte, compressões fractais, perdem redundâncias e via processamento metonímico sofrem realces de aspectos que motivarão as metáforas, como é o caso das flechas que são a base metonímica na construção da metáfora multimodal do martírio.
  • 30. Ao interpretar o texto da capa da revista Veja, efetuei descompressões cognitivas propiciadas pelo texto em interação com os propiciamentos (affordances) de meu próprio sistema cognitivo, o que implica também restrições que impedem a emergência de outros sentidos que poderiam ser gerados por outros interpretantes.
  • 31. A rede de memes que fazem parte de meu sistema cognitivo, certamente, difere de outros interpretantes, o que limita meu espaço semiótico às minhas experiências. Tenho, pois, consciência de que os sentidos que emergiram neste texto são fruto de operações cognitivas que são comuns a todos os seres humanos, mas que também são únicas em função dos propiciamentos e das restrições próprios das experiências de cada um de nós.