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Será que podemos considerar as sátiras de Gil Vicente intemporais?

                   Sim, sem dúvida alguma, considero as sátiras vicentinas intemporais. A sua obra não está presa ao passado,
porque utiliza temas universais e que dizem respeito ao ser humano, mesmo que atrelados a uma realidade do século XVI.

O “Auto da Barca do Inferno” (tal como toda a obra deste grande dramaturgo português) é um espelho da sociedade de então,
através da visão crítica do autor, onde, com a intervenção de personagens-tipo, nos é apresentado um quadro fiel das várias classes
sociais e profissionais, com os seus hábitos, vícios e defeitos. A sátira vicentina tem como alvo, na maioria, as classes mais altas da
sociedade e as pessoas com maior poder - a nobreza, o clero, os altos funcionários – não poupando, no entanto,
muitos outros. Põe a descoberto muitos pecados e problemas sociais que ainda hoje são atuais, pois continuam
presentes na nossa sociedade do século XXI: a vaidade e presunção, a tirania, o materialismo, a usura, a ambição,
ganância e corrupção, a prostituição, a infidelidade, a falsidade, a falta de fé sincera e de valores morais…

                Assim, analisando a obra de Gil Vicente “Auto da Barca do Inferno”, cada personagem comprova o que referi. Por
                exemplo, o Fidalgo, que era um homem muito vaidoso e tirano, faz-nos lembrar pessoas dos nossos dias, com a
                mania da superioridade e que exploram os mais desfavorecidos.

A infidelidade que ele praticava, bem como a própria mulher e a amante, ainda existe hoje,
embora talvez menos, a meu ver, devido ao facto de haver o divórcio, que se torna a primeira
opção quando o casamento não está a correr bem.

                   O Frade é criticado por ser dado aos prazeres da vida, desprezando as coisas espirituais e não levando uma vida
                   regrada e de acordo com os preceitos religiosos. Pensava que, por ser do clero, estava imune dos castigos que
                   Deus reserva para os pecadores. Tal como antigamente, atualmente, os membros da Igreja são acusados destes
                   males referidos. Muitos não cumprem o voto de castidade e levam uma vida imoral, como é o caso dos padres
pedófilos, que violam crianças. Isto, são pessoas que, psicologicamente, não estão bem e revelam uma falta de carácter incrível!

A Alcoviteira da época vicentina, representada em Brísida Vaz, levava jovens para a prostituição e fazia
“arranjinhos”. Esta, continua a ser uma profissão que atrai muitas mulheres que, por razões diferentes, se sujeitam
a este trabalho porco e sórdido, tais como: têm filhos e não têm como os alimentar por falta de emprego; precisam
de arranjar dinheiro para a droga; querem ter uma vida mais desafogada… E, muitas vezes, são procuradas por
quem menos se espera. Já dizia Brísida Vaz: “Eu sô aquela preciosa/ que dava as moças aos molhos/ pera os cónegos da Sé…”.

                Há ainda, também, o grupo de juízes e advogados que se vendem e não defendem os interesses dos mais fracos
                por interesses, subornos; guardas e polícias que são tão materialistas e corruptos que se envolvem em tráfico de
                droga… Uma Justiça nem sempre eficaz, correta e imparcial - representada no “Auto da Barca do Inferno” pelo
                Corregedor e Procurador, associados à corrupção – na qual as pessoas mais importantes conseguem ficar livres de
qualquer pena, como acontece no processo da Casa Pia, que dura há anos e continua sem qualquer solução. Já outras pessoas, não
tendo meios ou forma de dar a volta à Justiça, cumprem penas, por vezes, injustas.

O “roubo” descarado, o suborno (para tirar dividendos ou “fazer calar o bico”) e a riqueza fácil e rápida, muitas
vezes à custa das pessoas mais necessitadas, que encontramos nos dias de hoje, encontram-se igualmente
encarnadas nas personagens vicentinas do Sapateiro (que roubava os seus fregueses), do Judeu (dissidente que
pretendia subornar o Diabo para este lhe deixar entrar o bode) e do Onzeneiro (que se aproveitava dos
necessitados para enriquecer à custa de juros altíssimos e pretendia também praticar o suborno para a sua
passagem).

Com a inclusão dos Quatro Cavaleiros, na sua peça, Gil Vicente pretendia fazer a apologia do espírito de cruzada (na luta contra os
mouros), da adoração à Pátria e obediência ao rei, o que me faz lembrar um pouco o povo que nós somos, hoje em dia, subjugados
às decisões que os governantes tomam para nós. (Será que, por isso, seremos merecedores do Paraíso como os Quatro Cavaleiros?)

                   O Parvo, com a sua simplicidade e ingenuidade, conseguiu igualmente seguir na Barca do Paraíso. Mas trata-se
                   de justiça divina. Na sociedade, onde vigora a «lei da selva», quem é tolo fica a perder.

                    Todas as restantes personagens do “Auto da Barca do Inferno” seguem, precisamente, para o
Inferno e, infelizmente, continuamos a viver num mar de maldade, hipocrisia, injustiça, onde, cada vez mais, não há
lugar para os valores morais e… duvido muito que alguma vez haja retrocesso!


                                                  Montagem de textos dos alunos do 9º ano – Língua Portuguesa

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  • 1. Será que podemos considerar as sátiras de Gil Vicente intemporais? Sim, sem dúvida alguma, considero as sátiras vicentinas intemporais. A sua obra não está presa ao passado, porque utiliza temas universais e que dizem respeito ao ser humano, mesmo que atrelados a uma realidade do século XVI. O “Auto da Barca do Inferno” (tal como toda a obra deste grande dramaturgo português) é um espelho da sociedade de então, através da visão crítica do autor, onde, com a intervenção de personagens-tipo, nos é apresentado um quadro fiel das várias classes sociais e profissionais, com os seus hábitos, vícios e defeitos. A sátira vicentina tem como alvo, na maioria, as classes mais altas da sociedade e as pessoas com maior poder - a nobreza, o clero, os altos funcionários – não poupando, no entanto, muitos outros. Põe a descoberto muitos pecados e problemas sociais que ainda hoje são atuais, pois continuam presentes na nossa sociedade do século XXI: a vaidade e presunção, a tirania, o materialismo, a usura, a ambição, ganância e corrupção, a prostituição, a infidelidade, a falsidade, a falta de fé sincera e de valores morais… Assim, analisando a obra de Gil Vicente “Auto da Barca do Inferno”, cada personagem comprova o que referi. Por exemplo, o Fidalgo, que era um homem muito vaidoso e tirano, faz-nos lembrar pessoas dos nossos dias, com a mania da superioridade e que exploram os mais desfavorecidos. A infidelidade que ele praticava, bem como a própria mulher e a amante, ainda existe hoje, embora talvez menos, a meu ver, devido ao facto de haver o divórcio, que se torna a primeira opção quando o casamento não está a correr bem. O Frade é criticado por ser dado aos prazeres da vida, desprezando as coisas espirituais e não levando uma vida regrada e de acordo com os preceitos religiosos. Pensava que, por ser do clero, estava imune dos castigos que Deus reserva para os pecadores. Tal como antigamente, atualmente, os membros da Igreja são acusados destes males referidos. Muitos não cumprem o voto de castidade e levam uma vida imoral, como é o caso dos padres pedófilos, que violam crianças. Isto, são pessoas que, psicologicamente, não estão bem e revelam uma falta de carácter incrível! A Alcoviteira da época vicentina, representada em Brísida Vaz, levava jovens para a prostituição e fazia “arranjinhos”. Esta, continua a ser uma profissão que atrai muitas mulheres que, por razões diferentes, se sujeitam a este trabalho porco e sórdido, tais como: têm filhos e não têm como os alimentar por falta de emprego; precisam de arranjar dinheiro para a droga; querem ter uma vida mais desafogada… E, muitas vezes, são procuradas por quem menos se espera. Já dizia Brísida Vaz: “Eu sô aquela preciosa/ que dava as moças aos molhos/ pera os cónegos da Sé…”. Há ainda, também, o grupo de juízes e advogados que se vendem e não defendem os interesses dos mais fracos por interesses, subornos; guardas e polícias que são tão materialistas e corruptos que se envolvem em tráfico de droga… Uma Justiça nem sempre eficaz, correta e imparcial - representada no “Auto da Barca do Inferno” pelo Corregedor e Procurador, associados à corrupção – na qual as pessoas mais importantes conseguem ficar livres de qualquer pena, como acontece no processo da Casa Pia, que dura há anos e continua sem qualquer solução. Já outras pessoas, não tendo meios ou forma de dar a volta à Justiça, cumprem penas, por vezes, injustas. O “roubo” descarado, o suborno (para tirar dividendos ou “fazer calar o bico”) e a riqueza fácil e rápida, muitas vezes à custa das pessoas mais necessitadas, que encontramos nos dias de hoje, encontram-se igualmente encarnadas nas personagens vicentinas do Sapateiro (que roubava os seus fregueses), do Judeu (dissidente que pretendia subornar o Diabo para este lhe deixar entrar o bode) e do Onzeneiro (que se aproveitava dos necessitados para enriquecer à custa de juros altíssimos e pretendia também praticar o suborno para a sua passagem). Com a inclusão dos Quatro Cavaleiros, na sua peça, Gil Vicente pretendia fazer a apologia do espírito de cruzada (na luta contra os mouros), da adoração à Pátria e obediência ao rei, o que me faz lembrar um pouco o povo que nós somos, hoje em dia, subjugados às decisões que os governantes tomam para nós. (Será que, por isso, seremos merecedores do Paraíso como os Quatro Cavaleiros?) O Parvo, com a sua simplicidade e ingenuidade, conseguiu igualmente seguir na Barca do Paraíso. Mas trata-se de justiça divina. Na sociedade, onde vigora a «lei da selva», quem é tolo fica a perder. Todas as restantes personagens do “Auto da Barca do Inferno” seguem, precisamente, para o Inferno e, infelizmente, continuamos a viver num mar de maldade, hipocrisia, injustiça, onde, cada vez mais, não há lugar para os valores morais e… duvido muito que alguma vez haja retrocesso! Montagem de textos dos alunos do 9º ano – Língua Portuguesa