Cresce a procura por planta que seria predadora do mosquito
1. Cresce procura por planta que
seria predadora do mosquito
PREVENÇÃO ||| MÉTODOS CASEIROS
Camila Ferreira
DA AGÊNCIA ANHANGUERA
camila.ferreira@rac.com.br
O aumento dos casos de den-
gue no País, e agora com a
ameaça do zika vírus, faz
com que os brasileiros bus-
quem por soluções caseiras
para afastar o mosquito trans-
missor e complementar o
combate aos criadouros.
Uma dessas ações é o plantio
da crotalária, planta com flo-
res amarelas, algumas com
detalhes vermelhos, que atrai
a libélula, predadora natural
do Aedes aegypti, assim como
de suas larvas. Cidades de di-
versos estados do País distri-
buíram sementes no ano pas-
sado, porém ainda não há
comprovação científica que
mostre a eficácia da ação.
Pelo sim ou pelo no não,
os campineiros estão corren-
do para as lojas especializa-
das para adquirir sementes.
Em uma delas, a venda desse
produto aumentou 50% nos
últimos dois meses.
De acordo com os funcio-
nários da empresa, eles passa-
ram a separar as legumino-
sas em saquinhos menores,
de 1kg, que são vendidos a
R$ 10,00 cada. “Nessa quanti-
dade, é possível plantar em
uma extensão de 500 metros
de terra e produzir cerca de
100 mudas”, conta Aracelli
Cristina Gomes, de 18 anos,
auxiliar de escritório da distri-
buidora Sementes Fortaleza.
Lucas Tessarini, de 30 anos,
administrador da firma, con-
tou que um dos clientes gos-
tou do resultado em uma
área na zona rural de Monte
Mor. “Ele me disse que a
planta espantou os pernilon-
gos depois que cultivou na
chácara dele. Mas não dá pa-
ra saber se foi por conta das
flores, só sei que ficou satis-
feito”, descreveu.
A comunidade de especia-
listas, no entanto, afirma que
não há fundamento científi-
co para esta medida caseira.
Para Edmilson Ambrosano,
pesquisador da Agência Pau-
lista de Tecnologia dos Agro-
negócios (APTA) da Secreta-
ria de Agricultura e Abasteci-
mento do Estado de São Pau-
lo, é preciso cuidado para tra-
tar essas ações, pois o comba-
te ao Aedes é um problema
de saúde pública. “Não pode-
mos promover uma medida
que não tem embasamento
científico no controle de po-
pulação de Aedes. Isso pode
atrapalhar as que realmente
funcionam, que são o comba-
te aos criadouros e evitar
água parada”, explica.
O especialista é autor,
com outros quatro pesquisa-
dores da área, do documento
do Instituto Gastronômico
de Campinas (IAC) “Aedes
Aegypti: Controle pelas crota-
lárias não tem comprovação
científica”, lançado no ano
passado. O objetivo do bole-
tim é alertar a população de
que não há validação científi-
ca do cultivo de espécies de
crotalária, particularmente
da juncea e spectabilis, co-
mo possível alternativa no
controle da população de Ae-
des e que o único procedi-
mento eficaz ainda é a locali-
zação e a eliminação dos fo-
cos do vetor.
Em relação ao combate do
Aedes, Ambrosano esclarece
que seriam necessárias mi-
lhões de libélulas para com-
bater apenas algumas larvas
do mosquito. Além disso, ela
é uma predadora inespecífi-
ca, ou seja, não preda prefe-
rencialmente as larvas do Ae-
des e é raro que as libélulas
sejam constatadas em locais
onde também é comum o
mosquito da dengue. “Além
disso, a libélula faz a postura
de seus ovos em grandes de-
pósitos de água, enquanto o
mosquito precisa apenas de
uma gota de água.”
O documento levanta, ain-
da, a questão da utilização
dos carros de fumacê ou qual-
quer outro aparato para a pul-
verização de inseticida em
áreas urbanas — que têm
pouco ou nenhum efeito so-
bre o mosquito. Os pesquisa-
dores também registram na
cartilha que não é aconselhá-
vel o uso contínuo de produ-
tos químicos, como repelen-
tes, em sucessivas aplica-
ções, pois podem ocorrer pro-
blemas na pele ou graves in-
toxicações, principalmente
em crianças.
Os autores também refor-
çam no documento que a di-
vulgação dessa informação é
alarmante e irresponsável
porque, além da semeadura
em praças e farta distribui-
ção de vasinhos com mudas
de crotalária, como ações de
alguns políticos e de prefeitu-
ras do interior dos estados de
São Paulo, Paraná e Mato
Grosso do Sul, por exemplo,
foram propostos muitos pro-
jetos de lei de âmbito munici-
pal — alguns vetados e ou-
tros, preocupantemente já
aprovados — para incentivo
ao cultivo de crotalárias (ge-
ralmente de C. Juncea), bem
como de citronela, muitos de-
les baseados em justificativas
no mínimo, não adequadas,
particularmente no quesito
comprovação científica.
A planta
Ainda de acordo com Ambro-
sano, a crotalária é uma legu-
minosa muito eficiente para
o enriquecimento do solo,
pois tem a capacidade de pro-
duzir nitrogênio, adubo ver-
de essencial para a produção
agrícola. A espécie está sen-
do bastante procurada como
alternativa para realizar a ro-
tatividade nas plantações de
cana-de-açúcar. “Com o au-
mento do álcool nesses últi-
mos meses, os produtores
querem utilizar a planta para
enriquecer o solo e intensifi-
car as próximas colheitas e a
produção do etanol no Bra-
sil”, destaca. A disseminação
dessa planta se dá por semen-
tes e não por mudas. Elas
tem ciclo anual e pode che-
gar a 4 metros de altura, pois
são espécies eretas.
Quatro dos cinco pesquisadores
do Senegal que participaram ati-
vamente do combate à epide-
mia de ebola na África desem-
barcaram anteontem, em São
Paulo para ajudar cientistas bra-
sileiros a lidar com o zika vírus.
O chefe da equipe, um renoma-
do especialista em controle de
epidemias, deve chegar hoje.
Eles vão se juntar à rede de pes-
quisadores paulistas que foi for-
mada em caráter emergencial
pararesponder ao surto e é coor-
denada pelo pesquisador Paolo
Zanotto, da Universidade de
São Paulo (USP). A previsão é de
que a equipe do Senegal passe
pelo menos uma semana no Ins-
tituto de Ciências Biomédicas
(ICB-USP), trocando informa-
ções e treinando pesquisadores
brasileiros em técnicas de isola-
mento e cultivo do vírus. “Os
dias que o vírus zika era invisível
estão contados”, disse Zanotto
ao jornal O Estado de S Paulo. A
grande dificuldade em respon-
der à epidemia é que muito pou-
co se sabe sobre o zika, que pra-
ticamente não existia no País
até o ano passado. Para montar
uma estratégia eficiente de com-
bate, os cientistas precisam en-
tender melhor como ele funcio-
na, seu ciclo na natureza, como
interage com o mosquito Aedes
aegypti e como ele se comporta
dentro do organismo humano.
(Agência Estado)
Muro não
impede
que lixo
seja jogado
em terreno
baldio no
Jardim
Planalto,
segundo
vizinhos
Aracelli, auxiliar de distribuidora de sementes; as de crotalária (planta no destaque) tiveram aumento de 50% nas vendas nos últimos dois meses
Área com mato alto e lixo é possível criadouro
O
matoalto em um
terrenobaldio,
localizadona esquina
daRua Monsenhor
Maximilianoda Silva Leitee
João GumercindoGuimarães, é
apontado porvizinhos como
umpossível criadouro da
dengueno Jardim Planalto, em
Campinas.A propriedade está
cercadapormuro e algumas
pessoasaproveitam a falta de
visibilidadepara jogar lixo.
Umamoradora quenão quis
se identificar contouque já
houveuma morte porcontade
denguena rua e queela é
alérgicaa picada demosquito.
“Minhacasa está cheiade
pernilongoe eunão posso usar
inseticida,pois tenho alergia.
Járeclamamos na Prefeitura,
mas nãotomaramnenhuma
providência”,contou. De
acordocom outravizinha,que
também quismantera
identidadepreservada, essa
propriedadeestá com processo
paradona Justiçae não pode
servendida. “A dona não pode
vender,tentamos falar com ela,
mas nãotempapo e demora
muitotempopara fazer a
limpezado local”,relatou.O
endereço foienviadopara a
Prefeitura eserá incluído na
listadevistoria do poder
público.(CF/AAN)
Equipe de pesquisadores chega a
SP para ajudar cientistas brasileiros
Medo da
dengue faz
empresa
faturar com
sementes de
crotalárias,
mas efeito não
é comprovado
Carlos Sousa Ramos/AAN
César Rodrigues/AAN
Especialista diz que
único combate eficaz
é eliminação de focos
Senegaleses que combatem
ebola reforçam ação antizika
CORREIO POPULAR A11CIDADES Campinas, sexta-feira, 8 de janeiro de 2016
A11