2. COLÉGIO PEDRO II
CONCURSO PÚBLICO PARA PROFESSORES - 2002
PROVA ESCRITA DE PRIMEIRO SEGMENTO
COLÉGIO PEDRO II
DIRETORIA GERAL
SECRETARIA DE ENSINO
CONCURSO PÚBLICO PARA
PROFESSORES DE ENSINO
FUNDAMENTAL E MÉDIO
= 2002 =
PROVA ESCRITA DE NÚCLEO COMUM
DE PRIMEIRO SEGMENTO
PRIMEIRA PARTE - QUESTÕES DISCURSIVAS (70 pontos)
Texto I
Um atualíssimo escritor do passado
5
10
15
20
25
30
Quem conhece Monteiro Lobato apenas como o incrível inventor do Sítio do
Picapau Amarelo conhece o melhor Lobato. Mesmo assim está perdendo um bocado da
personalidade desse paulista baixinho, sobrancelhudo e sem papas na língua.
Entre 1882 e 1948, Lobato viveu dois brasis. Um era agrícola, patriarcal,
tradicionalista. Com ele, ajustou contas inventando um sítio onde imperava o matriarcado,
e, em vez de gado, havia um burro falante e um sabugo sábio. O outro era um Brasil que
mudava de cara com a extinção da escravatura, a industrialização e o crescimento das
cidades.
Para esse segundo Brasil, Lobato foi um cidadão sob medida. Fazendeiro no Vale do
Paraíba (SP), destemperou-se contra o hábito caipira de pôr fogo no mato para limpar terra
para a lavoura. Escreveu artigos em jornais, desancou o Jeca, chamou-o de preguiçoso,
parasita e predador da natureza. Ficou famoso.
Menos de dez anos depois, mudou de idéia: compreendeu que era falta de saúde o
que tinha considerado preguiça do caipira. Escreveu novos artigos redimindo o Jeca e
denunciando a precariedade das políticas de saúde no Brasil. Ficou mais famoso ainda.
Vinte anos depois, Lobato entendeu que o Jeca era vítima da estrutura latifundiária
brasileira. E de novo escreveu sobre o assunto, só que agora não mais artigos, mas o
panfleto Zé Brasil que, no formato de um almanaque de farmácia, pretendia circular entre
os jecas. Era 1947 e a polícia apreendeu o livrinho da mesma forma que, seis anos antes,
havia posto Lobato na cadeia, por desacato à autoridade.
Ao longo de sua vida, várias foram as ocasiões em que Lobato manifestou seu
fascínio pela tecnologia, financiando engenhocas e tomando partido face a diferentes
formas de transformar ferro em aço. No atacado, o interesse do escritor pela tecnologia
talvez estivesse na base de seu deslumbramento pelos Estados Unidos, onde morou entre
1927 e 1931. De lá, descrevia, em cartas entusiasmadas aos amigos, a Ford, os cinemas e o
metrô de Nova York. Mas os elogios não impediram que ele criticasse violentamente o
imperialismo americano que proibia a exploração do petróleo brasileiro.
Dois de seus livros focalizam a questão do petróleo: O Escândalo do Petróleo
(1936), para adultos, e a fábula infantil O Poço do Visconde (1937). O primeiro narra as
voltas e vira-voltas das suas campanhas pela criação de companhias petrolíferas brasileiras.
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O Poço de Visconde é uma aula de geologia e uma fábula política. Emília, Visconde,
Pedrinho e Narizinho procuram, acham e exploram o petróleo nas terras de Dona Benta,
entre lances hilários, como o banho de petróleo fedorento no repórter de má vontade com a
descoberta.
A fábula política começa quando, descoberto o petróleo, companhias americanas
compram as terras vizinhas do sítio com a intenção de desviá-lo. O engenho de Emília, a
coragem das crianças e a colaboração dos bichos afastam o perigo. Fica para os leitores a
lição maior de que ciência e tencologia fazem parte da política, no sentido maior dessa
expressão. Não se trata mesmo de um Lobato de encomenda para nosso tempo?
Marisa Lajolo (Unicamp)
Revista Galileu, julho de 2001.
1ª QUESTÃO (4 pontos)
“O Poço do Visconde é uma aula de geologia e uma fábula política.” (linha 31)
a) Caracterize o gênero fábula, considerando-se sua estrutura, sua função social e um
aspecto lingüístico-gramatical relevante.
b) De acordo com o Texto I, por que o livro O Poço do Visconde é considerado uma
fábula política?
2ª QUESTÃO (4 pontos)
“Menos de dez anos depois, mudou de idéia: compreendeu que era falta de saúde o
o que tinha considerado preguiça do caipira.” (linha 13)
No período acima, percebe-se uma certa relação de sentido entre as duas partes do enunciado
demarcadas pelos dois pontos.
a) Qual é essa relação de sentido?
b) Reescreva o período, substituindo os dois pontos por um conectivo que explicite
claramente a relação de sentido existente entre as duas partes do enunciado.
3ª QUESTÃO (4 pontos)
“...destemperou-se contra o hábito caipira de pôr fogo no mato para limpar terra para
a lavoura.” (linha 10)
A queimada ainda é uma prática muito utilizada no Brasil, com o objetivo de limpar o
terreno para o cultivo. Porém, essa é uma prática amplamente condenada.
Cite duas conseqüências negativas da queimada, explicando-as.
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4ª QUESTÃO (4 pontos)
No texto há a referência a um Brasil “agrícola, patriarcal, tradicionalista”. Esse Brasil é
resultado de toda uma estrutura de produção que aqui se instalou desde o início da
colonização.
Quais as características básicas dessa estrutura de produção?
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5ª QUESTÃO (4 pontos)
“Fica para os leitores a lição maior de que ciência e tecnologia fazem parte da política, no s
sentido maior dessa expressão.” (Texto I, linha 37)
“Índice de Pobreza Humana (IPH): 12,9%” (Texto II)
A partir dos dois trechos citados acima, podemos estabelecer várias relações entre
qualidade de vida, políticas públicas e desenvolvimento tecnológico.
Estabeleça uma relação entre o desenvolvimento tecnológico na produção de alimentos,
política e Índice de Pobreza Humana.
6ª QUESTÃO (4 pontos)
Observe o gráfico A EVOLUÇÃO DO IDH DO BRASIL.
Que fração decimal representa o aumento do IDH do Brasil de 1980 a 1999?
7ª QUESTÃO (4 pontos)
Segundo a ONU, em 2015 o Brasil terá 201,4 milhões de habitantes.
O algarismo sublinhado corresponde a quantos habitantes?
8ª QUESTÃO (4 pontos)
“...porque 12 países saíram da lista e, entre eles, seis tinham posição melhor que a
brasileira.”(Texto II).
No trecho reproduzido acima, a palavra PAÍSES é retomada duas vezes pelo processo de
coesão textual, fazendo com que o texto progrida.
Explicite os dois mecanismos diferentes de coesão textual que atuam na retomada da
palavra PAÍSES nesses dois momentos diferentes.
9ª QUESTÃO (4 pontos)
Segundo os dados apontados pelo Índice de Desenvolvimento Humano (IDH), o Brasil ocupa a
69ª posição no ranking mundial, o que o coloca na posição de país com desenvolvimento médio.
Na verdade a realidade brasileira é bem diversificada, apresentando áreas com alto
desenvolvimento e outras com baixo desenvolvimento.
Caracterize, em linhas gerais, a realidade brasileira no que diz respeito à distribuição de renda,
mortalidade infantil, esperança de vida ao nascer e saneamento básico.
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Texto III
O bicho
Vi ontem um bicho
Na imundície do pátio
Catando comida entre os detritos.
Quando achava alguma coisa,
Não examinava nem cheirava:
Engolia com voracidade.
O bicho não era um cão,
Não era um gato,
Não era um rato.
O bicho, meu Deus, era um homem.
BANDEIRA, Manoel. Estrela da vida inteira. 4ª ed.
Rio de Janeiro: J. Olympio, 1973. p.196
10ª QUESTÃO (4 pontos)
O processo de construção do poema O bicho, de Manuel Bandeira, é metafórico, pois
estabelece uma interseção entre o(s) sentido(s) de um termo em relação ao significado de um
outro.
Considerando-se a temática central do texto (a degradação humana), explique a afirmação
anterior.
11ª QUESTÃO (4 pontos)
Se a cada 3,6 segundos uma pessoa morre de fome no mundo, quantas pessoas morrem de
fome por dia?
Atenção! Os cálculos realizados para a resolução desse problema devem ser registrados
nesta folha.
12ª QUESTÃO (4 pontos)
“O confronto que se passa na sala de aula não se passa entre alguém que sabe um conteúdo (o
professor) e alguém que não sabe (o aluno), mas entre pessoas e o próprio conteúdo, na busca de sua
apropriação.”
(CHAUÍ, 1980)
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A afirmação acima permite identificar uma característica da atuação do professor. Comente-a.
13ª QUESTÃO (4 pontos)
“...Avaliar é um ato pelo qual, através de uma disposição acolhedora, qualificamos alguma
coisa (um objeto, ação ou pessoa) tendo em vista, de alguma forma, tomar uma decisão sobre ela.”
(LUCKESI)
Na afirmação acima, podem ser também identificados os elementos da avaliação escolar.
Identifique-os, comentando.
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14ª QUESTÃO (18 pontos)
Leia o Texto IV.
Desenvolva possibilidades de explorá-lo numa perspectiva interdisciplinar, em uma turma
de quarta série, abordando cada um dos componentes curriculares: Língua Portuguesa,
Estudos Sociais, Ciências e Matemática.
Considere, para isso, os aspectos metodológicos implícitos no texto abaixo.
O sujeito, entendido como aquele que constrói o seu próprio conhecimento, não opera
num vazio social, tampouco num vazio psíquico. É um indivíduo que percebe o mundo e
conceitua esse mundo, a partir de vivências sociais concretas que inundam sua mente de
símbolos, significados, desejos, fantasias.
SEGUNDA PARTE - DISSERTAÇÃO
Na prova, o candidato poderá escolher a opção a ou opção b correspondente a cada número.
TEMAS PARA DISSERTAÇÃO
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N° OPÇÃO A OPÇÃO B
1. Ortografia: o que é, para que serve. O ensino da
ortografia como objeto de reflexão.
Operações aritméticas: conceitos, procedimentos
e atitudes a serem enfatizados no primeiro
segmento do Ensino Fundamental
2. Variabilidade lingüística e ensino de língua
materna no primeiro segmento do Ensino
Fundamental: os gêneros de circulação social;
norma culta; registros formal e informal.
A ocupação da cidade do Rio de Janeiro do
início do século XX aos nossos dias. A
urbanização e os principais problemas dela
decorrentes, numa abordagem para as terceira e
quarta séries do Ensino Fundamental.
3. Leitura e produção de textos no primeiro
segmento do Ensino Fundamental: coesão e
coerência.
Corpo humano como máquina versus corpo
humano como um todo integrado: oposição
conceitual e implicações metodológicas no
primeiro segmento do Ensino Fundamental.
4. Alfabetização e letramento. Construção do
conhecimento; significação, contextualização e
leitura de mundo.
As múltiplas interações que acontecem na sala
de aula e a aprendizagem significativa.
5. Usos e funções dos números em nossa sociedade
e sua exploração no ensino de Matemática no
primeiro segmento do Ensino Fundamental.
O tempo: a quantificação do tempo, os diferentes
calendários, a conceituação de tempo histórico e
tempo cronológico. A atividade escolar
propiciando a construção da noção de tempo
pelas crianças.
6. A resolução de problemas no primeiro segmento
do Ensino Fundamental: tipos de situações-
problema e suas funções no processo ensino-
aprendizagem de Matemática.
A sociedade de consumo e a produção de
resíduos (lixo, esgoto e gases poluentes).
Propostas para um trabalho, no primeiro
segmento do Ensino Fundamental, a partir de
uma abordagem conscientizadora dos problemas
ambientais atuais.
7. Características e propriedades das figuras
geométricas espaciais e planas: situações que
possibilitem sua exploração no primeiro
segmento do Ensino Fundamental
O papel dos conteúdos curriculares no primeiro
segmento do Ensino Fundamental tendo em vista
o exercício da cidadania.
8. Fontes históricas: conceituação, diferentes tipos
e importância do trabalho com as fontes
históricas no primeiro segmento do Ensino
Fundamental.
A abordagem conceitual e metodológica em
relação à temática “ambiente e seres vivos” nas
séries iniciais do primeiro segmento do Ensino
Fundamental.
9. Localização espacial: a importância dos
referenciais de localização, os pontos cardeais,
colaterais e as coordenadas geográficas num
enfoque para o primeiro segmento do Ensino
Fundamental.
O currículo como fenômeno histórico: resultado
de forças sociais, políticas e pedagógicas que
expressa a organização dos saberes vinculados à
construção de sujeitos sociais.
10. A escola e a educação sexual de crianças.
Abordagem conceitual e metodológica para
alunos das terceira e quarta séries do Ensino
Fundamental.
Avaliação da aprendizagem: análise da realidade
do cotidiano escolar no primeiro segmento do
Ensino Fundamental – distância entre teoria e
prática.
SEGUNDA PARTE - DISSERTAÇÃO (Valor: 30 pontos)
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Desenvolva o tema sorteado sob a forma de Dissertação, utilizando, no mínimo, duas
páginas e, no máximo, três. Se desejar, utilize as folhas de rascunho, sem destacá-las do corpo
da prova. Entretanto, para efeito de avaliação, o rascunho não será considerado.