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UNIVERSIDADE DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO
                      LABORATÓRIO DE POLÍTICAS PÚBLICAS
                        NEGRO, EDUCAÇÃO E SOCIEDADE

                                          VERBETE

PRADO JR., Caio

       Caio Prado Jr. nasceu em 11 de fevereiro de 1907, na cidade de São Paulo, filho
de Caio e Antonieta Silva Prado, pertencia a uma família da alta aristocracia e, no caso
do Caio, pelos dois ramos, visto que a mãe pertencia à família Penteado, que enriqueceu
no período do ciclo do café, fabricando sacos de juta para acondicionamento do
produto. Teve uma educação esmerada e iniciou seus estudos em casa, com professores
particulares, depois ingressou no tradicional Colégio Jesuíta São Luís em 1918, onde
concluiu a formação secundária. Morou uma temporada na Inglaterra com a família e
frequentou o Colégio Chelmsford Hall, em Eastbourn (1920). Estudou na prestigiada
Faculdade de Direito do Largo São Francisco (hoje pertencente à Universidade de São
Paulo). Formou-se bacharel em ciências jurídicas e sociais aos 21 anos, e exerceu a
advocacia por alguns anos. Casou se três vezes: em 1928 com Hermínia Ferreira
Cerquinho, o casal teve dois filhos: Yolanda Cerquinho Prado e Caio Graco Prado, se
divorciou em 1939. Em 1942 casou-se com Helena Maria Nioac e tiveram um filho:
Roberto Nioac Prado, o casamento com Helena durou 26 anos. Casou-se novamente, em
1974, com Maria Cecília Naclério Homem.

       A década de 1920 foi um período marcado por mudanças nos padrões político do
país. Em 1928 Caio Prado Jr. filiou-se ao Partido Democrático (PD), seu tio avô
Antônio Prado foi um dos fundadores do PD e exerceu forte atuação durante a
Revolução de 1930. Filiou-se ao Partido Comunista do Brasil em 1931 e dois anos
depois fez uma viagem para a União Soviética, logo em seguida publicou o livro URSS,
um novo mundo (1934). Caio Prado jr tornou-se um intelectual e militante político
marxista.



                                                                                       1
Em 1934, iniciou os cursos de Geografia e História na Faculdade de Filosofia,
Ciências e Letras da Universidade de São Paulo, e nesse mesmo ano Caio Prado Jr.
ingressou no curso de Filosofia. Participou da fundação da Associação dos Geógrafos
do Brasil (AGB) junto com outros intelectuais de renome, como Pierre Deffontaines,
Luiz Fernando Morais Rego, Rubens Borba de Morais e Pierre Monbeig.
       Durante sua trajetória política assumiu a vice-presidência da Aliança Nacional
Libertadora (ANL), que fazia oposição ao governo de Getúlio Vargas. Em 1935 foi
sancionada a Lei de Segurança Nacional (Lei nº 38/1935) que previa a prisão por
atividades consideradas subversivas; Caio Prado Jr. foi perseguido e preso por cerca de
dois anos. Exilou-se na França em 1937; ao retornar em 1940 se deparou com a ditadura
implantada por Vargas, configurada pelo Estado Novo.
       Em 1942 lançou Formação do Brasil Contemporâneo e começou a atuar como
editor: em 1943 participou da Revista Hoje; com Monteiro Lobato e Arthur Neves
fundou a Editora Brasiliense, a Gráfica Urupês e a Revista Brasiliense (1955), fechada
após o golpe civil e militar de 1964. Elegeu-se deputado estadual por São Paulo em
1947 pelo Partido Comunista do Brasil (PCB), mas o PCB foi posto na ilegalidade pelo
governo Dutra, por isso Caio Prado Jr. teve o mandato cassado (assim como os demais
candidatos do Partido em 1948). Em 1956 Caio Prado Jr. voltou-se para a docência
acadêmica e participou do processo seletivo para a cátedra de Economia Política da
Faculdade de Direito, porém não obteve êxito. Em 1968 ele tentou ingressar no
Departamento de História da FFCL/USP para cátedra de História do Brasil, porém o
concurso foi cancelado por intervenção política. O regime de ditadura militar cassou
seus direitos políticos, levando-o ao exílio no Chile. Ao retornar ao país em 1970, foi
preso e condenado por subversão pelo Supremo Tribunal Militar, contudo no ano
seguinte o mesmo tribunal concedeu-lhe habeas corpus.
       Em 1988, recebeu o Prêmio “Almirante Álvares Alberto para Ciência e
Tecnologia” do Ministério da Ciência e Tecnologia e do CNPq (CNPq).
       A produção intelectual de Caio Prado Jr. contribuiu muito para historiografia
brasileira, sendo consagrada como uma das principais interpretações do Brasil, ao lado
de Gilberto Freyre e Sergio Buarque de Holanda, apesar de apresentarem diferentes
abordagens, com linhas metodológicas distintas, eles constituem os pilares para análise
do Brasil colonial. Caio Prado Jr apresenta a formação do Brasil no processo de
integração econômica, com uma perspectiva de história integrada, afirmando que o


                                                                                      2
“sentido da colonização” consistia na acumulação de capital para sociedades europeias,
com uma economia voltada para o mercado externo.
       Intelectual marxista, Caio Prado Jr. destacou a estrutura econômica, baseada no
trabalho escravo, do Brasil colônia, sem deixar de lado as relações sociais e a política.
Fez uma abordagem das relações comerciais europeias com as Índias e a África no
século XV, da exploração na costa africana, tráfico de marfim, ouro e escravos para fins
mercantis, nesse processo os portugueses foram pioneiros em implementar a exploração
agrária em grandes unidades produtoras, com trabalhadores subordinados e sem
propriedade nas suas colônias, utilizando “mão-de-obra escrava de outras raças,
indígenas do continente ou negros africanos importados.”
       No século XIX, várias teorias foram propostas para explicar a origem das
“raças”, no Brasil, essas ideias foram repensadas e adaptadas pela elite e alguns
intelectuais que viam na questão “racial” um problema para o desenvolvimento da
nação. Evolucionismo cultural e teorias raciais são apropriados e misturam-se nas
teorias que discutiram a formação social brasileira. O pensamento é reflexo do meio
estrutural, por isso ainda encontramos o conceito de “raças inferiores” no discurso de
Caio Prado Jr., permanece em seu discurso, a concepção de “inferioridade” dos povos
não brancos, a abordagem filosófica e política são ostensivamente ocidentais, pautada
por um modelo de civilização europeu.
       Caio Prado Jr. estabelece um diálogo com Gilberto Freyre no sentido da
formação nacional, concluindo que nossa formação foi destinada a suprir as
necessidades do mercado externo, com uma organização voltada para a produção.
       A questão da diversidade na formação do Brasil colônia é uma questão
complexa, em especial a diversidade de índios e negros na composição étnica do país.
Segundo Caio Prado Jr., a mestiçagem é o signo no qual se forma a nação brasileira.
       Com o fim do trabalho indígena, ocorre um aumento no tráfico africano, mais
eficiente e fácil para trabalhar do que as “tribos bárbaras”. Segundo o autor o negro era
mais simples, “uniformizado pela escravidão” não apresentou problemas com colonos
brancos. A mestiçagem seria o resultado de um processo de “orgia de sexualismo”, e o
“cruzamento de raças” ocorria principalmente fora do casamento, constituindo-se num
fator de unidade nacional. A falta de mulheres brancas foi outro fator apontado por Caio
Prado Jr. para explicar a mestiçagem no Brasil, facilitando o relacionamento do colono
com “mulheres de outras raças” que ocupavam uma posição social inferior, além da
“impetuosidade do português e a ausência total de freios morais”.
                                                                                        3
A situação étnica, na obra de Caio Prado Jr., está associada à posição social do
indivíduo, ocorrendo no Brasil uma contradição porque apesar da mestiçagem havia um
forte preconceito de cor. Assim “o paralelismo das escalas cromáticas e social fez do
branco e da pureza de raça um ideal que exerce importante função na evolução étnica
brasileira”, a hierarquia social relaciona-se diretamente com uma concepção de
hierarquia racial. A idéia de “evolução étnica brasileira” está ligada ao ideal de
embranquecimento, segundo o autor.
        Segundo o autor a escravidão era uma instituição praticamente abolida quando
ressurge na modernidade e, em maiores proporções que no mundo antigo, para atender
as necessidades mercantis do comércio europeu, contrária a todos os padrões morais e
materiais estabelecidos. Outro elemento que caracteriza a escravidão moderna: “foram
eles os indígenas da América e o negro africano, povos de nível cultural ínfimo,
comparado a de seus dominadores”. No discurso não há uma valorização das diferentes
crenças, sistemas filosóficos, influências no vocabulário e da participação do negro na
formação do país, porém com relação à luta pela liberdade, Caio Prado Jr. enfatiza a
“rebelião das senzalas” e a formação dos quilombos como forma de resistência ao
trabalho escravo.
        Caio Prado Jr. faleceu em 1990, aos 83 anos na cidade de São Paulo, deixando
como herança uma contribuição significativa para a historiografia brasileira.




Bibliografia:
Evolução política do Brasil. São Paulo, Companhia das Letras, 1933.
URSS - um novo mundo. Companhia Editora Nacional. 1934.
Formação do Brasil Contemporâneo. São Paulo, Companhia das Letras, 1942.
História Econômica no Brasil. Editora Brasiliense, 1945.
Dialética do Conhecimento. Editora Brasiliense, 1952.
Evolução Política do Brasil e Outros Estudos. São Paulo, Editora Brasiliense, 1953.
Diretrizes para uma Política Econômica Brasileira. São Paulo, Gráfica Urupês, 1954.
Esboço de Fundamentos da Teoria Econômica. Editora Brasiliense, 1957.
Introdução à Lógica Dialética (Notas Introdutórias). São Paulo, Editora Brasiliense,
1959.
O Mundo do Socialismo. Editora Brasiliense, 1962.
A Revolução Brasileira. Editora Brasiliense, 1966.
                                                                                       4
Estruturalismo de Lévi-Strauss - O Marxismo de Louis Althusser. Editora Brasiliense,
1971.
História e Desenvolvimento. Editora Brasiliense, 1972.
A Questão Agrária no Brasil. Editora Brasiliense, 1979.
O que é Liberdade. Editora Brasiliense, 1980
O que é Filosofia. Editora Brasiliense, 1981
A Cidade de São Paulo. Editora Brasiliense, 1983




Fontes:
PRADO JR, C. Formação do Brasil Contemporâneo. São Paulo, Companhia das
Letras, 1942.
SANTOS, R. Caio Prado Jr. Dissertação sobre a Revolução Brasileira. São Paulo,
Editora Brasiliense, 2007.
MÁXIMO, N. C. Biografias: Caio Prado Júnior. Blog da Brasiliense, São Paulo, set/
2011. Disponível em: <http://blogdabrasiliense.blogspot.com.br/> Acesso em: 20 ago.
2011

FERNANDES, C. Só Biografias. In: Universidade Federal de Campina. Disponível em:
<http://www.dec.ufcg.edu.br/biografias/CaioPJun.html >. Acesso em: 20 ago. 2011.

SILVA, M. Caio Prado Jr.: Incômodas ilusões. Revista de História, São Paulo, n.161,
dez. 2009<http://www.revistasusp.sibi.usp.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0034-
83092009000200017&lng=pt&nrm=iso >. Data de acesso: 20. Ago. 2011.




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Caio Prado Jr, historiador marxista brasileiro

  • 1. UNIVERSIDADE DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO LABORATÓRIO DE POLÍTICAS PÚBLICAS NEGRO, EDUCAÇÃO E SOCIEDADE VERBETE PRADO JR., Caio Caio Prado Jr. nasceu em 11 de fevereiro de 1907, na cidade de São Paulo, filho de Caio e Antonieta Silva Prado, pertencia a uma família da alta aristocracia e, no caso do Caio, pelos dois ramos, visto que a mãe pertencia à família Penteado, que enriqueceu no período do ciclo do café, fabricando sacos de juta para acondicionamento do produto. Teve uma educação esmerada e iniciou seus estudos em casa, com professores particulares, depois ingressou no tradicional Colégio Jesuíta São Luís em 1918, onde concluiu a formação secundária. Morou uma temporada na Inglaterra com a família e frequentou o Colégio Chelmsford Hall, em Eastbourn (1920). Estudou na prestigiada Faculdade de Direito do Largo São Francisco (hoje pertencente à Universidade de São Paulo). Formou-se bacharel em ciências jurídicas e sociais aos 21 anos, e exerceu a advocacia por alguns anos. Casou se três vezes: em 1928 com Hermínia Ferreira Cerquinho, o casal teve dois filhos: Yolanda Cerquinho Prado e Caio Graco Prado, se divorciou em 1939. Em 1942 casou-se com Helena Maria Nioac e tiveram um filho: Roberto Nioac Prado, o casamento com Helena durou 26 anos. Casou-se novamente, em 1974, com Maria Cecília Naclério Homem. A década de 1920 foi um período marcado por mudanças nos padrões político do país. Em 1928 Caio Prado Jr. filiou-se ao Partido Democrático (PD), seu tio avô Antônio Prado foi um dos fundadores do PD e exerceu forte atuação durante a Revolução de 1930. Filiou-se ao Partido Comunista do Brasil em 1931 e dois anos depois fez uma viagem para a União Soviética, logo em seguida publicou o livro URSS, um novo mundo (1934). Caio Prado jr tornou-se um intelectual e militante político marxista. 1
  • 2. Em 1934, iniciou os cursos de Geografia e História na Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras da Universidade de São Paulo, e nesse mesmo ano Caio Prado Jr. ingressou no curso de Filosofia. Participou da fundação da Associação dos Geógrafos do Brasil (AGB) junto com outros intelectuais de renome, como Pierre Deffontaines, Luiz Fernando Morais Rego, Rubens Borba de Morais e Pierre Monbeig. Durante sua trajetória política assumiu a vice-presidência da Aliança Nacional Libertadora (ANL), que fazia oposição ao governo de Getúlio Vargas. Em 1935 foi sancionada a Lei de Segurança Nacional (Lei nº 38/1935) que previa a prisão por atividades consideradas subversivas; Caio Prado Jr. foi perseguido e preso por cerca de dois anos. Exilou-se na França em 1937; ao retornar em 1940 se deparou com a ditadura implantada por Vargas, configurada pelo Estado Novo. Em 1942 lançou Formação do Brasil Contemporâneo e começou a atuar como editor: em 1943 participou da Revista Hoje; com Monteiro Lobato e Arthur Neves fundou a Editora Brasiliense, a Gráfica Urupês e a Revista Brasiliense (1955), fechada após o golpe civil e militar de 1964. Elegeu-se deputado estadual por São Paulo em 1947 pelo Partido Comunista do Brasil (PCB), mas o PCB foi posto na ilegalidade pelo governo Dutra, por isso Caio Prado Jr. teve o mandato cassado (assim como os demais candidatos do Partido em 1948). Em 1956 Caio Prado Jr. voltou-se para a docência acadêmica e participou do processo seletivo para a cátedra de Economia Política da Faculdade de Direito, porém não obteve êxito. Em 1968 ele tentou ingressar no Departamento de História da FFCL/USP para cátedra de História do Brasil, porém o concurso foi cancelado por intervenção política. O regime de ditadura militar cassou seus direitos políticos, levando-o ao exílio no Chile. Ao retornar ao país em 1970, foi preso e condenado por subversão pelo Supremo Tribunal Militar, contudo no ano seguinte o mesmo tribunal concedeu-lhe habeas corpus. Em 1988, recebeu o Prêmio “Almirante Álvares Alberto para Ciência e Tecnologia” do Ministério da Ciência e Tecnologia e do CNPq (CNPq). A produção intelectual de Caio Prado Jr. contribuiu muito para historiografia brasileira, sendo consagrada como uma das principais interpretações do Brasil, ao lado de Gilberto Freyre e Sergio Buarque de Holanda, apesar de apresentarem diferentes abordagens, com linhas metodológicas distintas, eles constituem os pilares para análise do Brasil colonial. Caio Prado Jr apresenta a formação do Brasil no processo de integração econômica, com uma perspectiva de história integrada, afirmando que o 2
  • 3. “sentido da colonização” consistia na acumulação de capital para sociedades europeias, com uma economia voltada para o mercado externo. Intelectual marxista, Caio Prado Jr. destacou a estrutura econômica, baseada no trabalho escravo, do Brasil colônia, sem deixar de lado as relações sociais e a política. Fez uma abordagem das relações comerciais europeias com as Índias e a África no século XV, da exploração na costa africana, tráfico de marfim, ouro e escravos para fins mercantis, nesse processo os portugueses foram pioneiros em implementar a exploração agrária em grandes unidades produtoras, com trabalhadores subordinados e sem propriedade nas suas colônias, utilizando “mão-de-obra escrava de outras raças, indígenas do continente ou negros africanos importados.” No século XIX, várias teorias foram propostas para explicar a origem das “raças”, no Brasil, essas ideias foram repensadas e adaptadas pela elite e alguns intelectuais que viam na questão “racial” um problema para o desenvolvimento da nação. Evolucionismo cultural e teorias raciais são apropriados e misturam-se nas teorias que discutiram a formação social brasileira. O pensamento é reflexo do meio estrutural, por isso ainda encontramos o conceito de “raças inferiores” no discurso de Caio Prado Jr., permanece em seu discurso, a concepção de “inferioridade” dos povos não brancos, a abordagem filosófica e política são ostensivamente ocidentais, pautada por um modelo de civilização europeu. Caio Prado Jr. estabelece um diálogo com Gilberto Freyre no sentido da formação nacional, concluindo que nossa formação foi destinada a suprir as necessidades do mercado externo, com uma organização voltada para a produção. A questão da diversidade na formação do Brasil colônia é uma questão complexa, em especial a diversidade de índios e negros na composição étnica do país. Segundo Caio Prado Jr., a mestiçagem é o signo no qual se forma a nação brasileira. Com o fim do trabalho indígena, ocorre um aumento no tráfico africano, mais eficiente e fácil para trabalhar do que as “tribos bárbaras”. Segundo o autor o negro era mais simples, “uniformizado pela escravidão” não apresentou problemas com colonos brancos. A mestiçagem seria o resultado de um processo de “orgia de sexualismo”, e o “cruzamento de raças” ocorria principalmente fora do casamento, constituindo-se num fator de unidade nacional. A falta de mulheres brancas foi outro fator apontado por Caio Prado Jr. para explicar a mestiçagem no Brasil, facilitando o relacionamento do colono com “mulheres de outras raças” que ocupavam uma posição social inferior, além da “impetuosidade do português e a ausência total de freios morais”. 3
  • 4. A situação étnica, na obra de Caio Prado Jr., está associada à posição social do indivíduo, ocorrendo no Brasil uma contradição porque apesar da mestiçagem havia um forte preconceito de cor. Assim “o paralelismo das escalas cromáticas e social fez do branco e da pureza de raça um ideal que exerce importante função na evolução étnica brasileira”, a hierarquia social relaciona-se diretamente com uma concepção de hierarquia racial. A idéia de “evolução étnica brasileira” está ligada ao ideal de embranquecimento, segundo o autor. Segundo o autor a escravidão era uma instituição praticamente abolida quando ressurge na modernidade e, em maiores proporções que no mundo antigo, para atender as necessidades mercantis do comércio europeu, contrária a todos os padrões morais e materiais estabelecidos. Outro elemento que caracteriza a escravidão moderna: “foram eles os indígenas da América e o negro africano, povos de nível cultural ínfimo, comparado a de seus dominadores”. No discurso não há uma valorização das diferentes crenças, sistemas filosóficos, influências no vocabulário e da participação do negro na formação do país, porém com relação à luta pela liberdade, Caio Prado Jr. enfatiza a “rebelião das senzalas” e a formação dos quilombos como forma de resistência ao trabalho escravo. Caio Prado Jr. faleceu em 1990, aos 83 anos na cidade de São Paulo, deixando como herança uma contribuição significativa para a historiografia brasileira. Bibliografia: Evolução política do Brasil. São Paulo, Companhia das Letras, 1933. URSS - um novo mundo. Companhia Editora Nacional. 1934. Formação do Brasil Contemporâneo. São Paulo, Companhia das Letras, 1942. História Econômica no Brasil. Editora Brasiliense, 1945. Dialética do Conhecimento. Editora Brasiliense, 1952. Evolução Política do Brasil e Outros Estudos. São Paulo, Editora Brasiliense, 1953. Diretrizes para uma Política Econômica Brasileira. São Paulo, Gráfica Urupês, 1954. Esboço de Fundamentos da Teoria Econômica. Editora Brasiliense, 1957. Introdução à Lógica Dialética (Notas Introdutórias). São Paulo, Editora Brasiliense, 1959. O Mundo do Socialismo. Editora Brasiliense, 1962. A Revolução Brasileira. Editora Brasiliense, 1966. 4
  • 5. Estruturalismo de Lévi-Strauss - O Marxismo de Louis Althusser. Editora Brasiliense, 1971. História e Desenvolvimento. Editora Brasiliense, 1972. A Questão Agrária no Brasil. Editora Brasiliense, 1979. O que é Liberdade. Editora Brasiliense, 1980 O que é Filosofia. Editora Brasiliense, 1981 A Cidade de São Paulo. Editora Brasiliense, 1983 Fontes: PRADO JR, C. Formação do Brasil Contemporâneo. São Paulo, Companhia das Letras, 1942. SANTOS, R. Caio Prado Jr. Dissertação sobre a Revolução Brasileira. São Paulo, Editora Brasiliense, 2007. MÁXIMO, N. C. Biografias: Caio Prado Júnior. Blog da Brasiliense, São Paulo, set/ 2011. Disponível em: <http://blogdabrasiliense.blogspot.com.br/> Acesso em: 20 ago. 2011 FERNANDES, C. Só Biografias. In: Universidade Federal de Campina. Disponível em: <http://www.dec.ufcg.edu.br/biografias/CaioPJun.html >. Acesso em: 20 ago. 2011. SILVA, M. Caio Prado Jr.: Incômodas ilusões. Revista de História, São Paulo, n.161, dez. 2009<http://www.revistasusp.sibi.usp.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0034- 83092009000200017&lng=pt&nrm=iso >. Data de acesso: 20. Ago. 2011. 5