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FACULDADE DA ESCADA – FAESC
CURSO DE BACHARELADO EM FISIOTERAPIA
MOVIMENTO BODY ART
ESCADA
2016
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Sumário
1. INTRODUÇÃO...................................................................................................................3
2. BODY ART E A HISTÓRIA DA ARTE CORPORAL…...............................................................4
2.1 Arte Corporal Como Forma de Ritual.........................................................................4
2.2 1960-1980 O Nascimento de Uma Nova Forma de Arte............................................5
2.3 Body Art Contenporânea............................................................................................6
2.4 Principais Características............................................................................................7
2.5 Principais Autores e Obras.........................................................................................7
3. GLOSSÁRIO.....................................................................................................................8
4. CONCLUSÃO...................................................................................................................11
5. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICA........................................................................................12
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1. Introdução
A Body Art ou arte do corpo tem uma longa história não contínua nem linear. Na acepção
atual designa um movimento da arte contemporânea, surgido nos anos 60 que toma o
corpo como matéria ou meio de expressão para a realização de trabalhos, sendo
frequentemente associada aos happenings e às performances. Opondo-se à tradição
ocidental que emprestava à arte o papel de transfigurar a verdade orgânica do corpo, a
body art não é uma nova forma de representação do corpo ou sobre o corpo, como as
encontráveis ao longo de toda a história da arte.
Tomando o corpo do artista como suporte para a realização de intervenções, a
body art exibe o corpo em todos os estados de lesão, exaltando o corpo lacerado, a carne
mutilada, produzindo visões em geral associadas à violência, ao sofrimento e à
decomposição. O sangue, o suor, o esperma, a saliva e outros fluidos corpóreos que são
utilizados nos trabalhos trazem à luz a materialidade do corpo, que funciona como suporte
para gestos ou cenas que assumem por vezes a forma de sacrifícios ou de rituais.
Tatuagens, piercings, escarificações, deformações, ferimentos, são realizados, sejam em
local privado e divulgado por meio de filmes, vídeos ou fotografias, sejam em público, o
que demonstra o caráter radicalmente teatral desta arte do corpo.
Considerando as declarações de seus artistas, suas realizações e os textos críticos
que fazem referência à esta vertente da arte contemporânea, podemos compreendê-la
como uma reação a um mercado internacionalizado e à tônica da relação arte/técnica,
assim como podemos perceber por via da mesma body art a entrada em cena de novos
atores sociais; negros, mulheres, homossexuais, gerando uma nova semântica para as
práticas contemporâneas do uso artístico do corpo. Neste contexto a body art é uma forma
de comunicação e afirmação de uma identidade, função que parece atravessar toda a sua
longa presença na experiência humana. A body art reedita também certas práticas
utilizadas por sociedades “primitivas”, como pinturas corporais, tatuagens e inscrições
diversas sobre o corpo, remontando a uma genealogia que reconhece a certeza de uma
anterioridade da decoração sobre o corpo sobre todas as outras formas de representação
plástica.
Encontramos assim os primeiros usos de body art entre esculturas e ornamentos
arqueológicos achados no Egito, na Grécia, assim como fragmentos e objetos do antigo
Peru, Equador, México e Costa Rica, como é mostrado na Figura 1.
Figura 1: Primeiras referências feita a Body Art.
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Considerando que o fazer arte é um símbolo que define a humanização, o corpo
foi então a primeira tela. Recuando ainda mais, pinturas, desenhos e ornamentos
descobertos em cavernas indicam a presença de povos que há aproximadamente 30000
anos intervinham no próprio corpo. Do mesmo modo as tumbas e sarcófagos, revelam
que certas civilizações usavam tatuagens, piercings e esculpiam seus corpos, decorando-
os há milênios. Tudo indica que as formas identificadas como body art apareceram no
mundo antigo com o mesmo propósito principal: expressar identificação com alguns
grupos e distinção de outros, questionar o lugar do indivíduo no universo e no plano social
e, em casos de uso religioso, buscar comunicação com a vida após a morte.
Se pensarmos na arte de pintar o corpo, constata-se que esse processo é tão antigo quanto
a cultura humana, de forma que em sociedades primitivas era comum utilizar tintas para cobrir o
corpo com sinais, que muitas vezes, ultrapassavam a questão de “adornar”, posto que em algumas
culturas, os traços que cada um carregava pressupunha hierarquia, festividades típicas, passagem
de ciclo, etc.
Foi dessa forma que a arte do corpo ou a body art surgiu, primeiramente como
ritual religioso ou marca cultural para designar determinada pessoa no grupo e, mais tarde,
como forma artística propriamente dita. Dessa maneira, importante notar que a body art
passou por diversas transformações até chegar no século XXI como uma das tendências
mais exploradas, tal qual a tatuagem. Em resumo, antes ela surgia como uma necessidade
de cultivar a crença e os rituais, e atualmente, como forma de explorar artisticamente a
mais importante identidade humana: o corpo.
2. BODY ART E A HISTÓRIA DA ARTE CORPORAL
Como nós decoramos nossos corpos diz aos outros quem somos como indivíduos. Em
todo o mundo, muitas pessoas usam sua pele como tela viva, representando experiências
passadas, bravura, status, beleza, proteção, fertilidade, magia, transformações e conexões
com outros reinos. Esses tipos incríveis de expressão existem em dois mundos paralelos,
um mundo mais antigo oriundo de rituais e tradições que nos distinguem como o ser
humano, e o outro mundo como uma forma de arte contemporânea.
Um antigo provérbio ban de Bornéu diz:"Um homem sem tatuagens é invisível
para os deuses”. A pintura do corpo, ou como também é conhecida bodypainting, é uma
forma de arte corporal, que por sua vez, é uma arte constituída pelo o corpo humano:
Ao contrário de tatuagem e outras formas de arte do corpo permanente, pintura
corporal é temporária, pintada sobre a pele humana, e tem a duração de um dia, ou no
máximo (no caso de Mehndi, "henna") duas semanas. A arte corporal também é uma
subcategoria de arte performática, em que artistas usam ou abusam do seu próprio corpo
para fazer suas declarações particulares.
A autora Bella Volen [4] separou o movimento Body Art em três momentos: Arte
corporal como forma de ritual,
2.1 Arte Corporal Como Forma de Ritual
Toda sociedade, passada ou presente, tem ou teve sua cultura própria de arte
corporal. Os rituais são uma constante universal na sociedade humana. Começando com
o início do desenvolvimento cultural humano, rituais continuaram a ter espaço na
sociedade, mesmo no mundo moderno. Não há escassez de pesquisas sobre rituais e
teorias sobre sua natureza. Em todas as culturas, rituais coincidem com grandes pontos
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de viragem da vida no que diz respeito ao indivíduo (nascimento, puberdade, casamento,
morte).
A pintura do corpo com argila e outros pigmentos naturais existia na maioria das
culturas tribais. Muitas vezes usada durante cerimônias, esta antiga forma de expressão é
ainda muito utilizada entre muitos povos indígenas do mundo de hoje. Outras formas de
arte baseada em rituais incluem tatuagens, piercing, plugs nariz-orelhas-boca, Mehndi e
escarificação.
Todos os tipos de arte corporal possuem um grande significado nestas culturas.
Para eles a arte corporal é uma parte crucial de expressão social, espiritual, pessoal, como
mostra a Figura 2, e também mostram a posição de uma pessoa num determinado grupo
podendo representar sua origem, sua posição, símbolo de poder, experiência.
Figura 2: Body art feita em rituais reigiosos.
2.2 1960-1980 O Nascimento de Uma Nova Forma de Arte
Por volta de 1960, os artistas estavam à procura de novas formas de expressão, novas
formas de pintura, provocante e chocante. As performances de arte e pintura do corpo
passam a ser inspirados por fluxus e momentos, onde é tudo sobre o momento da criação,
a liberdade sexual e não o resultado final da obra de arte. Por outro lado outros artistas
como Verushka estão criando belas imagens de transfigurações onde o corpo se funde
com a natureza e torna-se uma parte do ambiente, torna-se, por vezes, um objeto.
Um dos principais movimentos da arte corporal neste período foi na Áustria. O
termo vienense Actionism descreve um movimento curto e violento na arte do século 20
que podem ser considerados como parte dos muitos esforços independentes da década de
1960 para desenvolver a "arte de ação". Seus principais participantes foram Günter Brus,
Otto Mühl, Hermann Nitsch e Rudolf Schwarzkogler. Como "ativistas", eles estavam
ativos entre 1960 e 1971. A maioria tem continuado o seu trabalho artístico de forma
independente a partir do início dos anos 1970 em diante. A Figura 3 mostra o estado da
Body art entre o período de 1960-1980.
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Figura 3: Grandes mudanças na Body art.
2.3 Body Art Conteporânea
A body art conteporânea compreende o período após a década de 1980 e passou a
retratar:
Pintura do corpo da bela arte
Propaganda
Pintura corporal de Moda
Pintura corporal de comercial
Efeitos especiais
Aerógrafo
Competição de pintura corporal
Paintloon
Action painting
Shows de pintura corporal e performances
Figura 4: Imagens de artistas e projetos famosos do terceiro momento da body art.
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2.4 Principais Caraterísticas
As principais características do movimento body art são:
Corpo Humano como suporte e experimentação artística
Materialidade e resistência do corpo
Relações entre arte e a vida cotidiana
Arte como forma de protesto
Choque do espectador
Uso de performances, videoartes e instalações
Temática livre de preconceito (cultura do corpo, sexualidade, nudez, etc.)
Tatuagens, maquiagens, deformações, travestimento, mutilações, escarificações,
queimaduras, implantes e ferimentos
Aproximação com a arte conceitual, minimalismo, surrealismo e dadaísmo
2.5 Principais Autores e Obras
Os principais artistas que promoveram trabalhos do movimento body art foram:
Yves Klein (1928-1962): artista francês e um dos precursores da body art.
Conhecido por utilizar corpos femininos como suporte para sua arte, tal qual
pincéis vivos. Uma de suas performances mais famosas foi utilizar modelos
cobertas por tinta azul e, de forma que as arrastava elas formavam manchas na
tela. Essa técnica foi denominada de “Antropometria” ou “Medições visuais do
corpo humano”.
Bruce Nauman (1941): artista contemporâneo estadunidense, famoso por suas
performances e instalações com neon, fotografias e vídeos. Segundo ele: “Quero
usar o meu corpo como material e manipulá-lo”. Uma de suas obras em que utiliza
seu corpo como forma de expressão é a “Fonte Refluxo”, performance realizada
em 1966, na qual ele cospe jatos de água pela boca em movimentos repetitivos.
Vito Acconci (1940): artista estadunidense, destaca-se por suas performances
como o “RubbingPiece” (1970), em português “Esfregando a peça”, em que ele
esfrega seu braço até surgir uma ferida ou “Trappings” (1961), em português
“Armadilhas”, em que ele passa horas conversando com seu pênis e colocando
roupas de bonecas.
Piero Manzoni (1933-1963): artista italiano considerado um dos mais radicais de
da Body Art e famoso por sua obra “Merded'artista” ou “Merda de Artista”
(1961), formada por 90 latas contendo suas próprias fezes. Essa obra foi um
sucesso, exposta em museus renomados pelo mundo, de forma que em 2007,
Manzoni chegou a vender uma de suas latas por mais de 1 milhão de libras.
Rudolf Schwarzkogler (1940-1969): artista austríaco marcante por suas obras
sinistras e mórbidas de forte conotação política. Foi participante do grupo de “Arte
e Revolução” dos acionistas vienenses, ao lado de Herman Nitsch, Otto Mühl e
Günter Brus, formado em Viena entre 1965 e 1970. Sob o lema da liberdade
artística, o grupo foi considerado extremista no tocante à atuação de
performances, com mutilações, nudez e sexo.
Outros artistas contemporâneos que merecem destaque com trabalhos de body art são:
Marina Abramovic, Eva Hesse, Bob Flanagan, Viennois Gunter, Chris Burden, Gina
Pane, Dennis Oppenheim, Urs Luthi, Michel Journiac, Youri Messen-Jaschin e Stuart
Brisley.
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3 GLOSSÁRIO
Assim como toda área específica o movimento Body art possui um vocabulário
específico, conhece-lo ajudará a entender melhor o movimento. Abaixo temos
algumas palavras que fazem parte deste glossário:
Body Painting: usando materiais diferentes tanto representa a transformação da
pessoa num espírito, em uma obra-de-arte, em um outro gênero, como expressa
aliança e proteção em rituais de iniciação, funerais e casamentos, como ainda
vemos nas pinturas de henna nas mãos das noivas na Índia, Figura 5.
Figura 5: Pintura de Henna nas mãos da noiva na Índia.
Body Shaping: a forma do corpo humano pode ser alterada, e vários povos, em
várias épocas, escolheram meios de modelar seus corpos de maneira a torná-lo
conforme a certos locais ideais de beleza; é o caso dos sapatos japoneses que
modificam a forma dos pés, pescoços esticados com anéis e o das atuais e comuns
cirurgias estéticas. Práticas de modelar a cabeça se referem a datas de 6000 anos
atrás e continuaram ocorrendo, inclusive na Europa, até ao século XIX, e hoje em
algumas comunidades da América do Sul. A Figura 6 mostra um exemplo de body
shaping.
Figura 6: Exemplo de Body Shaping
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Tatuagem: os modelos e as técnicas de tatuagem que consistem em perfurar a
pele com um instrumento afiado e insertar pigmento através da camada inferior
da epiderme variam bastante segundo as diversas culturas onde expressam
mensagens diferentes: podem representar ritos de passagem, postos hierárquicos,
um compromisso de aliança, a marca de um castigo, um ornamento de moda ou
uma postura de rebelião. Esta multiplicidade de sentidos além da contracultura e
da forma eletrônica recentemente inventada de tatuar respondem pela sua
frequência atual nos corpos dos jovens. A Figura 7 mostra exemplos de tatuagens.
Figura 7: Exemplos de tatuagens.
Escarificação: Enquanto para algumas culturas a pele imaculada é símbolo de
beleza para outras a pele lisa indica um corpo ainda não pronto ou decorado.
Realiza-se a partir da produção de cortes e cicatrizes assim como da inserção de
substâncias ou objetos que produzam queloides e relevos na pele. Hoje teríamos
como referência as experiências de intervenção sobre si mesma que produz e
divulga a artista contemporânea Orlan que faz do próprio corpo ator e personagem
nas cirurgias rituais que executa e sofre. A Figura 8 mostra um exemplo de
escarificação.
Figura 8: Exemplo de Escarificação.
Piercings: tem um caráter decorativo quando acrescenta ao corpo ou ao rosto
alguns ornamentos (mais comuns na orelha, nariz e lábios da população jovem)
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foram encontrados em antigos túmulos incas, maias e entre povos da Ásia e do
Mediterrâneo. Também tem o sentido de marcar uma passagem, uma
transformação, uma mudança de idade ou status e assim pode ser restrito a
algumas pessoas ou a algumas ocasiões. Além destes, outras partes do corpo
também podem receber piercings, inclusive os órgãos genitais, marcando uma
territorialização, segundo alguns, uma mutilação, segundo outros. A Figura 9
mostra um exemplo do uso de piercings.
Figura 9: Piercings
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CONCLUSÃO
Body Art é uma forma de expressão das artes visuais que de certa maneira
apresenta características das artes cênicas. Neste tipo de obra planejada incorpora-se
alguns elementos de espontaneidade ou improvisação que nunca se repeti. Neste tipo de
manifestação das artes visuais onde até o corpo do próprio artista ser utilizado como
suporte ou meio de expressão. Vários artistas conceituados utilizavam arte para expressar
seus sentimentos mais profundos e impactantes sobre a visão deles com o corpo.
Apesar de ter surgido a um bom tempo atrás, as manifestações da body art ainda
podem ser vistas pelas pessoas que utilizam seu corpo, mantendo vivo o movimento e ao
mesmo tempo renovando técnicas, acrescentando novas formas para mostrar o seu eu de
uma forma diferente e impactante. Há algo de filosófico no comportamento de quem
defende essa arte e passa todo o processo de dor para transformar o próprio corpo. “A
dor faz parte da vida. Não precisamos fugir dela, apenas sentir, aguentar e superar. A
satisfação de poder superar é enorme e depois ficar com aquela marca torna você um ser
humano único”, descreve a body artista natalense Fabiana Fernandes.
Por esses e outros motivos a body art se torna um modo de expressão artística
mesmo depois de décadas, tão atual e revolucionária, pois consegue mexer com o meio
externo e o interno, impactando a sociedade de forma positiva ou negativa, mas deixando
sempre sua marca ou mensagem.
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REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
[1] Leticia. Blog pessoal. História da Arte. Disponível em:
<http://portfoliohistoriadaarte.blogspot.com.br/2011/11/body-art.html> Acesso em: 11
Set 2016.
[2] TUCHERMAN, I. Arte e Corpo. Fundação Coa Parque. Disponível em: <
http://www.arte-
coa.pt/index.php?Language=pt&Page=Saberes&SubPage=ComunicacaoELinguagemAr
te&Menu2=ArteVidaEMeio&Filtro=76&Slide=114> Acesso em: 21 Set 2016.
[3] TODAMATÉRIA. Site de artigos escolares. Body Art. Disponível em:
<https://www.todamateria.com.br/body-art/> Acesso 07 Set 2016.
[4] VOLEN, B. Body Painting &Body art History. Disponível em: < http://www.bella-
volen.com/Body-Painting-History-Bodyart-History-Geschichte-der-
Koerperbemalung.html> Acesso em: 19 Set 2016.