O documento apresenta dois trechos de poemas que tratam do tráfico negreiro. No primeiro trecho, há uma metáfora onde a bandeira brasileira é prostituída pela escravidão. No segundo trecho, os eventos são apresentados por meio de três planos visuais diferentes: um locutor distante, um plano médio e um close.
3. TEXTO
treinamento de questões abertas
E
existe
um
povo
que
a
bandeira
empresta
P’ra
cobrir
tanta
infâmia
e
cobardia!…
E
deixa-‐a
transformar-‐se
nessa
festa
Em
manto
impuro
de
bacante
fria!…
Meu
Deus!
meu
Deus!
Mas
que
bandeira
é
esta,
Que
impudente
na
gávea
tripudia?!…
Silêncio!…
Musa!
Chora,
chora
tanto
Que
o
pavilhão
se
lave
no
teu
pranto…
Auriverde
pendão
de
minha
terra,
Que
a
brisa
do
Brasil
beija
e
balança,
Estandarte
que
a
luz
do
sol
encerra,
E
as
promessas
divinas
da
esperança…
Tu,
que
da
liberdade
após
a
guerra,
Foste
hasteado
dos
heróis
na
lança,
Antes
te
houvessem
roto
na
batalha,
Que
servires
a
um
povo
de
mortalha!…
ALVES,
Castro.
Navio
negreiro.
Rio
de
Janeiro:
MarWns
Fontes,
2005.
4. QUESTÃO 01
treinamento de questões abertas 02
Explicite
e
explique,
num
breve
texto,
as
metáforas
presentes
no
trecho
transcrito
acima.
5. SOLUÇÃO COMENTADA
treinamento de questões abertas 02
A
principal
metáfora
presente
neste
fragmento
é
a
bandeira
brasileira
[auriverde
pendão
da
minha
terra/
que
a
brisa
do
Brasil
beija
e
balança]
que
está
prosWtuída
pela
escravidão.
O
locutor,
indignado
com
o
tráfico
negreiro,
chega
mesmo
a
pensar
que
teria
sido
melhor
a
bandeira
ter
sido
profanada
durante
a
Guerra
do
Paraguai
do
que
servir
de
mortalha
ao
povo
negro.
Denuncia-‐se,
pois,
a
prosWtuição
do
maior
símbolo
nacional.
7. TEXTO
treinamento de questões abertas
Desce
do
espaço
imenso,
ó
águia
do
oceano!
Desce
mais...
inda
mais...
não
pode
olhar
humano
Como
o
teu
mergulhar
no
brigue
voador!
Mas
que
vejo
eu
aí...
Que
quadro
d’amarguras!
É
canto
funeral!
...
Que
tétricas
figuras!
...
Que
cena
infame
e
vil...
Meu
Deus!
Meu
Deus!
Que
horror!
ALVES,
Castro.
Navio
negreiro.
Rio
de
Janeiro:
MarWns
Fontes,
2005.
8. QUESTÃO 02
treinamento de questões abertas 02
Construa
um
breve
texto,
apresentando
o
plano
visual
presente
na
estrutura
do
“Navio
negreiro”.
9. SOLUÇÃO COMENTADA
treinamento de questões abertas 02
os
eventos,
em
“Navio
negreiro”,
são
apresentados
em
três
planos
diferentes:
poesia e visualidade
a)
o
locutor
distanciado
da
cena,
contemplando
das
alturas
a
cena;
b)
um
locutor
que
apresenta
um
plano
médio
em
que
há
várias
personagens
envolvidas;
c)
pequeno
plano
em
que
se
destacam
uma
ou
duas
personagens.
11. TEXTO
treinamento de questões abertas
DUAS
BANANAS
E
A
BANANEIRA,
João
Cabral
de
Melo
Neto
Entre
a
caaWnga
tolhida
e
raquíWca
entre
uma
vegetação
ruim,
de
orfanato:
no
mais
alto,
o
mandacaru
se
edifica
a
torre
gigante
e
de
braço
levantado;
quem
o
depara,
nessas
chãs
atrofiadas,
pensa
que
ele
nasce
ali
por
acaso;
mas
ele
dá
naWvo
ali,
e
daí
fazer-‐se
assim
alto
e
com
o
braço
para
o
alto.
Para
que,
por
encima
do
mato
anêmico,
desde
o
país
eugênico
além
das
chãs,
se
veja
a
banana
que
ele,
mandacaru,
dá
em
nome
da
caaWnga
anã
e
irmã.
A
bananeira
dá,
luzidia
e
contente,
nos
fundos
de
quintal,
com
despejos,
com
monturos
de
lixo:
fogueira
fria
e
sem
fumo,
mas
fumegando
mau
cheiro;
e
mais
daria
se
o
dicionário
omiWsse
banana
gesto
de
rebeldia
e
indecente;
se
além
de
banana
fruta,
registrasse
banana
coisa
sem
espinhaço,
somente.
Daí
a
bananeira
dobrar,
como
impotente,
A
ereção
do
mangará,
de
crua
macheza;
E
daí
conceber
as
bananas
sem
caroço
Fáceis
de
despir,
com
carne
de
rameira.
MELO
NETO,
João
Cabral
de.
A
educação
pela
pedra.
Rio
de
Janeiro:
Nova
Fronteira,
1999.
12. QUESTÃO 03
treinamento de questões abertas 02
A
parWr
da
leitura
de
“Duas
bananas
&
a
bananeira”,
redija
um
texto,
explicando
em
que
consiste
a
correspondência
externa
ou
semânWca
[também
chamada
de
técnica
do
contraste],
presente
em
A
educação
pela
pedra.
13. SOLUÇÃO COMENTADA
treinamento de questões abertas 02
a
correspondência
externa
consiste
no
uso
da
técnica
do
confronto
ou
contraste,
por
intermédio
estrofe 01
banana:
senWdo
denotaWvo:
flor
do
mandacaru
banana:
senWdo
conotaWvo:
resistência,
vigor;
lugar
NE
da
qual
se
focaliza,
de
forma
contrastante,
dois
aspectos
de
um
mesmo
tema
estrofe 02
banana:
senWdo
denotaWvo:
fruto
da
bananeira
banana:
senWdo
conotaWvo:
falta
de
fibra,
passividade;
lugar
SE.
15. TEXTO
treinamento de questões abertas 02
A
voz
de
Madalena
conWnua
a
acariciar-‐me.
Que
diz
ela?
Pede-‐me
naturalmente
que
mande
algum
dinheiro
a
mestre
Caetano.
Isto
me
irrita,
mas
a
irritação
é
diferente
das
outras,
é
uma
irritação
anWga,
que
me
deixa
inteiramente
calmo.
Loucura
estar
uma
pessoa
ao
mesmo
tempo
zangada
e
tranquila.
Mas
estou
assim.
Irritado
contra
quem?
Contra
mestre
Caetano.
Não
obstante
ele
ter
morrido,
acho
bom
que
vá
trabalhar.
Mandrião!
A
toalha
reaparece,
mas
não
sei
se
é
esta
toalha
sobre
que
tenho
as
mãos
cruzadas
ou
a
que
estava
aqui
há
cinco
anos.
Rumor
do
vento,
dos
sapos,
dos
grilos.
A
porta
do
escritório
abre-‐se
de
manso,
os
passos
de
seu
Ribeiro
afastam-‐se.
Uma
coruja
pia
na
torre
da
Igreja.
Terá
realmente
piado
a
coruja?
Será
a
mesma
que
piava
há
dois
anos?
Talvez
seja
até
o
mesmo
pio
daquele
tempo.
RAMOS,
Graciliano.
São
Bernardo.
Rio
de
Janeiro:
Record,
2005.
16. QUESTÃO 04
treinamento de questões abertas 02
Construa
um
texto,
explicando
a
confluência
dos
tempos
[passado
e
presente]
no
fragmento
lido.
17. SOLUÇÃO COMENTADA
treinamento de questões abertas 02
[enunciado]
narração
dos
eventos
vividos
ou
testemunhados
distanciamento
temporal
verbos
no
pretérito:
perfeito
ou
imperfeito
o
fazendeiro
se
recorda
de
sua
vida
[enunciação]
reflexão
s/
o
processo
d
construção
da
narraWva
análise
psicológica
de
si
e
de
Madalena
verbos
no
presente
do
indicaWvo
nada
tendo
para
fazer,
constrói-‐se
o
romance
19. TEXTO 01
treinamento de questões abertas
SE
SE
MORRE
DE
AMOR,
Gonçalves
Dias
[fragmento]
Se
se
morre
de
amor!
Não,
não
se
morre,
Quando
é
fascinação
que
nos
surpreende
De
ruidoso
sarau
entre
os
festejos;
Quando
luzes,
calor,
orquestra
e
flores
Assomos
de
prazer
nos
raiam
n’alma,
Que
embelezada
e
solta
em
tal
ambiente
No
que
ouve,
e
no
que
vê
prazer
alcança!
SimpáWcas
feições,
cintura
breve,
Graciosa
postura,
porte
airoso,
Uma
fita,
uma
flor
entre
os
cabelos,
Um
quê
mal
definido,
acaso
podem
Num
engano
d’amor
arrebatar-‐nos
Mas
isso
amor
é;
isso
é
delírio,
Devaneio,
ilusão,
que
se
esvanece
Ao
som
final
da
orquestra,
ao
derradeiro
Clarão,
que
as
luzes
no
morrer
despedem:
Se
outro
nome
lhe
dão,
se
amor
o
chamam,
D’amor
igual
ninguém
sucumbe
à
perda.
20. TEXTO 01
treinamento de questões abertas
SE
SE
MORRE
DE
AMOR,
Gonçalves
Dias
[fragmento]
Amor
é
vida;
é
ter
constantemente
Alma,
senWdos,
coração
–
abertos
Ao
grande,
ao
belo,
é
ser
capaz
d’extremos,
D’altas
virtudes,
té
capaz
de
crimes!
Compr’ender
o
infinito,
a
imensidade,
E
a
natureza
de
Deus;
gostar
dos
campos,
D’aves,
flores,
murmúrios
solitários;
Buscar
a
natureza,
a
soledade,
o
ermo,
E
ter
o
coração
em
riso
e
festa;
E
à
branda
festa,
ao
riso
da
nossa
alma
Fontes
de
pranto
intercalar
sem
custo;
No
mesmo
tempo,
e
ser
no
mesmo
ponto
O
ditoso,
o
misérrimo
dos
entes:
Isso
é
amor
e
desse
amor
se
morre!
GARBUGLIO,
José
Carlos
(Organizador).
Melhores
poemas
de
Gonçalves
Dias.
São
Paulo:
Global,
2010.
21. TEXTO 02
treinamento de questões abertas
DREAMS,
DREAMS,
DREAMS,
Álvares
de
Azevedo
[fragmento]
Quando,
à
noite,
no
leito
perfumado
Lânguida
fronte
no
sonhar
reclinas,
No
vapor
da
ilusão
por
que
te
orvalha
Pranto
de
amor
as
pálpebras
divinas?
E,
quando
eu
te
contemplo
adormecida
Solto
o
cabelo
no
suave
leito,
Por
que
um
suspiro
tépido
ressona
E
desmaia
suavíssimo
em
teu
peito?
Virgem
do
meu
amor,
o
beijo
a
furto
Que
pouso
em
tua
face
adormecida
Não
te
lembra
do
peito
os
meus
amores
E
a
febre
do
sonhar
de
minha
vida?
Dorme,
ó
anjo
de
amor!
no
teu
silêncio
O
meu
peito
se
afoga
de
ternura...
E
sinto
que
o
porvir
não
vale
um
beijo
E
o
céu
um
teu
suspiro
de
ventura!
Um
beijo
divinal
que
acende
as
veias,
Que
de
encantos
os
olhos
ilumina,
Colhido
a
medo,
como
flor
da
noite,
Do
teu
lábio
na
rosa
purpurina...
E
um
volver
de
teus
olhos
transparentes,
Um
olhar
dessa
pálpebra
sombria
Talvez
pudessem
reviver-‐me
n’alma
As
santas
ilusões
de
que
eu
vivia!
AZEVEDO,
Álvares
de.
Lira
dos
vinte
anos.
Rio
de
Janeiro:
Vila
Rica,
1999.
22. TEXTO 03
treinamento de questões abertas
BOA
NOITE,
Castro
Alves
[fragmento]
Boa
noite,
Maria!
Eu
vou-‐me
embora.
A
lua
nas
janelas
bate
em
cheio...
Boa
noite,
Maria!
É
tarde...
é
tarde...
Não
me
apertes
assim
contra
teu
seio.
Boa
noite!...
E
tu
dizes
–
Boa
noite.
Mas
não
digas
assim
por
entre
beijos...
Mas
não
me
digas
descobrindo
o
peito,
–
Mar
de
amor
onde
vagam
meus
desejos.
É
noite
ainda!
Brilha
na
cambraia
–
Desmanchado
o
roupão,
a
espádua
nua
–
o
globo
de
teu
peito
entre
os
arminhos
Como
entre
as
névoas
se
balouça
a
lua...
É
noite,
pois!
Durmamos,
Julieta!
Recende
a
alcova
ao
trescalar
das
flores,
Fechemos
sobre
nós
estas
corWnas...
–
São
as
asas
do
arcanjo
dos
amores.
[...]
A
frouxa
luz
da
alabastrina
lâmpada
Lambe
voluptuosa
os
teus
contornos...
Oh!
Deixa-‐me
aquecer
teus
pés
divinos
Ao
doudo
afago
de
meus
lábios
mornos.
Mulher
do
meu
amor!
Quando
aos
meus
beijos
Treme
tua
alma,
como
a
lira
ao
vento,
Das
teclas
de
teu
seio
que
harmonias,
Que
escalas
de
suspiros,
bebo
atento!
Ai!
Canta
a
cavaWna
do
delírio,
Ri,
suspira,
soluça,
anseia
e
chora...
Marion!
Marion!...
É
noite
ainda.
Que
importa
os
raios
de
uma
nova
aurora?!...
ALVES,
Castro.
Espumas
flutuantes.
Rio
de
Janeiro:
MarWns
Fontes,
2003.
23. QUESTÃO 05
treinamento de questões abertas 02
Redija
um
breve
texto,
explicando
como
o
amor
e
a
mulher
são
apresentados
em
cada
um
dos
momentos
do
RomanWsmo
brasileiro,
tomando
por
base
a
leitura
dos
poemas
de
Gonçalves
Dias,
de
Álvares
de
Azevedo
e
de
Castro
Alves.
24. SOLUÇÃO COMENTADA
treinamento de questões abertas 02
o
discurso
do
romanWsmo
brasileiro
é
heterogêneo
quando
trata
da
mulher
e
do
amor
a mulher
poema
01:
elemento
incorpóreo,
idealizado,
perfeito
e
distante
do
sujeito
poéWco;
poema
02:
proximidade
do
locutor;
aparece
eroWzada;
idealização;
poema
03:
proximidade
do
locutor;
carne
e
osso;
disponibilidade
para
o
amor;
o amor
poema
01:
platonismo:
ideia,
irrealizado;
associa-‐se
a
um
estado
de
espírito
e
à
subjeWvidade;
poema
02:
idealizado;
o
medo
de
amar
faz
com
que
o
locutor
não
realize
seus
intentos
eróWcos;
poema
03:
o
discurso
poéWco
arWcula-‐se
com
tentaWva
de
reter
na
memória
a
experiência
eróWca.
26. TEXTO
treinamento de questões abertas 02
Do
narrador
seus
ouvintes:
DESENREDO,
Guimarães
Rosa
–
Jó
Joaquim,
cliente,
era
quieto,
respeitado,
bom
como
o
cheiro
de
cerveja.
Tinha
o
para
não
ser
célebre.
Como
elas
quem
pode,
porém?
Foi
Adão
dormir
e
Eva
nascer.
Chamando-‐se
Livíria,
Rivília
ou
Irlívia,
a
que,
nesta
observação,
a
Jó
Joaquim
apareceu.
Antes
bonita,
olhos
de
viva
mosca,
morena
mel
e
pão.
Aliás,
casada.
Sorriram-‐se,
viram-‐se.
Era
infinitamente
maio
e
Jó
Joaquim
pegou
o
amor.
Enfim,
entenderam-‐se.
Voando
o
mais
em
ímpeto
de
nau
tangida
a
vela
e
vento.
Mas
tendo
tudo
de
ser
secreto,
claro,
coberto
de
sete
capas.
Porque
o
marido
se
fazia
notório,
na
valenWa
com
ciúme;
e
as
aldeias
são
a
alheia
vigilância.
Então
ao
rigor
geral
os
dois
se
sujeitaram,
conforme
o
clandesWno
amor
em
sua
forma
local,
conforme
o
mundo
é
mundo.
Todo
abismo
é
navegável
a
barquinhos
de
papel.
Não
se
via
quando
e
como
se
viam.
Jó
Joaquim,
além
disso,
exisWndo
só
retraído,
minuciosamente.
Esperar
é
reconhecer-‐se
incompleto.
Dependiam
eles
de
enorme
milagre.
O
inebriado
engano.
Até
que
-‐deu-‐se
o
desmastreio.
O
trágico
não
vem
a
conta-‐gotas.
Apanhara
o
marido
a
mulher:
com
outro,
um
terceiro...
Sem
mais
cá
nem
mais
lá,
mediante
revólver,
assustou-‐a
e
matou-‐o.
Diz-‐se,
também,
que
a
ferira,
leviano
modo.
27. TEXTO
treinamento de questões abertas 02
Jó
Joaquim,
derrubadamente
surpreso,
no
absurdo
desisWa
de
crer,
e
foi
para
o
decúbito
dorsal,
por
dores,
frios,
calores,
quiçá
lágrimas,
devolvido
ao
barro,
entre
o
inefável
e
o
infando.
Imaginara-‐a
jamais
a
ter
o
pé
em
três
estribos;
chegou
a
maldizer
de
seus
próprios
e
gratos
abusufrutos.
Reteve-‐se
de
vê-‐la.
Proibia-‐se
de
ser
pseudo
personagem,
em
lance
de
tão
vermelha
e
preta
amplitude.
Ela
–
longe
–
sempre
ou
ao
máximo
mais
formosa,
já
sarada
e
sã.
Ele
exercitava-‐se
a
aguentar-‐
se,
nas
defeituosas
emoções.
Enquanto,
ora,
as
coisas
amaduravam.
Todo
fim
é
impossível?
Azarado
fugiWvo,
e
como
à
Providência
praz,
o
marido
faleceu,
afogado
ou
de
Wfo.
O
tempo
é
engenhoso.
Soube-‐o
logo
Jó
Joaquim,
em
seu
franciscanato,
dolorido
mas
já
medicado.
Vai,
pois,
com
a
amada
se
encontrou
–
ela
suWl
como
uma
colher
de
chá,
grude
de
engodos,
o
firme
fascínio.
Nela
acreditou,
num
abrir
e
não
fechar
de
ouvidos.
Daí,
de
repente,
casaram-‐se.
Alegres,
sim,
para
feliz
escândalo
popular,
por
que
forma
fosse.
Mas.
Sempre
vem
imprevisível
o
abominoso?
Ou:
os
tempos
se
seguem
e
parafraseiam-‐se.
Deu-‐se
a
entrada
dos
demônios.
Da
vez,
Jó
Joaquim
foi
quem
a
deparou,
em
péssima
hora:
traído
e
traidora.
De
amor
não
a
matou,
que
não
era
para
truz
de
Wgre
ou
leão.
Expulsou-‐a
apenas,
apostrofando-‐se,
como
inédito
poeta
e
homem.
E
viajou
a
mulher,
a
desconhecido
desWno.
28. TEXTO
treinamento de questões abertas 02
Tudo
aplaudiu
e
reprovou
o
povo,
reparWdo.
Pelo
fato,
Jó
Joaquim
senWu-‐se
histórico,
quase
criminoso,
reincidente.
Triste,
pois
que
tão
calado.
Suas
lágrimas
corriam
atrás
dela,
como
formiguinhas
brancas.
Mas,
no
frágio
da
barca,
de
novo
respeitado,
quieto.
Vá-‐se
a
camisa,
que
não
o
dela
dentro.
Era
o
seu
um
amor
meditado,
a
prova
de
remorsos.
Dedicou-‐se
a
endireitar-‐
se.
Mais.
No
decorrer
e
comenos,
Jó
Joaquim
entrou
sensível
a
aplicar-‐se,
a
progressivo,
jeitoso
afã.
A
bonança
nada
tem
a
ver
com
a
tempestade.
Crível?
Sábio
sempre
foi
Ulisses,
que
começou
por
se
fazer
de
louco.
Desejava
ele,
Jó
Joaquim,
a
felicidade
–
ideia
inata.
Entregou-‐se
a
remir,
redimir
a
mulher,
à
conte
inteira.
Incrível?
É
de
notar
que
o
ar
vem
do
ar.
De
sofrer
e
amar,
a
gente
não
se
desafaz.
Ele
queria
os
arquéWpos,
platonizava.
Ela
era
um
aroma.
Nunca
Wvera
ela
amantes!
Não
um.
Não
dois.
Disse-‐se
e
dizia
isso
Jó
Joaquim.
Reportava
a
lenda
a
embustes,
falsas
lérias
escabrosas.
Cumpria-‐lhe
descaluniá-‐la,
obrigava-‐se
por
tudo.
Trouxe
à
boca-‐de-‐cena
do
mundo,
de
caso
raso,
o
que
fora
tão
claro
como
água
suja.
Demonstrando-‐o,
amatemáWco,
contrário
ao
público
pensamento
e
à
lógica,
desde
que
Aristóteles
a
fundou.
O
que
não
era
tão
fácil
como
fritar
almôndegas.
Sem
malícia,
com
paciência,
sem
insistência,
principalmente.
O
ponto
está
em
que
o
soube,
de
tal
arte:
por
anWpesquisas,
acronologia
miúda,
conversinhas
escudadas,
remendados
testemunhos.
Jó
Joaquim,
genial,
operava
o
passado
–
plásWco
e
contraditório
rascunho.
Criava
nova,
transformada
realidade,
mais
alta.
Mais
certa?
29. TEXTO
treinamento de questões abertas 02
Celebrava-‐a,
ufanáWco,
tendo-‐a
por
justa
e
averiguada,
com
convicção
manifesta.
Haja
o
absoluto
amar
–
e
qualquer
causa
se
irrefuta.
Pois
produziu
efeito.
SurWu
bem.
Sumiram-‐se
os
pontos
das
reWcências,
o
tempo
secou
o
assunto.
Total
o
transato
desmanchava-‐se,
a
anterior
evidência
e
seu
nevoeiro.
O
real
e
válido,
na
árvore,
é
a
reta
que
vai
para
cima.
Todos
já
acreditavam.
Jó
Joaquim
primeiro
que
todos.
Mesmo
a
mulher,
até,
por
fim.
Chegou-‐lhe
lá
a
noxcia,
onde
se
achava,
em
ignota,
defendida,
perfeita
distância.
Soube-‐se
nua
e
pura.
Veio
sem
culpa.
Voltou,
com
dengos
e
fofos
de
bandeira
ao
vento.
Três
vezes
passa
perto
da
gente
a
felicidade.
Jó
Joaquim
e
Vilíria
retomaram-‐se,
e
conviveram,
convolados,
o
verdadeiro
e
melhor
de
sua
úWl
vida.
E
pôs-‐se
a
fábula
em
ata.
ROSA,
Guimarães.
Tutaméia.
Rio
de
Janeiro:
Nova
Fronteira,
2001.
31. SOLUÇÃO COMENTADA
treinamento de questões abertas 02
o
enredo
se
refere
à
anedota,
aos
fatos
centrais
de
uma
narraWva
o enredo
apresenta-‐se
uma
história
de
amor
e
traição
o prefixo
des
é
um
prefixo
que
indica
contrariedade,
oposição
lendo o título
como
a
mulher
é
adúltera,
esperava-‐se
que
não
houvesse
um
final
feliz
entre
ela
e
o
protagonista
o
xtulo
do
conto
anuncia
,
entretanto,
o
não
crível,
o
não
esperado:
o
protagonista,
cego
de
amor,
luta
contra
o
narrador
e
contra
o
senso
comum
[provérbios]
redime
a
mulher,
ao
atribuir
as
traições
dela
a
falsidade,
às
invenções
e
à
língua
do
povo
desenredo:
ao
final
do
conto,
todos
acreditam
na
versão
que
Jó
Joaquim
criou
para
os
fatos
32. QUESTÃO 07
treinamento de questões abertas 02
Redija
um
breve
texto,
analisando
os
nomes
das
personagens.
33. SOLUÇÃO COMENTADA
treinamento de questões abertas 02
o
protagonista:
intertexto
bíblico;
a
mulher:
inconstância
jó
personagem
bíblica
conhecida
pela
extrema
paciência
e
por
suportar
muito
sofrimento
joaquim
o
que
levanta
ou
restabelece
a mulher
o
fato
de
ter
sido
designada
por
três
nomes
sugere
sua
infidelidade
[trai
três
vezes]
os
nomes
são
anagramas
[Irlívia,
Rilívia,
Vilíria];
o
úlWmo
nome
sugere
a
união
dos
opostos
numa
só
palavra
[oximoro]
Vilíria:
vil
[desprezível/repugnante/nfame]
+
lírio
[metáfora
da
pureza;
associado
à
Virgem
Maria]
34. QUESTÃO 08
treinamento de questões abertas 02
Redija
um
breve
texto,
analisando
os
valores
sintáWcos,
semânWcos
e
estruturais
dos
conectores
“Mas”
e
“Mais”,
destacados
na
narraWva
rosiana.
35. SOLUÇÃO COMENTADA
treinamento de questões abertas 02
sintático
mas:
conjunção
adversaWva;
mais:
substanWvo
semântico
o
primeiro
conector
indica
adversidade,
oposição,
e
o
segundo
conota
a
ideia
de
soma;
valor estrutural
o
conector
“mas”
aparece
após
o
casamento
dos
protagonistas
e
antecipa,
semanWcamente,
a
ideia
de
que
a
mulher
trairá
novamente
Jó
Joaquim
e
eles
se
afastarão;
o
conector
“mais”
soma
as
ações
posteriores
ao
uso
do
arWculador
às
anteriormente
praWcadas:
como
ele
a
amava
perdidamente,
vai
fazer
algo
em
consonância
com
isso:
descaluniá-‐la,
redimi-‐la.
36. QUESTÃO 09
treinamento de questões abertas 02
Num
pequeno
texto,
relacione
a
arWculação
do
discurso
narraWvo
com
o
espaço
onde
transcorrem
os
eventos.
37. SOLUÇÃO COMENTADA
treinamento de questões abertas 02
o narrador
o
discurso
do
narrador
é
contaminado
pela
oralidade
01)
apropriação
ora
parafrásWca
[vá-‐se
a
camisa
e
não
o
que
dela
dentro],
ora
paródica
[nela
acreditou
num
abrir
e
não
fechar
de
olhos]
de
ditados
populares
02)
a
história
assemelha-‐se
a
um
caso
ouvido
de
alguém
[do
narrador
a
seus
ouvintes]
o espaço
a
história
se
passa
numa
cidade
pequena
do
interior,
onde
todos
sabem
da
vida
de
todos
o
relacionamento
do
casal
com
a
comunidade
é
de
submissão
e,
depois,
de
ruptura
submissão:
no
início
do
relacionamento,
sujeitam-‐se
à
moral
coleWva
e
se
afastam;
refutação
e
ruptura:
ao
inocentar
a
mulher
e
voltar
para
ela
no
fim
da
história,
o
protagonista
realiza
no
plano
do
enunciado
o
que
o
narrador
fizera
no
plano
da
enunciação:
rompe
com
o
senso
comum
e
se
realiza
seu
amor,
indo
contra
a
opinião
geral.
39. TEXTO 01
treinamento de questões abertas
OS
INOCENTES
DO
LEBLON,
Carlos
Drummond
de
Andrade
Os
inocentes
do
Leblon
não
viram
o
navio
entrar.
Trouxe
bailarinas?
trouxe
emigrantes?
trouxe
um
grama
de
rádio?
Os
inocentes,
definiWvamente
inocentes,
tudo
ignoram,
mas
a
areia
é
quente,
e
há
um
óleo
suave
que
eles
passam
nas
costas,
e
esquecem.
ANDRADE,
Carlos
Drummond
de.
SenAmento
do
mundo.
Rio
de
Janeiro:
Nova
Fronteira,
1999.
40. TEXTO 02
treinamento de questões abertas
MUNDO
GRANDE,
Carlos
Drummond
de
Andrade
Tu
sabes
como
é
grande
o
mundo.
Conheces
os
navios
que
levam
petróleo
e
livros,
carne
e
algodão.
Viste
as
diferentes
cores
dos
homens,
as
diferentes
dores
dos
homens,
sabes
como
é
dizcil
sofrer
tudo
isso,
amontoar
tudo
isso
num
só
peito
de
homem...
sem
que
ele
estale.
ANDRADE,
Carlos
Drummond
de.
SenAmento
do
mundo.
Rio
de
Janeiro:
Nova
Fronteira,
1999.
41. QUESTÃO 10
treinamento de questões abertas 02
(UFMG-‐2002)
REDIJA
um
texto,
relacionando
os
versos
de
“Inocentes
do
Leblon”
aos
versos
extraídos
do
poema
“Mundo
grande”.
42. ANALISANDO OS POEMAS
treinamento de questões abertas 02
poema 01
críWca
veemente
à
alienação
da
burguesia
Leblon:
espaço
burguês;
inocentes:
alienados:
tudo
ignoram
óleo
suave
que
eles
passam
no
corpo
e
esquecem:
praia:
alienação
poema 02
engajamento:
o
locutor
adere
ao
mundo
e
requer
para
a
si
a
função
de
ser
porta-‐voz
da
dor
do
mundo
43. SOLUÇÃO COMENTADA
treinamento de questões abertas 02
Inocentes
do
Leblon:
indiferença
dos
alienados
em
relação
ao
mundo
q
os
cerca.
Mundo
Grande:
senWmento
que
conduz
à
parWcipação,
ao
engajamento
na
luta
contra
as
injusWças
e
opressões.
O
indivíduo
alienado
[primeiro
poema]
reduz-‐se
à
condição
de
objeto,
por
aceitar
passivamente
as
condições
em
que
vive.
A
postura
parWcipante,
por
outro
lado,
permite
uma
integração
à
coleWvidade.
Sofre-‐se
por
ela.
Percebe-‐se
que
o
sujeito
ali
está
atento
aos
problemas
que
possam
afetar
o
grupo
de
que
parWcipa,
por
isso
mesmo
pode
virar
um
agente
de
transformações
sociais,
ou
seja,
pode-‐se
tornar
sujeito
do
processo
histórico.