Este documento apresenta uma proposta de projeto para o Escadão da Avanhandava e o Recanto Palhaço Sputinik no bairro do Bixiga, em São Paulo. O projeto visa fornecer acesso vertical complementar à escadaria, preservar a vegetação existente e oferecer um mirante no topo para contemplação da paisagem urbana. A investigação realizada pelo aluno inclui levantamento fotográfico da área e pesquisa sobre as características do bairro.
PROJETO DE EXTENSÃO I - SERVIÇOS JURÍDICOS, CARTORÁRIOS E NOTARIAIS.pdf
Alexandria sem muros monografia 2016
1. B I B L I O T E C A & M I R A N T E N O E S C A D Ã O D A A VA N H A N D A VA
A l u n o C a r l o s E l s o n L u c a s C u n h a O r i e n t a d o p o r P e d r o P a u l o d e M e l o S a r a i v a
Uma proposta de transposições no Bixiga
2. A l u n o C a r l o s E l s o n L u c a s C u n h a O r i e n t a d o p o r P e d r o
P a u l o d e M e l o S a r a i v a
M o n o g r a f i a ( A t i v i d a d e 1 ) T F G 2
F a c u l d a d e d e A r q u i t e t u r a & U r b a n i s m o d a U n i v e r s i d a d e
P r e s b i t e r i a n a M a c k e n z i e
J u n h o d e 2 0 1 6 a . D .
3. P a r a
R o d r i g o & E d u a r d o , o s d o i s g r a n d e s p r o j e t o s .
3
4. “O desejo por uma arquitetura que nos faça
experimentar o mundo em vez de a si própria.”
Juhani Palasmaa
4
5. 5
SUMÁRIO Da cidade
01 Do bairro
02 12
03 13
04 14
05 15
06 16
07
Mapa – Festa
Achiropita
08 Mapa - Teatros
AINVESTIGAÇÃO Rol dos Teatros
20
Seção C
Acessos
Mapa Percursos
31
23
32
Seção A
O Bixiga
33
25
Seção D
Acessos e Barreiras
26
35
Seção B
O Bixiga
36
28
37
29
Seção E
Escadarias do Bixiga
Mapa – acessos
interessantes
39
6. 43
Seção G
Vizinhos na quadra
45
46
A Quadra (A)
Visão geral
A Quadra (B)
Visão geral
A Quadra (C)
Perímetro
Seção F
Viad. M. Prado
42
40
6
A Quadra (D)
Transposições
51
52
Seção H
Rest. W. Mancini
54
55
Seção I
Novo Ca’d’oro
57
58
Seção J
Recanto (altos)
60
Seção O
Vandalismo
62
71
Seção L
O Escadão (altos)
72
64
Mapa de
Ocorrências
Seção M
O Escadão (baixos)
Diagrama de
alterações de relevo
66
Mapa com medidas
Seção N
Sujeira / sem tetos
Mapa dos
equipamentos
68
77
69
O lote - água
Seção K
Recanto (baixos)
O lote - topografia
7. 83
O DESENHO
85
O programa
O partido
88
89
Referências
82
O lote – O projeto
do Escadão
7
90
Croquis iniciais
92
Sol-Ar software
Desenho final
95
96
97
98
Axonométrica
de usos
100 110
102
Diagrama dos vazios
Serralheria – por
que não?
Diagrama das
vedações
Tentativa, erros e
ajustes
Plantas
105
114
106
115
Diagramas
estruturais
116
108
117
109
Conexão das
passarelas
Arriscar
Corte
8. 123
Rumos
125
126
127
Alterações na R. St.
Antônio
Implantação
121
Por que Escadão da
St. Antônio?
Corte urbano
8
130
131
Percursos – antes e
depois
Vistas
OPENSAMENTO
Uma biblioteca sem
muros?
Ascensor
137
Uma cidade ou um
aglomerado de aldeias?
Apropriação social
plena das escadarias
Lições de
Hertzberger
Vídeos / Slides do
autor
142
151
Bibliografia
pertinente
144
145
146
147
148
149
141
9. A INVESTIGAÇÃO - INTRODUÇÃO
Tendo-se escolhido o Escadão da Avanhandava com seu espaço verde anexo, o
Recanto Palhaço Sputinik, decidiu-se por se desenvolver durante este trabalho , um
projeto atendendo, fundamentalmente, a algumas prerrogativas:
1 – Fornecer acesso vertical complementar à escadaria. Assim o caminhante passaria
a ter uma opção de escolha, além do Escadão..
2 – Preservar intacto (ou até onde possível) a vegetação do Recanto.
3 – Preservar intacto (até onde possível) o Escadão.
4 – Oferecer ao usuário, quando este subisse e chegasse ao nível da Rua Frei Caneca,
um mirante, como lugar de contemplação e descanso.
A Investigação: este é o nome da primeira seção, na qual fotos e mapas são
resultados de um levantamento pessoal do aluno.
O Desenho: assim nomeamos a segunda grande seção, apresentando-se o projeto
Alexandria sem Muros.
O Pensamento: surge como última parte. Aqui se discute o projeto e os autores cujas
ideias, em maior ou menor grau, estiveram presentes no desenvolvimento do
trabalho.
Naturalmente, a concepção e definição deste prédio não se deu em estágios tão
rígidos: a investigação não parou quando se começou a desenhar, e o pensamento
não surgiu apenas no final do desenho. Tudo ocorre junto e misturado. A divisão tem
caráter meramente facilitador para quem lê.
O resultado, como se verá, trouxe surpresas.
9
10. A compreensão de qualquer cidade nasce, antes de mais nada, do
entendimento de sua bacia hidrográfica.
Esta lição era aprendida na FAU-Mackenzie no curso, agora cancelado, de
Sustentabilidade. O valor dessa premissa apenas se reforça com o passar do
tempo – quer pela análise acadêmica, quer pela vivência cotidiana como
cidadão paulistano.
A própria história da cidade confirma isso: São Paulo nasceu de uma
configuração topológica na qual grandes diferenças nas cotas protegiam a
colina histórica do ataque dos nativos.
Tal proteção surgia em virtude da presença da água na parte baixa, próxima à
colina: a Várzea do Carmo, o córrego Saracura, o córrego Anhangabaú – todos
encontrando o Rio Tietê, resultavam num entorno aquoso de difícil circulação
para os índios desejosos em retirar os brancos colonizadores.
Até hoje essa conjunção de fatores tem notável presença na cidade; algo que as
enchentes apenas confirmam. (Mapa 01 – o Bixiga encontra-se na sub-região da
Sé, em amarelo, centro).
A topografia é, obviamente, fator crucial quando se considera a água e seus
cursos no território. Uma primeira impressão, falsa, costuma se apresentar aos
caminhar nas ruas da cidade: São Paulo tem muitas ladeiras! Isso é verdade,
mas São Paulo tem muitas planícies e platôs, por algum motivo, isso nem
sempre salta aos olhos. Há mesmo, um bairro com nome relacionado
comprovando isso: Planalto Paulista. A região do Brás, seguindo à Zona Leste, é
uma planície.
A parte alta é majoritariamente, a Zona Norte (entre Vila Maria e Jaraguá) e o
centro: região da Av. Paulista e centro velho. Há exceções, claro, mas grosso
modo essa é a configuração topográfica, de onde vem a proposta do mirante:
criar um espaço onde se possa contemplar a cidade.
mapa 01
http://www.skyscrapercity.com/showthread.php?t=1104223
Mapa 02
Mapa não oficial da cidade em Sketchup – recorte e destaque, o autor.
DA
CIDADE
A questão
topológica
10
11. DO
BAIRRO
A Bela
Vista
11
“A região manteve durante muitas décadas a sua integridade espacial e
continuidade urbana desde o Vale do Anhangabaú até o espigão da Avenida
Paulista. Nos anos 60 a construção de largas avenidas e viadutos,
como a Radial Leste / Oeste, o viaduto Júlio de Mesquita Filho e o viaduto
Treze de Maio, além de desfigurar a paisagem local, provocou o
fracionamento do bairro em porções isoladas, compartimentando
micro-regiões, que adquiriram feições e funções urbanas peculiares.”
“No final do século XIX a Bela Vista atraiu o estabelecimento de muitos
imigrantes recém-chegados na cidade devido à expressiva oferta de
terrenos com pequena testada e grande profundidade a preços
reduzidos.”
“Desta forma a ocupação demográfica do bairro se compôs basicamente por
imigrantes italianos, em geral provenientes do sul da Itália (sicilianos e
calabreses) e por negros libertos, compondo um quadro social formado por
classes modestas, de artesãos, pequenos comerciantes e
pessoas com ocupações não permanentes.”
“A Bela Vista sempre se caracterizou pela predominância de construções
térreas ou assobradadas, em geral, residenciais ou de uso misto, geminadas,
no alinhamento da rua e aproveitando os desníveis da topografia.”
12. 12
“A resolução n° 01/93 manteve o
perímetro inicial porém delineou dentro
da área em processo de tombamento três
manchas chamadas de Áreas Especiais de
Preservação : Área Especial do Bexiga,
Área Especial da Vila Itororó e Área
Especial da Grota.”
“As principais justificativas apresentadas para o tombamento do bairro da
Bela Vista podem ser resumidas no que se segue :
– a Bela Vista é um dos bairros mais antigos e tradicionais da cidade de São
Paulo, possuindo um significado histórico e cultural e um valor ambiental e
paisagístico de grande interesse de preservação;
– a Bela Vista está perdendo progressivamente as suas características
peculiares face às transformações urbanísticas agressoras, que têm
descaracterizado de modo sistemático, física e ambientalmente, porções
significativas do bairro;
– na Área Especial do Bexiga concentram-se os mais antigos testemunhos
viários e arquitetônicos do bairro, como a residência da rua São Domingos,
237, datada de 1889, e considerada a mais antiga do bairro. No Bexiga
localizam-se também vários imóveis tombados pelo CONDEPHAAT, como o
Teatro Brasileiro de Comédia, o Teatro Oficina e a Casa da Dona Yayá de
Mello Freire na rua Major Diogo, além de inúmeros imóveis Z8-200 e de
outras edificações de interesse;
– a Área Especial da Vila Itororó, na rua Martiniano de Carvalho, constitui
outro bem de grande interesse de preservação dentro do Patrimônio
Cultural e Ambiental da Bela Vista. O conjunto singular de 37 casas
construídas na década de 1920 pelo mestre-de-obras português Francisco
de Castro com material de demolição reciclado, destaca-se na paisagem
local tanto pela sua implantação irregular, que obedece às condicionantes
da topografia acidentada do terreno (meia encosta do Vale do Itororó),
quanto pela sua organização espacial e características arquitetônicas
personalistas;
– a Área Especial da Grota é outro elemento significativo do Patrimônio
Ambiental da Bela Vista; formada pelo antigo Vale do Saracura, constitui
barreira física à expansão do Centro Paulista e ponto máximo da expansão
oeste da Bela Vista. A persistência de algumas encostas desocupadas e
arborizadas permite a percepção e a visualização de panoramas de grande
expressão paisagística.”
DO
BAIRRO
A Bela
Vista
13. DO
BAIRRO
A Bela
Vista
Mapas 03 e 04
http://www.prefeitura.sp.gov.br/cidade/secretarias/subprefeituras/
upload/se/imagens/catabagulho/distrito_bela_vista.gif
O Bairro – e dois nomes que o bairro tem
A Bela Vista é facilmente localizada em qualquer
pesquisa ligeira.
Sendo um subdistrito da regional Sé, há um limite
oficial (ainda que ocorram ligeiras variações nos
mapas encontrados).
Av. Paulista, Av. 23 de Maio, Radia Leste e Rua Frei
Caneca, compõem o perímetro do bairro.
Em um dos mapas encontrados há um recorte
curioso: a Rua Frei Caneca surge como limite, porém
a linha fronteiriça desce o Escadão, seguindo até o
Viaduto Julio de Mesquita Filho, onde se encontra
em seus baixios, o Sacolão Avanhandava. Em outras
palavras: o Escadão faria parte dessa separação do
que é Bela Vista e do que é Bairro da Consolação.
O fato é: reúnem-se na Bela Vista as mais diferentes
formas de morar e trabalhar com seus respectivos
prédios e casarões: desde os prédios imponentes da
Av. Paulista, até os cortiços e pensões nas ruas Treze
de Maio, Conselheiro Ramalho e Maria José.
Bixiga é outro nome para o mesmo bairro, ou para
boa parte dele. Não há um mapa oficial do Bixiga.
Então decidimos fazer o nosso. 13
14. DO
BAIRRO
O Bixiga
Bixiga é outro nome para o mesmo bairro, ou para boa
parte dele. Referia-se, outrora, a uma chácara próxima a
onde hoje está a Pr. da Bandeira. Não há um mapa oficial
do Bixiga. Então decidimos fazer o nosso.
O que difere o Bixiga da Bela Vista?
Alguns aspectos, do nosso ponto de vista, parecem
cruciais:
- Presença de moradores pobres
- Grande oferta de cortiços
- Grande oferta de kitnets
- Presença de restaurantes típicos (italianos,
nordestinos). Isso inclui a Rua Avanhandava, com os
restaurantes de Valter Mancini.
- Presença notável de lojas de móveis antigos e
móveis usados.
- Bares e restaurantes executando músicas brasileiras
populares
- Ausência de residências uni-familiares e prédios de
alto padrão. (o que elimina a região próxima à Av.
Paulista).
Esta delimitação é informal e de livre concepção do
aluno.
A Rua Frei Caneca pouco tem a ver com o Bixiga,
enquanto a Rua Augusta, ao contrário, tem perfil típico
do Bixiga. Por outro lado, a Rua Paim e a Rua
Avanhandava, são Bixiga! (Famílias pobres nas kitnets e a
concentração de restaurantes são os elementos que nos
permitem aceitar a conclusão acima.
14
15. DO
BAIRRO
O Bixiga
Bens tombados
Casa da Rua São Domingos, 231 e 237
Casas – Rua São Domingos, 19 a 33
Casas – Rua São Domingos, 223 e 229
Casa de Dona Yayá – Rua Major Diogo 353
Castelinho – Av. Brigadeiro Luís Antônio 826
Vila Itororó – Rua Cd de São Joaquim
TBC – Rua Major Diogo, 311
Colégio Visconde de Porto Seguro – Colégio
Alemão.
Rua João Guimarães Rosa, 111
Antiga Escola Estadual Maria José
Rua Major Diogo 200.
Logradouro
Rua Treze de Maio
Mancha de bens preservados
Bela Vista, Vila Itororó e Rua Treze de Maio 15
LIVRO
Bens Culturais Arquitetônicos no Município e
na Região Metropolitana de São Paulo.
SNM, Secretaria dos Negócios Metropolitano;
e outras secretarias: 1984.
16. “A tarefa mental essencial da arquitetura
é acomodar e integrar.”
Juhani Palasmaa
16
18. DO
BAIRRO
Os Teatros
(fonte: autor)
No contorno mais interno, uma configuração possível para o setor do Bixiga. Não é
considerado Bixiga nesta monografia: Rua Frei Caneca, Av. Paulista e quadras lindeiras
à ela.
18
19. Teatros no Bixiga
Teatro Abril
Av. Brig. Luiz Antonio
Teatro Ágora
Rua Rui Barbosa 672
Teatro Bibi Ferreira / Cia de Teatro Cenário
Paulista
Av. Brig. Luiz Antonio 931
TBC – Teatro Brasileiro de Comédia
Rua Major Diogo, 311
Teatro Mozart
Av. Brig. Luís Antonio, 850
Teatro Brigadeiro / Tonel das Artes
Av. Brig. Luis Antonio, 884
Teatro Renault / Teatro Abril / Teatro
Paramont
Av. Brig. Luís Antonio, 411
Teatro Pirandello
Rua Major Diogo, 578
Casa Café & Teatro
Rua Treze de Maio, 176
Teatro da Vertigem
Rua Treze de Maio, 240 / Av. Brig L. Antonio,
300
Teatro do Incêndio
Rua Treze de Maio, 53
Teatro Sérgio Cardoso
Rua Rui Barbosa, 153
Teatro Mars
Rua João Passaláqua, 80
Teatro Denoy de Oliveira (UMES)
Rua Rui Barbosa, 323
Teatro Imprensa
Rua Jaceguai, 400
Teatro Oficina (Associação Teatro Oficina
Uzyna Uzona)
Rua Jaceguai, 520.
Teatro Maria Della Costa
Rua Paim, 72
Teatro Raul Cortez
Rua Dr. Plínio Barreto, 285
Teatro Ruth Escobar
Vla. dos Ingleses, 209
Teatro X
Rua Rui Barbosa, 399
Top Teatro
Rua Rui Barbosa, 201
Teatro Ópera
Rua Rui Barbosa, 266
Theatro Iracema Gomide
Rua Cons. Ramalho, 673
Teatro do Quarteto / Teatro Nelson
Rodrigues
Rua Treze de Maio, 830
Teatro Ziembinski
Rua Martiniano de Carvalho, 87
Teatro dos Arcos
Rua Jandáia, 218
Teatro do Chik Prod e Prom
Artísticas
Rua Martinho Prado, 43
Espaços de Arte
Espaço Zebra
Rua Major Diogo, 239
ETA - Estúdio de Treinamento de
Arte
Rua Major Diogo
Oficina Metacultural
Rua Pedroso, 267
Shopping das Artes
Rua Treze de Maio, 870
Francisco Trento Artes
Rua Treze de Maio, 950
DO
BAIRRO
Rol dos
Teatros
(fonte: autor)
19
20. “A maneira como esta zona vier a ser
usada por todos os envolvidos
constituirá a principal fonte de
diversidade – não como resultado do
projeto, mas sim como expressão de
escolhas individuais.”
Herman Hertzberger
20
22. O
BAIRRO
Percursos
Cartografia de Tráfego Viário
Mapa de Trânsito (Google Maps)
Dia 03 de setembro de 2015 -
21:30h.
Assinalado em linha dupla estão
as vias com maior velocidade no
tráfego. Curiosamente, boa parte
delas constitui uma barreira
urbana dificultando a vida dos
pedestres.
O exemplo curioso por ser pouco
citado é a Rua Rui Barbosa. Sua
configuração como coletora do
fluxo vindo da Av. Paulista e Av.
Brigadeiro Luis Antonio a torna
praticamente uma via de alta
velocidade.
Seus desníveis, tanto junto à
Praça Dom Orione como na área
da Rua Manoel Dutra com João
Passalacqua, criam forte
segregação ao caminho peatonal.
22
23. Certamente seria bem melhor voltar ao conceito
otimista e utópico da “rua reconquistada” (...), um
lugar onde o contato social entre os moradores
pode ser estabelecido como uma sala de estar
comunitária.
Herman Hertzberger
23
25. Seção A – O Bixiga
Por que escolhemos estas imagens?
O objetivo foi compreender o Bixiga: sua composição social, cultural,
arquitetônica e urbana.
O que as fotos nos ensinam?
1 – Pizzaria Gabriela, Rua Rui Barbosa 74, aberta diariamente até as 5:00h
da manhã – Vemos o prédio com sua fachada desfigurada: a porta da
esquerda também possui um arco , como a da direita.
4, 10 – Rua Treze de Maio X Luiz Barreto, pequena bodega – Os antigos
casarões são pintados, amiúde, com cores vivas e contrastantes, conferindo
vivacidade em vários setores, a Rua Treze de Maio sendo um exemplo.
13 – Travessa Samuel das Neves: casas que se tornaram cortiços.
3 – Rua Avanhandava X Viaduto Martinho Prado: antiga Sinagoga Betel está
em obras, para se tornar o novo Museu Judaico Paulistano. Aqui se vê uma
porta no tapume da obra
5 e 11 Grafites surgem em várias escalas nos diversos lugares.
6 - Moradores de ruas, jovens sob efeito de álcool e drogas são vistos em
toda a parte, sendo a Praça 14 Bis um ponto de encontro de muitos sem-
tetos. Nesta foto um jovem cabisbaixo por longo período, na Praça
Roosevelt;
7: homem sobe a Rua Augusta e puxa sua carroça que também é sua casa,
pois dorme nela. Esse senhor chama-se Severiano e o ponto onde repousa
fica na Rua Dona Antonia de Queiroz, junto à entrada da PUC.
9: na Rua Rui Barbosa homem dorme fazendo de uma grande embalagem
plástica ou seu saco-de-dormir.
2 e 8 mostram o interior de um quarto em cortiço na Rua Herculano de
Freitas. Ali mora um cozinheiro com sua esposa, um filho e uma sobrinha
adolescente. Este pequeno cômodo com péssima iluminação natural e
ventilação, contém um banheiro. A esposa trabalha fora e está grávida, com
nascimento do bebê previsto para abril de 2016.
12-15 – Ainda que não seja um bairro com tradição em automóveis antigos,
não raro se vê exemplares curiosos circulando ali.
No que estas fotos contribuem para nosso projeto?
Além da clara presença de moradores pobres e classe média
baixa, o bairro não apresenta um setor residencial de elite –
naturalmente aqui consideramos o mapa do Bixiga e não da
Bela Vista com seus ramais na Av. Paulista e imediações.
Um bairro onde o samba é presente; a culinária italiana, o
cortiços com seus milhares de moradores pobres e onde o
vale da Avenida Nove de Julho segue afligida pela presença
de meliantes, sem tetos e mendigos, reservando para as
partes mais alta uma melhor qualidade urbana.
Considerando isso, nosso projeto visa conectar setores: parte
da baixa, Rua da Avanhandava, com parte alta, Rua Frei
Caneca e Rua Caio Prado via o prédio da biblioteca
Alexandria Muro; além da passarela que conecta Rua Frei
Caneca com Rua Santo Antônio.
Na realidade a conexão física está fortemente ligada à
conexão social: com maior fluidez no percurso do o
caminhante, o provavel resultado é também maior contato
entre pessoas, oxigenando a vida social no bairro. Se a turma
de frequentadores da Baixa Augusta puder chegar
rapidamente à Rua Santo Antônio, Rua Treze de Maio e
imediações, isso fortalecerá o comércio de lazer,
restaurantes e baladas noturnas. Se entendermos que tais
pessoas poderão chegar facilmente à parte alta da Av.
Brigadeiro Luis Antônio e Av. Paulista, então o circuito estará
completo: o Bixiga terá seu perímetro facilitado aos
pedestres!
25
26. “Na organização de um projeto (...)
podem-se criar as condições para um
maior senso de responsabilidade e,
consequentemente, também um
maior envolvimento no arranjo e no
mobiliário de uma área.
Deste modo os usuários tornam-se
moradores.”
Herman Hertzberger
26
28. Seção B – O Bixiga
Porque escolhemos estas imagens?
O objetivo foi compreender o Bixiga: sua composição social,
cultural, arquitetônica e urbana.
O que as fotos nos ensinam?
1 e 4 – Viaduto Treze de Maio, passando sobre a Av. Brigadeiro Luís
Antônio. Nos baixios do viaduto, há um sacolão. Na foto 4 o
Viaduto Dr. Plinio Arruda Sampaio, que se eleva sobre a Praça 14
Bis.
2 – Na Praça Dom Orione um lojista clama aos pichadores ser
poupado em sua parede.
3 – Construção antiga, os corredores levando à pequenos quartos
– exemplo de cortiço no Bixiga.
5 – Alguns imóveis são entregues ao abandono total, até
desmoronarem: método usado por proprietários para se livrar do
tombamento.
6 – Rua Treze de Maio: conviver com a sujeira e entulhos é rotina
no Bixiga: ninguém liga.
7 e 15 – Rua Cons. Carrão X Rua Rui Barbosa: antigo Teatro Zácaro.
8 – Recanto do Pedrinho: antiga área sob impasse jurídico, nunca
plenamente resolvido. Início da Rua Manoel Dutra, próximo à Pr.
14 Bis.
9 – Kibexiga: famosa casa de forró, com entrada pela Av. Nove de
Julho e saída aos fundos pela Rua Paim.
10 – Valter Taverna, proprietário de restaurantes e agitador
cultural do Bixiga.
11- Rua Barata Ribeiro X Pr. 14 Bis.
12 a 14 – Vai-Vai
No que estas fotos contribuem para nosso projeto?
Aqui deu-se preferência a pessoas e instituições representativas
do Bixiga. Valter Taverna é um homem de vanguarda, um
promotor de eventos urbanos como a criação do Museu do
Bixiga, o bolo de aniversário da cidade, o concurso de Miss
Bixiga etc. Também é dele um projeto que visava transformar a
Rua Treze de Maio em um calçadão sem circulação de
automóveis – projeto esse não efetivado.
Tobias da Vai-Vai e Valter Mancini, ambos ausentes nestas fotos,
também são agentes importantes no bairro.
As imagens reforçam a importância de se atuar dialogando com
tais pessoas e entidades ativas na região, como o Kibexiga, os
sacolões etc. Também mostram a urgência de se soerguer o
homem e os espaços a serviço da comunidade, como o Teatro
Zácaro, mostrado aqui.
Assim, nosso projeto deverá não apenas conviver com tais
agentes, mas também dialogar abrindo espaço para que tais
manifestações culturais e sociais possam ocorrem na Alexandria
sem Muros.
Um bairro com alma e história, com fortíssimo potencial
turístico ainda conservando bela e pitoresca arquitetura, todavia
vilipendiado de diversas formas: pela agressiva presença de vias
expressas com seus viadutos e barreiras urbanas; pelas
incorporadoras e investidores pouco imaginativos em suas
ações e, infelizmente por sua própria gente desmazelada no
cuidado com a higiene das ruas. 28
29. “O espaço poderia ser usado de modo
mais intensivo se nele fossem investidos
amor e cuidado pessoal.”
Herman Hertzberger
29
31. Seção C – Acessos
O que as fotos nos ensinam?
1, 2, 3, 7 Travessa do Sacolão da Avanhandava. Nos
baixios do Viaduto do Café, o sacolão atende
oferecendo tudo que um supermercado oferece, além,
claro, de bom sortimento de frutas e legumes. Outras
dois pequenos varejos estão ali: um ponto de caldo-de-
cana e um ponto de pastel, posicionados bem na
entrada dessa travessa.
A subida até a porta do sacolão se dá em rampa, dali
em diante a subida prossegue numa escadaria de dois
lances, sendo que o patamar intermediário faz
conexão com a calçada da Radial Leste. O ponto final
desta subida é a calçada da Rua Augusta, próximo à
Praça Roosevelt.
É necessário compreender que esta subida não se
inicia na Rua Avanhandava, mas sim na Av. Nove de
Julho, sob o mesmo viaduto. A travessa permite assim
alguém sair da Av. Nove de Julho e chegar à Rua
Augusta em linha reta, cruzando a Rua Avanhandava.
Curiosamente este percurso é fechado com grades às
21:00hs, quando se encerra o expediente no sacolão.
31
O único trecho disponível ao pedestre é o curto
espaço entre a Rua Augusta e a Radial Leste.
Na parte inferior da travessa, sob o viaduto, o
espaço então vazio era ocupado por sem-tetos
e usuários de drogas, tornando constrangedor
caminhar ali, especialmente à noite.
Os pilares do viaduto encobriam a visão do
caminhante, aumentando ainda mais a
insegurança de quem ousasse seguir adiante.
Tudo isso desapareceu quando se instalou ali a
floricultura vinda da Praça Roosevelt. O amplo
espaço ficou belamente ocupado tornando
agradável caminhar neste trecho, que
economiza tempo e energia dos cidadãos por
atravessar esta quadra de tamanho exagerado.
32. Seção C – Acessos
O que as fotos nos ensinam?
4 – Rua Conselheiro Carrão: cortiço para mulheres, oferecendo
cuidado para crianças. Tais cuidadoras de crianças não são tão
fáceis de serem encontradas e cumprem, informalmente, o
papel das creches, cujas vagas normalmente não atende a todas
as mães necessitadas desta ajuda.
2, 5, 6 e 9 – Escadaria junto ao Hotel Madeiras. Aqui dá-se uma
das mais interessantes implantações na região: o pedestre no
Viaduto Martinho Prado pode chegar à Av. Nove de Julho, (mais
baixa) pela escadaria a céu aberto, mas pode também entrar no
4º pavimento do hotel usando um átrio ou pequena esplanada
conectada ao Viaduto. Naturalmente bem poucas pessoas usam
tal acesso para meramente descer até à Av. Nove de Julho,
porém isso é plenamente possível – sendo que raramente há
qualquer vigia ou funcionário visível durante esse trajeto, que
pode até mesmo ser feito por elevador!
10 – O Edifício Brasil, inaugurado em 2015 também possui
implantação bem solucionada: a portaria principal localiza-se à
Rua Santo Antônio, onde também há uma entrada para carros
descerem à garagem – garagem esta que também possui outra
entrada à Av. Nove de Julho. Infelizmente este duplo acesso não
se abre aos pedestres, de modo que a única maneira de um
visitante entrar no prédio é na cota da Rua Santo Antônio.
Porém há uma segunda entrada belamente construída faceando
o Viaduto Martinho Prado. Vale ressaltar a qualidade do projeto
do térreo, por seu recuo generoso e por oferecer ao caminhante
facilidades em circular na esquina (Rua Santo Antônio X Viaduto
Martinho Prado) cortando o trajeto numa diagonal ampla,
franqueada à cidade.
No que estas fotos contribuem para nosso projeto?
Timidez urbana, ou temor em abrir suas vielas e acessos: este é o
quadro apresentado por um bairro que possui transposições
interessantes, porém raras vezes as assume abertamente. A viela
sob o Viaduto do Café, fechando à noite e abrindo de dia, é o
exemplo mais claro dessa generosidade hesitante – e nós sabemos
que toda generosidade contida, por fim, não é generosidade.
A resposta mais óbvia de porque se fecham acessos é para se evitar
os sem tetos, mendigos e drogados. Tal resposta faz sentido
apenas quando os consideramos excluídos, cidadãos de segunda
classe. Nosso projeto não propõem uma solução plena, diante da
complexidade da questão, mas abre-se para acolher a tais em suas
necessidades primárias (higiene e orientação social) como também
ofertando espaço de convivência plural e arte a todos – o que
significa expor aos desvalidos música, poesia e momentos de
descanso e contemplação.
Um homem ou mulher alienados, longe dos seus, vivendo
precariamente nas ruas, ao ouvir uma canção ou um poema, pode
ser estimulado pela recordação de seus dias melhores ou ser
estimulado a também ler, cantar, escrever, ampliando seus
horizontes. A noção de futuro é um dos pontos em que nos
distanciamos do animais: os cães não pensam no amanhã.
Poderemos ser , claro, acusado de sonhadores e utópicos. Já houve
quem justificasse a utopia pelo motivo de ser nossa realidade
impossível!
A nós fica claro o seguinte: quem projeta o espaço público em São
Paulo – ou qualquer outra grande cidade – obriga-se a pensar de
modo inclusivo, sob o risco de contribuir para aumentar a tensão
nesta gigantesca panela de pressão, que é nossa cidade.
32
33. “Na organização de um projeto (...)
podem-se criar as condições para um
maior senso de responsabilidade e,
consequentemente, também um
maior envolvimento no arranjo e no
mobiliário de uma área.
Deste modo os usuários tornam-se
moradores.”
Herman Hertzberger
33
35. Seção D – Acessos & Barreiras
O que as fotos nos ensinam?
1 – Rua Tenente Marque s de Leão: uma escada não com 12
degraus permite acesso à Rua São Vicente. O grafite com
imagem do Adoniran Barbosa torna mais agradável o cenário do
muro que cresce em altura à medida que a primeira rua segue
em direção à parte baixa do bairro.
2 – Viaduto Julio de Mesquita Filho (suportando sobre si a Radial
Leste) sobre a Rua Major Diogo.
Nota-se nesta imagem dois aspectos evidentes: a escuridão
causada pela sombra dos dois leitos carroçáveis da Radial Leste e
o grande espaço nos baixios do viaduto, prolongando-se por
dezenas de metros, tanto do lado direito como do lado esquerdo,
gerando aqui um espaço residual desqualificado e degradado no
bairro.
Houve época em que a parte direita dos baixios era explorada por
um estacionamento irregular. Hoje, sem uso, o resultado é
péssimo: sem-tetos estão presentes ali, e alguns entulhos
também foram jogados ali, o que torna todo o cenário inóspito e
deprimente.
35
3, 7 e 11 – A escada mostrada aqui faz ligação entre a
parte final da Rua Conselheiro Carrão com a Rua Tenente
Marques de Leão. No meio deste percurso há um patamar
dando acesso à residências situadas à esquerda (sentido
de subida).
À direita, outro espaço residual com vegetação – uma
quase praça. Esses espaços que ‘sobram’ surgem
frequentemente na cidade de São Paulo, principalmente
às margens de novas ruas e avenidas.
Evidentemente é o que aconteceu também no Escadão da
Avanhandava, com sua ‘pracinha’, hoje bem cuidada,
chamada Recanto Palhaço Sputinik.
4 – Entrada do Sacolão Avanhandava (comentado na seção
anterior).
5 – Rua Treze de Maio, Café Piu-Piu. A tampa de inspeção
foi coberta pelo piso da calçada feita em nível. O resultado
é favorável à casa comercial, eliminando-se a inclinação da
calçada, mas obstruiu a tampa de ferro!
A solução foi criar um vazio permitindo a remoção da
tampa quando necessário. Se vai ser fácil remover a
tampa nesta condição é algo a ser conferido...
36. Seção D – Acessos & Barreiras
O que as fotos nos ensinam?
5 – Rua Treze de Maio, Café Piu-Piu. A tampa de inspeção foi coberta pelo piso da calçada
feita em nível. O resultado é favorável à casa comercial, eliminando-se a inclinação da
calçada, mas obstruiu a tampa de ferro! A solução foi criar um vazio permitindo a remoção
da tampa quando necessário. Se vai ser fácil remover a tampa nesta condição é algo a ser
conferido.
6 – A Praça 14 Bis. Antes de se construir o Viaduto Dr. Plínio de Arruda Sampaio, com seus
mais de 700m de extensão, esta praça continha a réplica do avião 14 Bis, feita em metal.
Atualmente a escultura acha-se na Praça Campo de Bagatele. O viaduto possui um ponto
de ônibus em sua parte alta, obrigando a se usar escadas . O projeto pretendeu oferecer
um espaço cívico na cota térrea, com pequeno anfiteatro escavado na cota térrea. A
presença de mendigos, sem-tetos e usuários de drogas tornou a Praça malcheirosa e suja.
8 - Os baixios do viaduto são utilizados pelo pequeno parque (sentido túnel) e por quadras
de futebol de salão (sentido centro da cidade). O parque é um sucesso pela grande
presença de usuários: pessoas em suas caminhadas ou corridas assim como usuários dos
equipamentos de condicionamento físico para adultos. Ele abre as 8:00h da manhã, mas é
possível abri-lo antes: basta pegar as chaves com o porteiro de um prédio situado diante
da entrada principal. A foto mostra crianças jogando bola em outro setor sob o viaduto.
As quadras de futebol de salão instaladas aqui surgiram em 2015 no lugar de um
estacionamento irregular que explorava o espaço. Tal estacionamento possuía uma
vantagem: tinha entrada pelos dois lados franqueadas aos pedestres, permitindo –se
ganhar tempo ao atravessar de um lado para outro na Av. Nove de Julho. As quadras, por
mais valor que tenham como equipamento público, não permitem fazer tal travessia.
9 – Rua Manoel Dutra. A imagem mostra uma idosa conduzindo seu carrinho de feira
caminhando numa calçada hostil: além da inclinação, o piso irregular torna difícil essa
caminhada, sendo que na ocasião da foto o carrinho quase virou, não fosse a ajuda do
aluno à essa cidadã veterana. Fica o registro como exemplo do péssimo estado das
calçadas paulistanas, algo que se repete por toda a cidade, salvo raríssimas exceções.
10 – Viaduto da Radial Leste (Julio de Mesquita Filho) e a famosa Padaria São Vicente.
Entre ambos, um espaço residual inútil e escuro. Não se pode ver, mas abaixo e à frente,
está a Rua Santo Antônio.
No que estas fotos contribuem para
nosso projeto?
O Elevado Doutor Plínio Salgado e os
viadutos da Radial Leste são boas
intenções urbanas, voltadas
primariamente para facilitar a vida dos
que usam automóvel.
Sabemos todos que, infelizmente, boas
intenções não bastam.
Aprendemos destas imagens que
sombras e concreto excessivo cobram
um alto custo para a qualidade de vida
urbana. Nosso projeto, à medida que se
desenvolveu, tornou-se gradualmente
mais exíguo e leve. Liberarmos o uso
do espaço sobre o escadão, deixando-o
livre como elemento urbano à céu
aberto, é nítido exemplo disso.
Obter, por fim, uma peça delicada,
sutilmente posicionada na praça
(Recando Palhaço Sputinik), magnética
sem ser opressiva, é nosso intento.
36
37. “...gosto de ver até que ponto a
arquitetura consegue perseguir a
função, e então, após conquistá-la, ver
até onde a arquitetura pode ser
afastada da função.
A importância da arquitetura é
encontrada na distância entre ela e a
função”.
Juhani Pallasmaa
37
38. E s c a d a r i a s d o V i a d . N o v e d e J u l h o ( e s q . s e n t i d o c e n t r o ) – 1 , 2 e 3
Seção E
Escadarias
do Bixiga
(fotos do autor)
Escadarias do Viaduto Nove de Julho (dir. sentido centro) - fotos de 5-8.
Escadarias do Viad.Mj Quedinho (dir. sentido centro) – 9, 10 e 11
Escadaria do
Viaduto Martinho
Prado (12-14)
Escadaria da
R dos
Ingleses
(4)
1
2
3
4
5
6 7 8
12
9 10 11
13
14
38
39. Seção E – Escadarias do Bixiga
O que as fotos nos ensinam?
1, 2 e 3 – Viaduto Nove de Julho. As imagens aqui foram feitas do lado esquerdo da Avenida Nove
de Julho (sentido centro). Ele faz a ligação entre a Av. São Luiz e o Viaduto Jaceguai. Quatro
escadas permitem acesso aos dois lados da Av. Nove de Julho, sendo duas escadas em cada ponta
do viaduto.
4 – Escadaria da Rua dos Ingleses. Esta belíssima escadaria possui uma implantação generosa em
sua parte baixa, ao contrário do que se dá na parte alta, onde seu patamar de acesso é discreto
porém servindo como belo mirante. Além do amplo espaço na cota mais baixa, junto à Rua Treze
de Maio, essa escada tem em seu lado direito (sentido de quem olha de baixo para cima) o Teatro
Ruth Escobar e um grande casarão com 4 pavimentos. Este casarão conta com uma grande loja de
antiguidades no térreo , além de acesso aos quartos de aluguel; em sua parte alta permite acesso
pela Rua dos Ingleses, tornando-se assim uma pitoresca situação favorável aos inquilinos. A
dimensão da praça na parte baixa da Escadaria confere uma escala monumental ao conjunto e,
seus patamares intermediários acrescentam qualidade ao percurso, permitindo que se descanse
junto aos guarda-corpos e se contemple o Bixiga – mais especificamente a Praça Dom Orione com
sua tradicional feira de antiguidades realizada aos domingos. Como se dá com todas as escadarias
do bairro, esta também sofre a ação de pichadores, moradores de rua com sua típica ausência de
higiene mínima, tornando a escada privadas a céu aberto.
5, 6, 7 e 8 – Viaduto Nove de Julho. Imagens do lado direito do viaduto (sentido centro).
9, 10 - Viaduto Major Quedinho – Lado direito do viaduto (sentido centro).
11 – Viaduto Major Quedinho. Lado esquerdo do viaduto (sentido centro). Estas escadas são mais
contidas em comparação com as do Viaduto Nove de Julho: mais estreitas e sem grandes
patamares, ainda que seja um bela composição arquitetônica, com os degraus gradualmente
chegando à cota baixa em elegante crescimento.
12, 13 e 14 – Viaduto Martinho Prado. Este viaduto possui apenas uma escada em só um dos
lados: o lado direito (sentido centro). O diferencial é o belo patamar conectando o Madeira Palace
Hotel (veja foto na próxima seção onde este patamar aparece claramente na foto F 10) . Este
patamar torna-se um mirante agradável, contemplanto não só a avenida embaixo, como também
o viaduto que segue rumo à Rua Augusta e Praça Rossevelt, como também as obras do novo
Museu Judaico Paulistano.
No que estas fotos contribuem para
nosso projeto?
As majestosas escadas jazem
abandonadas. Não que a PMSP não
as limpe ou faça alguma manutenção
eventual: jazem abandonadas pelos
cidadãos que as tratam com latrinas
e por serem vítimas de um enfoque
monotemático dos gestores públicos
que as enxergam, meramente , como
escadas.
Além de belos elementos
arquitetônicos também são espaço
público e, como tais, espaços para
arte, descanso, lazer, contemplação e
encontros.
Como torna-las assim é o desafio que
decidimos enfrentar em Alexandria
sem Muros.
39
40. “A experiência da arquitetura traz o
mundo para um contato extremamente
íntimo com o corpo.”
Juhani Pallasmaa
40
42. Seção F – Viaduto Martinho Prado
O que as fotos nos ensinam?
1 – Esta fotografia foi tirada do patamar do 4º pavimento do Madeira Palace Hotel.
Vemos aqui como o novo Museu Judaico Paulistano toca a Av. Nove de Julho e terá
entrada acesso nesta parte baixa. Infelizmente não se prevê circulação franqueada ao
público entre a parte alta e baixa, como se dá no caso do hotel – ainda que ali o
acesso não é ofertado à cidade, meramente aos hóspedes do hotel. Esta foto e outras
nesta seção (imagens 3 e 4), mostram uma relação entre o Museu e o patamar da
escadaria, pois muitos poderão do patamar contemplar o Museu e o viaduto.
2 e 9 – A antiga sinagoga Betel em restauro para sediar a parte do acervo permanente
do Museu.
3 – Do patamar da escadaria também se pode ver a calçada oposta da Av. Nove de
Julho.
4 a 9 – Pode se ver alguns estágios e ângulos da obra do Museu.
10 – O Viaduto Martinho Prado, a escadaria e o patamar que dá acesso ao 4º andar do
Hotel.
Aqui pode-se compreender como ficou enriquecido o cenário, com o novo Museu
dialogando com o Viaduto, a escadaria e patamar. O Edifício Brasil também se inseriu
neste conjunto visual não apenas por sua volumetria colorida e imponente: o prédio
também possui um acesso pela Avenida Nove de Julho. Infelizmente trata-se apenas
de uma entrada para a garagem. Caso se permitisse acesso por pedestres, a vida dos
moradores seria bastante facilitada, pois sob o Viaduto há um ponto de ônibus com
grande movimento de passageiros. A implantação do Edifício Brasil merece elogio em
diversos aspectos, uma vez permitir entrada de carros por 2 ruas e ter o seu térreo
também dando acesso à duas ruas: a St. Antônio e a Rua Martinho Prado. Porém, ao
negar entrada de pedestres na Av. Nove de Julho o projeto rejeita contato com a
avenida. Curiosamente a parte baixa, onde está a Av. Nove de Julho, é local de
ocorrência de mais crimes do que a parte alta. Por se isolar da Avenida, como também
faz o Novo Ca’d’oro em relação à parte baixa (Rua Avanhandava) o edifício acaba
contribuindo para reforçar o isolamento e a condição erma ali.
No que estas fotos contribuem para nosso
projeto?
A cidade é um conjunto, um organismo. A
sinagoga inexiste sem o viaduto, que
inexiste sem a Av. Nove de Julho,
dependente de seus muitos prédios como
o Madeira Palace Hotel, que se liga ao
Edifício Brasil, também ele preso ao
viaduto.
Um olha para o outro. Não existem de per
si.
Nosso projeto busca, pelo mirante, facilitar
a contemplação desse conjunto e ser parte
dele. Olhar e ser olhado: este é o destino
fatal de todo prédio erguido.
42
43. “A arquitetura nos conecta com os
mortos
(...) o tempo da arquitetura é um tempo
sob custódia; nas melhores
edificações,
o tempo se mantém perfeitamente
imóvel. (...) matéria, espaço e tempo se
fundem em uma experiência elementar
e singular: a sensação de existir.”
Juhani Pallasmaa
43
45. Seção G – Vizinhos na Quadra
O que as fotos nos ensinam?
1 – Recanto isolado: área verde cercada com grades na Rua Augusta, sobre a Radial Leste.
O que poderia ser um mirante, uma pequena praça, é simplesmente garagem para uma
kombi, ocasionalmente estacionada ali. A grade e ausência de bancos impedem que a
população usufrua o espaço, ainda que seja possível entrar facilmente ali. Há um senhor
amigo dos pombos que vez em quando traz muito milho e neste gramado atrai dezenas de
pombos que o cercam e pousam sobre sua cabeça e ombros. Quando isso acontece, torna-
se um espetáculo público memorável.
2 – Edifício feito por Oswaldo Bratke, à Rua Avanhandava.
3 – Edifício Lucca. O escalonamento nos últimos pavimentos o torna singular e destacado
na região. Este escalonamento surgiu em virtude da antiga lei sobre gabaritos de prédios
em São Paulo, que traçava uma linha de 30 graus em relação ao solo. Essa linha nasce da
calçada frontal ao prédio e determina o recuo dos pavimentos à medida que sobem.
4 – Edifício Condessa de Avanhandava: vizinho esquerdo do Escadão, (olhando da Rua
Avanhandava).
5 – Hotel Marajó. Um dos muitos motéis disfarçados de hotel. Ao lado, salão de beleza.
Ambos próximos ao Escadão.
6 e 7 – Restaurantes na Rua Martinho Prado.
8 – Rua Avanhandava: na esquina com a Rua Martinho Prado, olhando em direção a seu
início, à Rua Martins Fontes. O piso e o belo cenário são devidos à ação de Valter Mancini
que pagou a reforma da rua, rebaixando a fiação e implantando o piso de tijolinhos
vermelhos.
9 –Big-Ben. Prostíbulo situado no início da Rua Augusta, faz fronteira com a escadaria do
Sacolão (fotos C-1).
No que estas fotos contribuem
para nosso projeto?
Não basta ser prédio: há que
se estar inseridos num circuito
urbano – algo em que o Novo
Ca’d’oro falhou, especialmente
na sua face sul.
45
46. “As casas antigas nos levam de volta ao
ritmo vagaroso e ao silêncio do
passado.
O silêncio da arquitetura é um silêncio
afável e memorável.”
Juhani Pallasmaa
46
49. Com quase 2 quilômetros de perímetro
(1,87km) a quadra possuí não só tamanho
descomunal como topografia desconfortável
ao pedestre.
Possui uma face voltada para a Rua Frei
Caneca e Rua Augusta, a face oposta
aproximando-se da Av. Nove de Julho.
Seus extremos tocando, por um lado, a Rua
Martins Fontes, e outro, acompanhando boa
parte da Rua Paim.
Assim tal gleba não tem ruas intermediárias
facilitando a circulação de pessoas, porém
conta com duas escadarias:
1) o Escadão da Avanhandava
(nossa área de projeto) e,
1) O Sacolão sob o Viaduto do Café (agora
chamado Viaduto Júlio de Mesquita
Filho) com sua escadaria ligada à
travessa que chega une a Rua Augusta
com a Av. Nove de Julho.
A
QUADRA
Perímetro
(C)
Imagem do bairro, destacando a quadra.
Imagem da quadra, destacando o Escadão.
49
50. A QUADRA
Transposições
(D)
Há dois aspectos interessantes
sobre esta quadra:
1) Seu tamanho exagerado. Isto provoca
desconforto em todos que precisam
passar para outro setor no bairro.
2) As duas opções para se atravessá-la:
- O Escadão da Avanhandava
- O Sacolão Avanhandava, sob o
Viaduto do Café.
-
No primeiro caso se liga a Rua
Avanhandava com a esquina
da Rua Frei Caneca X Rua Caio
Prado.
No segundo caso liga-se a Rua
Avanhandava com a Rua
Augusta, sendo que nos
baixios do Viaduto do Café, há
um Sacolão (na realidade, um
supermercado normal).
Mapa Bing Maps
Nestas quadra foi instalado o primeiro projeto da Cia. City em São
Paulo. Algumas casas ainda mostram a fachada originais, porém
sendo muito difícil determinar exatamente quais são daquela
implantação e quais vieram depois.
Uma grande área verde ainda existe na quadra, onde hoje é a escola
de primeiro grau Stance Dual School .
50
51. A QUADRA – Visão Geral – A, B, C e D.
O que as fotos nos ensinam?
1 – Unidades unifamiliares estão desaparecendo. Prédios residenciais são a
presença mais marcante, seguidos de prédios corporativos. Há algumas
mesclas de uso quando o prédio residencial cede parte do térreo – ou todo
ele – para locação comercial. O resultado positivo é o aparecimento de
farmácias, supermercados etc.
2 – Estacionamentos surgem em vários momentos e parecem ser a fase
intermediária entre a demolição da casa anterior e o futuro prédio
construído por alguma incorporadora.
3 – A Rua Paim vive uma forte expansão na sua oferta de apartamentos
residenciais de pequeno tamanho. No prazo de 3 anos 7 edifícios foram ou
estão sendo construídos nesta rua.
Há um rumor curioso: o nome da rua deverá ser alterado para Maria
Delacosta, a fim de se fugir da associação que há entre seu antigo nome e
os prédios decadentes no conjunto Santos Dumont – chamados de treme-
treme pela população local.
4 – Há contraste nítido entre o cenário urbano da Rua Frei Caneca e as
demais. Ao passo que a Rua Paim concentra grande população de
nordestinos e pessoas de baixa renda, a Rua Frei Caneca atrai muitos jovens
casais e oferece serviços e comércio para classe média. Essa mescla é muito
interessante e parte da riqueza da cidade.
No que estas fotos contribuem
para projeto?
Elas reforçam tratar-se de uma
quadra e um bairro cosmopolita,
tolerante quanto aos vários modos
de viver dos vários grupos de
moradores e visitantes.
O espaço público mais próximo
para tais pessoas é a Praça
Roosevelt, distante duas quadras
do Escadão, o que não é tão pouco
se considerarmos o tamanho
incomum da quadra em análise.
Assim, é muito apropriado a
instalação de uma biblioteca
descontraída, contemporânea e
plenamente inserida nas atuais
plataformas de comunicação,
como são os smartphones e seus
aplicativos.
51
52. “A arquitetura (...) concretiza o ciclo do
ano, o percurso do sol e o passar
das horas do dia”.
Juhani Pallasmaa
52
54. Seção H – Restaurantes de Walter Mancini
O que as fotos nos ensinam?
1, 2, 3 e 4 – A esquina da Rua Avanhandava
com a Rua Martins Fontes ganhou ares de
uma entrada monumental a ponto do
visitante se perguntar se está entrando em
uma rua particular! Os pinheiros e pilares
altos com grandes vasos, criam um portal e
isto impressiona!
5 a 8 – O esmero com a calçada, o piso da
rua e os mobiliários dos restaurantes visam
atrair clientes de alto nível que encontram
aqui um espaço aprazível e seguro. Os
muitos seguranças posicionados
discretamente, garantem a paz dos
clientes.
9 – O projeto aprovado pela prefeitura da
cidade, é alvo de várias críticas: moradores
dos prédios vizinhos reclamam da grande
quantidade de pessoas nas calçadas,
atrapalhando a circulação dos não clientes.
De fato, isso ocorre, especialmente à noite.
Esta imagem mostra o exíguo espaço
deixado livre em um trecho da calçada
(esquerda sentido descida).
No que estas fotos contribuem para nosso projeto?
A transformação da rua resultou, evidentemente em sucesso comercial.
Há, todavia, necessidade de equilíbrio e algumas perguntas merecem
consideração:
É realmente necessário uso de gradis de ferro delimitando a circulação de
pedestres?
Por que a entrada de dois principais restaurantes são guarnecidas com tais
gradis?
Será que basta colocar floreiras nestas barreiras bonitas para que elas se
adequem ao espaço urbano?
Qual o limite entre a valorização da calçada e sua posse por um empresário?
É justo o pedestre ter de sair da calçada e caminhar na rua em virtude do
grande afluxo de pessoas na porta do restaurante mais movimentado?
É lícito colocar bancos de madeira, mesinhas altas para se tomar vinho ou
champagne enquanto se aguarda a entrada no restaurante, quando isso
resulta em absoluta ocupação da mesma pelos usuários e valet’s na casa?
É apropriado criar uma entrada monumental na Martins Fontes usando
pinheiros canadenses, que nada tem a ver com a realidade ambiental
brasileira?
Em suma: como equilibrar o investimento privado com o respeito aos
moradores dos diversos prédios na rua e aos demais cidadãos que circulam na
Avanhandava sem, necessariamente, terem interesse em tomar uma refeição
nas casas do senhor Walter Mancini?
Buscar o equilíbrio, foi a lição principal deste levantamento.
54
55. “O significado final de qualquer
edificação ultrapassa a arquitetura; ele
redireciona nossa consciência para o
mundo e nossa própria sensação de
termos uma identidade e estarmos
vivos.
A arquitetura significativa deve fazer
com que nos sintamos como seres
corpóreos e espiritualizados.
Na verdade, essa é a grande missão de
qualquer arte significativa.”
Juhani Palasmaa
55
57. Seção I – Novo Ca’d’oro
O que as fotos nos ensinam?
Perdeu-se uma ótima chance de enriquecer a vida
urbana na parte baixa da quadra, o lado da Rua
Avanhandava. As duas torres do Novo Ca’d’oro
ignoraram esta rua, fechando completamente o acesso
por esta rua, restando apenas um longo muro (cerca de
60m) inóspito e opressivo ali.
O antigo Hotel Ca’d’oro possui entradas de serviço e
recepção para fornecedores nesta parte baixa da
quadra, o que infelizmente foi ignorado pelo novo
projeto.
A implantação da torre do residencial determinou o
acesso de veículos e pessoas na Rua Caio Prado, bem
próximo à esquina com a Rua Frei Caneca. É difícil
compreender a vantagem deste desenho, quando se
tem em mente que a esquina possui grande movimento
de carros e ônibus.
Para se ter ideia do prejuízo deste projeto em sua
implantação, relembramos aqui uma expectativa que o
empresário do Mercado de Flores Avanhandava, situado
sob o Viaduto do Café, investiu ali confiando no fluxo de
moradores do Novo Ca’d’oro, imaginando que fariam
assim uma sinergia com os frequentadores dos
restaurantes de Walter Mancini – na mesma rua, porém
um pouco acima. Nada disso aconteceu, restando para
a Rua Avanhandava este grande muro agressivo e
degradante em termos urbanos.
No que estas fotos contribuem para nosso projeto?
A lição é: o projeto do prédio precisa contemplar a cidade ao
seu redor. É preciso se opor ao gueto – em todas as suas
manifestações.
57
60. Seção J – Recanto Palhaço Sputinik
O que as fotos nos ensinam?
1 a 3 – As árvores na parte alta da praça nasceram
espontaneamente, sem programação ou projeto paisagístico, que
surge à partir, principalmente, do contrato com a Brookfield para
manutenção desta. Nota-se na figura 2 uma pequena árvore
inclinada, rente à uma mureta, o que denota ausência de projeto.
Não aparece aqui, mas há até mesmo uma bananeira na parte mais
alta do relevo.
4 – Esta foto apresenta já fatores positivos sob cuidado da
Brookfield: além do ajardinamento rente ao muro do Novo Ca’d’oro,
vê-se um gramado sobre o talude protetor da tubulação.
5 – Visão geral do Recanto Palhaço Sputinik, destacando o bom
aspecto vegetal do conjunto. Trata-se, de fato, de uma pracinha
agradável e algo recôndita, proporcionando assim descanso e algum
isolamento aos usuários.
6 a 8 – As imagens revelam melhora no Recanto Palhaço Sputinik,
devido a dois fatores: a) instalação por parte da PMSP de
equipamentos para condicionamento físico com frequente limpeza
com jatos de água em todo o Escadão e Recanto e, b) a manutenção
assumida pela Brookfield, proprietária do Novo Ca’d’oro. Na foto 7
vemos um morador de rua dormindo coberto por plástico,
evidenciando haver uma questão social pungente a ser encarada. Os
sem-tetos estão por toda a parte nas imediações do Escadão,
principalmente sob os viadutos.
No que estas fotos contribuem para
nosso projeto?
Compreendemos, à partir da análise
destas imagens que há vegetação
relevante e há vegetação passível de
retirada.
Elegemos 9 árvores principais como
intocáveis e elas são a responsável por
80% do visual cenográfico ali.
A proteção a tais árvores e a insistência
em sua permanência resultou em
situações felizes no projeto final de
Alexandria sem Muros: no mirante do
5º andar elas configuram um tipo de
mar verde, muito agradável e
estimulante para os visitantes na plaza
elevada.
60
62. Seção K – Recanto Palhaço Sputinik
O que as fotos nos ensinam?
Gradualmente um espaço residual da cidade, mero pedaço
verde entre o antigo hotel Ca’d’oro e o Escadão, foi se
tornando uma pracinha convidativa. Tais alterações não
evitam completamente os usuários de drogas, ladrões
constantemente assaltando pessoas e sem-tetos defecando e
urinando ali, mas proporcionou grande melhora, não há
dúvidas!
1- Vemos aqui o resultado do bom cuidado paisagístico na
praça: em primeiro plano grama e arbustos plantados sob
ação da cooperação da Brookfield em se responsabilizar pelo
espaço. Ao fundo, o muro verde separando o Novo Ca’d’oro do
Recanto Palhaço Sputinik.
Rente ao muro pintado de verde, arbustos plantados em fileira
tornam mais agradável o ambiente, reforçando o conjunto
vegetal.
2- Equipamentos para exercícios físicos de pessoas idosas e
adultos foram implantados pela PMSP e ajudaram a qualificar
a frequência da praça: é comum ver famílias usarem tais
equipamentos.
3, 4, 5, 6 e 8 – Mostra-se aqui aspecto geral do Recanto, com
árvores proporcionando um belo visual. Na foto 7 vemos o
muro fronteiriço comentado na imagem 1, ainda sem as
plantas tipo bambu colocadas em fileira.
No que estas fotos contribuem para nosso projeto?
Até o cerca de 2012 a praça não tinha nome, era mero
resíduo arborizado ao lado do Escadão.
Quando se deu o nome Recanto Palhaço Sputinik junto
vieram os equipamentos de condicionamento físico
para a terceira idade, o que atraiu frequência de famílias
– tanto idosos como seus parentes, resultando em
maior qualificação do lugar.
À medida que a construção das duas torres do Novo
Ca´d’oro se aproximaram do final, a incorporadora
Brookfield assumiu a manutenção do Recanto, e até
agora pode-se ver ali uma placa anunciando essa
parceria com a prefeitura municipal.
A lição é clara: um espaço público quando bem cuidado,
atrai famílias e frequentadores de diversas camadas
sociais. Não se pode dizer que os maus usos
desapareceram: ainda se urina na escadaria, ainda há
pessoas dormindo ao relento, transformando a parte
arborizada num tipo de hotel liberado. Porém é justo
reconhecer as melhoras com essas duas intervenções,
tanto privadas como públicas.
62
64. 7 – Patamar intermediário: o encontro dos braços do grande “Y”.
8, 9, 10 e 11 – Visão de trechos do Escadão. Na foto 11 a visão é de
quem está no patamar intermediário e olha para dentro da área verde.
13 – Da pracinha, agora chamada de Recanto Palhaço Sputinik, se vê o
escadão, tendo à sua frente o talude, sob o qual está a tubulação de
água que o ladeia. Este talude permite que a água da fonte existente
no alto siga até o córrego Saracura, na parte baixa. Na parte do
Escadão as grelhas no chão permitem ouvir o ruído incessante deste
manancial.
14 – Visão da Rua Caio Prado para o Escadão.
15 – Visão do braço esquerdo do Escadão (sentido subida) olhando
para a calçada da Rua Caio Prado, no alto.
No que estas fotos contribuem para nosso projeto?
As imagens revelam o belo efeito cênico na parte do Escadão,
quando a mureta em curva liga as duas ruas na parte alta. Tal
situação merece ser preservada e estimulada e nosso projeto deu
atenção a isso. Criar um acesso ao edifício sem descaracterizar o
conjunto arquitetônico pré-existente foi um dos maiores desafios
deste trabalho. Das 5 seções
64
Seção L – O Escadão – parte alta
Um grande “Y” cujos braços encontram a esquina das
ruas Frei Caneca e Caio Prado: ali temos a mais bela
imagem do Escadão da Avanhandava. O belo cenário é o
resultado não apenas da visão que se tem da Praça e da
parte baixa, com a Rua Avanhandava e pequeno trecho
da Av. Nove de Julho, mas também pela implantação da
escadaria oferecendo um passeio em curva, com os
balaústres e guarda-corpo servindo de apoio a quem
desejar parar e ver a cidade.
O que as fotos nos ensinam?
1- 195 balaústres protegidos pelos guarda-corpos
tornam esta uma das mais belas escadarias da cidade.
2, 3, 5, 6 e 12 – A calçada em curva faz a ligação para o
caminhante entre a Rua Frei Caneca e Rua Caio Prado. A
mureta externa de concreto com perfil um tanto
piramidal ou cônico, assemelha-se a um guard-rail,
quebrando a beleza do conjunto. Compreende-se a
colocação deste muro baixo tão resistente, afinal,
ônibus e caminhões fazem a curva ali, além dos
automóveis, de modo ser necessário proteger o
pedestre nesta estreita calçada. A pergunta que surge é
se não seria possível aliar a segurança com o equilíbrio
estético, fazendo a mureta conter também balaústres
semelhantes ao do Escadão.
4 – Encontro do Escadão com a calçada da Rua Frei
Caneca.
66. Seção M – O Escadão – parte baixa
O que as fotos nos ensinam?
1, 2, 7 e 8 – O encanamento oculto sob o talude, lateral
ao Escadão, parece ser o responsável por esse piso
elevado em 1,2m do gramado em relação à calçada na
parte baixa do Escadão. Esse promontório impediu
construir-se um arremate correto do guarda-corpo, que
faz uma curva delicada na calçada apenas do lado
esquerdo, restando um acabamento igual do lado direito.
Este defeito é grave numa peça de partido clássico,
renascentista – mas pode ser corrigido facilmente!
3 E 6– O prédio vizinho, Condessa Avanhandava, ergueu
um muro alto entre o Escadão e o edifício, provavelmente
na intenção de proteger seus moradores de olhares
indiscretos e de ladrões. O resultado é grotesco.
4 – Pintar um equipamento público danificado sem o
reformar, é um triste gesto. Evidencia pobreza ou descaso.
5 – No patamar intermediário (o oitavo patamar sentido
subida) o autor confere o norte com uma bússola, as onze
da manhã na primavera de 2015.
9 – Do Escadão pode-se ver a praça, e o talude sobre a
tubulação de água, agora com gramado colocado pela
empresa cuidadora do espaço, a Brookfield.
.
No que estas fotos contribuem para nosso projeto?
Equilíbrio e elegância parecem ser a tônica do projeto do
Escadão. A simetria completa o corpo clássico da peça que tem
a seu lado uma pequena praça. Só o observador atento se dá
conta do talude entre ambos os volumes escadão / praça.
As fotos nos indicam ser preciso equilíbrio e elegância para
intervir inteligentemente no Escadão Avanhandava.
66
68. Seção N – Sujeira e Sem-Tetos
O que as fotos nos ensinam?
1 e 2 – Caminhão da PMSP e garis constantemente lavam o Escadão e o pátio do Recanto Palhaço
Sputinik. Motivo: urina e fezes deixadas pelos que dormem ali. Também é comum restos de
comidas pois os mendigos amiúde ganham marmitas de outras pessoas e raramente descartam
corretamente as sobras.
3 – Homem que dorme habitualmente na Rua Rui Barbosa, esquina com Rua Manoel Dutra. Aqui
ele usa um grande plástico como cobertor e tem um pedaço de pão guardado junto à cabeça.
4, 5 e 8 – Qualquer lugar torna-se um leito aos sem tetos.
6 – Escadaria da Rua dos Ingleses. No patamar intermediário uma pessoa sem-teto acampou,
protegida pelo guarda-corpo ela consegue descansar apesar do grande movimento de pessoas na
feira de antiguidades ocorrendo na Praça Dom Orione e Rua Treze de Maio lá embaixo.
7 – Escadão da Avanhandava, patamar central. Alguém descartou dezenas de letras de plástico,
usadas para painéis de preços em bares e lanchonetes. Espalhadas no chão, as letras compunham
de forma caótica , um exemplo de descaso e agressão com o lugar, o bairro, a cidade e os
semelhantes.
9 – Rua Avanhandava, subida no sentido Rua Paim. Diante do terreno baldio os moradores da
região decidem jogar aqui seus móveis velhos, pouco se importando de atrapalhar e sujar a
calçada. Esta cena repete-se duas a três vezes na semana, permitindo a pergunta: poderia a
prefeitura organizar com mais frequência a operação “Cata-Bagulhos”? Poderiam os moradores
buscar outra solução para seus descartes? Algo precisa ser feito: a prática vista aqui é deprimente
sob todos os pontos de vistas, especialmente do exemplo dado à nova geração. É como se
disséssemos aos jovens: “cuide de si e não se preocupe com seus semelhantes, nem com a cidade
onde mora!”
10 – O descarte sumário de móveis velhos não poupa sequer o patamar central do Escadão!
.
No que estas fotos contribuem para
nosso projeto?
É um contrassenso criar um espaço
público urbano sem oferecer apoios
aos sem teto e outros em situação de
fragilidade social.
Não se faz soerguimento de um lugar,
uma quadra ou um bairro, apenas
com argamassa e tijolos – ou seja, o
prédio por si só não tem o dom de
irradiar desenvolvimento social as
pessoas na região – especialmente
não, quando tratamos de usuários de
drogas, alcoólatras, sem teto e
famílias desestruturadas –
normalmente pobres.
Ajudar a tais exige a competência de
diversos setores, notadamente a
assistência social e seus profissionais.
Assim Alexandria sem Muros foi
projetado como um conjunto de ações
inclusivas e agregadoras, visando
atrair pessoas de todos os níveis e
condições financeira.
Talvez pareça utópico, todavia
algumas experiências bem sucedidas,
como o CCSP, na Rua Vergueiro,
mostram que, sim , é possível.
68
69. A razão pela qual os habitantes da
cidade se tornam estranhos em seu
próprio ambiente de vida é porque o
potencial de iniciativa coletiva foi
grosseiramente superestimado ou
porque a participação e o
envolvimento foram subestimados.
Herman Hertzberger
69
71. Seção O – Vandalismo
O que as fotos nos ensinam?
1 a 9 – Todas as fotos revelam a agressão sofrida pelo
mobiliário por parte dos cidadãos.
A foto 7 revela um grau maior de violência: o balaústre não
apenas foi danificado, mas também retirado do guarda-corpo e
jogado sobre o talude de terra que cobre a tubulação ao lado
do Escadão.
Compreender o maltrato do paulistano para com seu espaço
público é um tema para sociólogos, psicólogos e analistas do
comportamento humano.
Alcoolismo, drogas, revolta juvenil, ação de black-blocks....
Nosso levantamento não obteve respostas precisas, porém fica
evidente um vácuo cultural a ser preenchido desde a tenra
infância: o respeito pela cidade, sendo este apenas uma outra
faceta do respeito ao semelhante.
Pode a Arquitetura solucionar isto? Obviamente, não. Ou pelo
menos, não sozinha. O que vale dizer que, sim, a Arquitetura
faz parte da solução, ainda que necessite do apoio de outras
áreas especializadas a fim avançarmos na implementação de
uma consciência social solidária em nossa cidade.
No que estas fotos contribuem para nosso projeto?
Não basta criar espaços aprazíveis: é preciso haver um
uso cosmopolita, uma frequência plural de todas as
classes em todos os horários do dia e da noite.
É o uso pelos cidadãos que protege os espaços públicos.
Seu uso por apenas um grupo, ou pouco mais de um,
resulta na degradação e exclusão dos demais.
71
O abandono do espaço – tanto pela PMSP como pelos
cidadãos favoreceu o estado ermo do lugar. Essa
condição de isolamento atrai os sem-teto, usuários de
drogas e vândalos.
Tanto é assim que a significativa melhora do espaço deu-
se após a PMSP implantar equipamentos para exercícios
físicos junto com o cuidado por parte da incorporadora
do Novo Ca’d’oro.
Ainda não chegamos a um nível bom de segurança e
limpeza, mas progressos foram feitos.
73. Mapa de Ocorrências
(fonte: autor)
A observação frequente do Escadão,
empiricamente, torna evidente a
preferência de alguns setores preferidos por
certos grupos.
Alistamos aqui cinco deles:
Usuários de drogas
Os que defecam e urinam
Sem-tetos deitados ou dormindo
Crianças jogando bola
Usuários dos equipamentos de ginástica
Outros grupos não assinalados
Produtores de vídeo/cinema
Praticantes de esportes radicais
Fumantes (usuário de droga lícita)
Namorados
Donos de cachorros e seus animais
Ladrões
73
74. Diagrama de Alterações do Relevo
(fonte: autor)
Na imagem 1 vê-se o relevo segundo o GEGRAM, cujo
desenho original resultou nessa imagem de planta e
corte.
A imagem 2 baseou-se no MDC (mapa digital da
cidade) fornecido pela PMSP na página oficial da
prefeitura.
A imagem 3 apresenta o relevo do lote segundo o
projeto Alexandria sem Muros, do TFG apresentado
nesta monografia.
Conclusão
Entre a imagem 1 e 2 houve clara redução do volume
de terra, especialmente na pequena esplanada onde
hoje está o Recanto Palhaço Sputinik.
O setor rente ao Escadão mantém altura maior,
acompanhando de perto a própria escadaria, pois ali
há uma tubulação subterrânea originada na esquina
da Rua Frei Caneca X Rua Caio Prado. Essa tubulação
coberta pela terra é vista claramente na imagem 3
seguindo o eixo principal do Escadão.
1
2
3
74
75. Mapa com Medidas
(fonte: aluno)
Feito pessoalmente com uso de trena
comum este mapa é mais preciso nas
medidas menores: largura dos degraus,
grelhas de caixa de coleta de águas pluviais
etc.
Nas medidas maiores há imprecisões uma
vez que as plantas do MDC fornecida pela
PMSP não coincidem em alguns pontos e
possuem grandes imprecisões.
Um levantamento com trena eletrônica pode
resultar em melhor aferição.
Conclusão:
Há frustação quando se encontram mais de
um mapa com dimensões divergentes,
tornando claro a necessidade de um
levantamento por equipe perita em
topografia para uma perfeita representação
do lote e da escadaria.
O autor, bolsista PROUNI, não contratou um
laudo de tal qualidade.
75
76. Mapa dos Equipamentos
(fonte: autor)
Ainda que a escala não permita clareza nos
detalhes pode-se observar:
- 8 tampas redondas de ferro para
inspeção de galeria pluvial nos
patamares do Escadão.
- 2 tampas de inspeção de água pluvial no
setor alto, onde ficava a árvore, próximas
do braço direito do Escadão.
- 2 postes de luz no Escadão: um no
patamar 2 e outro no patamar 6
(contando de baixo para cima)
- Grelhas e caixas de inspeção na calçada
da Rua Avanhandava (parte baixa do
desenho).
- Árvores no Recanto Palhaço Sputinik:
numeradas e representadas em cículos
com números.
- Postes no Recanto Palhaço Suputini,
assinalados com a letra P seguida de um
número.
76
77. “O que é mais necessário na arquitetura
atual é justamente o que é mais
necessário na vida – integridade.”
Frank Lloyd Whright, em 1954 aos 85 anos de idade, citado por Juhani
Pallasmaa.
77
78. O
LOTE
A presença da água no lote
A questão da água surge também na quadra, de dois
modos especiais: a proximidade com a Av. Nove de
Julho, com seu córrego oculto e uma nascente ativa, e
também oculta, na esquina da Rua Frei Caneca X Rua
Caio Prado. A presença de uma tubulação entre o
Escadão e o Recanto Palhaço Sputinik, assim como
algumas tampas de galeria no Escadão, permitem
compreender que essa água cai, pela tubulação,
seguindo o mesmo sentido da escadaria. Prova disso é o
som incessante de água agitada, ouvido na parte baixa
do Escadão, ruído esse vindo de uma das grelhas de
coleta de água pluvial.
78
Sem confirmações oficiais nem mapas hidrológicos mais precisos, restou
a observação empírica confirmando a presença dessa mina. Restam
perguntas como: 1) Onde, precisamente, localiza-se esta fonte? 2)
Quando foi canalizada e porquê? Qual é (desde a nascente até sua
chegada à galeria da Av. Nove de Julho), exatamente seu curso de
descida?
A presença desse curso d’água ressaltou o valor de uma das premissas
do projeto Alexandria Sem Muros: respeito às pré-existências, manter
intacto o Escadão em seu desenho original e preservar o Recanto
Palhaço Sputinik, especialmente suas árvores. Atuando nesse sentido
tem-se, por resultado, a preservação desta mina d’-agua.
79. O
LOTE
A questão topológica no lote
Dezessete metros separam o primeiro e o último degrau do Escadão. (Para facilitar
a análise, usa-se neste texto o sentido ascendente, considerando o primeiro
degrau aquele que toca a calçada da Rua Avanhandava, e últimos degraus, os que
tocam a calçada da Rua Frei Caneca e da Rua Caio Prado).
Por alto que seja, o Escadão é um alívio em uma quadra de tamanho descomunal:
seu perímetro chega à 1.800 metros! O traçado original desta quadra poderia ter
sido mais amigável caso a Cia. City, ao planejar o loteamento ali, tivesse criado um
acesso entre a Rua Frei Caneca com a Rua Avanhandava, no local onde surgiu uma
rótula e se localiza atualmente uma escola de primeiro grau particular.
Restou aos moradores e visitantes do bairro duas opções de circulação cortando a
quadra: o Escadão e o Sacolão Avanhandava. Ambos são escadaria, de modo que
beneficia apenas o pedestre.
79
80. O
LOTE O projeto do Escadão
Dentre as muitas escadarias na região da Av. Nove
de Julho, está é a mais simétrica e longa:
estendendo-se por 56m em forma de Y, o Escadão
reúne algumas características peculiares, como
peça urbana.
1 – Sendo bifurcado, facilita o acesso à Rua Frei
Caneca, à direita (estamos sempre considerando
no sentido subida) e a Rua Caio Prado à direita.
Assim facilita ainda mais o caminhante, que deve
optar por qual das ruas terminará sua subida.
2 – Estar em uma curva, na sua parte superior,
constitui um fator estético valioso, a calçada
fazendo a ligação entre as duas pontas da
escadaria. Essa curva da calçada é, em si mesma,
quase um mirante, pois balaústres presentes no
inteiro percurso da escadaria surgem também
guarnecendo a curva, na esquina. A balaustrada
com sua mureta rígida e larga, convida a parar e
mirar o cenário, no qual prédios se misturam com a
copa das árvores e com as faixas de rolamento da
Av. Nove de Julho, permitindo assim uma escala
incomum na vista, tanto por seu alcance como por
sua altura relativa.
3 – O projeto do Escadão insere-se harmoniosamente num
conjunto de 6 grandes escadarias lindeiras à Av. Nove de Julho,
sendo o Escadão a única dessas afastada da grande avenida,
nascendo de fato, numa rua – a Rua Avanhandava.
4 – Nenhum degrau possui altura superior à 14 cm. Alguns
podem até ser menores! Isso ocorre devido à inúmeras
reformas e consertos feitos na escadaria, no decorrer de tantos
anos. A altura máxima de 14 cm significa uma subida
confortável, sem exagerado esforço por parte do usuário. Os
dois únicos momentos onde não ocorre essa altura dá-se em
duas tampas de inspeção de água, situadas nos patamares 2 e 4.
(A numeração dos patamares aqui segue o sentido subida, para
melhor comunicação com o leitor). Essas tampas parecem ter
surgido alguns anos depois da inauguração do Escadão, pois
apenas isso explica o fato de se apresentarem com forte
sobressalto, a ponto de incomodar quem sobe,
exigindo notável esforço nisso.
5 – O Escadão está dentro de uma praça! Na realidade, não há
uma praça oficial, pois tudo indica ser esta área, um resquício
de desapropriações feitos por ocasião do surgimento da Av.
Nove de Julho.
80
83. No Bixiga há locais muito interessantes
permitindo vencer os desníveis fortes entre
algumas ruas.
O Shopping das Artes, (fotos 01-03) ligando a Rua
dos Ingleses com a Rua Treze de Maio por uma
galeria particular que abre as 7:00h e fecha as
18:00h. Esta galeria possui diversas lojas e boxes
além de muitas peças de arte expostas na escada,
porém as lojas só abrem nos fins-de-semana. São
antiquários, boa parte deles expondo na Praça
Benedito Calixto, em Pinheiros, e na Praça Dom
Orione, no Bixiga, perto desta galeria.
A escadaria da Rua dos Ingleses, (foto 04-05)
constitui um espetáculo de arquitetura urbana no
espaço público! Seu patamar permite uma parada
agradável para contemplação da Praça Dom
Orione, na parte baixa. Também possui um
patamar na parte alta, que se torna um mirante.
Merece uma melhor manutenção, especialmente
na parte baixa, onde homens urinam e muitos
jogam lixo.
01
02
03
04
05
REFERÊNCIAS
(fotos do aluno)
83
85. “Sentimos prazer e proteção quando o corpo
descobre sua ressonância
no espaço.”
Juhani Pallasmaa
85
86. PROGRAMA
ATRAIR & INCLUIR
Banheiros públicos 24hs
Assistência social – 24hs
Curso de requalificação
Espaço da
Música & Poesia
Biblioteca do Conto Mundial
Biblioteca Música dos Povos
Mirante
Posto SP Turis &
GCM 24hs
Café no topo
No térreo esses wc’s devem atender a população em geral, mas especialmente pessoas em situação
de rua ou fragilidade social. Por estarem juntos à Assistência Social haverá um atendimento
educativo para o usuário.
Além dos sem-teto o setor também estará apto a ajudar mulheres, idosos e crianças vítimas de
abusos.
Alfabetização (fundamental) até computação: Objetivo: facilitar o acesso dos excluídos ao
mundo contemporâneo..
Cursos, ensaios e apresentações improvisadas devem tornar o ambiente estimulante: o som chegará
à quase todos os pavimentos, provocando reações positivas e encorajadoras..(Espera-se...)
Leituras rápidas, saraus e acervo cosmopolita: imigrantes sentir-se-ão em casa!
Wi-fi e conexão mundial; fones de ouvido e sofás. Catálogo da música tradicional e popular
de todos os povos fará do espaço um centro valioso de cultura humana e lazer.
Espaço do ócio. Os sofás grandes provocarão encontros, discussões, romances etc
Apoio ao turista, com funcionários trilíngues. Atendimento às ocorrências e proteção ao
patrimônio. Olhar vigilante zelando pelo conjunto diuturnamente.
Afinal, não se vive sem café. Aliás, até se vive... mas porcamente!
Varejo – 24hs Farmácia e Pizzaria – a vida é feita de dor e prazer, essa é a verdade! (Lojas serão os olhos do lugar, no
térreo).
86
87. PARTIDO
Metálica, Luz & Ar
ESTRUTURA METÁLICA APARENTE. Motivo: leveza visual e amplidão dos espaços
SEM PILARES INTERNOS
SEM PAVIMENTO TIPO
ABERTURA CIRCULAR NA LAJE
JANELAS CUSTOMIZADAS
NENHUMA ÁRVORE DE PORTE SERÁ
DERRUBADA.
O ESCADÃO PRESERVADO INTACTO
ELEVADOR COMO OPÇÃO À TODOS.
Motivo: gera espaços polivalentes (Hermann Hertzberger)
Motivo: morte ao tédio!
Motivo: surpreender, encantar e provocar encontros: físicos,
auditivos, visuais, musicais e olfáticos.
Motivo: de uma arquitetura obsessiva para uma tolerante
Motivo: ele é lindo! Sóbrio, digno, franco, agradável!
Motivo: tem dias que a gente não está legal... (além dos
enfermos, claro!)
Motivo: cada uso pede uma solução, ué!
87
88. “A medida real das qualidades de uma cidade é
se conseguimos nos imaginar nos apaixonando
por alguém nessa cidade”.
Juhani Palasmaa
88
89. PARTIDO
Metálica,
Luz & Ar
1 – Entender a cidade, sua geografia e topologia.
Mirar tem, amiúde, um efeito estimular a compreensão
da cidade. Em outras palavras, contemplar a cidade e seu
horizonte, ou para se usar o termo corrente, sky line,
normalmente permite ao observador o fortalecimento
da sua imagem da cidade, enriquecendo seu mapa
mental, seu senso de localização e senso de
posicionamento – tanto seu como dos prédios ou pontos
principais observados. A escala em que se vê a cidade
tende a tornar mais inteligível distâncias e proporções
entre marcos notáveis.
2 – Apreciar a cidade.
O resultado do benefício número 1, ainda que não ocorra
com todas as pessoas forçosamente, é estimular o
apreço pela cidade em que moramos. Tal se dá por uma
tendência de adaptação do ser humano, reação esta
surgida quando se enfrenta uma coisa dada: se
compreendemos estar inseridos numa conjuntura da
qual temo s pouca chance de reação, nossa tendência é
desenvolver modos de adaptação, minorando as
sequelas e fortalecendo as virtudes, ou benefícios da
situação em que nos encontramos. Em outras palavras,
tendo a cidade como coisa dada, resta-nos conviver do
melhor modo com ela – e a compreensão visual tem seu
papel nesse apreço eventualmente progressivo.
89
POR QUE UM MIRANTE?
Alguns fatores apontam o projeto de um mirante
como valioso para a vida urbana no Bixiga. O perfil
do paulistano é de alguém dinâmico, correndo para
o trabalho, estudo ou outras atividades.
Os intervalos entre as atividades constituem um
momento de repouso, sendo muito valorizado.
Assim, um espaço público onde se possa descansar,
ao ar livre, na região central da cidade,
normalmente é bastante procurado pelas pessoas.
Naturalmente as praças cumprem – ou deveriam
cumprir essa função. A diferença do mirante é
provocar a observação do cenário oferecido.
Neste caso provoca-se no usuário reações mais ricas
que as oferecidas por uma simples praça. Vejamos
algumas.
90. “Quando alguma coisa está acontecendo, as
pessoas querem parar um pouco e observar.”
Herman Hertzberger
90
91. O hexágono é uma opção de grande
resistência estrutural e
estes desehos feitos há mais de um ano
apresentam belo visual.
A dificuldade na execução está na
presença de muitas árvores, o que deve
produzir um volume mais estreito e
localizado principalmente sobre a
escadaria.
O conto de Jorge Luiz Borges, “A
Biblioteca de Babilônia” apresenta um
prédio imaginário com salas hexagonais,
ligando-se umas a outras por duas portas
em cada sala. Umberto Eco usou este
partido na biblioteca medieval que criou
em seu livro “O Nome da Rosa”.
É intenção neste projeto de retomar o
uso do hexágono, visto aliar beleza
plástica com resistência construtiva e
estrutural. Como isso se dará
visualmente é algo ainda a ser
respondido. (No final, abandonamos
essa geometria).
http://static.publico.pt/coleccoes/cmf/autores/u
mbertoeco/abadia.jpg
http://static.publico.pt/coleccoes/cmf/
autores/umbertoeco/abadia.jpg
CROQUIS
INICIAIS
91
92. DECISÕES BASILARES
Não retirar árvores.
Não destruir a escadaria.
Estes foram dois princípios basais
do projeto. Todavia parece que
em ambos os casos teremos de
abrir exceções:
Árvores: nem todas são de grande
porte e valor, então
provavelmente será necessário
retirar algumas para melhor
conformação das lajes e acesso.
Escadaria: como mostra a figura
(03) os patamares da escada
podem servir de acesso à
biblioteca, o que envolve retirar
parte dos balaustres e mureta.
Nos desenhos aqui apresentados
ainda não se atingiu a leveza
pretendida. Novos desenhos e
organização dos departamentos
deve produzir uma construção
mais delgada e com maior dialogo
visual com o bairro e a cidade.
CROQUIS
INICIAIS
92
93. 93
Avaliação pelo software Sol-Ar
A carta solar apresenta a fachada principal
do edifício com SE.
Isto implica sofrer constante ação do vento,
como se comprova a imagem da frequência
dos ventos.
Consequentemente o prédio recebe sol
apenas na parte inicial da manhã, sob
constante ventania, resultando em frio
significativo, dispensando a instalação de
quebra-sóis.
Desenho feito pelo autor demonstrando o curso do sol
sobre o edifício.
94. C E N A - 1
Visão da Rua Avanhandava, para a equina com Rua Caio Prado. À direita, descida do Escadão rumo à Rua
Avanhandava.
À esquerda, mureta na curva da esquina, dando opção de entrada na Biblioteca ou seguir adiante, para a Rua
Caio Prado.
94
DESENHO
FINAL
95. 95
C E N A - 2
Visão da passarela mirando-se a biblioteca Alexandria
Sem Muros. À esquerda, ao fundo, se vê parte do
Escadão da Avanhandava; à direita, as torres do Novo
Ca’d’oro.
Neste ponto a passarela se bifurca: pode-se ir em linha reta para o Escadão
ou ir à direita, para o segundo braço da passarela levando diretamente ao
pavimento 4 da biblioteca.
Esta ligação entre ambos os braços, constitui, de certo modo, também um
‘palco’ pois pessoas na praça poderão ver facilmente qualquer um que se
apresente nessa hiato da passarela.
96. Recanto Palhaço Sputinik – Praça lindeira ao Escadão da Avanhandava.
Passarela dupla sobre o Recando Palhaço Sputinik – interligação entre
elas.
O Rebaixamento da cota da praça
afetaria a estabilidade das
árvores, a menos que se pensasse
numa proteção às raízes.
O círculos concêntricos e graduais
são a resposta protetora, de
modo que nenhuma das 9
árvores principais fosse retirada.
Tais círculos também tem a
função de banco.
A passarela encontra o prédio da
biblioteca em dois pontos: um à
direita e outro à esquerda, sendo
esse também de conexão como o
Escadão da Avanhandava no seu
patamar principal à 12m de
altura.
Assim esta conexão esquerda dá
ao usuário a opção de não entrar
no prédio, simplesmente
seguindo pelos braços do Y do
Escadão, chegando à esquina da
R. Frei Caneca com Rua Caio
Prado.
96
97. 97
C E N A - 3
Ponto de vista da sacada rebaixada, entre os dois braços
da passarela na sua chegada à Rua Santo Antônio.
. Desta sacada olha-se o Escadão da Santo Antônio de frente,
condição ideal para se proferir uma palestra ou executar uma
apresentação artística, dando ao conjunto um caráter cívico
popular.
98. C E N A 4
Recanto Palhaço Sputinik:
a pequena praça foi preservada, assim como a tubulação
de água lindeira ao Escadão Avanhandava e, o próprio
Escadão também foi preservado.
98
De toda a vegetação anterior, conseguiu-se manter as 9 principais
árvores, que por terem o piso rebaixado na praça, ganharam
proteção de bancos anelares.
Tais elementos tem a função tanto de proteger as raízes das
árvores, agora bem acima da cota da praça, como também
servirem de bancos para descanso encontros, e contemplação.
99. Topo - Terraço a céu aberto – Guichê de cartões de benefícios sociais.
Aqui se complementa atendimentos iniciados no pavimento 1 e o deslocamento forçado
fazendo os usuários de serviços sociais percorrerem o prédio chegando ao topo visa
causar maior interação com os serviços culturais e ofertar uma surpresa cênica com
eventuais estímulos psicológicos aos debilitados.
Mobiliário permite descanso e contemplação. Acesso ao barrilete.
6º andar - Café no Mirante
Este pavimento é, na realidade, um desdobramento do pavimento 5, deixado sem
qualquer serviço exceto pequeno banheiro público e floricultura.
O café foi imaginado no pavimento 5, inicialmente, todavia seu deslocamento para o 6º
andar contribui de dois modos: 1) liberou mais espaço na plaza da Frei Caneca e, 2)
conferiu algum recato aos usuários do café, tornando-se este pavimento um segundo
mirante.
A abertura em ‘U’ no centro da laje visa maior contato visual com o pavimento abaixo, de
modo a não se ter forte isolamento do café.
5º andar – Plaza Frei Caneca – Floricultura 24h e banheiros públicos
O coração pulsante de Alexandria Sem Muros: aqui encontram-se o caminhante vindo da
Rua Avanhandava que optou pelo elevador; o que vem descendo pela Rua Frei Caneca
como também pela Rua Caio Prado e os usuários do edifício que porventura desejem
acessar estas ruas ou, simplesmente queiram apreciar o cenário.
O piso de vidro no chão além de levar alguma luz aos pavimentos inferiores atuará
também como um domo luminoso dificilmente ignorado em qualquer destes pavimentos,
magnetizando a atenção e atraindo visitantes a este andar. Desta rótula de vidro a luz
natural, em seu movimento, também levará uma sombra com estranhos efeitos sobre
chão e parede abaixo. Naturalmente a própria varanda da Plaza constitui um ponto de
atração para contemplação e repouso do agitado cidadão paulistano e outros visitantes.
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Topo
A XO N O M É T R I C A D E U S O S
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100. 4º andar – Biblioteca Digital
Paredes e mesas de grafeno poderão agilizar as pesquisas de textos, imagens e sons. Conexão
total é o princípio deste pavimento.
3º andar – Biblioteca de Papel
Neste pavimento a passarela vinda do Escadão da Santo Antônio toca em dois lugares: no patamar
central do Escadão da Avanhandava e no lado direito da fachada principal do prédio, ou seja: há
duas entradas públicas. Esta situação é possível uma vez que há controles eletrônicos
monitorando todos os volumes de livros e diversos itens emprestado aos frequentadores, de
modo que se pode usar e ler as plataformas diversas nos diversos pavimentos e até fora das
paredes do pavimento: o sistema usa QR Code e outros aplicativos no controle dos empréstimos e
devoluções, conferindo à biblioteca esta característica “sem muros” por meio da qual a circulação
dos visitantes é fisicamente livre.
2º andar – Espaço informal de Música
A exemplo do projeto “Piano na Estação” que permitiu a qualquer visitante executar
apresentações casuais, este pavimento disporá de instrumentos para isto com duas opções:
audições internas ou externar, ao se usar a varanda voltada para a praça Recanto Palhaço
Sputinik.
1º andar – Atendimento Social e Cursos de Reinserção
Moradores de rua e outros em fragilidade social padecem de forte deslocamento profissional no
mundo contemporâneo. Neste pavimento assistentes sociais e pedagogos atuarão ofertando
cursos e orientações a fim de minorar tal disparidade social. Os benefícios sociais de governo ou
ONG’s terão seus bilhetes e documentos de acesso entregues no topo do prédio. A abertura no
piso não apenas repete o círculo básico surgido no 5º andar, mas amplia-se num átrio de onde os
alunos e usuários podem ver o setor térreo, numa interação visual dinâmica. Motivo disso é a
busca por espaços onde a atuação social ocorra sob uma arquitetura não oclusa, mas franca,
aberta e luminosa.
Térreo – Gibiteca e banheiro público
Os serviços de banheiro e gibiteca ocorrem em lados opostos do piso: banheiros à esquerda,
gibiteca à direita. Mesa de atendente encontra-se ao fundo, entre os dois setores. Na fachada,
duas lojas oferecendo serviços 24 horas por dia. Sugerimos pizzaria de um lado e farmácia do
outro. Em cada loja foi instalado um pequeno banheiro com pia, facilitando a rotina dos que ali
trabalharem. Outros serviços poderiam acontecer além dos sugeridos: chaveiro, loja de
conveniências etc. O importante é tais serviços em sob permissão da administração municipal
(nisto se incluí a floricultura no piso 5) atuarem como olhosT
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Topo
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A R R I S C A R
Janelas
Diversas configurações de abertura e usos
No térreo – vitrôs na parte mais alta da parede, pois o varejo recebe ventilação
e luz, mas também tem seu espaço interno resguardado, as paredes ganhando
liberdade para diversos usos, como guarnecer prateleiras e armários, por
exemplo.
Pavimento 1 – Três fileiras de maxim-ar, sendo a mais baixa, fixa. O
espaço destinado a salas de aula ganham liberdade para regular a
abertura.
Pavimento 3 – Janelas basculantes nas duas fileiras de cima e uma varanda no centro da
fachada. Há descanso para a leitura, cada usuário podendo controlar as aberturas para
conforto interno. Na varanda é possível se fazer declamações e leitura pública.
Pavimento 2 – 3 fileiras de janelas, sendo as duas de cima escamoteáveis em
sentidos opostos e a fileira mais baixa, fixa. Isto permite franca abertura quando
houver apresentações de corais ou grupos grandes de cantores, a plateia ficando na
praça ou na passarela diante da fachada.
Pavimento 4 – Sem varanda. As janelas dão mais reclusão para os usuários da
biblioteca digital.
Pavimento 5 e os demais acima – Não há janelas ou paredes, exceto em
setores pequenos (café e guichê). Os pavimentos são, em si mesmo, varandas e
mirantes da cidade.
103. S E R R A L H E R I A – P O R Q U E N Ã O ?
103
A serralheria é uma arte em vias de extinção.
Aqui se retoma a arte com algum grau de exigência construtiva.
O modernismo tem parte da culpa nisso, por sua ojeriza ao corrimões e guarda-corpos, além, claro, de sua
estética minimalista. Foi decisão desde o início do projeto – e aqui falamos dos idos entre 2009 e 2010 – criar
algum elemento de serralheria na biblioteca e seu conjunto.
Como uma renda ornando uma peça toda lisa e plana, o guarda-corpo e outros elementos de ferro deveriam
contribuir arrematando o desenho.
No guarda-corpo cujas linhas curvas retratam o contorno do balaústre, exige-se do oficial serralheiro aliar
delicadeza à força.
Na rótula de vidro, com 6m de diâmetro, o desafio é a estrutura suportar o espaço público com multidão sobre
si.
Na grelha sobre a mini-arquibancada no Escadão da Santo Antônio, a peça ora surge vazada, ora tampada com
vidro – quando se encontra sobre a Sala da Cidade.
Serralheria 1 – Grelha de luz e
aeração natural no Escadão da
Santo Antônio.
Serralheria 2 – Guarda-corpo
metálico cujo desenho refere-se
ao balaústre do Escadão da
Avanhandava.
Serralheria 3 –
Rótula de vidro
cuja trama
estrutural alude ao
símbolo da Paz
Universal,
mesclado com a
trama de
vegetação como a
Vitória-Régia.
104. Uma passarela conectando diretamente a R. Frei Caneca com a R. St. Antônio
Cancelado: havia uma diferença de 5m entre a primeira rua (17m) e a segunda (12m)
Lição aprendida: antes de desenhar é importante verificar não só a topografia, mas também
ir visitar a quadra e os lotes envolvidos.
Sistema de ciclovia – Paulista/Bixiga/Consolação
Cancelado: desenhar um projeto seguro ao pedestre dentro desse circuito significa pesquisa
e concepção projetual tremenda, afastando-nos do foco principal: a biblioteca no escadão.
Lição aprendida: entender a essência da proposta (transposição peatonal) foi vital para
focarmos no que, de fato, era nossa meta inicial.
Claraboia de vidro no mirante do café
Cancelado: não se pode pisar numa claraboia, logo sua presença envolveria uma proteção
com guarda-corpo reduzindo o espaço livre de circulação.
Lição aprendida: trocar a claraboia por um piso de vidro deu um tom provocativo e
desafiador. As consequências desta decisão repercutiram na questão estrutural e até
simbólica quando por fim concluímos a rótula no pavimento 5.
T E N TAT I VA S , E R R O S E A J U S T E S
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105. Pavimentos sobre o Escadão
Cancelado: tivemos desde o início dois princípios básicos, e atermo-nos a eles envolveu pagar alguns
preços. Princípio 1: manter o Escadão intocado. Princípio 2: manter a praça intocada. Naturalmente
foi impossível atender a ambos em 100% da meta, porém estes princípios foram respeitados em
grande parte e orgulhamo-nos disso. Assim, construir em patamares buscando a frente do lote só
poderia dar-se sobre o espaço aéreo do Escadão, que sendo estreito (3m ) não permitia grandes
cômodos. Houve forte crítica por parte dos professores sobre o tamponamento do Escadão e, por
fim, vi que estavam certos. Resultado: o prédio tornou-se estreito e contido nos fundos do lote – o
que não foi de todo mal, ao contrário: sua qualidade passou a se dar no eixo vertical do corpo.
Lição aprendida: necessário encontrar o equilíbrio das coisas. Mas a vida é assim, não é verdade?
A busca da monumentalidade vertical
Cancelado: ainda que tenhamos criado um eixo de acesso vertical interno , com elevadores e
escada, isto não deveria governar a volumetria, por um motivo muito elementar: o conforto dos
usuários de um edifício se dá na cota horizontal, não na vertical.
Lição aprendida: a monumentalidade pode ser interessante, mas não tem valor algum no cotidiano
das pessoas.
Preservar cota elevada na praça, em relação a calçada
Cancelado: ao se criar uma segunda passarela, na cota do patamar central do Escadão, isto afetou
a questão do pé-direito dos pavimentos dali para baixo. Então para evitar espaços opressivos, com
teto muito baixo, vimo-nos obrigados a retirar a terra dessa praça, o Espaço Palhaço Sputinik.
Lição aprendida: melhor gastar com terraplanagem do que afetar a qualidade do prédio pelos 70
anos que ele deve servir à população.
T E N TAT I VA S , E R R O S E A J U S T E S
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106. Elevador panorâmico no prédio da biblioteca
Cancelado: proporcionar o espetáculo do cenário ou atender
apropriadamente aos usuários e funcionários da biblioteca – quando surgiu
esse conflito decidimos pela segunda opção.
Lição aprendida: oferecer experiência estimulante ao usuário é importante –
mas não ao custo da qualidade de trabalho e vida dentro do prédio.
Circuito de hexágonos criando um passeio aéreo sobre a praça
Cancelado: Só daria certo caso houvessem duas ou três árvores no centro do Recanto Palhaço
Sputinik, algo que não ocorre.
Lição aprendida: o jogo volumétrico lírico tem valor, ainda que descartado. Curiosamente nosso
resultado final obteve exatamente isso: um circuito aéreo sobre a praça! O detalhe é que as
passarelas ocorrem agora, por fora do alinhamento do lote. Ou seja; a utopia é importante: as
vezes chegamo-nos a ela por caminhos imprevistos. Não tivesse havido esse desejo, certamente
o resultado seria mais pobre e tímido.
Fachada plana
Cancelado: A estrutura metálica permite um arranjo volumétrico mais interessante, menos
tedioso.
Lição aprendida: fazer balanços e projetar varandas para quê? Sem motivo sério, não passa de
arroubo a preço caro. Mas quando surgiu espaço de música, leitura pública (sarau) e
contemplação, as sacadas ganharam sentido. Por isso surgem nos pavimentos 1, 2 e 5.
T E N TAT I VA S , E R R O S E A J U S T E S
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107. D I A G R A M A S E S T R U T U R A I S
P i l a r e s & V i g a s
P a v i m e n t o 5 - P i l a r e s c o m p o s t o s c o m
p e r f i s H . E m t o d o s h á u m n ú c l e o v a z i o :
e s p a ç o p a r a d u c t o s d e c a p t a ç ã o d e á g u a
p l u v i a l .
O e i x o d e e l e v a d o r e s e e s c a d a p o s s u i
p a r e d e s e s t r u t u r a i s , s e r v i n d o a s s i m d e
c o n t r a v e n t o à e s t r u t u r a d e p i l a r e s e v i g a s .
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P 1
P 2
P 3
P 4 P 5
P 1
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P 4 P 5
V 1
V 2
V 3
V 4
V 5
V - 6
108. Neste diagrama, assim como nos demais, incluímos alguns
elementos não estruturais para facilitar a leitura do sistema
estrutural.
Pilares compostos são customizados – nenhum é idêntico a
outro. O mesmo se dá com as vigas.
Sem pavimento tipo o prédio assume a estrutura metálica com
soluções específicas a cada pavimento. Ainda que o andar 1 se
pareça com o 2, a diferença do pé direito os torna diferentes.
D I A G R A M A S E S T R U T U R A I S
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109. D I A G R A M A S E S T R U T U R A I S
SEM PAVIMENTO TIPO!
Cada pavimento recebe uma
solução estrutural específica,
pois cada um deles tem um
desenho próprio, diferente dos
demais.
Os elementos constantes são:
- A estrutura dos pilares
- O eixo de acesso vertical
(elevador e escada)
construídos com concreto
estrutural.
- Como cada pavimento
possui um vazio interno
diferente, é necessário
desenhar-se uma trama
estrutural específica para
cada caso.
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Laje de topo
Aqui, como em outras imagens desta
página, mantivemos o contorno da laje,
(neste andar parecido com um ‘U’
invertido e mais aberto nas pontas), para
elucidar a trama das vigas secundárias.
Pavimento 6
Neste piso a laje possui um recorte semelhante à
um ‘U’ regular, porém invertido. Desta forma essa
laje requer soluções específicas. Nota-se duas
vigotas alinhadas ao braço do ‘U’, conferindo
assim maior segurança à estrutura..
Pavimento 5
A Plaza Elevada recebe a rótula de vidro. O
círculo central ilustra o vazio central que
governa toda construção do espaço interno. As
4 vigotas em cruz dão apoio radial ao piso de
vidro. O detalhe desta peça pode ser visto em
páginas mais adiante.
Pavimento 2 e 3
Nestes pisos o círculo central conta com um anel metálico
na função de viga. As 4 vigotas em cruz são perfis ‘I’
apoiados em outras vigotas na trama ortogonal. Importante
compreender que esta solução difere radicalmente da
solução no pavimento 5.
110. D I A G R A M A
R ÓT U L A D E V I D R O S O B R E
A S V I G OTA S R A D I A I S
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RÓTULA DE VIDRO
Adotou-se o sistema de encaixe por pressão gravitacional,
assim a rótula é de metal (possivelmente uma liga de grafeno
com outro material enrijecedor – conferindo assim rigidez e
leveza à peça). (Imagem 1 – vista de topo).
As 4 pequenas vigotas de perfil afunilado encaixam-se nas
vigas transversais, tornando-se mais estreitas ao chegar no
ponto de contato com a rótula de vidro. (Imagem 2 e 3).
No detalhe (imagem 4) temos as medidas e se vê a borracha
servindo em dupla função: como junta de dilatação,
suportando a dilatação do e retração dos materiais e como
proteção as peças de metal, evitando danos oriundos do atrito
e contato entre as superfícies.
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