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S.R.B.IMPERADORES DO SAMBA – CARNAVAL2019
— Imperador 60 Anos —
O Eterno Brilho de um Diamante Negro
Desenvolvimento do Enredo
Setor 1 – Minha Criação — Do além-mar para a negritude do Areal...
Setor 2 – Povo meu — Desça da arquibancada e vem sambar no Imperador
Setor 3 – Minha Resistência — Um Diamante Negro brilhou
Prólogo
Vermelho e branco, o pavilhão, imponente, dança vivo no centro de nossa quadra. Nossa
casa. Nosso território. Nas mãos da porta-bandeira, baila alucinante para o cortejo do mestre-sala.
E essa magia energizante hipnotiza a criança. O axé da baiana. O sorriso da cabrocha. A leveza da
porta-estandarte. O som arrepiante da Sinfônica ecoa no ar, à beira do rio.
— Imperador, eu teria tanta coisa pra dizer...
— Diga. Estou aqui por sua causa?
— Há muito, só consigo dizer que gosto demais de você. Quando desponta na avenida, a
Sinfônica me faz delirar. O vermelho do teu pavilhão se mistura ao meu sangue e sinto correr
quente em minhas veias. O teu branco me cobre de luz, alegria, esplendor. Ouço uma voz, um
grito de guerra: “Sou Imperador até morrer”.
— Saiba que esse amor, essa garra e essa determinação me fazem ser o que sou. Sou 60
anos envolvendo as multidões, sou 60 anos descendo a avenida, sou 60 anos encantando
gerações. E essas tantas estrelas a brilhar são reflexo deste povo meu... Meu querido folião, minha
história se inicia bem antes de 1959. Sente aqui que eu vou contar...
Minha Criação — Do além-mar para a negritude do Areal...
Eu já era realeza muito antes de aqui ter um império. Ainda em África, na grande mãe da
humanidade, resplandeci rei de toda a selva brilhante no horizonte, transformei-me em
fervilhante negritude, coberto pelo manto ébano da noite. Naquele solo sagrado, nasci pequeno
leão, destemido. Me fiz um verdadeiro diamante negro, a riqueza de um povo, fui o próprio povo,
uma legião de bravos e heroicos guerreiros.
Ifá, então, me disse que, em minha vida, haveria outro destino. Que no horizonte, além das
águas, haveria minha nova morada, meu novo apogeu. Haveria muito mais do meu povo em
multidões. Guiado pelas mãos de Iemanjá, cruzei o oceano desconhecido.
No Brasil, tantas terras, tantas dores. Nas vastas terras do Areal da Baronesa, me fiz
batuque saudando meu passado. Me fiz batuque ecoando minha voz. Me fiz batuque e daquele
diamante negro plantei minha raiz.
Em vermelho e branco, comecei a bordar uma nova história. E ali, naquela terra onde a
cultura popular brotava de forma pujante, surgiram meus mais novos adoradores. Eu me fiz
carnaval. Ganhei um novo reino. Estava cumprida a visão de Ifá. Renasci um novo leão, já nem tão
menino, mas pronto para ser um novo rei, radiante Imperadores do Samba.
Povo meu — Desça da arquibancada e vem sambar no Imperador
Porto Alegre já conhecia carnaval, fazia da avenida um grande palco para as escolas de
samba. E como todo grande artista, eu fiz deste palco minha casa, minha referência. Foi na ginga
do “Malandro” como tudo começou. E com uma declaração de amor em “My Fair Samba”, brilhou
o primeiro diamante.
E em vermelho e branco, se expandiu minha bandeira para fora da avenida e cobriu a
cidade inteira. As pessoas desciam das arquibancadas, invadiam as ruas, e com meu convite ao
povo, ele veio sambar comigo. Veio para se emocionar me fazer propulsor da alegria, o grande
dono da folia. Fui campeão, bi, tri, tetra! Meu nome é sinônimo de hegemonia!
Imortalizei meu nome na memória dos Carnavais, e pelas ruas da cidade escrevi meu
nome. Contei a história de tantos reis e rainhas: dos gramados, da raiz brasileira, da boemia da
nossa capital, das artes. Mostrei a riqueza da nossa literatura e alertei para os avanços da
humanidade e da tecnologia.
E como noite de criança bailando sob raios de prata, perfumei de encanto os foliões. Havia
índios do Xingu, gaúchos de São Borja, mercadores de Zanzibar, mostrando a sua cara de alegria e
felicidade. Todos uniram-se para celebrar duas paixões: em vermelho e branco. Cantei e encantei.
Emocionei e venci.
Minha Resistência — Um Diamante Negro brilhou
E veja só, folião, mesmo diante de tanta história, tanta riqueza, ainda preciso resistir.
Há quem queira acabar comigo. Há quem queira acabar com o carnaval.
Há quem deseje anular minha história de referência para um povo tão lutador.
Mais do que uma escola de samba, eu virei força motriz para uma sociedade que vive
oprimida, mas que aqui, sob o meu manto, solta o grito. Sou a “Resistência do Samba”, a
resistência social, do patrimônio cultural. Sou o Quilombo Urbano da Cultura Popular. Essa
resistência é a certeza de que o samba sempre retribuirá o nosso sentimento.
Quando meu estandarte vermelho e branco se posiciona na cabeceira da pista, a perder de
vista no horizonte, se vê mais que um grupo carnavalesco. Vão passar leões imponentes, baluartes
imortais que cantaram nossa história, mestres-regentes de nossa Sinfônica Bateria. Vai passar a
força negra de Porto Alegre em sua mais sublime essência.
E essa força brilha... São 60 anos preciosos, radiantes de luz e energia.
Com muito orgulho, sou Imperadores, um diamante negro eternamente a brilhar.
Epílogo
O brilho do diamante reluz em seus olhos e o jovem folião volta a si. Vermelho e branco, o
pavilhão continua a dançar vivo em nossa quadra. O axé da baiana carrega mais energia. O sorriso
ilumina mais a cabrocha. A porta-estandarte levemente leva o estandarte. O som arrepiante da
Sinfônica ecoa no ar, ainda mais por toda a cidade. Eternamente. Cantando, sambando, vibrando
junto da grande massa em meio ao ensaio. Reconhece no sorriso e na garra de cada um a “Escola
do Povo”.
– Agora sei, Imperadores, que teu tamanho é imensurável, tal qual a grandeza de sua
história. Obrigado por se fazer morada para mim e tantos outros carnavalescos. No fundo, eu
sempre soube, mas hoje eu confirmo com maior certeza, que... “Vermelho e branco é muito mais,
mais que a razão... Imperadores do meu coração”!

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60 Anos de Resistência

  • 1. S.R.B.IMPERADORES DO SAMBA – CARNAVAL2019 — Imperador 60 Anos — O Eterno Brilho de um Diamante Negro Desenvolvimento do Enredo Setor 1 – Minha Criação — Do além-mar para a negritude do Areal... Setor 2 – Povo meu — Desça da arquibancada e vem sambar no Imperador Setor 3 – Minha Resistência — Um Diamante Negro brilhou Prólogo Vermelho e branco, o pavilhão, imponente, dança vivo no centro de nossa quadra. Nossa casa. Nosso território. Nas mãos da porta-bandeira, baila alucinante para o cortejo do mestre-sala. E essa magia energizante hipnotiza a criança. O axé da baiana. O sorriso da cabrocha. A leveza da porta-estandarte. O som arrepiante da Sinfônica ecoa no ar, à beira do rio. — Imperador, eu teria tanta coisa pra dizer... — Diga. Estou aqui por sua causa? — Há muito, só consigo dizer que gosto demais de você. Quando desponta na avenida, a Sinfônica me faz delirar. O vermelho do teu pavilhão se mistura ao meu sangue e sinto correr quente em minhas veias. O teu branco me cobre de luz, alegria, esplendor. Ouço uma voz, um grito de guerra: “Sou Imperador até morrer”. — Saiba que esse amor, essa garra e essa determinação me fazem ser o que sou. Sou 60 anos envolvendo as multidões, sou 60 anos descendo a avenida, sou 60 anos encantando gerações. E essas tantas estrelas a brilhar são reflexo deste povo meu... Meu querido folião, minha história se inicia bem antes de 1959. Sente aqui que eu vou contar...
  • 2. Minha Criação — Do além-mar para a negritude do Areal... Eu já era realeza muito antes de aqui ter um império. Ainda em África, na grande mãe da humanidade, resplandeci rei de toda a selva brilhante no horizonte, transformei-me em fervilhante negritude, coberto pelo manto ébano da noite. Naquele solo sagrado, nasci pequeno leão, destemido. Me fiz um verdadeiro diamante negro, a riqueza de um povo, fui o próprio povo, uma legião de bravos e heroicos guerreiros. Ifá, então, me disse que, em minha vida, haveria outro destino. Que no horizonte, além das águas, haveria minha nova morada, meu novo apogeu. Haveria muito mais do meu povo em multidões. Guiado pelas mãos de Iemanjá, cruzei o oceano desconhecido. No Brasil, tantas terras, tantas dores. Nas vastas terras do Areal da Baronesa, me fiz batuque saudando meu passado. Me fiz batuque ecoando minha voz. Me fiz batuque e daquele diamante negro plantei minha raiz. Em vermelho e branco, comecei a bordar uma nova história. E ali, naquela terra onde a cultura popular brotava de forma pujante, surgiram meus mais novos adoradores. Eu me fiz carnaval. Ganhei um novo reino. Estava cumprida a visão de Ifá. Renasci um novo leão, já nem tão menino, mas pronto para ser um novo rei, radiante Imperadores do Samba. Povo meu — Desça da arquibancada e vem sambar no Imperador Porto Alegre já conhecia carnaval, fazia da avenida um grande palco para as escolas de samba. E como todo grande artista, eu fiz deste palco minha casa, minha referência. Foi na ginga do “Malandro” como tudo começou. E com uma declaração de amor em “My Fair Samba”, brilhou o primeiro diamante. E em vermelho e branco, se expandiu minha bandeira para fora da avenida e cobriu a cidade inteira. As pessoas desciam das arquibancadas, invadiam as ruas, e com meu convite ao povo, ele veio sambar comigo. Veio para se emocionar me fazer propulsor da alegria, o grande dono da folia. Fui campeão, bi, tri, tetra! Meu nome é sinônimo de hegemonia! Imortalizei meu nome na memória dos Carnavais, e pelas ruas da cidade escrevi meu nome. Contei a história de tantos reis e rainhas: dos gramados, da raiz brasileira, da boemia da nossa capital, das artes. Mostrei a riqueza da nossa literatura e alertei para os avanços da humanidade e da tecnologia. E como noite de criança bailando sob raios de prata, perfumei de encanto os foliões. Havia índios do Xingu, gaúchos de São Borja, mercadores de Zanzibar, mostrando a sua cara de alegria e felicidade. Todos uniram-se para celebrar duas paixões: em vermelho e branco. Cantei e encantei. Emocionei e venci.
  • 3. Minha Resistência — Um Diamante Negro brilhou E veja só, folião, mesmo diante de tanta história, tanta riqueza, ainda preciso resistir. Há quem queira acabar comigo. Há quem queira acabar com o carnaval. Há quem deseje anular minha história de referência para um povo tão lutador. Mais do que uma escola de samba, eu virei força motriz para uma sociedade que vive oprimida, mas que aqui, sob o meu manto, solta o grito. Sou a “Resistência do Samba”, a resistência social, do patrimônio cultural. Sou o Quilombo Urbano da Cultura Popular. Essa resistência é a certeza de que o samba sempre retribuirá o nosso sentimento. Quando meu estandarte vermelho e branco se posiciona na cabeceira da pista, a perder de vista no horizonte, se vê mais que um grupo carnavalesco. Vão passar leões imponentes, baluartes imortais que cantaram nossa história, mestres-regentes de nossa Sinfônica Bateria. Vai passar a força negra de Porto Alegre em sua mais sublime essência. E essa força brilha... São 60 anos preciosos, radiantes de luz e energia. Com muito orgulho, sou Imperadores, um diamante negro eternamente a brilhar. Epílogo O brilho do diamante reluz em seus olhos e o jovem folião volta a si. Vermelho e branco, o pavilhão continua a dançar vivo em nossa quadra. O axé da baiana carrega mais energia. O sorriso ilumina mais a cabrocha. A porta-estandarte levemente leva o estandarte. O som arrepiante da Sinfônica ecoa no ar, ainda mais por toda a cidade. Eternamente. Cantando, sambando, vibrando junto da grande massa em meio ao ensaio. Reconhece no sorriso e na garra de cada um a “Escola do Povo”. – Agora sei, Imperadores, que teu tamanho é imensurável, tal qual a grandeza de sua história. Obrigado por se fazer morada para mim e tantos outros carnavalescos. No fundo, eu sempre soube, mas hoje eu confirmo com maior certeza, que... “Vermelho e branco é muito mais, mais que a razão... Imperadores do meu coração”!