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AUTOBIOGRAFIA DE LUIZ GAMA
Apresentação
A carta de Luiz Gama a Lúcio de Mendonça* é um documento que
merece reflexão. Não apresentaremos o Autor, já que ele apresenta a si
mesmo. Basta acrescentar alguma coisa sobre as suas Primeiras Trovas
Burlescas (1859), onde a sátira à sociedade imperial e sobretudo às suas
presunções de brancura alcança uma franqueza possivelmente única na
literatura brasileira.
* In Sud Mennucci. O
Precursor do Aboli-
cionismo no Brasil (Luiz
Gama), São Paulo, Nacio-
nal, 1938.
Se negro sou ou sou bode,
Pouco importa. O que isto pode?
Bodes há de toda a casta,
Pois que a espécie é mui vasta...
Há cinzentos, há rajados,
Baios, pampas e malhados,
Bodes negros, bodes brancos,
E, sejamos todos francos,
Uns plebeus e outros nobres,
Bodes ricos, bodes pobres,
Bodes sábios, importantes,
E também alguns tratantes...
Aqui, nesta boa terra,
Marram todos, tudo berra.
Nobres Condes e Duquesas,
Ricas Damas e Marquesas,
Deputados, Senadores,
Gentis homens, vereadores;
Belas Damas emproadas,
De nobreza empantufadas;
Repimpados principotes,
Orgulhosos fidalgotes,
Frades, Bispos, Cardeais,
Fanfarrões imperiais,
Gentes pobres, nobres gentes,
Em todos há meus parentes.
Entre a brava militança
Fulge e brilha alta bodança;
Guardas, cabos, furriéis,
Brigadeiros, coronéis,
Destemidos marechais,
Rutilantes generais,
Capitães de mar e guerra,
— Tudo marra, tudo berra.
Na suprema eternidade,
Onde habita a Divindade,
Bodes há santificados,
Que por nós são adorados.
136
NOVOS ESTUDOS Nº 25 - OUTUBRO DE 1989
Entre o coro dos anjinhos
Também há muitos bodinhos.
O amante de Siringa
Tinha pelo e má catinga;
O deus Midas, pelas contas,
Na cabeça tinha pontas;
Jove quando foi menino,
Chupitou leite caprino;
E, segundo o antigo mito,
Também Fauno foi cabrito.
Nos domínios de Plutão,
Guarda um bode o Alcorão;
Nos lundus e nas modinhas
São cantadas as bodinhas.
Pois, se todos têm rabicho,
Para que tanto capricho?
Haja paz, haja alegria,
Folgue e brinque a bodaria;
Cesse, pois, a matinada,
Porque tudo é bodarrada!
Em palavras de Silvio Romero, "era um quase negro, que não
tinha pejo de sua raça", donde o ponto de vista vivo e certeiro.
Voltando à carta, ela mostra — à maneira ágil do folhetim romântico
— uma vida rocambolesca e um destino excepcional. Pensando melhor,
entretanto, se nota que mesmo os episódios mais surpreendentes decorrem
das grandes linhas da sociedade brasileira. Como no bom romance realista,
a peripécia inesperada põe a nu a lógica e as virtualidades de uma formação
social, mostrando o que há de regra na exceção, de normal no exótico.
O percurso biográfico incrível, o escândalo das situações, dos problemas
morais e ideológicos, fazem ver um mundo sui generis, pressentido e
recalcado. O nosso europeísmo de fachada, para inglês ver — e não o
europeísmo exigente — fizeram que só em mínima parte estas relações
fossem exploradas e superadas na reflexão crítica. Por esse lado, a carta
faz pensar na literatura brasileira que podia ter sido e não foi.
Assim, há uma dificuldade autêntica em entender o amor extremoso
do pai que vende o filho como escravo para escapar a um aperto de
dinheiro. Qual o sentido atrás das lágrimas copiosas com que se separam
uns dos outros o menino e a família do negociante de africanos que o havia
comprado e agora o revendia? O que significaria a estima votada a Luiz
Gama pelo seu proprietário seguinte, o negociante e contrabandista alferes
fulano de tal, que mais tarde seria preso por matar de fome alguns escravos
em cárcere privado? O leitor das Memórias Póstumas de Brás Cubas estará
lembrando o cunhado Cotrim, que contrabandeava com escravos e os
mandava surrar no calabouço até sangrarem, ao mesmo tempo que era
pagador meticuloso, pai amantíssimo e destacado filantropo. Humor negro
à parte, são situações reais, com problemática afetiva e ideológica própria,
na qual se explicita, na parte pouco publicada, o significado humano da
organização social do Império.
A beleza da carta depende de certo culto do humorismo objetivo,
à vontade na contradição, humorismo a que a mão leve e o understatement
acrescentam a insolência. Vista a enormidade do real, para quê enfatizar?
Por exemplo, apesar da "infeliz memória", o filho não cala a galhardia
do pai, nem lhe recusa o prezado qualificativo de "revolucionário de
1837"; no outro extremo, o orgulho pelas iniciativas insurrecionais da mãe
137
AUTOBIOGRAFIA DE LUIZ GAMA
o impede de reconhecer que ficaram sem efeito. A apresentação dela é
soberba: "Luiza Mahin, pagã, que sempre recusou o batismo e a doutrina
cristã". No mesmo espírito de objetividade afrontosa os títulos de nobreza,
os nomes de famílias ilustres, as patentes militares e os tratamentos de
respeito e consideração vêm na companhia das baixezas inerentes à rotina
do Império liberal-escravista, produzindo um tipo de ironia atroz e
reveladora:"A portaria de [minha] demissão foi lavrada pelo dr. Antônio
Manuel dos Reis, meu particular amigo, então secretário de polícia, e
assinada pelo exmo. dr. Vicente Ferreira da Silva Bueno, que, por este e
outros atos semelhantes, foi nomeado desembargador da relação da
Corte". A prosa desdenha o comentário e deixa à História o encargo de
transformar títulos de glória em estigmas e vice-versa: "por turbulento e
sedicioso" fui demitido "a bem do serviço público".
Roberto Schwarz
São Paulo, 25 de julho de 1880
Meu caro Lúcio
Recebi o teu cartão com a data de 28 do pretérito.
Não me posso negar ao teu pedido, porque antes quero ser acoi-
mado de ridículo, em razão de referir verdades pueris que me dizem res-
peito, do que vaidoso e fátuo, pelas ocultar, de envergonhado: aí tens os
apontamentos que me pedes e que sempre eu os trouxe de memória.
Nasci na cidade de S. Salvador, capital da província da Bahia, em
um sobrado da rua do Bângala, formando ângulo interno, em a quebrada,
lado direito de quem parte do adro da Palma, na Freguezia de Sant'Ana,
a 21 de junho de 1830, por as 7 horas da manhã, e fui batizado, 8 anos
depois, na igreja matriz do Sacramento, da cidade de Itaparica.
Sou filho natural de uma negra, africana livre, da Costa Mina (Na-
gô de Nação), de nome Luiza Mahin, pagã, que sempre recusou o batismo
e a doutrina cristã.
Minha mãe era baixa de estatura, magra, bonita, a cor era de um
preto retinto e sem lustro, tinha os dentes alvíssimos como a neve, era
muito altiva, geniosa, insofrida e vingativa.
Dava-se ao comércio — era quitandeira, muito laboriosa, e mais de
uma vez, na Bahia, foi presa como suspeita de envolver-se em planos de
insurreições de escravos, que não tiveram efeito.
Era dotada de atividade. Em 1837, depois da Revolução do dr. Sa-
bino, na Bahia, veio ela ao Rio de Janeiro, e nunca mais voltou. Procurei-a
em 1847, em 1856 e em 1861, na Corte, sem que a pudesse encontrar.
Em 1862, soube, por uns pretos minas que conheciam-na e que deram-
me sinais certos, que ela, acompanhada com malungos desordeiros, em
138
NOVOS ESTUDOS Nº 25 - OUTUBRO DE 1989
uma "casa de dar fortuna", em 1838, fora posta em prisão; e que tanto ela
como os seus companheiros desapareceram. Era opinião dos meus in-
formantes que esses "amotinados" fossem mandados por fora pelo go-
verno, que, nesse tempo, tratava rigorosamente os africanos livres, tidos
como provocadores.
Nada mais pude alcançar a respeito dela. Nesse ano, 1861, voltan-
do a São Paulo, e estando em comissão do governo, na vila de Caçapava,
dediquei-lhe os versos que com esta carta envio-te.
Meu pai, não ouso afirmar que fosse branco, porque tais afirmati-
vas neste país, constituem grave perigo perante a verdade, no que con-
cerne à melindrosa presunção das cores humanas: era fidalgo; e pertencia a
uma das principais famílias da Bahia, de origem portuguesa. Devo pou-
par à sua infeliz memória uma injúria dolorosa, e o faço ocultando o seu
nome.
Ele foi rico; e, nesse tempo, muito extremoso para mim: criou-me
em seus braços. Foi revolucionário em 1837. Era apaixonado pela diver-
são da pesca e da caça; muito apreciador de bons cavalos; jogava bem as
armas, e muito melhor de baralho, amava as súcias e os divertimentos:
esbanjou uma boa herança, obtida de uma tia em 1836; e, reduzido à po-
breza extrema, a 10 de novembro de 1840, em companhia de Luiz Cândi-
do Quintela, seu amigo inseparável e hospedeiro, que vivia dos proven-
tos de uma casa de tavolagem na cidade da Bahia, estabelecida em um so-
brado de quina, ao largo da praça, vendeu-me, como seu escravo, a bor-
do do patacho "Saraiva".
Remetido para o Rio de Janeiro, nesse mesmo navio, dias depois,
que partiu carregado de escravos, fui, com muitos outros, para a casa de
um cerieiro português, de nome Vieira, dono de uma loja de velas, à rua
da Candelária, canto da do Sabão. Era um negociante de estatura baixa,
circunspeto e enérgico, que recebia escravos da Bahia, à comissão. Tinha
um filho aperaltado, que estudava em colégio; e creio que três filhas já
crescidas, muito bondosas, muito meigas e muito compassivas, principal-
mente a mais velha. A senhora Vieira era uma perfeita matrona: exemplo
de candura e piedade. Tinha eu 10 anos. Ela e as filhas afeiçoaram-se de
mim imediatamente. Eram cinco horas da tarde quando entrei em sua ca-
sa. Mandaram lavar-me; vestiram-me uma camisa e uma saia da filha mais
nova, deram-me de cear e mandaram-me dormir com uma mulata de no-
me Felícia, que era mucama da casa.
Sempre que me lembro desta boa senhora e de suas filhas, vêm-me
as lágrimas aos olhos, porque tenho saudades do amor e dos cuidados com
que me afagaram por alguns dias.
Dali saí derramando copioso pranto, e também todas elas, sentidas
de me verem partir.
Oh! eu tenho lances doridos em minha vida, que valem mais do que
as lendas sentidas da vida amargurada dos mártires.
Nesta casa, em dezembro de 1840, fui vendido ao negociante e con-
trabandista alferes Antônio Pereira Cardoso, o mesmo que, há 8 ou 10 anos,
139
AUTOBIOGRAFIA DE LUIZ GAMA
sendo fazendeiro no município de Lorena, nesta Província, no ato de o
prenderem por ter morto alguns escravos a fome, em cárcere privado, e
já com idade maior de 60 a 70 anos, suicidou-se com um tiro de pistola,
cuja bala atravessou-lhe o crânio.
Este alferes Antônio Pereira Cardoso comprou-me em um lote de
cento e tantos escravos; e trouxe-nos a todos, pois era este o seu negócio,
para vender nesta Província.
Como já disse, tinha eu apenas 10 anos; e, a pé, fiz toda viagem
de Santos até Campinas.
Fui escolhido por muitos compradores, nesta cidade, em Jundiaí
e Campinas; e, por todos repelido, como se repelem cousas ruins, pelo
simples fato de ser eu "baiano".
Valeu-me a pecha!
O último recusante foi o venerando e simpático ancião Francisco
Egidio de Souza Aranha, pai do exmo. Conde de Três Rios, meu respeitá-
vel amigo.
Este, depois de haver-me escolhido, afagando-me disse:
"— Hás de ser um bom pajem para os meus meninos; dize-me: on-
de nasceste?
— Na Bahia, respondi eu.
— Baiano? — exclamou admirado o excelente velho. — Nem de
graça o quero. Já não foi por bom que o venderam tão pequeno".
Repelido como "refugo", com outro escravo da Bahia, de nome
José, sapateiro, voltei para a casa do sr. Cardoso, nesta cidade, à rua do
Comércio nº 2, sobrado, perto da igreja da Misericórdia.
Aí aprendi a copeiro, a sapateiro, a lavar e a engomar roupa e a
costurar.
Em 1847, contava eu 17 anos, quando para a casa do sr. Cardoso,
veio morar, como hóspede, para estudar humanidades, tendo deixado a
cidade de Campinas, onde morava, o menino Antônio Rodrigues do Pra-
do Júnior, hoje doutor em direito, ex-magistrado de elevados méritos, e
residente em Mogi-Guassu, onde é fazendeiro.
Fizemos amizade íntima, de irmãos diletos, e ele começou a ensinar-
me as primeiras letras.
Em 1848, sabendo eu ler e contar alguma cousa, e tendo obtido
ardilosa e secretamente provas inconcussas de minha liberdade, retirei-
me, fugindo, da casa do alferes Antônio Pereira Cardoso, que aliás votava-
me a maior estima, e fui assentar praça. Servi até 1854, seis anos; cheguei
a cabo de esquadra graduado, e tive baixa de serviço, depois de respon-
der a conselho, por ato de suposta insubordinação, quando tinha-me li-
mitado a ameaçar um oficial insolente, que me havia insultado e que sou-
be conter-se.
Estive, então, preso 39 dias, de 1º de julho a 9 de agosto. Passava
os dias lendo e às noites, sofria de insônias; e, de contínuo, tinha diante
dos olhos a imagem de minha querida mãe. Uma noite, eram mais de duas
horas, eu dormitava; e, em sonho vi que a levavam presa. Pareceu-me ouvi-
140
NOVOS ESTUDOS Nº 25 - OUTUBRO DE 1989
la distintamente que chamava por mim.
Dei um grito, espavorido saltei da tarimba; os companheiros
alvorotaram-se; corri à grade, enfiei a cabeça pelo xadrez.
Era solitário e silencioso e longo e lôbrego o corredor da prisão,
mal alumiado pela luz amarelenta de enfumarada lanterna.
Voltei para a minha tarimba, narrei a ocorrência aos curiosos cole-
gas; eles narraram-me também fatos semelhantes; eu caí em nostalgia, cho-
rei e dormi.
Durante o meu tempo de praça, nas horas vagas, fiz-me copista; es-
crevia para o escritório do escrivão major Benedito Antônio Coelho Ne-
to, que tornou-se meu amigo; e que hoje, pelo seu merecimento, desem-
penha o cargo de oficial-maior da Secretaria do Governo; e, como ama-
nuense, no gabinete do exmo. sr. conselheiro Francisco Maria de Souza
Furtado de Mendonça, que aqui exerceu, por muitos anos, com aplausos
e admiração do público em geral, altos cargos na administração, polícia
e judicatura, e que é catedrático da Faculdade de Direito, fui eu seu orde-
nança; por meu caráter, por minha atividade e por meu comportamento,
conquistei a sua estima e a sua proteção; e as boas lições de letras e de
civismo, que conservo com orgulho.
Em 1856, depois de haver servido como escrivão perante diversas
autoridades policiais, fui nomeado amanuense da Secretaria de Polícia, on-
de servi até 1868, época em que "por turbulento e sedicioso" fui demiti-
do a "bem do serviço público", pelos conservadores, que então haviam
subido ao poder. A portaria de demissão foi lavrada pelo dr. Antônio Ma-
nuel dos Reis, meu particular amigo, então secretário de polícia, e assina-
da pelo exmo. dr. Vicente Ferreira da Silva Bueno, que, por este e outros
atos semelhantes, foi nomeado desembargador da relação da Corte.
A turbulência consistia em fazer eu parte do Partido Liberal; e,
pela imprensa e pelas urnas, pugnar pela vitória de minhas e suas idéias;
e promover processos em favor de pessoas livres criminosamente
escravizadas; e auxiliar licitamente, na medida de meus esforços,
alforrias de escravos, porque detesto o cativeiro e todos os senhores,
principalmente os Reis.
Desde que fiz-me soldado, comecei a ser homem; porque até os
10 anos fui criança; dos 10 aos 18, fui soldado.
Fiz versos; escrevi para muitos jornais; colaborei em outros literá-
rios e políticos, e redigi alguns.
Agora chego ao período em que, meu caro Lúcio, nos encontra-
mos no "Ipiranga", à rua do Carmo, tu, como tipógrafo, poeta, tradutor e
folhetinista principiante; eu, como simples aprendiz-compositor, de onde
saí para o foro e para a tribuna, onde ganho o pão para mim e para os
meus, que são todos os pobres, todos os infelizes; e para os míseros escra-
vos, que, em número superior a 500, tenho arrancado às garras do crime.
Eis o que te posso dizer, às pressas, sem importância e sem valor;
menos para ti, que me estimas deveras.
Teu Luiz.
Novos Estudos
CEBRAP
Nº 25, outubro de 1989
pp. 136-141
141

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Carta de Luiz Gama

  • 1. AUTOBIOGRAFIA DE LUIZ GAMA Apresentação A carta de Luiz Gama a Lúcio de Mendonça* é um documento que merece reflexão. Não apresentaremos o Autor, já que ele apresenta a si mesmo. Basta acrescentar alguma coisa sobre as suas Primeiras Trovas Burlescas (1859), onde a sátira à sociedade imperial e sobretudo às suas presunções de brancura alcança uma franqueza possivelmente única na literatura brasileira. * In Sud Mennucci. O Precursor do Aboli- cionismo no Brasil (Luiz Gama), São Paulo, Nacio- nal, 1938. Se negro sou ou sou bode, Pouco importa. O que isto pode? Bodes há de toda a casta, Pois que a espécie é mui vasta... Há cinzentos, há rajados, Baios, pampas e malhados, Bodes negros, bodes brancos, E, sejamos todos francos, Uns plebeus e outros nobres, Bodes ricos, bodes pobres, Bodes sábios, importantes, E também alguns tratantes... Aqui, nesta boa terra, Marram todos, tudo berra. Nobres Condes e Duquesas, Ricas Damas e Marquesas, Deputados, Senadores, Gentis homens, vereadores; Belas Damas emproadas, De nobreza empantufadas; Repimpados principotes, Orgulhosos fidalgotes, Frades, Bispos, Cardeais, Fanfarrões imperiais, Gentes pobres, nobres gentes, Em todos há meus parentes. Entre a brava militança Fulge e brilha alta bodança; Guardas, cabos, furriéis, Brigadeiros, coronéis, Destemidos marechais, Rutilantes generais, Capitães de mar e guerra, — Tudo marra, tudo berra. Na suprema eternidade, Onde habita a Divindade, Bodes há santificados, Que por nós são adorados. 136
  • 2. NOVOS ESTUDOS Nº 25 - OUTUBRO DE 1989 Entre o coro dos anjinhos Também há muitos bodinhos. O amante de Siringa Tinha pelo e má catinga; O deus Midas, pelas contas, Na cabeça tinha pontas; Jove quando foi menino, Chupitou leite caprino; E, segundo o antigo mito, Também Fauno foi cabrito. Nos domínios de Plutão, Guarda um bode o Alcorão; Nos lundus e nas modinhas São cantadas as bodinhas. Pois, se todos têm rabicho, Para que tanto capricho? Haja paz, haja alegria, Folgue e brinque a bodaria; Cesse, pois, a matinada, Porque tudo é bodarrada! Em palavras de Silvio Romero, "era um quase negro, que não tinha pejo de sua raça", donde o ponto de vista vivo e certeiro. Voltando à carta, ela mostra — à maneira ágil do folhetim romântico — uma vida rocambolesca e um destino excepcional. Pensando melhor, entretanto, se nota que mesmo os episódios mais surpreendentes decorrem das grandes linhas da sociedade brasileira. Como no bom romance realista, a peripécia inesperada põe a nu a lógica e as virtualidades de uma formação social, mostrando o que há de regra na exceção, de normal no exótico. O percurso biográfico incrível, o escândalo das situações, dos problemas morais e ideológicos, fazem ver um mundo sui generis, pressentido e recalcado. O nosso europeísmo de fachada, para inglês ver — e não o europeísmo exigente — fizeram que só em mínima parte estas relações fossem exploradas e superadas na reflexão crítica. Por esse lado, a carta faz pensar na literatura brasileira que podia ter sido e não foi. Assim, há uma dificuldade autêntica em entender o amor extremoso do pai que vende o filho como escravo para escapar a um aperto de dinheiro. Qual o sentido atrás das lágrimas copiosas com que se separam uns dos outros o menino e a família do negociante de africanos que o havia comprado e agora o revendia? O que significaria a estima votada a Luiz Gama pelo seu proprietário seguinte, o negociante e contrabandista alferes fulano de tal, que mais tarde seria preso por matar de fome alguns escravos em cárcere privado? O leitor das Memórias Póstumas de Brás Cubas estará lembrando o cunhado Cotrim, que contrabandeava com escravos e os mandava surrar no calabouço até sangrarem, ao mesmo tempo que era pagador meticuloso, pai amantíssimo e destacado filantropo. Humor negro à parte, são situações reais, com problemática afetiva e ideológica própria, na qual se explicita, na parte pouco publicada, o significado humano da organização social do Império. A beleza da carta depende de certo culto do humorismo objetivo, à vontade na contradição, humorismo a que a mão leve e o understatement acrescentam a insolência. Vista a enormidade do real, para quê enfatizar? Por exemplo, apesar da "infeliz memória", o filho não cala a galhardia do pai, nem lhe recusa o prezado qualificativo de "revolucionário de 1837"; no outro extremo, o orgulho pelas iniciativas insurrecionais da mãe 137
  • 3. AUTOBIOGRAFIA DE LUIZ GAMA o impede de reconhecer que ficaram sem efeito. A apresentação dela é soberba: "Luiza Mahin, pagã, que sempre recusou o batismo e a doutrina cristã". No mesmo espírito de objetividade afrontosa os títulos de nobreza, os nomes de famílias ilustres, as patentes militares e os tratamentos de respeito e consideração vêm na companhia das baixezas inerentes à rotina do Império liberal-escravista, produzindo um tipo de ironia atroz e reveladora:"A portaria de [minha] demissão foi lavrada pelo dr. Antônio Manuel dos Reis, meu particular amigo, então secretário de polícia, e assinada pelo exmo. dr. Vicente Ferreira da Silva Bueno, que, por este e outros atos semelhantes, foi nomeado desembargador da relação da Corte". A prosa desdenha o comentário e deixa à História o encargo de transformar títulos de glória em estigmas e vice-versa: "por turbulento e sedicioso" fui demitido "a bem do serviço público". Roberto Schwarz São Paulo, 25 de julho de 1880 Meu caro Lúcio Recebi o teu cartão com a data de 28 do pretérito. Não me posso negar ao teu pedido, porque antes quero ser acoi- mado de ridículo, em razão de referir verdades pueris que me dizem res- peito, do que vaidoso e fátuo, pelas ocultar, de envergonhado: aí tens os apontamentos que me pedes e que sempre eu os trouxe de memória. Nasci na cidade de S. Salvador, capital da província da Bahia, em um sobrado da rua do Bângala, formando ângulo interno, em a quebrada, lado direito de quem parte do adro da Palma, na Freguezia de Sant'Ana, a 21 de junho de 1830, por as 7 horas da manhã, e fui batizado, 8 anos depois, na igreja matriz do Sacramento, da cidade de Itaparica. Sou filho natural de uma negra, africana livre, da Costa Mina (Na- gô de Nação), de nome Luiza Mahin, pagã, que sempre recusou o batismo e a doutrina cristã. Minha mãe era baixa de estatura, magra, bonita, a cor era de um preto retinto e sem lustro, tinha os dentes alvíssimos como a neve, era muito altiva, geniosa, insofrida e vingativa. Dava-se ao comércio — era quitandeira, muito laboriosa, e mais de uma vez, na Bahia, foi presa como suspeita de envolver-se em planos de insurreições de escravos, que não tiveram efeito. Era dotada de atividade. Em 1837, depois da Revolução do dr. Sa- bino, na Bahia, veio ela ao Rio de Janeiro, e nunca mais voltou. Procurei-a em 1847, em 1856 e em 1861, na Corte, sem que a pudesse encontrar. Em 1862, soube, por uns pretos minas que conheciam-na e que deram- me sinais certos, que ela, acompanhada com malungos desordeiros, em 138
  • 4. NOVOS ESTUDOS Nº 25 - OUTUBRO DE 1989 uma "casa de dar fortuna", em 1838, fora posta em prisão; e que tanto ela como os seus companheiros desapareceram. Era opinião dos meus in- formantes que esses "amotinados" fossem mandados por fora pelo go- verno, que, nesse tempo, tratava rigorosamente os africanos livres, tidos como provocadores. Nada mais pude alcançar a respeito dela. Nesse ano, 1861, voltan- do a São Paulo, e estando em comissão do governo, na vila de Caçapava, dediquei-lhe os versos que com esta carta envio-te. Meu pai, não ouso afirmar que fosse branco, porque tais afirmati- vas neste país, constituem grave perigo perante a verdade, no que con- cerne à melindrosa presunção das cores humanas: era fidalgo; e pertencia a uma das principais famílias da Bahia, de origem portuguesa. Devo pou- par à sua infeliz memória uma injúria dolorosa, e o faço ocultando o seu nome. Ele foi rico; e, nesse tempo, muito extremoso para mim: criou-me em seus braços. Foi revolucionário em 1837. Era apaixonado pela diver- são da pesca e da caça; muito apreciador de bons cavalos; jogava bem as armas, e muito melhor de baralho, amava as súcias e os divertimentos: esbanjou uma boa herança, obtida de uma tia em 1836; e, reduzido à po- breza extrema, a 10 de novembro de 1840, em companhia de Luiz Cândi- do Quintela, seu amigo inseparável e hospedeiro, que vivia dos proven- tos de uma casa de tavolagem na cidade da Bahia, estabelecida em um so- brado de quina, ao largo da praça, vendeu-me, como seu escravo, a bor- do do patacho "Saraiva". Remetido para o Rio de Janeiro, nesse mesmo navio, dias depois, que partiu carregado de escravos, fui, com muitos outros, para a casa de um cerieiro português, de nome Vieira, dono de uma loja de velas, à rua da Candelária, canto da do Sabão. Era um negociante de estatura baixa, circunspeto e enérgico, que recebia escravos da Bahia, à comissão. Tinha um filho aperaltado, que estudava em colégio; e creio que três filhas já crescidas, muito bondosas, muito meigas e muito compassivas, principal- mente a mais velha. A senhora Vieira era uma perfeita matrona: exemplo de candura e piedade. Tinha eu 10 anos. Ela e as filhas afeiçoaram-se de mim imediatamente. Eram cinco horas da tarde quando entrei em sua ca- sa. Mandaram lavar-me; vestiram-me uma camisa e uma saia da filha mais nova, deram-me de cear e mandaram-me dormir com uma mulata de no- me Felícia, que era mucama da casa. Sempre que me lembro desta boa senhora e de suas filhas, vêm-me as lágrimas aos olhos, porque tenho saudades do amor e dos cuidados com que me afagaram por alguns dias. Dali saí derramando copioso pranto, e também todas elas, sentidas de me verem partir. Oh! eu tenho lances doridos em minha vida, que valem mais do que as lendas sentidas da vida amargurada dos mártires. Nesta casa, em dezembro de 1840, fui vendido ao negociante e con- trabandista alferes Antônio Pereira Cardoso, o mesmo que, há 8 ou 10 anos, 139
  • 5. AUTOBIOGRAFIA DE LUIZ GAMA sendo fazendeiro no município de Lorena, nesta Província, no ato de o prenderem por ter morto alguns escravos a fome, em cárcere privado, e já com idade maior de 60 a 70 anos, suicidou-se com um tiro de pistola, cuja bala atravessou-lhe o crânio. Este alferes Antônio Pereira Cardoso comprou-me em um lote de cento e tantos escravos; e trouxe-nos a todos, pois era este o seu negócio, para vender nesta Província. Como já disse, tinha eu apenas 10 anos; e, a pé, fiz toda viagem de Santos até Campinas. Fui escolhido por muitos compradores, nesta cidade, em Jundiaí e Campinas; e, por todos repelido, como se repelem cousas ruins, pelo simples fato de ser eu "baiano". Valeu-me a pecha! O último recusante foi o venerando e simpático ancião Francisco Egidio de Souza Aranha, pai do exmo. Conde de Três Rios, meu respeitá- vel amigo. Este, depois de haver-me escolhido, afagando-me disse: "— Hás de ser um bom pajem para os meus meninos; dize-me: on- de nasceste? — Na Bahia, respondi eu. — Baiano? — exclamou admirado o excelente velho. — Nem de graça o quero. Já não foi por bom que o venderam tão pequeno". Repelido como "refugo", com outro escravo da Bahia, de nome José, sapateiro, voltei para a casa do sr. Cardoso, nesta cidade, à rua do Comércio nº 2, sobrado, perto da igreja da Misericórdia. Aí aprendi a copeiro, a sapateiro, a lavar e a engomar roupa e a costurar. Em 1847, contava eu 17 anos, quando para a casa do sr. Cardoso, veio morar, como hóspede, para estudar humanidades, tendo deixado a cidade de Campinas, onde morava, o menino Antônio Rodrigues do Pra- do Júnior, hoje doutor em direito, ex-magistrado de elevados méritos, e residente em Mogi-Guassu, onde é fazendeiro. Fizemos amizade íntima, de irmãos diletos, e ele começou a ensinar- me as primeiras letras. Em 1848, sabendo eu ler e contar alguma cousa, e tendo obtido ardilosa e secretamente provas inconcussas de minha liberdade, retirei- me, fugindo, da casa do alferes Antônio Pereira Cardoso, que aliás votava- me a maior estima, e fui assentar praça. Servi até 1854, seis anos; cheguei a cabo de esquadra graduado, e tive baixa de serviço, depois de respon- der a conselho, por ato de suposta insubordinação, quando tinha-me li- mitado a ameaçar um oficial insolente, que me havia insultado e que sou- be conter-se. Estive, então, preso 39 dias, de 1º de julho a 9 de agosto. Passava os dias lendo e às noites, sofria de insônias; e, de contínuo, tinha diante dos olhos a imagem de minha querida mãe. Uma noite, eram mais de duas horas, eu dormitava; e, em sonho vi que a levavam presa. Pareceu-me ouvi- 140
  • 6. NOVOS ESTUDOS Nº 25 - OUTUBRO DE 1989 la distintamente que chamava por mim. Dei um grito, espavorido saltei da tarimba; os companheiros alvorotaram-se; corri à grade, enfiei a cabeça pelo xadrez. Era solitário e silencioso e longo e lôbrego o corredor da prisão, mal alumiado pela luz amarelenta de enfumarada lanterna. Voltei para a minha tarimba, narrei a ocorrência aos curiosos cole- gas; eles narraram-me também fatos semelhantes; eu caí em nostalgia, cho- rei e dormi. Durante o meu tempo de praça, nas horas vagas, fiz-me copista; es- crevia para o escritório do escrivão major Benedito Antônio Coelho Ne- to, que tornou-se meu amigo; e que hoje, pelo seu merecimento, desem- penha o cargo de oficial-maior da Secretaria do Governo; e, como ama- nuense, no gabinete do exmo. sr. conselheiro Francisco Maria de Souza Furtado de Mendonça, que aqui exerceu, por muitos anos, com aplausos e admiração do público em geral, altos cargos na administração, polícia e judicatura, e que é catedrático da Faculdade de Direito, fui eu seu orde- nança; por meu caráter, por minha atividade e por meu comportamento, conquistei a sua estima e a sua proteção; e as boas lições de letras e de civismo, que conservo com orgulho. Em 1856, depois de haver servido como escrivão perante diversas autoridades policiais, fui nomeado amanuense da Secretaria de Polícia, on- de servi até 1868, época em que "por turbulento e sedicioso" fui demiti- do a "bem do serviço público", pelos conservadores, que então haviam subido ao poder. A portaria de demissão foi lavrada pelo dr. Antônio Ma- nuel dos Reis, meu particular amigo, então secretário de polícia, e assina- da pelo exmo. dr. Vicente Ferreira da Silva Bueno, que, por este e outros atos semelhantes, foi nomeado desembargador da relação da Corte. A turbulência consistia em fazer eu parte do Partido Liberal; e, pela imprensa e pelas urnas, pugnar pela vitória de minhas e suas idéias; e promover processos em favor de pessoas livres criminosamente escravizadas; e auxiliar licitamente, na medida de meus esforços, alforrias de escravos, porque detesto o cativeiro e todos os senhores, principalmente os Reis. Desde que fiz-me soldado, comecei a ser homem; porque até os 10 anos fui criança; dos 10 aos 18, fui soldado. Fiz versos; escrevi para muitos jornais; colaborei em outros literá- rios e políticos, e redigi alguns. Agora chego ao período em que, meu caro Lúcio, nos encontra- mos no "Ipiranga", à rua do Carmo, tu, como tipógrafo, poeta, tradutor e folhetinista principiante; eu, como simples aprendiz-compositor, de onde saí para o foro e para a tribuna, onde ganho o pão para mim e para os meus, que são todos os pobres, todos os infelizes; e para os míseros escra- vos, que, em número superior a 500, tenho arrancado às garras do crime. Eis o que te posso dizer, às pressas, sem importância e sem valor; menos para ti, que me estimas deveras. Teu Luiz. Novos Estudos CEBRAP Nº 25, outubro de 1989 pp. 136-141 141