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066I-006I
A arquitetura brasileira do século XX
alcançou prestígio ii.[ern~cional como
poucos países do mundo lograram atingir.
Brasília é obra consagrada como uma das
contribuições brasileiras às criações mais
marcantes na cultura do século. Mas se esse
reconhecimento é a face mais visível da sua
importância, não menos importante é
reconhecer os múltiplos rumos e os
processos na gênese dessa produção, tão
alardeada e tão pouco examinada em seu
conjunto como realizações de um contexto
conturbado como o que marcou a história
do Brasil nos últimos cem anos.
Arquiteturas no Brasil 1900-1990 é uma obra
que vem proporcionar uma visão
abrangente e ao mesmo tempo concisa da
arquitetura brasileira no século XX, sob o
signo da releitura do movimento moderno
após a crítica do pós-modernismo-
embora situe o moderno como o epicentro
das inquietações do século.
Ao relacionar as intervenções urbanas como
signos de modernização no final do século
XIX, o livro identifica as raízes de
modernidades paralelas aos movimentos
como a Semana de Arte Moderna de 1922.
Realizações estas que passaram tanto pela
arquitetura neocolonial quanto por diferentes
manifestações arquitetônicas em três linhas -
modernismo programático, modernidade
pragmática e modernidade corrente -
caracterizando práticas distintas no país até a
Segunda Guerra Mundial.
0661-0061
us-e.Ig:ous-e1nl~l~nb1y
[ill}l
Reitor
Vir·e-rcitnr
led::
Diretor-preside11/e
/'residente
Vire-pre.tidenre
UNIVERSIDADI; DE SÃO PAULO
Adolpho José Melfi
Hélio Nogueira da Cruz
EDITORA DA UNIVERSIDADE DE SÃO PAUtO
Plinio Martins Filho
COMISSÃO EDITORIAL
José Mindlin
Oswaldo Paulo Forattini
I'lrasílio João Sallulll Júnior
Carlos Alberto l:lurbosa Dantas
Guilherme Leite da Silva Dias
Laura de Mello e Souza
Murillo Marx
l'linio Martins f'ilho
Dire/ora Editorial Silvana 13irul
Dircrora Comercial Eliana Urabuyashi
Diretara Administrmiva Angela Maria Conceição Torres
Editora-assi.l'tente Marilena Vizentin
Copyright © 1998 by Hugo Scgawa
I' edição: I 998
2' edição: 1999
2' edição, 1' reimpressão: 2002
Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)
(Câmara Drasildra do Livro, SI', Brasil)
Segawa, Hugo, 1956-
N.Cham.:- 720.981 S454a 2.ed.
Autor: Segawa, Hugo,l956-
Tílulo: Arquitetura no Brasil 1900-1 990 .
lllllllllllllllllllllllllllllllllllllllllllllllEx.2 CAC
Arquiteturas no Brasill900- l990 I llugo Segawa . - 2. ed. I. reimpr.-
São Paulo: Editora da Universidade de São Paulo, 2002.- (Acadêmica; 21 )
Bibliografia.
ISBN: 85-314-0445-2
1. Arquitetura - Brasii- História I. Título li. Série.
98-1!54 CDD-720.981
Índices para catálogo sistemático:
L. Brasil :Arquitetura : llístória 720.98 1
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Foi feito o depósito legal
~
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Ac.25035 l
;iilil
UTELIOLU::lUIIIJ
;))j1EJ3:Jlll{l.IVopp~MSQ
ElSO:)0!)111
._.f0[[;))!JOI~liO(]
(o-rfueDdpll.Tpuvdpse~oz!n'lO!LI<]Hrv
SUMÁRIO
ilg-ulll<t Explicação ........................................................................................................................... 13
I. O Brasil em Ud)aniração 1862-1945 ........................................................... .......................... 17
2. Do An Licolonial ao Ncocolon ial:
i Busca de A lg-um;t Mod ernidade l HH0-1 926 ....................................................................... 29
3. Modernismo Prug-ra m úlicu 1q17-1q:12 ................................................................................... 41
1. Muclcrn irlad!· Prag-má tica 1922-1~)4:~ .... ...... ............................ .................. .. ..... ....................... 5;)
5. Modernicladc Correm<' 1929-1945 ......................................................................................... 77
6. A Afirmação de uma Escola 19 1 ~- 1 960........ ...... . .... ...... .... .. ............ ............ ... .... .................... 1 0~
7. A Afirmação ele uma Hegemonia 1945-1970 ........................................................................ 129
H. Episódios ele um Brasil Grande e Moderno 1950-1980 ...................................................... 159
9. Desaniculação e Rcarticulação? 1980-1990 .......................................................................... 189
1O. Referências Ribliográficas ........................................................................................................ 199
Font es das llusLraçõcs ................. ........................................... ........................................................... 213
Índ ice Re tn issi'C> ............................................................................................................................... 21!)
...
.,,_tl]/JU J.I.11-IJJ/11fJ.W, J ';u~wt nJ "lliil :mu nw.s·
'II W11Up ?J d.ll/Vt}UUJ f!IJ/ fUJ fd ..UII!IIlJSJ/ltWIII S.IIIJ/ J]J
JJI!/)U //)/!},7 fltJ(llJOlll l11Ú HIUSIV.I S~J/3 St10.1]V/!Yrlf YJf 'SJ}'I10Jl SJ/ 'SJ/ntfn,t.J.' ',Jf
'uvpo 'll11, p ,).JU,)JlS d/ .IVC{ S/1.0 /1 il]? S~WII/1.' 'J.I.i/.tf.~,?} Z:ll(J H{(/1liO.J !VJ
.'SIIJ'if XI'IV fd 'dWI!f.l X III) Jf /10(}. 11J.(Jn f1 d''d.tpttd f d jlli/J.tJ"f ,1/J./! .Wrj /<}
Jf(/J}}V[(/1111 llii.'W./. Jlln .IV(/ JltÚ1.if111V./ J/) J]fj11ÚIIUJ 0/!}fliJf fD.f
(i(,G1 'nso:) ü i:JirJ
"'S!Jll J/1 0.1/UJ p !'7 1/WIW/.'J J1i.Ú YV/11 'Ji/ IIOS VJillll/ J /U,/iJ V Jllb ~OSlO.) ,Jp
'.wp_lNI!ÚSJ SI)SIO.J mp 1}.1(/IUJ/ JS J 'Zi/J/ 'Jil/J]UOJ OJff 'V.I/IIOJliJ JY ;mb 01/IIJJ Jfll,/B u
' IJfi?.t.d.tns W J vsJ.u/.ms 11p '.wl;u,"il .wvnlm 'yunJ.J !iOpnbv opu<~;
......
ALGUMA EXPLICAÇÃO
Sou d e urna geração de arquitetos br<tsilei-
ros ?t C]ll<ll , nos hancos escolares, se ensin ou que
existe uma mane ira de l'azer arquitetura, de
apreciar arquitcLUra, de usufruir as cidades. Q ue
o arquiteto tem uma m issão messiânica ao exer-
cer a sua pro1issão na sociedade. Nossos p rofes-
sores mrtndm·am lt>r Pt>vsnPr, Hitchcock, Giedion,
Zcvi c scHH..:lhaHtcs- autores que escreveram
retratos to tal izadores, mostraram in terpre t<t-
ções amparadas em grandes modf'los de expli-
cação, que esgotavam quaisquer dúvidas elo sa-
be r ver e faze r arC]uitetu ra. Nada tão frustrante
qua m o o abismo entre a academia c a vida. Essa
escritura tdculógica que legi timou a afi rm<tç;1o
d e uma certa modernidade eu ropéia e norte-
arnericana e consolidou mitologias arquitetôni-
cas permanece no imaginário de muita gen te.
Leitores de diversificados matizes ainda.buscam
em revistas e livros interpretações à altura dos
"pioneiros da teoria moderna". Certamen te, os
pevsners, hitchcocks, giedions e zevis deste final
de milê nio não serão tão persuasivos; nem seu s
leitores, tão persuadidos.
O risco de escrever um estudo sobre a ar-
quitetura brasileira do século 20 é reproduzir
inadverridamcnte aquilo que se critica: uma vi-
são LOtalizadora que apaga as diferenças, exalta
as formas dominadoras e dissimula a diversida-
de. A história c a historiografia recentes ainda
se refazem elo impacto epistemológico provo-
cado, por exemp lo, pelas idéias de um Michel
Foucault- escritos tecidos com a microtrama de
nrna co1t1plcxa urdidura. lesse caminho, a via-
bilidade ele dar formas a p roblemas, de articular
p erguntas é mu ito mais intensa que nossa capa-
cidade in divid ual de formu lar respostas. Respos-
tas que tendem cada vez mais a exames localiza-
dos, talvez profundos (contempland o minorias,
"vencidos", movimentos populares e Le.). U ma
posLUra que se avizinha às tendências da frag-
mentação "regulamentada" do con hecimento,
como que u ma reação às grandes leituras tota-
lizacoras.
O h istoriador britânico Eric Hobsbawn,
comentando a respeito de algumas tendências da
historiografia n o tina! dos anos 1970, escrevia:
74 • Arquiteturas no nrasil
Não há nada de novo em ol har o m undo com um
microscópio ou com um telescópio. Desde que coJJcor·
d eJJIOs <!'"" estam os estudando o meswo cosrnns, a es·
colha eutrc o microcosmo e o m acrocosmo é uma ques·
tão de sclccion:'ll" a técnica apropriada. r.signific:~tivo
que atualme nte mais historiadores julguem o microscó-
pio mais (ttil. Mas isso n:'in sígn i!ica necessat·iamc nLc que
eles rejeiwm o t ele~c ópio, como instrumento snp<>rado.
E.ste livro teve uma gê nese peculiar: con-
vidado pela Universidade Autôn oma 1etropo-
litana do México para integrar u rna coleção ele
monografias sobre arqn itt"tn ra latino-america-
na , seu form ato original c ircunstanciava-sc a
um compê ndio de arquitetura brasileira no sé-
culo 20 pa ra o púhlíco latino-americano. A
oportunidade d e uma edição brasileira não cles-
ca•·acl «:>rizou esse perfil. O difícil e> sutil equilí-
brio a se ati ng ir no con teúdo deste trabalho é
uma ta re fa que deve respeitar as características
ela iniciatiYa editorial, exigindo u ma compostu-
ra que se expressa num jargão arq uitetônico,
no Lermo francês bienshm ce. As circ unstâncias
apon tam mais para o manejo d o tt"lescópio; to-
davia, o microscópio às vezes foi útil, m esmo
com prt:juízo de alguma coerência lotalizador a
(C]ue não constitui, propriamente , uma preocu-
pação cPntral) . A manutenção das lentes e as
direções para que elas apou1arn são de minha
in te ira responsabilidad e; a razão dessas dire-
ções, espero que os leitores a percebam percor-
rendo as páginas deste trabalho.
AS REFERÊNCIAS
Ao escrever um trabalho do presente esco-
po, fui me reportar às obras d e mesm a natureza
-aos manuais de história da a•·quitetura brasilei-
ra - que não são muitos e possuem enfoques dis-
tintos. Trabalhos como Quatro Séculos de Arquite·
tu:ra, de Paulo Ferreira Sant.os ( 1977, primeira
versão 1965), Atlas dos Monumentos flistóriros e A-r-
tísticos do Brasil, de Augusto Carlos da Silva Tellcs
(1975) c Arqu.ilelum Bmsilr>ira, d e Carlos A. C.
Lemos (1979), são panoramas de qnatro séculos
de arquitCLura; o século 20 é um segmen to des-
se conjunto. A arquitetura brasileira é pane de
um contexto mais amplo também em Arqu.itectum
y lh-ba.nismo en lberoa.merica, de Ramón Guliérrez
( 1983) . Precisamente pelo númer·o reduzido de
trabalhos nesse úmbito, publicaçôes como o ca-
túlogo Braz.il Builds, editado ~•n 1943 pelo MOl'v1A
ele Nova York, e Modern Archilectu·rp in JJmzil, de
TTenrique Mindlin, ele 1956 poderiam ser cu-
quadradas como panoramas ela arquitetura bra-
sileira da primeira rnetacle d o século 20.
Rigorosame nte, seriam três os trabalhos
no gênero preLendido por m inh a pesquisa: Ar-
quitetura Contemporânea no Bmsil, ele Yvcs Rruand
( lY81), Arquitet·um Moderna NrasileiTa, ele Sylvia
Ficher c Marlene Milan Acayaba (1982) e oca-
píwlo "Arquitetura Contemporúnea" escrito por
Carlos A. C. Lemos na H istória G11ml ela A-rlf no
Bmsil (coordenada por Walter Zanini, 1983) .
Todas e ssas obras foram importantes na
elaboração do presente livro. Paulo F. Santos,
A. C. Silva Tellcs e Carlos A. C. Lem os são si-
m ultan eamente historiadores e protagonistas
do que re latam. O saboroso capítulo du livro d e
Paulo Santos é um depoimen to de um persona-
gem que vivenciou os 11uiclos criarivos do mo-
dernismo carioca da primeira metade d o sécu-
lo . Carlos A. C. Lemos é importante pelo q ue
escreveu c por tudo que aprendi como seu alu-
uo c estagiário; os escritos em forma de manu-
ais do professor Lemos são parte pequ ena d e
um(] vida dedi cada à pesquisa. 8-razil Ruilrls e
M otlr>rn An hilectm·e in Brazil são trabal hos apolo-
géticos da arquite tura moderna, no espírito in-
sinn::~do no início desta explicação, formad ores
de mitografias da moderna arquitetura brasilei-
ra e, como tal, são objetos d e an álise no meu
texto . A impor1ância de Fichcr e Acayaba está
na modesta aspiração de ser um guia in trodutó-
rio da arquitetura moderna brasileira. Sua o ri-
gem, aliás, demo nstra o propósito: tratava-se de
um verbe te do fnlenwtional Handbook ofContem-
jJorar)• Developrnents in An:hitecture, dirig ido por
Warren Sanderson (1982) . Um roteiro que p io-
neiramente incluiu, no map a arq uitetura! bra-
sil eiro, alg umas regiões pouco conte mpladas,
sem a vtsao modernista c hcgcmônica que ca-
racteriza o livro de Yves Bruand.
Arquitetum Contemporânea no B-rasil é o
mais completo clossiê sobre a arquitetura brasi-
leira elo s{:cnlo 20 at.é 1969, momeulo de con-
clusão dessa tese, apresentada na Université de
Paris IV em 1971 e publicada dez anos depois e m
português (lamentavelmente, sem uma revisão
técnica adequada da tradução, comprometendo
parcialmente sua leitura). Bruand escreveu uma
obra fundarncn t.alnie ll te baseada 11a variada hi-
hliografia brasileira e internacional e na coleta
de depoiment:os de estudiosos locais, reunindo
um conjunto documental do maior valor: um
re trato do estado-da-arte da bibliografia brasi-
leira até os anos de 1960. No e ntanto, o autor
francês, embora não sendo arquilclu, assimilou
todos os preconceitos modernistas contra a ar-
quitetura do ecletismo ("da constatação de que
a arquitetura brasileira só conhecera dois gran-
des períodos de atividade criadora: a arte luso-
brasileira dos séculos 17 c IH [...] e o período
atual", escreveu). Bruand dedicou-se principal-
mente ao Rio ele .Janeiro, São Paulo, Bahia e
Brasília, deix<mdo a descoberto outras importan-
tes regiões, cludindo a diversidade da produç~w
arquitetônica brasileira . Ademais, seu posiciona-
mento sobre o sentido de "moderno'' desgastou-
se no tem po: "o adjetivo 'moderno' não é de mo-
do algum con veniente, pois contém apenas uma
noção ele tempo aplicável ao con junto da produ-
ção de uma época e não unicamente a uma d e
suas partes; substituir sua acepção cronológica
por um elemento de valor é um contra-senso... "
A avaliação de Bruand padece uma leitura
tri unfalista e apologética da arquitetura moderna
do Brasil. Se não há un1 comprometimento do
valor intrínseco do excelente trabalho que desen-
volveu, suas posições são historicarnenLe datadas.
PONTOS DE PARTIDA
Meu trabalho não tem a pretensão acadê-
mica do amplo esforço de Yves Bruand e volta-se
A~!{llma Ex:plicaçiiu • 1 5
para um outro mapeamenco arquitetônico. Os re-
tra tos de grandes arquitetos e das obras-primas
da arquitetura brasileira constituem uma contri-
buição insuperada em Arquitetura Contemporânea
no Brasil: protagonistas e realizações são o cerne
da sua pesquisa. Sem pretender contestar o sig-
nificado dessa abordagem, busquei eswdar os
jJmcessos da constituição da nossa arquitetura
moderna e m matizes diversos, caracterizando
modernidades clistint.as, que intitulam os capítu-
los. Nesse sentido, nào privilegiei arquitetos (ex-
ceções honrosas a Warchavchik, Niemeyer, Lu-
cio Costa c Vilanova Artigas), tampouco obras
(também com exceçôes) , rnas a inserção de ar-
quitetos e obras no debate cultural e arquitetô-
n ico num certo recorte da história. Ao operar
com processos, o desejo ele realizar uma carto-
grafia arquitetônica turna-se uma empreitada
d ifícil, d evido :1 ~!mplitud e c complexidade elo
panorama arquitetônico brasileiro. Todavia,
mesmo na ausência de vários arquitetos ou
obra:; no presente trabalho, o possível entendi-
mento advindo dos processos que d escrevo per-
mitiria u ma contextualizaçào dos personagens e
realizações preteridos em meu mapeamento.
Tendo como eixo de narrativa a arquitetura,
imagino a possibilidade de interlocução com
outras disciplinas sem necessariamente preten-
der r esenhar episódios da história, ela sociolo-
gia ou ela economia brasileiras.
Os lemas urbanismo c cidades têm un1
peso significativo no primeiro terço do livro,
para virtualmente ficarem pulverizados no res-
tante elo trabalho . A complexidade desses tópi-
cos após a Segunda Guena- quando a maioria
da população no Brasil passa a viver em cidades
- uào recomendaria o aprofundamento da ques-
tão, sob o risco d e o autor ser obrigado a escre-
ver não um, mas dois livros. Reuniões como as
realizadas pela ANPUR e os Seminários de Histó-
ria da Cidade e elo Urbanismo nos últimos anos
relevam cada vez mais certa autonomia discipli-
nar no trato dessas questões.
A mençào in icial à questão urbana tem
uma relação mais próxima com o te ma moder-
n idade. Uma preocupação fim-de-século- qual
1 ó • Arqu ilelums no lJrasil
será a arquitetura do século 20? - permeou lanl-
bé m localizad os debates sobre o tema no Rrasil
do século 19. Ao m e debruçar sobre esse mote,
p rocurei resgatar alg umas interpretações so bre
o mod erno ern arrprircrnra. Não há defin ição
unívoca de m odernidade: se n ::~ Europa a pro-
blemática é objeto de entend imento diverso, o
con ceito de moderno no Brasil é ain ci::~ mais
controverso, p rccisalllcnte p ela necessidade de
examiná-lo sob uma óptica apropriada à realida-
de local - sem dcscnrar de sua entrop ia com um
meio mais amplo. A segunda p::1rt e elo livro foi
AGRADECIMENTOS
Toda relação de agradecimentos é u ma
lista d e esqu ecimen tos injustos. Não posso rela-
cio nar c agradecer a todas as pessoas e institui-
ções que me ajudaram na re;:~ l i zação d esta pes-
quisa. Todavia, deYo lembrar-m e de Conce pción
Vargas e Ernesto Alva, que me confiaram origi-
nalmente a escrita deste trabalho. Pela feitura
deste livro, dt:vo meus reconhecimentos a Vicen-
te Wissenbach , editor da revista Projeto, da qual
fui colaborador há muito tempo g raças <1. cora-
gem de seu editor; à Ruth Verde Zein, colega na
revista e in terlocuto ra pe rmane nte; ao J<.leber
Friz?.era c ~ Universidade Federal do Espírito
Santo; à Vera Helena Moro Rin ~ Ely e à 1.Jnivcr-
organizada com a preocupação de mostrar as vá-
rias modernidades p raticadas na arquite tura d o
Brasil no período e n tregucrras.
No correr das páginas e com o evoluir da
na rrativa, a a bordagem dos assuntos torna-se
mais esquemática. Naturalmente, o tempo é um
poderoso depurador c o distanciamento maio r
dos acon tecimentos pc rrni!.e selecion ar as len-
tes mais adequad as para o exame das qucstôes.
Por isso, a con tem poraneidadc sempre é mais
seduro ra e instigan te. E os riscos ele equívocos,
proporcionais ao nosso discernimento.
siclade Federal de Santa Catarin a; e àisa Pierma-
tiri e à Universidade Fcrler::JI do Paraná, <]Ue , em
diferentes mo me ntos no in ício de minha aproxi-
mação com a arquitetura brasile ira do século 20,
me convidaram para ministrar cu rsos, obrigan-
do-me a desenvolver uma estrutura de aula que
está na raiz deste trabaho; ao arquhcto c profe~­
sor Paulo Rrnna CJlle, convidand o-me a auxiliá-lo
numa disciplina de pós-graduação na U niversida-
de Mackcnzic , me permitiu cxpot· h ipóteses d e
interpretações que estão alinhavadas neste liTo.
Aos alunos desses cursos, a paciência de ouYirem
c d iscuLircm min has idéias que, após essas ses-
sôes, deixaram de ser exclusivamt:n le minhas.
1
0 BRASIL EM URBANIZAÇÃO
1862-1945
Na arquitetura (o 1/ll,!!;enlu:irol perpetua as gló·rú1> de ma j;âtria em
monunu•nüJs, que os séculos veneram snn destruir I' r/ri nos sr•us
wntemfJOTâneos nocâo do (11do euritmiw derivado das obms f;rimas da
Antigüidade, que f!oT sua or:z. o recebeu de civilizarõr:s idas, 11 que rlej)()is rir
millzarPs de anos !'IP faz ressusritar ao impulso aiador do seu r;ênio!
Nas ridruiPs, ai rmdP as multidliPs SP ojnimPm Pm busra do bPm-PJ!fll;
nas grnndPs rolmhns, Ptn quP a alividariP jfbril do homnn vai
diarian!l'nte premcher o seu papel jHMiidencial de elemrnlo ronstitutivo dt>
riquPZa jJP/o lmbalho, o mr;enhPirn; ainda a luz, o guia na r>smlha
de localidades, no preparo do solo, nn orientaçâo e traçado das ruas,
110 rstwlo das !IPrPssidadPs públiras f' parlirularrs, uo.ç jlnigos, na.
mwgênrias P ali> nas rrisPs patológiras! Sf' um baino é diji.rilmeniP
ventilado, se uma jHtTie do litoml é otujHtda intermitentemente jJelas águas
em seu etemoflu ."w e refluxo, ei-lo removendo montanhas, dilatando a área
1ahrm a P anulando s-ilnnltanr:amr>nfe duas fontes de insalubridade.'
j. S. DE CASTRO BARBOSA,
Lrecho elo panegírico ~obre a profissão do.engenheiro
por ocasião do l6Q aniversário elo Club de
Engenharia do Rio ele Janeiro em 1896.
O an o de 1900, além de algum sig nifica-
do na numerologia, não te m muita importância
~ >(· .1'. datas marcantes da histó ria mundial, a
não ser o fato de assinalar a transição do século
19 para o século 20. Todavia, para o Brasil, o ano
marcou a grande efeméride da celebração dos
L...i
18 • llrquile/urus 110 flrasil
quatrocen tos anos da cheg-ada de u ma frota
pon ug-uesa na cost.a sul-americana - contato que
ofiriali1.ou o domínio de Ponugal sobre essas
terras que, mais tarde, se transformariam num
país de dimensões continentais.
Foi em fins ele 1900 que, a pretexto dessas
comcmoraçiks, o Clnh de F:ngenharia p romoveu
o Congresso de Engenharia c lnrlústria. O Club
de l•:ngenharia era uma ag-remiação politicamen-
te vitoriosa em busca de uma a firmação inédi-
ta naquele tempo: a Rcpltbl ica havia sido pro-
clamada pouco ;uJles, e o Club, ele convicçfto
republicana (an tagônica ao monárquico lnsti-
llll<> Polité-cnico Rt·asile iro) .firmava-se como o
furo oficioso de urna corporação que buscava
habilitar-se como uma alternativa na esfera po-
lítica contra o monopólio exercido por ou tra
c<Jtegoria profissional: os bacharéis de D ire itu.
CREDENCIAMENTO
TÉCNICO PARA A MODERNIZAÇÃO
A formação d a elite intelectual brasileira
na passagem do século sustentava-se num Ll"ÍfJé:
a medicina (cujas primeiras escolas datam de
1808-1809) , as ci{:ncias juríclicas (suas duas aca-
demias foram fundadas em 1827) c a engenha-
ria- n~a consolidação se faria no final do século
19 com a Escola Politécnica rlo Rio de Janeiro
em 1874, a Escola ele Minas, em Ouro !'reto , ele
H:l76, a Pol it <:cnica rle São Paulo em 1894 e a
Mackenzie College (de origem norte-am erica-
na) , também em São Paulo, em 1896. Foi a ver-
tente jurídica que maior espaço conquist(m no
cxcrcicio do poder ao longo rlo sécu lo 19- domí-
nio ora crn rlisputa com engenheiros e médicos,
no alvorecer do novo século.
Os enge nheiros buscavam repercussão
em suas recomendações nascidas ele pautas am-
biciosas. De acorrlo com o seu programa, o Con-
gresso de Engenharia e Indústria teve como
[...] objeto exclusivo discutir e deliberar sobre as prin-
cipais questões técnicas, industriais, econômicas, finan-
<.:eiras e administrativas que. de mai~ pt-rlo t' rlirt-tamcn-
te, possam interessar ao desenvolvimento material d o
B•·asil, de modo a formu lar rt-soilt ~·flt's <JHC' tradn~:o.m
com clilreza o parecer dos mais competentes sobre a so-
lu (<'io prútica de r::tdil uma d as yucstõcs vcHLiladas, c
que scr:ío submel idas ú ap reciação dos poderes públi-
cos. I"Prog ra ntlll <l ..." 190 l , pp. 7-1!>] .
O temário do congresso Locou numa série
ele questões que inven tariavam um repertório de
tare fas nacionais nesse momento: sistema ferro-
viário, portos e navegação interio r, h idráulica
agrícola, saneamento das cidades, urbanização.
A bem da verdade, em IH.:nhunl momento se em-
pregou, nos debates ern 1900, o lermo "urhaui-
zação" ou qualquer derivado de "urbe" como ci-
dade. Mas o contexto geral dos debates indicava
esse rnmo.
DO SJNF.JMF.NTO AO URBANISMO
O Brasil aJentrava o século 20 com uma
população da ordem de 17 mi lhões de h abitan-
tes, com cerca d e 36% elos brasileiros vivendo
nas cidades. A economia do país era impulsiona-
da <I base da exportação de produtos prirn{trios.
Entre 1871 e 1Y28, o café - um artigo de consu-
mo das mesas abastadas na Europa e nos Estados
Unidos- participava com mais d a metade da
receita brasileira de exportação, sccundaclo por
um período de te mpomaiscurro ( 1891 a 1913)
pela borracha [Singer 1985] . O paí!j possuía uma
rarefeita economia urbana, pulverizada em cen-
tros urbanos nas frentes agrícolas ou cidades
portuárias a serviço da exportação ons p rodutos:
Campinas, São Paulo, San tos, Campos e Rio de
J an eiro para o café; Recife para a zona açucarei-
ra; Salvador para o cacau; Porto Alegre para cou-
ro c peles; Be lém e Man aus para a borracha. E,
embora incipiente como rede urbana, algumas
capitais conheceram um extraordinário cresci-
mento demográfico: o Rio de J aneiro em 1900
era habitado por 746.749 habitantes- sua p opu-
lação aumentou 271% em relação à de 1872; São
Paulo, nesse mesmo período, Leve um aumen to
populacional da ordem ele 870%, com 2~19 .820
habitantes na virada do século; Bdém yuase du-
plicou sua população de 53 150 habiran tes em
1872 para 96. :)60 em 1900 [Graham 1973, p .
40J . Os núme ros apenas indiciavam os graves
conflitos de espaço que se afiguravam com o
crescimento clesorden;~do cbs cid;~rles .
A cidade afirmava-se como o palco do
moderno - modernização Lendo como referên-
cia a organização, as atividades e o modo de vi-
ver do mundo europeu. Os engenheiros coloca-
vam-se como agentes dessa modernização - era
a corporação que apostava na ciência c na récni-
ca como os instrumentos de progresso material
para o país, nos moldes do desenvolvimento in-
dustrial do Velho Mundo, vislumbrando, na in-
d ustrialização, um objetivo nacional a se atingir.
O Congresso de Engenharia e Tnclústria demons-
trava a amplitude das tarefas da profissão c
apont;~va nm1os para a montagem ela nova cena:
t·acionalização nas intervenções de ocupação
territorial, vetores de urbanização num país de
vastas regiões inexploradas. O desejo de mudan-
ça era late nte: a elite nrh<~n<~, progressista, posi-
tivista, cosmopolita, contrapunha-se à sociedade
tradicional, de índole agrária e conservadora.
CIDADES COMO
CENÁRIOS DE MODERNIDADE
Algumas cidades brasileiras, j{t na segunda
metade do século l 9, assimilavam intervenções
modernizadoras ern suas infra-estruturas, à ma-
neira das metrópoles eu ropfias - resson<lnci<l da
questão (central na cidade européia oitocentis-
ta) do sauitarismo ou salubrismo. Cidades como
Rio de.Janeiro (a partir de 1862) , Recife, Santos,
São Paulo, Manaus c Salvador contaram com em-
presas que instalaram e operaram sistemas de
drenagem, abastecimento de água e esgoto-urba-
nos. Também nesse f'inal do século opentvam
nessas cidades, e ainda em Fortaleza, Belém e
Porto Alegre, companhias de gás; serviços de ele-
tricidade e transporte urbano também funciona-
O Brasil em Urbanização • I 9
ram em algumas dessas cidades - em sua maioria,
empreendinrentos com o envolvimento de capi-
tais e empresas inglesas (também responsáveis,
desde o século 19, pela implantação do sistema
ferroviário no país) [Graham 1973, pp. l 21 -124J .
A implan tação dessa infra-estrutura técni-
ca nas cidades consolidadas configurou m edidas
<JliC não ncccssariarnente prcconit.ararn a reor-
denação d o tecido urbano -sobretudo a reorga-
nização dos espaços físicos he rdados da cidade
colonial, no caso brasileiro. Ao contrário, a im-
plan 1aç<-to desses mclhoranwntos reil<~ ntv<l a es-
tr utura existente, com poucas modificações. O
sentido ele intervenção urbana como produto de
uma elaboração icleolúgica n ão sú derivava dos
processos de saneamento urbano desenvolvidos
no século 10, mas adquiria nova condição - co-
mo visão racionalizadora c integrada de intcrfc-
rência na cidade, numa lógica de modernização
das estruturas urbanas -com a codificação de
uma disciplina específica: o urbanismo.
Simbolícameme, pode-se e leger quatro
even tos como representativos de: formas de m o-
dernização urbana no Brasil na passagem do sé-
enio 19 para o 20.
A N ECAÇAO DAS
ESTRUTURAS URBANAS COLONIAIS
O primeiro even t.o {; a transfcr(:ncia, crn
1H9G, da capital do Estado de Minas Gerais da co-
lonial Ouro Prelo para uma cidade nova, inlcira-
menle planejada e construída para ab rigar as
funções administrativas ck sede governamenlai -
lklo Horizonte - , projeto de nma comissão che-
fiada pelo engenheiro Aarão Reis (1853-1936),
formado na l'olit{;cnica do Rio de Janeiro .
O segundo é a "haussm anisatio n " (num
ncologismo criado por Pierrc Lavedan) do Rio
de Janeiro, grande intervenção promovida pelo
prefeito Francisco Pereira Passos (1836-1913), a
partir de 1904, com a criação ele novos eixos vi-
ários, a unifor mização das fachadas dessas aveni-
das e a implantação de parques públicos median-
·J~'sodun~:)~p01
-ll:'lllll'.;)lll!SOl!Jted~;()()(;>p<>P!o.od011Ej)l'.lli;)SJ.odl!S<)_l'.(lldOdS.H_>.~l!l!C(~'I(E.l"d1.nsodo.od:<>ii.IHJj)Oll!ll.lllll!SO.l":llll'..l~.(;
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St811'iONO'J3JSJJ8nlfS-S3t:!VlndOdS3_9ÓV.ll8'v'H
/.1~;/J.I[jOUW.IIIP/.111/J./JI•()(
te a rC'modelac::ão do tecido urbano colonial da
cidad<:. Foi uma iniciativa de saneamento físico
e social e ele "e mbelezamento" (termo corrente
na época) da cidade- capital e principal en tra-
da in ternacional ao país. Conciliar a <:nadicação
d as epidemias que varreram a cidade ao long-o
d o século 19, afastar a populaÇão pobre de seto-
res estratégicos para a <:xp<msão urbana e confe-
rir <1 paisagetn uma <..:slélica arquitetônica d e pa-
drão europeu carac terizaram iniciativas para a
ntodclagcm de ttm llrasil condizente com o fig-u-
rino de nma nação "civilizada".
PRIMÓRDIOS
DO PLAN~JAMENTO URBA~O
O terc<'iro evento reprcscutativo não é es-
pccificatttctt t<..: uma, mas 'árias intcrv<:nçõcs,
concebidas com ideários comuns: aquelas desen-
volvidas pelo engenheiro Francisco Saturnino Ro-
drigues ck Brito (1864-1929), formado na Esco-
la Politécnica do Rio de .Jan eiro. Saturnino de
Brito é considerado o fundador ela engenharia sa-
nitária brasileira pelo conjunto dos projetos (cer-
ca de dttas clcL.enas em 'ários quadrantes do país)
c pela contribuição tecnológica ad,·incla dessas
propostas. Brito tah-ez se tornasse apenas mais
unt itnpul"l<lltlt' tfcnico na árPa san it át~ia no Bra-
sil nas primeir;ts d{·cadas do século 20 não rosse
certa sensibilidade (re forçada pela cren ça positi-
vista) q ue o tornou um sanitarista n::io só 'olt<tdo
para as equaçôes ck r<:gimes hidráulicos ou para
as últimas novidades em sistemas de abastecimen-
to c cscoan1ento, 1nas também preocupado com
o ambiente da cidack como um Lodo, p redorni-
nantcmcttt<..: f'ísico, mas com interfaces sociais.
ü plano de san <:<un<:nto da cidade de Cam-
pos, no Estado do Rio deJaneiro, ele 1903, é uma
referência para a engenharia sanitária: um exten-
so diagnóstico abordando d e forma inte-grada as
questões tecno-sanitárias- abastecimento de água,
esgotos, águas pluviais - com a ocupação do solo
- sistemas construtivos, habitações populares, es-
paços P cdil'ícios públicos, ori<:ntação e insolação,
O Rmsif em 1/r/;unizoçiio • 2 7
circulação etc. A segu nda referência fundamental
elaborada por Saturnino de Brito foi o plano de
saneamento c <:xpansão de Santos, no Estado de
São Paulo, desenvolvido entre 1905 e 1910 para o
principal porto de exportação de caf{:. Nesse pro-
.ieto, às a titudes inovadoras <tdotadas no plano de
Campos acresc<:utuu-s<: " dimensão cslética na re-
solttçào dos problemas u rbanos: Satttntino de
Brito reconhecia em seus escritos a importância
de um aporte urbanístico a p<trtir das id{·ias de
Camillo Sitte (1843-1903). Ao longo elos <Utos de
l ~:llO, o engenheiro foi um atento monitor das
discussões em curso na Europa sobre o Town
Planning ou Urbanisme, disciplina em institucio-
nali;.ação na {;poca por m<:Ío de coug-r<:ssos iut~:::1~
nacionais, os quais freqiicnta'a como ouvinte ott
;~prcsentando comunicações. Sem nunca se auto-
qualificar Townplanner ou Urbaniste, Saturnino
de Brilo ioi uw ideúlogo d a engenharia sanitária
que, a seu tempo, de forma pioneira introduziu
em seus planos o leque de d iretrizes metodológi-
cas d o repertório téc nico da então nascente dis-
ciplina urbanística. Essas idéias, todavia, não fo-
ra m inrorporad<ts sem u ma filtragem crítica: sua
atuação sempre Considerntt ttma a'aliaç·ão dos
pro('editucutos c das L(~cn icas codificados pela ex-
periência européia e, nas proposições c cspcciti-
caçõcs de seus projetos, percebe-se que há uma
elaborac::ão de uma solução apropriada tendo em
vista as condições específicas do meio em que
atnm·a: as limitações, as potencialidades e as pos-
sibilidades locais configuravam projetos tecnoló-
gicos específicos como respostas a realidades
concretas, brasileiras [S<:gawa 1987a, !JP· 66-70] .
JARDINS-UTOPIAS URBANAS
A potencialidade da expansão nrbana das
cidades brasikiras j á chamava a atendío dos in-
gleses na segu nda metade do <;é·culo 19, como jc'i
visto, mas foi na década d<: 191 Oqu<: o capilal cs-
Lrangeiro inverteu recursos numa ousada inicia-
tiva d<: im plantação ele bairros novos. A cidade
de São Paulo, e m pleno crescimento econômico
t-
2 2 • ArquítN11ms 110 l5rusíf
LIIAIRRO Ol::lõl.ITE
l'ropricdadc tle 1
Manoel Garcia da Silva
!-lll·:,~ ID ·D'lf!J"' [1 rr-·tni·D~~n~
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~- Pwpa~a1ul;o de 1928 do Jardim
Europa e m São Paulo, bairro que
itnilava o ntoclclo do conLíguo Jar-
N• aae•-• alf.Jf.ad• ela. Pra4:a •••..aarelaa
A.PDOTE•TE A. 'I'A.DDE DE HOJE
Alem de C1tcr 11m paucio 'Srad».Yel r~J
1~ ~~:tN~~~:~~;,c:~í "':l,ci:~~~~~~~,:J~I;~..,11pr~c'iaa· o ç:r~nJ•· oll:t"lnl nh·iwento
dirn An1érit:a, n--odi/a·úo ela Cia. A iUttttth~ão Jmbli~ c~~O:,~~d:
1 ~~.{}~!1l1':u:~,::.~,;~rl:::.~...s.!Y4 fciw a iHJiti(ur~o
PALACJET~.; •: Lt...-.:...~ Dlt "I'C.;ft.R~NU
City, dcmonstraorlo o apelo do pa- '-': • l>f'riola~ÕK-,.. 'Uil' 1~ r 1"''1'"''11:1• chlr.kla•
lllf~ , Ao. dOtMin~o• "" lon:.l ,. m)" oh.l• ,.,..j. ua
rlr:io gfl.rdt•JI rifit•.. LOJA DO JAPAO
e físico com a riqueza propiciada pela exporta-
(ào do "~fé· , roi contemplada com uma operação
espccubtiva que trouxe um padr~m urbanístico
inédito na América do Sul. Em 1912 fói conslituí-
<.la, em Londres, a Tbe City ofSan Paulo lmprove-
me>nt~ élncl Frcchold Company, empresa organi-
t.ada para lotear grandes áreas a1~1Sl<t<hts ao sul e
a oeste da cidade - então em plena área rural - ,
com a finalidade de criar bairros de allo padrão
para a crcscenrt> burguesia cafccira. Para o pro-
jeto urbanístico, foram contratados Ra)'lliOlld
U nwin (1863- 1940) e P.~1rry P:wker (1867-HHl),
ambos n•!;ponsáveis pela implantação das primei-
ras cidades-jardins inglesas, segundo os prr>ct:itos
<.k Ebenezer llowarcl ( lS:í0-1928). Parker desen-
volveu dois projetos- o .Jardim Amérie<t e o Ciry
Lapa - c a remodelação de um jardim público na
<:tVenida P<'lulista (Parque Trianon) entre 1017 c
1919, período em que se estabelt:ceu em São Pau-
lo. Todavia, foi uma operação de long-o prazo: os
bairros conheceram alguma ocupação a partir
do fi nal da década de 1920, c a consolidação efe-
tiva somente se proct:ssou bem mais tarde. Pela
qualidade projt>tual t: a rigorosa legislação t:ntão
elaborach1 para os loteamentos, tanto o Jardim
América quanto o City Lapa resistiram às trausfor-
mações urbanas por mais de setenta anos e con-
servam até hoje as qu<'llidades ambientais propos-
- __,_
Hua S. Bento..JO ~ (;AHCI. IH SUX & CIA.
tas no idcário das cidades-jardins de Howard
[Scgawa 1987a, pp. 71-77; Bm:clli 1982J.
As primeiras duas décadas do século 20
testemunharam. transformações nas cidadt:s bra-
sileiras numa escala c num ritmo até então sem
precedentes: alt~ts laxas ele crescimento popu-
lacional nas principais capitais pressionavam a
demanda por habitação c serviços urbanos; a
prosperidade proporcionada pelo café tral'.ia be-
nefícios materiais e novos padrões de consumo
para alguns segmentos da populayão, mas as es-
lxulut·<t8 urb<tnas, t'm sua rn.ai.or·,t h erd·'"das ÜQ
período colonial, não se coadunavam com as ex-
pectativas de uma sociedade que se urbanizava
em passo acelerado, embora sustentada por uma
economia agroexportaclora de valores arraigada-
mente rurais. As cidades transformavam-se nas
plataformas rumo ao mundo moderno, isto é,
em busca de um nível de vida à maneira das
grandes metrópoles europ éias ou norte-america-
nas. Alguns esforços convergiram para esse ideal.
O pretexto da ciência, da técnica, da racionali-
zação d os meios e rt:cursos para se alcançar esses
oqjerivos foram argumentos instaurados nesse
início de século. Embora em nenhum momento
se identif-ique, no conjunto de iniciativas, algu-
ma coerência de estratégia - um planejamento
sobre uma enorme extensão territorial mergu-
I
~
lhada na p!'"rifcria ela economia mundial-, há
um vetor comum nas pontuais operações urba-
nas processadas nesse período: a apropriação de
um repertório ieleologizaelo ele intervenção nas
estruturas urbanas - o urbanismo como discipli-
na, tal como se coclificava na Europa- , instru-
menw modernizador por excelência, uma tenta-
tiva de equiparação da cidade brasileira aos
patamares europeus o u a prnn1ra ele uma tênue
modernidade à brasileira.
O ENTREGUERRAS E AS CIDADES
No final dos anos de 19 1O, o Brasil conti-
nuava um país de economia funclamentalrnentc
agrocxport<iclora, modelado na riqueza propor-
cionada pela vencia do café no mercado imcrna-
cional. A exlra<,:iio da borrac ha, atividade que
movimentou o norte do país - na regiüo da bacia
do rio Amazonas-, entre o final do século 19 e a
primeira década do século 20. fracassou c!iantc da
concorrência dos seringais ela Malásia c de Cinga-
pur<~_ A dil'nsão elo gosto pelo chocolate eus<.:jou
o nc:scimento do plantio do cacau na P.:-~h ia, uma
elas culturas que se expandem a partir de então
numa escala regioual ponderável. A atividade
pecuarista, por seu turno, dc:sen volvia-se nos Es-
Lados suliuos, sobretudo no Rio Granelc do Sul.
No final elos anos ele 1920, oito produtos primá-
rios respondiam por 90% do valo r tot<tl das expor-
tações: café (com cerca ele 70%), açúcar, cacau,
algodão, mate, tabaco, borracha, couro e peles
[Abreu l986J. A estrutura da economia brasilc:i-
ra, em 19 19, baseava-se 79% na agricullura e 21%
n a indústria.
Nos anos de 1920, a política econômica
persistia no privilégio da produção do café, com
poucas alterações e m relação à prática anterior à
Primeira Guerra. O domínio político-partidário
da oligarquia cafeeira de: São Paulo assegurava a
sustentação de sua cotação medianLe tllanobras
que viabilizavam os preços internacionais do pro-
duto. Na segunda metade dessa década, a cafei-
cultura sofreu forte expansão na produção, em
O Hrasil em Urhtlltizaçàu • 2 3
alguma rnedida associada à política mo netária c
à entrada de capitais estrangeiros (em forma de
investimentos e ÜJJanciamento ele obras públi-
cas, sobretudo de origem inglesa) [Abreu 1986J.
!hegemonia política e as formas ele con-
trole e manipulação do poder dos grupos ligados
ú agroexportação não estavam isentas do descon-
tentamen to de setores da sociedade, sobretudo
os segme ntos de classe média urbana não repre-
sentados pela oligarquia agrária. Ao lado de gre-
ves operárias (marcantes a partir de 19 18, com
o fim da Guerra), as mais si){nificativas manifes-
tações contrárias ao quadro vigente partiram dos
quartéis, em movimentos liderados por elemen-
tos da ala jovem da oficialidade militar- os te-
nentes. A partir de 1922, inúmeros levautes em
quartl~ is- yue ficaram conh ecidos co mo rcvolt<1s
"ten ent·istas" ou, enquanto fenômeno político,
"teueutismo" - foram registrados em vári<~s cida-
des rio Brasil, alguns extrapolando os limites da
caserna e assum indo contornos revolucio nários,
como no Rio de .Janeiro, no Rio Grande do Sul
c em São Paulo. A oposição fazia con tatos com a
oficialidade inquicr.a, em nome de uma "morali-
zação do regime", e se preparava o c<1minho para
a Revolução de 1930.
O colapso elo mercado lltUIH-Iial provoca-
do pela quebra da Bolsa de Nova York, em outu-
bro de 1929, não deixou d e repercutir no Brasil,
so hrewclo cliautc da fragilidade ela política de
manute nção dos preços elo café. O s altos esto-
ques do produto aliados à vertiginosa queda ela
sua cotação internacional levaram a economia
cafeeira à bancarrota. Em 1930, revolucionários
do Rio Grande do Sul derrubaram o presidente
Washingwn Luís (1870-19S7) sem maior como-
ção. Assumia o poder Getúlio Vargas (1883-1954).
Segundo Singer [1985, p. 235], "o princi-
pal mérito ela Revolução de 1930 foi ter g uinda-
elo ao poder uma aliança heterogên ea ele corren-
tes políticas e militares que , para se consolidar,
não podiam se dar ao luxo de seguir a onocloxia
liberal no campo econô mico, assistindo ele braços
cruzados à hecatombe de atividades produtivas
que a crise mundial estava acarretando". Ainda
segundo esse autor, "a oligarquia agroexportado-
..
i........l
2 4 • ,1l"<jll ilei11 r11s 110 1Jr11sil
ra, economicamente arruinada, leve que ceder o
papel de fração hcgcmúnica à coligação indus-
trializame de tecnocratas, militares e empr('s<Írios,
CJllC vC"io g-anhando poder c acumulando capital
ao longo de lodo este período". No pcríodo ID:-20-
192~) , a agricult.ura sc clcscnvolveu com taxas mé--
dia~ <tttuais de /1,1%, enquanto a indústria <T('SC('ll
2,8%. A inércia ctlU·c os anos I~J2D e 1933 era o
sintoma inH'diato da Crandc Lkptcssão. Entre
1933-10:-39, inverteram-se as posi(Ôes: a agricultu-
ra virtualmente estagnou-se com taxas de 1,7%,
e a indústria desen volveu-se a índ ice~ de 11,2%
ao auo. Em 1939, a agricultura <linda respondi<~
por 57% da csrrnmra da economia brasileira,
mas a indústri<t já comparecia com ponderável
parcela de 4~ 1
/fJ [Dinii' 19lnj.
A ~u pcração ela estrutura de privikgios do
domínio agrário somente se l"aria ele fornta <· li-
ciente mediante a substitui<;ão dos instrumentos
de controle c operarão do porl<'r. O sentido de
modC"rn ii'a(;io da chamada ''Era Vargas" ( 1930
1945) fundamentava-se na 1ransformac;ão das es-
trulUras de sustentação ela oligarquia cafccira
numa administração centra]i;.ada c intcrn,ncio-
nista, de d iscurso naciomdista. rs principais me-
didas políticas e !"conômicas tornar-se-iam deci-
sões orientadas por políticas nacion<1is de Fstado,
em detrimento das políticas regionalistas de in-
tCl·esses !ocali1ados; crit{Tios 'jnrídicos" e "polí-
ticos" eram suhsl il tiÍdos por t·;tzócs técnicas",
"econômicas" e 'tdmiuistnttivas", vinculadas a
rnecanismos de mercado [Fonseca 19H9l . Novas
leis, códigos e dC"lC"rmina(Õcs davam amparo ao
processo de modernização. ; reformula(ão do
aparelho estatal, com a criação de noYos ministé-
rios (da Educação e Saúde, do Trabalho) c órgãos
públicos operacionalizavam as mudanças, articu-
lando os setores público c privad o. Constituía-se
um mercado nacional integrado, definiam-se ru-
mos para o capitalismo industrial do país; ohser-
'a-se, no plano econômico, ··o deslocamento do
l·ixo da economia do pólo agroexportador para o
pólo urbano-industrial c, no plano político, o es-
vaziamento da infht€>ncia e elo poder dos interes-
ses ligados à presen-ação da preponderância do
setor externo no conjun1o ela economia" [Di.niz
l9R3]. Esse ide:írio seria reafirmado de for ma
autoritária com a implantação do Estado :--Jovo,
golpe cuntinuísla de Vargas e111 1037 (contrarian-
do a CarLa de 1!);)4, rp w previ<~ c lciçôcs presiden-
ciais para esse ano) com a ou torga de uma cons-
tituição CJll<' perduro u até a CJUeda do d itad or,
com o fim da Segunci.-t Cuerra.
ORDENAR AS CIDADES
No final dos anos de 1920, a população do
Brasil era ela o rdem de 37 milhôC"s de habitallles,
com cerca de 70% ,·ivendo na úrca ntral. Em
l 940, esse total ati11gia pouco mais df:' IJ 1 milhtll's,
com a mesma propon;ão ele brasileiros vivendo
no campo. Novas frentes de exp ansão agrícola
pelo território gerayam m ig rações inte r nas in-
tensas, assim como, em regiões de incremento
econômico mais di nâmico (sobretudo São Paulo
c Rio d e Janeiro), as tendências apo11tavam para
o d eslocuncn to ele populações da área rural
pan1 a ull.>aml - a confirmar a caracterizaçáo das
cidades como locais de cstn tfllração elo poder e
organização das atiYidades comerciais c financei-
ras, bem como das inslituiçôcs burocráticas do
Estado rPatarra 19861 .
O Rio dejatwiro continum·a sendo o alvo
preferido para inter'cnçôcs "hattsstmtn ianas",
ua seqüência das gTandcs obras empreend idas
pelo prefeito Pereira Passos a part ir ele 190<1. Em
1919, o ex-assistente ele Pereira Passos, o enge-
n heiro Paulo de Frontin (1860-1933), assulllia a
p refeitura elo Distrito Federal e r~ali zaya uma
série ele obras vi:trias de porte . Dois anos mais
tarde, o prefeito Carlos de Campos (1866-1927)
detonava o d esmonte do morro do Castelo, um
dos prime iros sítios ocupados pelos portugueses
no século 16 para a fun dação da cidade, e criava
um "vazio" urbano onde seria provisoriamente
montada a Exposição do Centenário da Indepen-
dê ncia, C lll 1922 rver próximo capítulol. Tratava-
se efetivamente de nm "vazio", porquan to ne-
nhuma destinação prévia havia sido planejada
para a esplanada que surg-ira. O material do ar-
U lJmsil e111 f !rhaniz(lç(Jo • 2 5
..... :i .... C)....
,;; ·l~·,,;~~;;;•,S>~;~
·--.._
•,
'',,...
L-4. Projcto núo l'~t·( 11tado de arr11~111 e nro para a área rc:;ultante do d esalt'r rn rln morr o do Castelo c para án:a a tt'tTada
rlt>srlc a Glória até a Ponta do Calabuurn. S<').;lllldo proposta de uma comissúu dc cngenlwiros c· arCJuitctos nomeados pelo
[li efeito do Rio de Jancim, Carlos Sampaio, 1920 1922.
1·as:1mento do morro foi transferido para a com-
pactação de um aterro que, lllais tarde, abrigaria
v Aeroporto Santos Dumont.
A capital elo país contiuua,·a a ditar a voga
de intervenções urbanísticas. O irnpassc do de-
senvolvimento c a ocupação urbana do Distrito
Federal ensejariam a contratação, em 1927, do <~r­
quiteto Donat Alfred Agache ( IH7!l--1959), profis-
sional que vinha se notabilizando na França, des-
de ;t década ele 1910, em assnntm url>anísticos.
Agache desenvolveu um volumoso relatório com
diretrizes urbanísticas básicas publicado em 1930,
que. com a Revolução, n~t o !'oi imedia tamente
implementado. Em 1931 era criada uma Comis-
são do Plano da Cidade para o reestudo do Plano
Agache, permitindo sua aplicação parcial. Em
1937, com o Estado NoYO, uma no'a comissão de-
senvolveu um projeto que acolheu inúmeros sub-
sídios do plauo de l 930 e foi o que orientou o
desenvolvime nto do Rio de .Janeiro até por volta
dos anos 1960 [Rezende 1982; Bruand 1981J.
Alfred Agache dese nvolveu no Brasil, nes-
se período, vários projetos c consultorias: ern
]935 fc:z o desenho do Parqu e Farroupilha Iver
capítulo "Modemidade Pragrnútica 1922-194:-r'l,
faria consultoria para o cntüo prefeito de Belo
TIori7onte, J uscdiuu Kubitschek de O liveira
(1902-1976) no f"inal rlos anos El30 [ver capítulo
"Modernidade Corrente 1929-1945"], um plano
diretor para a cidade de Curitiba (1913) e o de-
senho de um bairro de clirc e m São Paulo, em
Interlagos (anos de 1940). Participou de inúme-
ros outros planos, como os de Vitória, Campos,
Cabo Frio, Araruama, Petrópolis, São João da
Barra e Atafona lSilva 1996].
A cidade de São P<nlio, também ao tina!
dos auus ele 1920, apresentaria um plano corn
preocupação basicamente viária mas não isenta
de elementos referenciados nas questões urbanís-
ticas mais amplas. O engenheiro-arquite to Fran-
cisco Prestes Maia (1896-1 965) foi o autor de um
<tmbicioso "Plano de Avenidas" publicado num
relatório em 1930 - tão suntuoso qu anto o de
Agache. A Re,·oluçào de 30 também. interferiria
na adoção do plano; todavia, em 19~7, com o
Estado Novo, Prestes Maia era conduzido à pre-
26 • Arquiteturas no nmsil
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.'. Proposta elo l'lano de ivenicbs, de 19:10, cl.- l'restt's Maia , para p raça circul:tr na imerccssào das ;~v.-nidas do EsLado e
da Jnclcpc nch~ncia: monurncntal id adc vi;i t ia num entorno campeslr<>.
fcimra de São Puulo c em sua primt>ira g-csl<'io at<::
194!i, e posleriorrnenre entre 1961 c 196Pí (quan-
do foi cleiLo prefeito da r iclade) , ele implan Io u
parcialmente seu projeto, incompleLO em sua
execução pe la falla de recursos. As diretrizes bá-
sicas do plauo foram seguidas até 1969 pelo seu
sucessot· [Toledo 1996].
Os planos para o Rio de jane iro e São Pau-
lo ensejaram uma seqüência de propostas para
várias cidades brasileiras, em maior ou menor me-
dida inspirados nessas experiências. No início elos
anos dt" 1930, Nestor Fig-tteiredo c Fernando Al-
meida clesenvolveram pl:mos de remodelaçiio e
extensão para diversas capitais do Nordeste: For-
taleza, João Pessoa, Recife e para a cidade ele
Cabedelo. Recife ainda seria estudado em 1934
por AtLilio Correia Lima (190 l-1943) e em 1942
por Ulhôa Cinlra (1BH7-1944). O mesmo Correia
Lima elahorflria uma tese no Instituto de Urbanis-
mo da Universidade ele Paris sobre um plano de
remodda<:ão e extensão de Niterói em 1932 e, no
auo seguinte, faria o desenho ela nova capital do
Fsl<tdo de Goiás, (;oiânia fver tarnb(:m capítulo
"Modernidade Pragmática 192:2-1943"]; em 1941,
elabora I';.Jmbém o plano para a cidade de Volta
Redonda ILopes 19941. Na primeira metade dos
anos de 1930, os engenh eiros U batuba de Faria e
Edvaldo Pereira Paiva preparariam um plano pant
Porto Alegre sob a inspiração elo plano Agach e
para o Rio de Janeiro. Com a nomeação do pre-
feito José Loureiro da Silva (l9m~-1964) com o
Estado Novo, o arquiteto elo Rio deJaneiro Arnal-
do Gladoscl! era contratado para o descnvoh·i-
mento d e um IJlano direror para a cidade; nos
anos de 1940, Edvaldv Paiv<1 iria desenvolver estu-
dos nrbanísticos par·a a capital com o título "Ex-
pedien te Urbano". Salvador também teve organi-
zada, entre 1 9~4 e 1 9~7, a Comissão do Plano da
Cidade, desativada pelo li.~taco Novo. Somente
em 1942 seria organizado o Escritório elo Plano
de Urbanismo ela Cidade ele Salvador (EPUC:S) , di-
rigido pelo e ngenheiro Mário Leal Ferreira.
O sub strato conceitual desses inúmeros
esforços era referenciado em teorias e expcri-
ências urbanísticas européias c norte-america-
na::;; enqu::1n to propostas concretas, boa parte se
limit ava a esquemas de circulação com novos
sistemas viários sobrepostos aos tecidos urbanos
antigos, quando não se tratava ele áreas eu1 ex-
pansão o u cidades novas. A 111aiori::J dt>sscs pro-
jetos foram rejeitados pelas câmaras muni('ipais
ou adot::Jclos c.m condições excepcionais, isto é,
com prefeitos nomeados pelo Estado Novo, que
uão se suhorrl.inavam ao respaldo do poder legis-
lativo para suas in tervcn ções urbanas. Mesmo
nessas sitml<:Ôcs ele exceção, esses prefeitos não
conseguiram implementar os planos na sua tota-
lidadf', pela amplitude e complexidade das pro-
postas a exigir recursos que demandariam o in-
vestimento de inúmeras gcraçôes de cidadãos.
O plauejanu.:nLo das cidades, a funciona-
lizaçào dos espaços, a organiwr,·ão de uma hierar-
quia viária eficiente e a definição de políticas de
construção mediante códigos t>clificatórios vinnl-
lados a padrócs urbanos foram aspectos que, a
parti r de 1930, caracterizaram uma faceta da mo-
derniza~· ;lo dos grandes centros urbanos do país.
Quando concretizados, <.:onstituíram verdackiras
O /Jmsil e111 Urbanizaçâo • 2 7
cirurgias urbanas que tentaram 'arrer as referên-
cias da cidade colonial ou imperial, substituindo-
se a paisagem "at1·asada" do casario antigo por
largas e arc::jadas ;wrnidas ou bulevares e constru-
ções vistosas ele <1rquitctura modernil'.<mtc ou rno-
rlerna. Todavia, entre a utopia transformaclo•·a e a
realidade conscr'adora, estabeleceu-se um impas-
se que acabou gerando nf'nhnma imagem integral
de modernidade. ;'!em se pode afirmar, categori-
camente, que os significados dessa modernização
estivessem conscientemente assimilados pelos ci-
dadãos ou govcrnan tes. Ademais, cst rat{:gias des-
sa narnrcza c·ontcmplando ol-~jctos tão complexos
como as cidades dificilmente são exeqüíveis em
prazos condicionados às veleidades ele autoricl:Kks
ou autoritarismos. No entanto, o conjunto de ten-
tativ;ls d(' plant:jameiJto u•lxnw no Brasil que se
registrou no período rl.o enrregucrras inclicia, com
rnaior ou tneuor sucesso, que o Brasil procurava
ingresso entre <'~S naçócs dcscm·olvidas buscando
encontrar formas racionalizaci::Js ele uso c manipu-
lação elo espaço das cidades, segundo regras de
uma das disciplinas instauracloras da modernida-
de do século 20: o urbanismo.
2
DO ANTICOLONIAL AO NEOCOLONIAL:
A BUSCA DE ALGUMA MODERNIDADE
1880-1926
O estilo modr.mo aceita lodos os estilos, cai l''ln todos OJ PXrP.uos, t' '//(LO formando idéia
das IU'rt>ssidadr.s tâo várias da gerarlio f.m•scnte, finde-se na jiP.stpú.w rir• 11ovas f ormas
n r.rim; de nova exjJTfSSÚo a ado/(l,r; o seu caráter rssr•náal é a ri'úvida I' a incerteza.
ANDRÉ {_;( ISTAVO PAU LO DE FRO:-.lTIN,
proposições sobre "estilos em arCJUilct tu·a", tese apresentada em concurso
C'm Engenharia Civil para a Escola Politécnica do Rio d e Jancil·o, 1880.
Ufanismo é uma palavra derivada do ver-
bo uümar. Esclarece o di cionário que o Lermo
de nota a "atitude, posição ou sentime nto dos
que, influen ciados pelo potencial das riquezas
brasileiras, pelas belezas naturais do país etc.,
dele se vangloriam, desmedidamente" [Ferreira
1975, p. 1.436]. Trata-se de uma alusão ao livro
de Affon so Celso (1860-1938) , Por quf' me Ufano
do uu•n Pais, ediLado em 1900, precisarnenLe no
calor das celebrações elo quarto centenário elo
descobrimento do Brasil.
No final do século 19, o Brasil não se ufa-
nava de sua arquitetura. F. d enegria seus antece-
dentes: "Herdamos dos a ntigos portugu eses a
parte má do gosto arquitetônico; e, por muito
tempo, nos conservamos estacionários. Recente-
mente as construções vão se ndo mais elegantes e
adequadas às condições de nosso clima, porém
ainda com excesso inútil ele materiais". Era essa a
opinião do engenheiro C. R. Cabaglia [1869, p.
103J em 1866.
O ensino de arquitetura no Brasil é ante-
rior ao estabelecimento dos cursosjurídicos, mas
nem por isso os arquite tos angariaram prestígio
equivalente ao dos bacharéis. Data de 1816 a vin-
da de urn grupo de artistas fi·anceses para a cor-
Le do Rio de Janeiro, ainda sob a regência do en-
tão p ríncipe D..Joào (1767-1826 -futuro D.João
Vl , rei d e Portugal), para introduzir no país um
con hecimenLO artístico de gosto neoclássico.
....._
.3 O • Arquil!!lllrCIS 110 Brasil
Mas i· somL·ntc em 1827 que com~ça a runcionar
regularmente a Academia ele Relas-Ancs, incluin-
do em seu currículo a arquitemra, curso o rg;.u ti..:<t-
clo por Augustc Hcnri Victor (~randjean ele Mon-
Ligny (177b-1 R50), arcptiLelo francf>s de algum
prestígio em seu país de origem, autor de nm á l-
bum de levantamentos arquilctúuicos, Arr!tileclure
inscanc, ou jwlai.1, uwi.wns, e/ autrfis édijlas rll' la
'f'osumc, J.>tthlicado elHr(' 180ti e l Hli).
CARÊNCIA DE ARQUITETURA
As ;w;-tliações sobre o cnsiuo da arquirctu-
r<t no último quartel do século 19 uão eram nada
promissoras. Luiz Schrciner (1838-1892), enge-
nheiro c arqnitc:to fo rmado na Real Academia
de Rf'hs-Artes de Berlim e ativo no Rio de Janei-
ro, foi unt crítico radical da situação no país. Em
Hl83 manifestava-se:
Se não pod emos nc:gar, que a nossa Escol;~ Politécni-
c;t jií tctn formado engenheiros q ue p odt"tll ri,·;tli7ar
con1 os tlll'ilwres do Vcllto iVIundo, i: tamb.:m indiscutí-
vt'l que a a1 qnitetura ainda(; pouco rulti v:~rla c-ntrf" n<'>s,
:l.Ch:lnclo-sc: a art ... d e co nstruir ainda hoje mcri<l:l na ca-
misa de força c hamada "rotina", c melo isso pe lo t:tto de
sr c nt f' nd !"r que utn arquiteto pod e form::H-st> n:~ Aca
d...,nia das B<·hts Ar l('s I ... 1 Ainda hoje os alunDs copiam
os mesmos d esenhos do fundador da aub ele a rquit!"ttt-
ra (está entendido qu <> ralo d a parte construti'a, c não
csrhica destas rópi:ts) n qual, no fínt do s(<.:ulo passado c
no prin cípio do nosso . d istingu iu-se por ter p u blicad o
uma obra sobre arquitetura toscana L...j .
6. Casa d~.: Detenção elo Reci fe, projt·tada e construída pelo engen heiro .José Mameclt· Alves Ferreira (lf20-1862) a par-
til· de 18!'>0. ü engen hcit·o Perei ra Sim<ics c o arquiteto Ilcrculan o Ra11tos comen taram em 1882: "a nossa Casa de Detcn-
çiio , estudada em face da teoria da arquitc1 11ra, é- um dos p oucos edifícios onde existe h armonia mais o u men<" perfei ta
e ntre.: a forma adotada"' a necessidade que ocasionou a construção. H ii ali. tH:sse ponto rk vista c em relação ao conjunto
de elementos, o caráter acertado das obras raciona lm ente feitas. [...j Cada ç lcme nto t<.:tn assim nma significação peran te.:
a arte; cada lin ha pode despertar um 'cntime uto rapaz de concorre r para o fim a qnc se destina a di spo~içiio geral"
[Scgawa l J87al .
i arquitetura entre nós não de u um pas'o ;1antc
desde o princípio deste sécu lo, c·rnhnra l'sta t-poca mar-
casse uma revnln(";)o co loss;~l ISehreine 1884, p. 7·1.
A situação cios arquitetos uo Brasil à épo-
ca sofria também de constrangimen tos suscitados
pelo próprio poder público. Um aviso do tninis-
tro do lmpf-rio, Antonio Ferreira Viauw.t (1834-
1005), solicitava em 1HH9 a contrara<;ão de u m
arquiteto na Europa. Na j ttstificativa rla solicila-
çào, argumentava-se cptc
A ,..J,..vação cln nosso n ÍH'I int<"kctual torna çada dia
menos su ponáH·I a !'alta de gr·a(a t> t>stilo em nossas
construções. ainda as destinadas a , ,.,·viços pÍihlicos d:~
lllaior imponãnci:1. como se a beleza não fosse cond i
ç;io essencial ou d ela sç pudesse prescindi r a troco d;1
solidez, nem sempre conseguida. r...1 F. f' l't>Ciso que à
primitiva ane d e constru ir se jnmc·m a concep<;<io e a
diglliclacte da arquitetura. cujos exen1 plarcs são t:'io ril-
ros en tre nós, t' , o que é m<'lis inquietante. em gera l vi-
t'l'<llii do pe ríodo colo nial !Vianna IH!JU, pp. 12 1- 122j.
O ESTADO DA
ARQUITETURA MODFRNA
Esse tipo de ceticismo era também com-
partilhado pelo engenheiro civil Bern<Jrdo Ribei-
ro rle Freitas (formado na Escola Puliti::cnica em
1881) , par<J qncm, em 1888, o ensino arquitetô-
nico no Brasil era "quase desconhecido". É Rihei-
ro de Freitas que publica, nesse ano, nma avalia-
ção do quadro ela arquitcwra naquele final de
sécu lo. Num anigo intitulado "A Arquitetura Mo-
derna", o engenheiro tecia considerações sobre
as grandes Lransrurmações tecnológicas e sociais
processadas ao longo do século que t'erminava,
assinalando a perplexidade de sua época:
O século 19. instigado pt'la~ grandes conquist:Js rias
ciências e das indústri as, fone pelo fl:rro que tornou-se
a sua matéria-prima por excelf>ucia, revoltou-se contra o
P"ssado c de ous;Idi<~ em ousadia apresentou for mas in-
1c-iramentc novas que acharam sua raôo ck st>r nas leis
ela estatística, mas que se afastaram da estética até ago-
ra conhecida. Estamos em pleno domínio da rt>voluçào.
Como se mptT acon tece nas rt>voltas, os acaclf>lll icos,
os que g uardavam corno sagrad os os princípios da ar-
no Antirolo11ial oo Nroroloniol • 3 l
quitt>tttra [...] protestam contra as exigf·ucias cl<t indús-
tria e cteclararam n:bcldes e fora ro>npletamente ela (O-
Ill tlllhào da arte as novas manifesta<,:ôcs elas H<·cessiu<Ides
h umanas c: elas idéias elo nosso s(•cttlo.
Oaí dois cam pos lwm d istintos na arte das constru-
~·<->('S: os rc·voi LOso~. w, progressistas, ele 11111 lado: do ou-
tro, os fié is. os respeitadores da an c a nrig;.t.
Não ohsratllc a coustatação do dualismo,
Ribeiro de Ft-eitas supunha concmnirantcmente
uma unicidade da arquitetura de seu tempo: "nos
diversos povos o caráter arC]nirctflnico é um; é a
expressão da civili:t.ação da era presente. F,certo
que ainda há poYos separarlos da comunhão ge-
ra.l; mas nos países 'errladeiramentc civilizados,
conforme as nossas idéias há uma só civilização,
costumes e idéias concordes, e daí um<l arquite-
tura, a arqui telllra moderna".
Tomando ClllJXestadas as análises de César
Daly (181 1-1R91), Ribeiro de Freitas via a arq ui-
tetura dividindo-se em três correntes: o "grupo
histórico" ("fiel da csli:tica mais conhecida, acei-
ta somente as arqui teLUr<Js Cllle caracterizam as
duas civilizaçôcs mais notáveis: a greco-romana c
a da Idade Média"), o "grupo er.l{:tico" ("reserva-
se o direito ele escolher em todos os estilos, em
rorlas as manifestações da construção o que mais
perfeito julgar para o fim que se tiYer em vista")
c o "grupo racionalista" ("é uma reação elo pre-
scnre contra o passado [... ] lançando mão dos
novos malcr·iais l---J esse grupo adotou a libercla-
ck da t<>rrna, sem obrigação d e atender às leis da
estética legadas pdo passado").
Negando a existên cia de um "corpo de
doutrina" aos grupos "eclético" e "racionalista",
as pa lavras do engenheiro brasilei ro bem espe-
lham o dilema da modernidade arquitetônica no
crepúsculo do sfculo 19:
() ar LisLa moderno, o an1uitt>to moderno lnta com
gr<tncle~ d ificuldades, se se fil ia à e~co l a ,·acionalista,
tendo por único guia a mecâni ca aplicada , tem(~ cair
e m formas secas, frias, esque letos, ó rg::io:; de máquinas
antes do que elementos arq ui tetôu ico~ ; se aceita a es-
cola eclética, sen1 outro critéi-io para escolher· as suas
normas a não ser o se u próprio _juízo cai no cetic ismo
<trtístico, no :.~handono e d esprezo de todos os princí-
pios admitidos.
32 • Arquitetums no nmsil
lkssf' estado da arquitetura moderna 11<1SI'' o ind i-
vid ualislno ('111 qnestüo da arte; cada um é: seu préJprio
_juiz c não actmi1e dog111a ~ c· 1weceitos estéticos. Há a per-
feita dt'sor){ani·tação das verdadeiras escolas. A crítica
artística desapareceu , pois qnc nào há leis esté-ticas; mio
hú cúdigo, logo u<lo h{t,iuiz [Freitas lfltll:l, pp. 1!1!1- 1~11 .
MODF.RNIDADE E
IDENTIDADE CULTURAL
A hesitação pelos caminhos que a arquitc-
Lura deveria trilhar- debate em curso sobretu-
do na Europa - collhcceu no Brasil uma outra
variável: a da nacionalidade. Em meio a uma vida
culrural r mundana orientada pelos padrôcs
fr;:Jnct>ses (daí o recorrente uso da cxprcss:'io " hc-
lle êpoLJLI<.:" para esse período na historiografia
brasileira), rssa preocupação se esboçou com
maior i11 Lcnsidadc nos meios literários. O ltfanis-
rno de Affonso Cf'lso in;m?;u rava o palriolismo
oficial; escritores como Euclides da Cunha ( 1866-
1909) e Lima Barreto (1881-1922) teciam abor-
dagens distintas d::~quclas prt'scrilas na literaLUra
<lo Velho Mundo. Não há registros escr itos de
rlf'hates dessa natureza no âmbito da arcptitt>lu-
ra na J.nimcira década do século ~0. Todavia, a
questão era la lelllc, c, ao menos isoladamente,
arquitelos manifestavam-se a rf'spPito na esteira
da discussão mais ampla.
É o que se ctr preencle ele um memorial
explicativo df' um projeto ele palá<.:io municipal
para Belém, cidade que se beneficiava., nesse
momento, ela riqueta proporcionada pela cxpor-
ra(i'io da borracha. Seu autor, o engcnhf'it-o ar-
quiteto Filinto Santoro, era italiano com estudos
em Nápo les, tendo chegado ao Rio de .Janeiro
em 1890. Sahc-sc CjtH' foi um profissional que es-
teve aLivo e m várias cidades bt·asileiras (Rio de
Janeiro, Vilória, M::~naus, Belém c Salvador), fi-
gura de prestíg-io com obras públicas de impor-
tância [Derenji 1988] . Ao elaborar sua memória
técnica sobre o j amais cxccULaclo palácio, em
1908, Santoro reg-istrava a situação presente ela
arquitetura:
O s~cn l o atual , possante e inov<tdor nas cii'·ncias,
n8s teu·as c nas demais arLcs. nfw conseguiu ainda ter
11111a 110'a ;n qnitctura. i maior parte dos granrlio~os
t'ciilícios 'O IISI ruído~. longe de tc1· uma fisionomia prú-
pria, como nos sé-culos passados, ou são cópias de anti-
gos m o n umentos ou compo, i(i>Ps bhoriosas de elc-
llll'ntos llt'lt'rogêneos amalgamados com maior nu
menor habilidade. Certo é que o espírito ntodl·rno
toge ;ls velhas form as; c os arcpr irt'tos, nwsn1o os mais
geniaiS, CSforçalll-S(' para dotar a ll OSSa t:]JOCa ele lllll
non1 estilo arquitetura! CJlH' mdhor respu1uLt ús aspira-
ções hod iernas e ao bom gosLo, acocdando-o com o
desenvolvimento grandioso progrrssivo dt' ioclas as ar-
les apl icadas. Na nossa pcrcgrinaç~o aos velhos e cultos
países da Europ<~ ficamos convencidos de que pouco~
são aqtlt'lt's que m;unêm na arquitetura os expressivos
elementos cl;1ssicos c quase achamos os artistas de hoje
identificados, concordes ua pt'squisa de um novo ideal
estéLico. mostr::~ndo até em algu mas consLruções, ap'-
sar das iucvitá,·cis inccrl e~:as e exagems, uw complexo
hannôuico dr.: linhas, 11111 conj11n1o till, rif' inf'undú a es·
pera u ~·a de n;io estar longe o ad·t'nto da d t'st·jada ar-
quitL:tura do século 20.
E posicion;.~va-se quanto ao eslilo adequa-
do ao BrasiI:
N u111 país novo, que seuiP a cada hor<J ;1 i11rlui'ucia
·ariável da~ idéias d<' além-n1ar, a imposição ele um e~­
tilo único seria i111proccdeute [... j
Todo c qualqu.-r estilo, consoante a sua oportunida-
de. pode e deve ser adapi<Jrio ao nosso clima e ao nosso
meio, dc~de que sejam iiTepreensiw·l mentc obsen·ada~
as modernas prcscrit;Ões higiênicas. I'o Vl'lho M uudo
todas as l'orm<~s a rquitc wrais t>rocnlcram de estilos an-
tc1·iores aos qua i, foi sc111pre assimilado um elemento
e.~tran h o, dependente d o progresso e da transCormaçüo
das v;íri<Js civilizações, da aquisição d e um·os conhl'ci-
mentos, d<J inrJu ência de novas idéias c sen1ime11los ('
1ambénoda introdJl(iio de novos materiai s.
Deixt"-S<', pois, ao cngeuheiro, num país como o
nosso, <t escolha do eslilo que melhor corresponda ao
seu gosto, às suas idéias e aos l'ins a que se destina o
edifício. Esta liberdade de agir, porém, niio o d ispensa
d e se preocupar in ccssa n tem <' llll> com os ele uieuLOs
cuja influência t;m to ~e afirma sobre as construções: o
clima, as tendências do viver coletivo, o progresso dos
materiais ele que, porventura, disponha [Santoro 1900,
pp. 111 -t 11].
Não obstante o oLimismo e o tom progres-
sista do discurso, o Palácio Municipal de Santoro
era um pr~jeto de arquitetura convencional.
ESTETICA DA RACIONALIDADE
Os mais surpn:<:ndcntcs escritos irnprt>g na-
dos de uma precoce modernidacl<: foralll feitos a
respeito ela ohra rlo arquiteto Victor Dubugras
( I R6R-l 933), francf:s com formação profissional
em Rucnos Aires c radicado no Brasil a partir ele
1890. Dubugras, t-m st> us primeiros projetOs co-
m o fun cionário público para o Est::ldo rle s:w
Paulo, dese nho! fúruns c escolas ncogúlicos. Na
virada elo século. o arquitt:to er<l um projetista
p<:dcitamente sintonizado com a expcrirncnra-
ção Art Nouvcau, praticando obras residenciais
com ::l mesma desenvo ltura modernista de Bru-
xelas, nan-elona O ll Paris.
Em 1905, o arquile to havia org<mizado uma
exposição de seus projetos e obras e foi saudado
pela Revista Pul)'lechníra, periódico crlitado pelo
grêm io cs1udan Lil tla Escola Politécnica de São
no A nlimlonial rto Nt>orolonial • 3 3
Paulo, pe la "coragem do arqlitcto cnt expor lra-
balhos que fogem compkt<mt<:ntc às formas ha-
nais, manifestando uma tendência hem acentua-
da para urn novo método de construção, ainda
pouco c.studcldo" (n:feria-se ao concreto armado).
Poucos 1neses depois, a r<:vísla publicou uma aprt>-
c:ia~:ão do csLUdan te Augusto de Toledo sobrt- a
obra elo seu professor, Dubugras, manifestando
11 rna inédita postura estético-construtiva:
Eut toda coustr ução o Sr. Dubu~ras deu inteira p rl:'-
fer~ucia às form<:~s ele est rutura real. As d i sros i ~·iH''
const.rut i';lS c· a natureza dos mat l:'riais s~to rrancamen-
tc acusadas. lealmente poslas em evidê ncia: o que pare-
ce parte ~upunad;1 funciona verdadeirame n te como L~ I;
o g ran ito i:: g-r:-tni to 1nesmo; os rc'cstimentos dt· <trg;t-
massa não iluden1; e wda pcp d e madcirajú eslú colll
~ua co•· própria , tendo apenas uma C;lm<td a protetora
de verniz transparente.
Aplau dimos convictos esta maneira de construir tão
honesta c racional. O arquücw te m de cingir-se ao> re-
cursos de que dispõe, e à~ formas impostas pela 1-'stahi-
----------- --------~ ------ ---------·--------------.--:.-·::---_--
- -'":- · - --:--
U Oue!.lJ6Ftt;,.
fi"'c. 4
7_ Vinor Duhugras: estação fcr.-oviúria em Ma irinquc, SP, 1905- 1908.
31 • Arquiteturas 110 Brasil
lidade c resistência dos materiais. Lade:>ar dificuldades
ou siullllar riquezas cn 111 fingim e ntos c an ifícios t:, a
nosso vt'r, cair em uma ane viciada c mcntiros;l. Nada
mais rid ículo d o que, por cxcrnplo. os 111<Írmores d e es-
mquc c os trontõcs impropo~iamcntc t>st;1tchodos no nll·-
po das rachadas.
O distiu to professor pt>s de maq; t'm todo velho ;u·-
scnal de cornijas, consolos, balaústres decorat ivos, ao·-
lf llil ravcs etc. l~ o caros aos rotineiros , aos que L1zcm
arquircwra com as fcu·malísticas e inllllúvcis receitas de
Vinhola. c c nvt>rednu corajosamo•ottc pela a n e llwdcr-
ua c pt>los modernos processos de constr u~ ão ITolcclo
1901í, p. 771.
Trb au os d epois a mesma RPvisla Poly
lechnicn publicou um elogio à então recém-inau-
gurada estarão ferroviária na cidade de Mairin-
que, no Estado de São Paulo, projeto de Dubu-
gras. O edifício é praticamen te uma esLrn tura
monol íLica de concreto armado, estrutura com
trilho~ (fundações, pilares c vig-as) e metal ex-
pandido, o ·metal déjJLoyé (pared es, lajes, abóba-
das), alérn d e empregar coberturas a tiran tadas
sobre <'ls pla taformas. Num artigo assinado por
P. J. (hipoleticamente Hyppolito Pujol.Júnior,
li-l!-10-1 952, engenheiro civil recém-formado) ,
ressaltava-se o pioneirismo da obra:
A bela composição do Sr. Dubugras tem [...] [o]
grande mé rito [... j de co nvencer d :~ possibilidade d e
fazer be la uma obra de r imerno armarlo os d e~crentes
da estt'- rica do novo sisrema de COilslnoção, os que acre-
d itam que o único me io de tornar atraente uma o bra
t>xecu tada com essl:! tmncrial é esconder a natural rigi-
d(~z geom(•trica d:~s formas que decorrem da consrru-
(ào mesma, fazendo-a dcsaparPcer sob suct>ssivas ~.:ama­
das de em boço e r<"'boco (...]
A simplicidade do mé todo es1élico a qne rcçorre o
arq11itPto mocomposição da sua linda garr, a f~1c i lid;~de
c nal.llralidadc ela ordenança elas sua~ fac hadas, não
são, ento-etanto, seniiu aparentes ... uào excluem, pelo
menos para quem não possuir as superiores qua lidades
de artista elo d istintO mestre, um penoso ll·aballoo de ra-
ciocíuio e uma ponderação muito j usta do noYo méw-
do de const r uç~o , de que d.-ve decorrer nt-cessaria-
mente todo o efei to arquitetura! , quer d o conjunto,
CJU<"'r da dccora(i.o ckmcntar da obra. I:: para mostrar
q ue não é f~1cil chegar a uma composiç;'io tàu rac:ion;~ l ,
tão elegante e a paren temente' tão esponr:inea e f<ícil,
para acentuar todo o merecimen to desta bela constru-
ção, basta lembrar o clt>plorável aspecto das cdilicações
e m cimento armado que se alastram pelos Estados Uni-
dos c pela Ir;lia, pela luglaterra e pela Françil, reconlan-
do parti cu l<~ rmt>nte as casas em n·1ncnto scmi-annato de
Alzano d i Sopra c a memorável casa d o cngt>nheinJ
lle n nc biq ue, em Paris- em que, ora s1· descur::t inll·i-
ramento:: du efe ito arqu itt>lônico. tratando ape nas chl
pa rte COIISI.nltiva e utili1ária, ora, como no caso da Villa
Hcnnt>biq11e, se sacrifica todo o cfei lo decorativo, afo-
g-ando a construção de cimento arm:-tdo e on uma imit:-t-
ção ridícula c co m p!icad;~ de a h·cnari;~ de pedra [...].
É que é cfetivanwnl c difícil e~cap;n ú insensível IT-
pc li<Jw elas velhas u orm:~s ci... composição, adaptar-se a
u m mate-rial intciramenle novo, se-guindo uuicanwntc
as indicações do bom senso, procurar uma composição
geral <" um;o decoração inspiradas na própria constrll-
r;io, chegando, e nfim , a uma obra o riginal, inteligente
c bela [...] E essa é precisamente a dificuldade que su-
pe ra mag-istralmente o iusigne <~rqu ileto . que nos dá
com a Estação Mairinque u m brilhan le exemplo a se:>-
gn ir, no camin ho ela reabil itação esl ética d o cimc11 to
arm<~rlo, túu cedo t> tão ít~j usta mt"n LI:! con den:~do u .llllO
coisa fund;tllwn talmente dt>sgraciosa c fe ia [...] [P. J.
1HJX, pp. 189-190].
Na primeira década elo século 20, a Esco-
la Politécn ica de São Paulo ainda comple tava seu
prime iro decênio de.: funcionamc.:nto, c a tarefa
de buscar e organizar o conhccimcnto ciell tífico
era urna prioridade. Em 1899, criava-se o Gal>i-
uetc de Resistência de Materiais, constiLuinclo
um laboratório de ponta em tecnologia da cons-
trução. Cottb<.: a Hyppoli to Pujoljúnior, quando
estudante, diri)!;ir a elaboração do Manual de Re-
sistência dos Materiais, publicado e m 1905 pelo
Grêmio Politécnico; assim como, dois a uos de-
pois, já como professor da Politécnica, realizar
urna viagem por laboratórios de ensaios de ma-
teriais na Europa [Pujul Júnior 1907]. Man uais
pioneiros de concreto armado corno os d e Gé-
rard Lwergne (1901), Cesarc Pesenti (190fi) ou
catálogos da Fxpanded Metal (1905) de Londres
ou da /VlPtal déployé de Paris eram publicaçôes
acessíveis en tre os en genheiros em Sio Pa ulo.
Victor Dubugras beneficiou-se de um contexto
fe bril ele capacitação tecnológica na escola em
que era p rofessor, e não foi grat11iLa a admiração
de seus alunos <]llando o mestre respondeu ao
entusiasmo tecnológico corrente corr.t uma apli-
cação judiciosa do novo material numa obra ar-
quitetonicamente elaborada.
Não há registros, todavia, ele novas expe-
riências dessa natureza, ou ao menos com reper-
cussão equivalente. Dubugras aparentemente
prosseguiu sua carreira sem repetir o radicalismo
coustrutivo experimentado n a estação Mairin-
que, mas continuou como um arquite to aten to
<lO <~mbicn tc inrcrnacional c local. Recém-ch ega-
do ao Bntsil, co111 po11co ntais d e vin te a nos d e
idade, abraçava a linguagem neogótica; com
pou co mais de trin ta anos, praticava o Arl Nou-
vcau sim ultaneame nte aos seus colegas euro-
pclls; prúxi111o dos q11arc nta anos, na pri111cira
década do sécu lo 20, desenvolveu experiê ncias
f!llC o filiariam ao "gr11po racionalista", detecta-
da por Ribeiro de Freitas, em 188R, a partir ele
categorias elaboradas por César Daly. Aproxi-
mando-se <lOS rinqt-tcnra anos ck idade, VicLOr
Dubugras embarcou numa nova experimcnta~·ão
rorrnal, inclllindo-se entre os pioneiros que, na
metade da década de I!) I O, adotariam a arquiLe-
tura inspirada na arte tracl irion aI hrasi le ira: o
n eocolonial.
O FUTURO NO PASSADO
O ano de 1914 pode ser considerado
como a data inaugural de um movimento que
incorporou um componente inédito no debate
sobn· a modet·nização da arquitetura no Brasil.
Nesse ano, Ricardo Severo ( 1869-1940) profe-
ri u na Sociedade de Cultura ArlísLica um a con-
ferên cia, "A Arte Tradicional no Brasil", preco-
nizando a valorização d a .arte tradicional como
man ifestação de nacionalidad e e corn o elemen-
to de constitui~·áo de uma arte b rasile ira. Dis-
corrcnelo sobre ;.~s o rigens portuguesas da cultu-
ra brasileira, Severo defendia o estudo da arte
colon ia! como orientação para "perfeita crista-
lização da nacionalidade". Se·ero não defendia
uma postura propriamente conser vadora. For-
mado engenheiro civil e de minas na Academia
Politécnica do Porto, em 1891 exilou-se no Bra-
sil devido ao seu envolvimento com o movimen-
to republicano português, preconizador ela im-
l!n A nlirnlrrnilll 110 Nr>nro/oniol • .') 5
plan taçiio da democracia ern Portugal- afinal
be m-sucedida em 191 O. Entrc 1H9H c 190H rcror-
nou ao seu país de origem c editou uma publi-
cação de valorização ela cnltu ra rr;.~d icional por-
tuguesa, Portugálirt, com trabalhos de etnologia
e a rqueol ogi<~ , sua contribuição para 11111 movi-
men to de afirmação da cultura l u ~a em curso
em Portugal na virada do século- iniciativa que
se confund ia corn as conviq:úes republicanas.
Radicando-se de fini tivamente no Tirasi l em
1909, associou-se ao maior escritório de enge-
nharia e arquitetura e m São Paulo, o Escritório
T{·cnico Ramos de Azevedo, c iniciou seu prose-
lilismo por uma "arte nacional". O "culto à tra-
rli(;1o" já era mna posi~:ão revelada com sua ati-
vic.htdt: "lusilanista" em Portugal desde o final elo
~éculo 19, c sua atuação p rosseguiu 110 Brasil,
transro r mando a ex<~ltação ela raiz cultural c
é tnica portugu esa no fundam ento da a rte bra-
sileira. Era uma compatível corn u11hão da creu-
(a republicana e luso-nacio nalista co m o em er-
gente ufan ismo elo Brasil elo início do s(:culo
20. Seu discurso, todavia, era u ma especulação
sobre o presen te:
Não procurem ver, meus senhon:!S, nesta veneração
1radicionalista, diluída em nostálg ica poesia do passado,
1 1rn~ Jnan if<'sf"a(fio d(· ''saudoslstno" rontc'"tn tico t' rt't rúgn.L-
do. Com efeito, para criar urna an e que seja nossa c do
nosso tempo. cumprirá. qualquer que seja a orientação,
CJII<' não se pes()uisem motivos. origens, fontes de inspi-
ração. pa1<1 muito lon~c de nós próprios. do meio cn1 qul·
tleco1 n·u o uosso passado c no qual Lerá que prosseguir
o nosso fut uro. Ficará he m explícito qne não se intima ao
anisla de hoje a postura iuerte tl>t esfinge, voliada e m
adoração estática para os mitos do passado, mas si111 a
atilllde viva do caminhante que, olhando o lüwro, tem
de seguir um caminho clcm a•·cado pela cxperif nçia e
pelo estudo do passado, e CL0a única diretriz é o progres-
so e a glória das artes nacionais [Sevcm 1916, p. RI] .
A publicação de sua conferência de 191.4.
e de outra palestra, proferida na Escola Politéc-
nica de São Paulo em 1917, constituem as pri-
m eiras tentativas de sistematização do conheci-
mento sobre a arquitetura tradicional brasileira.
Todavia, a manifestação pioneira de Severo não
encontrou rcbatimen to imed iato em for ma de
obras realizadas, porquan to a deflagração da Pri-
3 G • A rquilelllros //() nrasil
··.. I
flg. 26 - Velha egreja de Santos.
R. lht"raçào utilizad;, por Ricardo Scv<·•·o na conferl-n cia
'', Arre Tradiciun:1l n o Brasil ", <'111 j ulho ck Jql 11.
xm·ira Guerra (1914-1918) repercu!i11 negativa-
mente no ritmo cb construção civil no país. Vic-
tor Dubttgras, n esse se n Lido,já em 1915 pn~jeta­
va as primeiras casas de inspiração tradicio nal na
cidade de Santos [Motta 19571 .
A p ropagação dessas idéias lastreava-sc
num sentimento de nacioualismo q ue se inten-
sificava desde as com e111ora~:ões do quarto cen-
tcn;~rio do descobri111cnto elo Brasil. A década
de l 9 LOconheceu a institucionalização de rno-
vimenLos nacionalistas - como a Liga ele Defe-
sa Nacional, criada e m 1916 pelo pocra O lavo
Bilac ( 1865-1918 ) [Naglc 1974], ou o recrudes-
cimento de movimen tos capi taneados por insti-
tuições como a Sociedade Eugê nica ele S. Pau-
lo ou a Liga Pró-Saneamento elo Brasil- críticos
do falso ufanismo c da situação médico-sanitá-
ria no Brasil lLobato 1918] .
Foi o proselitismo do médico e historiado r
de arte José Mariauo Filho (1881-1946), no Rio
de .Janeiro, no entanto, que assegurou maior re-
percussão à linha tradicio nalista com maiores
conseqüências que a ação ele Severo em São Pau-
lo. Respousávcl pela denominação "ncocolonial"
ao movimento [Maria no Filho 1926], seu ativis-
mo, a p<1rtir d e 1919 como ideólogo e incentiva-
c <w n.() "'~~ ·o.n:~'t~.)~ c '<I.IÚ'i>t'à~, a'm-iu esp~ço
para que uma série de obras públicas d e porte
fossem ex~cutadas com inspiração na arq uitetu-
ra tradiciom.d brasileira. A pregação de Ricardo
Sev<.:ro c .losé Mariano Filho roi bastan te bem-
sucedida em d uas frentes d istinlas. Na Exposiç;'io
d o Centenário no Rio de Janeiro em 1922 -co-
memoração da inde pe ndência brasileira -, al-
guns elos principa is pavilh<ies foram projetados
dentro do espírito neocolonial. De o utro lado,
no mesmo ano d e 1922, a Sernana de Arte Mo-
clcrna, prou10vid a em São Panlo por um ?;rupo
d <-' jovens inte lectuais, re unia no Teatro IVl unici-
pal um:.t exposição de pintura, escultura e arqni-
tetura, com apresenlação de músicas e leitura de
textos e poemas deliberadamen te chocantes para
o~ padrões r~ rtísticos vigentes no país- a primei-
ra manift>st<t<;ão antitrauicionalista, cultivada com
a inspiração dos movimentos artísticos modernos
eurnpcus, que ;)ntadureccria a partir ele então.
Touavia, a pa rticipa1,:ào da arquiretur<J r<.:stnniu-se
aos esboços ck dois arquitetos: Amônia Garcia
Moya (1891- 1949) e Georg Przyrem bel (1R85-
195fi) - o primeiro, com desenhos de volumes
gcomctrizados cuja i nspir::~ção podcri ::~ ser tau to
a arqnilctura asteca qua nto a m editerrânea; c o
segundo, polonês de ror maç;io germânica, mos-
trou o projeto ele sua casa de praia, no padrão ela
ar(ju ite tura tradicional brasileira [Amaral 1972,
pp. 148-156; P.atista 199 1].
Marir~no patrocinnu, no lnsrituto Brasilei-
ro de Arquit<.:tos, alguns concursos d e arquitetu-
ra e mobiliário e interh:riu junto ao governo
para que, nos editais dos concursos para os pro-
je tos elos pavilhões do Brasil na Exposição de Fi-
ladélfia (1925) e na exp osição de Sevilha (1928)
e do projeto do novo edif'ício da Escola Normal
(1928), obrigatoriamente se in spi1·assem ua ar-
quitetura tradicio nal brasileira [Santos 1977, pp.
98-100].
O recon hecimento oficial do neocolonial
e a construção de im portantes edifícios públicos
nessa linh a vulgarizaram os elementos ornamen-
tais ele gosto tradicio nal a ponto de serem apro-
priados, em todo o Brasil, em edificações tão
TJn Anlímlrmío! rto Nmm/onial • 3 7
9. F.snitúrio Tt('toico F. P. Ramos d e Azevedo; Sociedade Port11g11t"a dt' lkncllcência de Santos. Sl'. dccada de 19:>0.
distin tas C]Uanto h abilações populares o u postos
de gasuliua. J aplicação indiscriminada do n eo-
colonial gerou u ma acalorada discussão entre
a rq uitetos e artistas - tendo como opositores
sistemáticos os de fensores d o pensam ento
Tka 11x-art s mais o r10doxo, ou que julgava1n a
arte colonial brasileira ou a barroca p onuguesa
destituídas d e conteúdo estético significativo . O
debate culminou numa série de reportagens or-
gani;.ada por Fernando de i.zevedo (1891-1971),
puhlicada no jornal O i;'stado rle S. Paulo em 1926,
sob influê ncia de Severo e Mariano. At.everlo ,
posterio rmente, se transformaria num dos mais
importantes educadores brasileiros, o~o pensa-
mento se manifestaria em totalidade nos vários
tomos de A r:utt1tm Rmsi!Pim, editaria em 1 94~.
É in tcrcssau te registrar o cará ter de "progresso"
q ue os defe nsores do movimento a tribuíam ao
neocolo nial. Severo reafirmava suas convicções
mani festadas em 1914 e radicalizava os objetivos
de transformação:
A açio primitria tem que ser a r.-.,·olurâo; ma~ a e~~êu­
ci<~ rl:1 obra constru tiva é apenas a tradição; c :1 meta de~­
St> I r:1dicionalismo rt>Yolucionário i- o nwsmD d esen 'olvi-
IIICntu do progresso que todos os p o'OS buse<llll 11:1 t 11ai~
a ngu stiosa elas ansiedades.
F.m m<ttéria de arre, alistar-me-ia "a priori'' como "fu·
n orist;o"- consoante o ten110 em moda -s<· este pseudo·
fuwrismo não sig-nificasse um ilogísmo ana rcptil.an te,
se uão fosse urna n eg;niv<t~ se não dt:nnn r.iassc un1n fac:~ ­
çào ele fa to retrógrada f...1 Po rém este tradicionalismo
revolucionário é também futuri sr:-~ [Sever·o 192fij .
O d epoimento do pintor José Wasth Ro-
drigues (1891-1 957), na mesma série de reporta-
gens, constataya uma d imensão mais ampla no
neocolonial:
Não faço mais do que seguir um movimento que me
parece universal. O regionalismo é :-t const>qi'téncia do
_:) 8 • ~rquile/JirtiS 110 Nrosif
excesso ele cosmopoli tismo. O que, fatigados de lellla-
lias, prnc nralllOS n a arquitetut·a colonial é arte que
repousa o espíri to. traga o ca r:ttcr das coisas brasileiras
e falo llla is, tanto an scntimt"nto como?. scusi bilidack.
Niio quero a arq nitewra <lntiga na sua rigidel. mas uma
arte moderna que a í proc urt" unt elemento de renova-
~·;io [Wasth Rodrigues 1Y2t"l.
O movimento nt>ocolonial teve sen apo-
geu na déc:-~rl a de 1920; praticad o ou apropria-
elo popularmente na~ décadas seguintes, a força
i11staurado ra co11tida e m seus postulados foi fe-
necendo em imitac,:ôes iuco nsistcntes e destitu-
ídas da carga ideológica formulada pelos seus
idealizadores. A úlrima o bra neocolonial impor-
tan te executada no Brasil foi o edifício da Facul-
d aelc ue Direito ele São Paulo, projeto de
Ricardo S<>vero inaugurado em 1939; a mais ex-
te nsa concenTração d e arquitetura neocolonial,
a cicladc de Ottro Preto, lt>ve a maior pan e das
construções qtte caracterizam o atua l cenário
"colo nial " e rguida após a dé cada de 19::!0. No
entanto, nào se pode afirmar que o movime nto
se snstcntasse com uma consistên cia perfeita.
Em. Fc n,-;1.ndo de. 1'I .t::'>'CÓO - parü <ário <lo neo-
co lnnial-, nas conclusões do d chatf> flUe pt·omo-
""-'-' "" "n,.~p1 e u sa, vi s lumhr::~va-se inadvertida-
ment e a principal crítiot ao movimento, mesmo
que a co nsi dera~,:ão não se <<tracrf'rizassc como
uma autocrüica consciente:
A rcuasCI"IICa da arte na a rquitcttn·a se dará com a
con dição cssc·llcial de se ;tpo iar "sobre princípios"<' u ão
«solwe fonnas... Os verdadeiros artistas têm q ue lear sem-
pn· em conta a va riedade complexa das l"ondi çf>cs
m esnlúgicas e sociais c abandonar o erro em q ue incidem
ti·e(jücntemente os arquitetos de adstringir-se à reprodu-
ção d e formas ct ~o sen tido não co nlwcem e n;o procu-
ram p enetrar. Nas mais belas épol"as cl<-- arquitetura hou-
ve sentpre utlla concord ância en tn' idéia e expressão,
entre a estr utura c a forma. Que é originalidade senão a
cxprcssãojusta de uma idéia, a illt erpt-ctaç~to ornamental
das formas clrrivadas dos materiais c a adaptação exata
dos motivo~ ú vm·icdadt· fun cio nal das construçõeú , vc1~
d:1cle, porém. é fJUC não temos tentado ver claramente
que ess:1s disposições c formas de outras épocas, Cl~a rcs-
tauraç<io se p•·ocura, só se dci'Clll restaurar, pot·qHe elas,
por exprimirem as nossas o rigens c a nossa tradição. es-
tive ram, como estão ainda, em funçiio elo meio físico para
o CJUal se transpvnaram [Azevedo lY26b] .
i aparente postura liberal e aberta à rno-
uerniza~·;io com a clualíslica fo rmulação de um
"tradicionalismo n .:voluciou;:irio" não foi sufi-
cienLc para Ricardo Severo assimilar o cubismo,
o uadaísmu, () ··geometrismo rctilinear" na arqui-
tetura c o jazz-band- mauifestações que, em seu
conjtil1lO, se caracterizavam para ele co mo "no-
víssima aspiração social, a praga nevrálgica que
assola a sociedade mode rna", ·'vícios ou molésti-
as d os sentidos ou do gêtiio" [Severo l9::!6] .José
Mariau o Filho adotava um lingn~jar de c~quiva­
lentc virulê ncia <to tratar das manifestações da
arquite tura funcionalista européia em curso nas
décadas de 19::!0 e 1930, taxando-as de "comunis-
tas" ou 'judias" fMariano Filho 1 94~]. Essas apre-
ciações revelavam as fronteiras de um liberalismo
que admitia uma ruptura ftmdame ntada e m pa-
drões do tradicionalismo colonial ou ibérico,
avessos à ortodoxia do fechado sistema estético
Beaux-arts, mas incapaz de estabelecer uma crí-
tica coeren te sobre a irnprevisibilidaclc do novo,
representado pelo fnncio nalismo europeu, emer-
gindo daí uma coleção mais de ata(el ?H~<.:.<W­
ceituosos que ele argumentos fund amentados.
N~>.o cnt' -..~ c.úúc~ o-:; neocolon·ta)istas contra o
fun cionalism o fosse absolutamente infundada;
mas a carga de p reconceitos político-ideológicos
uebilitava a alltCnticidaclc d<t crítica.
Essa neg-ação completa do (quase) total-
men te novo permite..: situar o neocolonialismo
1111ma posição simétrica ao sistema Bea11x-ans:
ambos se sustentam c se legirimam no passado,
com discursos tautológicos- de monstram teses
rcpetinuo-as com palavras diferentes. O perfil
distinto na rctó t·ica ncocolonial é o tempero na-
cionalista; o repertó rio sistematizado das formas
do colonia l hrasilei•-o ou elo barroco ibérico e n-
quan to indiciador de manifestação nacional, no
lugar das regras clássicas, seria o rompimento <'i
norma . Efe tivame nte, esses aportes n ão p ro-
põem uma ruptura estrutural - apenas a substi-
lltição de formas. Mtrdam-se as formas, não os
princípios. O ncocolonial, n a prática concreta ,
afig uro u-se como uma variação do ecle tism o no
que busca eleger um "estilo " mais ad equado
para o fim que se tinha em vista, num con texto
ainda de dcsconcertantes d ikums sobre a nova
arquite tura d o século 20 - uma tentativa e m
meio à "perfei1a desorganização de verdadeiras
escolas'', como havia escrito o engenheiro Ber-
nan lo Ribeiro de Freitas em 1888.
Não se nega, erllretanto, ao episódio neo-
colonial na arquitetura brasileira um papel signi-
tic;.~ ti vo no debate das idéias sobre novos con cei-
tos arquitetônicos. O discurso rlc seus defensores
não é isen to de uma vontade modcrnizadora no
sentido de atualizar a arquitemra face às transfor-
rnaçôes da sociedade c da cultura material do iní-
cio do século 20. Independente do referencial ele
"modernidade" que adotavam , o principal aporte
da postura n eocolonial foi a introdução do con-
traponto 1egionali.sta - a busca de uma arquitetu-
ra identifi carlora d<i nacionalidade - como fator
de renovação. O substrato conce itual dos líderes
do movimento era de n atureza reacionári<1, po-
rém intcrpre1açiics mais brandas- destituídas do
/Jo An.liroloniol ao Nt'O(I)/nnial • 3 9
sectarismo c capazes de reformular com sere nida-
de os radicalismos- for maram a base de uma ati-
lude ele assimilação de posições aparentemente
antagônicas, como o próprio Ricardo Severo for-
mulou, mas não materializou: o "tradicionalismo
revolucionário". A busca de uma arte moderna
no contexLO brasileiro foi alimentada por um in-
lcllSo debate da questão da nacionalid<1de e ela
aulonomia nacional- do w sco ufanismo da vira-
da do século, atravessando as instituições eugenís-
ticas c redunda11do no patriotismo mistificado
das comemorações do centenário da indepen-
dência. A versão arquiLetõnica desses episódios ela
história brasileira elas prime iras décadas elo sécu-
lo consubslanciam-se na mirabolante campanha
neocolonialista, CJUe, em sua essência, trazia algu-
mas raízes d(l vertente de arquitetura moderna
<lllC vai irromper no Rio deJaneiro, na década de
1930, prolagon izacla por um ex-discípulo do nco-
colouial: o arquite to Lucio Costa (1902-1 998) .
3
MODERNISMO PROGRAMÁTICO
1917-1932
A raqu it11tnm no Bmsil está jJositivamente deslocada das duas
correntes adversárias em. que se dividi', do jwnlo dn vista ltTlist/t:o, a
concepção da aTquill'lum wodenw. Nüo estó, r/,, Jato, ·r1f'11l rom os
rrfnrmrulorr's rnwlnl'ionários qu.f' procuram na arquitetum um jO[ÇO de
fonnas geomélriras jJrirnâ1·ias ordenadas no esjHtÇO virtu.a.l f' df' u.m
mráter snrial mormdo; IUWI rom os tmrlirionalistas que a querem
f'ncamda sob uma ój>tirn loral, rrn todos os aspectos qui' loma rw S(!'U
ambiente. Nem SI' nriPnla 110 Sl'ntirlo rlP uma "arte mundial" em rptP sf.
apaguem as díji'YI'TI(fl' n'gion!tÜ I' ruja estética ·resulit' do umm lhuica
de construrão e da so/uçiio de fHob/emas fmrmrumfl' utiliLIÍTios; nem
tnilrt vinrula·r a arte âs tmrliuie., lowis e rw rsfJirito da mra. fim uma
jJalavm nem é /radicionalista, 11em antitmdirionalisla. Nem nacional,
nem "sufJranacivnal ". Definiu-a Montei-ro Lobalo com essa exjJI'I'Hrio
Este capítulo é d edicado ao estudo ele
uma certa modernidade no Brasil na seguuda
década do século 20. Preliminarmente, conviria
alertar que esse modern ismo - rle matriz sobre-
tudo literária, mas com 'erten tes nas artes plás-
ticas e ~rqui tetura - é distinto das ma nifestações
motPjorlom: "um jogo internacion al rü dísf){lmftl.l'... "
F ERNANDO DF. iZEVEDO r1926a]
modernistas - ele raízes literárias - que se mani-
festaram na América Latina ao longo da segun-
da metade do século 19 [Franco 1985].
São Paulo, na década de 1910, j á se gaba-
ritava como a grande metrópole brasileira d o sé-
culo 20. Lugar onde a riqueza do café patrocina-
12 • AIYfllitetums 110 Brasil
va um quadro de prosperidade material c capa-
citação iutlustrial num Rrasil ainda dominant.e-
rnen te rural. Era 11m am bicnte provinciano, mas
a elite urban<t espelhava-se nos cent-ros irradia-
dores de cuhura fora do país.
É consensu;d, cutre os historiadores, que o
marco inicial do movimento moderno no 11rasil
aconteceu em São Paulo, t>m dezembro de 1917:
a exposição de pinturas de Anita lvlalbttti (IR96-
1964). A jovem artista- qne expunha o scn apren-
dizado artístico na Alemanh<t e nos Fstarlos Uni-
dos- não pretC'ndia, com suas telas de car{ucr.faurlt',
deflagr<~r nenhum movim ento. Mas a reaçi'ío
negativa, sobretudo a do escritor Monteiro Loba-
to (1882-194B), provocada pelas suas pintmas
sem ncnhum;t relação com o academisrno c o
naturalismo vig·eutes chamo u a atenção de jo-
vens intelectuais <]Ue se solidari ;.o;.~ram com a pin-
tora. Poetas,jornalistas e artistas reuniram-se em
torno de 11m debate: o car<Íter conservador, "pas-
sadista" do meio artístico. Articulava-se o primei-
ro g-rupo modernista brasile iro.
A pintn ra catalisou o movimento, a reu-
nião organizou-se com a concorrê ncia sobretudo
de literatos, mas o sentido de "movimento" visa-
va algo além das artes plásticas c da lite ratura: a
causa era ;.1 renovação do ambiente cultural em
geral- <tlimcntada com os valores da vanguarda
e uropéia, sem necessariam e nte aderir-se a uma
ou outra corrente literária ou p ictórica. 1 pri-
meira man ifestação conjunta desse grupo (con-
tando também com a participa(;io de intcleclll-
ais do Rio de .Janeiro) aconteceu em 1922, em
pleno ano da comemo•·ação do centenário da in-
dependê ncia do Brasil. Em fevereiro, o Teatro
Municipal de São Paulo abrigou a Semana ele
Arte Moderna: três sara11s com literatnr::l e mú-
sica, urna exposi~:ão d e arquitetura, escullllr<t e
pintura. A reação do público fo i de escândalo,
mas o desafio estava perpetrado.
Periodiza-se como um primeiro momento
elo modernismo brasileiro os anos 1917-1924:
urna fase iconoclasta, em que o modernizar era
permeado pela polêmica dos modernistas contra
os valores passadistas, acadêmicos. A preocupa-
ção era opor-se ao passadismo, era a busca d a
atualizarão estética sem a oricntaç;"io de corren-
tes específicas.
MODERNISMO NAl'IVO
Uma segunda l~1sc <"stabelece-se eJttre 1924
e 1929. Naquele ano, o escritor e jomalista Oswald
de Andrade (1l')<.J0-l954) publicava o "Manifesto
Pau-Brasil ", in troduzindo uma problemática até
então inédita na discussão da literatura moder-
nista: o nacionalismo. "O modernismo passa a
adotar como primordial a questão da elaboração
de uma cultura nacional: a qualidade da obra de
arte uão reside mais no seu caráter de renovação
formal. Ela deve au tes refleti r o país em que foi
criada". O ide;'u·io d o grupo modernista, a partir
de 102'1 , subordinar-se-ia a um princípio: "só
atingiremos o universal passand o pelo nacional"
[Moraes 107~. p. 49, passim] .
Diferentes grupos formavam um mosaico
de posições sobre utna arte brasileira de dimen-
são univers<tlizautc. A combinação positiva entre
trarlição e mo<lcrn id<~de er<t um discurso recor-
rente na retór-ica dos apologistas da arquitetura
neocolonial. Sérgio Bua.rque d e Tlolau da ( 1902-
1982) e Pn1dente de Nforaes Neto (1904-1982),
modernistas diretores da revista l~slélim, do Rio
de janeiro, rlcfendiam uma posiv~w antipassa-
dista com uma rcin terpretação do alcan ce do
modernism o:
'lodos os que antes de nós <>ncararam o problema de
uma arte brasileira seguiram dois processos que hoje nos
parecem, sen iio negativos, pelo mt"n us iucficazes. Para
tti i S a questão cifrava-se na criação de 11111a espécie de
Jnirologia n<u.: ional, de nma lenda heróica ~ man eira das
que possuíam o utros povos.
Não tardon que essa rendf>ncia parecesse artifici;1l e
fillsa. A ouu·a ten tou iuspirar-se em motivos brasileiros,
mas salientou apenas o que havi<t de pitoresco, de exó-
tico nesses motivos. Quer di zer: condenava-nos a se- r
estra ngeiros dentro do Brasil. [...]
Penso, ao con trário, que se a tendência modernista
pode oferect>r o aspecto de um rom pimentO com a con-
linuidade de nossa tradição é porque julga que essa tra-
dirão (jUase nunca re fletiu o sentido de nacional idade .
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  • 2. A arquitetura brasileira do século XX alcançou prestígio ii.[ern~cional como poucos países do mundo lograram atingir. Brasília é obra consagrada como uma das contribuições brasileiras às criações mais marcantes na cultura do século. Mas se esse reconhecimento é a face mais visível da sua importância, não menos importante é reconhecer os múltiplos rumos e os processos na gênese dessa produção, tão alardeada e tão pouco examinada em seu conjunto como realizações de um contexto conturbado como o que marcou a história do Brasil nos últimos cem anos. Arquiteturas no Brasil 1900-1990 é uma obra que vem proporcionar uma visão abrangente e ao mesmo tempo concisa da arquitetura brasileira no século XX, sob o signo da releitura do movimento moderno após a crítica do pós-modernismo- embora situe o moderno como o epicentro das inquietações do século. Ao relacionar as intervenções urbanas como signos de modernização no final do século XIX, o livro identifica as raízes de modernidades paralelas aos movimentos como a Semana de Arte Moderna de 1922. Realizações estas que passaram tanto pela arquitetura neocolonial quanto por diferentes manifestações arquitetônicas em três linhas - modernismo programático, modernidade pragmática e modernidade corrente - caracterizando práticas distintas no país até a Segunda Guerra Mundial.
  • 4. [ill}l Reitor Vir·e-rcitnr led:: Diretor-preside11/e /'residente Vire-pre.tidenre UNIVERSIDADI; DE SÃO PAULO Adolpho José Melfi Hélio Nogueira da Cruz EDITORA DA UNIVERSIDADE DE SÃO PAUtO Plinio Martins Filho COMISSÃO EDITORIAL José Mindlin Oswaldo Paulo Forattini I'lrasílio João Sallulll Júnior Carlos Alberto l:lurbosa Dantas Guilherme Leite da Silva Dias Laura de Mello e Souza Murillo Marx l'linio Martins f'ilho Dire/ora Editorial Silvana 13irul Dircrora Comercial Eliana Urabuyashi Diretara Administrmiva Angela Maria Conceição Torres Editora-assi.l'tente Marilena Vizentin
  • 5. Copyright © 1998 by Hugo Scgawa I' edição: I 998 2' edição: 1999 2' edição, 1' reimpressão: 2002 Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) (Câmara Drasildra do Livro, SI', Brasil) Segawa, Hugo, 1956- N.Cham.:- 720.981 S454a 2.ed. Autor: Segawa, Hugo,l956- Tílulo: Arquitetura no Brasil 1900-1 990 . lllllllllllllllllllllllllllllllllllllllllllllllEx.2 CAC Arquiteturas no Brasill900- l990 I llugo Segawa . - 2. ed. I. reimpr.- São Paulo: Editora da Universidade de São Paulo, 2002.- (Acadêmica; 21 ) Bibliografia. ISBN: 85-314-0445-2 1. Arquitetura - Brasii- História I. Título li. Série. 98-1!54 CDD-720.981 Índices para catálogo sistemático: L. Brasil :Arquitetura : llístória 720.98 1 Direitos reservados à Edusp - Editora da Universidade de São Paulo Av. Prof. Luciano Gualbeito. Travessa J, 374 6° andar- Ed. da Antiga Reitoria - Cidade Universitária 05508-900 - São Paulo- SP - Brasil Fax (Oxx 11 )3091-4151 Tel. (Oxx 11) 3091-4008 I 3091-4150 www.usp.br/edusp- e-mail: edusp@edu.usp.br Printed in Brazil 2002 Foi feito o depósito legal ~ 40657800 Ac.25035 l ;iilil
  • 7. SUMÁRIO ilg-ulll<t Explicação ........................................................................................................................... 13 I. O Brasil em Ud)aniração 1862-1945 ........................................................... .......................... 17 2. Do An Licolonial ao Ncocolon ial: i Busca de A lg-um;t Mod ernidade l HH0-1 926 ....................................................................... 29 3. Modernismo Prug-ra m úlicu 1q17-1q:12 ................................................................................... 41 1. Muclcrn irlad!· Prag-má tica 1922-1~)4:~ .... ...... ............................ .................. .. ..... ....................... 5;) 5. Modernicladc Correm<' 1929-1945 ......................................................................................... 77 6. A Afirmação de uma Escola 19 1 ~- 1 960........ ...... . .... ...... .... .. ............ ............ ... .... .................... 1 0~ 7. A Afirmação ele uma Hegemonia 1945-1970 ........................................................................ 129 H. Episódios ele um Brasil Grande e Moderno 1950-1980 ...................................................... 159 9. Desaniculação e Rcarticulação? 1980-1990 .......................................................................... 189 1O. Referências Ribliográficas ........................................................................................................ 199 Font es das llusLraçõcs ................. ........................................... ........................................................... 213 Índ ice Re tn issi'C> ............................................................................................................................... 21!) ...
  • 8. .,,_tl]/JU J.I.11-IJJ/11fJ.W, J ';u~wt nJ "lliil :mu nw.s· 'II W11Up ?J d.ll/Vt}UUJ f!IJ/ fUJ fd ..UII!IIlJSJ/ltWIII S.IIIJ/ J]J JJI!/)U //)/!},7 fltJ(llJOlll l11Ú HIUSIV.I S~J/3 St10.1]V/!Yrlf YJf 'SJ}'I10Jl SJ/ 'SJ/ntfn,t.J.' ',Jf 'uvpo 'll11, p ,).JU,)JlS d/ .IVC{ S/1.0 /1 il]? S~WII/1.' 'J.I.i/.tf.~,?} Z:ll(J H{(/1liO.J !VJ .'SIIJ'if XI'IV fd 'dWI!f.l X III) Jf /10(}. 11J.(Jn f1 d''d.tpttd f d jlli/J.tJ"f ,1/J./! .Wrj /<} Jf(/J}}V[(/1111 llii.'W./. Jlln .IV(/ JltÚ1.if111V./ J/) J]fj11ÚIIUJ 0/!}fliJf fD.f (i(,G1 'nso:) ü i:JirJ "'S!Jll J/1 0.1/UJ p !'7 1/WIW/.'J J1i.Ú YV/11 'Ji/ IIOS VJillll/ J /U,/iJ V Jllb ~OSlO.) ,Jp '.wp_lNI!ÚSJ SI)SIO.J mp 1}.1(/IUJ/ JS J 'Zi/J/ 'Jil/J]UOJ OJff 'V.I/IIOJliJ JY ;mb 01/IIJJ Jfll,/B u ' IJfi?.t.d.tns W J vsJ.u/.ms 11p '.wl;u,"il .wvnlm 'yunJ.J !iOpnbv opu<~; ......
  • 9. ALGUMA EXPLICAÇÃO Sou d e urna geração de arquitetos br<tsilei- ros ?t C]ll<ll , nos hancos escolares, se ensin ou que existe uma mane ira de l'azer arquitetura, de apreciar arquitcLUra, de usufruir as cidades. Q ue o arquiteto tem uma m issão messiânica ao exer- cer a sua pro1issão na sociedade. Nossos p rofes- sores mrtndm·am lt>r Pt>vsnPr, Hitchcock, Giedion, Zcvi c scHH..:lhaHtcs- autores que escreveram retratos to tal izadores, mostraram in terpre t<t- ções amparadas em grandes modf'los de expli- cação, que esgotavam quaisquer dúvidas elo sa- be r ver e faze r arC]uitetu ra. Nada tão frustrante qua m o o abismo entre a academia c a vida. Essa escritura tdculógica que legi timou a afi rm<tç;1o d e uma certa modernidade eu ropéia e norte- arnericana e consolidou mitologias arquitetôni- cas permanece no imaginário de muita gen te. Leitores de diversificados matizes ainda.buscam em revistas e livros interpretações à altura dos "pioneiros da teoria moderna". Certamen te, os pevsners, hitchcocks, giedions e zevis deste final de milê nio não serão tão persuasivos; nem seu s leitores, tão persuadidos. O risco de escrever um estudo sobre a ar- quitetura brasileira do século 20 é reproduzir inadverridamcnte aquilo que se critica: uma vi- são LOtalizadora que apaga as diferenças, exalta as formas dominadoras e dissimula a diversida- de. A história c a historiografia recentes ainda se refazem elo impacto epistemológico provo- cado, por exemp lo, pelas idéias de um Michel Foucault- escritos tecidos com a microtrama de nrna co1t1plcxa urdidura. lesse caminho, a via- bilidade ele dar formas a p roblemas, de articular p erguntas é mu ito mais intensa que nossa capa- cidade in divid ual de formu lar respostas. Respos- tas que tendem cada vez mais a exames localiza- dos, talvez profundos (contempland o minorias, "vencidos", movimentos populares e Le.). U ma posLUra que se avizinha às tendências da frag- mentação "regulamentada" do con hecimento, como que u ma reação às grandes leituras tota- lizacoras. O h istoriador britânico Eric Hobsbawn, comentando a respeito de algumas tendências da historiografia n o tina! dos anos 1970, escrevia:
  • 10. 74 • Arquiteturas no nrasil Não há nada de novo em ol har o m undo com um microscópio ou com um telescópio. Desde que coJJcor· d eJJIOs <!'"" estam os estudando o meswo cosrnns, a es· colha eutrc o microcosmo e o m acrocosmo é uma ques· tão de sclccion:'ll" a técnica apropriada. r.signific:~tivo que atualme nte mais historiadores julguem o microscó- pio mais (ttil. Mas isso n:'in sígn i!ica necessat·iamc nLc que eles rejeiwm o t ele~c ópio, como instrumento snp<>rado. E.ste livro teve uma gê nese peculiar: con- vidado pela Universidade Autôn oma 1etropo- litana do México para integrar u rna coleção ele monografias sobre arqn itt"tn ra latino-america- na , seu form ato original c ircunstanciava-sc a um compê ndio de arquitetura brasileira no sé- culo 20 pa ra o púhlíco latino-americano. A oportunidade d e uma edição brasileira não cles- ca•·acl «:>rizou esse perfil. O difícil e> sutil equilí- brio a se ati ng ir no con teúdo deste trabalho é uma ta re fa que deve respeitar as características ela iniciatiYa editorial, exigindo u ma compostu- ra que se expressa num jargão arq uitetônico, no Lermo francês bienshm ce. As circ unstâncias apon tam mais para o manejo d o tt"lescópio; to- davia, o microscópio às vezes foi útil, m esmo com prt:juízo de alguma coerência lotalizador a (C]ue não constitui, propriamente , uma preocu- pação cPntral) . A manutenção das lentes e as direções para que elas apou1arn são de minha in te ira responsabilidad e; a razão dessas dire- ções, espero que os leitores a percebam percor- rendo as páginas deste trabalho. AS REFERÊNCIAS Ao escrever um trabalho do presente esco- po, fui me reportar às obras d e mesm a natureza -aos manuais de história da a•·quitetura brasilei- ra - que não são muitos e possuem enfoques dis- tintos. Trabalhos como Quatro Séculos de Arquite· tu:ra, de Paulo Ferreira Sant.os ( 1977, primeira versão 1965), Atlas dos Monumentos flistóriros e A-r- tísticos do Brasil, de Augusto Carlos da Silva Tellcs (1975) c Arqu.ilelum Bmsilr>ira, d e Carlos A. C. Lemos (1979), são panoramas de qnatro séculos de arquitCLura; o século 20 é um segmen to des- se conjunto. A arquitetura brasileira é pane de um contexto mais amplo também em Arqu.itectum y lh-ba.nismo en lberoa.merica, de Ramón Guliérrez ( 1983) . Precisamente pelo númer·o reduzido de trabalhos nesse úmbito, publicaçôes como o ca- túlogo Braz.il Builds, editado ~•n 1943 pelo MOl'v1A ele Nova York, e Modern Archilectu·rp in JJmzil, de TTenrique Mindlin, ele 1956 poderiam ser cu- quadradas como panoramas ela arquitetura bra- sileira da primeira rnetacle d o século 20. Rigorosame nte, seriam três os trabalhos no gênero preLendido por m inh a pesquisa: Ar- quitetura Contemporânea no Bmsil, ele Yvcs Rruand ( lY81), Arquitet·um Moderna NrasileiTa, ele Sylvia Ficher c Marlene Milan Acayaba (1982) e oca- píwlo "Arquitetura Contemporúnea" escrito por Carlos A. C. Lemos na H istória G11ml ela A-rlf no Bmsil (coordenada por Walter Zanini, 1983) . Todas e ssas obras foram importantes na elaboração do presente livro. Paulo F. Santos, A. C. Silva Tellcs e Carlos A. C. Lem os são si- m ultan eamente historiadores e protagonistas do que re latam. O saboroso capítulo du livro d e Paulo Santos é um depoimen to de um persona- gem que vivenciou os 11uiclos criarivos do mo- dernismo carioca da primeira metade d o sécu- lo . Carlos A. C. Lemos é importante pelo q ue escreveu c por tudo que aprendi como seu alu- uo c estagiário; os escritos em forma de manu- ais do professor Lemos são parte pequ ena d e um(] vida dedi cada à pesquisa. 8-razil Ruilrls e M otlr>rn An hilectm·e in Brazil são trabal hos apolo- géticos da arquite tura moderna, no espírito in- sinn::~do no início desta explicação, formad ores de mitografias da moderna arquitetura brasilei- ra e, como tal, são objetos d e an álise no meu texto . A impor1ância de Fichcr e Acayaba está na modesta aspiração de ser um guia in trodutó- rio da arquitetura moderna brasileira. Sua o ri- gem, aliás, demo nstra o propósito: tratava-se de um verbe te do fnlenwtional Handbook ofContem- jJorar)• Developrnents in An:hitecture, dirig ido por Warren Sanderson (1982) . Um roteiro que p io- neiramente incluiu, no map a arq uitetura! bra- sil eiro, alg umas regiões pouco conte mpladas,
  • 11. sem a vtsao modernista c hcgcmônica que ca- racteriza o livro de Yves Bruand. Arquitetum Contemporânea no B-rasil é o mais completo clossiê sobre a arquitetura brasi- leira elo s{:cnlo 20 at.é 1969, momeulo de con- clusão dessa tese, apresentada na Université de Paris IV em 1971 e publicada dez anos depois e m português (lamentavelmente, sem uma revisão técnica adequada da tradução, comprometendo parcialmente sua leitura). Bruand escreveu uma obra fundarncn t.alnie ll te baseada 11a variada hi- hliografia brasileira e internacional e na coleta de depoiment:os de estudiosos locais, reunindo um conjunto documental do maior valor: um re trato do estado-da-arte da bibliografia brasi- leira até os anos de 1960. No e ntanto, o autor francês, embora não sendo arquilclu, assimilou todos os preconceitos modernistas contra a ar- quitetura do ecletismo ("da constatação de que a arquitetura brasileira só conhecera dois gran- des períodos de atividade criadora: a arte luso- brasileira dos séculos 17 c IH [...] e o período atual", escreveu). Bruand dedicou-se principal- mente ao Rio ele .Janeiro, São Paulo, Bahia e Brasília, deix<mdo a descoberto outras importan- tes regiões, cludindo a diversidade da produç~w arquitetônica brasileira . Ademais, seu posiciona- mento sobre o sentido de "moderno'' desgastou- se no tem po: "o adjetivo 'moderno' não é de mo- do algum con veniente, pois contém apenas uma noção ele tempo aplicável ao con junto da produ- ção de uma época e não unicamente a uma d e suas partes; substituir sua acepção cronológica por um elemento de valor é um contra-senso... " A avaliação de Bruand padece uma leitura tri unfalista e apologética da arquitetura moderna do Brasil. Se não há un1 comprometimento do valor intrínseco do excelente trabalho que desen- volveu, suas posições são historicarnenLe datadas. PONTOS DE PARTIDA Meu trabalho não tem a pretensão acadê- mica do amplo esforço de Yves Bruand e volta-se A~!{llma Ex:plicaçiiu • 1 5 para um outro mapeamenco arquitetônico. Os re- tra tos de grandes arquitetos e das obras-primas da arquitetura brasileira constituem uma contri- buição insuperada em Arquitetura Contemporânea no Brasil: protagonistas e realizações são o cerne da sua pesquisa. Sem pretender contestar o sig- nificado dessa abordagem, busquei eswdar os jJmcessos da constituição da nossa arquitetura moderna e m matizes diversos, caracterizando modernidades clistint.as, que intitulam os capítu- los. Nesse sentido, nào privilegiei arquitetos (ex- ceções honrosas a Warchavchik, Niemeyer, Lu- cio Costa c Vilanova Artigas), tampouco obras (também com exceçôes) , rnas a inserção de ar- quitetos e obras no debate cultural e arquitetô- n ico num certo recorte da história. Ao operar com processos, o desejo ele realizar uma carto- grafia arquitetônica turna-se uma empreitada d ifícil, d evido :1 ~!mplitud e c complexidade elo panorama arquitetônico brasileiro. Todavia, mesmo na ausência de vários arquitetos ou obra:; no presente trabalho, o possível entendi- mento advindo dos processos que d escrevo per- mitiria u ma contextualizaçào dos personagens e realizações preteridos em meu mapeamento. Tendo como eixo de narrativa a arquitetura, imagino a possibilidade de interlocução com outras disciplinas sem necessariamente preten- der r esenhar episódios da história, ela sociolo- gia ou ela economia brasileiras. Os lemas urbanismo c cidades têm un1 peso significativo no primeiro terço do livro, para virtualmente ficarem pulverizados no res- tante elo trabalho . A complexidade desses tópi- cos após a Segunda Guena- quando a maioria da população no Brasil passa a viver em cidades - uào recomendaria o aprofundamento da ques- tão, sob o risco d e o autor ser obrigado a escre- ver não um, mas dois livros. Reuniões como as realizadas pela ANPUR e os Seminários de Histó- ria da Cidade e elo Urbanismo nos últimos anos relevam cada vez mais certa autonomia discipli- nar no trato dessas questões. A mençào in icial à questão urbana tem uma relação mais próxima com o te ma moder- n idade. Uma preocupação fim-de-século- qual
  • 12. 1 ó • Arqu ilelums no lJrasil será a arquitetura do século 20? - permeou lanl- bé m localizad os debates sobre o tema no Rrasil do século 19. Ao m e debruçar sobre esse mote, p rocurei resgatar alg umas interpretações so bre o mod erno ern arrprircrnra. Não há defin ição unívoca de m odernidade: se n ::~ Europa a pro- blemática é objeto de entend imento diverso, o con ceito de moderno no Brasil é ain ci::~ mais controverso, p rccisalllcnte p ela necessidade de examiná-lo sob uma óptica apropriada à realida- de local - sem dcscnrar de sua entrop ia com um meio mais amplo. A segunda p::1rt e elo livro foi AGRADECIMENTOS Toda relação de agradecimentos é u ma lista d e esqu ecimen tos injustos. Não posso rela- cio nar c agradecer a todas as pessoas e institui- ções que me ajudaram na re;:~ l i zação d esta pes- quisa. Todavia, deYo lembrar-m e de Conce pción Vargas e Ernesto Alva, que me confiaram origi- nalmente a escrita deste trabalho. Pela feitura deste livro, dt:vo meus reconhecimentos a Vicen- te Wissenbach , editor da revista Projeto, da qual fui colaborador há muito tempo g raças <1. cora- gem de seu editor; à Ruth Verde Zein, colega na revista e in terlocuto ra pe rmane nte; ao J<.leber Friz?.era c ~ Universidade Federal do Espírito Santo; à Vera Helena Moro Rin ~ Ely e à 1.Jnivcr- organizada com a preocupação de mostrar as vá- rias modernidades p raticadas na arquite tura d o Brasil no período e n tregucrras. No correr das páginas e com o evoluir da na rrativa, a a bordagem dos assuntos torna-se mais esquemática. Naturalmente, o tempo é um poderoso depurador c o distanciamento maio r dos acon tecimentos pc rrni!.e selecion ar as len- tes mais adequad as para o exame das qucstôes. Por isso, a con tem poraneidadc sempre é mais seduro ra e instigan te. E os riscos ele equívocos, proporcionais ao nosso discernimento. siclade Federal de Santa Catarin a; e àisa Pierma- tiri e à Universidade Fcrler::JI do Paraná, <]Ue , em diferentes mo me ntos no in ício de minha aproxi- mação com a arquitetura brasile ira do século 20, me convidaram para ministrar cu rsos, obrigan- do-me a desenvolver uma estrutura de aula que está na raiz deste trabaho; ao arquhcto c profe~­ sor Paulo Rrnna CJlle, convidand o-me a auxiliá-lo numa disciplina de pós-graduação na U niversida- de Mackcnzic , me permitiu cxpot· h ipóteses d e interpretações que estão alinhavadas neste liTo. Aos alunos desses cursos, a paciência de ouYirem c d iscuLircm min has idéias que, após essas ses- sôes, deixaram de ser exclusivamt:n le minhas.
  • 13. 1 0 BRASIL EM URBANIZAÇÃO 1862-1945 Na arquitetura (o 1/ll,!!;enlu:irol perpetua as gló·rú1> de ma j;âtria em monunu•nüJs, que os séculos veneram snn destruir I' r/ri nos sr•us wntemfJOTâneos nocâo do (11do euritmiw derivado das obms f;rimas da Antigüidade, que f!oT sua or:z. o recebeu de civilizarõr:s idas, 11 que rlej)()is rir millzarPs de anos !'IP faz ressusritar ao impulso aiador do seu r;ênio! Nas ridruiPs, ai rmdP as multidliPs SP ojnimPm Pm busra do bPm-PJ!fll; nas grnndPs rolmhns, Ptn quP a alividariP jfbril do homnn vai diarian!l'nte premcher o seu papel jHMiidencial de elemrnlo ronstitutivo dt> riquPZa jJP/o lmbalho, o mr;enhPirn; ainda a luz, o guia na r>smlha de localidades, no preparo do solo, nn orientaçâo e traçado das ruas, 110 rstwlo das !IPrPssidadPs públiras f' parlirularrs, uo.ç jlnigos, na. mwgênrias P ali> nas rrisPs patológiras! Sf' um baino é diji.rilmeniP ventilado, se uma jHtTie do litoml é otujHtda intermitentemente jJelas águas em seu etemoflu ."w e refluxo, ei-lo removendo montanhas, dilatando a área 1ahrm a P anulando s-ilnnltanr:amr>nfe duas fontes de insalubridade.' j. S. DE CASTRO BARBOSA, Lrecho elo panegírico ~obre a profissão do.engenheiro por ocasião do l6Q aniversário elo Club de Engenharia do Rio ele Janeiro em 1896. O an o de 1900, além de algum sig nifica- do na numerologia, não te m muita importância ~ >(· .1'. datas marcantes da histó ria mundial, a não ser o fato de assinalar a transição do século 19 para o século 20. Todavia, para o Brasil, o ano marcou a grande efeméride da celebração dos
  • 14. L...i 18 • llrquile/urus 110 flrasil quatrocen tos anos da cheg-ada de u ma frota pon ug-uesa na cost.a sul-americana - contato que ofiriali1.ou o domínio de Ponugal sobre essas terras que, mais tarde, se transformariam num país de dimensões continentais. Foi em fins ele 1900 que, a pretexto dessas comcmoraçiks, o Clnh de F:ngenharia p romoveu o Congresso de Engenharia c lnrlústria. O Club de l•:ngenharia era uma ag-remiação politicamen- te vitoriosa em busca de uma a firmação inédi- ta naquele tempo: a Rcpltbl ica havia sido pro- clamada pouco ;uJles, e o Club, ele convicçfto republicana (an tagônica ao monárquico lnsti- llll<> Polité-cnico Rt·asile iro) .firmava-se como o furo oficioso de urna corporação que buscava habilitar-se como uma alternativa na esfera po- lítica contra o monopólio exercido por ou tra c<Jtegoria profissional: os bacharéis de D ire itu. CREDENCIAMENTO TÉCNICO PARA A MODERNIZAÇÃO A formação d a elite intelectual brasileira na passagem do século sustentava-se num Ll"ÍfJé: a medicina (cujas primeiras escolas datam de 1808-1809) , as ci{:ncias juríclicas (suas duas aca- demias foram fundadas em 1827) c a engenha- ria- n~a consolidação se faria no final do século 19 com a Escola Politécnica rlo Rio de Janeiro em 1874, a Escola ele Minas, em Ouro !'reto , ele H:l76, a Pol it <:cnica rle São Paulo em 1894 e a Mackenzie College (de origem norte-am erica- na) , também em São Paulo, em 1896. Foi a ver- tente jurídica que maior espaço conquist(m no cxcrcicio do poder ao longo rlo sécu lo 19- domí- nio ora crn rlisputa com engenheiros e médicos, no alvorecer do novo século. Os enge nheiros buscavam repercussão em suas recomendações nascidas ele pautas am- biciosas. De acorrlo com o seu programa, o Con- gresso de Engenharia e Indústria teve como [...] objeto exclusivo discutir e deliberar sobre as prin- cipais questões técnicas, industriais, econômicas, finan- <.:eiras e administrativas que. de mai~ pt-rlo t' rlirt-tamcn- te, possam interessar ao desenvolvimento material d o B•·asil, de modo a formu lar rt-soilt ~·flt's <JHC' tradn~:o.m com clilreza o parecer dos mais competentes sobre a so- lu (<'io prútica de r::tdil uma d as yucstõcs vcHLiladas, c que scr:ío submel idas ú ap reciação dos poderes públi- cos. I"Prog ra ntlll <l ..." 190 l , pp. 7-1!>] . O temário do congresso Locou numa série ele questões que inven tariavam um repertório de tare fas nacionais nesse momento: sistema ferro- viário, portos e navegação interio r, h idráulica agrícola, saneamento das cidades, urbanização. A bem da verdade, em IH.:nhunl momento se em- pregou, nos debates ern 1900, o lermo "urhaui- zação" ou qualquer derivado de "urbe" como ci- dade. Mas o contexto geral dos debates indicava esse rnmo. DO SJNF.JMF.NTO AO URBANISMO O Brasil aJentrava o século 20 com uma população da ordem de 17 mi lhões de h abitan- tes, com cerca d e 36% elos brasileiros vivendo nas cidades. A economia do país era impulsiona- da <I base da exportação de produtos prirn{trios. Entre 1871 e 1Y28, o café - um artigo de consu- mo das mesas abastadas na Europa e nos Estados Unidos- participava com mais d a metade da receita brasileira de exportação, sccundaclo por um período de te mpomaiscurro ( 1891 a 1913) pela borracha [Singer 1985] . O paí!j possuía uma rarefeita economia urbana, pulverizada em cen- tros urbanos nas frentes agrícolas ou cidades portuárias a serviço da exportação ons p rodutos: Campinas, São Paulo, San tos, Campos e Rio de J an eiro para o café; Recife para a zona açucarei- ra; Salvador para o cacau; Porto Alegre para cou- ro c peles; Be lém e Man aus para a borracha. E, embora incipiente como rede urbana, algumas capitais conheceram um extraordinário cresci- mento demográfico: o Rio de J aneiro em 1900 era habitado por 746.749 habitantes- sua p opu- lação aumentou 271% em relação à de 1872; São Paulo, nesse mesmo período, Leve um aumen to
  • 15. populacional da ordem ele 870%, com 2~19 .820 habitantes na virada do século; Bdém yuase du- plicou sua população de 53 150 habiran tes em 1872 para 96. :)60 em 1900 [Graham 1973, p . 40J . Os núme ros apenas indiciavam os graves conflitos de espaço que se afiguravam com o crescimento clesorden;~do cbs cid;~rles . A cidade afirmava-se como o palco do moderno - modernização Lendo como referên- cia a organização, as atividades e o modo de vi- ver do mundo europeu. Os engenheiros coloca- vam-se como agentes dessa modernização - era a corporação que apostava na ciência c na récni- ca como os instrumentos de progresso material para o país, nos moldes do desenvolvimento in- dustrial do Velho Mundo, vislumbrando, na in- d ustrialização, um objetivo nacional a se atingir. O Congresso de Engenharia e Tnclústria demons- trava a amplitude das tarefas da profissão c apont;~va nm1os para a montagem ela nova cena: t·acionalização nas intervenções de ocupação territorial, vetores de urbanização num país de vastas regiões inexploradas. O desejo de mudan- ça era late nte: a elite nrh<~n<~, progressista, posi- tivista, cosmopolita, contrapunha-se à sociedade tradicional, de índole agrária e conservadora. CIDADES COMO CENÁRIOS DE MODERNIDADE Algumas cidades brasileiras, j{t na segunda metade do século l 9, assimilavam intervenções modernizadoras ern suas infra-estruturas, à ma- neira das metrópoles eu ropfias - resson<lnci<l da questão (central na cidade européia oitocentis- ta) do sauitarismo ou salubrismo. Cidades como Rio de.Janeiro (a partir de 1862) , Recife, Santos, São Paulo, Manaus c Salvador contaram com em- presas que instalaram e operaram sistemas de drenagem, abastecimento de água e esgoto-urba- nos. Também nesse f'inal do século opentvam nessas cidades, e ainda em Fortaleza, Belém e Porto Alegre, companhias de gás; serviços de ele- tricidade e transporte urbano também funciona- O Brasil em Urbanização • I 9 ram em algumas dessas cidades - em sua maioria, empreendinrentos com o envolvimento de capi- tais e empresas inglesas (também responsáveis, desde o século 19, pela implantação do sistema ferroviário no país) [Graham 1973, pp. l 21 -124J . A implan tação dessa infra-estrutura técni- ca nas cidades consolidadas configurou m edidas <JliC não ncccssariarnente prcconit.ararn a reor- denação d o tecido urbano -sobretudo a reorga- nização dos espaços físicos he rdados da cidade colonial, no caso brasileiro. Ao contrário, a im- plan 1aç<-to desses mclhoranwntos reil<~ ntv<l a es- tr utura existente, com poucas modificações. O sentido ele intervenção urbana como produto de uma elaboração icleolúgica n ão sú derivava dos processos de saneamento urbano desenvolvidos no século 10, mas adquiria nova condição - co- mo visão racionalizadora c integrada de intcrfc- rência na cidade, numa lógica de modernização das estruturas urbanas -com a codificação de uma disciplina específica: o urbanismo. Simbolícameme, pode-se e leger quatro even tos como representativos de: formas de m o- dernização urbana no Brasil na passagem do sé- enio 19 para o 20. A N ECAÇAO DAS ESTRUTURAS URBANAS COLONIAIS O primeiro even t.o {; a transfcr(:ncia, crn 1H9G, da capital do Estado de Minas Gerais da co- lonial Ouro Prelo para uma cidade nova, inlcira- menle planejada e construída para ab rigar as funções administrativas ck sede governamenlai - lklo Horizonte - , projeto de nma comissão che- fiada pelo engenheiro Aarão Reis (1853-1936), formado na l'olit{;cnica do Rio de Janeiro . O segundo é a "haussm anisatio n " (num ncologismo criado por Pierrc Lavedan) do Rio de Janeiro, grande intervenção promovida pelo prefeito Francisco Pereira Passos (1836-1913), a partir de 1904, com a criação ele novos eixos vi- ários, a unifor mização das fachadas dessas aveni- das e a implantação de parques públicos median-
  • 17. te a rC'modelac::ão do tecido urbano colonial da cidad<:. Foi uma iniciativa de saneamento físico e social e ele "e mbelezamento" (termo corrente na época) da cidade- capital e principal en tra- da in ternacional ao país. Conciliar a <:nadicação d as epidemias que varreram a cidade ao long-o d o século 19, afastar a populaÇão pobre de seto- res estratégicos para a <:xp<msão urbana e confe- rir <1 paisagetn uma <..:slélica arquitetônica d e pa- drão europeu carac terizaram iniciativas para a ntodclagcm de ttm llrasil condizente com o fig-u- rino de nma nação "civilizada". PRIMÓRDIOS DO PLAN~JAMENTO URBA~O O terc<'iro evento reprcscutativo não é es- pccificatttctt t<..: uma, mas 'árias intcrv<:nçõcs, concebidas com ideários comuns: aquelas desen- volvidas pelo engenheiro Francisco Saturnino Ro- drigues ck Brito (1864-1929), formado na Esco- la Politécnica do Rio de .Jan eiro. Saturnino de Brito é considerado o fundador ela engenharia sa- nitária brasileira pelo conjunto dos projetos (cer- ca de dttas clcL.enas em 'ários quadrantes do país) c pela contribuição tecnológica ad,·incla dessas propostas. Brito tah-ez se tornasse apenas mais unt itnpul"l<lltlt' tfcnico na árPa san it át~ia no Bra- sil nas primeir;ts d{·cadas do século 20 não rosse certa sensibilidade (re forçada pela cren ça positi- vista) q ue o tornou um sanitarista n::io só 'olt<tdo para as equaçôes ck r<:gimes hidráulicos ou para as últimas novidades em sistemas de abastecimen- to c cscoan1ento, 1nas também preocupado com o ambiente da cidack como um Lodo, p redorni- nantcmcttt<..: f'ísico, mas com interfaces sociais. ü plano de san <:<un<:nto da cidade de Cam- pos, no Estado do Rio deJaneiro, ele 1903, é uma referência para a engenharia sanitária: um exten- so diagnóstico abordando d e forma inte-grada as questões tecno-sanitárias- abastecimento de água, esgotos, águas pluviais - com a ocupação do solo - sistemas construtivos, habitações populares, es- paços P cdil'ícios públicos, ori<:ntação e insolação, O Rmsif em 1/r/;unizoçiio • 2 7 circulação etc. A segu nda referência fundamental elaborada por Saturnino de Brito foi o plano de saneamento c <:xpansão de Santos, no Estado de São Paulo, desenvolvido entre 1905 e 1910 para o principal porto de exportação de caf{:. Nesse pro- .ieto, às a titudes inovadoras <tdotadas no plano de Campos acresc<:utuu-s<: " dimensão cslética na re- solttçào dos problemas u rbanos: Satttntino de Brito reconhecia em seus escritos a importância de um aporte urbanístico a p<trtir das id{·ias de Camillo Sitte (1843-1903). Ao longo elos <Utos de l ~:llO, o engenheiro foi um atento monitor das discussões em curso na Europa sobre o Town Planning ou Urbanisme, disciplina em institucio- nali;.ação na {;poca por m<:Ío de coug-r<:ssos iut~:::1~ nacionais, os quais freqiicnta'a como ouvinte ott ;~prcsentando comunicações. Sem nunca se auto- qualificar Townplanner ou Urbaniste, Saturnino de Brilo ioi uw ideúlogo d a engenharia sanitária que, a seu tempo, de forma pioneira introduziu em seus planos o leque de d iretrizes metodológi- cas d o repertório téc nico da então nascente dis- ciplina urbanística. Essas idéias, todavia, não fo- ra m inrorporad<ts sem u ma filtragem crítica: sua atuação sempre Considerntt ttma a'aliaç·ão dos pro('editucutos c das L(~cn icas codificados pela ex- periência européia e, nas proposições c cspcciti- caçõcs de seus projetos, percebe-se que há uma elaborac::ão de uma solução apropriada tendo em vista as condições específicas do meio em que atnm·a: as limitações, as potencialidades e as pos- sibilidades locais configuravam projetos tecnoló- gicos específicos como respostas a realidades concretas, brasileiras [S<:gawa 1987a, !JP· 66-70] . JARDINS-UTOPIAS URBANAS A potencialidade da expansão nrbana das cidades brasikiras j á chamava a atendío dos in- gleses na segu nda metade do <;é·culo 19, como jc'i visto, mas foi na década d<: 191 Oqu<: o capilal cs- Lrangeiro inverteu recursos numa ousada inicia- tiva d<: im plantação ele bairros novos. A cidade de São Paulo, e m pleno crescimento econômico
  • 18. t- 2 2 • ArquítN11ms 110 l5rusíf LIIAIRRO Ol::lõl.ITE l'ropricdadc tle 1 Manoel Garcia da Silva !-lll·:,~ ID ·D'lf!J"' [1 rr-·tni·D~~n~ ~l~~-~~ft I~Q~Ifq! ",'",, / I / " / E) "".:'::;-'-'_( ~ _, ---- .... -·,- -'- ~- Pwpa~a1ul;o de 1928 do Jardim Europa e m São Paulo, bairro que itnilava o ntoclclo do conLíguo Jar- N• aae•-• alf.Jf.ad• ela. Pra4:a •••..aarelaa A.PDOTE•TE A. 'I'A.DDE DE HOJE Alem de C1tcr 11m paucio 'Srad».Yel r~J 1~ ~~:tN~~~:~~;,c:~í "':l,ci:~~~~~~~,:J~I;~..,11pr~c'iaa· o ç:r~nJ•· oll:t"lnl nh·iwento dirn An1érit:a, n--odi/a·úo ela Cia. A iUttttth~ão Jmbli~ c~~O:,~~d: 1 ~~.{}~!1l1':u:~,::.~,;~rl:::.~...s.!Y4 fciw a iHJiti(ur~o PALACJET~.; •: Lt...-.:...~ Dlt "I'C.;ft.R~NU City, dcmonstraorlo o apelo do pa- '-': • l>f'riola~ÕK-,.. 'Uil' 1~ r 1"''1'"''11:1• chlr.kla• lllf~ , Ao. dOtMin~o• "" lon:.l ,. m)" oh.l• ,.,..j. ua rlr:io gfl.rdt•JI rifit•.. LOJA DO JAPAO e físico com a riqueza propiciada pela exporta- (ào do "~fé· , roi contemplada com uma operação espccubtiva que trouxe um padr~m urbanístico inédito na América do Sul. Em 1912 fói conslituí- <.la, em Londres, a Tbe City ofSan Paulo lmprove- me>nt~ élncl Frcchold Company, empresa organi- t.ada para lotear grandes áreas a1~1Sl<t<hts ao sul e a oeste da cidade - então em plena área rural - , com a finalidade de criar bairros de allo padrão para a crcscenrt> burguesia cafccira. Para o pro- jeto urbanístico, foram contratados Ra)'lliOlld U nwin (1863- 1940) e P.~1rry P:wker (1867-HHl), ambos n•!;ponsáveis pela implantação das primei- ras cidades-jardins inglesas, segundo os prr>ct:itos <.k Ebenezer llowarcl ( lS:í0-1928). Parker desen- volveu dois projetos- o .Jardim Amérie<t e o Ciry Lapa - c a remodelação de um jardim público na <:tVenida P<'lulista (Parque Trianon) entre 1017 c 1919, período em que se estabelt:ceu em São Pau- lo. Todavia, foi uma operação de long-o prazo: os bairros conheceram alguma ocupação a partir do fi nal da década de 1920, c a consolidação efe- tiva somente se proct:ssou bem mais tarde. Pela qualidade projt>tual t: a rigorosa legislação t:ntão elaborach1 para os loteamentos, tanto o Jardim América quanto o City Lapa resistiram às trausfor- mações urbanas por mais de setenta anos e con- servam até hoje as qu<'llidades ambientais propos- - __,_ Hua S. Bento..JO ~ (;AHCI. IH SUX & CIA. tas no idcário das cidades-jardins de Howard [Scgawa 1987a, pp. 71-77; Bm:clli 1982J. As primeiras duas décadas do século 20 testemunharam. transformações nas cidadt:s bra- sileiras numa escala c num ritmo até então sem precedentes: alt~ts laxas ele crescimento popu- lacional nas principais capitais pressionavam a demanda por habitação c serviços urbanos; a prosperidade proporcionada pelo café tral'.ia be- nefícios materiais e novos padrões de consumo para alguns segmentos da populayão, mas as es- lxulut·<t8 urb<tnas, t'm sua rn.ai.or·,t h erd·'"das ÜQ período colonial, não se coadunavam com as ex- pectativas de uma sociedade que se urbanizava em passo acelerado, embora sustentada por uma economia agroexportaclora de valores arraigada- mente rurais. As cidades transformavam-se nas plataformas rumo ao mundo moderno, isto é, em busca de um nível de vida à maneira das grandes metrópoles europ éias ou norte-america- nas. Alguns esforços convergiram para esse ideal. O pretexto da ciência, da técnica, da racionali- zação d os meios e rt:cursos para se alcançar esses oqjerivos foram argumentos instaurados nesse início de século. Embora em nenhum momento se identif-ique, no conjunto de iniciativas, algu- ma coerência de estratégia - um planejamento sobre uma enorme extensão territorial mergu- I ~
  • 19. lhada na p!'"rifcria ela economia mundial-, há um vetor comum nas pontuais operações urba- nas processadas nesse período: a apropriação de um repertório ieleologizaelo ele intervenção nas estruturas urbanas - o urbanismo como discipli- na, tal como se coclificava na Europa- , instru- menw modernizador por excelência, uma tenta- tiva de equiparação da cidade brasileira aos patamares europeus o u a prnn1ra ele uma tênue modernidade à brasileira. O ENTREGUERRAS E AS CIDADES No final dos anos de 19 1O, o Brasil conti- nuava um país de economia funclamentalrnentc agrocxport<iclora, modelado na riqueza propor- cionada pela vencia do café no mercado imcrna- cional. A exlra<,:iio da borrac ha, atividade que movimentou o norte do país - na regiüo da bacia do rio Amazonas-, entre o final do século 19 e a primeira década do século 20. fracassou c!iantc da concorrência dos seringais ela Malásia c de Cinga- pur<~_ A dil'nsão elo gosto pelo chocolate eus<.:jou o nc:scimento do plantio do cacau na P.:-~h ia, uma elas culturas que se expandem a partir de então numa escala regioual ponderável. A atividade pecuarista, por seu turno, dc:sen volvia-se nos Es- Lados suliuos, sobretudo no Rio Granelc do Sul. No final elos anos ele 1920, oito produtos primá- rios respondiam por 90% do valo r tot<tl das expor- tações: café (com cerca ele 70%), açúcar, cacau, algodão, mate, tabaco, borracha, couro e peles [Abreu l986J. A estrutura da economia brasilc:i- ra, em 19 19, baseava-se 79% na agricullura e 21% n a indústria. Nos anos de 1920, a política econômica persistia no privilégio da produção do café, com poucas alterações e m relação à prática anterior à Primeira Guerra. O domínio político-partidário da oligarquia cafeeira de: São Paulo assegurava a sustentação de sua cotação medianLe tllanobras que viabilizavam os preços internacionais do pro- duto. Na segunda metade dessa década, a cafei- cultura sofreu forte expansão na produção, em O Hrasil em Urhtlltizaçàu • 2 3 alguma rnedida associada à política mo netária c à entrada de capitais estrangeiros (em forma de investimentos e ÜJJanciamento ele obras públi- cas, sobretudo de origem inglesa) [Abreu 1986J. !hegemonia política e as formas ele con- trole e manipulação do poder dos grupos ligados ú agroexportação não estavam isentas do descon- tentamen to de setores da sociedade, sobretudo os segme ntos de classe média urbana não repre- sentados pela oligarquia agrária. Ao lado de gre- ves operárias (marcantes a partir de 19 18, com o fim da Guerra), as mais si){nificativas manifes- tações contrárias ao quadro vigente partiram dos quartéis, em movimentos liderados por elemen- tos da ala jovem da oficialidade militar- os te- nentes. A partir de 1922, inúmeros levautes em quartl~ is- yue ficaram conh ecidos co mo rcvolt<1s "ten ent·istas" ou, enquanto fenômeno político, "teueutismo" - foram registrados em vári<~s cida- des rio Brasil, alguns extrapolando os limites da caserna e assum indo contornos revolucio nários, como no Rio de .Janeiro, no Rio Grande do Sul c em São Paulo. A oposição fazia con tatos com a oficialidade inquicr.a, em nome de uma "morali- zação do regime", e se preparava o c<1minho para a Revolução de 1930. O colapso elo mercado lltUIH-Iial provoca- do pela quebra da Bolsa de Nova York, em outu- bro de 1929, não deixou d e repercutir no Brasil, so hrewclo cliautc da fragilidade ela política de manute nção dos preços elo café. O s altos esto- ques do produto aliados à vertiginosa queda ela sua cotação internacional levaram a economia cafeeira à bancarrota. Em 1930, revolucionários do Rio Grande do Sul derrubaram o presidente Washingwn Luís (1870-19S7) sem maior como- ção. Assumia o poder Getúlio Vargas (1883-1954). Segundo Singer [1985, p. 235], "o princi- pal mérito ela Revolução de 1930 foi ter g uinda- elo ao poder uma aliança heterogên ea ele corren- tes políticas e militares que , para se consolidar, não podiam se dar ao luxo de seguir a onocloxia liberal no campo econô mico, assistindo ele braços cruzados à hecatombe de atividades produtivas que a crise mundial estava acarretando". Ainda segundo esse autor, "a oligarquia agroexportado- ..
  • 20. i........l 2 4 • ,1l"<jll ilei11 r11s 110 1Jr11sil ra, economicamente arruinada, leve que ceder o papel de fração hcgcmúnica à coligação indus- trializame de tecnocratas, militares e empr('s<Írios, CJllC vC"io g-anhando poder c acumulando capital ao longo de lodo este período". No pcríodo ID:-20- 192~) , a agricult.ura sc clcscnvolveu com taxas mé-- dia~ <tttuais de /1,1%, enquanto a indústria <T('SC('ll 2,8%. A inércia ctlU·c os anos I~J2D e 1933 era o sintoma inH'diato da Crandc Lkptcssão. Entre 1933-10:-39, inverteram-se as posi(Ôes: a agricultu- ra virtualmente estagnou-se com taxas de 1,7%, e a indústria desen volveu-se a índ ice~ de 11,2% ao auo. Em 1939, a agricultura <linda respondi<~ por 57% da csrrnmra da economia brasileira, mas a indústri<t já comparecia com ponderável parcela de 4~ 1 /fJ [Dinii' 19lnj. A ~u pcração ela estrutura de privikgios do domínio agrário somente se l"aria ele fornta <· li- ciente mediante a substitui<;ão dos instrumentos de controle c operarão do porl<'r. O sentido de modC"rn ii'a(;io da chamada ''Era Vargas" ( 1930 1945) fundamentava-se na 1ransformac;ão das es- trulUras de sustentação ela oligarquia cafccira numa administração centra]i;.ada c intcrn,ncio- nista, de d iscurso naciomdista. rs principais me- didas políticas e !"conômicas tornar-se-iam deci- sões orientadas por políticas nacion<1is de Fstado, em detrimento das políticas regionalistas de in- tCl·esses !ocali1ados; crit{Tios 'jnrídicos" e "polí- ticos" eram suhsl il tiÍdos por t·;tzócs técnicas", "econômicas" e 'tdmiuistnttivas", vinculadas a rnecanismos de mercado [Fonseca 19H9l . Novas leis, códigos e dC"lC"rmina(Õcs davam amparo ao processo de modernização. ; reformula(ão do aparelho estatal, com a criação de noYos ministé- rios (da Educação e Saúde, do Trabalho) c órgãos públicos operacionalizavam as mudanças, articu- lando os setores público c privad o. Constituía-se um mercado nacional integrado, definiam-se ru- mos para o capitalismo industrial do país; ohser- 'a-se, no plano econômico, ··o deslocamento do l·ixo da economia do pólo agroexportador para o pólo urbano-industrial c, no plano político, o es- vaziamento da infht€>ncia e elo poder dos interes- ses ligados à presen-ação da preponderância do setor externo no conjun1o ela economia" [Di.niz l9R3]. Esse ide:írio seria reafirmado de for ma autoritária com a implantação do Estado :--Jovo, golpe cuntinuísla de Vargas e111 1037 (contrarian- do a CarLa de 1!);)4, rp w previ<~ c lciçôcs presiden- ciais para esse ano) com a ou torga de uma cons- tituição CJll<' perduro u até a CJUeda do d itad or, com o fim da Segunci.-t Cuerra. ORDENAR AS CIDADES No final dos anos de 1920, a população do Brasil era ela o rdem de 37 milhôC"s de habitallles, com cerca de 70% ,·ivendo na úrca ntral. Em l 940, esse total ati11gia pouco mais df:' IJ 1 milhtll's, com a mesma propon;ão ele brasileiros vivendo no campo. Novas frentes de exp ansão agrícola pelo território gerayam m ig rações inte r nas in- tensas, assim como, em regiões de incremento econômico mais di nâmico (sobretudo São Paulo c Rio d e Janeiro), as tendências apo11tavam para o d eslocuncn to ele populações da área rural pan1 a ull.>aml - a confirmar a caracterizaçáo das cidades como locais de cstn tfllração elo poder e organização das atiYidades comerciais c financei- ras, bem como das inslituiçôcs burocráticas do Estado rPatarra 19861 . O Rio dejatwiro continum·a sendo o alvo preferido para inter'cnçôcs "hattsstmtn ianas", ua seqüência das gTandcs obras empreend idas pelo prefeito Pereira Passos a part ir ele 190<1. Em 1919, o ex-assistente ele Pereira Passos, o enge- n heiro Paulo de Frontin (1860-1933), assulllia a p refeitura elo Distrito Federal e r~ali zaya uma série ele obras vi:trias de porte . Dois anos mais tarde, o prefeito Carlos de Campos (1866-1927) detonava o d esmonte do morro do Castelo, um dos prime iros sítios ocupados pelos portugueses no século 16 para a fun dação da cidade, e criava um "vazio" urbano onde seria provisoriamente montada a Exposição do Centenário da Indepen- dê ncia, C lll 1922 rver próximo capítulol. Tratava- se efetivamente de nm "vazio", porquan to ne- nhuma destinação prévia havia sido planejada para a esplanada que surg-ira. O material do ar-
  • 21. U lJmsil e111 f !rhaniz(lç(Jo • 2 5 ..... :i .... C).... ,;; ·l~·,,;~~;;;•,S>~;~ ·--.._ •, '',,... L-4. Projcto núo l'~t·( 11tado de arr11~111 e nro para a área rc:;ultante do d esalt'r rn rln morr o do Castelo c para án:a a tt'tTada rlt>srlc a Glória até a Ponta do Calabuurn. S<').;lllldo proposta de uma comissúu dc cngenlwiros c· arCJuitctos nomeados pelo [li efeito do Rio de Jancim, Carlos Sampaio, 1920 1922. 1·as:1mento do morro foi transferido para a com- pactação de um aterro que, lllais tarde, abrigaria v Aeroporto Santos Dumont. A capital elo país contiuua,·a a ditar a voga de intervenções urbanísticas. O irnpassc do de- senvolvimento c a ocupação urbana do Distrito Federal ensejariam a contratação, em 1927, do <~r­ quiteto Donat Alfred Agache ( IH7!l--1959), profis- sional que vinha se notabilizando na França, des- de ;t década ele 1910, em assnntm url>anísticos. Agache desenvolveu um volumoso relatório com diretrizes urbanísticas básicas publicado em 1930, que. com a Revolução, n~t o !'oi imedia tamente implementado. Em 1931 era criada uma Comis- são do Plano da Cidade para o reestudo do Plano Agache, permitindo sua aplicação parcial. Em 1937, com o Estado NoYO, uma no'a comissão de- senvolveu um projeto que acolheu inúmeros sub- sídios do plauo de l 930 e foi o que orientou o desenvolvime nto do Rio de .Janeiro até por volta dos anos 1960 [Rezende 1982; Bruand 1981J. Alfred Agache dese nvolveu no Brasil, nes- se período, vários projetos c consultorias: ern ]935 fc:z o desenho do Parqu e Farroupilha Iver capítulo "Modemidade Pragrnútica 1922-194:-r'l, faria consultoria para o cntüo prefeito de Belo TIori7onte, J uscdiuu Kubitschek de O liveira (1902-1976) no f"inal rlos anos El30 [ver capítulo "Modernidade Corrente 1929-1945"], um plano diretor para a cidade de Curitiba (1913) e o de- senho de um bairro de clirc e m São Paulo, em Interlagos (anos de 1940). Participou de inúme- ros outros planos, como os de Vitória, Campos, Cabo Frio, Araruama, Petrópolis, São João da Barra e Atafona lSilva 1996]. A cidade de São P<nlio, também ao tina! dos auus ele 1920, apresentaria um plano corn preocupação basicamente viária mas não isenta de elementos referenciados nas questões urbanís- ticas mais amplas. O engenheiro-arquite to Fran- cisco Prestes Maia (1896-1 965) foi o autor de um <tmbicioso "Plano de Avenidas" publicado num relatório em 1930 - tão suntuoso qu anto o de Agache. A Re,·oluçào de 30 também. interferiria na adoção do plano; todavia, em 19~7, com o Estado Novo, Prestes Maia era conduzido à pre-
  • 22. 26 • Arquiteturas no nmsil I< ,».. :;t' ..f... ·~-~ '·.-~·t·:~:''.. ·-' f". ~é "' ~}; 'I. t:o ,, -~:)..:. ..; "'~,~l... t ?.":"" ···""'"" t : ••;t ,;~ ..., ""'..,:~.:E.-';1 ·i~..:: ·~ ... ; . -~ ';' I -~ - .;: ~ - .,J_, : -...'! r~~ ..,. --~ ''"····.'.< ' --·1-~ !.$;, ~l :;.l; ~ ~ z~ •"-" ... '-~:, !! &) "' ...... ~l' •' ,. ~ .. ' :t; ·~ !; .'. Proposta elo l'lano de ivenicbs, de 19:10, cl.- l'restt's Maia , para p raça circul:tr na imerccssào das ;~v.-nidas do EsLado e da Jnclcpc nch~ncia: monurncntal id adc vi;i t ia num entorno campeslr<>. fcimra de São Puulo c em sua primt>ira g-csl<'io at<:: 194!i, e posleriorrnenre entre 1961 c 196Pí (quan- do foi cleiLo prefeito da r iclade) , ele implan Io u parcialmente seu projeto, incompleLO em sua execução pe la falla de recursos. As diretrizes bá- sicas do plauo foram seguidas até 1969 pelo seu sucessot· [Toledo 1996]. Os planos para o Rio de jane iro e São Pau- lo ensejaram uma seqüência de propostas para várias cidades brasileiras, em maior ou menor me- dida inspirados nessas experiências. No início elos anos dt" 1930, Nestor Fig-tteiredo c Fernando Al- meida clesenvolveram pl:mos de remodelaçiio e extensão para diversas capitais do Nordeste: For- taleza, João Pessoa, Recife e para a cidade ele Cabedelo. Recife ainda seria estudado em 1934 por AtLilio Correia Lima (190 l-1943) e em 1942 por Ulhôa Cinlra (1BH7-1944). O mesmo Correia Lima elahorflria uma tese no Instituto de Urbanis- mo da Universidade ele Paris sobre um plano de remodda<:ão e extensão de Niterói em 1932 e, no auo seguinte, faria o desenho ela nova capital do Fsl<tdo de Goiás, (;oiânia fver tarnb(:m capítulo "Modernidade Pragmática 192:2-1943"]; em 1941, elabora I';.Jmbém o plano para a cidade de Volta Redonda ILopes 19941. Na primeira metade dos anos de 1930, os engenh eiros U batuba de Faria e Edvaldo Pereira Paiva preparariam um plano pant Porto Alegre sob a inspiração elo plano Agach e para o Rio de Janeiro. Com a nomeação do pre- feito José Loureiro da Silva (l9m~-1964) com o Estado Novo, o arquiteto elo Rio deJaneiro Arnal- do Gladoscl! era contratado para o descnvoh·i- mento d e um IJlano direror para a cidade; nos anos de 1940, Edvaldv Paiv<1 iria desenvolver estu- dos nrbanísticos par·a a capital com o título "Ex- pedien te Urbano". Salvador também teve organi- zada, entre 1 9~4 e 1 9~7, a Comissão do Plano da Cidade, desativada pelo li.~taco Novo. Somente em 1942 seria organizado o Escritório elo Plano de Urbanismo ela Cidade ele Salvador (EPUC:S) , di- rigido pelo e ngenheiro Mário Leal Ferreira. O sub strato conceitual desses inúmeros esforços era referenciado em teorias e expcri-
  • 23. ências urbanísticas européias c norte-america- na::;; enqu::1n to propostas concretas, boa parte se limit ava a esquemas de circulação com novos sistemas viários sobrepostos aos tecidos urbanos antigos, quando não se tratava ele áreas eu1 ex- pansão o u cidades novas. A 111aiori::J dt>sscs pro- jetos foram rejeitados pelas câmaras muni('ipais ou adot::Jclos c.m condições excepcionais, isto é, com prefeitos nomeados pelo Estado Novo, que uão se suhorrl.inavam ao respaldo do poder legis- lativo para suas in tervcn ções urbanas. Mesmo nessas sitml<:Ôcs ele exceção, esses prefeitos não conseguiram implementar os planos na sua tota- lidadf', pela amplitude e complexidade das pro- postas a exigir recursos que demandariam o in- vestimento de inúmeras gcraçôes de cidadãos. O plauejanu.:nLo das cidades, a funciona- lizaçào dos espaços, a organiwr,·ão de uma hierar- quia viária eficiente e a definição de políticas de construção mediante códigos t>clificatórios vinnl- lados a padrócs urbanos foram aspectos que, a parti r de 1930, caracterizaram uma faceta da mo- derniza~· ;lo dos grandes centros urbanos do país. Quando concretizados, <.:onstituíram verdackiras O /Jmsil e111 Urbanizaçâo • 2 7 cirurgias urbanas que tentaram 'arrer as referên- cias da cidade colonial ou imperial, substituindo- se a paisagem "at1·asada" do casario antigo por largas e arc::jadas ;wrnidas ou bulevares e constru- ções vistosas ele <1rquitctura modernil'.<mtc ou rno- rlerna. Todavia, entre a utopia transformaclo•·a e a realidade conscr'adora, estabeleceu-se um impas- se que acabou gerando nf'nhnma imagem integral de modernidade. ;'!em se pode afirmar, categori- camente, que os significados dessa modernização estivessem conscientemente assimilados pelos ci- dadãos ou govcrnan tes. Ademais, cst rat{:gias des- sa narnrcza c·ontcmplando ol-~jctos tão complexos como as cidades dificilmente são exeqüíveis em prazos condicionados às veleidades ele autoricl:Kks ou autoritarismos. No entanto, o conjunto de ten- tativ;ls d(' plant:jameiJto u•lxnw no Brasil que se registrou no período rl.o enrregucrras inclicia, com rnaior ou tneuor sucesso, que o Brasil procurava ingresso entre <'~S naçócs dcscm·olvidas buscando encontrar formas racionalizaci::Js ele uso c manipu- lação elo espaço das cidades, segundo regras de uma das disciplinas instauracloras da modernida- de do século 20: o urbanismo.
  • 24. 2 DO ANTICOLONIAL AO NEOCOLONIAL: A BUSCA DE ALGUMA MODERNIDADE 1880-1926 O estilo modr.mo aceita lodos os estilos, cai l''ln todos OJ PXrP.uos, t' '//(LO formando idéia das IU'rt>ssidadr.s tâo várias da gerarlio f.m•scnte, finde-se na jiP.stpú.w rir• 11ovas f ormas n r.rim; de nova exjJTfSSÚo a ado/(l,r; o seu caráter rssr•náal é a ri'úvida I' a incerteza. ANDRÉ {_;( ISTAVO PAU LO DE FRO:-.lTIN, proposições sobre "estilos em arCJUilct tu·a", tese apresentada em concurso C'm Engenharia Civil para a Escola Politécnica do Rio d e Jancil·o, 1880. Ufanismo é uma palavra derivada do ver- bo uümar. Esclarece o di cionário que o Lermo de nota a "atitude, posição ou sentime nto dos que, influen ciados pelo potencial das riquezas brasileiras, pelas belezas naturais do país etc., dele se vangloriam, desmedidamente" [Ferreira 1975, p. 1.436]. Trata-se de uma alusão ao livro de Affon so Celso (1860-1938) , Por quf' me Ufano do uu•n Pais, ediLado em 1900, precisarnenLe no calor das celebrações elo quarto centenário elo descobrimento do Brasil. No final do século 19, o Brasil não se ufa- nava de sua arquitetura. F. d enegria seus antece- dentes: "Herdamos dos a ntigos portugu eses a parte má do gosto arquitetônico; e, por muito tempo, nos conservamos estacionários. Recente- mente as construções vão se ndo mais elegantes e adequadas às condições de nosso clima, porém ainda com excesso inútil ele materiais". Era essa a opinião do engenheiro C. R. Cabaglia [1869, p. 103J em 1866. O ensino de arquitetura no Brasil é ante- rior ao estabelecimento dos cursosjurídicos, mas nem por isso os arquite tos angariaram prestígio equivalente ao dos bacharéis. Data de 1816 a vin- da de urn grupo de artistas fi·anceses para a cor- Le do Rio de Janeiro, ainda sob a regência do en- tão p ríncipe D..Joào (1767-1826 -futuro D.João Vl , rei d e Portugal), para introduzir no país um con hecimenLO artístico de gosto neoclássico.
  • 25. ....._ .3 O • Arquil!!lllrCIS 110 Brasil Mas i· somL·ntc em 1827 que com~ça a runcionar regularmente a Academia ele Relas-Ancs, incluin- do em seu currículo a arquitemra, curso o rg;.u ti..:<t- clo por Augustc Hcnri Victor (~randjean ele Mon- Ligny (177b-1 R50), arcptiLelo francf>s de algum prestígio em seu país de origem, autor de nm á l- bum de levantamentos arquilctúuicos, Arr!tileclure inscanc, ou jwlai.1, uwi.wns, e/ autrfis édijlas rll' la 'f'osumc, J.>tthlicado elHr(' 180ti e l Hli). CARÊNCIA DE ARQUITETURA As ;w;-tliações sobre o cnsiuo da arquirctu- r<t no último quartel do século 19 uão eram nada promissoras. Luiz Schrciner (1838-1892), enge- nheiro c arqnitc:to fo rmado na Real Academia de Rf'hs-Artes de Berlim e ativo no Rio de Janei- ro, foi unt crítico radical da situação no país. Em Hl83 manifestava-se: Se não pod emos nc:gar, que a nossa Escol;~ Politécni- c;t jií tctn formado engenheiros q ue p odt"tll ri,·;tli7ar con1 os tlll'ilwres do Vcllto iVIundo, i: tamb.:m indiscutí- vt'l que a a1 qnitetura ainda(; pouco rulti v:~rla c-ntrf" n<'>s, :l.Ch:lnclo-sc: a art ... d e co nstruir ainda hoje mcri<l:l na ca- misa de força c hamada "rotina", c melo isso pe lo t:tto de sr c nt f' nd !"r que utn arquiteto pod e form::H-st> n:~ Aca d...,nia das B<·hts Ar l('s I ... 1 Ainda hoje os alunDs copiam os mesmos d esenhos do fundador da aub ele a rquit!"ttt- ra (está entendido qu <> ralo d a parte construti'a, c não csrhica destas rópi:ts) n qual, no fínt do s(<.:ulo passado c no prin cípio do nosso . d istingu iu-se por ter p u blicad o uma obra sobre arquitetura toscana L...j . 6. Casa d~.: Detenção elo Reci fe, projt·tada e construída pelo engen heiro .José Mameclt· Alves Ferreira (lf20-1862) a par- til· de 18!'>0. ü engen hcit·o Perei ra Sim<ics c o arquiteto Ilcrculan o Ra11tos comen taram em 1882: "a nossa Casa de Detcn- çiio , estudada em face da teoria da arquitc1 11ra, é- um dos p oucos edifícios onde existe h armonia mais o u men<" perfei ta e ntre.: a forma adotada"' a necessidade que ocasionou a construção. H ii ali. tH:sse ponto rk vista c em relação ao conjunto de elementos, o caráter acertado das obras raciona lm ente feitas. [...j Cada ç lcme nto t<.:tn assim nma significação peran te.: a arte; cada lin ha pode despertar um 'cntime uto rapaz de concorre r para o fim a qnc se destina a di spo~içiio geral" [Scgawa l J87al .
  • 26. i arquitetura entre nós não de u um pas'o ;1antc desde o princípio deste sécu lo, c·rnhnra l'sta t-poca mar- casse uma revnln(";)o co loss;~l ISehreine 1884, p. 7·1. A situação cios arquitetos uo Brasil à épo- ca sofria também de constrangimen tos suscitados pelo próprio poder público. Um aviso do tninis- tro do lmpf-rio, Antonio Ferreira Viauw.t (1834- 1005), solicitava em 1HH9 a contrara<;ão de u m arquiteto na Europa. Na j ttstificativa rla solicila- çào, argumentava-se cptc A ,..J,..vação cln nosso n ÍH'I int<"kctual torna çada dia menos su ponáH·I a !'alta de gr·a(a t> t>stilo em nossas construções. ainda as destinadas a , ,.,·viços pÍihlicos d:~ lllaior imponãnci:1. como se a beleza não fosse cond i ç;io essencial ou d ela sç pudesse prescindi r a troco d;1 solidez, nem sempre conseguida. r...1 F. f' l't>Ciso que à primitiva ane d e constru ir se jnmc·m a concep<;<io e a diglliclacte da arquitetura. cujos exen1 plarcs são t:'io ril- ros en tre nós, t' , o que é m<'lis inquietante. em gera l vi- t'l'<llii do pe ríodo colo nial !Vianna IH!JU, pp. 12 1- 122j. O ESTADO DA ARQUITETURA MODFRNA Esse tipo de ceticismo era também com- partilhado pelo engenheiro civil Bern<Jrdo Ribei- ro rle Freitas (formado na Escola Puliti::cnica em 1881) , par<J qncm, em 1888, o ensino arquitetô- nico no Brasil era "quase desconhecido". É Rihei- ro de Freitas que publica, nesse ano, nma avalia- ção do quadro ela arquitcwra naquele final de sécu lo. Num anigo intitulado "A Arquitetura Mo- derna", o engenheiro tecia considerações sobre as grandes Lransrurmações tecnológicas e sociais processadas ao longo do século que t'erminava, assinalando a perplexidade de sua época: O século 19. instigado pt'la~ grandes conquist:Js rias ciências e das indústri as, fone pelo fl:rro que tornou-se a sua matéria-prima por excelf>ucia, revoltou-se contra o P"ssado c de ous;Idi<~ em ousadia apresentou for mas in- 1c-iramentc novas que acharam sua raôo ck st>r nas leis ela estatística, mas que se afastaram da estética até ago- ra conhecida. Estamos em pleno domínio da rt>voluçào. Como se mptT acon tece nas rt>voltas, os acaclf>lll icos, os que g uardavam corno sagrad os os princípios da ar- no Antirolo11ial oo Nroroloniol • 3 l quitt>tttra [...] protestam contra as exigf·ucias cl<t indús- tria e cteclararam n:bcldes e fora ro>npletamente ela (O- Ill tlllhào da arte as novas manifesta<,:ôcs elas H<·cessiu<Ides h umanas c: elas idéias elo nosso s(•cttlo. Oaí dois cam pos lwm d istintos na arte das constru- ~·<->('S: os rc·voi LOso~. w, progressistas, ele 11111 lado: do ou- tro, os fié is. os respeitadores da an c a nrig;.t. Não ohsratllc a coustatação do dualismo, Ribeiro de Ft-eitas supunha concmnirantcmente uma unicidade da arquitetura de seu tempo: "nos diversos povos o caráter arC]nirctflnico é um; é a expressão da civili:t.ação da era presente. F,certo que ainda há poYos separarlos da comunhão ge- ra.l; mas nos países 'errladeiramentc civilizados, conforme as nossas idéias há uma só civilização, costumes e idéias concordes, e daí um<l arquite- tura, a arqui telllra moderna". Tomando ClllJXestadas as análises de César Daly (181 1-1R91), Ribeiro de Freitas via a arq ui- tetura dividindo-se em três correntes: o "grupo histórico" ("fiel da csli:tica mais conhecida, acei- ta somente as arqui teLUr<Js Cllle caracterizam as duas civilizaçôcs mais notáveis: a greco-romana c a da Idade Média"), o "grupo er.l{:tico" ("reserva- se o direito ele escolher em todos os estilos, em rorlas as manifestações da construção o que mais perfeito julgar para o fim que se tiYer em vista") c o "grupo racionalista" ("é uma reação elo pre- scnre contra o passado [... ] lançando mão dos novos malcr·iais l---J esse grupo adotou a libercla- ck da t<>rrna, sem obrigação d e atender às leis da estética legadas pdo passado"). Negando a existên cia de um "corpo de doutrina" aos grupos "eclético" e "racionalista", as pa lavras do engenheiro brasilei ro bem espe- lham o dilema da modernidade arquitetônica no crepúsculo do sfculo 19: () ar LisLa moderno, o an1uitt>to moderno lnta com gr<tncle~ d ificuldades, se se fil ia à e~co l a ,·acionalista, tendo por único guia a mecâni ca aplicada , tem(~ cair e m formas secas, frias, esque letos, ó rg::io:; de máquinas antes do que elementos arq ui tetôu ico~ ; se aceita a es- cola eclética, sen1 outro critéi-io para escolher· as suas normas a não ser o se u próprio _juízo cai no cetic ismo <trtístico, no :.~handono e d esprezo de todos os princí- pios admitidos.
  • 27. 32 • Arquitetums no nmsil lkssf' estado da arquitetura moderna 11<1SI'' o ind i- vid ualislno ('111 qnestüo da arte; cada um é: seu préJprio _juiz c não actmi1e dog111a ~ c· 1weceitos estéticos. Há a per- feita dt'sor){ani·tação das verdadeiras escolas. A crítica artística desapareceu , pois qnc nào há leis esté-ticas; mio hú cúdigo, logo u<lo h{t,iuiz [Freitas lfltll:l, pp. 1!1!1- 1~11 . MODF.RNIDADE E IDENTIDADE CULTURAL A hesitação pelos caminhos que a arquitc- Lura deveria trilhar- debate em curso sobretu- do na Europa - collhcceu no Brasil uma outra variável: a da nacionalidade. Em meio a uma vida culrural r mundana orientada pelos padrôcs fr;:Jnct>ses (daí o recorrente uso da cxprcss:'io " hc- lle êpoLJLI<.:" para esse período na historiografia brasileira), rssa preocupação se esboçou com maior i11 Lcnsidadc nos meios literários. O ltfanis- rno de Affonso Cf'lso in;m?;u rava o palriolismo oficial; escritores como Euclides da Cunha ( 1866- 1909) e Lima Barreto (1881-1922) teciam abor- dagens distintas d::~quclas prt'scrilas na literaLUra <lo Velho Mundo. Não há registros escr itos de rlf'hates dessa natureza no âmbito da arcptitt>lu- ra na J.nimcira década do século ~0. Todavia, a questão era la lelllc, c, ao menos isoladamente, arquitelos manifestavam-se a rf'spPito na esteira da discussão mais ampla. É o que se ctr preencle ele um memorial explicativo df' um projeto ele palá<.:io municipal para Belém, cidade que se beneficiava., nesse momento, ela riqueta proporcionada pela cxpor- ra(i'io da borracha. Seu autor, o engcnhf'it-o ar- quiteto Filinto Santoro, era italiano com estudos em Nápo les, tendo chegado ao Rio de .Janeiro em 1890. Sahc-sc CjtH' foi um profissional que es- teve aLivo e m várias cidades bt·asileiras (Rio de Janeiro, Vilória, M::~naus, Belém c Salvador), fi- gura de prestíg-io com obras públicas de impor- tância [Derenji 1988] . Ao elaborar sua memória técnica sobre o j amais cxccULaclo palácio, em 1908, Santoro reg-istrava a situação presente ela arquitetura: O s~cn l o atual , possante e inov<tdor nas cii'·ncias, n8s teu·as c nas demais arLcs. nfw conseguiu ainda ter 11111a 110'a ;n qnitctura. i maior parte dos granrlio~os t'ciilícios 'O IISI ruído~. longe de tc1· uma fisionomia prú- pria, como nos sé-culos passados, ou são cópias de anti- gos m o n umentos ou compo, i(i>Ps bhoriosas de elc- llll'ntos llt'lt'rogêneos amalgamados com maior nu menor habilidade. Certo é que o espírito ntodl·rno toge ;ls velhas form as; c os arcpr irt'tos, nwsn1o os mais geniaiS, CSforçalll-S(' para dotar a ll OSSa t:]JOCa ele lllll non1 estilo arquitetura! CJlH' mdhor respu1uLt ús aspira- ções hod iernas e ao bom gosLo, acocdando-o com o desenvolvimento grandioso progrrssivo dt' ioclas as ar- les apl icadas. Na nossa pcrcgrinaç~o aos velhos e cultos países da Europ<~ ficamos convencidos de que pouco~ são aqtlt'lt's que m;unêm na arquitetura os expressivos elementos cl;1ssicos c quase achamos os artistas de hoje identificados, concordes ua pt'squisa de um novo ideal estéLico. mostr::~ndo até em algu mas consLruções, ap'- sar das iucvitá,·cis inccrl e~:as e exagems, uw complexo hannôuico dr.: linhas, 11111 conj11n1o till, rif' inf'undú a es· pera u ~·a de n;io estar longe o ad·t'nto da d t'st·jada ar- quitL:tura do século 20. E posicion;.~va-se quanto ao eslilo adequa- do ao BrasiI: N u111 país novo, que seuiP a cada hor<J ;1 i11rlui'ucia ·ariável da~ idéias d<' além-n1ar, a imposição ele um e~­ tilo único seria i111proccdeute [... j Todo c qualqu.-r estilo, consoante a sua oportunida- de. pode e deve ser adapi<Jrio ao nosso clima e ao nosso meio, dc~de que sejam iiTepreensiw·l mentc obsen·ada~ as modernas prcscrit;Ões higiênicas. I'o Vl'lho M uudo todas as l'orm<~s a rquitc wrais t>rocnlcram de estilos an- tc1·iores aos qua i, foi sc111pre assimilado um elemento e.~tran h o, dependente d o progresso e da transCormaçüo das v;íri<Js civilizações, da aquisição d e um·os conhl'ci- mentos, d<J inrJu ência de novas idéias c sen1ime11los (' 1ambénoda introdJl(iio de novos materiai s. Deixt"-S<', pois, ao cngeuheiro, num país como o nosso, <t escolha do eslilo que melhor corresponda ao seu gosto, às suas idéias e aos l'ins a que se destina o edifício. Esta liberdade de agir, porém, niio o d ispensa d e se preocupar in ccssa n tem <' llll> com os ele uieuLOs cuja influência t;m to ~e afirma sobre as construções: o clima, as tendências do viver coletivo, o progresso dos materiais ele que, porventura, disponha [Santoro 1900, pp. 111 -t 11]. Não obstante o oLimismo e o tom progres- sista do discurso, o Palácio Municipal de Santoro era um pr~jeto de arquitetura convencional.
  • 28. ESTETICA DA RACIONALIDADE Os mais surpn:<:ndcntcs escritos irnprt>g na- dos de uma precoce modernidacl<: foralll feitos a respeito ela ohra rlo arquiteto Victor Dubugras ( I R6R-l 933), francf:s com formação profissional em Rucnos Aires c radicado no Brasil a partir ele 1890. Dubugras, t-m st> us primeiros projetOs co- m o fun cionário público para o Est::ldo rle s:w Paulo, dese nho! fúruns c escolas ncogúlicos. Na virada elo século. o arquitt:to er<l um projetista p<:dcitamente sintonizado com a expcrirncnra- ção Art Nouvcau, praticando obras residenciais com ::l mesma desenvo ltura modernista de Bru- xelas, nan-elona O ll Paris. Em 1905, o arquile to havia org<mizado uma exposição de seus projetos e obras e foi saudado pela Revista Pul)'lechníra, periódico crlitado pelo grêm io cs1udan Lil tla Escola Politécnica de São no A nlimlonial rto Nt>orolonial • 3 3 Paulo, pe la "coragem do arqlitcto cnt expor lra- balhos que fogem compkt<mt<:ntc às formas ha- nais, manifestando uma tendência hem acentua- da para urn novo método de construção, ainda pouco c.studcldo" (n:feria-se ao concreto armado). Poucos 1neses depois, a r<:vísla publicou uma aprt>- c:ia~:ão do csLUdan te Augusto de Toledo sobrt- a obra elo seu professor, Dubugras, manifestando 11 rna inédita postura estético-construtiva: Eut toda coustr ução o Sr. Dubu~ras deu inteira p rl:'- fer~ucia às form<:~s ele est rutura real. As d i sros i ~·iH'' const.rut i';lS c· a natureza dos mat l:'riais s~to rrancamen- tc acusadas. lealmente poslas em evidê ncia: o que pare- ce parte ~upunad;1 funciona verdadeirame n te como L~ I; o g ran ito i:: g-r:-tni to 1nesmo; os rc'cstimentos dt· <trg;t- massa não iluden1; e wda pcp d e madcirajú eslú colll ~ua co•· própria , tendo apenas uma C;lm<td a protetora de verniz transparente. Aplau dimos convictos esta maneira de construir tão honesta c racional. O arquücw te m de cingir-se ao> re- cursos de que dispõe, e à~ formas impostas pela 1-'stahi- ----------- --------~ ------ ---------·--------------.--:.-·::---_-- - -'":- · - --:-- U Oue!.lJ6Ftt;,. fi"'c. 4 7_ Vinor Duhugras: estação fcr.-oviúria em Ma irinquc, SP, 1905- 1908.
  • 29. 31 • Arquiteturas 110 Brasil lidade c resistência dos materiais. Lade:>ar dificuldades ou siullllar riquezas cn 111 fingim e ntos c an ifícios t:, a nosso vt'r, cair em uma ane viciada c mcntiros;l. Nada mais rid ículo d o que, por cxcrnplo. os 111<Írmores d e es- mquc c os trontõcs impropo~iamcntc t>st;1tchodos no nll·- po das rachadas. O distiu to professor pt>s de maq; t'm todo velho ;u·- scnal de cornijas, consolos, balaústres decorat ivos, ao·- lf llil ravcs etc. l~ o caros aos rotineiros , aos que L1zcm arquircwra com as fcu·malísticas e inllllúvcis receitas de Vinhola. c c nvt>rednu corajosamo•ottc pela a n e llwdcr- ua c pt>los modernos processos de constr u~ ão ITolcclo 1901í, p. 771. Trb au os d epois a mesma RPvisla Poly lechnicn publicou um elogio à então recém-inau- gurada estarão ferroviária na cidade de Mairin- que, no Estado de São Paulo, projeto de Dubu- gras. O edifício é praticamen te uma esLrn tura monol íLica de concreto armado, estrutura com trilho~ (fundações, pilares c vig-as) e metal ex- pandido, o ·metal déjJLoyé (pared es, lajes, abóba- das), alérn d e empregar coberturas a tiran tadas sobre <'ls pla taformas. Num artigo assinado por P. J. (hipoleticamente Hyppolito Pujol.Júnior, li-l!-10-1 952, engenheiro civil recém-formado) , ressaltava-se o pioneirismo da obra: A bela composição do Sr. Dubugras tem [...] [o] grande mé rito [... j de co nvencer d :~ possibilidade d e fazer be la uma obra de r imerno armarlo os d e~crentes da estt'- rica do novo sisrema de COilslnoção, os que acre- d itam que o único me io de tornar atraente uma o bra t>xecu tada com essl:! tmncrial é esconder a natural rigi- d(~z geom(•trica d:~s formas que decorrem da consrru- (ào mesma, fazendo-a dcsaparPcer sob suct>ssivas ~.:ama­ das de em boço e r<"'boco (...] A simplicidade do mé todo es1élico a qne rcçorre o arq11itPto mocomposição da sua linda garr, a f~1c i lid;~de c nal.llralidadc ela ordenança elas sua~ fac hadas, não são, ento-etanto, seniiu aparentes ... uào excluem, pelo menos para quem não possuir as superiores qua lidades de artista elo d istintO mestre, um penoso ll·aballoo de ra- ciocíuio e uma ponderação muito j usta do noYo méw- do de const r uç~o , de que d.-ve decorrer nt-cessaria- mente todo o efei to arquitetura! , quer d o conjunto, CJU<"'r da dccora(i.o ckmcntar da obra. I:: para mostrar q ue não é f~1cil chegar a uma composiç;'io tàu rac:ion;~ l , tão elegante e a paren temente' tão esponr:inea e f<ícil, para acentuar todo o merecimen to desta bela constru- ção, basta lembrar o clt>plorável aspecto das cdilicações e m cimento armado que se alastram pelos Estados Uni- dos c pela Ir;lia, pela luglaterra e pela Françil, reconlan- do parti cu l<~ rmt>nte as casas em n·1ncnto scmi-annato de Alzano d i Sopra c a memorável casa d o cngt>nheinJ lle n nc biq ue, em Paris- em que, ora s1· descur::t inll·i- ramento:: du efe ito arqu itt>lônico. tratando ape nas chl pa rte COIISI.nltiva e utili1ária, ora, como no caso da Villa Hcnnt>biq11e, se sacrifica todo o cfei lo decorativo, afo- g-ando a construção de cimento arm:-tdo e on uma imit:-t- ção ridícula c co m p!icad;~ de a h·cnari;~ de pedra [...]. É que é cfetivanwnl c difícil e~cap;n ú insensível IT- pc li<Jw elas velhas u orm:~s ci... composição, adaptar-se a u m mate-rial intciramenle novo, se-guindo uuicanwntc as indicações do bom senso, procurar uma composição geral <" um;o decoração inspiradas na própria constrll- r;io, chegando, e nfim , a uma obra o riginal, inteligente c bela [...] E essa é precisamente a dificuldade que su- pe ra mag-istralmente o iusigne <~rqu ileto . que nos dá com a Estação Mairinque u m brilhan le exemplo a se:>- gn ir, no camin ho ela reabil itação esl ética d o cimc11 to arm<~rlo, túu cedo t> tão ít~j usta mt"n LI:! con den:~do u .llllO coisa fund;tllwn talmente dt>sgraciosa c fe ia [...] [P. J. 1HJX, pp. 189-190]. Na primeira década elo século 20, a Esco- la Politécn ica de São Paulo ainda comple tava seu prime iro decênio de.: funcionamc.:nto, c a tarefa de buscar e organizar o conhccimcnto ciell tífico era urna prioridade. Em 1899, criava-se o Gal>i- uetc de Resistência de Materiais, constiLuinclo um laboratório de ponta em tecnologia da cons- trução. Cottb<.: a Hyppoli to Pujoljúnior, quando estudante, diri)!;ir a elaboração do Manual de Re- sistência dos Materiais, publicado e m 1905 pelo Grêmio Politécnico; assim como, dois a uos de- pois, já como professor da Politécnica, realizar urna viagem por laboratórios de ensaios de ma- teriais na Europa [Pujul Júnior 1907]. Man uais pioneiros de concreto armado corno os d e Gé- rard Lwergne (1901), Cesarc Pesenti (190fi) ou catálogos da Fxpanded Metal (1905) de Londres ou da /VlPtal déployé de Paris eram publicaçôes acessíveis en tre os en genheiros em Sio Pa ulo. Victor Dubugras beneficiou-se de um contexto fe bril ele capacitação tecnológica na escola em que era p rofessor, e não foi grat11iLa a admiração de seus alunos <]llando o mestre respondeu ao entusiasmo tecnológico corrente corr.t uma apli- cação judiciosa do novo material numa obra ar- quitetonicamente elaborada.
  • 30. Não há registros, todavia, ele novas expe- riências dessa natureza, ou ao menos com reper- cussão equivalente. Dubugras aparentemente prosseguiu sua carreira sem repetir o radicalismo coustrutivo experimentado n a estação Mairin- que, mas continuou como um arquite to aten to <lO <~mbicn tc inrcrnacional c local. Recém-ch ega- do ao Bntsil, co111 po11co ntais d e vin te a nos d e idade, abraçava a linguagem neogótica; com pou co mais de trin ta anos, praticava o Arl Nou- vcau sim ultaneame nte aos seus colegas euro- pclls; prúxi111o dos q11arc nta anos, na pri111cira década do sécu lo 20, desenvolveu experiê ncias f!llC o filiariam ao "gr11po racionalista", detecta- da por Ribeiro de Freitas, em 188R, a partir ele categorias elaboradas por César Daly. Aproxi- mando-se <lOS rinqt-tcnra anos ck idade, VicLOr Dubugras embarcou numa nova experimcnta~·ão rorrnal, inclllindo-se entre os pioneiros que, na metade da década de I!) I O, adotariam a arquiLe- tura inspirada na arte tracl irion aI hrasi le ira: o n eocolonial. O FUTURO NO PASSADO O ano de 1914 pode ser considerado como a data inaugural de um movimento que incorporou um componente inédito no debate sobn· a modet·nização da arquitetura no Brasil. Nesse ano, Ricardo Severo ( 1869-1940) profe- ri u na Sociedade de Cultura ArlísLica um a con- ferên cia, "A Arte Tradicional no Brasil", preco- nizando a valorização d a .arte tradicional como man ifestação de nacionalidad e e corn o elemen- to de constitui~·áo de uma arte b rasile ira. Dis- corrcnelo sobre ;.~s o rigens portuguesas da cultu- ra brasileira, Severo defendia o estudo da arte colon ia! como orientação para "perfeita crista- lização da nacionalidade". Se·ero não defendia uma postura propriamente conser vadora. For- mado engenheiro civil e de minas na Academia Politécnica do Porto, em 1891 exilou-se no Bra- sil devido ao seu envolvimento com o movimen- to republicano português, preconizador ela im- l!n A nlirnlrrnilll 110 Nr>nro/oniol • .') 5 plan taçiio da democracia ern Portugal- afinal be m-sucedida em 191 O. Entrc 1H9H c 190H rcror- nou ao seu país de origem c editou uma publi- cação de valorização ela cnltu ra rr;.~d icional por- tuguesa, Portugálirt, com trabalhos de etnologia e a rqueol ogi<~ , sua contribuição para 11111 movi- men to de afirmação da cultura l u ~a em curso em Portugal na virada do século- iniciativa que se confund ia corn as conviq:úes republicanas. Radicando-se de fini tivamente no Tirasi l em 1909, associou-se ao maior escritório de enge- nharia e arquitetura e m São Paulo, o Escritório T{·cnico Ramos de Azevedo, c iniciou seu prose- lilismo por uma "arte nacional". O "culto à tra- rli(;1o" já era mna posi~:ão revelada com sua ati- vic.htdt: "lusilanista" em Portugal desde o final elo ~éculo 19, c sua atuação p rosseguiu 110 Brasil, transro r mando a ex<~ltação ela raiz cultural c é tnica portugu esa no fundam ento da a rte bra- sileira. Era uma compatível corn u11hão da creu- (a republicana e luso-nacio nalista co m o em er- gente ufan ismo elo Brasil elo início do s(:culo 20. Seu discurso, todavia, era u ma especulação sobre o presen te: Não procurem ver, meus senhon:!S, nesta veneração 1radicionalista, diluída em nostálg ica poesia do passado, 1 1rn~ Jnan if<'sf"a(fio d(· ''saudoslstno" rontc'"tn tico t' rt't rúgn.L- do. Com efeito, para criar urna an e que seja nossa c do nosso tempo. cumprirá. qualquer que seja a orientação, CJII<' não se pes()uisem motivos. origens, fontes de inspi- ração. pa1<1 muito lon~c de nós próprios. do meio cn1 qul· tleco1 n·u o uosso passado c no qual Lerá que prosseguir o nosso fut uro. Ficará he m explícito qne não se intima ao anisla de hoje a postura iuerte tl>t esfinge, voliada e m adoração estática para os mitos do passado, mas si111 a atilllde viva do caminhante que, olhando o lüwro, tem de seguir um caminho clcm a•·cado pela cxperif nçia e pelo estudo do passado, e CL0a única diretriz é o progres- so e a glória das artes nacionais [Sevcm 1916, p. RI] . A publicação de sua conferência de 191.4. e de outra palestra, proferida na Escola Politéc- nica de São Paulo em 1917, constituem as pri- m eiras tentativas de sistematização do conheci- mento sobre a arquitetura tradicional brasileira. Todavia, a manifestação pioneira de Severo não encontrou rcbatimen to imed iato em for ma de obras realizadas, porquan to a deflagração da Pri-
  • 31. 3 G • A rquilelllros //() nrasil ··.. I flg. 26 - Velha egreja de Santos. R. lht"raçào utilizad;, por Ricardo Scv<·•·o na conferl-n cia '', Arre Tradiciun:1l n o Brasil ", <'111 j ulho ck Jql 11. xm·ira Guerra (1914-1918) repercu!i11 negativa- mente no ritmo cb construção civil no país. Vic- tor Dubttgras, n esse se n Lido,já em 1915 pn~jeta­ va as primeiras casas de inspiração tradicio nal na cidade de Santos [Motta 19571 . A p ropagação dessas idéias lastreava-sc num sentimento de nacioualismo q ue se inten- sificava desde as com e111ora~:ões do quarto cen- tcn;~rio do descobri111cnto elo Brasil. A década de l 9 LOconheceu a institucionalização de rno- vimenLos nacionalistas - como a Liga ele Defe- sa Nacional, criada e m 1916 pelo pocra O lavo Bilac ( 1865-1918 ) [Naglc 1974], ou o recrudes- cimento de movimen tos capi taneados por insti- tuições como a Sociedade Eugê nica ele S. Pau- lo ou a Liga Pró-Saneamento elo Brasil- críticos do falso ufanismo c da situação médico-sanitá- ria no Brasil lLobato 1918] . Foi o proselitismo do médico e historiado r de arte José Mariauo Filho (1881-1946), no Rio de .Janeiro, no entanto, que assegurou maior re- percussão à linha tradicio nalista com maiores conseqüências que a ação ele Severo em São Pau- lo. Respousávcl pela denominação "ncocolonial" ao movimento [Maria no Filho 1926], seu ativis- mo, a p<1rtir d e 1919 como ideólogo e incentiva- c <w n.() "'~~ ·o.n:~'t~.)~ c '<I.IÚ'i>t'à~, a'm-iu esp~ço para que uma série de obras públicas d e porte fossem ex~cutadas com inspiração na arq uitetu- ra tradiciom.d brasileira. A pregação de Ricardo Sev<.:ro c .losé Mariano Filho roi bastan te bem- sucedida em d uas frentes d istinlas. Na Exposiç;'io d o Centenário no Rio de Janeiro em 1922 -co- memoração da inde pe ndência brasileira -, al- guns elos principa is pavilh<ies foram projetados dentro do espírito neocolonial. De o utro lado, no mesmo ano d e 1922, a Sernana de Arte Mo- clcrna, prou10vid a em São Panlo por um ?;rupo d <-' jovens inte lectuais, re unia no Teatro IVl unici- pal um:.t exposição de pintura, escultura e arqni- tetura, com apresenlação de músicas e leitura de textos e poemas deliberadamen te chocantes para o~ padrões r~ rtísticos vigentes no país- a primei- ra manift>st<t<;ão antitrauicionalista, cultivada com a inspiração dos movimentos artísticos modernos eurnpcus, que ;)ntadureccria a partir ele então. Touavia, a pa rticipa1,:ào da arquiretur<J r<.:stnniu-se aos esboços ck dois arquitetos: Amônia Garcia Moya (1891- 1949) e Georg Przyrem bel (1R85- 195fi) - o primeiro, com desenhos de volumes gcomctrizados cuja i nspir::~ção podcri ::~ ser tau to a arqnilctura asteca qua nto a m editerrânea; c o segundo, polonês de ror maç;io germânica, mos- trou o projeto ele sua casa de praia, no padrão ela ar(ju ite tura tradicional brasileira [Amaral 1972, pp. 148-156; P.atista 199 1]. Marir~no patrocinnu, no lnsrituto Brasilei- ro de Arquit<.:tos, alguns concursos d e arquitetu- ra e mobiliário e interh:riu junto ao governo para que, nos editais dos concursos para os pro- je tos elos pavilhões do Brasil na Exposição de Fi- ladélfia (1925) e na exp osição de Sevilha (1928) e do projeto do novo edif'ício da Escola Normal (1928), obrigatoriamente se in spi1·assem ua ar- quitetura tradicio nal brasileira [Santos 1977, pp. 98-100]. O recon hecimento oficial do neocolonial e a construção de im portantes edifícios públicos nessa linh a vulgarizaram os elementos ornamen- tais ele gosto tradicio nal a ponto de serem apro- priados, em todo o Brasil, em edificações tão
  • 32. TJn Anlímlrmío! rto Nmm/onial • 3 7 9. F.snitúrio Tt('toico F. P. Ramos d e Azevedo; Sociedade Port11g11t"a dt' lkncllcência de Santos. Sl'. dccada de 19:>0. distin tas C]Uanto h abilações populares o u postos de gasuliua. J aplicação indiscriminada do n eo- colonial gerou u ma acalorada discussão entre a rq uitetos e artistas - tendo como opositores sistemáticos os de fensores d o pensam ento Tka 11x-art s mais o r10doxo, ou que julgava1n a arte colonial brasileira ou a barroca p onuguesa destituídas d e conteúdo estético significativo . O debate culminou numa série de reportagens or- gani;.ada por Fernando de i.zevedo (1891-1971), puhlicada no jornal O i;'stado rle S. Paulo em 1926, sob influê ncia de Severo e Mariano. At.everlo , posterio rmente, se transformaria num dos mais importantes educadores brasileiros, o~o pensa- mento se manifestaria em totalidade nos vários tomos de A r:utt1tm Rmsi!Pim, editaria em 1 94~. É in tcrcssau te registrar o cará ter de "progresso" q ue os defe nsores do movimento a tribuíam ao neocolo nial. Severo reafirmava suas convicções mani festadas em 1914 e radicalizava os objetivos de transformação: A açio primitria tem que ser a r.-.,·olurâo; ma~ a e~~êu­ ci<~ rl:1 obra constru tiva é apenas a tradição; c :1 meta de~­ St> I r:1dicionalismo rt>Yolucionário i- o nwsmD d esen 'olvi- IIICntu do progresso que todos os p o'OS buse<llll 11:1 t 11ai~ a ngu stiosa elas ansiedades. F.m m<ttéria de arre, alistar-me-ia "a priori'' como "fu· n orist;o"- consoante o ten110 em moda -s<· este pseudo· fuwrismo não sig-nificasse um ilogísmo ana rcptil.an te, se uão fosse urna n eg;niv<t~ se não dt:nnn r.iassc un1n fac:~ ­ çào ele fa to retrógrada f...1 Po rém este tradicionalismo revolucionário é também futuri sr:-~ [Sever·o 192fij . O d epoimento do pintor José Wasth Ro- drigues (1891-1 957), na mesma série de reporta- gens, constataya uma d imensão mais ampla no neocolonial: Não faço mais do que seguir um movimento que me parece universal. O regionalismo é :-t const>qi'téncia do
  • 33. _:) 8 • ~rquile/JirtiS 110 Nrosif excesso ele cosmopoli tismo. O que, fatigados de lellla- lias, prnc nralllOS n a arquitetut·a colonial é arte que repousa o espíri to. traga o ca r:ttcr das coisas brasileiras e falo llla is, tanto an scntimt"nto como?. scusi bilidack. Niio quero a arq nitewra <lntiga na sua rigidel. mas uma arte moderna que a í proc urt" unt elemento de renova- ~·;io [Wasth Rodrigues 1Y2t"l. O movimento nt>ocolonial teve sen apo- geu na déc:-~rl a de 1920; praticad o ou apropria- elo popularmente na~ décadas seguintes, a força i11staurado ra co11tida e m seus postulados foi fe- necendo em imitac,:ôes iuco nsistcntes e destitu- ídas da carga ideológica formulada pelos seus idealizadores. A úlrima o bra neocolonial impor- tan te executada no Brasil foi o edifício da Facul- d aelc ue Direito ele São Paulo, projeto de Ricardo S<>vero inaugurado em 1939; a mais ex- te nsa concenTração d e arquitetura neocolonial, a cicladc de Ottro Preto, lt>ve a maior pan e das construções qtte caracterizam o atua l cenário "colo nial " e rguida após a dé cada de 19::!0. No entanto, nào se pode afirmar que o movime nto se snstcntasse com uma consistên cia perfeita. Em. Fc n,-;1.ndo de. 1'I .t::'>'CÓO - parü <ário <lo neo- co lnnial-, nas conclusões do d chatf> flUe pt·omo- ""-'-' "" "n,.~p1 e u sa, vi s lumhr::~va-se inadvertida- ment e a principal crítiot ao movimento, mesmo que a co nsi dera~,:ão não se <<tracrf'rizassc como uma autocrüica consciente: A rcuasCI"IICa da arte na a rquitcttn·a se dará com a con dição cssc·llcial de se ;tpo iar "sobre princípios"<' u ão «solwe fonnas... Os verdadeiros artistas têm q ue lear sem- pn· em conta a va riedade complexa das l"ondi çf>cs m esnlúgicas e sociais c abandonar o erro em q ue incidem ti·e(jücntemente os arquitetos de adstringir-se à reprodu- ção d e formas ct ~o sen tido não co nlwcem e n;o procu- ram p enetrar. Nas mais belas épol"as cl<-- arquitetura hou- ve sentpre utlla concord ância en tn' idéia e expressão, entre a estr utura c a forma. Que é originalidade senão a cxprcssãojusta de uma idéia, a illt erpt-ctaç~to ornamental das formas clrrivadas dos materiais c a adaptação exata dos motivo~ ú vm·icdadt· fun cio nal das construçõeú , vc1~ d:1cle, porém. é fJUC não temos tentado ver claramente que ess:1s disposições c formas de outras épocas, Cl~a rcs- tauraç<io se p•·ocura, só se dci'Clll restaurar, pot·qHe elas, por exprimirem as nossas o rigens c a nossa tradição. es- tive ram, como estão ainda, em funçiio elo meio físico para o CJUal se transpvnaram [Azevedo lY26b] . i aparente postura liberal e aberta à rno- uerniza~·;io com a clualíslica fo rmulação de um "tradicionalismo n .:voluciou;:irio" não foi sufi- cienLc para Ricardo Severo assimilar o cubismo, o uadaísmu, () ··geometrismo rctilinear" na arqui- tetura c o jazz-band- mauifestações que, em seu conjtil1lO, se caracterizavam para ele co mo "no- víssima aspiração social, a praga nevrálgica que assola a sociedade mode rna", ·'vícios ou molésti- as d os sentidos ou do gêtiio" [Severo l9::!6] .José Mariau o Filho adotava um lingn~jar de c~quiva­ lentc virulê ncia <to tratar das manifestações da arquite tura funcionalista européia em curso nas décadas de 19::!0 e 1930, taxando-as de "comunis- tas" ou 'judias" fMariano Filho 1 94~]. Essas apre- ciações revelavam as fronteiras de um liberalismo que admitia uma ruptura ftmdame ntada e m pa- drões do tradicionalismo colonial ou ibérico, avessos à ortodoxia do fechado sistema estético Beaux-arts, mas incapaz de estabelecer uma crí- tica coeren te sobre a irnprevisibilidaclc do novo, representado pelo fnncio nalismo europeu, emer- gindo daí uma coleção mais de ata(el ?H~<.:.<W­ ceituosos que ele argumentos fund amentados. N~>.o cnt' -..~ c.úúc~ o-:; neocolon·ta)istas contra o fun cionalism o fosse absolutamente infundada; mas a carga de p reconceitos político-ideológicos uebilitava a alltCnticidaclc d<t crítica. Essa neg-ação completa do (quase) total- men te novo permite..: situar o neocolonialismo 1111ma posição simétrica ao sistema Bea11x-ans: ambos se sustentam c se legirimam no passado, com discursos tautológicos- de monstram teses rcpetinuo-as com palavras diferentes. O perfil distinto na rctó t·ica ncocolonial é o tempero na- cionalista; o repertó rio sistematizado das formas do colonia l hrasilei•-o ou elo barroco ibérico e n- quan to indiciador de manifestação nacional, no lugar das regras clássicas, seria o rompimento <'i norma . Efe tivame nte, esses aportes n ão p ro- põem uma ruptura estrutural - apenas a substi- lltição de formas. Mtrdam-se as formas, não os princípios. O ncocolonial, n a prática concreta , afig uro u-se como uma variação do ecle tism o no que busca eleger um "estilo " mais ad equado para o fim que se tinha em vista, num con texto
  • 34. ainda de dcsconcertantes d ikums sobre a nova arquite tura d o século 20 - uma tentativa e m meio à "perfei1a desorganização de verdadeiras escolas'', como havia escrito o engenheiro Ber- nan lo Ribeiro de Freitas em 1888. Não se nega, erllretanto, ao episódio neo- colonial na arquitetura brasileira um papel signi- tic;.~ ti vo no debate das idéias sobre novos con cei- tos arquitetônicos. O discurso rlc seus defensores não é isen to de uma vontade modcrnizadora no sentido de atualizar a arquitemra face às transfor- rnaçôes da sociedade c da cultura material do iní- cio do século 20. Independente do referencial ele "modernidade" que adotavam , o principal aporte da postura n eocolonial foi a introdução do con- traponto 1egionali.sta - a busca de uma arquitetu- ra identifi carlora d<i nacionalidade - como fator de renovação. O substrato conce itual dos líderes do movimento era de n atureza reacionári<1, po- rém intcrpre1açiics mais brandas- destituídas do /Jo An.liroloniol ao Nt'O(I)/nnial • 3 9 sectarismo c capazes de reformular com sere nida- de os radicalismos- for maram a base de uma ati- lude ele assimilação de posições aparentemente antagônicas, como o próprio Ricardo Severo for- mulou, mas não materializou: o "tradicionalismo revolucionário". A busca de uma arte moderna no contexLO brasileiro foi alimentada por um in- lcllSo debate da questão da nacionalid<1de e ela aulonomia nacional- do w sco ufanismo da vira- da do século, atravessando as instituições eugenís- ticas c redunda11do no patriotismo mistificado das comemorações do centenário da indepen- dência. A versão arquiLetõnica desses episódios ela história brasileira elas prime iras décadas elo sécu- lo consubslanciam-se na mirabolante campanha neocolonialista, CJUe, em sua essência, trazia algu- mas raízes d(l vertente de arquitetura moderna <lllC vai irromper no Rio deJaneiro, na década de 1930, prolagon izacla por um ex-discípulo do nco- colouial: o arquite to Lucio Costa (1902-1 998) .
  • 35. 3 MODERNISMO PROGRAMÁTICO 1917-1932 A raqu it11tnm no Bmsil está jJositivamente deslocada das duas correntes adversárias em. que se dividi', do jwnlo dn vista ltTlist/t:o, a concepção da aTquill'lum wodenw. Nüo estó, r/,, Jato, ·r1f'11l rom os rrfnrmrulorr's rnwlnl'ionários qu.f' procuram na arquitetum um jO[ÇO de fonnas geomélriras jJrirnâ1·ias ordenadas no esjHtÇO virtu.a.l f' df' u.m mráter snrial mormdo; IUWI rom os tmrlirionalistas que a querem f'ncamda sob uma ój>tirn loral, rrn todos os aspectos qui' loma rw S(!'U ambiente. Nem SI' nriPnla 110 Sl'ntirlo rlP uma "arte mundial" em rptP sf. apaguem as díji'YI'TI(fl' n'gion!tÜ I' ruja estética ·resulit' do umm lhuica de construrão e da so/uçiio de fHob/emas fmrmrumfl' utiliLIÍTios; nem tnilrt vinrula·r a arte âs tmrliuie., lowis e rw rsfJirito da mra. fim uma jJalavm nem é /radicionalista, 11em antitmdirionalisla. Nem nacional, nem "sufJranacivnal ". Definiu-a Montei-ro Lobalo com essa exjJI'I'Hrio Este capítulo é d edicado ao estudo ele uma certa modernidade no Brasil na seguuda década do século 20. Preliminarmente, conviria alertar que esse modern ismo - rle matriz sobre- tudo literária, mas com 'erten tes nas artes plás- ticas e ~rqui tetura - é distinto das ma nifestações motPjorlom: "um jogo internacion al rü dísf){lmftl.l'... " F ERNANDO DF. iZEVEDO r1926a] modernistas - ele raízes literárias - que se mani- festaram na América Latina ao longo da segun- da metade do século 19 [Franco 1985]. São Paulo, na década de 1910, j á se gaba- ritava como a grande metrópole brasileira d o sé- culo 20. Lugar onde a riqueza do café patrocina-
  • 36. 12 • AIYfllitetums 110 Brasil va um quadro de prosperidade material c capa- citação iutlustrial num Rrasil ainda dominant.e- rnen te rural. Era 11m am bicnte provinciano, mas a elite urban<t espelhava-se nos cent-ros irradia- dores de cuhura fora do país. É consensu;d, cutre os historiadores, que o marco inicial do movimento moderno no 11rasil aconteceu em São Paulo, t>m dezembro de 1917: a exposição de pinturas de Anita lvlalbttti (IR96- 1964). A jovem artista- qne expunha o scn apren- dizado artístico na Alemanh<t e nos Fstarlos Uni- dos- não pretC'ndia, com suas telas de car{ucr.faurlt', deflagr<~r nenhum movim ento. Mas a reaçi'ío negativa, sobretudo a do escritor Monteiro Loba- to (1882-194B), provocada pelas suas pintmas sem ncnhum;t relação com o academisrno c o naturalismo vig·eutes chamo u a atenção de jo- vens intelectuais <]Ue se solidari ;.o;.~ram com a pin- tora. Poetas,jornalistas e artistas reuniram-se em torno de 11m debate: o car<Íter conservador, "pas- sadista" do meio artístico. Articulava-se o primei- ro g-rupo modernista brasile iro. A pintn ra catalisou o movimento, a reu- nião organizou-se com a concorrê ncia sobretudo de literatos, mas o sentido de "movimento" visa- va algo além das artes plásticas c da lite ratura: a causa era ;.1 renovação do ambiente cultural em geral- <tlimcntada com os valores da vanguarda e uropéia, sem necessariam e nte aderir-se a uma ou outra corrente literária ou p ictórica. 1 pri- meira man ifestação conjunta desse grupo (con- tando também com a participa(;io de intcleclll- ais do Rio de .Janeiro) aconteceu em 1922, em pleno ano da comemo•·ação do centenário da in- dependê ncia do Brasil. Em fevereiro, o Teatro Municipal de São Paulo abrigou a Semana ele Arte Moderna: três sara11s com literatnr::l e mú- sica, urna exposi~:ão d e arquitetura, escullllr<t e pintura. A reação do público fo i de escândalo, mas o desafio estava perpetrado. Periodiza-se como um primeiro momento elo modernismo brasileiro os anos 1917-1924: urna fase iconoclasta, em que o modernizar era permeado pela polêmica dos modernistas contra os valores passadistas, acadêmicos. A preocupa- ção era opor-se ao passadismo, era a busca d a atualizarão estética sem a oricntaç;"io de corren- tes específicas. MODERNISMO NAl'IVO Uma segunda l~1sc <"stabelece-se eJttre 1924 e 1929. Naquele ano, o escritor e jomalista Oswald de Andrade (1l')<.J0-l954) publicava o "Manifesto Pau-Brasil ", in troduzindo uma problemática até então inédita na discussão da literatura moder- nista: o nacionalismo. "O modernismo passa a adotar como primordial a questão da elaboração de uma cultura nacional: a qualidade da obra de arte uão reside mais no seu caráter de renovação formal. Ela deve au tes refleti r o país em que foi criada". O ide;'u·io d o grupo modernista, a partir de 102'1 , subordinar-se-ia a um princípio: "só atingiremos o universal passand o pelo nacional" [Moraes 107~. p. 49, passim] . Diferentes grupos formavam um mosaico de posições sobre utna arte brasileira de dimen- são univers<tlizautc. A combinação positiva entre trarlição e mo<lcrn id<~de er<t um discurso recor- rente na retór-ica dos apologistas da arquitetura neocolonial. Sérgio Bua.rque d e Tlolau da ( 1902- 1982) e Pn1dente de Nforaes Neto (1904-1982), modernistas diretores da revista l~slélim, do Rio de janeiro, rlcfendiam uma posiv~w antipassa- dista com uma rcin terpretação do alcan ce do modernism o: 'lodos os que antes de nós <>ncararam o problema de uma arte brasileira seguiram dois processos que hoje nos parecem, sen iio negativos, pelo mt"n us iucficazes. Para tti i S a questão cifrava-se na criação de 11111a espécie de Jnirologia n<u.: ional, de nma lenda heróica ~ man eira das que possuíam o utros povos. Não tardon que essa rendf>ncia parecesse artifici;1l e fillsa. A ouu·a ten tou iuspirar-se em motivos brasileiros, mas salientou apenas o que havi<t de pitoresco, de exó- tico nesses motivos. Quer di zer: condenava-nos a se- r estra ngeiros dentro do Brasil. [...] Penso, ao con trário, que se a tendência modernista pode oferect>r o aspecto de um rom pimentO com a con- linuidade de nossa tradição é porque julga que essa tra- dirão (jUase nunca re fletiu o sentido de nacional idade .