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microbiologia y

Para
pessoas
e plantas
expectorante pode
ser eficaz no controle
de praga da laranja

E

nquanto dava xarope expectorante para o
filho gripado, a bióloga Alessandra de Souza teve uma ideia: será que o medicamento
poderia tratar a doença de laranjais que
ocupa sua mente no âmbito profissional? A inspiração é menos inusitada do que parece quando
se imaginam os sintomas da gripe numa criança e
a anatomia de um pé de laranja. É que a bactéria
Xylella fastidiosa, causadora da clorose variegada
dos citros (CVC), também conhecida como praga
do amarelinho pelas manchas que deixa nas folhas
e nos frutos, toma a planta formando um biofilme que une a comunidade de microrganismos
invasores. Romper esse biofilme no início de sua
formação pode ser a melhor forma de combater
a doença, que causa graves prejuízos à produção
nacional de laranjas, afirma a bióloga Marie-Anne
Van Sluys, da Universidade de São Paulo (USP),
em reportagem na Edição Especial 50 anos da FAPESP. É justamente esse o objetivo de Alessandra,
pesquisadora do Centro de Citricultura Sylvio
Moreira do Instituto Agronômico de Campinas
(IAC), em Cordeirópolis, interior paulista.
E ela parece estar no caminho certo, conforme
indicam resultados obtidos no mestrado de sua
aluna Lígia Muranaka e publicados este ano na
PLoS One. “A patogenicidade da Xylella é próxi-

eduardo cesar

Medicamento
3

2

1

1 Xilema (verde)
colonizado por
Xylella fastidiosa

fotos  1 Alessandra de souza / iac  2 e 3 Richard janissen / unicamp, microscópio infabic

2 e 3 Bactérias vivas,
com mutação
fluorescente, no
microscópio confocal

ma à de bactérias que causam infecções
em seres humanos, com expressão gênica e mecanismos semelhantes”, afirma
Alessandra. Por isso, ela já testou vários
tipos de antibióticos, como a tetraciclina e a neomicina. “A Xylella é suscetível
a esses medicamentos”, conta, “mas são
muito caros para se usar na agricultura”.
A pesquisadora explica que a formação
do biofilme dentro da planta permite às
bactérias se comunicarem entre si e se
comportarem como um organismo único.
Essa peculiaridade acaba por entupir os
vasos do xilema, onde os microrganismos se alojam, e impede a passagem de
nutrientes e água das raízes para a copa
das árvores. Se é esse o mecanismo de
ação da doença, talvez esteja aí mesmo
a solução economicamente viável e que
não cause impactos ambientais.
A N-acetilcisteína (NAC), princípio
ativo do xarope que Alessandra deu ao
filho, velho conhecido de quem costuma
ter problemas respiratórios, é um agente
mucolítico – ou seja, desmancha muco.
“Ela desfaz o biofilme e desestrutura as
proteínas de várias bactérias que infectam

seres humanos, como Staphylococcus aureus, Enterococcus faecalis e Pseudomonas
aeruginosa”, conta. O medicamento nunca
tinha sido usado em plantas, mas sabendo,
por meio de estudos do genoma funcional,
que muitas das proteínas que promovem
a adesão entre as bactérias X. fastidiosa
dentro da laranjeira formam ligações entre si graças à cisteína, seu grupo partiu
do pressuposto de que a medicação poderia ser eficaz para combater a clorose.
No laranjal

Deu certo em experimentos in vitro, mas
uma coisa é a teoria ou a ação em bactérias cultivadas em placas de vidro no laboratório, outra muito diferente é aplicar
o conhecimento às bactérias ativas nos
laranjais. No primeiro experimento em
plantas inteiras, o grupo de Alessandra
aplicou NAC em laranjeiras mantidas num
sistema hidropônico, em que as raízes são
diretamente expostas à medicação. Os resultados foram promissores: o número de
folhas com manchas amarelas e a quantidade de bactérias diminuíram nas plantas
medicadas. Mas, para manter o controle,

era preciso suprir a planta quase continuamente com o medicamento. Se fosse retirado, em três meses os sintomas voltavam.
Um experimento mais realista (“afinal,
laranjeiras não crescem em hidroponia”,
lembra Alessandra), em que plantas foram
irrigadas com uma solução que incluía
NAC e, em alguns casos, tinham o fármaco injetado nas raízes, teve resultados
semelhantes. Mas a ação positiva do mucolítico era promissora o suficiente para
que a equipe, que também incluía pesquisadores da Universidade Estadual de
Campinas (Unicamp) e da Universidade
Federal de São Carlos (UFSCar), buscasse uma maneira mais eficaz de aplicá-lo.
“Fizemos uma parceria sem fins lucrativos com uma empresa de fertilizantes
orgânicos”, conta Alessandra. A fabricante, Agrolatino, desenvolveu uma forma de
inserir NAC no fertilizante granulado, de
maneira que a liberação do medicamento
seria gradual. Dessa vez os sintomas tiveram uma redução ainda maior por um
tempo mais longo, por volta de oito meses
depois da aplicação. Essa solução pode ser
viável para controlar a clorose variegada
pESQUISA FAPESP 214  z  59
1

1 Os frutos das
plantas doentes
são menores
2 Inicialmente
com os mesmos
sintomas, a planta
da esquerda foi
tratada e melhorou
3 Lesões típicas da
CVC nas folhas

2

dos citros em plantações reais, mas Alessandra ainda vê potencial para melhorar.
“Estamos estudando como fazer para que
a liberação seja ainda mais lenta, usando
NAC nanoencapsulado.” Ainda é preciso
avaliar a eficácia em campo desse tipo de
tratamento, por isso ele está sendo testado
em parceria com o setor citrícola.
Dentro do xilema

A trajetória que Alessandra vem seguindo
começa na iniciativa ambiciosa que sequenciou o genoma da X. fastidiosa (ver
Edição Especial 50 Anos de FAPESP),
quando ela acabara de concluir o mestrado e foi trabalhar no IAC com Marcos
Machado, coordenador de um dos grupos
de trabalho do projeto em que a FAPESP
investiu US$ 12 milhões e que veio a ser
um marco da maturidade da comunidade científica brasileira. Ela está entre os
116 autores do artigo publicado na Nature
em julho de 2000 com os resultados do
primeiro projeto genômico do país e encontrou nesses resultados a substância
para seu doutorado, em que investigou os
genes envolvidos com a patogenicidade e a
formação de biofilme nessa bactéria. Vem
daí o título da palestra que apresentou no
Congresso Brasileiro de Fitopatologia, que
aconteceu em Ouro Preto em outubro deste ano: “O genoma da Xylella fastidiosa: 13
anos após o ‘momento de glória’, onde estamos?”. A resposta muito abreviada é que
o investimento numa empreitada controversa, centrada num organismo até então
mais afamado (mesmo que mal) entre pro60  z  dezembro DE 2013

dutores de laranjas do
que entre pesquisadores, não para de render
frutos. E continua a se
ramificar em diversas
áreas da ciência.
Enquanto testa na
prática como controlar a doença que é o
pesadelo dos citricultores e em 2009 ainda acometia 35% dos laranjais, a mesma cifra registrada uma década antes,
Alessandra encontrou na física parceiros
para entender em maior detalhe como
a X. fastidiosa forma o biofilme que lhe
permite infectar as plantas. A pesquisa liderada por Mônica Cotta, da Unicamp, é
independente daquela feita no IAC, mas
complementar. “Temos agora um modelo de adesão completo, que nos permite
entender o que a Xylella faz em todas as
superfícies”, conta. A escala é bem diferente, em contraste com os laranjais em
que Alessandra espalha o olhar. A principal ferramenta de trabalho da física
são microscópios sofisticados, como o
de força atômica e o confocal com spinning disk, este último no Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia de Fotônica
Aplicada à Biologia Celular (Infabic),
coordenado por Hernandes Carvalho,
da Unicamp.
Com esses equipamentos, o grupo
de Mônica consegue observar como as
bactérias se comportam em diferentes
superfícies, principalmente no que diz

respeito à formação do biofilme. Ela está
quase conseguindo responder à pergunta
fortuita que Alessandra lhe fez quando
se conheceram, em 2007: por que elas
ficam “de pé” no final do ciclo de cultivo em laboratório, passados 30 dias?
Elas são pequenos bastões cilíndricos e
de fato ficam apoiadas numa das pontas
em determinadas situações, mas o que
importa por enquanto é que a abordagem
física mostrou que cultivar essa bactéria
em placas de vidro para observação ao
microscópio eletrônico não é suficiente
para entendê-la, já que as condições em
que vivem fazem toda a diferença.
Mônica fez valer sua expertise em microscopia e usou substratos mais próximos ao natural – dois tipos de celulose
–, além do vidro. “Primeiro ela adere, depois secreta os exopolissacarídeos para
formar uma cápsula e em seguida o biofilme”, explica. Um artigo publicado em
setembro na PLoS One, parte principal
do doutorado de Gabriela Lorite, de sua
equipe, mostra que o substrato causa variações importantes tanto no formato do
Os avanços
obtidos só
são possíveis
graças à
interação
constante
entre biólogos
e físicos

3

biofilme como de suas bordas. “Ela adora silício e não gosta de celulose”, conta
a física, que construiu sua carreira no
estudo de materiais e parece ter se afeiçoado ao organismo que a aproximou do
mundo biológico. Entre os dois tipos de
celulose que produziu no laboratório, o
acetato de celulose é mais rugoso e menos confortável para a Xylella, que não
consegue cobrir a superfície toda. Já a
etilcelulose tem irregularidades menores, onde a bactéria adere melhor. “São
tipos de rugosidade diferentes, como se
fossem os Alpes e a serra da Mantiqueira”, compara.

fotos  1 Helvecio Della Coletta Filho / iac  2 e 3 Alessandra de souza / iac

adesão física

Mas a rugosidade não é a variável mais
determinante na adesão, e as técnicas
acopladas à microscopia permitem manipulações muito minuciosas para detalhar esse processo. Mônica consegue, por
exemplo, prender à ponta do microscópio de força atômica uma proteína que
a Xylella produz no início do ciclo infeccioso. Ao cutucar as bactérias com essa
substância, os pesquisadores as induzem
à adesão e medem a força de interação
entre o organismo e o substrato. “Verificamos que as bactérias gostam mais de
umas regiões do que outras.” No silício e
na etilcelulose, os experimentos indicam
que quase sempre pelo menos uma das
proteínas se liga ao substrato. O mesmo
não aconteceu no acetato de celulose, em
que a adesão só foi observada em 20%
dos casos. A conclusão mais geral do trabalho é que a Xylella tem maior tendência
a se fixar em superfícies eletricamente
mais uniformes, com carga positiva, além
de hidrofílicas (que atraem a água).

Os estudos feitos até agora pelo grupo
de Mônica são o início da compreensão
de como o biofilme se instala e se espraia
pelo xilema das laranjeiras. Tirando proveito da característica que dá nome à bactéria e que permite observar sua dinâmica
em tempo real – ela é fastidiosa, no sentido de lenta –, Mônica tem muitos planos
à vista. Eles incluem estudar melhor como a expressão gênica influi na formação
do biofilme, usar o brilho conferido pela
proteína fluorescente verde (GFP, na sigla
em inglês) para enxergar a sua dinâmica e, em consonância com o trabalho de
Alessandra, aprimorar o entendimento
da ação da NAC sobre as propriedades
do biofilme ao longo de sua formação e
desenvolvimento. Isso permitirá detalhar
a sugestão de Marie-Anne, de que os momentos iniciais da infecção são cruciais.
A maior resolução com que os físicos
trabalham ajuda, inclusive, a redefinir
os momentos iniciais do ponto de vista
experimental. Quando Mônica disse a
Alessandra que o biofilme já era detectável, embora ainda com poucas bactérias,
seis horas após a inoculação da bactéria
no meio de cultura, a bióloga recebeu a
informação com descrédito. Afinal, ela só
conseguia enxergar um conjunto de bactérias a partir de cinco dias de incubação.
Mônica ressalta que os avanços obtidos só são possíveis graças à interação
constante, mesmo que esporádica, entre
biólogos e físicos. Como disse um de seus
alunos, depois de uma visita ao IAC: “Eles
pensam diferente”. Esse pensar diferente
é o que gera novas perguntas, novos olhares, e permite encontrar respostas inovadoras. Para ela, o uso de equipamentos
multiusuários, em que a FAPESP investe

bastante, é crucial nesse sentido. “Aprendemos a interagir com outras áreas, não
apenas a usar o equipamento.”
Outra particularidade que a física da
Unicamp vê como importante é o fato de
ambos os laboratórios serem liderados
por mulheres. “E tagarelas”, completa.
As conexões que se revelaram frutíferas surgiram em conversas de hora de
almoço nas quais interesses em comum
vieram à tona e relações de trabalho se
desenharam. Além disso, conta o fato de
serem malabaristas que constantemente equilibram a vida pessoal e a profissional, a maternidade, as amizades e as
colaborações. “As ideias nascem da experiência”, ressalta Mônica, lembrando
a inspiração inicial da colega ao dar xarope ao filho. n
Maria Guimarães

Projetos
1. Características biológicas de Xylella fastidiosa em biofilme: importância de genes de adesão e adaptação na
patogênese (2004/14576-2); Modalidade Programa
Jovem Pesquisador; Coord. Alessandra Alves de Souza/
IAC; Investimento R$ 205.432,59 (FAPESP)
2. Análise estrutural e química de biofilmes de Xylella
fastidiosa (2010/51748-7); Modalidade Linha Regular
de Auxílio a Projeto de Pesquisa; Coord. Mônica Alonso
Cotta/Unicamp; Investimento R$ 187.405,53 (FAPESP)

Artigos científicos
MURANAKA, L. S. et al. N-Acetylcysteine in agriculture,
a novel use for an old molecule: focus on controlling the
plant-pathogen Xylella fastidiosa. PLoS One. v. 8, n. 8,
e72937. ago. 2013.
LORITE, G. S. et al. Surface physicochemical properties
at the micro and nano length scales: role on bacterial
adhesion and Xylella fastidiosa biofilm development. PLoS
One. v. 8, n. 9, e75247. set. 2013.

pESQUISA FAPESP 214  z  61

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Como um xarope expectorante pode controlar a praga da laranja

  • 1. microbiologia y Para pessoas e plantas expectorante pode ser eficaz no controle de praga da laranja E nquanto dava xarope expectorante para o filho gripado, a bióloga Alessandra de Souza teve uma ideia: será que o medicamento poderia tratar a doença de laranjais que ocupa sua mente no âmbito profissional? A inspiração é menos inusitada do que parece quando se imaginam os sintomas da gripe numa criança e a anatomia de um pé de laranja. É que a bactéria Xylella fastidiosa, causadora da clorose variegada dos citros (CVC), também conhecida como praga do amarelinho pelas manchas que deixa nas folhas e nos frutos, toma a planta formando um biofilme que une a comunidade de microrganismos invasores. Romper esse biofilme no início de sua formação pode ser a melhor forma de combater a doença, que causa graves prejuízos à produção nacional de laranjas, afirma a bióloga Marie-Anne Van Sluys, da Universidade de São Paulo (USP), em reportagem na Edição Especial 50 anos da FAPESP. É justamente esse o objetivo de Alessandra, pesquisadora do Centro de Citricultura Sylvio Moreira do Instituto Agronômico de Campinas (IAC), em Cordeirópolis, interior paulista. E ela parece estar no caminho certo, conforme indicam resultados obtidos no mestrado de sua aluna Lígia Muranaka e publicados este ano na PLoS One. “A patogenicidade da Xylella é próxi- eduardo cesar Medicamento
  • 2. 3 2 1 1 Xilema (verde) colonizado por Xylella fastidiosa fotos  1 Alessandra de souza / iac  2 e 3 Richard janissen / unicamp, microscópio infabic 2 e 3 Bactérias vivas, com mutação fluorescente, no microscópio confocal ma à de bactérias que causam infecções em seres humanos, com expressão gênica e mecanismos semelhantes”, afirma Alessandra. Por isso, ela já testou vários tipos de antibióticos, como a tetraciclina e a neomicina. “A Xylella é suscetível a esses medicamentos”, conta, “mas são muito caros para se usar na agricultura”. A pesquisadora explica que a formação do biofilme dentro da planta permite às bactérias se comunicarem entre si e se comportarem como um organismo único. Essa peculiaridade acaba por entupir os vasos do xilema, onde os microrganismos se alojam, e impede a passagem de nutrientes e água das raízes para a copa das árvores. Se é esse o mecanismo de ação da doença, talvez esteja aí mesmo a solução economicamente viável e que não cause impactos ambientais. A N-acetilcisteína (NAC), princípio ativo do xarope que Alessandra deu ao filho, velho conhecido de quem costuma ter problemas respiratórios, é um agente mucolítico – ou seja, desmancha muco. “Ela desfaz o biofilme e desestrutura as proteínas de várias bactérias que infectam seres humanos, como Staphylococcus aureus, Enterococcus faecalis e Pseudomonas aeruginosa”, conta. O medicamento nunca tinha sido usado em plantas, mas sabendo, por meio de estudos do genoma funcional, que muitas das proteínas que promovem a adesão entre as bactérias X. fastidiosa dentro da laranjeira formam ligações entre si graças à cisteína, seu grupo partiu do pressuposto de que a medicação poderia ser eficaz para combater a clorose. No laranjal Deu certo em experimentos in vitro, mas uma coisa é a teoria ou a ação em bactérias cultivadas em placas de vidro no laboratório, outra muito diferente é aplicar o conhecimento às bactérias ativas nos laranjais. No primeiro experimento em plantas inteiras, o grupo de Alessandra aplicou NAC em laranjeiras mantidas num sistema hidropônico, em que as raízes são diretamente expostas à medicação. Os resultados foram promissores: o número de folhas com manchas amarelas e a quantidade de bactérias diminuíram nas plantas medicadas. Mas, para manter o controle, era preciso suprir a planta quase continuamente com o medicamento. Se fosse retirado, em três meses os sintomas voltavam. Um experimento mais realista (“afinal, laranjeiras não crescem em hidroponia”, lembra Alessandra), em que plantas foram irrigadas com uma solução que incluía NAC e, em alguns casos, tinham o fármaco injetado nas raízes, teve resultados semelhantes. Mas a ação positiva do mucolítico era promissora o suficiente para que a equipe, que também incluía pesquisadores da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) e da Universidade Federal de São Carlos (UFSCar), buscasse uma maneira mais eficaz de aplicá-lo. “Fizemos uma parceria sem fins lucrativos com uma empresa de fertilizantes orgânicos”, conta Alessandra. A fabricante, Agrolatino, desenvolveu uma forma de inserir NAC no fertilizante granulado, de maneira que a liberação do medicamento seria gradual. Dessa vez os sintomas tiveram uma redução ainda maior por um tempo mais longo, por volta de oito meses depois da aplicação. Essa solução pode ser viável para controlar a clorose variegada pESQUISA FAPESP 214  z  59
  • 3. 1 1 Os frutos das plantas doentes são menores 2 Inicialmente com os mesmos sintomas, a planta da esquerda foi tratada e melhorou 3 Lesões típicas da CVC nas folhas 2 dos citros em plantações reais, mas Alessandra ainda vê potencial para melhorar. “Estamos estudando como fazer para que a liberação seja ainda mais lenta, usando NAC nanoencapsulado.” Ainda é preciso avaliar a eficácia em campo desse tipo de tratamento, por isso ele está sendo testado em parceria com o setor citrícola. Dentro do xilema A trajetória que Alessandra vem seguindo começa na iniciativa ambiciosa que sequenciou o genoma da X. fastidiosa (ver Edição Especial 50 Anos de FAPESP), quando ela acabara de concluir o mestrado e foi trabalhar no IAC com Marcos Machado, coordenador de um dos grupos de trabalho do projeto em que a FAPESP investiu US$ 12 milhões e que veio a ser um marco da maturidade da comunidade científica brasileira. Ela está entre os 116 autores do artigo publicado na Nature em julho de 2000 com os resultados do primeiro projeto genômico do país e encontrou nesses resultados a substância para seu doutorado, em que investigou os genes envolvidos com a patogenicidade e a formação de biofilme nessa bactéria. Vem daí o título da palestra que apresentou no Congresso Brasileiro de Fitopatologia, que aconteceu em Ouro Preto em outubro deste ano: “O genoma da Xylella fastidiosa: 13 anos após o ‘momento de glória’, onde estamos?”. A resposta muito abreviada é que o investimento numa empreitada controversa, centrada num organismo até então mais afamado (mesmo que mal) entre pro60  z  dezembro DE 2013 dutores de laranjas do que entre pesquisadores, não para de render frutos. E continua a se ramificar em diversas áreas da ciência. Enquanto testa na prática como controlar a doença que é o pesadelo dos citricultores e em 2009 ainda acometia 35% dos laranjais, a mesma cifra registrada uma década antes, Alessandra encontrou na física parceiros para entender em maior detalhe como a X. fastidiosa forma o biofilme que lhe permite infectar as plantas. A pesquisa liderada por Mônica Cotta, da Unicamp, é independente daquela feita no IAC, mas complementar. “Temos agora um modelo de adesão completo, que nos permite entender o que a Xylella faz em todas as superfícies”, conta. A escala é bem diferente, em contraste com os laranjais em que Alessandra espalha o olhar. A principal ferramenta de trabalho da física são microscópios sofisticados, como o de força atômica e o confocal com spinning disk, este último no Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia de Fotônica Aplicada à Biologia Celular (Infabic), coordenado por Hernandes Carvalho, da Unicamp. Com esses equipamentos, o grupo de Mônica consegue observar como as bactérias se comportam em diferentes superfícies, principalmente no que diz respeito à formação do biofilme. Ela está quase conseguindo responder à pergunta fortuita que Alessandra lhe fez quando se conheceram, em 2007: por que elas ficam “de pé” no final do ciclo de cultivo em laboratório, passados 30 dias? Elas são pequenos bastões cilíndricos e de fato ficam apoiadas numa das pontas em determinadas situações, mas o que importa por enquanto é que a abordagem física mostrou que cultivar essa bactéria em placas de vidro para observação ao microscópio eletrônico não é suficiente para entendê-la, já que as condições em que vivem fazem toda a diferença. Mônica fez valer sua expertise em microscopia e usou substratos mais próximos ao natural – dois tipos de celulose –, além do vidro. “Primeiro ela adere, depois secreta os exopolissacarídeos para formar uma cápsula e em seguida o biofilme”, explica. Um artigo publicado em setembro na PLoS One, parte principal do doutorado de Gabriela Lorite, de sua equipe, mostra que o substrato causa variações importantes tanto no formato do
  • 4. Os avanços obtidos só são possíveis graças à interação constante entre biólogos e físicos 3 biofilme como de suas bordas. “Ela adora silício e não gosta de celulose”, conta a física, que construiu sua carreira no estudo de materiais e parece ter se afeiçoado ao organismo que a aproximou do mundo biológico. Entre os dois tipos de celulose que produziu no laboratório, o acetato de celulose é mais rugoso e menos confortável para a Xylella, que não consegue cobrir a superfície toda. Já a etilcelulose tem irregularidades menores, onde a bactéria adere melhor. “São tipos de rugosidade diferentes, como se fossem os Alpes e a serra da Mantiqueira”, compara. fotos  1 Helvecio Della Coletta Filho / iac  2 e 3 Alessandra de souza / iac adesão física Mas a rugosidade não é a variável mais determinante na adesão, e as técnicas acopladas à microscopia permitem manipulações muito minuciosas para detalhar esse processo. Mônica consegue, por exemplo, prender à ponta do microscópio de força atômica uma proteína que a Xylella produz no início do ciclo infeccioso. Ao cutucar as bactérias com essa substância, os pesquisadores as induzem à adesão e medem a força de interação entre o organismo e o substrato. “Verificamos que as bactérias gostam mais de umas regiões do que outras.” No silício e na etilcelulose, os experimentos indicam que quase sempre pelo menos uma das proteínas se liga ao substrato. O mesmo não aconteceu no acetato de celulose, em que a adesão só foi observada em 20% dos casos. A conclusão mais geral do trabalho é que a Xylella tem maior tendência a se fixar em superfícies eletricamente mais uniformes, com carga positiva, além de hidrofílicas (que atraem a água). Os estudos feitos até agora pelo grupo de Mônica são o início da compreensão de como o biofilme se instala e se espraia pelo xilema das laranjeiras. Tirando proveito da característica que dá nome à bactéria e que permite observar sua dinâmica em tempo real – ela é fastidiosa, no sentido de lenta –, Mônica tem muitos planos à vista. Eles incluem estudar melhor como a expressão gênica influi na formação do biofilme, usar o brilho conferido pela proteína fluorescente verde (GFP, na sigla em inglês) para enxergar a sua dinâmica e, em consonância com o trabalho de Alessandra, aprimorar o entendimento da ação da NAC sobre as propriedades do biofilme ao longo de sua formação e desenvolvimento. Isso permitirá detalhar a sugestão de Marie-Anne, de que os momentos iniciais da infecção são cruciais. A maior resolução com que os físicos trabalham ajuda, inclusive, a redefinir os momentos iniciais do ponto de vista experimental. Quando Mônica disse a Alessandra que o biofilme já era detectável, embora ainda com poucas bactérias, seis horas após a inoculação da bactéria no meio de cultura, a bióloga recebeu a informação com descrédito. Afinal, ela só conseguia enxergar um conjunto de bactérias a partir de cinco dias de incubação. Mônica ressalta que os avanços obtidos só são possíveis graças à interação constante, mesmo que esporádica, entre biólogos e físicos. Como disse um de seus alunos, depois de uma visita ao IAC: “Eles pensam diferente”. Esse pensar diferente é o que gera novas perguntas, novos olhares, e permite encontrar respostas inovadoras. Para ela, o uso de equipamentos multiusuários, em que a FAPESP investe bastante, é crucial nesse sentido. “Aprendemos a interagir com outras áreas, não apenas a usar o equipamento.” Outra particularidade que a física da Unicamp vê como importante é o fato de ambos os laboratórios serem liderados por mulheres. “E tagarelas”, completa. As conexões que se revelaram frutíferas surgiram em conversas de hora de almoço nas quais interesses em comum vieram à tona e relações de trabalho se desenharam. Além disso, conta o fato de serem malabaristas que constantemente equilibram a vida pessoal e a profissional, a maternidade, as amizades e as colaborações. “As ideias nascem da experiência”, ressalta Mônica, lembrando a inspiração inicial da colega ao dar xarope ao filho. n Maria Guimarães Projetos 1. Características biológicas de Xylella fastidiosa em biofilme: importância de genes de adesão e adaptação na patogênese (2004/14576-2); Modalidade Programa Jovem Pesquisador; Coord. Alessandra Alves de Souza/ IAC; Investimento R$ 205.432,59 (FAPESP) 2. Análise estrutural e química de biofilmes de Xylella fastidiosa (2010/51748-7); Modalidade Linha Regular de Auxílio a Projeto de Pesquisa; Coord. Mônica Alonso Cotta/Unicamp; Investimento R$ 187.405,53 (FAPESP) Artigos científicos MURANAKA, L. S. et al. N-Acetylcysteine in agriculture, a novel use for an old molecule: focus on controlling the plant-pathogen Xylella fastidiosa. PLoS One. v. 8, n. 8, e72937. ago. 2013. LORITE, G. S. et al. Surface physicochemical properties at the micro and nano length scales: role on bacterial adhesion and Xylella fastidiosa biofilm development. PLoS One. v. 8, n. 9, e75247. set. 2013. pESQUISA FAPESP 214  z  61