Os elementos da narrativa e o papel do protagonista: herói idealizado (Clássico, Épico), herói não-idealizado (Moderno ou Problemático) e a desconstrução do herói (Anti-herói).
2. Literatura Brasileira Prof. Márcio Hilário
ELEMENTOS DA NARRATIVAELEMENTOS DA NARRATIVA
NARRADOR
Quem disse?
ENREDO
O que houve?
ESPAÇO
Onde?
TEMPO
Quando?
PERSONAGENS
Com quem?
Centrais ou
principais
Periféricos ou
coadjuvantes
3. Literatura Brasileira Prof. Márcio Hilário
PERSONAGENS CENTRAIS
PROTAGONISTA ANTAGONISTA
Personagem que recebe
preferencialmente o foco narrativo
Representa o opositor ao
protagonista
X
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O PAPEL DO
PROTAGONISTA
PROTAGONISTA
(Herói)
IDEALIZADO
(Herói Épico ou Clássico)
NÃO-IDEALIZADO
(Moderno ou
Problemático)
ANTI-HERÓI
Qualidades superiores
em todos os aspectos Qualidades e defeitos
Desconstrução da
figura do herói
GRECO-ROMANO
ROMÂNTICO
MEDIEVAL
Humano ou
semideus
Cavaleiro cristão
“Herói nacional” /
Representante da elite daquele tempo
5. Literatura Brasileira Prof. Márcio Hilário
PROTAGONISTA
IDEALIZADO
(Herói Épico ou Clássico)
GRECO-ROMANO
“Aquiles possuía uma força tremenda. Quando ainda era bebê,
Tétis, prevendo o quão forte seu filho seria, quis torná-lo imortal
e, para isso, o mergulhou nas águas do rio Estige. Desse modo,
seu corpo tornou-se invulnerável às armas e às doenças. O
único ponto fraco era o calcanhar direito, que não molhara no
rio, pois por ele é que Tétis segurara o menino. Em seguida, ela
o levou ao mais sábio de todos os centauros, Quíron, o grande
mestre e educador de heróis, para instruí-lo a exercitar seu
corpo e sua mente. A educação de Aquiles começou pela
alimentação: Quíron dava-lhe para comer cérebro de urso, para
que ficasse mais inteligente, e de gazela para que se tornasse
mais ágil; e dava-lhe coração de leão, para que desenvolvesse
coragem. Fez também que ele se exercitasse na corrida de
carros, nas caçadas e, acima de tudo, na arte da guerra. Além
disso, ensinou-lhe literatura, astronomia e até medicina. A musa
Calíope foi encarregada foi encarregada de iniciá-lo no mundo
mágico da música, para que ele cantasse nos banquetes.
Aquiles era inteligente e aprendia rápido. Tornou-se muito forte
e insuperável na corrida; amava caçar com sua pesada lança.
Caçava gazelas sem a ajuda de cães e mal havia completado
seis anos quando matou seu primeiro urso. Desde então,
habituou-se a carregar não somente ursos, mas também leões
para a caverna de Quíron. Até o dia em que o sábio centauro lhe
disse:
– Você aprendeu mais coisas do que eu acreditava que fosse
possível. De agora em diante, deixemos que o dever seja seu
mestre.”
(STHEPHANIDES, Menelaos. Ilíada: a guerra de Tróia. Trad., rev. téc. e notas: Luiz A.
Machado Cabral. São Paulo: Odysseus, 2004.)
Brad Pitt é Aquiles no
filme “Tróia”
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PROTAGONISTA
IDEALIZADO
(Herói Épico ou Clássico)
MEDIEVAL
Sete anos se passaram e Tristão, que até então havia estado ao
cuidado das amas, foi confiado a um mestre, de grande sabedoria e
senso, o bom escudeiro Gorvenal. Ora este logo tratou de lhe ensinar
todas as artes que convinham a um barão e, entre estas, as regras da
cortesia, o canto e o domínio da harpa. Nunca, nem antes nem depois,
se vira uma criança que houvesse recebido melhor educação do que
Tristão e nada, que lhe pudesse atrair a estima e os louvores, fora
esquecido.
Gorvenal ensinou o jovem a manejar a lança, a espada, o escudo e
o arco; com destreza, Tristão aprendeu a lançar o disco de pedra e a
saltar, com um só impulso, sobre largas valas. De igual modo lhe
permitia que brincasse com as outras crianças e jovens da sua idade.
Ensinou-o a usar, com habilidade, as mãos e as pernas, a lutar, a
lançar o dardo com força, como um valente guerreiro, a partilhar, com
os necessitados, os seus bens, a socorrer os mais fracos e a detestar
a mentira e a felonia. Também o instruiu nas artes de cavalgar
carregando o escudo, numa das mãos, e a manejar a espada, na outra,
para que nas batalhas possuísse a força e o conhecimento do
vencedor. E quando o jovem Tristão cavalgava juntamente com os
outros escudeiros, ninguém que o visse conseguiria afastar dele os
olhos tal o seu porte o distinguia, e dir-se-ia que ele, o cavalo e as
armas constituíam um só corpo que nunca havia sido separado. Por
último, ensinou-o a falar como um homem cortês e a jamais faltar à
palavra dada pois se o fizesse seria, por certo, desprezado. Vendo-o,
assim, nobre e distinto, largo de ombros, estreito de flancos, forte, fiel
e corajoso, todos louvavam Rohalt por ser pai de um tal filho. Mas
Rohalt, pensando em Rivalen e em Brancaflor, cujas graça e juventude
o jovem Tristão fazia reviver, amava-o como um verdadeiro filho e, ao
mesmo tempo, reverenciava-o como seu senhor.
(BÉDIER, Joseph. O romance de Tristão e Isolda)
James Franco no filme
“Tristão & Isolda”
7. Literatura Brasileira Prof. Márcio Hilário
PROTAGONISTA
IDEALIZADO
(Herói Épico ou Clássico)
ROMÂNTICO
Então passou-se sobre esse vasto deserto de água e céu
uma cena estupenda, heróica, sobre-humana; um
espetáculo grandioso, uma sublime loucura.
Peri alucinado suspendeu-se aos cipós que se
entrelaçavam pelos ramos das árvores já cobertas de
água, e com esforço desesperado cingindo o tronco da
palmeira no seus braços hirtos, abalou-o até as raízes.
Três vezes os seus músculos de aço, estorcendo-se,
inclinaram a haste robusta; e três vezes o seu corpo
vergou, cedendo a retração violenta da árvore, que
voltava ao lugar que a natureza lhe havia marcado.
Luta terrível, espantosa, louca, esvairada: luta da vida
contra a matéria; luta do homem contra a terra; luta da
força contra a imobilidade.
Houve um momento de repouso em que o homem,
concentrando todo o seu poder, estorceu-se de novo
contra a árvore; o ímpeto foi terrível; e pareceu que o
corpo ia despedaçar-se nessa distensão horrível:
Ambos, árvore e homem, embalançaram-se no seio
das águas: a haste oscilou; as raízes desprenderam-se da
terra já minada profundamente pela torrente.
(ALENCAR, José de. O guarani.)
Márcio Garcia no filme
“O Guarani”
8. Literatura Brasileira Prof. Márcio Hilário
PROTAGONISTA
NÃO-IDEALIZADO
(Herói Moderno ou
Problemático)
“Não direi que fosse bonito, na significação mais
ampla da palavra; mas tinha as feições corretas, a
presença simpática, e reunia à graça natural a
apurada elegância com que vestia. A cor do rosto
era um tanto pálida, a pele lisa e fina. A
fisionomia era plácida e indiferente, mal alumiada
por um olhar de ordinário frio, e não poucas
vezes morto.
Do seu caráter e espírito melhor se conhecerá
lendo estas páginas, e acompanhando o herói
por entre as peripécias da singelíssima ação que
empreendo narrar. Não se trata aqui de um
caráter inteiriço, nem de um espírito lógico e
igual em si mesmo; trata-se de um homem
complexo, incoerente e caprichoso, em quem se
reuniam opostos elementos, qualidades
exclusivas, e defeitos inconciliáveis.”
(ASSIS, Machado de. Ressurreição. Rio de Janeiro/Belo
Horizonte: Garnier, 1988.)
9. Literatura Brasileira Prof. Márcio Hilário
ANTI-HERÓI
“No fundo do mato-virgem, nasceu Macunaíma, herói de nossa
gente. Era preto retinto e filho do medo da noite. Houve um
momento em que o silêncio foi tão grande escutando o murmurejo
do Uiraricoera, que a índia tapanhumas pariu uma criança feia.
Essa criança é que chamaram Macunaíma.
Já na meninice fez coisas de sarapantar. De primeiro, passou
mais de seis anos não falando. Si o incitavam a falar, exclamava:
– Ai! Que preguiça... e não dizia mais nada. Ficava no canto da
maloca, trepado no jirau de paxiúba, espiando o trabalho dos
outros e principalmente os dois manos que tinha, Maanape já
velhinho e Jiguêna força de homem. O divertimento dele era
decepar cabeça de saúva. Vivia deitado mas si punha os olhos em
dinheiro, Macunaíma dandava pra ganhar vintém. E também
espertava quando a família ia tomar banho no rio, todos juntos e
nus. Passava o tempo do banho dando mergulho, e as mulheres
soltavam gritos gozados por causa dos guaimuns diz-que
habitando a água-doce por lá. No mucambo si alguma cunhatã se
aproximava dele pra fazer festinha, Macunaíma punha a mão nas
graças dela, cunhatã se afastava. Nos machos guspiana cara. (...).
Quando era pra dormir trepava no macuru pequeninho sempre
se esquecendo de mijar. Como a rede da mãe estava por debaixo
doberço, o herói mijava quente na velha, espantando os
mosquitos bem. Então adormecia sonhando palavras-feias,
imoralidades estrambólicas e dava patadas no ar.”
(ANDRADE, Mário de. Macunaíma: o herói sem nenhum caráter. São
Paulo: Martins Fontes, 1978.)
Grande Otelo no filme
“Macunaíma”