Este documento discute a importância de se utilizar filmes e documentários nas aulas de Geografia para promover uma análise crítica da realidade representada pelas mídias. Defende que tais produções imagéticas podem auxiliar os estudantes e professores a refletirem sobre os conhecimentos geográficos e a utilizá-los para compreender e transformar o mundo de forma mais consciente. Também enfatiza a necessidade de se conhecer as múltiplas linguagens desses recursos audiovisuais para que sejam adequadamente explorados
1. códigos e linguagens que tais elementos carregam. Sabemos que tal incorporação dos re-
cursos midiáticos – novas tecnologias –, pela Geografia e pela Educação nada mais seria
do que trazer este mundo digital para a sala de aula/escola, tendo em vista que o fazer
pedagógico de muitas unidades escolares ainda se situa distante da realidade dos nossos
Um olhar geográfico sobre filmes e documentários: alunos e da sociedade de modo geral.
o cinema nas aulas de geografia
A revolução tecnológica em curso destinou à informação um lugar estratégico, e os agru-
Hanilton Ribeiro de Souza1 pamentos sociais que não souberem manipular, reunir, desagregar, processar e analisar
SEC/BA – UNEB informações ficarão distantes da produção do conhecimento, estagnados ou vendo agravar-se
hrsouza@uneb.br
sua condição de miséria. (SILVEIRA, 2003 apud PONTUSCHKA, 2007:262)
Nesse sentido, a escola é responsável pelo acesso à informação e ao conhecimento, além
de promover o reconhecimento da importância e do uso das novas tecnologias. Ademais,
Introdução é fundamental preparar o aluno para desenvolver o senso crítico necessário para que possa
selecionar e utilizar as informações e não perder-se no “dilúvio informacional” das redes
de comunicação. (PONTUSCHKA, 2007:263)
Eu ando pelo mundo prestando atenção em cores que eu não sei o
nome. Cores de Almodóvar. Cores de Frida Kahlo, cores. Passeio pelo Sabemos que a revolução tecnológica dinamizou e popularizou o acesso aos meios
escuro. Eu presto muita atenção no que meu irmão ouve. E como uma de comunicação, fazendo com que as informações circulassem pelo globo de forma mais
segunda pele, um calo, uma casca. Uma cápsula protetora. Eu quero
rápida e intensa. Vivemos a chamada sociedade da informação e somos bombardeados
chegar antes. Pra sinalizar o estar de cada coisa. Filtrar seus graus.
diariamente por uma diversidade de códigos e linguagens, sobretudo comunicações vi-
(Esquadros - Adriana Calcanhoto)
suais, que carregam embutidas de forma explícita ou subliminar mensagens ideológicas
O nosso cotidiano está repleto de imagens e sons que transmitem mensagens di- diversas. Diante de tudo isso, é preciso que ampliemos a capacidade de decodificação de
versas e que necessitamos decifrar para uma melhor compreensão da realidade. A cantora/ tais informações e mensagens para uma leitura mais crítica do mundo, para descobrimos
compositora Adriana Calcanhoto enfatiza esta necessidade na música Esquadros, quando o nosso verdadeiro papel nesse processo:
destaca que precisamos apreender cores, formas e sons que o mundo nos transmite, a
fim de que possamos sinalizar o estar de cada coisa, filtrar seus graus, ou seja, para que FIGURA 1
compreendamos a realidade que se impõe, e que se configura de forma complexa, confusa,
efêmera e, sobretudo, contraditória.
A definição de Santos (2000:17) para esse momento que estamos vivendo, leva-nos
a descobrir o quanto estamos desorientados e atônitos em relação à realidade que se impõe:
“vivemos num mundo confuso e confusamente percebido”. Sendo assim, qual seria o papel
da ciência geográfica nesse processo? De que forma o ensino de Geografia poderia subsidiar
os discentes numa análise mais profunda e crítica da realidade atual, principalmente da so-
ciedade midiática?
Cremos que um dos caminhos é a incorporação propositiva dos elementos mi-
diáticos nas aulas de Geografia, a fim de proporcionar a leitura autônoma, consciente e
transformadora do mundo atual a partir da decodificação e articulação das mensagens,
1. Mestre em Cultura, Memória e Desenvolvimento Regional. Professor de Geografia do Colégio Estadual Poliva- In: Quino. 10 Anos com Mafalda, 2010.
lente de Castro Alves – Bahia (SEC/BA) e Professor Assistente de Estágio Supervisionado em Geografia da UNEB
DCH Campus V (Santo Antonio de Jesus/BA).
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2. Nesta direção, Pontuscka enfatiza o seguinte: FIGURA 2
No mundo atual, é possível identificar ampla diversidade de linguagens num contexto
marcado por uma infinidade de informações. A sociedade é cada vez mais uma sociedade
da informação, fruto da revolução tecnológica responsável pela rapidez cada vez maior
dos meios de comunicação. Entretanto, pode-se dizer que tal situação não tem garantido a
inserção crítica dos indivíduos na sociedade, uma vez que, via de regra, as informações são
descontextualizadas e fragmentadas, além de inúmeras e distantes, o que dificulta o estab-
elecimento de relações entre elas e não permite considerá-las na categoria de conhecimento
(PONTUSCKA ET AL, 2007:261)
Ainda discutindo a questão do poder das mídias e da necessidade de construção
de uma postura mais crítica, os PCN’s destacam:
Pela imagem, a mídia traz à tona valores a serem incorporados e posturas a serem adotadas.
Retrata, por meio da paisagem, as contradições em que se vive, confundindo no imaginário
aquela que é real e a que se deseja como ideal; toma para si a tarefa de impor e inculcar um Já discutimos que tais produções midiáticas, tanto da televisão quanto do cinema e
modelo de mundo, de reproduzir o cotidiano por meio da imagem massificante repetida internet, carregam ideologias contidas nas suas mensagens, imagens e sons. Porém, também
pelo bombardeamento publicitário, sobrepondo-se às percepções e interpretações subje- é preciso destacar que nós, professores, podemos e devemos utilizar tais linguagens para
tivas e/ou singular por outras padronizadas e pretensamente universais”. (PCNs, 1999:112)
fomentar nos nossos discentes uma leitura mais crítica e autônoma da realidade, contri-
Neste mundo regido pela mídia, também intitulado de sociedade midiática ou buindo assim para um debate sobre cultura, sociedade, política, economia e meio ambiente
imagética, sabemos que tais produções influenciam na nossa capacidade de percepção, nas aulas de Geografia. Pontuscka et al (2007:280), destaca que “para nós, geógrafos e
análise e, consequentemente, de transformação do espaço geográfico, pois as informações professores de Geografia, o filme tem importância porque pode servir de mediação para o
nem sempre são traduzidas em conhecimento, devido a pouca profundidade conceitual desenvolvimento das noções de tempo e de espaço na abordagem dos problemas sociais,
com que são tratadas, bem como pela prévia seleção/censura feita pelos diversos meios econômicos e políticos”:
de comunicação. Sendo assim, a escola e a academia devem também se apropriar de tais
recursos midiáticos para que possamos melhor preparar nossos discentes para uma leitura FIGURA 3
mais crítica e cidadã do mundo, a partir das imagens, sons, códigos e mensagens produzidas
pelas mídias. Castellar e Vilhena destacam:
As produções midiáticas impregnam o cotidiano, influenciam nossa percepção de espaço e
tempo, os dados do nosso conhecimento e nossa visão de mundo. Elas modificam a nossa
relação com o real. Esse envolvimento influencia as reflexões e os comportamentos, os
modos de pensar e a aquisição de conhecimento. Essas situações do cotidiano influenciam a
dinâmica da escola e, consequentemente, da sala de aula, impondo outros ritmos e concep-
ções do papel da escola e do professor (...) Se o objetivo das aulas, entre outros, é ampliar a
capacidade crítica do aluno, é preciso propor situações em que ele possa confrontar idéias,
questionar os fatos com argumentação e, ao mesmo tempo, facilitar-lhe o acesso aos vários
gêneros de textos e de linguagens. (CASTELLAR & VILHENA, 2009:65-66)
Seguindo a mesma direção de Castellar e Vilhena sobre a questão do papel ideo-
lógico das produções imagéticas sobre a sociedade, o cartunista Ziraldo, leva-nos também Nesse sentido, concebemos que a utilização de produções imagéticas (cinema,
a refletir sobre tal situação na figura abaixo: televisão e internet) nas aulas de Geografia pode proporcionar um diálogo entre o mundo
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3. real e o representado pelas mídias, auxiliando alunos e professores na reflexão sobre os dose de alucinação consensual entusiástica requerida para que o processo de aprender
conhecimentos geográficos e a sua utilização para compreensão e transformação da reali- aconteça como mixagem de todos os sentidos”.
dade. Nessa perspectiva, Pontuscka também salienta que: Concebemos ainda que uma das maneiras de aliarmos todos os sentidos para a
produção do conhecimento é através da inserção de novas tecnologias em sala de aula,
As imagens sonorizadas do cinema também podem lidar com espaços e tempos diferentes.
inclusive com a inclusão da sétima arte - filmes e documentários - nas aulas de Geografia,
Mesmo os filmes comerciais podem trazer elementos para a reflexão pedagógica, permitindo
como forma analisar, refletir e criticar a realidade a partir da ficção contida nesses produtos
ao professor – em nosso caso, o de Geografia – realizar uma análise crítica do filme como arte
e como linguagem rica de conteúdos que, embora sejam ficcionais, podem ter-se espelhado imagéticos. Agindo dessa forma, estamos - academia/escola - como ambientes de apren-
em fatos reais ou na vasta literatura disponível (...) Portanto, torna-se imprescindível que os dizagem, criando novas experiências de ensino, estimulando a curiosidade, inventividade
filmes penetrem no currículo das escolas superiores, formadoras de professores, e também e a ludicidade em nossos discentes, mas sem perder a cientificidade.
nas escolas de ensino fundamental e médio, que precisam desenvolver o espírito crítico e Enfim, num mundo confuso e contraditório, onde a sociedade e a educação passam
não aceitar tudo o que aparece no cinema como verdade ou como real. (PONTUSCKA ET por momentos de desilusão e desencanto, é imprescindível que nós, professores de Geo-
AL, 2007: 281-282). grafia, utilizemos outras linguagens para contextualizar e ressignificar os conhecimentos
geográficos. Kaercher (2003:34), nos diz que “sem poesia a razão se petrifica, os homens
Temos conhecimento de que inúmeros professores e graduandos de Geografia
viram objeto de estudo e nada novo se cria, somente... novos... conhecimentos. E não pa-
já utilizam filmes e documentários como recursos didáticos nas suas aulas, servindo não
rece que seja falta de conhecimento o problema de nossa civilização ocidental, tecnicista
apenas para dinamizá-las, mas, sobretudo, proporcionando uma apropriação da ficção para
e industrial”.
a discussão do real. Porém, é preciso destacar a importância de se conhecer tais materiais
Nessa direção, concebemos que a sétima arte possa ser uma das alternativas para
e as múltiplas linguagens que eles carregam, além de planejar cuidadosamente o seu uso,
reencantarmos o ensino da Geografia e a Educação, pois, como afirma Barbosa (1999:131
buscando assim a sua utilização para construção e ampliação do conhecimento geográfico,
apud Pontuscka et al, 2007:283), “o diálogo da Geografia com o cinema é um vir-a-ser,
mas sem se deixar dominar e nem concebendo que tal recurso possa se tornar o salvador
capaz de contribuir para superar a nossa condição de meros objetos das representações. E
das nossas aulas, pois recursos e técnicas de ensino isoladamente não determinam o sucesso assim fazer as nossas salas de aula lugares de invenção de novas e mais generosas utopias”.
ou o fracasso do processo ensino-aprendizagem:
A linguagem do cinema é uma produção cultural que pode ser utilizada em sala de aula a O cinema nas aulas de geografia
fim de abrir cada vez mais horizontes intelectuais para a análise do mundo, necessária à
Num mundo diverso, dinâmico e também confuso, torna-se imprescindível que a
formação da criança e do jovem. Para tanto, os professores precisam conhecer minimamente
essa linguagem, que é muito rica porque integra imagens em movimento: a expressão oral
escola e a Geografia se apropriem de novas linguagens, tecnologias e recursos, a fim de criar
e corporal, a cor, e tudo temperado pelas trilhas musicais. A linguagem cinematográfica é, um ensino mais contextualizado, ressignificado e, acima de tudo, formador de autonomia,
com efeito, a integração de múltiplas linguagens. (PONTUSCHKA, 2007:279) curiosidade e criticidade. Sendo assim, fora nesse sentido que propomos ao NUPE (Nú-
cleo de Pesquisa e Extensão) da UNEB (Universidade do Estado da Bahia), DCH Campus
Nas reflexões sobre o espaço geográfico veiculado pela mídia, as categorias de análise da V (Santo Antonio de Jesus/BA), o referido projeto de extensão, o qual busca a análise e
Geografia devem se sobrepor à linguagem das mídia. Agindo dessa forma, o professor
catalogação filmes e documentários, a partir dos conhecimentos/conteúdos geográficos
ampliará as possibilidades de uso do material midiático servindo-se do mesmo sem ser
contidos em tais produções, ou seja, um olhar geográfico sobre filmes e documentários,
por ele dominado. É necessário estar atento à força, e conhecê-la, do texto midiático que é
construído e organizado para conquistar o leitor; seja na imprensa escrita ou televisada a
a fim de formar um banco de dados para auxiliar os docentes da área e, especialmente,
linguagem é atraente, pois a emoção é utilizada como suporte. (LEÃO & LEÃO, 2008:40) os discentes do Curso de Geografia nas suas aulas durante o estágio e também na sua
carreira profissional, pois concebemos que a utilização das múltiplas linguagens contidas
No mundo atual, concebemos também que a escola não é mais o único espaço nessas produções imagéticas pode contribuir para a ampliação dos horizontes de análise
educativo da sociedade, porém, como afirma Assmann (2003), ela não pode renunciar a do espaço geográfico.
ser aquela instância educacional que tem o papel peculiar de criar conscientemente expe- O projeto de extensão também objetiva discutir o papel das novas/outras mídias
riências de aprendizagem. Sendo assim, ainda segundo Assmann (2003:29), “o ambiente em sala de aula, bem como refletir sobre a utilização adequada das produções imagéticas
pedagógico tem de ser lugar de fascinação e inventividade. Não inibir, mas propiciar aquela por professores e estagiários nas aulas de Geografia do Ensino Básico, ou seja, realizar uma
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4. discussão quanto aos procedimentos metodológicos e avaliativos referentes ao uso de tais informações - banco de dados, possibilitando assim a utilização de filmes e documentários
produções em sala de aula para a construção do conhecimento geográfico. nas aulas de Geografia de uma maneira mais sistematizada, contextualizada e planejada.
Devemos salientar que o projeto destina-se tanto para os professores e graduandos Devemos destacar que tal projeto ainda se encontra em fase de desenvolvimento,
do curso de Geografia do Departamento de Ciências Humanas – Campus V (UNEB), quanto tendo sido iniciado no ano de 2009, e já possuindo vários filmes analisados e catalogados.
para os professores de Geografia do Ensino Básico dos municípios atendidos pelo curso Salientamos também que ao final do projeto, o Banco de Dados dos filmes e documentá-
(Recôncavo Baiano) e que possuam interesse na temática desenvolvida, ou seja, a utilização rios será encaminhado à Biblioteca do Campus, visando a criação e/ou ampliação de uma
da sétima arte nas aulas de Geografia, possibilitando assim a ludicidade, a contextualização Videoteca de Geografia, a fim de subsidiar professores e discentes na construção de outras
e a ressiginificação da Geografia, enquanto ciência e disciplina escolar. experiências de aprendizagem no ensino de Geografia. Experiências essas que possibilitem
Sabemos que a utilização de outras linguagens em sala de aula é algo essencial no aulas mais contextualizadas, ressignificadas, lúdicas e prazerosas, que despertem a curio-
mundo atual – sociedade digital e midiática, podendo contribuir consideravelmente para sidade e a inventividade nos educandos, além de contribuir para formação de cidadãos
a ressignificação e a contextualização do conhecimento geográfico. Nós, professores e autônomos e conscientes do seu papel na comunidade. Nesse sentido, Assmann destaca:
discentes do curso de Geografia do Departamento de Ciências Humanas – Campus V, na
Precisamos reintroduzir na escola o princípio de que toda a morfogênese do conhecimento
busca por novas experiências de ensino-aprendizagem, temos que utilizar (experimentar) tem algo a ver com a experiência do prazer. Quando esta dimensão está ausente, a apren-
outras tecnologias, neste caso, as produções imagéticas (filmes e documentários), visando dizagem vira um processo meramente instrucional. Informar e instruir acerca de saberes
não apenas a preparação do futuro professor de Geografia, mas também auxiliando-o na já acumulados pela humanidade é um aspecto importante na escola, que deve ser, neste
transformação do ensino-aprendizagem desta ciência no Ensino Básico. Nesse sentido, aspecto, uma central de serviços qualificados. Mas a experiência de aprendizagem implica,
concebemos que a utilização de filmes e documentários – produções que fazem a mixa- além da instrução informativa, a reinvenção e construção personalizada do conhecimento.
gem de diversas linguagens e códigos -, para o desenvolvimento de conteúdos geográficos E nisso o prazer representa uma dimensão-chave. Reencantar a educação significa coloca
a ênfase numa visão da ação educativa como ensejamento e produção de experiências de
pode reencantar o ensino, possibilitando a construção de outras e novas Geografias nas
aprendizagem. (ASSMANN, 2003:29)
salas de aula.
No que se refere à metodologia utilizada na pesquisa, devemos salientar que foi Além da análise e catalogação de dados sobre filme e documentários, já relatamos
subdividida em três fases, a saber: levantamento e aquisição de dados; sistematização e que tal projeto também se propõe a discutir sobre a importância das novas tecnologias em
análise dos mesmos; e catalogação dos dados com a criação de um banco de dados com sala de aula (recursos didáticos), bem como sobre os procedimentos metodológicos e ava-
filmes e documentários para se trabalhar nas aulas de Geografia. liativos relativos ao uso de tais elementos no processo ensino-aprendizagem. Sabemos que
A primeira fase da pesquisa, ou seja, o levantamento de dados, se constitui pela muitos professores, infelizmente, concebem que apenas com aplicação de alguma técnica ou
investigação no Departamento, locadoras, internet e em outros locais sobre filmes e docu- recurso tido como novo ou revolucionário, poderão alterar por si só a prática pedagógica.
mentários que possam conter conteúdos geográficos para serem trabalhados em sala de aula. Porém, temos consciência que a mudança pedagógica com a utilização de técnicas e recursos
A sistematização dos filmes e documentários, relativa à segunda fase, caracteriza- tem que estar acompanhada de uma avaliação dos referenciais teóricos-metodológicos do
se pela classificação e análise das produções imagéticas com a identificação dos conteúdos professor, bem como a utilização de recursos e técnicas deve estar também bem planejada
geográficos que podem ser associados/trabalhados em sala de aula. Devemos destacar que e articulada com os demais elementos do processo de ensino, ou seja, objetivos, conteúdos,
nesta fase os monitores do projeto preenchem uma Ficha de Análise que alimenta o Banco procedimentos e avaliação. Nesse sentido, Silva (2004:63) destaca que “o educador tende a
de Dados, constando em tal ficha as seguintes informações: 1- Nome da Produção; 2- Ficha acreditar que a técnica pode salvar seu trabalho e acaba delimitando, a priori, aquela tida
Técnica; 3- Sinopse; 4- Séries Indicadas para se Trabalhar com tal Produção Imagética; como mais crítica, sem nenhuma reflexão sobre a adequação técnica-conteúdo-recurso-
5- Conteúdos Geográficos Abordados pela Produção; 6- Temas Transversais que podem avaliação.” Carvalho 1998 apud Silva (2004:63), também destaca o seguinte: “Se querem
ser Trabalhados; 7- Observações e Considerações quanto ao Filme/Documentário. mudar a prática cotidiana de sala de aula, mudem o conjunto maior, porque nenhuma
A catalogação e criação de um Banco de Dados dos filmes e documentários com técnica ou conteúdo pode ser revolucionário por si mesmo.”
conteúdos geográficos se constituem na etapa final deste projeto de monitoria de extensão, Nessa direção, destacamos que a utilização de filmes e documentários nas aulas
permitindo dessa forma que professores, graduandos e graduados do curso de Geografia de Geografia pode e deve ser um importante aliado na construção de outras, novas e mais
do Departamento de Ciências Humanas – Campus V, tenham acesso a tal conjunto de atraentes Geografias, possibilitando dessa forma a apropriação e também a construção
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5. do conhecimento geográfico por parte dos educandos, à medida que nossa ciência está FIGURA 4
no cotidiano e a fazemos constantemente nas inúmeras tarefas que efetuamos. Porém, a
utilização de tais produções imagéticas, bem como de outros recursos e técnicas, deve ser
sempre bem planejado e articulado, a fim de que não incorramos no erro de apenas utilizar
filmes e documentários para “tapar buracos” quando estamos cansados ou quando queremos
“distrair” determinada turma durante nossas aulas. Pensadas e executadas dessa forma, as
produções imagéticas, perdem o seu significado e a sua importância, inviabilizando assim
o seu potencial, ou seja, a apropriação pelos educandos das múltiplas linguagens e códigos
contidos nos filmes e documentários para a construção do conhecimento geográfico e
para a intervenção na realidade. Sendo assim, Assmann (2003:32) destaca que “duas coisas
devem andar juntas em nossa maneira de entender a educação: a melhoria pedagógica e o
compromisso social.” Kaercher (2003:11), também enfatiza que “a forma como trabalhamos
e construímos o conhecimento com os alunos é o cerne de uma educação mais democrática In: Quino. 10 Anos com Mafalda, 2010.
e comprometida na luta contra a repetência e a exclusão social.”
Considerações finais REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
ASSMANN, Hugo. Reencantar a educação: rumo à sociedade aprendente.Petrópolis/
Num mundo digital e globalizado, cheio de informações que inundam nosso RJ: Vozes, 1998
cotidiano, carregando códigos, mensagens e múltiplas linguagens, bem como ideologias
CASTELLAR, Sônia. VILHENA, Jerusa. Ensino de Geografia. São Paulo: Cengage Lear-
subliminares, torna-se necessário que nos apropriemos dos recursos tecnológicos para
ning, 2009 (Coleção Idéias em Ação).
a nossa prática pedagógica, a fim de não apenas enriquecer ou adequar nossas aulas à
realidade atual, mas, sobretudo, para que possamos, com as novas tecnologias, propiciar KAERCHER, Nestor. A Geografia é o Nosso Dia-a-Dia. In:CASTROGIOVANNI, An-
novas formas de aprendizagem para os nossos educandos, instrumentalizando-os para tonio Carlos. KAERCHER, Nestor André, Et al (orgs). Geografia em sala de aula. Porto
Alegre/RS: Editora da UFRGS, 2003.
uma inserção mais crítica, reflexiva e transformadora nessa sociedade imagética/digital,
mas que também é uma sociedade excludente, confusa e contraditória. LEÃO, Vicente de Paula. LEÃO, Inêz Aparecida de Carvalho. Ensino da Geografia e Mí-
Assim, ao propormos o uso planejado e articulado das produções imagéticas como dia: linguagens e práticas pedagógicas. Belo Horizonte/MG: Argvmentvm, 2008.
recursos didáticos nas aulas de Geografia, estamos indicando uma possibilidade de pensar PARÂMETROS CURRICULARES NACIONAIS – Ensino Fundamental e Médio: Ci-
sobre a decodificação de mensagens e linguagens para a análise e leitura do mundo atual, a ências Humanas e suas Tecnologias (1999). MEC: Conselho Nacional de Educação.
fim de que articulemos, contextualizemos e nos apropriemos de tais informações, visando PONTUSCHKA, Nídia Nacib. Et al (Orgs). Para Ensinar e Aprender Geografia. São
a produção autônoma do conhecimento, o qual devemos utilizar para a transformação Paulo: Cortez, 2007.
positiva do espaço geográfico.
QUINO. 10 Anos com Mafalda. Tradução: Mônica Stahel. São Paulo: Editora WMF
A utilização de filmes e documentários nas aulas de Geografia também permite Martins Fontes, 2010.
que utilizemos a sétima arte como dinamizadora da criatividade, da reflexão e da critici-
QUINO. Toda Mafalda. São Paulo: Martins Fontes, 2003.
dade em nossos educandos, empregando a ficção cinematográfica ou os relatos reais dos
documentários para a compreensão do mundo atual. Sendo assim, concluímos nosso artigo SANTOS, Milton. Por uma outra Globalização: do pensamento único a consciência uni-
com mais uma tirinha de Quino, destacando que é nossa tarefa, enquanto educadores, versal – 4ª ed. – Rio de Janeiro: Record, 2000.
trazer a imaginação, a inventividade, a criatividade, a reflexão e a análise crítica para as SILVA, Onildo Araújo da. Geografia: metodologia e técnicas de ensino. Feira de San-
nossas aulas, instrumentalizando os nossos educandos para que saibam se posicionar e tana/BA:UEFS, 2004.
atuar positivamente no mundo atual, onde a força da imagem e das múltipas linguagens ZIRALDO. As Melhores Tiradas do Menino Maluquinho. São Paulo: Melhoramentos,
emitidas pela mídia são muito eficientes e sedutoras, mas também predatórias: 2000.
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