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Carla Rêgo Pires Página 1
2010
ESE - PORTO
Mestrado em
Administração de
Organizações
Educativas
Carla Rego Pires
[EDUCAÇÃO INTERCULTURAL
– EDUCAR NA DIVERSIDADE
CULTURAL]
Trabalho realizado sob a orientação do Professor Doutor Fernando Diogo, no
âmbito da unidade curricular Currículo e Gestão Curricular.
Carla Rêgo Pires Página 2
Índice:
ÍNDICE: 2
1. INTRODUÇÃO: 3
2. CULTURA DE ESCOLA: 4
3. A ESCOLA E A DIVERSIDADE CULTURAL: 6
4. O LUGAR DA ESCOLA E DO CURRÍCULO NA EDUCAÇÃO INTERCULTURAL: 8
4.1 A RESPOSTA DA ESCOLA: 9
4.2 ALTERNATIVAS CURRICULARES: 10
5. GLOBALIZAÇÃO E DIVERSIDADE: O PAPEL DO PROFESSOR: 12
6. BIBLIOGRAFIA: 15
Carla Rêgo Pires Página 3
1. Introdução:
Aspiro com este texto abordar o lugar da Escola, dos seus actores educativos e do
currículo na estruturação de uma educação multicultural, procurando compreender a relação
entre a Escola e a Cultura Escolar.
A Escola tem pretendido respostas e evoluções nas suas concepções educativas. O
contacto de diferentes raças, etnias e culturas de base por parte dos discentes tem vindo a
crescer dada a abertura política à emigração. Interagir neste melting pot traz consequências no
desenvolvimento do currículo e na actuação dos docentes na sua aplicação. É imperativo atender
à diversidade e à educação intercultural numa Escola que se afirma para todos.
De acordo com a Lei de Bases do Sistema Educativo, «Todos os portugueses têm direito à
educação, à cultura, nos termos da Constituição da República», art.2º. Ora, aqui reside o desafio
da Escola, atender a todos, num mesmo local, com as mesmas condições, mas para um leque
diversificado de indivíduos que buscam sapiência no usufruto pleno da sua cidadania.
Assim, a abordagem desta temática da diversidade cultural é actual e fulcral a partir do
momento em que a Escola busca respostas num ensino integrador e respeitador das diferenças.
Aliás, a própria escola tem a sua identidade, rodeada por uma comunidade diferente das outras
no plano geográfico, económico e até cultural. A comunidade educativa contempla idiossincrasias
que a identificam numa sociedade heterogénea. Seria contraproducente não fazer um trabalho
diversificado, envolvendo actividades realizadas em grupo ou individuais, no sentido de se
favorecer a riqueza da troca de experiências, tão importante no crescimento de cada um.
Os indivíduos são o resultado de influências exteriores que recebem num espaço e num
tempo específico. Ao professor cabe o papel de ponderar e aplicar a democratização do ensino,
«garantindo o direito a uma justa e efectiva igualdade de oportunidades no acesso e sucesso
escolares», LBSE.
Os desafios no sentido de diversificarmos o trabalho docente são o currículo e a
interdisciplinaridade, mobilizadora de potencialidades; e uma necessidade de rasgar o sistema
convencional de ensino e promover diferentes sapiências em diferentes níveis de ensino. Olhar
para a diferença cultural com curiosidade e respeito por costumes, rituais e crenças que não são
Carla Rêgo Pires Página 4
da maioria, mas que devem ser privilegiados para que se possa estabelecer uma relação real
entre o que se ensina e a quem se ensina.
2. Cultura de Escola:
A Escola apresenta-se-nos como um campo de batalha cultural onde o vitorioso é aquele
que joga em casa. Na verdade, ainda hoje, se esquece a promoção de um intercâmbio cultural
em prol de uma perpetuação da cultura da maioria.
A concepção de Cultura torna-se fundamental na procura da compreensão da Escola e do
seu modo de funcionar. Os actores educativos e a própria organização escolar existem em
função de um tempo e de um espaço, logo, sob influências diversas que pautam a sua
identidade.
Ao não ser hermética, a Escola absorve conhecimentos e transmite-os, ou melhor dizendo,
trabalha-os dogmaticamente e desencadeia um diálogo constante com a comunidade educativa.
É deste contacto profícuo que se desenvolvem os conteúdos da educação, tais como hábitos,
valores, normas e competências. A Escola produz saberes, mas também os reproduz numa
dialéctica aberta à inclusão.
Aqui reside a diferença da organização escolar das demais – o melting pot cada vez mais
heterogéneo, reflectivo de uma encruzilhada de culturas providas de minorias que fazem parte do
nosso sistema educativo.
É da responsabilidade da Escola a sociabilização de todos, logo não poderá anular-se o
conteúdo cultural das minorias, promovendo-se apenas a cultura de base nacional. Até porque,
ao fazê-lo, estaria a ser deturpada a identidade escolar única e individual.
A intercessão deve ser reflexiva, não facultando a imposição de valores, crenças,
costumes e, mesmo, estereótipos estranguladores do direito a uma educação que «promove o
desenvolvimento do espírito democrático e pluralista, respeitador dos outros e das suas ideias,
aberto ao diálogo e à livre troca de opiniões, formando cidadãos capazes de julgarem com
espírito crítico e criativo o meio social em que se integram e de se empenharem na sua
transformação progressiva». (LBSE; artº2)
Carla Rêgo Pires Página 5
Ora, são destas condicionantes que surgem modelos de cidadania abertos a todas as
influências. O modo como este aspecto é trabalhado em contexto escola é primordial no
desenvolvimento cognitivo dos discentes, assim como da sua integração futura na sociedade
laboral, que se quer interventiva e proactiva.
A própria massificação da escolaridade e o seu alargamento democrático implicou que se
fosse abandonando a ideia de um ensino igualitário como sinónimo de democrático. Na verdade,
ao anularmos a individualidade, multiplicamos a desigualdade.
Presentemente, a Escola tem vindo a procurar responder a esta nova visão de cultura de
escola, afastando-se do ensino direccionado para o saber sobre, apostando mais no saber fazer.
O papel do docente é fundamental. Embora com uma formação académica teoricista e
tendencial no sentido de promover um ensino de massas, tem de se apostar numa formação
contínua direccionada para a abertura curricular à diversidade.
Compete à organização escolar a promoção de espaços de debate, reflexão e cooperação
entre pares e restantes membros da comunidade educativa, no sentido de se encontrarem
caminhos que, não desrespeitando a cultura nacional, cruzem, num mesmo espaço, projectos de
interesse a todos os envolvidos. Não podemos permitir que se martirize o que resiste à cultura
nacional, mas compreender e procurar interagir positivamente.
Cooperação será o sustentáculo de uma aprendizagem efectiva. A identidade da escola
construir-se-á a partir de relações e interacções entre os agentes educativos.
A cultura de escola será aquela que referencia valores, intenções, requisitos e
propósitos dos seus elementos.
A cultura escolar é activa e plural, pois implica mudanças ideológicas, comportamentais e,
mesmo, sentimentais, diminuindo o obstáculo a uma mudança efectiva. Importa, agora, falar em
Projecto Educativo e Cultura de Escola como uma dupla de conceitos fundamentais na definição
de identidades primordiais no rumo à integração dos actores na vida da escola.
O Projecto Educativo contribui para o desenvolvimento de um ensino de qualidade, ao
introduzir coesão e conformidade na acção educativa numa partilha de valores, numa visão
comum de objectivos a ansiar. O Projecto Educativo é, na verdade, um documento de base à
política educativa defendida pela organização escolar. Como complementaridade cultural, o
Carla Rêgo Pires Página 6
Projecto Educativo contempla a identidade, imagem, valores e projectos que tornam cada escola
singular.
Esta singularidade existe na relação com os encarregados de educação, nas actividades
escolares, na realização de projectos comunitários, na celebração de datas específicas, na
apresentação da escola a novos elementos, enfim, em todos os actos que a caracterizam e que
se moldam em função de um público-alvo. Compete à Escola mediar este diálogo que se quer
permanente e conseguir equilibrar sentimentos, condutas sociais e, principalmente, promover
uma integração social dos discentes, afastando-se dos desequilíbrios de práticas educativas
alheias à diferença e centradas num ensino igualitário que não tira partido da magnificência do
multiculturalismo.
3. A Escola e a Diversidade Cultural:
Perceber que a Escola é um espaço de transferência de culturas implica aceitar a
diversidade de actores que por ela transitam e nela se reflectem. Esta intersecção cria situações
de tensão e salienta contrastes que, se não forem vistos num prisma de abertura, levam a
situações de parcialidade educativa.
A Escola representa um conjunto diversificado de conhecimentos e saberes, vivenciados
num espaço social e cultural partilhado por uma heterogeneidade de indivíduos. Estes devem ter
um espírito reflexivo e crítico, mas expressar o seu próprio pensamento sem atitudes de
superioridade perante a minoria. Esta miscelânea existente nas escolas recria a identidade
cultural de modo democrático se for aceite com orientações nesse sentido. Compete a todos os
actores, onde incluo a Escola e a Família, apelar a esta partilha de identidades culturais e
consequente convívio entre todas. A relação Escola/Família será fulcral neste processo de
sociabilização e na criação de vínculos entre todos os elementos da comunidade em questão.
Parece inevitável que se pense a questão do Currículo como um elemento onde seja
reflectido as motivações e carências dos discentes. Aqui a colaboração com entidades exteriores
à Escola, mas conhecedoras das características de minorias que a frequentam, parece ser
positiva no trabalho de se efectivar um currículo intercultural, promotor de sucesso escolar,
aproximando e escola e a comunidade num trabalho de partilha e cooperação intercomunitárias.
Carla Rêgo Pires Página 7
Há que conhecer, respeitar, tecer atitudes críticas construtivas e transformar
responsavelmente, promovendo o usufruto de uma cidadania plena. A Escola mediatiza esta
troca significativa entre os indivíduos em processo de formação, mas também entre corpo
docente cuja sensibilidade para estas questões tem de ser trabalhada. Actualmente parte-se
muito para um ensino reprodutor de conhecimentos, numa sociedade conservadora e única.
A Escola deverá participar na divulgação de interculturalidades dada a sua população
escolar ser cada vez mais heterogénea. A organização escolar, hoje, continua a fazer turmas
com alunos agrupados em função das idades e dos conhecimentos. Estes aprendem os mesmos
conteúdos, num mesmo espaço físico e temporal. De seguida são submetidos aos mesmos
exames nacionais e respondem às mesmas questões. Agrupam-se em rankings que ignoram a
identidade de cada organização escolar, nem contemplam as idiossincrasias da comunidade
circundante - a este sistema chama-se ensino democrático.
É certo que a massificação do ensino que ocorreu pós 25 de Abril de 1974 criou
dificuldades às escolas. Foi necessário encontrarem-se estruturas logísticas e criarem-se normas
que possibilitasse aos docentes ministrar conjuntamente a tantos alunos.
Agora há que repensar estes valores que se creram elementares, mas que já não
respondem à crescente função socializadora da Escola. Hoje pensa-se que é importante ajustar
as práticas pedagógicas a uma disparidade social e cultural de alunos. Fala-se em respeito, mas
sobretudo em igualdade efectiva de oportunidades de sucesso académico e social.
A coabitação sociocultural implica tolerância e aceitação do pluralismo. Parece evidente
que há necessidade de uma intervenção política no caminho que se tem vindo a percorrer, mas
cada escola pode traçar o seu caminho na promoção de uma relação justa entre as diversidades
culturais.
O diálogo começa na sala dos professores e, só depois, será levado até ao contexto sala
de aula. A preparação do aluno está nas mãos do professor que se quer alerta para estas
problemáticas e em formação permanente no sentido de melhorar a sua aptidão académica e
profissional. Reconhecer as culturas e aceitar diferenças levará à divulgação de valores comuns
num futuro em conjunto.
Democratizar o ensino será comunicar em várias línguas e vários dialectos. Importa abrir a
Escola ao desafio e procurar uma cultura que seja capaz de interagir com outras, mobilizar os
Carla Rêgo Pires Página 8
seus elementos, socializar e integrar pacificamente. A Escola deve reconhecer a necessidade da
mudança permanente e, consequente, busca de equilíbrio.
A aprendizagem não está apenas relacionada com aspectos biológicos dos indivíduos,
mas com estímulos recebidos ao longo da vida. Cada um tem a sua identidade particular e única,
reflexiva de factores exteriores que a escola não pode anular. Como diz Morin1
, «a cultura é
constituída pelo conjunto de saberes, fazeres, regras, normas, proibições, estratégias, crenças,
ideias, valores, mitos, que se transmitem de geração em geração, se reproduzem em cada
individuo, controlam a existência da sociedade e mantém a complexidade psicológica e social
(…) Assim, sempre existe a cultura nas culturas, mas a cultura existe apenas por meio de
culturas».
4. O lugar da Escola e do Currículo na
Educação Intercultural:
Neste panorama de ideias, e citando Forquin (1989), «o pensamento pedagógico
contemporâneo não se pode esquivar de uma reflexão sobre a questão da cultura e dos
elementos culturais dos diferentes tipos de escolhas educativas». Ora, o saber é reflectido e
contextualizado na organização educativa. As escolas e o modo como transmitem conhecimentos
caracterizam as suas intenções pedagógicas que devem ser interculturais, criando experiências
nas quais a apropriação do saber se intersecciona com identidades culturais. Neste sentido, deve
haver investimento no corpo docente que deverá adaptar as suas atitudes pedagógicas à
instituição onde estão inseridos. Não podemos desprezar a problemática dos conteúdos e
programas curriculares, assim como também dos meios físicos e materiais que condicionam esta
adaptação, muitas vezes beneficiando desigualmente as culturas dos discentes da organização.
Presentemente, a Escola está atenta a estas diferenças e à necessária igualdade de
oportunidades, daí que o trabalho pedagógico tenha vindo a ser desenvolvido em torno de
valorização e produção cultural da escola.
1
Morin, Edgar. Os sete saberes necessários à educação do futuro. São Paulo: Cortez, 2001.
Carla Rêgo Pires Página 9
4.1 A resposta da Escola:
Compreendemos que a diversidade é natural à espécie humana: seres humanos são
dissemelhantes nas suas práticas culturais, são particulares nas suas personalidades e são
também variados nas suas formas de conceber o mundo. Os seres humanos apresentam, ainda,
multiplicidade biológica.
Ora, ao estarem integrados na Escola, terá de ser aqui que se defende o direito de todos à
educação e formação e o direito à igualdade de oportunidades, logo não se pode negligenciar
este multiculturalismo nem as diversidades referidas
. Sabemos que a educação escolar é um factor fundamental no desenvolvimento do
indivíduo como pessoa e como ser social, daí que seja importante a promoção de um currículo
que responda às diversidades.
Os currículos e rotinas escolares que promovem este aspecto aproximam-se mais da
riqueza da diversidade humana, cultural e social, melhorando os processos de socialização de
todos. Sem diferenciação pedagógica teremos cada vez mais desigualdades que se acentuam.
Relativamente à diversidade cultural, somos diferentes, mas algo análogos. Há
comportamentos partilhados e outros que se apresentam como um desafio no caminho para a
convivência. A diversidade constrói-se num contexto social, histórico e político que tem de ser
trabalhado num diálogo aberto e susceptível de reinterpretações.
O Currículo reflecte essas reinterpretações e pontos de vista, levados em consideração
nas atitudes pedagógicas, nas relações sociais que se estabelecem nos actores que preenchem
determinado espaço escolar. O Currículo não é um processo de transmissão de conteúdos
programáticos, é, sim, um reflector de carácter político, histórico e social, onde se criam relações
de poder entre grupos sociais distintos. Assim, o Currículo é um conjunto de ideias, experiências
e práticas que se definem entre actores que partilham relações de poder efectivas.
O Currículo reflecte o facto de aos alunos lhes ter sido aceite o direito à diversidade na
própria Lei de Bases do Sistema Educativo - «O sistema educativo organiza-se de forma a: d)
Assegurar o direito à diferença, mercê do respeito pelas personalidades e pelos projectos
individuais da existência, bem como da consideração e valorização dos diferentes saberes e
culturas», Artº3º.
Carla Rêgo Pires Página 10
Um dos aspectos presentes na Educação será a questão da política educacional num
panorama onde a Escola é vista como um espaço de socialização e inserção social numa
pluralidade cultural.
A aceitação deste facto permite o reconhecimento da cultura do professor, do aluno e da
comunidade da qual a organização faz parte. Ao reconhecermos as diversidades culturais em
todos os seus prismas – históricos, culturais e sociais – aceitamos a necessidade de um novo
modelo curricular: «A política curricular do ME deve, como é hoje admitido no discurso oficial,
reservar à escola opções e decisões acerca de o que ensinar e de quando ensinar e não apenas
acerca de como ensinar. Isto é, o currículo oficialmente prescrito deve ser aberto» (Diogo,
Fernando)2
Salvaguarde-se que o facto de as escolas perceberem a necessidade de interagirem com
a comunidade circundante e de desenvolverem o currículo em projectos interdisciplinares não
afasta a predomínio de um ensino ainda muito centrado na transmissão de conhecimentos e
menos na construção de saberes sobre o mundo que rodeia os discentes, facilitadores da sua
integração social.
Hoje é pertinente que se criem interacções em toda a estrutura da organização escolar. A
ligação Escola/Sociedade deve ser significativa e promotora do desenvolvimento de
competências, distantes da lógica da reprodução de saberes cognitivos.
4.2 Alternativas Curriculares:
Ao falarmos de diversidade curricular e igualdade de oportunidades somos levados a
pensar em alternativas curriculares promotoras destes princípios ideológicos e perceber qual o
papel do professor neste contexto de heterogeneidades.
À priori, percebemos que a existência de diversidades implica mudanças no currículo;
mudanças políticas; ideológicas e individuais. Há que repensar os discentes em todas as suas
vertentes, isto é, nas suas identidades e modos de interagiram.
Não esquecendo que a diversidade é uma grandeza social, compete à escola/professores
nutrir respeito e defender idiossincrasias. As atitudes pedagógicas dos docentes devem ser
2
DIOGO, Fernando (2007/08) «Teoria do Currículo e Desenvolvimento Curricular», Textos de Apoio: 33.
ESE
Carla Rêgo Pires Página 11
fundamentadas por estas directrizes, compreendendo que a educação é um direito básico a todo
o ser humano, assim como a igualdade de oportunidades.
Assim sendo, a escola deve criar condições para que o direito universal à Educação e
igualdade de oportunidades, em conjunto com o respeito pelas individualidades dos alunos seja
um facto concreto. A flexibilização curricular dos currículos alternativos é prioritária no tratamento
deste facto.
Os currículos alternativos são uma forma de adequar e adaptar o currículo padrão à
diversidade dos discentes. Não é um currículo menor que se destina a alunos com dificuldades
de aprendizagem ou de integração escolar. Estes currículos apostam em finalidades sociais e
resolução de problemas de integração trazidas em consequência da massificação da
escolaridade.
O currículo alternativo não será mais do que uma medida para evitar a exclusão e o
abandono escolar, criando-se inclusivamente um maior envolvimento dos docentes que se
sentem mais realizados perante o sucesso dos seus clientes.
A flexibilização curricular reflectida no currículo alternativo resulta de posições críticas,
principalmente dos docentes, face à problemática inerente aos alunos que manifestam maiores
dificuldades de aprendizagem e integração social. A escola terá a possibilidade, na plenitude da
sua autonomia, de colmatar estas situações de desigualdade. Não é tarefa fácil, até porque
estamos a falar de um sem número de desigualdades às quais é necessário responder –
culturais, étnicas, sociais, cognitivas, individuais, etc. Mas, na verdade, o direito do aluno
escolher o seu percurso educativo e o reconhecimento das diferenças transformou a educação
de massas e alterou a visão sobre o currículo prescrito, em busca de dinâmicas de inclusão
efectivas na organização escolar.
A flexibilização curricular é uma forma de se enfrentar a reprodução de desigualdades
entre os alunos e atenuar as próprias desigualdades sociais. É certo que a Escola não poderá
solucionar todos os problemas relacionados com a estratificação social, mas pode dissipá-los. Ao
promover estes currículos promove a integração social tendo como base as expectativas dos
alunos e as suas condições individuais. Ao persistirmos em divulgar um currículo padrão prescrito
a nível nacional sentenciamos os alunos ao insucesso escolar e, consequentemente, ao
insucesso social. A intenção da Escola falha e a escola, enquanto promotora de igualdade de
oportunidades, deixa de fazer sentido.
Carla Rêgo Pires Página 12
O currículo tem de ter significado e ser objectivamente claro para os seus destinatários. Na
verdade, a diferenciação curricular acontece no Projecto Curricular de Escola e, por conseguinte,
no Projecto Curricular de Turma, pois ambos dever ser responsáveis pela aceitação de
identidades específicas e respeitá-las de forma a promover o sucesso de todos. É clara uma
responsabilização nesta flexibilização do currículo do órgão de gestão da organização. Este
processo engloba todos actores da organização, principalmente os professores e implica um uso
da autonomia curricular inerente à autonomia das escolas. A configuração de currículos
específicos ao público a que se destinam implica um trabalho docente acentuado, assim como
também alterações a nível da organização do sistema educativo e da aplicação do currículo na
escola.
Saliente-se que o facto de um aluno estar integrado num currículo alternativo não implica
que não possa prosseguir estudos superiores futuramente.
5. Globalização e Diversidade: O papel do
professor:
O currículo prescrito torna acessível para todos aprendizagens e competências
fundamentais. Este promove a distribuição de pré-requisitos para se apreender outras
aprendizagens importantes numa escola democrática e inclusiva. No entanto, não podemos
educar todos os alunos indiscriminadamente, sob o prejuízo de se desvalorizar o diálogo entre
culturas identificativas da comunidade onde o aluno está inserido.
Estamos numa era de globalização social/geográfica. Eliminaram-se fronteiras culturais e
formaram-se micro sociedades em espaços concretos. Hoje vive-se a concretização de
identidades históricas, sociais, étnicas e culturais em espaços de partilha e compromisso entre as
partes envolvidas.
A escola é um espaço privilegiado neste diálogo, uma vez que ao ser massificada e
obrigatória, tornou-se um local de preparação das crianças e dos jovens para a integração social
no mundo dos adultos.
A homogeneidade não existe, daí que se fale em conflitos entre a globalização e a
diversidade, mas é destes conflitos que sai um enriquecimento cultural. Aliás, o acto educativo
Carla Rêgo Pires Página 13
não é simples. Já não se fala apenas em transmissão de conhecimentos do currículo oficial de
modo linear.
Hoje não se esquecem as singularidades, isto é, as subjectividades não ponderadas no
currículo nacional. Ora, insistirmos num currículo único seria negar o processo de globalização e
falhar nos princípios da própria escola de massas – igualdade de oportunidades e afastamento
da exclusão social.
5.1 O Professor:
O professor adquire um papel primordial neste processo de organização curricular em torno das
idiossincrasias da comunidade onde a escola está integrada. Ao currículo oficial nacional terá de
acrescentar um diálogo entre culturas e promover trocas saudáveis entre todos os actores. A
partir daqui poderá haver uma apropriação de conhecimentos e competências que a escola quer
divulgar. O conhecimento é trabalhado e adaptado à realidade, na verdade, há uma modelação
do currículo oficial feita pelo professor que se torna um investigador/observador participante.
O contacto in loco com os alunos em contexto sala de aula e escola facilita o acesso do professor
à análise das competências de cada um. O professor fará o filtro do sistema escolar, educativo e
social, criando ligações,contactos cognitivos e culturais positivos.
Como um espaço multicultural, a Escola será a possibilidade de se mostrarem todas as
identidades necessárias na estruturação das aprendizagens dos alunos. O Professor terá de ter
vontade em investigar no conhecimento dos seus discentes e resolver diariamente o conflito
entre a globalização e a diversidade. Ao apostar no respeito e consideração pela diferença faz do
currículo oficial o início de um currículo vivido plenamente pelos alunos no processo de coesão e
integração social.
6. Conclusão:
A educação intercultural tem subjacente uma gestão flexível do currículo de
suma importância na Escola e na actuação dos professores nas adaptações
curriculares que devem fazer. Fala-se numa adequação do trabalho docente à
diversidade dos contextos culturais no sentido de se atingir um ensino mais capaz de
promover a igualdade de oportunidades. É imperativo perceber que cada escola tem de
Carla Rêgo Pires Página 14
ter um projecto educativo específico para a sua comunidade, logo terá de exercitar o
seu direito à autonomia escolar.
Os professores necessitam de participar nesta configuração de um ensino
menos centralizado. Educar é mais do que passar conhecimentos académicos; é
instruir sob o ponto de vista individual e social – eis o novo paradigma da escola
inclusiva.
Ora, é no exercício de interdisciplinaridade que o currículo vivido se integra mais
capazmente e se afasta do ensino monodisciplinar de até então.
A Escola abre-se à comunidade, criando relações entre ela e os seus elementos
que deverão ser tidas em conta quando se integram alunos oriundos de culturas, etnias
e raças diferentes. A criação de turmas de Percursos Alternativos e as Adaptações
Curriculares são as respostas, entre outras, como os Cursos de Formação Profissional,
que a escola procura no sentido de permitir a estes alunos uma escolha mais
adequada às suas expectativas de futuro laboral. No entanto, em momento algum lhe é
retirada a possibilidade de prosseguirem estudos a avançarem na sua vida académica.
Isto não seria possível se executássemos o currículo prescrito como único.
Para além de educar a escola procura nesta flexibilização curricular instruir os
discentes, mostrando aos docentes a possibilidade de livremente desenvolverem
processos significativos de transmitirem conteúdos, sem isolarem os alunos da sua
identidade cultural. Há, claramente, um afastamento das práticas lectivas uniformes,
quase estandardizadas.
No processo de globalização que se tem vindo a realizar deixou de ser profícuo
definir os mesmos objectivos, conteúdos, usar os mesmos materiais educativos e
organizar a carga lectiva nos mesmos moldes. Há que respeitar heterogeneidades,
estruturando dinâmicas de inclusão e interacção pedagogicamente diferenciadas.
Nesta perspectiva, torna-se imprescindível reconhecer à escola a sua
autonomia, e fazê-la acreditar que pode ser inovadora, mudando a visão que alguns
alunos nutrem pela escola. Os projectos curriculares, se adequados pelos professores,
são funcionais e promovem uma educação escolar de qualidade na construção de
saberes prescritos e vividos, só assim gerando inovação, integração e aproveitamento
de recursos no caminho para o sucesso de todos.
Carla Rêgo Pires Página 15
Citando Diogo (2004)3
, «A gestão flexível do currículo pressupõe e exige um
professor reflexivo e colaborativo que centre as suas preocupações e a sua acção na
aprendizagem e não no ensino, partilha conhecimento e interrogações, assume
responsabilidades e desafios e investiga com os seus pares os caminhos da
adequação educativa aos seus destinatários».
6. Bibliografia:
ALVES-Pinto,C (1995): Sociologia da Escola, Lisboa: MacGraw-Hill
BENAVENTE, A (1994): Renunciar à Escola: O abandono escolar no ensino básico. Lisboa: Fim
de Século
BARROSO, João, (1995): Para o desenvolvimento de uma cultura de participação na escola.
Cadernos de organização e gestão escolar; Ministério da Educação.
CARDOSO, Carlos (1996): Educação Multicultural – Percursos para Práticas
Reflexivas, Lisboa: Texto Editora.
CARDOSO, Carlos (coord). (1998): “Gestão Intercultural do Currículo”,
Colecção Educação Intercultural, l, Lisboa: Secretariado Coordenador dos
Programas de Educação Multicultura, Ministério da Educação.
CARDOSO, Carlos (2001) : Que sorte, ciganos na nossa escola!; Colecção Interface. Lisboa:
Secretariado Entreculturas, Ministério da Educação.
CARVALHO,A. E DIOGO, F. (1994): Projecto Educativo. Porto, Afrontamento.
CHIAVENATO, I., (1993). Introdução à Teoria Geral da Administração, S.
Paulo, McGraw-Hill.
COSTA, J. A. (1993): Para que serve o projecto educativo da escola?, Correio
Pedagógico, Porto, Asa.
3
DIOGO, Fernando (2004) Comunicação em Seminário organizado pela Câmara Municipal de
Mangualde.
Carla Rêgo Pires Página 16
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Secretariado Coordenador dos programas da Educação Multicultural, Lisboa
Ministério da Educação.
FORMOSINHO, J. (1991). Currículo e Cultura Escolar. Porto, Edições ASA.
FORQUIN, J. C. (1989). École et culture. Le point de vue des sociologues britaniques, Bruxelles:
Ed. De Boeck Université. McCARTHY, C. (1994).
HARGREAVES, A., (1998): Os Professores em Tempos de Mudança – O
Trabalho e a Cultura dos Professores na Idade Pós-Moderna, Lisboa:MacGraw-Hill.
LIMA, L. (1992) : A escola como organização e a participação na organização
escolar, Braga, Universidade do Minho.
LEITE, Carlinda (2000): “A Flexibilização Curricular na Construção de uma
Escola mais Democrática e mais Inclusiva” in Território Educativo, n.º 7,
Porto, Revista da Direcção Regional De Educação do Norte.
LEITE, Carlinda (2002): Currículo e o Multiculturalismo no Sistema Educativo
Português, Textos Universitários de Ciências Sociais e Humanas, Lisboa,Fundação Calouste
Gulbenkien.
VIEIRA, Ricardo, (1995): “Mentalidades, Escola e Pedagogia Intercultural”:
Revista de Educação, Sociedade e Cultura, n.º 4, 127-147.
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  • 1. Carla Rêgo Pires Página 1 2010 ESE - PORTO Mestrado em Administração de Organizações Educativas Carla Rego Pires [EDUCAÇÃO INTERCULTURAL – EDUCAR NA DIVERSIDADE CULTURAL] Trabalho realizado sob a orientação do Professor Doutor Fernando Diogo, no âmbito da unidade curricular Currículo e Gestão Curricular.
  • 2. Carla Rêgo Pires Página 2 Índice: ÍNDICE: 2 1. INTRODUÇÃO: 3 2. CULTURA DE ESCOLA: 4 3. A ESCOLA E A DIVERSIDADE CULTURAL: 6 4. O LUGAR DA ESCOLA E DO CURRÍCULO NA EDUCAÇÃO INTERCULTURAL: 8 4.1 A RESPOSTA DA ESCOLA: 9 4.2 ALTERNATIVAS CURRICULARES: 10 5. GLOBALIZAÇÃO E DIVERSIDADE: O PAPEL DO PROFESSOR: 12 6. BIBLIOGRAFIA: 15
  • 3. Carla Rêgo Pires Página 3 1. Introdução: Aspiro com este texto abordar o lugar da Escola, dos seus actores educativos e do currículo na estruturação de uma educação multicultural, procurando compreender a relação entre a Escola e a Cultura Escolar. A Escola tem pretendido respostas e evoluções nas suas concepções educativas. O contacto de diferentes raças, etnias e culturas de base por parte dos discentes tem vindo a crescer dada a abertura política à emigração. Interagir neste melting pot traz consequências no desenvolvimento do currículo e na actuação dos docentes na sua aplicação. É imperativo atender à diversidade e à educação intercultural numa Escola que se afirma para todos. De acordo com a Lei de Bases do Sistema Educativo, «Todos os portugueses têm direito à educação, à cultura, nos termos da Constituição da República», art.2º. Ora, aqui reside o desafio da Escola, atender a todos, num mesmo local, com as mesmas condições, mas para um leque diversificado de indivíduos que buscam sapiência no usufruto pleno da sua cidadania. Assim, a abordagem desta temática da diversidade cultural é actual e fulcral a partir do momento em que a Escola busca respostas num ensino integrador e respeitador das diferenças. Aliás, a própria escola tem a sua identidade, rodeada por uma comunidade diferente das outras no plano geográfico, económico e até cultural. A comunidade educativa contempla idiossincrasias que a identificam numa sociedade heterogénea. Seria contraproducente não fazer um trabalho diversificado, envolvendo actividades realizadas em grupo ou individuais, no sentido de se favorecer a riqueza da troca de experiências, tão importante no crescimento de cada um. Os indivíduos são o resultado de influências exteriores que recebem num espaço e num tempo específico. Ao professor cabe o papel de ponderar e aplicar a democratização do ensino, «garantindo o direito a uma justa e efectiva igualdade de oportunidades no acesso e sucesso escolares», LBSE. Os desafios no sentido de diversificarmos o trabalho docente são o currículo e a interdisciplinaridade, mobilizadora de potencialidades; e uma necessidade de rasgar o sistema convencional de ensino e promover diferentes sapiências em diferentes níveis de ensino. Olhar para a diferença cultural com curiosidade e respeito por costumes, rituais e crenças que não são
  • 4. Carla Rêgo Pires Página 4 da maioria, mas que devem ser privilegiados para que se possa estabelecer uma relação real entre o que se ensina e a quem se ensina. 2. Cultura de Escola: A Escola apresenta-se-nos como um campo de batalha cultural onde o vitorioso é aquele que joga em casa. Na verdade, ainda hoje, se esquece a promoção de um intercâmbio cultural em prol de uma perpetuação da cultura da maioria. A concepção de Cultura torna-se fundamental na procura da compreensão da Escola e do seu modo de funcionar. Os actores educativos e a própria organização escolar existem em função de um tempo e de um espaço, logo, sob influências diversas que pautam a sua identidade. Ao não ser hermética, a Escola absorve conhecimentos e transmite-os, ou melhor dizendo, trabalha-os dogmaticamente e desencadeia um diálogo constante com a comunidade educativa. É deste contacto profícuo que se desenvolvem os conteúdos da educação, tais como hábitos, valores, normas e competências. A Escola produz saberes, mas também os reproduz numa dialéctica aberta à inclusão. Aqui reside a diferença da organização escolar das demais – o melting pot cada vez mais heterogéneo, reflectivo de uma encruzilhada de culturas providas de minorias que fazem parte do nosso sistema educativo. É da responsabilidade da Escola a sociabilização de todos, logo não poderá anular-se o conteúdo cultural das minorias, promovendo-se apenas a cultura de base nacional. Até porque, ao fazê-lo, estaria a ser deturpada a identidade escolar única e individual. A intercessão deve ser reflexiva, não facultando a imposição de valores, crenças, costumes e, mesmo, estereótipos estranguladores do direito a uma educação que «promove o desenvolvimento do espírito democrático e pluralista, respeitador dos outros e das suas ideias, aberto ao diálogo e à livre troca de opiniões, formando cidadãos capazes de julgarem com espírito crítico e criativo o meio social em que se integram e de se empenharem na sua transformação progressiva». (LBSE; artº2)
  • 5. Carla Rêgo Pires Página 5 Ora, são destas condicionantes que surgem modelos de cidadania abertos a todas as influências. O modo como este aspecto é trabalhado em contexto escola é primordial no desenvolvimento cognitivo dos discentes, assim como da sua integração futura na sociedade laboral, que se quer interventiva e proactiva. A própria massificação da escolaridade e o seu alargamento democrático implicou que se fosse abandonando a ideia de um ensino igualitário como sinónimo de democrático. Na verdade, ao anularmos a individualidade, multiplicamos a desigualdade. Presentemente, a Escola tem vindo a procurar responder a esta nova visão de cultura de escola, afastando-se do ensino direccionado para o saber sobre, apostando mais no saber fazer. O papel do docente é fundamental. Embora com uma formação académica teoricista e tendencial no sentido de promover um ensino de massas, tem de se apostar numa formação contínua direccionada para a abertura curricular à diversidade. Compete à organização escolar a promoção de espaços de debate, reflexão e cooperação entre pares e restantes membros da comunidade educativa, no sentido de se encontrarem caminhos que, não desrespeitando a cultura nacional, cruzem, num mesmo espaço, projectos de interesse a todos os envolvidos. Não podemos permitir que se martirize o que resiste à cultura nacional, mas compreender e procurar interagir positivamente. Cooperação será o sustentáculo de uma aprendizagem efectiva. A identidade da escola construir-se-á a partir de relações e interacções entre os agentes educativos. A cultura de escola será aquela que referencia valores, intenções, requisitos e propósitos dos seus elementos. A cultura escolar é activa e plural, pois implica mudanças ideológicas, comportamentais e, mesmo, sentimentais, diminuindo o obstáculo a uma mudança efectiva. Importa, agora, falar em Projecto Educativo e Cultura de Escola como uma dupla de conceitos fundamentais na definição de identidades primordiais no rumo à integração dos actores na vida da escola. O Projecto Educativo contribui para o desenvolvimento de um ensino de qualidade, ao introduzir coesão e conformidade na acção educativa numa partilha de valores, numa visão comum de objectivos a ansiar. O Projecto Educativo é, na verdade, um documento de base à política educativa defendida pela organização escolar. Como complementaridade cultural, o
  • 6. Carla Rêgo Pires Página 6 Projecto Educativo contempla a identidade, imagem, valores e projectos que tornam cada escola singular. Esta singularidade existe na relação com os encarregados de educação, nas actividades escolares, na realização de projectos comunitários, na celebração de datas específicas, na apresentação da escola a novos elementos, enfim, em todos os actos que a caracterizam e que se moldam em função de um público-alvo. Compete à Escola mediar este diálogo que se quer permanente e conseguir equilibrar sentimentos, condutas sociais e, principalmente, promover uma integração social dos discentes, afastando-se dos desequilíbrios de práticas educativas alheias à diferença e centradas num ensino igualitário que não tira partido da magnificência do multiculturalismo. 3. A Escola e a Diversidade Cultural: Perceber que a Escola é um espaço de transferência de culturas implica aceitar a diversidade de actores que por ela transitam e nela se reflectem. Esta intersecção cria situações de tensão e salienta contrastes que, se não forem vistos num prisma de abertura, levam a situações de parcialidade educativa. A Escola representa um conjunto diversificado de conhecimentos e saberes, vivenciados num espaço social e cultural partilhado por uma heterogeneidade de indivíduos. Estes devem ter um espírito reflexivo e crítico, mas expressar o seu próprio pensamento sem atitudes de superioridade perante a minoria. Esta miscelânea existente nas escolas recria a identidade cultural de modo democrático se for aceite com orientações nesse sentido. Compete a todos os actores, onde incluo a Escola e a Família, apelar a esta partilha de identidades culturais e consequente convívio entre todas. A relação Escola/Família será fulcral neste processo de sociabilização e na criação de vínculos entre todos os elementos da comunidade em questão. Parece inevitável que se pense a questão do Currículo como um elemento onde seja reflectido as motivações e carências dos discentes. Aqui a colaboração com entidades exteriores à Escola, mas conhecedoras das características de minorias que a frequentam, parece ser positiva no trabalho de se efectivar um currículo intercultural, promotor de sucesso escolar, aproximando e escola e a comunidade num trabalho de partilha e cooperação intercomunitárias.
  • 7. Carla Rêgo Pires Página 7 Há que conhecer, respeitar, tecer atitudes críticas construtivas e transformar responsavelmente, promovendo o usufruto de uma cidadania plena. A Escola mediatiza esta troca significativa entre os indivíduos em processo de formação, mas também entre corpo docente cuja sensibilidade para estas questões tem de ser trabalhada. Actualmente parte-se muito para um ensino reprodutor de conhecimentos, numa sociedade conservadora e única. A Escola deverá participar na divulgação de interculturalidades dada a sua população escolar ser cada vez mais heterogénea. A organização escolar, hoje, continua a fazer turmas com alunos agrupados em função das idades e dos conhecimentos. Estes aprendem os mesmos conteúdos, num mesmo espaço físico e temporal. De seguida são submetidos aos mesmos exames nacionais e respondem às mesmas questões. Agrupam-se em rankings que ignoram a identidade de cada organização escolar, nem contemplam as idiossincrasias da comunidade circundante - a este sistema chama-se ensino democrático. É certo que a massificação do ensino que ocorreu pós 25 de Abril de 1974 criou dificuldades às escolas. Foi necessário encontrarem-se estruturas logísticas e criarem-se normas que possibilitasse aos docentes ministrar conjuntamente a tantos alunos. Agora há que repensar estes valores que se creram elementares, mas que já não respondem à crescente função socializadora da Escola. Hoje pensa-se que é importante ajustar as práticas pedagógicas a uma disparidade social e cultural de alunos. Fala-se em respeito, mas sobretudo em igualdade efectiva de oportunidades de sucesso académico e social. A coabitação sociocultural implica tolerância e aceitação do pluralismo. Parece evidente que há necessidade de uma intervenção política no caminho que se tem vindo a percorrer, mas cada escola pode traçar o seu caminho na promoção de uma relação justa entre as diversidades culturais. O diálogo começa na sala dos professores e, só depois, será levado até ao contexto sala de aula. A preparação do aluno está nas mãos do professor que se quer alerta para estas problemáticas e em formação permanente no sentido de melhorar a sua aptidão académica e profissional. Reconhecer as culturas e aceitar diferenças levará à divulgação de valores comuns num futuro em conjunto. Democratizar o ensino será comunicar em várias línguas e vários dialectos. Importa abrir a Escola ao desafio e procurar uma cultura que seja capaz de interagir com outras, mobilizar os
  • 8. Carla Rêgo Pires Página 8 seus elementos, socializar e integrar pacificamente. A Escola deve reconhecer a necessidade da mudança permanente e, consequente, busca de equilíbrio. A aprendizagem não está apenas relacionada com aspectos biológicos dos indivíduos, mas com estímulos recebidos ao longo da vida. Cada um tem a sua identidade particular e única, reflexiva de factores exteriores que a escola não pode anular. Como diz Morin1 , «a cultura é constituída pelo conjunto de saberes, fazeres, regras, normas, proibições, estratégias, crenças, ideias, valores, mitos, que se transmitem de geração em geração, se reproduzem em cada individuo, controlam a existência da sociedade e mantém a complexidade psicológica e social (…) Assim, sempre existe a cultura nas culturas, mas a cultura existe apenas por meio de culturas». 4. O lugar da Escola e do Currículo na Educação Intercultural: Neste panorama de ideias, e citando Forquin (1989), «o pensamento pedagógico contemporâneo não se pode esquivar de uma reflexão sobre a questão da cultura e dos elementos culturais dos diferentes tipos de escolhas educativas». Ora, o saber é reflectido e contextualizado na organização educativa. As escolas e o modo como transmitem conhecimentos caracterizam as suas intenções pedagógicas que devem ser interculturais, criando experiências nas quais a apropriação do saber se intersecciona com identidades culturais. Neste sentido, deve haver investimento no corpo docente que deverá adaptar as suas atitudes pedagógicas à instituição onde estão inseridos. Não podemos desprezar a problemática dos conteúdos e programas curriculares, assim como também dos meios físicos e materiais que condicionam esta adaptação, muitas vezes beneficiando desigualmente as culturas dos discentes da organização. Presentemente, a Escola está atenta a estas diferenças e à necessária igualdade de oportunidades, daí que o trabalho pedagógico tenha vindo a ser desenvolvido em torno de valorização e produção cultural da escola. 1 Morin, Edgar. Os sete saberes necessários à educação do futuro. São Paulo: Cortez, 2001.
  • 9. Carla Rêgo Pires Página 9 4.1 A resposta da Escola: Compreendemos que a diversidade é natural à espécie humana: seres humanos são dissemelhantes nas suas práticas culturais, são particulares nas suas personalidades e são também variados nas suas formas de conceber o mundo. Os seres humanos apresentam, ainda, multiplicidade biológica. Ora, ao estarem integrados na Escola, terá de ser aqui que se defende o direito de todos à educação e formação e o direito à igualdade de oportunidades, logo não se pode negligenciar este multiculturalismo nem as diversidades referidas . Sabemos que a educação escolar é um factor fundamental no desenvolvimento do indivíduo como pessoa e como ser social, daí que seja importante a promoção de um currículo que responda às diversidades. Os currículos e rotinas escolares que promovem este aspecto aproximam-se mais da riqueza da diversidade humana, cultural e social, melhorando os processos de socialização de todos. Sem diferenciação pedagógica teremos cada vez mais desigualdades que se acentuam. Relativamente à diversidade cultural, somos diferentes, mas algo análogos. Há comportamentos partilhados e outros que se apresentam como um desafio no caminho para a convivência. A diversidade constrói-se num contexto social, histórico e político que tem de ser trabalhado num diálogo aberto e susceptível de reinterpretações. O Currículo reflecte essas reinterpretações e pontos de vista, levados em consideração nas atitudes pedagógicas, nas relações sociais que se estabelecem nos actores que preenchem determinado espaço escolar. O Currículo não é um processo de transmissão de conteúdos programáticos, é, sim, um reflector de carácter político, histórico e social, onde se criam relações de poder entre grupos sociais distintos. Assim, o Currículo é um conjunto de ideias, experiências e práticas que se definem entre actores que partilham relações de poder efectivas. O Currículo reflecte o facto de aos alunos lhes ter sido aceite o direito à diversidade na própria Lei de Bases do Sistema Educativo - «O sistema educativo organiza-se de forma a: d) Assegurar o direito à diferença, mercê do respeito pelas personalidades e pelos projectos individuais da existência, bem como da consideração e valorização dos diferentes saberes e culturas», Artº3º.
  • 10. Carla Rêgo Pires Página 10 Um dos aspectos presentes na Educação será a questão da política educacional num panorama onde a Escola é vista como um espaço de socialização e inserção social numa pluralidade cultural. A aceitação deste facto permite o reconhecimento da cultura do professor, do aluno e da comunidade da qual a organização faz parte. Ao reconhecermos as diversidades culturais em todos os seus prismas – históricos, culturais e sociais – aceitamos a necessidade de um novo modelo curricular: «A política curricular do ME deve, como é hoje admitido no discurso oficial, reservar à escola opções e decisões acerca de o que ensinar e de quando ensinar e não apenas acerca de como ensinar. Isto é, o currículo oficialmente prescrito deve ser aberto» (Diogo, Fernando)2 Salvaguarde-se que o facto de as escolas perceberem a necessidade de interagirem com a comunidade circundante e de desenvolverem o currículo em projectos interdisciplinares não afasta a predomínio de um ensino ainda muito centrado na transmissão de conhecimentos e menos na construção de saberes sobre o mundo que rodeia os discentes, facilitadores da sua integração social. Hoje é pertinente que se criem interacções em toda a estrutura da organização escolar. A ligação Escola/Sociedade deve ser significativa e promotora do desenvolvimento de competências, distantes da lógica da reprodução de saberes cognitivos. 4.2 Alternativas Curriculares: Ao falarmos de diversidade curricular e igualdade de oportunidades somos levados a pensar em alternativas curriculares promotoras destes princípios ideológicos e perceber qual o papel do professor neste contexto de heterogeneidades. À priori, percebemos que a existência de diversidades implica mudanças no currículo; mudanças políticas; ideológicas e individuais. Há que repensar os discentes em todas as suas vertentes, isto é, nas suas identidades e modos de interagiram. Não esquecendo que a diversidade é uma grandeza social, compete à escola/professores nutrir respeito e defender idiossincrasias. As atitudes pedagógicas dos docentes devem ser 2 DIOGO, Fernando (2007/08) «Teoria do Currículo e Desenvolvimento Curricular», Textos de Apoio: 33. ESE
  • 11. Carla Rêgo Pires Página 11 fundamentadas por estas directrizes, compreendendo que a educação é um direito básico a todo o ser humano, assim como a igualdade de oportunidades. Assim sendo, a escola deve criar condições para que o direito universal à Educação e igualdade de oportunidades, em conjunto com o respeito pelas individualidades dos alunos seja um facto concreto. A flexibilização curricular dos currículos alternativos é prioritária no tratamento deste facto. Os currículos alternativos são uma forma de adequar e adaptar o currículo padrão à diversidade dos discentes. Não é um currículo menor que se destina a alunos com dificuldades de aprendizagem ou de integração escolar. Estes currículos apostam em finalidades sociais e resolução de problemas de integração trazidas em consequência da massificação da escolaridade. O currículo alternativo não será mais do que uma medida para evitar a exclusão e o abandono escolar, criando-se inclusivamente um maior envolvimento dos docentes que se sentem mais realizados perante o sucesso dos seus clientes. A flexibilização curricular reflectida no currículo alternativo resulta de posições críticas, principalmente dos docentes, face à problemática inerente aos alunos que manifestam maiores dificuldades de aprendizagem e integração social. A escola terá a possibilidade, na plenitude da sua autonomia, de colmatar estas situações de desigualdade. Não é tarefa fácil, até porque estamos a falar de um sem número de desigualdades às quais é necessário responder – culturais, étnicas, sociais, cognitivas, individuais, etc. Mas, na verdade, o direito do aluno escolher o seu percurso educativo e o reconhecimento das diferenças transformou a educação de massas e alterou a visão sobre o currículo prescrito, em busca de dinâmicas de inclusão efectivas na organização escolar. A flexibilização curricular é uma forma de se enfrentar a reprodução de desigualdades entre os alunos e atenuar as próprias desigualdades sociais. É certo que a Escola não poderá solucionar todos os problemas relacionados com a estratificação social, mas pode dissipá-los. Ao promover estes currículos promove a integração social tendo como base as expectativas dos alunos e as suas condições individuais. Ao persistirmos em divulgar um currículo padrão prescrito a nível nacional sentenciamos os alunos ao insucesso escolar e, consequentemente, ao insucesso social. A intenção da Escola falha e a escola, enquanto promotora de igualdade de oportunidades, deixa de fazer sentido.
  • 12. Carla Rêgo Pires Página 12 O currículo tem de ter significado e ser objectivamente claro para os seus destinatários. Na verdade, a diferenciação curricular acontece no Projecto Curricular de Escola e, por conseguinte, no Projecto Curricular de Turma, pois ambos dever ser responsáveis pela aceitação de identidades específicas e respeitá-las de forma a promover o sucesso de todos. É clara uma responsabilização nesta flexibilização do currículo do órgão de gestão da organização. Este processo engloba todos actores da organização, principalmente os professores e implica um uso da autonomia curricular inerente à autonomia das escolas. A configuração de currículos específicos ao público a que se destinam implica um trabalho docente acentuado, assim como também alterações a nível da organização do sistema educativo e da aplicação do currículo na escola. Saliente-se que o facto de um aluno estar integrado num currículo alternativo não implica que não possa prosseguir estudos superiores futuramente. 5. Globalização e Diversidade: O papel do professor: O currículo prescrito torna acessível para todos aprendizagens e competências fundamentais. Este promove a distribuição de pré-requisitos para se apreender outras aprendizagens importantes numa escola democrática e inclusiva. No entanto, não podemos educar todos os alunos indiscriminadamente, sob o prejuízo de se desvalorizar o diálogo entre culturas identificativas da comunidade onde o aluno está inserido. Estamos numa era de globalização social/geográfica. Eliminaram-se fronteiras culturais e formaram-se micro sociedades em espaços concretos. Hoje vive-se a concretização de identidades históricas, sociais, étnicas e culturais em espaços de partilha e compromisso entre as partes envolvidas. A escola é um espaço privilegiado neste diálogo, uma vez que ao ser massificada e obrigatória, tornou-se um local de preparação das crianças e dos jovens para a integração social no mundo dos adultos. A homogeneidade não existe, daí que se fale em conflitos entre a globalização e a diversidade, mas é destes conflitos que sai um enriquecimento cultural. Aliás, o acto educativo
  • 13. Carla Rêgo Pires Página 13 não é simples. Já não se fala apenas em transmissão de conhecimentos do currículo oficial de modo linear. Hoje não se esquecem as singularidades, isto é, as subjectividades não ponderadas no currículo nacional. Ora, insistirmos num currículo único seria negar o processo de globalização e falhar nos princípios da própria escola de massas – igualdade de oportunidades e afastamento da exclusão social. 5.1 O Professor: O professor adquire um papel primordial neste processo de organização curricular em torno das idiossincrasias da comunidade onde a escola está integrada. Ao currículo oficial nacional terá de acrescentar um diálogo entre culturas e promover trocas saudáveis entre todos os actores. A partir daqui poderá haver uma apropriação de conhecimentos e competências que a escola quer divulgar. O conhecimento é trabalhado e adaptado à realidade, na verdade, há uma modelação do currículo oficial feita pelo professor que se torna um investigador/observador participante. O contacto in loco com os alunos em contexto sala de aula e escola facilita o acesso do professor à análise das competências de cada um. O professor fará o filtro do sistema escolar, educativo e social, criando ligações,contactos cognitivos e culturais positivos. Como um espaço multicultural, a Escola será a possibilidade de se mostrarem todas as identidades necessárias na estruturação das aprendizagens dos alunos. O Professor terá de ter vontade em investigar no conhecimento dos seus discentes e resolver diariamente o conflito entre a globalização e a diversidade. Ao apostar no respeito e consideração pela diferença faz do currículo oficial o início de um currículo vivido plenamente pelos alunos no processo de coesão e integração social. 6. Conclusão: A educação intercultural tem subjacente uma gestão flexível do currículo de suma importância na Escola e na actuação dos professores nas adaptações curriculares que devem fazer. Fala-se numa adequação do trabalho docente à diversidade dos contextos culturais no sentido de se atingir um ensino mais capaz de promover a igualdade de oportunidades. É imperativo perceber que cada escola tem de
  • 14. Carla Rêgo Pires Página 14 ter um projecto educativo específico para a sua comunidade, logo terá de exercitar o seu direito à autonomia escolar. Os professores necessitam de participar nesta configuração de um ensino menos centralizado. Educar é mais do que passar conhecimentos académicos; é instruir sob o ponto de vista individual e social – eis o novo paradigma da escola inclusiva. Ora, é no exercício de interdisciplinaridade que o currículo vivido se integra mais capazmente e se afasta do ensino monodisciplinar de até então. A Escola abre-se à comunidade, criando relações entre ela e os seus elementos que deverão ser tidas em conta quando se integram alunos oriundos de culturas, etnias e raças diferentes. A criação de turmas de Percursos Alternativos e as Adaptações Curriculares são as respostas, entre outras, como os Cursos de Formação Profissional, que a escola procura no sentido de permitir a estes alunos uma escolha mais adequada às suas expectativas de futuro laboral. No entanto, em momento algum lhe é retirada a possibilidade de prosseguirem estudos a avançarem na sua vida académica. Isto não seria possível se executássemos o currículo prescrito como único. Para além de educar a escola procura nesta flexibilização curricular instruir os discentes, mostrando aos docentes a possibilidade de livremente desenvolverem processos significativos de transmitirem conteúdos, sem isolarem os alunos da sua identidade cultural. Há, claramente, um afastamento das práticas lectivas uniformes, quase estandardizadas. No processo de globalização que se tem vindo a realizar deixou de ser profícuo definir os mesmos objectivos, conteúdos, usar os mesmos materiais educativos e organizar a carga lectiva nos mesmos moldes. Há que respeitar heterogeneidades, estruturando dinâmicas de inclusão e interacção pedagogicamente diferenciadas. Nesta perspectiva, torna-se imprescindível reconhecer à escola a sua autonomia, e fazê-la acreditar que pode ser inovadora, mudando a visão que alguns alunos nutrem pela escola. Os projectos curriculares, se adequados pelos professores, são funcionais e promovem uma educação escolar de qualidade na construção de saberes prescritos e vividos, só assim gerando inovação, integração e aproveitamento de recursos no caminho para o sucesso de todos.
  • 15. Carla Rêgo Pires Página 15 Citando Diogo (2004)3 , «A gestão flexível do currículo pressupõe e exige um professor reflexivo e colaborativo que centre as suas preocupações e a sua acção na aprendizagem e não no ensino, partilha conhecimento e interrogações, assume responsabilidades e desafios e investiga com os seus pares os caminhos da adequação educativa aos seus destinatários». 6. Bibliografia: ALVES-Pinto,C (1995): Sociologia da Escola, Lisboa: MacGraw-Hill BENAVENTE, A (1994): Renunciar à Escola: O abandono escolar no ensino básico. Lisboa: Fim de Século BARROSO, João, (1995): Para o desenvolvimento de uma cultura de participação na escola. Cadernos de organização e gestão escolar; Ministério da Educação. CARDOSO, Carlos (1996): Educação Multicultural – Percursos para Práticas Reflexivas, Lisboa: Texto Editora. CARDOSO, Carlos (coord). (1998): “Gestão Intercultural do Currículo”, Colecção Educação Intercultural, l, Lisboa: Secretariado Coordenador dos Programas de Educação Multicultura, Ministério da Educação. CARDOSO, Carlos (2001) : Que sorte, ciganos na nossa escola!; Colecção Interface. Lisboa: Secretariado Entreculturas, Ministério da Educação. CARVALHO,A. E DIOGO, F. (1994): Projecto Educativo. Porto, Afrontamento. CHIAVENATO, I., (1993). Introdução à Teoria Geral da Administração, S. Paulo, McGraw-Hill. COSTA, J. A. (1993): Para que serve o projecto educativo da escola?, Correio Pedagógico, Porto, Asa. 3 DIOGO, Fernando (2004) Comunicação em Seminário organizado pela Câmara Municipal de Mangualde.
  • 16. Carla Rêgo Pires Página 16 ENTRECULTURAS (1995): Educação Intercultural - Guia do Professor, Secretariado Coordenador dos programas da Educação Multicultural, Lisboa Ministério da Educação. FORMOSINHO, J. (1991). Currículo e Cultura Escolar. Porto, Edições ASA. FORQUIN, J. C. (1989). École et culture. Le point de vue des sociologues britaniques, Bruxelles: Ed. De Boeck Université. McCARTHY, C. (1994). HARGREAVES, A., (1998): Os Professores em Tempos de Mudança – O Trabalho e a Cultura dos Professores na Idade Pós-Moderna, Lisboa:MacGraw-Hill. LIMA, L. (1992) : A escola como organização e a participação na organização escolar, Braga, Universidade do Minho. LEITE, Carlinda (2000): “A Flexibilização Curricular na Construção de uma Escola mais Democrática e mais Inclusiva” in Território Educativo, n.º 7, Porto, Revista da Direcção Regional De Educação do Norte. LEITE, Carlinda (2002): Currículo e o Multiculturalismo no Sistema Educativo Português, Textos Universitários de Ciências Sociais e Humanas, Lisboa,Fundação Calouste Gulbenkien. VIEIRA, Ricardo, (1995): “Mentalidades, Escola e Pedagogia Intercultural”: Revista de Educação, Sociedade e Cultura, n.º 4, 127-147.
  • 17. Carla Rêgo Pires Página 17