O documento discute conceitos de currículo escolar e formas de integrar tecnologias ao currículo. Define currículo como um conjunto de conteúdos e atividades organizados por escolas ou redes de ensino com base nos Parâmetros Curriculares Nacionais brasileiros. Discutem-se propostas para tornar o currículo mais inclusivo e contextualizado, como trazer a cultura local à sala de aula e aplicar o conhecimento a problemas reais. Também aborda a importância de planejamento coletivo e acompanhamento individualizado dos estud
1. CONCEITO DE CURRÍCULO E O PROCESSO DE INTEGRAÇÃO DE
TECNOLOGIAS AO CURRÍCULO
Silvania Bucar
Um currículo pode ser definido por uma Rede de Ensino (para todas as suas
escolas), ou por uma escola em particular. Um currículo também pode ser
definido a partir dos livros didáticos que são adotados para cada série
escolar ou pode funcionar a partir de algumas diretrizes nacionais.
Em nosso país não existe um currículo único nacional, conhecemos os
Parâmetros Curriculares Nacionais que trazem como sugestão, uma forma
de definição das disciplinas e distribuição dos conteúdos entre os
componentes curriculares propostos. Devido à dimensão territorial e à
diversidade cultural, política e social do país, nem sempre os Parâmetros
Curriculares chegam às salas de aula.
O que nos interessa neste momento é discutir o currículo frente ao desafio
de ensinar a todos e de integrá-lo às tecnologias, portanto, como trabalhar a
partir de um currículo com as diferenças nas formas de aprender e na
cultura.
Com este objetivo, várias escolas brasileiras têm elaborado formas de
organização do ensino que privilegiam conhecimentos da pedagogia
contemporânea para oportunizar a todos o acesso ao conhecimento.
Entre estas contribuições encontramos: a importância de trazer para a sala
de aula a cultura local, o estudo de problemas cotidianos, a aplicação do
conhecimento aos problemas que a aluna ou o aluno precisam enfrentar em
seu dia-a-dia e as contribuições das tecnologias.
Junto a esta perspectiva, encontramos também a possibilidade de libertar a
escola do cumprimento de uma lista de conteúdos previamente estipulados
e, propondo aprendizados fundamentais em um determinado número de
anos (além do ano letivo), ir desenvolvendo métodos de acompanhamento
das aprendizagens que atendam ao contexto de desenvolvimento que cada
aluno apresenta.
Neste sentido: “O currículo surge, então, em uma dimensão ampla que o
entende em sua função socializadora e cultural, bem como forma de
apropriação da experiência social acumulada e trabalhada a partir do
conhecimento formal que a escola escolhe, organiza e propõe como centro
as atividades escolares” (Krug, 2001, p. 56).
Esta compreensão implica, ao abordar o currículo escolar, entender que
este apresenta aspectos inter-relacionados de diferentes áreas humanas:
sócio-antropológica, psicopedagógica, epistemológica e filosófica,
integrando também os aspectos tecnológicos a esta dimensão do currículo.
Diante destas contribuições, cabe sintetizar a noção de currículo com a qual
trabalhamos associada à concepção de aprendizagem que compartilhamos:
em sua natureza, o currículo necessariamente implica diferentes formas de
apropriação que o sujeito faz de um conjunto de vivências e conhecimentos
2. oportunizados pela escola. Trata-se sempre de uma reconstrução individual,
portanto, diferenciada a cada aluna/aluno.
Ao pensarmos o currículo escolar, devemos atentar que nem tudo o que a
escola diz ensinar, a aluna ou o aluno assumem como aprendidos e, ainda,
que nem tudo o que alunas e alunos dizem ter aprendido na escola, a escola
assume como resultado de seu ensino.
De fato, nas escolas, muitas coisas são ensinadas sem necessariamente
serem anunciadas e muitas coisas são aprendidas sem que constem dos
currículos escolares.
O método que a escola usa para a definição do conhecimento que vai
trabalhar diz muito sobre como ela encara o desafio de ensinar a todos.
Mais que respostas, algumas perguntas podemos fazer a nós mesmos sobre
o ensino na sala de aula:
Quem define o conteúdo que será trabalhado em sala de aula? Com quem e
a partir de que este conteúdo é definido?
Como se distribui o trabalho com o conhecimento entre as séries ou ciclos?
Como as professoras e professores interpretam a ciência? Ela se
fundamenta de verdades ou incertezas?
Quando e como o trabalho em sala de aula é planejado? O planejamento é
coletivo? Acontece com os alunos e alunas junto aos professores e
professoras? Acontece diariamente, semanalmente, mensalmente,
semestralmente ou anualmente? As séries planejam vertical e
horizontalmente? E os ciclos?
De que maneiras são acompanhadas as construções dos alunos e alunas?
Em que medida o currículo é diferenciado para atender às diferentes formas
de aprender e às diferentes sínteses que o sujeito constrói ao longo de sua
vida? Quais as contribuições das tecnologias ao desenvolvimento do
currículo? Como integrar efetivamente as tecnologias ao desenvolvimento do currículo?
Como desenvolver projetos no âmbito do currículo? Algumas propostas de trabalho
curricular são desenvolvidas no Brasil e podem colaborar com a escola na atividade de
ensinar de forma participativa e crítica a todos. Entre estas propostas podemos citar o
tema gerador, o complexo temático e também a rede temática.
Estas propostas têm em comum a organização do ensino a partir de uma leitura da
realidade vivida pelos alunos e alunas, com o objetivo de elencar conceitos, formas de
linguagem e relações políticas, tecnológicas econômicas e sociais presentes no cotidiano
destes estudantes.
A partir desta leitura, alguns conhecimentos são elencados para o trabalho através das
diferentes disciplinas ou do conjunto de professores que trabalha com a turma.
Definidos estes conceitos, a serem decodificados, o que se pretende é que o aluno ou
aluna consiga avançar de uma determinada forma de ver a sua realidade (chamada
realidade percebida) para uma outra forma (chamada concebida), mais elaborada e
crítica.
Nesta transformação da forma como o sujeito vê o real é que diversos conteúdos vão
sendo trabalhados, buscando instrumentalizar o estudante para a transformação social e
atual da realidade.