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Walter Benjamin, 1938.
Fonte: Leemage/Other Images.
Walter Benjamin foi ensaísta, crítico literário, tradutor, filósofo e
sociólogo da cultura. Esse pensador de origem judaica deixou uma
obra de difícil classificação, uma vez que escreveu sobre temas
variados, e muitos de seus textos jamais foram concluídos.
Benjamin teve sua trajetória intelectual ligada à chamada Escola
de Frankfurt, que reunia pensadores voltados para o desenvolvimento
de uma teoria crítica social que ultrapassasse algumas das premissas
de Marx e focasse as dimensões culturais do modo capitalista de
produção. Expressões como "indústria cultural" e "cultura de massa"
são heranças diretas dos estudos da Escola de Frankfurt e remetem a
um universo de reflexões muito caro à sua obra.
Profundo conhecedor da língua francesa, Benjamin traduziu para o
alemão       obras      dos     escritores    Marcel     Proust    e
Charles Baudelaire, estabelecendo um forte vínculo entre a crítica
social e a produção artística. Investiu também na análise do advento
da modernidade e do conceito de história, sempre entrecruzando
diferentes áreas do pensamento social.
Entre suas obras mais conhecidas estão A obra de
arte na era de sua reprodutibilidade técnica
(1936), Teses sobre o conceito de história (1940), a
inacabada Paris, capital do século XIX e
Passagens, compilação de escritos publicada
postumamente.
Benjamin era alemão, mas morreu sem nacionalidade
definida. Tomaram-lhe o passaporte alemão antes que
conseguisse, como exilado político, a cidadania
francesa.      O       nazismo       o      perseguiu
duplamente, pois, além de judeu, era comunista. Sua
obra traz a marca desses trânsitos complicados entre
diferentes identidades e territórios: para os
comunistas, seu apego ao judaísmo era inaceitável;
para os judeus, suas referências marxistas não tinham
cabimento. Para os filósofos, seu trabalho era literário
demais; para os críticos literários, era muito
sociológico.
De fato, Benjamin não foi um cientista social no sentido
estrito. Além disso, escreveu de forma pouco
sistemática, num estilo propositadamente fragmentado e
alegórico, utilizando poucos conceitos e muitas imagens
literárias. Reconhecemos que seus críticos têm razão
quando o acusam de ter sido dispersivo e muitas vezes
incoerente. Mas também é preciso reconhecer que poucos
pensadores sociais tiveram igual sensibilidade para observar
o cotidiano da modernidade e decifrar as personagens da
metrópole. Como o próprio Benjamin disse, ele tinha um
interesse especial por aquilo que outros intelectuais
classificavam como "lixo". E foi assim que ele antecipou a
reflexão crítica sobre a fotografia, o cinema, as
miniaturas, os brinquedos, a poesia, o flâneur, o ópio, a
prostituta - assuntos e personagens considerados
"irrelevantes" ou "indignos" por muitos de seus
contemporâneos.
Redesenhar a cidade para redesenhar a sociedade: foi com esse princípio que
Luís Napoleão, com o título de Napoleão III, inaugurou em 1852 o Segundo
Império francês, determinado a acabar com as revoltas populares que até
então eclodiam com frequência em Paris. Como conter as barricadas que
ameaçavam a ordem social tão almejada pelo novo imperador? A resposta foi
buscada no urbanismo: Paris sofreria uma reforma radical, deixando para trás
os muros e as ruas estreitas da cidade medieval para ostentar avenidas largas
dotadas de iluminação noturna, o que facilitaria o controle policial. A cidade se
transformaria       em          nome          de         princípios         como
organização, harmonia, racionalidade e, principalmente, modernidade.
Quando aportamos com Benjamin na Paris do século XIX, testemunhamos o
surgimento de novos valores e novos padrões de convivência. Ele chama
nossa atenção para os grandes eventos históricos - são bastante duras suas
críticas ao governo "falsificado" de Luís Napoleão -, mas também para
pequenos detalhes que são reveladores. Conta-nos, por exemplo, que em
1824 somente 47 mil pessoas eram assinantes de algum jornal na capital
francesa; em 1836 esse número saltou para 70 mil e, na década
seguinte, chegou a 200 mil. A partir daí, observa uma contradição: com o
aumento significativo do número de leitores, era de esperar que os jornais se
tornassem mais autônomos, menos dependentes do dinheiro dos
poderosos. No entanto, isso não ocorreu. Na verdade, a imprensa passou a
depender cada vez mais dos anúncios para sobreviver.
Boa parte da reflexão de Benjamin sobre a modernidade se encontra no livro
Passagens - centenas e centenas de páginas que escreveu de 1927 até as
vésperas de sua morte, em 1940. Trata-se, portanto, de uma obra
inacabada, que só foi publicada postumamente. Por que, afinal, Benjamin julgou
as passagens de Paris tão interessantes?
Para começar, por que essas galerias feitas de estruturas de ferro e vidro
surgiram apenas no século XIX, e não antes? Benjamin associa seu
aparecimento sobretudo ao desenvolvimento do comércio de tecidos. Na época
ainda não havia lojas de roupas prontas, e as pessoas compravam tecidos para
que a costureira ou o alfaiate produzisse as peças desejadas. Mas, como nos
lembra Benjamin, as passagens não abrigavam somente lojas de tecidos: havia
também o que se chamava de magasins de nouveautés, "lojas de
novidades". Nelas era possível encontrar uma infinidade de mercadorias de luxo
que deslumbravam os parisienses e os turistas. Benjamin cita um guia ilustrado
de Paris que dizia: "Essas passagens, uma recente invenção do luxo
industrial, são galerias cobertas de vidro e com paredes revestidas de
mármore, que atravessam quarteirões inteiros, cujos proprietários se uniram
para esse tipo de especulação. Em ambos os lados dessas galerias, que
recebem a luz do alto, alinham-se as lojas mais elegantes, de modo que tal
passagem é uma cidade, um mundo em miniatura".
As transformações no mundo do trabalho e na economia, nas
crenças e nos valores, na política e nas instituições foram
objeto de estudo dos observadores da sociedade a partir do
século XIX. A grande contribuição de Walter Benjamin foi
introduzir nas discussões sobre os tempos modernos alguns
temas ligados à vida urbana que não foram tratados por
outros estudiosos de sua época - temas que não despertaram
interesse por serem considerados irrelevantes, como a
indústria do entretenimento, a sociedade de consumo e a
sociedade de massas. Além de refletir sobre novos
temas, Benjamin ampliou o campo das pesquisas
sociais, nele incluindo os cartazes de propaganda, as obras
literárias, as passagens e as novas tecnologias. Lançou mão
de tudo isso para discutir os paradoxos da vida moderna, ou
seja, o quanto ela aprisiona os indivíduos com sua ideologia
do consumo e o quanto ela traz de liberdade para a
coletividade. Podemos perceber, através de seus
escritos, que tudo o que diz respeito à vida em sociedade
interessa à sociologia.
Walter Benjamin também se mostrou sensível à mudança de
comportamento das mulheres e da sociedade em relação a elas. Desde
os primórdios da Revolução Industrial, as mulheres das camadas
baixas saíram junto com seus maridos e filhos para ganhar o sustento
nas fábricas ou manufaturas. Paulatinamente, deixaram o ambiente
doméstico (privado) e foram introduzidas no espaço público. O que
chamou a atenção de Benjamin foi a circulação de
mulheres, especialmente das camadas mais abastadas, pelas
passagens ou galerias, a fim de consumir novidades. Este e outros
aspectos, segundo Benjamin, explicitavam as contradições da
modernidade - a divisão da sociedade entre consumidores e não
consumidores de determinados bens; entre os que usam o tempo
trabalhando e os que passam o tempo em passeios de consumo; entre
os que têm abundância de recursos e os que sofrem de escassez.
As novas tecnologias interessaram a Benjamin porque, além de
oferecer respostas para múltiplas necessidades cotidianas, contribuem
para alterar a apreensão do mundo pelos indivíduos. A fotografia, a
filmagem, a gravação de áudio e outras técnicas de reprodução foram
objeto de reflexão de W. Benjamin por alterarem a produção da
memória coletiva nas sociedades modernas.
Galerie Vivienne, Paris, c. 1880.
Fonte: Musée Carnavalet, Paris/Roger-Viollet/Imageplus.
Fachada do antigo prédio do Mappin, praça do Patriarca em São
                                               Paulo, SP, 1937.
                     Fonte: Instituto Moreira Salles, São Paulo
Retrato modificado em programa de computador.
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Sonhos de consumo

  • 1.
  • 2. Walter Benjamin, 1938. Fonte: Leemage/Other Images.
  • 3. Walter Benjamin foi ensaísta, crítico literário, tradutor, filósofo e sociólogo da cultura. Esse pensador de origem judaica deixou uma obra de difícil classificação, uma vez que escreveu sobre temas variados, e muitos de seus textos jamais foram concluídos. Benjamin teve sua trajetória intelectual ligada à chamada Escola de Frankfurt, que reunia pensadores voltados para o desenvolvimento de uma teoria crítica social que ultrapassasse algumas das premissas de Marx e focasse as dimensões culturais do modo capitalista de produção. Expressões como "indústria cultural" e "cultura de massa" são heranças diretas dos estudos da Escola de Frankfurt e remetem a um universo de reflexões muito caro à sua obra. Profundo conhecedor da língua francesa, Benjamin traduziu para o alemão obras dos escritores Marcel Proust e Charles Baudelaire, estabelecendo um forte vínculo entre a crítica social e a produção artística. Investiu também na análise do advento da modernidade e do conceito de história, sempre entrecruzando diferentes áreas do pensamento social.
  • 4. Entre suas obras mais conhecidas estão A obra de arte na era de sua reprodutibilidade técnica (1936), Teses sobre o conceito de história (1940), a inacabada Paris, capital do século XIX e Passagens, compilação de escritos publicada postumamente. Benjamin era alemão, mas morreu sem nacionalidade definida. Tomaram-lhe o passaporte alemão antes que conseguisse, como exilado político, a cidadania francesa. O nazismo o perseguiu duplamente, pois, além de judeu, era comunista. Sua obra traz a marca desses trânsitos complicados entre diferentes identidades e territórios: para os comunistas, seu apego ao judaísmo era inaceitável; para os judeus, suas referências marxistas não tinham cabimento. Para os filósofos, seu trabalho era literário demais; para os críticos literários, era muito sociológico.
  • 5. De fato, Benjamin não foi um cientista social no sentido estrito. Além disso, escreveu de forma pouco sistemática, num estilo propositadamente fragmentado e alegórico, utilizando poucos conceitos e muitas imagens literárias. Reconhecemos que seus críticos têm razão quando o acusam de ter sido dispersivo e muitas vezes incoerente. Mas também é preciso reconhecer que poucos pensadores sociais tiveram igual sensibilidade para observar o cotidiano da modernidade e decifrar as personagens da metrópole. Como o próprio Benjamin disse, ele tinha um interesse especial por aquilo que outros intelectuais classificavam como "lixo". E foi assim que ele antecipou a reflexão crítica sobre a fotografia, o cinema, as miniaturas, os brinquedos, a poesia, o flâneur, o ópio, a prostituta - assuntos e personagens considerados "irrelevantes" ou "indignos" por muitos de seus contemporâneos.
  • 6.
  • 7. Redesenhar a cidade para redesenhar a sociedade: foi com esse princípio que Luís Napoleão, com o título de Napoleão III, inaugurou em 1852 o Segundo Império francês, determinado a acabar com as revoltas populares que até então eclodiam com frequência em Paris. Como conter as barricadas que ameaçavam a ordem social tão almejada pelo novo imperador? A resposta foi buscada no urbanismo: Paris sofreria uma reforma radical, deixando para trás os muros e as ruas estreitas da cidade medieval para ostentar avenidas largas dotadas de iluminação noturna, o que facilitaria o controle policial. A cidade se transformaria em nome de princípios como organização, harmonia, racionalidade e, principalmente, modernidade. Quando aportamos com Benjamin na Paris do século XIX, testemunhamos o surgimento de novos valores e novos padrões de convivência. Ele chama nossa atenção para os grandes eventos históricos - são bastante duras suas críticas ao governo "falsificado" de Luís Napoleão -, mas também para pequenos detalhes que são reveladores. Conta-nos, por exemplo, que em 1824 somente 47 mil pessoas eram assinantes de algum jornal na capital francesa; em 1836 esse número saltou para 70 mil e, na década seguinte, chegou a 200 mil. A partir daí, observa uma contradição: com o aumento significativo do número de leitores, era de esperar que os jornais se tornassem mais autônomos, menos dependentes do dinheiro dos poderosos. No entanto, isso não ocorreu. Na verdade, a imprensa passou a depender cada vez mais dos anúncios para sobreviver.
  • 8. Boa parte da reflexão de Benjamin sobre a modernidade se encontra no livro Passagens - centenas e centenas de páginas que escreveu de 1927 até as vésperas de sua morte, em 1940. Trata-se, portanto, de uma obra inacabada, que só foi publicada postumamente. Por que, afinal, Benjamin julgou as passagens de Paris tão interessantes? Para começar, por que essas galerias feitas de estruturas de ferro e vidro surgiram apenas no século XIX, e não antes? Benjamin associa seu aparecimento sobretudo ao desenvolvimento do comércio de tecidos. Na época ainda não havia lojas de roupas prontas, e as pessoas compravam tecidos para que a costureira ou o alfaiate produzisse as peças desejadas. Mas, como nos lembra Benjamin, as passagens não abrigavam somente lojas de tecidos: havia também o que se chamava de magasins de nouveautés, "lojas de novidades". Nelas era possível encontrar uma infinidade de mercadorias de luxo que deslumbravam os parisienses e os turistas. Benjamin cita um guia ilustrado de Paris que dizia: "Essas passagens, uma recente invenção do luxo industrial, são galerias cobertas de vidro e com paredes revestidas de mármore, que atravessam quarteirões inteiros, cujos proprietários se uniram para esse tipo de especulação. Em ambos os lados dessas galerias, que recebem a luz do alto, alinham-se as lojas mais elegantes, de modo que tal passagem é uma cidade, um mundo em miniatura".
  • 9. As transformações no mundo do trabalho e na economia, nas crenças e nos valores, na política e nas instituições foram objeto de estudo dos observadores da sociedade a partir do século XIX. A grande contribuição de Walter Benjamin foi introduzir nas discussões sobre os tempos modernos alguns temas ligados à vida urbana que não foram tratados por outros estudiosos de sua época - temas que não despertaram interesse por serem considerados irrelevantes, como a indústria do entretenimento, a sociedade de consumo e a sociedade de massas. Além de refletir sobre novos temas, Benjamin ampliou o campo das pesquisas sociais, nele incluindo os cartazes de propaganda, as obras literárias, as passagens e as novas tecnologias. Lançou mão de tudo isso para discutir os paradoxos da vida moderna, ou seja, o quanto ela aprisiona os indivíduos com sua ideologia do consumo e o quanto ela traz de liberdade para a coletividade. Podemos perceber, através de seus escritos, que tudo o que diz respeito à vida em sociedade interessa à sociologia.
  • 10. Walter Benjamin também se mostrou sensível à mudança de comportamento das mulheres e da sociedade em relação a elas. Desde os primórdios da Revolução Industrial, as mulheres das camadas baixas saíram junto com seus maridos e filhos para ganhar o sustento nas fábricas ou manufaturas. Paulatinamente, deixaram o ambiente doméstico (privado) e foram introduzidas no espaço público. O que chamou a atenção de Benjamin foi a circulação de mulheres, especialmente das camadas mais abastadas, pelas passagens ou galerias, a fim de consumir novidades. Este e outros aspectos, segundo Benjamin, explicitavam as contradições da modernidade - a divisão da sociedade entre consumidores e não consumidores de determinados bens; entre os que usam o tempo trabalhando e os que passam o tempo em passeios de consumo; entre os que têm abundância de recursos e os que sofrem de escassez. As novas tecnologias interessaram a Benjamin porque, além de oferecer respostas para múltiplas necessidades cotidianas, contribuem para alterar a apreensão do mundo pelos indivíduos. A fotografia, a filmagem, a gravação de áudio e outras técnicas de reprodução foram objeto de reflexão de W. Benjamin por alterarem a produção da memória coletiva nas sociedades modernas.
  • 11. Galerie Vivienne, Paris, c. 1880. Fonte: Musée Carnavalet, Paris/Roger-Viollet/Imageplus.
  • 12. Fachada do antigo prédio do Mappin, praça do Patriarca em São Paulo, SP, 1937. Fonte: Instituto Moreira Salles, São Paulo
  • 13. Retrato modificado em programa de computador. Fonte: Andrezej Burak/iStockphoto.