SlideShare uma empresa Scribd logo
1 de 5
Baixar para ler offline
Práticas artísticas, crítica e educação do gosto na imprensa do Recife nas primeiras
décadas do século XX: contribuições da micro-história.

Natalia Conceição Silva Barros
natibarros1@yahoo.com.br
Recife, outubro de 2009.
Ao longo do curso, debatendo o percurso da micro-história e os usos da
biografia, percebi como certos pressupostos teóricos e procedimentos metodológicos
oriundos da micro-história já estão completamente incorporados ao cotidiano da
pesquisa e escrita da história dos historiadores formados na última década. Talvez, a
discutida compatibilidade entre escalas de investigação macrossocial e microanalítica
tenha perdido um pouco de relevância no momento em que a produção historiográfica
encontra-se mais e mais distante do desejo de rótulos e vinculações a programas ou
escolas. Parece quase natural, por uma série de questões que vão desde as péssimas
condições de nossos arquivos e estados das fontes documentais até o interesse em
conquistar um público leitor de não especialistas, a incorporação na maior parte das
narrativas historiográficas do interessante jogo de escalas. A passagem do macrossocial
para a observação microanalítica, contribuição valiosa para o trabalho historiográfico, a
meu ver, consolidou-se como procedimento inerente a disciplina, sendo vastamente
utilizado por narrativas de corte social e cultural. O cuidado com as fontes, a atitude
antropológica com o passado, também pode ser apontado como uma herança microhistórica. A maior parte dos jovens historiadores, já faz a leitura do documento levando
em consideração os filtros, os vendo como produtos de uma inter-relação especial entre
os sujeitos envolvidos em sua produção.
Dito isto, apresentarei minha incipiente pesquisa. No estado atual não tenho
ainda uma narrativa estruturada, nem questões muito claras. De toda forma, fiz um
esforço para delinear um pouco meus objetivos, fontes e possíveis contribuições numa
aproximação com a micro-história.

A Revista CRÍTICA, de propriedade de Clodomiro de Oliveira, era um periódico
de política, atualidades, questões sociais, letras e artes de publicação semanal,
circulando desde junho de 1929 sempre aos sábados com uma média de 16 páginas. O
redator–chefe era José Firmo de Oliveira. Mesmo constituindo-se quase integralmente
de artigos e notas redacionais de caráter político, nas suas páginas inseriam-se
produções literárias, crônicas cinematográficas e históricas, além de notícias e
comentários sobre as exposições de artes plásticas no Recife. Além de acompanhar os
principais espaços de exibição da produção artística do período, ou seja, os Salões de
Arte que aconteciam na cidade e as aberturas de exposições nos ainda poucos
ambientes, os redatores teciam comentários sobre as obras expostas, os artistas e,
curiosamente, sobre o perfil do público e da crítica. Como acontecia em outras cidades
do Brasil, nas primeiras décadas do século XX, de modo geral, as críticas de arte
explicitavam-se em duas categorias, nas notas e nos artigos de divulgação de diversos
eventos tais como exposições, lançamentos de livros, concursos públicos para a
construção de monumentos, prêmios concedidos aos artistas, trabalhos realizados sob
encomenda. Segundo os redatores da revista, o desinteresse dos críticos, que a cidade
supunha ter, refletia a bradante ausência de cultura e gosto e o fato de Pernambuco ser
de todos os Estados Brasileiros o mais fechado à beleza e às manifestações da arte
legítima.
Mas, que arte legitima era a admirada e incentivada pelos que faziam a Revista
Crítica e demais meios de comunicação da cidade? Como se configurava a produção
artística da cidade nesse período? Quais os embates presentes entre artistas e críticos?
Que gosto era esse ausente nos moradores do Recife? Qual o papel da imprensa na
difusão da produção artística nas décadas de 1920 e 1930? Que gosto estético era
promovido e estimulado na cidade?
A pesquisa que atualmente desenvolvo no doutorado em História, partindo
destes questionamentos, pretende mapear a relação dos artistas com os jornais e revistas
entre as décadas de 1920 e 1930. A investigação tem por foco perceber e analisar o
espaço concedido para a divulgação dos seus trabalhos, para os espaços de exposição da
produção plástica do período e, principalmente, o discurso crítico veiculado na
imprensa, se posicionando sobre a trajetória e obra dos pintores na cidade do Recife e
sobre o gosto estético dos moradores. As revistas, jornais e pinturas são as fontes
fundamentais. De forma indireta, compõem o corpus documental memórias, coletâneas
de textos e manuais de história da arte.
Essa proposta insere-se em um movimento crescente de interesse por pesquisas e
diálogos sobre a história e a historiografia das artes plásticas em Pernambuco,
fomentado por instituições de artes do Recife e por alguns críticos, artistas e curadores. 1
O interesse pela temática em questão surgiu durante as pesquisas realizadas no grupo de
estudos do Museu de Arte Moderna Aloísio Magalhães, quando constatamos a
predominância de um material impressionista e memorialístico sobre as artes plásticas
no Recife e a ausência de estudos sustentados pela pesquisa documental e teórica.
Portanto, embora apresente um recorte temporal e um objeto de análise específico, essa
pesquisa não pretende se limitar à interioridade do seu problema, mas, assim como nos
orienta os pressupostos da micro-história, espera-se iluminar questões mais gerais,
obviamente sem perder as especificidades do objeto de investigação. Até esse momento
da pesquisa, a questão geral que se delineia é: que historiografia da arte produziu-se em
Pernambuco e como essas narrativas dialogaram com a produção nacional e
internacional?
Pretende-se criar uma narrativa mais densa, que traga, mesmo que
fragmentariamente, percursos e trajetórias de vida de personagens artísticos que hoje
conhecemos apenas por um nome. Nesse percurso as orientações de Carlo Ginzburg são
fundamentais: o nome é o fio condutor para reconstruir o entrelaçamento de diversas
conjunturas. Seguindo o fio dos nomes, no labirinto documental, será possível traçar
caminhos para a construção de biografias e de redes de relações que as circunscrevem.
Além dos irmãos Rego Monteiro e Cícero Dias que outros artistas circulavam na
cidade? O que nos conta sobre o campo artístico, a trajetória de Fédora do Rego
Monteiro ou de Murillo La Greca? O que sabemos sobre Joaquim Monteiro, J.
Menezes, Carmencita Brennard, José Noberto,José Neves Daltro, Álvaro Nogueira,
Álvaro Amorim, Aguinaldo Lima, Helena Rodrigues Pereira, Maria Sarmento, Olintho
Jacome, Maria Pedrosa, Edson Figueredo, artistas participantes do 2º Salão de Belas
Artes de Pernambuco? Nesse momento de levantamento documental, de fontes no mais
das vezes esparsas, percebo a necessidade de construir uma narrativa que incorpore a
experiência desses indivíduos, dando crédito aos desvios, incoerências e desordens,
inerentes aos contextos socioculturais.
De forma ampla, poderíamos apontar o distanciamento dessa pesquisa – práticas
artísticas, crítica e educação do gosto – dos temas privilegiados pela micro-história:
história de indivíduos, comunidades, pequenos enredos envolvendo gente comum, etc.

1

Moacir dos Anjos, curador e pesquisador da Fundação Joaquim Nabuco e Cristina Tejo, crítica e
curadora independente, podem ser citados como os grandes impulsionadores da pesquisa sobre artes
plásticas em Pernambuco.
Não se constituindo, dessa forma, em uma futura narrativa micro-histórica. No entanto,
penso que, no meu caso, a aproximação a essa vertente historiográfica dá-se muito mais
em termos metodológicos e teóricos. Tenho como horizonte na minha prática de
pesquisa e de escrita da história pressupostos fundamentais da micro-história: a história
como ciência do vivido, o contexto como campo de possibilidades históricas, o
documento como produto e produtor de experiências e a necessidade de pensar
estratégias narrativas alinhadas com o objeto e percurso de pesquisa.

Pretendo

empreender incursões do tipo microanalítico para fazer emergir o cenário cultural dos
anos vinte e trinta. Não partindo de questões gerais dadas aprioristicamente, mas,
focando a documentação e deslocando e criando as próprias hierarquias de interesses da
pesquisa. Porque mais importante que o caráter geral da cidade do Recife, amplamente
já pesquisado, será a construção da teia social concreta onde os artistas e jornalistas se
moveram, exercendo múltiplos papéis sociais e individuais.
Pensando assim, torna-se interessante seguirmos, embora nesse momento de
forma aligeirada, o percurso de um desses indivíduos. Na Revista Crítica, as pinturas de
Murillo La Greca eram citadas como exemplo da considerada “boa arte” e o artista
apresentado como um predestinado a pintura, um vocacionado. As paisagens, os
crepúsculos nos quadros de La Greca eram exaltados. Em 1930 havia três anos que esse
artista tinha voltado da Europa, após sete anos de estudos nos centros de educação e
cultura artística da Itália, considerada o mais ponderável laboratório artístico do
mundo. La Greca, nesse período, fixou seu atelier em Roma e freqüentou durante quatro
anos o Real Instituto de Belas Artes e Academia de Nu (REVISTA DA ESCOLA DE
BELAS ARTES DE PERNAMBUCO,1957: 33). O público da cidade pôde conhecer
algumas de suas obras no 2º Salão de Belas Artes de Pernambuco, inaugurado em 15 de
maio de 1930. Numa matéria de 1930, os redatores da Revista Crítica definem esse
artista: Murillo La Greca não confia somente no seu talento. Ele estuda e trabalha,
fazendo da sua arte um sacerdócio (CRÍTICA. 24/05/1930). Perseguindo os fios da
história, descobrimos Murillo La Greca como professor da Escola de Belas Artes do
Recife. Que outras relações se constituíram? Que papel teve esse artista na formação de
artistas nos anos trinta? Como construiu e difundiu os valores estéticos do seu grupo?
Apenas por meio de uma pesquisa documental intensa conseguiremos avançar na
resposta dessas questões, tendo em mente que algumas delas podem ficar sem respostas,
mantendo o caráter lacunar da disciplina. De toda forma, pretendo cercar as
experiências dos artistas na cidade para, principalmente, entender as redes de
pertencimento desses com os leitores dos jornais e revistas. Na tese pretendo criar
quadros comparativos, nisso distanciando-me da micro-história, embora saiba que as
experiências são únicas.

Mais conteúdo relacionado

Mais procurados

Programas de espetáculo como gênero: relações com a produção teatral para cri...
Programas de espetáculo como gênero: relações com a produção teatral para cri...Programas de espetáculo como gênero: relações com a produção teatral para cri...
Programas de espetáculo como gênero: relações com a produção teatral para cri...Taís Ferreira
 
Fontes Históricas, desafios e propostas
Fontes Históricas, desafios e propostasFontes Históricas, desafios e propostas
Fontes Históricas, desafios e propostasDani Chris
 
Nova história cultural e a micro história
Nova história cultural e a micro históriaNova história cultural e a micro história
Nova história cultural e a micro históriaGabriel
 
José d'assunção barros o campo da história - historiografia - fichamento
José d'assunção barros   o campo da história - historiografia - fichamentoJosé d'assunção barros   o campo da história - historiografia - fichamento
José d'assunção barros o campo da história - historiografia - fichamentoJorge Freitas
 
Teatro amador como pedagogia cultural
Teatro amador como pedagogia culturalTeatro amador como pedagogia cultural
Teatro amador como pedagogia culturalTaís Ferreira
 
Carnaval, fato e fantasia
Carnaval, fato e fantasiaCarnaval, fato e fantasia
Carnaval, fato e fantasiaMarcos Goursand
 
Literatura Popular Regional - Alessandra Favero
Literatura Popular Regional  - Alessandra FaveroLiteratura Popular Regional  - Alessandra Favero
Literatura Popular Regional - Alessandra FaveroLisvaldo Azevedo
 
Sarcasmo na Obra de Eça de Queirós
Sarcasmo na Obra de Eça de QueirósSarcasmo na Obra de Eça de Queirós
Sarcasmo na Obra de Eça de QueirósAlunasEseimu
 
Complexo de ze carioca notas sobre uma identidade mestiça e malandra
Complexo de ze carioca notas sobre uma identidade mestiça e malandraComplexo de ze carioca notas sobre uma identidade mestiça e malandra
Complexo de ze carioca notas sobre uma identidade mestiça e malandraIzaac Erder
 
A Nova História e seus problemas (segundo Peter Burke)
A Nova História e seus problemas (segundo Peter Burke)A Nova História e seus problemas (segundo Peter Burke)
A Nova História e seus problemas (segundo Peter Burke)guest3f9c73
 
Historia e literatura e ensino 2010
Historia e literatura e ensino 2010Historia e literatura e ensino 2010
Historia e literatura e ensino 2010adriano braun
 
Resenha do texto historia das mentalidades e historia cultural r vainfas
Resenha do texto historia das mentalidades e historia cultural r vainfasResenha do texto historia das mentalidades e historia cultural r vainfas
Resenha do texto historia das mentalidades e historia cultural r vainfasSandra Kroetz
 
Artigoeduardoafrodescendencias
ArtigoeduardoafrodescendenciasArtigoeduardoafrodescendencias
ArtigoeduardoafrodescendenciasMaiara Siqueira
 
Da história das mentalidades à história cultural - Teoria da história II
Da história das mentalidades à história cultural - Teoria da história IIDa história das mentalidades à história cultural - Teoria da história II
Da história das mentalidades à história cultural - Teoria da história IIKaio Veiga
 

Mais procurados (20)

Matraga31a15
Matraga31a15Matraga31a15
Matraga31a15
 
Nova história cultural
Nova história culturalNova história cultural
Nova história cultural
 
Programas de espetáculo como gênero: relações com a produção teatral para cri...
Programas de espetáculo como gênero: relações com a produção teatral para cri...Programas de espetáculo como gênero: relações com a produção teatral para cri...
Programas de espetáculo como gênero: relações com a produção teatral para cri...
 
Cultura e memória
Cultura e memóriaCultura e memória
Cultura e memória
 
Fontes Históricas, desafios e propostas
Fontes Históricas, desafios e propostasFontes Históricas, desafios e propostas
Fontes Históricas, desafios e propostas
 
Nova história cultural e a micro história
Nova história cultural e a micro históriaNova história cultural e a micro história
Nova história cultural e a micro história
 
Robson Laverdi
Robson LaverdiRobson Laverdi
Robson Laverdi
 
José d'assunção barros o campo da história - historiografia - fichamento
José d'assunção barros   o campo da história - historiografia - fichamentoJosé d'assunção barros   o campo da história - historiografia - fichamento
José d'assunção barros o campo da história - historiografia - fichamento
 
Teatro amador como pedagogia cultural
Teatro amador como pedagogia culturalTeatro amador como pedagogia cultural
Teatro amador como pedagogia cultural
 
Carnaval, fato e fantasia
Carnaval, fato e fantasiaCarnaval, fato e fantasia
Carnaval, fato e fantasia
 
Literatura Popular Regional - Alessandra Favero
Literatura Popular Regional  - Alessandra FaveroLiteratura Popular Regional  - Alessandra Favero
Literatura Popular Regional - Alessandra Favero
 
Sarcasmo na Obra de Eça de Queirós
Sarcasmo na Obra de Eça de QueirósSarcasmo na Obra de Eça de Queirós
Sarcasmo na Obra de Eça de Queirós
 
Complexo de ze carioca notas sobre uma identidade mestiça e malandra
Complexo de ze carioca notas sobre uma identidade mestiça e malandraComplexo de ze carioca notas sobre uma identidade mestiça e malandra
Complexo de ze carioca notas sobre uma identidade mestiça e malandra
 
Emerson Cesar De Campos
Emerson Cesar De CamposEmerson Cesar De Campos
Emerson Cesar De Campos
 
A Nova História e seus problemas (segundo Peter Burke)
A Nova História e seus problemas (segundo Peter Burke)A Nova História e seus problemas (segundo Peter Burke)
A Nova História e seus problemas (segundo Peter Burke)
 
Cronicas de rubens
Cronicas de rubensCronicas de rubens
Cronicas de rubens
 
Historia e literatura e ensino 2010
Historia e literatura e ensino 2010Historia e literatura e ensino 2010
Historia e literatura e ensino 2010
 
Resenha do texto historia das mentalidades e historia cultural r vainfas
Resenha do texto historia das mentalidades e historia cultural r vainfasResenha do texto historia das mentalidades e historia cultural r vainfas
Resenha do texto historia das mentalidades e historia cultural r vainfas
 
Artigoeduardoafrodescendencias
ArtigoeduardoafrodescendenciasArtigoeduardoafrodescendencias
Artigoeduardoafrodescendencias
 
Da história das mentalidades à história cultural - Teoria da história II
Da história das mentalidades à história cultural - Teoria da história IIDa história das mentalidades à história cultural - Teoria da história II
Da história das mentalidades à história cultural - Teoria da história II
 

Semelhante a Práticas artísticas,crítica e educação do gosto na década 1920

Artigo sobre revistas paranaenses
Artigo sobre revistas paranaensesArtigo sobre revistas paranaenses
Artigo sobre revistas paranaensesnincia
 
Artes literatura programa_ii_2006
Artes literatura programa_ii_2006Artes literatura programa_ii_2006
Artes literatura programa_ii_2006jorgefutatahotmail
 
Lidia baís dissertação de paulo rigotti
Lidia baís dissertação de paulo rigottiLidia baís dissertação de paulo rigotti
Lidia baís dissertação de paulo rigottiAline Sesti Cerutti
 
Caderno de resumos III da Semana de História UNEB Campi II Alogoinhas - Bahia
Caderno de resumos III da Semana de História UNEB Campi II  Alogoinhas - BahiaCaderno de resumos III da Semana de História UNEB Campi II  Alogoinhas - Bahia
Caderno de resumos III da Semana de História UNEB Campi II Alogoinhas - BahiaFrancemberg Teixeira Reis
 
analise a hora da estrela
analise a hora da estrela analise a hora da estrela
analise a hora da estrela LuciBernadete
 
Artigo.humor e ensino j. carlos e a caricatura no ensino de história
Artigo.humor e ensino j. carlos e a caricatura no ensino de históriaArtigo.humor e ensino j. carlos e a caricatura no ensino de história
Artigo.humor e ensino j. carlos e a caricatura no ensino de história+ Aloisio Magalhães
 
I Seminário Cultura, Arquitetura e Cidade na América Latina do Grupo de Pesq...
 I Seminário Cultura, Arquitetura e Cidade na América Latina do Grupo de Pesq... I Seminário Cultura, Arquitetura e Cidade na América Latina do Grupo de Pesq...
I Seminário Cultura, Arquitetura e Cidade na América Latina do Grupo de Pesq...Graciela Mariani
 
Artes gráficas e renovação cultural
Artes gráficas e renovação culturalArtes gráficas e renovação cultural
Artes gráficas e renovação cultural+ Aloisio Magalhães
 
probson89,+Resenha+01+-+Maria+Abadia+Cardoso.pdf
probson89,+Resenha+01+-+Maria+Abadia+Cardoso.pdfprobson89,+Resenha+01+-+Maria+Abadia+Cardoso.pdf
probson89,+Resenha+01+-+Maria+Abadia+Cardoso.pdfFrancoPereira21
 
Novos campos de investigação historiográfica a literatura, o cinema e a arte
Novos campos de investigação historiográfica   a literatura, o cinema  e a arteNovos campos de investigação historiográfica   a literatura, o cinema  e a arte
Novos campos de investigação historiográfica a literatura, o cinema e a arteGabriel
 
Plinio marcos um maldito dramaturgo intelectual brasileiro
Plinio marcos um maldito dramaturgo intelectual brasileiroPlinio marcos um maldito dramaturgo intelectual brasileiro
Plinio marcos um maldito dramaturgo intelectual brasileiroHelciclever Barros
 
A crítica na mudança dos paradigmas da apreciação musical do século xx pas...
A crítica na mudança dos paradigmas da apreciação musical do século xx    pas...A crítica na mudança dos paradigmas da apreciação musical do século xx    pas...
A crítica na mudança dos paradigmas da apreciação musical do século xx pas...Aparecida Valiatti
 
Pintura mural na arte-educação: Possibilidades reflexivas a respeito da histó...
Pintura mural na arte-educação: Possibilidades reflexivas a respeito da histó...Pintura mural na arte-educação: Possibilidades reflexivas a respeito da histó...
Pintura mural na arte-educação: Possibilidades reflexivas a respeito da histó...SimoneHelenDrumond
 

Semelhante a Práticas artísticas,crítica e educação do gosto na década 1920 (20)

Artigo sobre revistas paranaenses
Artigo sobre revistas paranaensesArtigo sobre revistas paranaenses
Artigo sobre revistas paranaenses
 
Artes literatura programa_ii_2006
Artes literatura programa_ii_2006Artes literatura programa_ii_2006
Artes literatura programa_ii_2006
 
Lidia baís dissertação de paulo rigotti
Lidia baís dissertação de paulo rigottiLidia baís dissertação de paulo rigotti
Lidia baís dissertação de paulo rigotti
 
Caderno de resumos III da Semana de História UNEB Campi II Alogoinhas - Bahia
Caderno de resumos III da Semana de História UNEB Campi II  Alogoinhas - BahiaCaderno de resumos III da Semana de História UNEB Campi II  Alogoinhas - Bahia
Caderno de resumos III da Semana de História UNEB Campi II Alogoinhas - Bahia
 
Artigo 04
Artigo 04Artigo 04
Artigo 04
 
analise a hora da estrela
analise a hora da estrela analise a hora da estrela
analise a hora da estrela
 
Artigo.humor e ensino j. carlos e a caricatura no ensino de história
Artigo.humor e ensino j. carlos e a caricatura no ensino de históriaArtigo.humor e ensino j. carlos e a caricatura no ensino de história
Artigo.humor e ensino j. carlos e a caricatura no ensino de história
 
I Seminário Cultura, Arquitetura e Cidade na América Latina do Grupo de Pesq...
 I Seminário Cultura, Arquitetura e Cidade na América Latina do Grupo de Pesq... I Seminário Cultura, Arquitetura e Cidade na América Latina do Grupo de Pesq...
I Seminário Cultura, Arquitetura e Cidade na América Latina do Grupo de Pesq...
 
Artes gráficas e renovação cultural
Artes gráficas e renovação culturalArtes gráficas e renovação cultural
Artes gráficas e renovação cultural
 
Desenhos de J Carlos
Desenhos de J CarlosDesenhos de J Carlos
Desenhos de J Carlos
 
probson89,+Resenha+01+-+Maria+Abadia+Cardoso.pdf
probson89,+Resenha+01+-+Maria+Abadia+Cardoso.pdfprobson89,+Resenha+01+-+Maria+Abadia+Cardoso.pdf
probson89,+Resenha+01+-+Maria+Abadia+Cardoso.pdf
 
Euclides da cunha
Euclides da cunhaEuclides da cunha
Euclides da cunha
 
Novos campos de investigação historiográfica a literatura, o cinema e a arte
Novos campos de investigação historiográfica   a literatura, o cinema  e a arteNovos campos de investigação historiográfica   a literatura, o cinema  e a arte
Novos campos de investigação historiográfica a literatura, o cinema e a arte
 
3539 14961-1-pb
3539 14961-1-pb3539 14961-1-pb
3539 14961-1-pb
 
Artigo10 adv06
Artigo10   adv06Artigo10   adv06
Artigo10 adv06
 
Projeto
ProjetoProjeto
Projeto
 
Cintia sousa
Cintia sousaCintia sousa
Cintia sousa
 
Plinio marcos um maldito dramaturgo intelectual brasileiro
Plinio marcos um maldito dramaturgo intelectual brasileiroPlinio marcos um maldito dramaturgo intelectual brasileiro
Plinio marcos um maldito dramaturgo intelectual brasileiro
 
A crítica na mudança dos paradigmas da apreciação musical do século xx pas...
A crítica na mudança dos paradigmas da apreciação musical do século xx    pas...A crítica na mudança dos paradigmas da apreciação musical do século xx    pas...
A crítica na mudança dos paradigmas da apreciação musical do século xx pas...
 
Pintura mural na arte-educação: Possibilidades reflexivas a respeito da histó...
Pintura mural na arte-educação: Possibilidades reflexivas a respeito da histó...Pintura mural na arte-educação: Possibilidades reflexivas a respeito da histó...
Pintura mural na arte-educação: Possibilidades reflexivas a respeito da histó...
 

Mais de Natália Barros

As visitadoras de Saúde: as mulheres e as políticas públicas de saúde nos ano...
As visitadoras de Saúde: as mulheres e as políticas públicas de saúde nos ano...As visitadoras de Saúde: as mulheres e as políticas públicas de saúde nos ano...
As visitadoras de Saúde: as mulheres e as políticas públicas de saúde nos ano...Natália Barros
 
Sobre Piriguetes e Feminismo
Sobre  Piriguetes e FeminismoSobre  Piriguetes e Feminismo
Sobre Piriguetes e FeminismoNatália Barros
 
Ficha de identificação de Estágio Prática de Ensino de História II
Ficha de identificação de Estágio Prática de Ensino de História IIFicha de identificação de Estágio Prática de Ensino de História II
Ficha de identificação de Estágio Prática de Ensino de História IINatália Barros
 
Unidade didática: uma técnica para a organização do ensino aprendizagem
Unidade didática: uma técnica para a organização do ensino aprendizagemUnidade didática: uma técnica para a organização do ensino aprendizagem
Unidade didática: uma técnica para a organização do ensino aprendizagemNatália Barros
 
A formação do professor de historia e o cotidiano da sala de aula
A formação do professor de  historia e o cotidiano da sala de aulaA formação do professor de  historia e o cotidiano da sala de aula
A formação do professor de historia e o cotidiano da sala de aulaNatália Barros
 
Aprisionando o masculino
Aprisionando o masculinoAprisionando o masculino
Aprisionando o masculinoNatália Barros
 
Relações de gênero e história das mulheres na
Relações de gênero e história das mulheres naRelações de gênero e história das mulheres na
Relações de gênero e história das mulheres naNatália Barros
 
Estranhamentos: representações de gênero e etnia no filme "A Massai Branca"
Estranhamentos: representações de gênero e etnia no filme "A Massai Branca"Estranhamentos: representações de gênero e etnia no filme "A Massai Branca"
Estranhamentos: representações de gênero e etnia no filme "A Massai Branca"Natália Barros
 
Simpósi internacional de história da historiografia intelectuais
Simpósi internacional de história da historiografia intelectuaisSimpósi internacional de história da historiografia intelectuais
Simpósi internacional de história da historiografia intelectuaisNatália Barros
 
Simpósi internacional de história da historiografia intelectuais
Simpósi internacional de história da historiografia intelectuaisSimpósi internacional de história da historiografia intelectuais
Simpósi internacional de história da historiografia intelectuaisNatália Barros
 
Aprendizagem significativa: princípios e experiências
Aprendizagem significativa: princípios e experiências Aprendizagem significativa: princípios e experiências
Aprendizagem significativa: princípios e experiências Natália Barros
 
Histórias e ensino de história
Histórias e ensino de históriaHistórias e ensino de história
Histórias e ensino de históriaNatália Barros
 

Mais de Natália Barros (14)

As visitadoras de Saúde: as mulheres e as políticas públicas de saúde nos ano...
As visitadoras de Saúde: as mulheres e as políticas públicas de saúde nos ano...As visitadoras de Saúde: as mulheres e as políticas públicas de saúde nos ano...
As visitadoras de Saúde: as mulheres e as políticas públicas de saúde nos ano...
 
Sobre Piriguetes e Feminismo
Sobre  Piriguetes e FeminismoSobre  Piriguetes e Feminismo
Sobre Piriguetes e Feminismo
 
A filha do teatro
A filha do teatroA filha do teatro
A filha do teatro
 
O corpo da moda
O corpo da modaO corpo da moda
O corpo da moda
 
Ficha de identificação de Estágio Prática de Ensino de História II
Ficha de identificação de Estágio Prática de Ensino de História IIFicha de identificação de Estágio Prática de Ensino de História II
Ficha de identificação de Estágio Prática de Ensino de História II
 
Unidade didática: uma técnica para a organização do ensino aprendizagem
Unidade didática: uma técnica para a organização do ensino aprendizagemUnidade didática: uma técnica para a organização do ensino aprendizagem
Unidade didática: uma técnica para a organização do ensino aprendizagem
 
A formação do professor de historia e o cotidiano da sala de aula
A formação do professor de  historia e o cotidiano da sala de aulaA formação do professor de  historia e o cotidiano da sala de aula
A formação do professor de historia e o cotidiano da sala de aula
 
Aprisionando o masculino
Aprisionando o masculinoAprisionando o masculino
Aprisionando o masculino
 
Relações de gênero e história das mulheres na
Relações de gênero e história das mulheres naRelações de gênero e história das mulheres na
Relações de gênero e história das mulheres na
 
Estranhamentos: representações de gênero e etnia no filme "A Massai Branca"
Estranhamentos: representações de gênero e etnia no filme "A Massai Branca"Estranhamentos: representações de gênero e etnia no filme "A Massai Branca"
Estranhamentos: representações de gênero e etnia no filme "A Massai Branca"
 
Simpósi internacional de história da historiografia intelectuais
Simpósi internacional de história da historiografia intelectuaisSimpósi internacional de história da historiografia intelectuais
Simpósi internacional de história da historiografia intelectuais
 
Simpósi internacional de história da historiografia intelectuais
Simpósi internacional de história da historiografia intelectuaisSimpósi internacional de história da historiografia intelectuais
Simpósi internacional de história da historiografia intelectuais
 
Aprendizagem significativa: princípios e experiências
Aprendizagem significativa: princípios e experiências Aprendizagem significativa: princípios e experiências
Aprendizagem significativa: princípios e experiências
 
Histórias e ensino de história
Histórias e ensino de históriaHistórias e ensino de história
Histórias e ensino de história
 

Práticas artísticas,crítica e educação do gosto na década 1920

  • 1. Práticas artísticas, crítica e educação do gosto na imprensa do Recife nas primeiras décadas do século XX: contribuições da micro-história. Natalia Conceição Silva Barros natibarros1@yahoo.com.br Recife, outubro de 2009. Ao longo do curso, debatendo o percurso da micro-história e os usos da biografia, percebi como certos pressupostos teóricos e procedimentos metodológicos oriundos da micro-história já estão completamente incorporados ao cotidiano da pesquisa e escrita da história dos historiadores formados na última década. Talvez, a discutida compatibilidade entre escalas de investigação macrossocial e microanalítica tenha perdido um pouco de relevância no momento em que a produção historiográfica encontra-se mais e mais distante do desejo de rótulos e vinculações a programas ou escolas. Parece quase natural, por uma série de questões que vão desde as péssimas condições de nossos arquivos e estados das fontes documentais até o interesse em conquistar um público leitor de não especialistas, a incorporação na maior parte das narrativas historiográficas do interessante jogo de escalas. A passagem do macrossocial para a observação microanalítica, contribuição valiosa para o trabalho historiográfico, a meu ver, consolidou-se como procedimento inerente a disciplina, sendo vastamente utilizado por narrativas de corte social e cultural. O cuidado com as fontes, a atitude antropológica com o passado, também pode ser apontado como uma herança microhistórica. A maior parte dos jovens historiadores, já faz a leitura do documento levando em consideração os filtros, os vendo como produtos de uma inter-relação especial entre os sujeitos envolvidos em sua produção. Dito isto, apresentarei minha incipiente pesquisa. No estado atual não tenho ainda uma narrativa estruturada, nem questões muito claras. De toda forma, fiz um esforço para delinear um pouco meus objetivos, fontes e possíveis contribuições numa aproximação com a micro-história. A Revista CRÍTICA, de propriedade de Clodomiro de Oliveira, era um periódico de política, atualidades, questões sociais, letras e artes de publicação semanal, circulando desde junho de 1929 sempre aos sábados com uma média de 16 páginas. O redator–chefe era José Firmo de Oliveira. Mesmo constituindo-se quase integralmente
  • 2. de artigos e notas redacionais de caráter político, nas suas páginas inseriam-se produções literárias, crônicas cinematográficas e históricas, além de notícias e comentários sobre as exposições de artes plásticas no Recife. Além de acompanhar os principais espaços de exibição da produção artística do período, ou seja, os Salões de Arte que aconteciam na cidade e as aberturas de exposições nos ainda poucos ambientes, os redatores teciam comentários sobre as obras expostas, os artistas e, curiosamente, sobre o perfil do público e da crítica. Como acontecia em outras cidades do Brasil, nas primeiras décadas do século XX, de modo geral, as críticas de arte explicitavam-se em duas categorias, nas notas e nos artigos de divulgação de diversos eventos tais como exposições, lançamentos de livros, concursos públicos para a construção de monumentos, prêmios concedidos aos artistas, trabalhos realizados sob encomenda. Segundo os redatores da revista, o desinteresse dos críticos, que a cidade supunha ter, refletia a bradante ausência de cultura e gosto e o fato de Pernambuco ser de todos os Estados Brasileiros o mais fechado à beleza e às manifestações da arte legítima. Mas, que arte legitima era a admirada e incentivada pelos que faziam a Revista Crítica e demais meios de comunicação da cidade? Como se configurava a produção artística da cidade nesse período? Quais os embates presentes entre artistas e críticos? Que gosto era esse ausente nos moradores do Recife? Qual o papel da imprensa na difusão da produção artística nas décadas de 1920 e 1930? Que gosto estético era promovido e estimulado na cidade? A pesquisa que atualmente desenvolvo no doutorado em História, partindo destes questionamentos, pretende mapear a relação dos artistas com os jornais e revistas entre as décadas de 1920 e 1930. A investigação tem por foco perceber e analisar o espaço concedido para a divulgação dos seus trabalhos, para os espaços de exposição da produção plástica do período e, principalmente, o discurso crítico veiculado na imprensa, se posicionando sobre a trajetória e obra dos pintores na cidade do Recife e sobre o gosto estético dos moradores. As revistas, jornais e pinturas são as fontes fundamentais. De forma indireta, compõem o corpus documental memórias, coletâneas de textos e manuais de história da arte. Essa proposta insere-se em um movimento crescente de interesse por pesquisas e diálogos sobre a história e a historiografia das artes plásticas em Pernambuco,
  • 3. fomentado por instituições de artes do Recife e por alguns críticos, artistas e curadores. 1 O interesse pela temática em questão surgiu durante as pesquisas realizadas no grupo de estudos do Museu de Arte Moderna Aloísio Magalhães, quando constatamos a predominância de um material impressionista e memorialístico sobre as artes plásticas no Recife e a ausência de estudos sustentados pela pesquisa documental e teórica. Portanto, embora apresente um recorte temporal e um objeto de análise específico, essa pesquisa não pretende se limitar à interioridade do seu problema, mas, assim como nos orienta os pressupostos da micro-história, espera-se iluminar questões mais gerais, obviamente sem perder as especificidades do objeto de investigação. Até esse momento da pesquisa, a questão geral que se delineia é: que historiografia da arte produziu-se em Pernambuco e como essas narrativas dialogaram com a produção nacional e internacional? Pretende-se criar uma narrativa mais densa, que traga, mesmo que fragmentariamente, percursos e trajetórias de vida de personagens artísticos que hoje conhecemos apenas por um nome. Nesse percurso as orientações de Carlo Ginzburg são fundamentais: o nome é o fio condutor para reconstruir o entrelaçamento de diversas conjunturas. Seguindo o fio dos nomes, no labirinto documental, será possível traçar caminhos para a construção de biografias e de redes de relações que as circunscrevem. Além dos irmãos Rego Monteiro e Cícero Dias que outros artistas circulavam na cidade? O que nos conta sobre o campo artístico, a trajetória de Fédora do Rego Monteiro ou de Murillo La Greca? O que sabemos sobre Joaquim Monteiro, J. Menezes, Carmencita Brennard, José Noberto,José Neves Daltro, Álvaro Nogueira, Álvaro Amorim, Aguinaldo Lima, Helena Rodrigues Pereira, Maria Sarmento, Olintho Jacome, Maria Pedrosa, Edson Figueredo, artistas participantes do 2º Salão de Belas Artes de Pernambuco? Nesse momento de levantamento documental, de fontes no mais das vezes esparsas, percebo a necessidade de construir uma narrativa que incorpore a experiência desses indivíduos, dando crédito aos desvios, incoerências e desordens, inerentes aos contextos socioculturais. De forma ampla, poderíamos apontar o distanciamento dessa pesquisa – práticas artísticas, crítica e educação do gosto – dos temas privilegiados pela micro-história: história de indivíduos, comunidades, pequenos enredos envolvendo gente comum, etc. 1 Moacir dos Anjos, curador e pesquisador da Fundação Joaquim Nabuco e Cristina Tejo, crítica e curadora independente, podem ser citados como os grandes impulsionadores da pesquisa sobre artes plásticas em Pernambuco.
  • 4. Não se constituindo, dessa forma, em uma futura narrativa micro-histórica. No entanto, penso que, no meu caso, a aproximação a essa vertente historiográfica dá-se muito mais em termos metodológicos e teóricos. Tenho como horizonte na minha prática de pesquisa e de escrita da história pressupostos fundamentais da micro-história: a história como ciência do vivido, o contexto como campo de possibilidades históricas, o documento como produto e produtor de experiências e a necessidade de pensar estratégias narrativas alinhadas com o objeto e percurso de pesquisa. Pretendo empreender incursões do tipo microanalítico para fazer emergir o cenário cultural dos anos vinte e trinta. Não partindo de questões gerais dadas aprioristicamente, mas, focando a documentação e deslocando e criando as próprias hierarquias de interesses da pesquisa. Porque mais importante que o caráter geral da cidade do Recife, amplamente já pesquisado, será a construção da teia social concreta onde os artistas e jornalistas se moveram, exercendo múltiplos papéis sociais e individuais. Pensando assim, torna-se interessante seguirmos, embora nesse momento de forma aligeirada, o percurso de um desses indivíduos. Na Revista Crítica, as pinturas de Murillo La Greca eram citadas como exemplo da considerada “boa arte” e o artista apresentado como um predestinado a pintura, um vocacionado. As paisagens, os crepúsculos nos quadros de La Greca eram exaltados. Em 1930 havia três anos que esse artista tinha voltado da Europa, após sete anos de estudos nos centros de educação e cultura artística da Itália, considerada o mais ponderável laboratório artístico do mundo. La Greca, nesse período, fixou seu atelier em Roma e freqüentou durante quatro anos o Real Instituto de Belas Artes e Academia de Nu (REVISTA DA ESCOLA DE BELAS ARTES DE PERNAMBUCO,1957: 33). O público da cidade pôde conhecer algumas de suas obras no 2º Salão de Belas Artes de Pernambuco, inaugurado em 15 de maio de 1930. Numa matéria de 1930, os redatores da Revista Crítica definem esse artista: Murillo La Greca não confia somente no seu talento. Ele estuda e trabalha, fazendo da sua arte um sacerdócio (CRÍTICA. 24/05/1930). Perseguindo os fios da história, descobrimos Murillo La Greca como professor da Escola de Belas Artes do Recife. Que outras relações se constituíram? Que papel teve esse artista na formação de artistas nos anos trinta? Como construiu e difundiu os valores estéticos do seu grupo? Apenas por meio de uma pesquisa documental intensa conseguiremos avançar na resposta dessas questões, tendo em mente que algumas delas podem ficar sem respostas, mantendo o caráter lacunar da disciplina. De toda forma, pretendo cercar as experiências dos artistas na cidade para, principalmente, entender as redes de
  • 5. pertencimento desses com os leitores dos jornais e revistas. Na tese pretendo criar quadros comparativos, nisso distanciando-me da micro-história, embora saiba que as experiências são únicas.