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COMUNICAÇÃO / COMMUNICATION / NOTÍCIA
598 O MUNDO DA SAÚDE São Paulo: 2006: out/dez 30 (4): 598-606
RESUMO: Trata-se da adequação e desenvolvimento da teoria das representações sociais como elemento potencializador para o campo
da educação ambiental. O mundo, que é em essência o resultado das produções humanas vem, continuamente, sofrendo as conseqü-
ências da ausência de reflexões críticas. Isso afeta tanto a dimensão ambiental quanto a da saúde. Como, então, superar tal obstáculo
e viabilizar uma melhoria pragmática, no meio em que vivemos e interagimos, nas condições de meio ambiente e saúde? Este trabalho
teórico-argumentativo visa indicar uma dessas possibilidades, se dispondo a defender a idéia de que o estudo das representações sociais,
que são formadas nas relações sociais, caracteriza-se por importante alicerce teórico na busca e implementação de programas/projetos
de educação ambiental críticos e antenados com as práticas cotidianas de indivíduos e sociedades. Como resultados esperamos que as
transformações sociais há muito exigidas, sobretudo pelas camadas mais desfavorecidas socioambientalmente, concretize-se através da
potencialização dos resultados de uma educação ambiental de qualidade enquanto tática de transformação da realidade.
DESCRITORES: Psicologia social, Saúde ambiental, Educação ambiental
ABSTRACT: This article is about the adequacy and development of the theory of social representations as a catalyzing element for the field
of environmental education. The world, that is essentially the result of human beings productions, has been continuously suffering the
consequences of the absence of critical reflections. This affects both the environmental dimension and the health dimension. How can we
surpass such obstacles and make possible a pragmatic improvement in the environment where we live and interact, in good environmental
and health conditions? This work aims to point out one of these possibilities, defending the idea that studying social representations,
which stem from social relations, is an important theoretical foundation in the search and implementation of critical environmental
education programs and projects related to individuals and societies daily practices. The ultimate aim is making long demanded social
transformations to occur by the improvement of a quality environmental education as a strategy for transforming reality.
KEYWORDS: Social psychology, Environmental health, Environmental education
RESUMEN: Este artículo discute la pertenencia y el desarrollo de la teoría de las representaciones sociales como elemento de catálisis
para el campo de la educación ambiental. El mundo, que es esencialmente resultado de las producciones de los seres humanos, ha estado
sufriendo continuamente las consecuencias de la ausencia de reflexiones críticas. Esto afecta la dimensión ambiental y la dimensión de
la salud. ¿Cómo podemos sobrepasar tales obstáculos y llevar a cabo una mejora pragmática en el ambiente donde vivimos y obramos
recíprocamente, en buenas condiciones ambientales y de salud? Este trabajo busca precisar una de esas posibilidades, defendiendo la idea
que estudiar las representaciones sociales, que provienen de las relaciones sociales, es una fundación teórica importante en la búsqueda y
la puesta en práctica de programas críticos y proyectos de educación ambiental relacionados con los individuos y las prácticas cotidianas
de las sociedades. El objetivo último es promover transformaciones sociales exigidas hace mucho tiempo de promedio la mejoría de una
educación ambiental de calidad como estrategia para transformar la realidad.
PALABRAS-LLAVE: Psicologia social, Salud ambiental, Educación ambiental
Representações sociais, meio ambiente e saúde:
por uma educação ambiental de qualidade
Social representations, environment and health: towards a quality environmental education
Representaciones sociales, ambiente y salud: hacia una educación ambiental de calidad
Eduardo Silva de Freitas*
*Mestre em Tecnologia Educacional nas Ciências da Saúde – Núcleo de Tecnologia Educacional para a Saúde – Universidade Federal do Rio de Janeiro (NUTES/UFRJ).
Biólogo. Docente das Secretarias Municipais de Educação do Rio de Janeiro/RJ e de Duque de Caxias/RJ. E-mail: efreitasbio@gmail.com
REPRESENTAÇÕES SOCIAIS, MEIO AMBIENTE E SAÚDE: POR UMA EDUCAÇÃO AMBIENTAL DE QUALIDADE
O MUNDO DA SAÚDE São Paulo: 2006: out/dez 30 (4): 598-606 599
Introdução
O conhecimento elaborado e
partilhado por alguns grupos por
meio do senso comum pode es-
tar desalinhado frente às posturas
que favoreçam ambientes mais
saudáveis, porém isto não signi-
fica afirmar que ele possa ser, de
alguma forma, hierarquicamente
inferior ao conhecimento cientí-
fico ou a uma outra explicação de
mundo qualquer, pois, conforme
o educador Tarso Mazzotti, aque-
les conhecimentos são verdadeiros
para quem os construiu (Mazzotti,
2001).
Ao conhecimento do senso co-
mum, o psicólogo Serge Moscovici
nomeou ‘representações sociais’,
um conceito derivado das chama-
das ‘representações coletivas’ de
Émile Durkheim. Segundo Mos-
covici (2001:47-48), Durkheim
pensava as representações coletivas
como uma entidade estática, hie-
rarquicamente superior, coerciti-
va, autônoma e que se impõe aos
indivíduos, traço comum a todos
os fatos sociais.
Diferentemente de Durkheim,
Moscovicientendequeasrepresen-
tações são sociais porque orientam
os processos de condutas e acabam
por criar uma identidade grupal,
ou, de outra forma, são produzi-
das por indivíduos ou grupos, em
situações concretas, relacionadas
ao contexto social em que estão
inseridos tais sujeitos, e não mais
algo que transcende os indivíduos,
como pensava Durkheim. As re-
presentações sociais são conjuntos
dinâmicos, que produzem compor-
tamentos e relações com o meio e
não apenas uma reprodução destes
comportamentos e relações como
reação a um dado estímulo exterior
(Moscovici, 1978:50).
Assim, dedicamos ao longo des-
te trabalho aproximar a teoria das
representações sociais ao campo da
educação ambiental, contribuindo
e ratificando este campo como um
dos importantes eixos articuladores
junto aos processos de qualidade de
vida e de saúde, e buscando justi-
ficar a contribuição teórica e a va-
lidade da teoria das representações
sociais junto aos pesquisadores e
demais interessados na abordagem
da temática ambiental.
O estreito vínculo entre
meio ambiente e saúde
Em 1948, a Organização Mun-
dial de Saúde (OMS) conceituou
saúde como “o completo estado de
bem-estar físico, mental e social e não
apenas a ausência de doença”. O con-
ceito de saúde, desde então, vem
sofrendo reformulações que geram
diversas definições. Grande parte
delas tende a considerar um com-
pleto bem-estar social como algo
utópico (Brasil, 1998:249), ina-
tingível, em sociedades repletas de
diferenças e desigualdades sociais.
Além disso, entender a divisão si-
nalizada por uma idéia de estados
distintos – físico, mental e social
– nos remete à dualidade cartesia-
na: corpo versus mente, que histori-
camente fragmentou e segmentou
saberes e que, ainda hoje, encontra
ressonância em nossa sociedade.
Houve um avanço teórico a
respeito da concepção de saúde na
VIIIConferênciaNacionaldaSaúde
(1986), realizada em Brasília (Bra-
sil). Saúde passou a ser considerada
conseqüênciadascondiçõesdevida
dos cidadãos. Seguindo essa linha
de raciocínio, Lencastre afirma que
“saúdeéresultantedascondiçõesdeali-
mentação, habitação, educação, renda,
meio ambiente, trabalho, transporte,
emprego,lazer,liberdade,acessoeposse
da terra e acesso a serviços de saúde”
(Lencastre, 1990:5). Sendo parte
das condições de vida dos indiví-
duos, ‘meio ambiente’ foi incluído
num conjunto de fatores associa-
dos à saúde.
Concebemos a expressão ‘meio
ambiente’ como um evento históri-
co recente, uma construção política
(Latour et. al., 1998), cujo objetivo
implica nos defender de algo pro-
duzido pelas próprias sociedades,
ou seja, sinaliza que construímos
um conceito para contrapor nossas
própriaspráticassociais.Ocorreque
estas práticas estão afetando nossa
saúde a tal ponto que já se admite a
dimensão ambiental nos conceitos
modernos, como parte dos proces-
sos constitutivos de saúde.
As questões ambientais são par-
tes integrantes de saúde, logo, meio
ambiente e saúde relacionam-se
em vários pontos. O problema do
lixo, a poluição em todas as suas
dimensões, a camada de ozônio
e o uso/conservação da água são
apenas alguns dos muitos exem-
plos que poderíamos citar. Con-
tudo, a visão moderna de saúde
que assimila a condição de ‘meio
ambiente’, ainda que já aceita em
documentos oficiais diversos, não
está satisfatoriamente incorpora-
da no âmbito de diferentes grupos.
Ainda é possível encontrar idéias,
conceitos, visões e valores que não
contemplam as condições de ‘meio
ambiente’ como parte das condi-
ções de saúde, pois grande parte da
sociedade ancora suas percepções
de saúde em um conceito obsole-
to, onde saúde significa apenas a
ausência de doenças1
.
Diante disso, emergem algumas
perguntas: já que as questões am-
bientais são imensamente pesqui-
sadas atualmente pelos cientistas,
por que os resultados encontrados
não são conhecidos e praticados
intensamente pela humanidade,
uma vez que, cientificamente,
sabe-se de sua importância à saúde
1. Tomamos como exemplo, neste caso, a pesquisa realizada por Andrade Júnior et. al. (2004) com estudantes universitários, porque em nossa concepção, se nas univer-
sidades, locais privilegiados culturalmente, encontramos concepções reducionistas, fora do âmbito educacional superior esperamos uma situação ainda pior.
REPRESENTAÇÕES SOCIAIS, MEIO AMBIENTE E SAÚDE: POR UMA EDUCAÇÃO AMBIENTAL DE QUALIDADE
600 O MUNDO DA SAÚDE São Paulo: 2006: out/dez 30 (4): 598-606
humana/ambiental? Uma análise
superficial nos conduziria à conclu-
são de que elas (as pesquisas cientí-
ficas) não servem para muita coisa.
O foco não pode ser este, sabemos
que elas servem. Sobre elas pode-
mos dizer que “é a partir da pesquisa
que alimentamos a atividade de ensi-
no e a atualizamos frente à realidade
do mundo” (Minayo,1996:17). As
ciências alimentam tecnologias di-
versas que influenciam, e muito,
o cotidiano das pessoas. Por que
então os indivíduos de posse desse
entendimento não se apropriam
criticamente desses novos conhe-
cimentos produzidos?
Na área ambiental, as dimen-
sões da ciência e do senso comum
possuem por um lado, um discurso
que valoriza uma concepção holís-
tica, equiparando senso comum
(popular, multicultural) à ciência
(culta, especializada, universalista),
onde os aqueles buscariam junto
aos cultos, uma ‘instrumentali-
zação’, e estes, a criatividade e as
particularidades junto aos popu-
lares. Por outro lado, há discur-
sos que enxergam a(s) ciência(s)
como instância(s) resolutórias(s)
de todos os problemas humanos.
De fato, este segundo grupo de
considerações possui mais força e
é alimentado pela mídia e pelo sis-
tema econômico capitalista voraz.
Aquela serve a duas correntes: ou
é ideologizada notadamente pela
cultura dominante, ou é acríti-
ca, no sentido de não se perceber
como instrumento importante de
reflexão; este consome e exclui os
não globalizados, ou globalizados
perversamentenosentidoproposto
por Santos (2000).
O senso comum é algo muito
difuso e contraditório, desconforta
os cientistas de uma maneira geral
(Mazzotti, 2001). Mas é sob seus
domínios que as relações sociais são
estabelecidas, por isso, a convicção
de que este tipo de saber influencia
direta ou indiretamente os paradig-
mas humanos e as concepções de
ciência, compondo um fluxo con-
tínuo de interação ciência-senso
comum.
O papel da educação
ambiental
A questão ambiental deve ser
central para se construir relações
sociais mais saudáveis e a educa-
ção ambiental, como estratégia de
transformação da realidade (Brasil,
2001:19), deveria acompanhar as
evoluções que se fazem no campo
das ciências psicológicas e sociais
e implementar programas e/ou
projetos mais sintonizados com a
realidade social. Isto porque, tudo
indica que o conhecimento engen-
drado no interior dos grupos, sob
forte influência social, é percebido
como mais importante, por seu
caráter prático ligado à comporta-
mentos diversos.
No mundo, as questões am-
bientais que se apresentaram após
a década de sessenta, explicitadas
pelo pensamento ambientalista
e pelos movimentos ecológicos,
contribuíram para a divulgação da
educação ambiental. Com o passar
do tempo, nos aproximando mais
do final dos anos oitenta, acompa-
nhamos, no Brasil, a implantação
de políticas públicas voltadas para
a educação ambiental (Carvalho,
2004:52-53).
Ao longo da década de oitenta,
foram produzidos dois documen-
tos muito importantes voltados ao
fortalecimento da educação am-
biental: a publicação, em 1987, dos
Parâmetros Curriculares Nacionais
(PCN) e a promulgação da Consti-
tuição Federal do Brasil em 1988.
OsPCNs,aindaquecautelosamente
frente à educação ambiental, inclu-
íram o meio ambiente como tema
transversal às disciplinas e conte-
údos já clássicos, e a Constituição
Federal (art. 225, cap. VI, §1, inciso
VI) estabeleceu a obrigatoriedade
da promoção da educação ambien-
tal em todos os níveis de ensino e a
conscientização pública para a pre-
servação do meio ambiente (Brasil,
1988).
Mesmo considerando esses as-
pectos históricos, que representa-
ram avanços democráticos para as
questões ambientais, as discussões
sobre‘meioambiente’eseusdesdo-
bramentos em educação ambiental
clássicos foram (e ainda são) feitas
freqüentemente a partir de ‘saberes
científicos’, que usualmente des-
consideram as riquezas do saber
de senso comum. Há, nestes casos,
o estabelecimento da legitimação
acrítica da ciência, cujo resultado
é a criação de uma hierarquia do
saber reificado2
enquanto melhor
explicação de mundo.
Numa crítica a esse processo,
registra-se que somente a infor-
mação, ou a especialização do saber
científico, não é suficiente para co-
nhecer o processo de complexidade
instalado nas relações humanas. O
fato de um conhecimento ser pro-
duzido pela ciência, não significa
necessariamente que todos vão
poder ter acesso às suas benesses.
Por outro lado, o saber prático do
senso comum é por vezes ilusório
e também não reflete o conheci-
mento da complexidade, criando
muitas vezes uma ‘nuvem cinzen-
ta’, gerando desconfiança. O senso
comum pode vir a discutir expli-
cações metafísicas e/ou religiosas
que não fazem parte do objetivo
da ciência, enquanto saber padrão3
,
2. Por universos reificados entende-se àqueles em que se “produzem e circulam as ciências e o pensamento erudito em geral, com sua objetividade, seu rigor lógico e metodológico, sua
teorizaçãoemespecialidadesesuaestratificaçãohierárquica” (Sá, 1993:28), e onde “asociedadeétransformadaemumsistemadeentidadessólidas,básicasinvariáveis,quesãoindiferentes
à individualidade e não possuem identidade” (Moscovici, 2003:50).
3. Ênfase no saber das ciências experimentais, na quantificação em detrimento da qualificação
REPRESENTAÇÕES SOCIAIS, MEIO AMBIENTE E SAÚDE: POR UMA EDUCAÇÃO AMBIENTAL DE QUALIDADE
O MUNDO DA SAÚDE São Paulo: 2006: out/dez 30 (4): 598-606 601
estudar.PauloFreire,discutindoes-
ses aspectos a respeito de um saber,
em suas palavras, “verdadeiro”, e
um saber popular, comenta:
Se,deumlado,nãopossomeadap-
tar ou me “converter” ao saber in-
gênuo dos grupos populares, de ou-
tro,nãoposso,serealmenteprogres-
sista, impôr-lhes arrogantemente o
meu saber como o verdadeiro. O
diálogo em que se vai desafiando o
grupo popular a pensar sua histó-
ria social como a experiência igual-
mente social de seus membros vai
revelando a necessidade de superar
certos saberes que, desnudados,
vão mostrando sua “incompetên-
cia” para explicar os fatos (Freire,
2000:38).
O desafio traduz-se por cons-
truirmos progressivamente uma
autonomia cidadã, legitimando o
saber científico, mas comprome-
tendo-o com a apropriação reali-
zada pelos indivíduos, ou seja, so-
cializa-se o saber científico entre os
grupos, respeitando-se sempre os
contextos psicossociais e o conheci-
mentodosensocomum.Estapossi-
bilidade torna-se factível à medida
que equilibrarmos as vantagens do
conhecimento especializado e do
senso comum, gerando sinergia. Os
dois saberes, indissociáveis, não se-
riam hierarquizados, mas pensados
juntos como potencializadores um
do outro. Tratando-se das questões
ambientais em saúde, vale ressaltar
que o saber científico, que se pre-
tende universal, e o saber do senso
comum, prático e multicultural por
natureza, deveriam ser valorizados
ediscutidosnaintençãodegerarre-
sultados satisfatórios para ambos.
A respeito da verticalização na
transmissão dos saberes da educa-
ção ambiental, Grün afirma ser isto
um fato preocupante e perigoso às
diversas culturas porque se trata de
“um discurso altamente normativo de
uma cultura branca e ‘limpinha’ que
quer se impor a outras práticas cultu-
rais” (Grün, 1996:20). Por isso, na
intenção de abandonar a idéia de
verticalização e sobrepormos uma
proposta de horizontalidade no
processo de ensino-aprendizagem,
entendemos que uma educação
ambiental de qualidade deve visar
a troca de saberes entre indivíduos
e sociedades, sobretudo discutindo
as mais variadas e diferentes visões
de mundo.
Não é possível apontar somente
uma determinada visão mais cor-
reta, mais verdadeira. Assim, não
nos parece coerente a construção
de uma educação ambiental eficaz
na medida em que não se almeje
identificar o universo de idéias, va-
lores, crenças, atitudes (dentro de
um contexto mais social), porque
muito provavelmente é este uni-
verso que determina o modelo de
comportamento dos indivíduos, ou
seja, determinam as relações mate-
riais com o ambiente.
Atuar ecologicamente na busca
de transformações sociais envolve
conhecer e discutir as represen-
tações que se formam, como elas
circulam e quais suas aplicações
práticas. “Torna-se, assim, necessário
analisar o sistema de representações
que indivíduos e grupos fazem de seu
ambiente,poisécombasenelasqueeles
agem sobre o meio ambiente” (Die-
gues, 1996:63).
Representações sociais
e a educação ambiental:
aproximações
O sociólogo Aloísio Rus-
cheinsky (2001:32) nos adverte
que a educação ambiental deve
partir das representações sociais de
todas as pessoas envolvidas no pro-
cesso educativo. Caso tal premissa
não seja respeitada estaremos li-
mitando o potencial da educação
ambiental:
Muitos programas de educação
ambiental possuem alcance mais li-
mitado do que o projetado por ór-
gãosgovernamentaiscomprofissio-
nais intencionais do ponto de vista
técnico, porém que desdenham os
condicionantes sociais, as represen-
tações e a dimensão participativa
(Ruscheinsky, 2001:29-30).
Segundo o ‘pai’ da teoria das
representações sociais, o psicólogo
Serge Moscovici:
Representando-se uma coisa ou
uma noção, não produzimos uni-
camente nossas próprias idéias e
imagens: criamos e transmitimos
um produto progressivamente
elaborado em inúmeros lugares,
segundo regras variadas. Dentro
desses limites, o fenômeno pode ser
denominado representação social
(Moscovici, 2001:63).
Considerando a afirmação de
Moscovici, Denise Jodelet, uma
das principais divulgadoras da
teoria das representações sociais
pelo mundo, afirma que a repre-
sentação social é “uma forma de co-
nhecimento, socialmente elaborada e
partilhada, com um objetivo prático,
e que contribui para a construção de
uma realidade comum a um conjunto
social” (Jodelet, 2001:22). A utili-
zação da definição de Jodelet para
fins de um melhor entendimento
da teoria das representações sociais
encontra amparo em observações
e sugestões feitas por Celso Pereira
de Sá, que entende ser esta, talvez,
a mais consensual dentre as várias
definições encontradas na literatu-
ra que trata do tema4
.
O estudo das representações
sociais contribui para desvendar
diferentes visões de mundo, de
modo a facilitar o diálogo e o deba-
te entre os diversos atores sociais.
Os resultados de tais estudos deve-
4. Comunicação verbal em aula da disciplina Teoria das Representações Sociais, ministrada pelo professor Celso Pereira de Sá, no Instituto de Psicologia Social da UERJ
(primeiro semestre de 2003).
REPRESENTAÇÕES SOCIAIS, MEIO AMBIENTE E SAÚDE: POR UMA EDUCAÇÃO AMBIENTAL DE QUALIDADE
602 O MUNDO DA SAÚDE São Paulo: 2006: out/dez 30 (4): 598-606
riam construir uma base sólida aos
projetos de educação ambiental crí-
ticos, pois esses resultados freqüen-
tementesugeremfortesresistências
práticas aos projetos de educação
clássicos, uma vez que estes apre-
sentam verdades prontas, ou ideo-
logias pré-concebidas.
Considerando que grande parte
dos projetos de educação ambien-
tal desenvolvidos nas mais diversas
localidades (escolas, entidades ci-
vis, iniciativa privada, unidades de
conservação etc) são clássicos, en-
trar com um ‘pacote’ de educação
ambiental–condiçãodeestranheza
–pressupõequeestepacoteseja‘di-
gerido’ pelo grupo atingido – condi-
ção de familiarização. Logo, mesmo
em um sistema de educação am-
bientalclássico,ondeháclaramente
a verticalização do saber e imposi-
ção de algumas idéias e conteúdos,
a teoria das representações sociais é
pertinente, porque os sujeitos esta-
rão procurando habilitar algo que
é exótico, distante e estranho, em
algo inteligível, próximo e familiar
– um dos pontos-chave da teoria.
Para Moscovici (2003:54) “a
finalidade de todas as representações é
tornar familiar algo não-familiar, ou a
própria não-familiaridade”.
Trata-se de uma árdua tarefa,
segundo Mazzotti (2001), a tradu-
ção de conceitos e teorias científicas
para o público em geral, e as pres-
crições propostas em educação am-
biental por cientistas enfrentam a
dificuldade da natureza formal das
teorias. Entretanto, esta dificuldade
de aproximação entre o conheci-
mento científico e o público não es-
pecialista, ou leigo, ou ainda cons-
trutor de um dado senso comum,
não deve servir de desculpa para a
imposição de verdades por parte do
corpo científico.
Existem alguns ambientalistas
que buscam a todo instante, des-
construir as ‘verdades’ dos cien-
tistas e pregar os valores éticos
como caminho a ser percorrido
pela educação ambiental. Isso se
faz necessário porque tais ‘verda-
des’ estariam associadas ao méto-
do educativo que prega a educação
ambiental como solução para todos
os males e a direciona a
“…uma postura que pretende
‘levar’ a grupos e comunidades os
‘saberes necessários’ a uma prática
ambientalmentecorretaparaarela-
çãodohomemcomanatureza.Essa
percepção considera que os ‘saberes
científicos’sobreanaturezaeomeio
ambiente devem ser ‘orientadores’
da prática da educação ambiental,
e mesmo da ética da relação do ho-
memcomanatureza” (Ranauro e
Irving, 2003:305-306).
Em uma clara crítica a essa
postura que entende a educação
ambiental simplesmente como re-
solutora de problemas, a proposta
da educação ambiental deve ser
percebida e compreendida não
como indutora de ‘verdades’, ou
reprodutora de ideologias e valo-
res de grupos dominantes, mas nos
apoiando no pensamento de Lou-
reiro, como estabelecedora de “pro-
cessos práticos e reflexivos que levem à
consolidação de valores que possam ser
entendidos e aceitos como favoráveis à
sustentabilidade global, à justiça social
e à preservação da vida” (Loureiro et
al., 2003:16).
O processo de uma educação
ambiental, que se pretende crítica,
é uma reflexão contínua do mun-
do em que vivemos e interagimos.
Nota-se que a apresentação e a
organização da realidade cotidiana
configuram-se instrumentos con-
fiáveis para traçar estratégias de
mudanças de paradigmas e cons-
trução de uma nova racionalidade,
pautadas na dialogicidade entre
os atores envolvidos no processo
educativo. Uma dialogicidade que
não é romântica, onde opressores e
oprimidos, de forma simplista, tro-
cam harmoniosamente informa-
ções; mas mediada pelas condições
concretas de existência:
Ser dialógico é empenhar-se na
transformação constante da rea-
lidade. [...] O diálogo é o encontro
amoroso dos homens que, media-
tizados pelo mundo, o “pronun-
ciam”, isto é, o transformam, e,
transformando-o, o humanizam
para a humanização de todos
(Freire, 1983:28).
Pensado por Freire, esse diálogo
favoreceastrocashumanaspropor-
cionando um processo de educação
recíproca. Isto indica que qualquer
projeto educativo e/ou política
pública, deveria estar embasada
em resultados coletados a partir
das relações sociais em situações
(horizontais) de trocas e diálogos
entre os sujeitos envolvidos, e não
simplesmente determinadas hie-
rarquicamente.
[...] a Educação Ambiental não
deve ser colocada como um instru-
mento de “enquadramento” da
ação sobre o meio ambiente, nem
mesmo deve ser vista apenas como
um “democratizador” de infor-
mações ambientais. A Educação
Ambiental pode mais e, partindo
do resgate dos saberes locais, pode
ir além da reificação estética da na-
tureza e proporcionar verdadeiros
espaços de trocas de saberes, em
que grupos e comunidades pas-
sam a se colocar como atores ativos
no espaço territorial que ocupam e
dentro das relações sociais da qual
fazem parte (Ranauro e Irving,
2003:307).
Agimos de determinada for-
ma, e não de outra, porque cria-
mos representações que implicam,
continuamente, ajustes para nossa
interação no mundo em que vive-
mos. As representações nos servem
para absorver aspectos da realidade
diária e ao mesmo tempo nos ofe-
recem subsídios nas interpretações,
decisões e posicionamentos que
tomamos contra ou a favor de de-
terminado fato ou acontecimento
cotidiano (Jodelet, 2001:17).
REPRESENTAÇÕES SOCIAIS, MEIO AMBIENTE E SAÚDE: POR UMA EDUCAÇÃO AMBIENTAL DE QUALIDADE
O MUNDO DA SAÚDE São Paulo: 2006: out/dez 30 (4): 598-606 603
Uma educação ambiental de
qualidade, pautada em diálogos
e trocas de saberes e que respei-
te as diferenças culturais de cada
localidade, pode ser instrumento
poderoso de capacitação cidadã,
na medida em que possa trazer co-
nhecimentos (políticos, científicos,
religiosos, filosóficos etc) para den-
tro do cotidiano dos grupos. Com
isso, as pessoas são sensibilizadas,
fomentandoosurgimentodenovas
interpretações do mundo e ações
ecológicas/ambientais efetivas que
favorecem um comprometimen-
to socioambiental mais crítico por
parte das sociedades.
Estas novas interpretações são
o foco das discussões acerca do
meio ambiente em que vivemos e
interagimos. Precisamos mudar o
que está posto (ideologia) e imple-
mentar o sonho (utopia) de uma
sociedade mais justa, resgatando
com isso as motivações dos primei-
ros movimentos ecológicos, agora
com mais subsídios informacionais
e menos ingenuidade política.
Representações sociais
e educação ambiental:
justificando a associação
Na tentativa de sistematizar o
campo das representações sociais,
o pesquisador austríaco Wolfgang
Wagner criou uma série de crité-
rios para elas, dentre os quais vale
a pena destacar o critério de rele-
vância: as questões ou objetos são
socialmente relevantes à medida
que em sua presença, o padrão de
comportamento dos indivíduos ou
grupo muda, visando uma adapta-
ção (Wagner, 2000:18). Além de al-
guns critérios, Wagner propôs tam-
bém três campos de pesquisa que
nos ajudam a enquadrar o nosso
objetivo de pesquisa. Na verdade,
tais campos propostos nos indicam
a viabilidade de trabalharmos as
idéias relacionadas às questões am-
bientais em todas elas. Buscaremos
justificar essas idéias percorrendo-
os: representações sociais como (1)
conhecimento popular das idéias
científicas socializadas; (2) objetos
culturalmente construídos ao lon-
go da história e seus equivalentes
modernos; e (3) condições e even-
tos sociais e políticos que significam
um curto prazo para a vida social.
Para o primeiro campo de pes-
quisa (1), inicialmente buscamos
auxílio no pensamento de Reigota,
que afirma que nas representações
sociais podemos encontrar “os co-
nhecimentos científicos da forma que
foramaprendidoseinternalizadospelas
pessoas” (Reigota, 2002:12). Isto nos
permite falar do conceito de ecolo-
gia, que surge fortemente vincula-
doàsciênciasnaturais,tornando-se
um de seus grandes ramos ao longo
dotempo.Podemosdizerqueaeco-
logia é a base científica das questões
ambientais que nos afetam. Porém,
Carvalho assegura que a ecologia
dos movimentos ecológicos tem
sentidos e pretensões diferentes
daquela proposta por Haeckel em
fins do século XIX, se tratando de
“uma‘idéiamigrante’,umaidéia-pon-
te, que transitou de um mundo a ou-
tro, do conhecimento científico às lutas
sociais” (Carvalho, 2004:45). Logo,
podemos concluir que a Ecologia,
enquanto ciência, é ressignificada,
reelaborada e representada no co-
tidiano das sociedades, certamente
fazendo parte do senso comum.
Um outro exemplo que pode
ser dado, para corroborar a pri-
meira das justificativas do emprego
da teoria das representações sociais
aplicada às questões ambientais, é
o fato de não haver consenso sobre
a definição de ‘meio ambiente’ na
comunidade científica (Reigota,
2002:14). Ainda assim, vários cien-
tistas ‘definem’ meio ambiente e
geram com isso, idéias científicas.
O segundo campo de pesquisa
(2) proposto por Wagner sugere
objetos com uma longa história
estabelecida. A partir dessa consta-
tação, nota-se que sempre houve
uma relação profunda entre as so-
ciedades e seus ambientes naturais,
tendo o homem buscado a distin-
ção do meio que o cerca. Apesar de
alguns pensadores considerarem
as questões ambientais eventos re-
centes em discussões midiáticas e
acadêmicas, parece-nos clara uma
dada relação sociedade-natureza
desde o surgimento da espécie hu-
mana na Terra, ou seja, o resultado
das recentes reflexões acerca das
questões ambientais envolvidas
na representação de um ‘meio am-
biente’ surgem após longo processo
histórico de assentamento humano
e relações culturais diversas, dentro
de determinados contextos históri-
cos e espaços físicos e sociais.
Conforme Carvalho (2004:92),
a questão ambiental na contempo-
raneidade pode ser percebida, en-
tão, não apenas como um evento
atual, mas também como parte de
uma tradição ou história de longa
duração. Uma historicidade que
se torna presente à medida que
determina e afeta as condições de
emergência e recepção do fenômeno
ambiental na atualidade.
Em vários trabalhos, acadêmi-
cos ou não, nota-se o reconheci-
mento de uma crise instaurada em
nossa sociedade. Segundo o pensa-
mento do geógrafo Milton Santos
(2000), em nenhuma outra épo-
ca de sua história, a humanidade
passou por períodos tão comple-
xos do ponto de vista das relações
sociais. Períodos de crise, segundo
Santos, se sucedem atualmente de
modo ininterrupto. O certo é que
vivemos um período de crise na
modernidade, e a crise ambiental
é civilizatória (Leff, 2003; Brasil,
1998). Em síntese, a relação socie-
dade-natureza sempre existiu, por-
tanto continuamente construída ao
longo da história, e seu equivalente
moderno é a crise pela qual passa-
mos: “a crise ambiental é a crise do
nosso tempo” (Leff, 2003:15).
REPRESENTAÇÕES SOCIAIS, MEIO AMBIENTE E SAÚDE: POR UMA EDUCAÇÃO AMBIENTAL DE QUALIDADE
604 O MUNDO DA SAÚDE São Paulo: 2006: out/dez 30 (4): 598-606
Por outro lado, também se justi-
ficaoencaixedasquestõesambien-
tais no terceiro campo de pesquisa
(3) apresentado por Wagner, pois
apesar de podermos apresentar as
questões ambientais como proces-
soshistóricos,tambémpodemosca-
racterizá-las de forma mais contun-
dente a partir de meados do século
XX, com problemas característicos
que nos afligem mais fortemente a
nível global. Por isso, Latour et al.
(1998) contextualizam ‘meio am-
biente’ como uma construção po-
lítica e um evento histórico recente
para que nos defendamos de algo
produzido pelas próprias socieda-
des (Latour et al., 1988:106). A
‘unificação’ do termo se deve à
globalização de algumas incertezas
(climáticas, etnográficas, religiosas,
ideológicas etc).
Os grupos passam a discutir
mais preocupadamente as questões
ambientais a partir do momento
em que sofrem diretamente por
causa da degradação ambiental.
As questões ecológicas se mostram
geralmente como questões exóti-
cas e distantes, uma ameaça em po-
tencial: o uso e abuso dos recursos
hídricos, o efeito estufa, o buraco
na camada de ozônio, os desma-
tamentos etc. Estes tópicos são,
na verdade, incertezas globais. No
entanto, se essas incertezas concre-
tizam-se afligindo-nos diretamen-
te, ou ocorram grandes catástrofes
locais de alguma forma ligadas a
elas, instaura-se um sentimento
de incapacidade, impotência por
parte das sociedades, aflorando aí
a necessidade de discussão.
Énessemomentoqueaassocia-
ção da teoria das representações so-
ciais com a educação ambiental re-
flete um importante ganho teórico
no trato das discussões emergentes
sobre ‘meio ambiente’. Como re-
sultado da força de tal complemen-
taridade, surge a possibilidade de
uma cidadania mais encorpada por
parte dos sujeitos, ou atores sociais,
em seus lugares determinados ou
percebidos, históricos e de relações
dinâmicas entre o meio natural e
o social, enfim, em seu meio am-
biente como proposto por Reigota
(2002:14).
A vantagem que as represen-
tações sociais trazem para o cam-
po da educação ambiental é o fato
delas não apresentarem méritos de
julgamento, não ditarem o que é
certo ou errado a respeito de um
determinado objeto (Mazzotti,
2001), fato que, de certa forma, po-
tencializa a educação ambiental na
medida em que valoriza a troca de
saberes e o diálogo, compartilhados
entre os atores sociais.
A educação ambiental partiria
do conhecimento prático que os
sujeitos possuem sobre determina-
do objeto, sendo esse conhecimen-
to fonte de trocas entre os saberes
científicos e os saberes populares. A
função da educação ambiental pas-
sa a ser de, a partir da análise dos
resultados gerados pela teoria das
representações sociais, negociar al-
ternativas visando promover uma
melhor qualidade de vida tomando
como referência um ideal de sus-
tentabilidade. A própria legislação
brasileira (Brasil, Lei 9.975/99)
que estabelece a Política Nacional
de Educação Ambiental, em seu
capítulo I, expressa essas metas e
estabelece:
Art 1º – Entende-se por educação
ambiental os processos por meio
dos quais os indivíduos e a coleti-
vidade constroem valores sociais,
conhecimentos, habilidades, atitu-
des e competências voltadas para a
conservaçãodomeioambiente,bem
de uso comum do povo, essencial à
sadia qualidade de vida e sua sus-
tentabilidade.
Considerações finais
A característica de imparciali-
dade relativa às representações so-
ciais, desenvolvida por Moscovici,
foi um grande ganho teórico para
os pesquisadores, inclusive os vin-
culados à educação ambiental. Até
então, os psicólogos sociais ao estu-
darem comportamentos e relações
sociais deformavam-nas e simplifi-
cavam-nas a fim de obter seus re-
sultados (Moscovici, 2001:45), fato
que seguramente afeta negativa-
mente a qualidade dos mesmos.
Em contrapartida, ao utilizar a
teoria das representações sociais, a
educação ambiental pode propor-
cionar o fortalecimento da teoria e
ampliar suas possibilidades na me-
dida em que passa a inquirir aos
seus estudiosos a seguinte questão:
a representação foi identificada e
daí? O que faremos com ela? Como
trataremos tais questões a partir do
conhecimento prático apreendido?
Para que estudamos as represen-
tações? Como os especialistas e os
seus estudos sobre representações
sociais podem auxiliar na constru-
ção de um mundo melhor? São
perguntas que objetivam discutir a
utilidade dos resultados das repre-
sentações coletadas e mobilizam
os estudiosos (psicólogos sociais,
antropólogos, sociólogos, vários
educadores, dentre outros) que se
interessam por tais desafios.
Instaura-se uma nova fase mui-
to importante, a análise da repre-
sentação. Esta fase determina a
crítica que valida (ou não) a imple-
mentação de esforços no sentido de
se buscar transformar determinada
representação. Pensamos que iden-
tificando ecompreendendoosenso
comum, que embasa comporta-
mentos e atitudes dos seres huma-
nos a respeito de ‘meio ambiente’,
favoreceremos o encaminhamento
de novos aportes educativos. Ins-
pirados em Andrade Júnior et. al.
(2004:47), esperamos que esta re-
flexão contribua para o desenvol-
vimento de condutas ambientais
críticas, porque a associação entre
a teoria das representações sociais
REPRESENTAÇÕES SOCIAIS, MEIO AMBIENTE E SAÚDE: POR UMA EDUCAÇÃO AMBIENTAL DE QUALIDADE
O MUNDO DA SAÚDE São Paulo: 2006: out/dez 30 (4): 598-606 605
e o campo da educação ambiental
mostra-se como substrato facilita-
dor para focarmos as transforma-
ções sociais, ao levar em conta a
forma como as questões ambien-
tais, portanto, também as de saúde,
são concebidas por diferentes gru-
pos na sociedade.
Considerações finais
Conhecendo, através de análi-
ses das suas representações sociais,
o que pensam (ou poderiam pen-
sar) e acham (ou poderiam achar)
indivíduos e/ou grupos estaremos
mais aptos a intervir nos processos
educativos voltados para uma nova
racionalidade, que reflita sobre a
importância da Terra e determine,
conseqüentemente,umaoutraglo-
balização, solidária e que foque o
referencial da sustentabilidade.
Sabemos que as representações
sociais são conhecimentos partilha-
dos e estáveis, e sua transformação
não é fácil, mas, a exemplo de Boff
(1999:101), “recuso-me a pensar que
os seres humanos estejam condenados
a explorar-se mutuamente, a viver ob-
sessionadospelaacumulaçãoàcustada
misériadosoutroscondenadosaoegoís-
mo”. Por isso, concluímos que há a
necessidade de um esforço intelec-
tual intenso por parte dos educado-
res e demais profissionais ligados à
temática ambiental no tratamento
da interface entre as representações
sociaiseaeducaçãoambiental,bus-
cando-se a análise dos resultados
estruturados, superando assim um
dos grandes problemas da educa-
ção ambiental que, de acordo com
Guimarães, é:
[...] entender as estruturas e visões
de mundo dessa sociedade e sua
relação com a natureza, a sua di-
nâmicaintermediadapelasrelações
desiguais de poder, as suas motiva-
ções dinamizadas pelo privilégio
aos interesses particulares, da parte
sobre o todo, sobre o bem coletivo. É
desvelar e agir sobre as relações que
originaram os problemas ambien-
tais e não apenas nos restringirmos
a no máximo informarmos as suas
conseqüências. É perceber os emba-
tes, para neles atuar como campos
de disputa constitutivos da realida-
de, entre os quais o da noção sobre
sustentabilidade (Guimarães,
2003:100).
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REPRESENTAÇÕES SOCIAIS, MEIO AMBIENTE E SAÚDE: POR UMA EDUCAÇÃO AMBIENTAL DE QUALIDADE
606 O MUNDO DA SAÚDE São Paulo: 2006: out/dez 30 (4): 598-606
Recebido em 4 de maio de 2006
Aprovado em 31 de maio de 2006
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  • 1. COMUNICAÇÃO / COMMUNICATION / NOTÍCIA 598 O MUNDO DA SAÚDE São Paulo: 2006: out/dez 30 (4): 598-606 RESUMO: Trata-se da adequação e desenvolvimento da teoria das representações sociais como elemento potencializador para o campo da educação ambiental. O mundo, que é em essência o resultado das produções humanas vem, continuamente, sofrendo as conseqü- ências da ausência de reflexões críticas. Isso afeta tanto a dimensão ambiental quanto a da saúde. Como, então, superar tal obstáculo e viabilizar uma melhoria pragmática, no meio em que vivemos e interagimos, nas condições de meio ambiente e saúde? Este trabalho teórico-argumentativo visa indicar uma dessas possibilidades, se dispondo a defender a idéia de que o estudo das representações sociais, que são formadas nas relações sociais, caracteriza-se por importante alicerce teórico na busca e implementação de programas/projetos de educação ambiental críticos e antenados com as práticas cotidianas de indivíduos e sociedades. Como resultados esperamos que as transformações sociais há muito exigidas, sobretudo pelas camadas mais desfavorecidas socioambientalmente, concretize-se através da potencialização dos resultados de uma educação ambiental de qualidade enquanto tática de transformação da realidade. DESCRITORES: Psicologia social, Saúde ambiental, Educação ambiental ABSTRACT: This article is about the adequacy and development of the theory of social representations as a catalyzing element for the field of environmental education. The world, that is essentially the result of human beings productions, has been continuously suffering the consequences of the absence of critical reflections. This affects both the environmental dimension and the health dimension. How can we surpass such obstacles and make possible a pragmatic improvement in the environment where we live and interact, in good environmental and health conditions? This work aims to point out one of these possibilities, defending the idea that studying social representations, which stem from social relations, is an important theoretical foundation in the search and implementation of critical environmental education programs and projects related to individuals and societies daily practices. The ultimate aim is making long demanded social transformations to occur by the improvement of a quality environmental education as a strategy for transforming reality. KEYWORDS: Social psychology, Environmental health, Environmental education RESUMEN: Este artículo discute la pertenencia y el desarrollo de la teoría de las representaciones sociales como elemento de catálisis para el campo de la educación ambiental. El mundo, que es esencialmente resultado de las producciones de los seres humanos, ha estado sufriendo continuamente las consecuencias de la ausencia de reflexiones críticas. Esto afecta la dimensión ambiental y la dimensión de la salud. ¿Cómo podemos sobrepasar tales obstáculos y llevar a cabo una mejora pragmática en el ambiente donde vivimos y obramos recíprocamente, en buenas condiciones ambientales y de salud? Este trabajo busca precisar una de esas posibilidades, defendiendo la idea que estudiar las representaciones sociales, que provienen de las relaciones sociales, es una fundación teórica importante en la búsqueda y la puesta en práctica de programas críticos y proyectos de educación ambiental relacionados con los individuos y las prácticas cotidianas de las sociedades. El objetivo último es promover transformaciones sociales exigidas hace mucho tiempo de promedio la mejoría de una educación ambiental de calidad como estrategia para transformar la realidad. PALABRAS-LLAVE: Psicologia social, Salud ambiental, Educación ambiental Representações sociais, meio ambiente e saúde: por uma educação ambiental de qualidade Social representations, environment and health: towards a quality environmental education Representaciones sociales, ambiente y salud: hacia una educación ambiental de calidad Eduardo Silva de Freitas* *Mestre em Tecnologia Educacional nas Ciências da Saúde – Núcleo de Tecnologia Educacional para a Saúde – Universidade Federal do Rio de Janeiro (NUTES/UFRJ). Biólogo. Docente das Secretarias Municipais de Educação do Rio de Janeiro/RJ e de Duque de Caxias/RJ. E-mail: efreitasbio@gmail.com
  • 2. REPRESENTAÇÕES SOCIAIS, MEIO AMBIENTE E SAÚDE: POR UMA EDUCAÇÃO AMBIENTAL DE QUALIDADE O MUNDO DA SAÚDE São Paulo: 2006: out/dez 30 (4): 598-606 599 Introdução O conhecimento elaborado e partilhado por alguns grupos por meio do senso comum pode es- tar desalinhado frente às posturas que favoreçam ambientes mais saudáveis, porém isto não signi- fica afirmar que ele possa ser, de alguma forma, hierarquicamente inferior ao conhecimento cientí- fico ou a uma outra explicação de mundo qualquer, pois, conforme o educador Tarso Mazzotti, aque- les conhecimentos são verdadeiros para quem os construiu (Mazzotti, 2001). Ao conhecimento do senso co- mum, o psicólogo Serge Moscovici nomeou ‘representações sociais’, um conceito derivado das chama- das ‘representações coletivas’ de Émile Durkheim. Segundo Mos- covici (2001:47-48), Durkheim pensava as representações coletivas como uma entidade estática, hie- rarquicamente superior, coerciti- va, autônoma e que se impõe aos indivíduos, traço comum a todos os fatos sociais. Diferentemente de Durkheim, Moscovicientendequeasrepresen- tações são sociais porque orientam os processos de condutas e acabam por criar uma identidade grupal, ou, de outra forma, são produzi- das por indivíduos ou grupos, em situações concretas, relacionadas ao contexto social em que estão inseridos tais sujeitos, e não mais algo que transcende os indivíduos, como pensava Durkheim. As re- presentações sociais são conjuntos dinâmicos, que produzem compor- tamentos e relações com o meio e não apenas uma reprodução destes comportamentos e relações como reação a um dado estímulo exterior (Moscovici, 1978:50). Assim, dedicamos ao longo des- te trabalho aproximar a teoria das representações sociais ao campo da educação ambiental, contribuindo e ratificando este campo como um dos importantes eixos articuladores junto aos processos de qualidade de vida e de saúde, e buscando justi- ficar a contribuição teórica e a va- lidade da teoria das representações sociais junto aos pesquisadores e demais interessados na abordagem da temática ambiental. O estreito vínculo entre meio ambiente e saúde Em 1948, a Organização Mun- dial de Saúde (OMS) conceituou saúde como “o completo estado de bem-estar físico, mental e social e não apenas a ausência de doença”. O con- ceito de saúde, desde então, vem sofrendo reformulações que geram diversas definições. Grande parte delas tende a considerar um com- pleto bem-estar social como algo utópico (Brasil, 1998:249), ina- tingível, em sociedades repletas de diferenças e desigualdades sociais. Além disso, entender a divisão si- nalizada por uma idéia de estados distintos – físico, mental e social – nos remete à dualidade cartesia- na: corpo versus mente, que histori- camente fragmentou e segmentou saberes e que, ainda hoje, encontra ressonância em nossa sociedade. Houve um avanço teórico a respeito da concepção de saúde na VIIIConferênciaNacionaldaSaúde (1986), realizada em Brasília (Bra- sil). Saúde passou a ser considerada conseqüênciadascondiçõesdevida dos cidadãos. Seguindo essa linha de raciocínio, Lencastre afirma que “saúdeéresultantedascondiçõesdeali- mentação, habitação, educação, renda, meio ambiente, trabalho, transporte, emprego,lazer,liberdade,acessoeposse da terra e acesso a serviços de saúde” (Lencastre, 1990:5). Sendo parte das condições de vida dos indiví- duos, ‘meio ambiente’ foi incluído num conjunto de fatores associa- dos à saúde. Concebemos a expressão ‘meio ambiente’ como um evento históri- co recente, uma construção política (Latour et. al., 1998), cujo objetivo implica nos defender de algo pro- duzido pelas próprias sociedades, ou seja, sinaliza que construímos um conceito para contrapor nossas própriaspráticassociais.Ocorreque estas práticas estão afetando nossa saúde a tal ponto que já se admite a dimensão ambiental nos conceitos modernos, como parte dos proces- sos constitutivos de saúde. As questões ambientais são par- tes integrantes de saúde, logo, meio ambiente e saúde relacionam-se em vários pontos. O problema do lixo, a poluição em todas as suas dimensões, a camada de ozônio e o uso/conservação da água são apenas alguns dos muitos exem- plos que poderíamos citar. Con- tudo, a visão moderna de saúde que assimila a condição de ‘meio ambiente’, ainda que já aceita em documentos oficiais diversos, não está satisfatoriamente incorpora- da no âmbito de diferentes grupos. Ainda é possível encontrar idéias, conceitos, visões e valores que não contemplam as condições de ‘meio ambiente’ como parte das condi- ções de saúde, pois grande parte da sociedade ancora suas percepções de saúde em um conceito obsole- to, onde saúde significa apenas a ausência de doenças1 . Diante disso, emergem algumas perguntas: já que as questões am- bientais são imensamente pesqui- sadas atualmente pelos cientistas, por que os resultados encontrados não são conhecidos e praticados intensamente pela humanidade, uma vez que, cientificamente, sabe-se de sua importância à saúde 1. Tomamos como exemplo, neste caso, a pesquisa realizada por Andrade Júnior et. al. (2004) com estudantes universitários, porque em nossa concepção, se nas univer- sidades, locais privilegiados culturalmente, encontramos concepções reducionistas, fora do âmbito educacional superior esperamos uma situação ainda pior.
  • 3. REPRESENTAÇÕES SOCIAIS, MEIO AMBIENTE E SAÚDE: POR UMA EDUCAÇÃO AMBIENTAL DE QUALIDADE 600 O MUNDO DA SAÚDE São Paulo: 2006: out/dez 30 (4): 598-606 humana/ambiental? Uma análise superficial nos conduziria à conclu- são de que elas (as pesquisas cientí- ficas) não servem para muita coisa. O foco não pode ser este, sabemos que elas servem. Sobre elas pode- mos dizer que “é a partir da pesquisa que alimentamos a atividade de ensi- no e a atualizamos frente à realidade do mundo” (Minayo,1996:17). As ciências alimentam tecnologias di- versas que influenciam, e muito, o cotidiano das pessoas. Por que então os indivíduos de posse desse entendimento não se apropriam criticamente desses novos conhe- cimentos produzidos? Na área ambiental, as dimen- sões da ciência e do senso comum possuem por um lado, um discurso que valoriza uma concepção holís- tica, equiparando senso comum (popular, multicultural) à ciência (culta, especializada, universalista), onde os aqueles buscariam junto aos cultos, uma ‘instrumentali- zação’, e estes, a criatividade e as particularidades junto aos popu- lares. Por outro lado, há discur- sos que enxergam a(s) ciência(s) como instância(s) resolutórias(s) de todos os problemas humanos. De fato, este segundo grupo de considerações possui mais força e é alimentado pela mídia e pelo sis- tema econômico capitalista voraz. Aquela serve a duas correntes: ou é ideologizada notadamente pela cultura dominante, ou é acríti- ca, no sentido de não se perceber como instrumento importante de reflexão; este consome e exclui os não globalizados, ou globalizados perversamentenosentidoproposto por Santos (2000). O senso comum é algo muito difuso e contraditório, desconforta os cientistas de uma maneira geral (Mazzotti, 2001). Mas é sob seus domínios que as relações sociais são estabelecidas, por isso, a convicção de que este tipo de saber influencia direta ou indiretamente os paradig- mas humanos e as concepções de ciência, compondo um fluxo con- tínuo de interação ciência-senso comum. O papel da educação ambiental A questão ambiental deve ser central para se construir relações sociais mais saudáveis e a educa- ção ambiental, como estratégia de transformação da realidade (Brasil, 2001:19), deveria acompanhar as evoluções que se fazem no campo das ciências psicológicas e sociais e implementar programas e/ou projetos mais sintonizados com a realidade social. Isto porque, tudo indica que o conhecimento engen- drado no interior dos grupos, sob forte influência social, é percebido como mais importante, por seu caráter prático ligado à comporta- mentos diversos. No mundo, as questões am- bientais que se apresentaram após a década de sessenta, explicitadas pelo pensamento ambientalista e pelos movimentos ecológicos, contribuíram para a divulgação da educação ambiental. Com o passar do tempo, nos aproximando mais do final dos anos oitenta, acompa- nhamos, no Brasil, a implantação de políticas públicas voltadas para a educação ambiental (Carvalho, 2004:52-53). Ao longo da década de oitenta, foram produzidos dois documen- tos muito importantes voltados ao fortalecimento da educação am- biental: a publicação, em 1987, dos Parâmetros Curriculares Nacionais (PCN) e a promulgação da Consti- tuição Federal do Brasil em 1988. OsPCNs,aindaquecautelosamente frente à educação ambiental, inclu- íram o meio ambiente como tema transversal às disciplinas e conte- údos já clássicos, e a Constituição Federal (art. 225, cap. VI, §1, inciso VI) estabeleceu a obrigatoriedade da promoção da educação ambien- tal em todos os níveis de ensino e a conscientização pública para a pre- servação do meio ambiente (Brasil, 1988). Mesmo considerando esses as- pectos históricos, que representa- ram avanços democráticos para as questões ambientais, as discussões sobre‘meioambiente’eseusdesdo- bramentos em educação ambiental clássicos foram (e ainda são) feitas freqüentemente a partir de ‘saberes científicos’, que usualmente des- consideram as riquezas do saber de senso comum. Há, nestes casos, o estabelecimento da legitimação acrítica da ciência, cujo resultado é a criação de uma hierarquia do saber reificado2 enquanto melhor explicação de mundo. Numa crítica a esse processo, registra-se que somente a infor- mação, ou a especialização do saber científico, não é suficiente para co- nhecer o processo de complexidade instalado nas relações humanas. O fato de um conhecimento ser pro- duzido pela ciência, não significa necessariamente que todos vão poder ter acesso às suas benesses. Por outro lado, o saber prático do senso comum é por vezes ilusório e também não reflete o conheci- mento da complexidade, criando muitas vezes uma ‘nuvem cinzen- ta’, gerando desconfiança. O senso comum pode vir a discutir expli- cações metafísicas e/ou religiosas que não fazem parte do objetivo da ciência, enquanto saber padrão3 , 2. Por universos reificados entende-se àqueles em que se “produzem e circulam as ciências e o pensamento erudito em geral, com sua objetividade, seu rigor lógico e metodológico, sua teorizaçãoemespecialidadesesuaestratificaçãohierárquica” (Sá, 1993:28), e onde “asociedadeétransformadaemumsistemadeentidadessólidas,básicasinvariáveis,quesãoindiferentes à individualidade e não possuem identidade” (Moscovici, 2003:50). 3. Ênfase no saber das ciências experimentais, na quantificação em detrimento da qualificação
  • 4. REPRESENTAÇÕES SOCIAIS, MEIO AMBIENTE E SAÚDE: POR UMA EDUCAÇÃO AMBIENTAL DE QUALIDADE O MUNDO DA SAÚDE São Paulo: 2006: out/dez 30 (4): 598-606 601 estudar.PauloFreire,discutindoes- ses aspectos a respeito de um saber, em suas palavras, “verdadeiro”, e um saber popular, comenta: Se,deumlado,nãopossomeadap- tar ou me “converter” ao saber in- gênuo dos grupos populares, de ou- tro,nãoposso,serealmenteprogres- sista, impôr-lhes arrogantemente o meu saber como o verdadeiro. O diálogo em que se vai desafiando o grupo popular a pensar sua histó- ria social como a experiência igual- mente social de seus membros vai revelando a necessidade de superar certos saberes que, desnudados, vão mostrando sua “incompetên- cia” para explicar os fatos (Freire, 2000:38). O desafio traduz-se por cons- truirmos progressivamente uma autonomia cidadã, legitimando o saber científico, mas comprome- tendo-o com a apropriação reali- zada pelos indivíduos, ou seja, so- cializa-se o saber científico entre os grupos, respeitando-se sempre os contextos psicossociais e o conheci- mentodosensocomum.Estapossi- bilidade torna-se factível à medida que equilibrarmos as vantagens do conhecimento especializado e do senso comum, gerando sinergia. Os dois saberes, indissociáveis, não se- riam hierarquizados, mas pensados juntos como potencializadores um do outro. Tratando-se das questões ambientais em saúde, vale ressaltar que o saber científico, que se pre- tende universal, e o saber do senso comum, prático e multicultural por natureza, deveriam ser valorizados ediscutidosnaintençãodegerarre- sultados satisfatórios para ambos. A respeito da verticalização na transmissão dos saberes da educa- ção ambiental, Grün afirma ser isto um fato preocupante e perigoso às diversas culturas porque se trata de “um discurso altamente normativo de uma cultura branca e ‘limpinha’ que quer se impor a outras práticas cultu- rais” (Grün, 1996:20). Por isso, na intenção de abandonar a idéia de verticalização e sobrepormos uma proposta de horizontalidade no processo de ensino-aprendizagem, entendemos que uma educação ambiental de qualidade deve visar a troca de saberes entre indivíduos e sociedades, sobretudo discutindo as mais variadas e diferentes visões de mundo. Não é possível apontar somente uma determinada visão mais cor- reta, mais verdadeira. Assim, não nos parece coerente a construção de uma educação ambiental eficaz na medida em que não se almeje identificar o universo de idéias, va- lores, crenças, atitudes (dentro de um contexto mais social), porque muito provavelmente é este uni- verso que determina o modelo de comportamento dos indivíduos, ou seja, determinam as relações mate- riais com o ambiente. Atuar ecologicamente na busca de transformações sociais envolve conhecer e discutir as represen- tações que se formam, como elas circulam e quais suas aplicações práticas. “Torna-se, assim, necessário analisar o sistema de representações que indivíduos e grupos fazem de seu ambiente,poisécombasenelasqueeles agem sobre o meio ambiente” (Die- gues, 1996:63). Representações sociais e a educação ambiental: aproximações O sociólogo Aloísio Rus- cheinsky (2001:32) nos adverte que a educação ambiental deve partir das representações sociais de todas as pessoas envolvidas no pro- cesso educativo. Caso tal premissa não seja respeitada estaremos li- mitando o potencial da educação ambiental: Muitos programas de educação ambiental possuem alcance mais li- mitado do que o projetado por ór- gãosgovernamentaiscomprofissio- nais intencionais do ponto de vista técnico, porém que desdenham os condicionantes sociais, as represen- tações e a dimensão participativa (Ruscheinsky, 2001:29-30). Segundo o ‘pai’ da teoria das representações sociais, o psicólogo Serge Moscovici: Representando-se uma coisa ou uma noção, não produzimos uni- camente nossas próprias idéias e imagens: criamos e transmitimos um produto progressivamente elaborado em inúmeros lugares, segundo regras variadas. Dentro desses limites, o fenômeno pode ser denominado representação social (Moscovici, 2001:63). Considerando a afirmação de Moscovici, Denise Jodelet, uma das principais divulgadoras da teoria das representações sociais pelo mundo, afirma que a repre- sentação social é “uma forma de co- nhecimento, socialmente elaborada e partilhada, com um objetivo prático, e que contribui para a construção de uma realidade comum a um conjunto social” (Jodelet, 2001:22). A utili- zação da definição de Jodelet para fins de um melhor entendimento da teoria das representações sociais encontra amparo em observações e sugestões feitas por Celso Pereira de Sá, que entende ser esta, talvez, a mais consensual dentre as várias definições encontradas na literatu- ra que trata do tema4 . O estudo das representações sociais contribui para desvendar diferentes visões de mundo, de modo a facilitar o diálogo e o deba- te entre os diversos atores sociais. Os resultados de tais estudos deve- 4. Comunicação verbal em aula da disciplina Teoria das Representações Sociais, ministrada pelo professor Celso Pereira de Sá, no Instituto de Psicologia Social da UERJ (primeiro semestre de 2003).
  • 5. REPRESENTAÇÕES SOCIAIS, MEIO AMBIENTE E SAÚDE: POR UMA EDUCAÇÃO AMBIENTAL DE QUALIDADE 602 O MUNDO DA SAÚDE São Paulo: 2006: out/dez 30 (4): 598-606 riam construir uma base sólida aos projetos de educação ambiental crí- ticos, pois esses resultados freqüen- tementesugeremfortesresistências práticas aos projetos de educação clássicos, uma vez que estes apre- sentam verdades prontas, ou ideo- logias pré-concebidas. Considerando que grande parte dos projetos de educação ambien- tal desenvolvidos nas mais diversas localidades (escolas, entidades ci- vis, iniciativa privada, unidades de conservação etc) são clássicos, en- trar com um ‘pacote’ de educação ambiental–condiçãodeestranheza –pressupõequeestepacoteseja‘di- gerido’ pelo grupo atingido – condi- ção de familiarização. Logo, mesmo em um sistema de educação am- bientalclássico,ondeháclaramente a verticalização do saber e imposi- ção de algumas idéias e conteúdos, a teoria das representações sociais é pertinente, porque os sujeitos esta- rão procurando habilitar algo que é exótico, distante e estranho, em algo inteligível, próximo e familiar – um dos pontos-chave da teoria. Para Moscovici (2003:54) “a finalidade de todas as representações é tornar familiar algo não-familiar, ou a própria não-familiaridade”. Trata-se de uma árdua tarefa, segundo Mazzotti (2001), a tradu- ção de conceitos e teorias científicas para o público em geral, e as pres- crições propostas em educação am- biental por cientistas enfrentam a dificuldade da natureza formal das teorias. Entretanto, esta dificuldade de aproximação entre o conheci- mento científico e o público não es- pecialista, ou leigo, ou ainda cons- trutor de um dado senso comum, não deve servir de desculpa para a imposição de verdades por parte do corpo científico. Existem alguns ambientalistas que buscam a todo instante, des- construir as ‘verdades’ dos cien- tistas e pregar os valores éticos como caminho a ser percorrido pela educação ambiental. Isso se faz necessário porque tais ‘verda- des’ estariam associadas ao méto- do educativo que prega a educação ambiental como solução para todos os males e a direciona a “…uma postura que pretende ‘levar’ a grupos e comunidades os ‘saberes necessários’ a uma prática ambientalmentecorretaparaarela- çãodohomemcomanatureza.Essa percepção considera que os ‘saberes científicos’sobreanaturezaeomeio ambiente devem ser ‘orientadores’ da prática da educação ambiental, e mesmo da ética da relação do ho- memcomanatureza” (Ranauro e Irving, 2003:305-306). Em uma clara crítica a essa postura que entende a educação ambiental simplesmente como re- solutora de problemas, a proposta da educação ambiental deve ser percebida e compreendida não como indutora de ‘verdades’, ou reprodutora de ideologias e valo- res de grupos dominantes, mas nos apoiando no pensamento de Lou- reiro, como estabelecedora de “pro- cessos práticos e reflexivos que levem à consolidação de valores que possam ser entendidos e aceitos como favoráveis à sustentabilidade global, à justiça social e à preservação da vida” (Loureiro et al., 2003:16). O processo de uma educação ambiental, que se pretende crítica, é uma reflexão contínua do mun- do em que vivemos e interagimos. Nota-se que a apresentação e a organização da realidade cotidiana configuram-se instrumentos con- fiáveis para traçar estratégias de mudanças de paradigmas e cons- trução de uma nova racionalidade, pautadas na dialogicidade entre os atores envolvidos no processo educativo. Uma dialogicidade que não é romântica, onde opressores e oprimidos, de forma simplista, tro- cam harmoniosamente informa- ções; mas mediada pelas condições concretas de existência: Ser dialógico é empenhar-se na transformação constante da rea- lidade. [...] O diálogo é o encontro amoroso dos homens que, media- tizados pelo mundo, o “pronun- ciam”, isto é, o transformam, e, transformando-o, o humanizam para a humanização de todos (Freire, 1983:28). Pensado por Freire, esse diálogo favoreceastrocashumanaspropor- cionando um processo de educação recíproca. Isto indica que qualquer projeto educativo e/ou política pública, deveria estar embasada em resultados coletados a partir das relações sociais em situações (horizontais) de trocas e diálogos entre os sujeitos envolvidos, e não simplesmente determinadas hie- rarquicamente. [...] a Educação Ambiental não deve ser colocada como um instru- mento de “enquadramento” da ação sobre o meio ambiente, nem mesmo deve ser vista apenas como um “democratizador” de infor- mações ambientais. A Educação Ambiental pode mais e, partindo do resgate dos saberes locais, pode ir além da reificação estética da na- tureza e proporcionar verdadeiros espaços de trocas de saberes, em que grupos e comunidades pas- sam a se colocar como atores ativos no espaço territorial que ocupam e dentro das relações sociais da qual fazem parte (Ranauro e Irving, 2003:307). Agimos de determinada for- ma, e não de outra, porque cria- mos representações que implicam, continuamente, ajustes para nossa interação no mundo em que vive- mos. As representações nos servem para absorver aspectos da realidade diária e ao mesmo tempo nos ofe- recem subsídios nas interpretações, decisões e posicionamentos que tomamos contra ou a favor de de- terminado fato ou acontecimento cotidiano (Jodelet, 2001:17).
  • 6. REPRESENTAÇÕES SOCIAIS, MEIO AMBIENTE E SAÚDE: POR UMA EDUCAÇÃO AMBIENTAL DE QUALIDADE O MUNDO DA SAÚDE São Paulo: 2006: out/dez 30 (4): 598-606 603 Uma educação ambiental de qualidade, pautada em diálogos e trocas de saberes e que respei- te as diferenças culturais de cada localidade, pode ser instrumento poderoso de capacitação cidadã, na medida em que possa trazer co- nhecimentos (políticos, científicos, religiosos, filosóficos etc) para den- tro do cotidiano dos grupos. Com isso, as pessoas são sensibilizadas, fomentandoosurgimentodenovas interpretações do mundo e ações ecológicas/ambientais efetivas que favorecem um comprometimen- to socioambiental mais crítico por parte das sociedades. Estas novas interpretações são o foco das discussões acerca do meio ambiente em que vivemos e interagimos. Precisamos mudar o que está posto (ideologia) e imple- mentar o sonho (utopia) de uma sociedade mais justa, resgatando com isso as motivações dos primei- ros movimentos ecológicos, agora com mais subsídios informacionais e menos ingenuidade política. Representações sociais e educação ambiental: justificando a associação Na tentativa de sistematizar o campo das representações sociais, o pesquisador austríaco Wolfgang Wagner criou uma série de crité- rios para elas, dentre os quais vale a pena destacar o critério de rele- vância: as questões ou objetos são socialmente relevantes à medida que em sua presença, o padrão de comportamento dos indivíduos ou grupo muda, visando uma adapta- ção (Wagner, 2000:18). Além de al- guns critérios, Wagner propôs tam- bém três campos de pesquisa que nos ajudam a enquadrar o nosso objetivo de pesquisa. Na verdade, tais campos propostos nos indicam a viabilidade de trabalharmos as idéias relacionadas às questões am- bientais em todas elas. Buscaremos justificar essas idéias percorrendo- os: representações sociais como (1) conhecimento popular das idéias científicas socializadas; (2) objetos culturalmente construídos ao lon- go da história e seus equivalentes modernos; e (3) condições e even- tos sociais e políticos que significam um curto prazo para a vida social. Para o primeiro campo de pes- quisa (1), inicialmente buscamos auxílio no pensamento de Reigota, que afirma que nas representações sociais podemos encontrar “os co- nhecimentos científicos da forma que foramaprendidoseinternalizadospelas pessoas” (Reigota, 2002:12). Isto nos permite falar do conceito de ecolo- gia, que surge fortemente vincula- doàsciênciasnaturais,tornando-se um de seus grandes ramos ao longo dotempo.Podemosdizerqueaeco- logia é a base científica das questões ambientais que nos afetam. Porém, Carvalho assegura que a ecologia dos movimentos ecológicos tem sentidos e pretensões diferentes daquela proposta por Haeckel em fins do século XIX, se tratando de “uma‘idéiamigrante’,umaidéia-pon- te, que transitou de um mundo a ou- tro, do conhecimento científico às lutas sociais” (Carvalho, 2004:45). Logo, podemos concluir que a Ecologia, enquanto ciência, é ressignificada, reelaborada e representada no co- tidiano das sociedades, certamente fazendo parte do senso comum. Um outro exemplo que pode ser dado, para corroborar a pri- meira das justificativas do emprego da teoria das representações sociais aplicada às questões ambientais, é o fato de não haver consenso sobre a definição de ‘meio ambiente’ na comunidade científica (Reigota, 2002:14). Ainda assim, vários cien- tistas ‘definem’ meio ambiente e geram com isso, idéias científicas. O segundo campo de pesquisa (2) proposto por Wagner sugere objetos com uma longa história estabelecida. A partir dessa consta- tação, nota-se que sempre houve uma relação profunda entre as so- ciedades e seus ambientes naturais, tendo o homem buscado a distin- ção do meio que o cerca. Apesar de alguns pensadores considerarem as questões ambientais eventos re- centes em discussões midiáticas e acadêmicas, parece-nos clara uma dada relação sociedade-natureza desde o surgimento da espécie hu- mana na Terra, ou seja, o resultado das recentes reflexões acerca das questões ambientais envolvidas na representação de um ‘meio am- biente’ surgem após longo processo histórico de assentamento humano e relações culturais diversas, dentro de determinados contextos históri- cos e espaços físicos e sociais. Conforme Carvalho (2004:92), a questão ambiental na contempo- raneidade pode ser percebida, en- tão, não apenas como um evento atual, mas também como parte de uma tradição ou história de longa duração. Uma historicidade que se torna presente à medida que determina e afeta as condições de emergência e recepção do fenômeno ambiental na atualidade. Em vários trabalhos, acadêmi- cos ou não, nota-se o reconheci- mento de uma crise instaurada em nossa sociedade. Segundo o pensa- mento do geógrafo Milton Santos (2000), em nenhuma outra épo- ca de sua história, a humanidade passou por períodos tão comple- xos do ponto de vista das relações sociais. Períodos de crise, segundo Santos, se sucedem atualmente de modo ininterrupto. O certo é que vivemos um período de crise na modernidade, e a crise ambiental é civilizatória (Leff, 2003; Brasil, 1998). Em síntese, a relação socie- dade-natureza sempre existiu, por- tanto continuamente construída ao longo da história, e seu equivalente moderno é a crise pela qual passa- mos: “a crise ambiental é a crise do nosso tempo” (Leff, 2003:15).
  • 7. REPRESENTAÇÕES SOCIAIS, MEIO AMBIENTE E SAÚDE: POR UMA EDUCAÇÃO AMBIENTAL DE QUALIDADE 604 O MUNDO DA SAÚDE São Paulo: 2006: out/dez 30 (4): 598-606 Por outro lado, também se justi- ficaoencaixedasquestõesambien- tais no terceiro campo de pesquisa (3) apresentado por Wagner, pois apesar de podermos apresentar as questões ambientais como proces- soshistóricos,tambémpodemosca- racterizá-las de forma mais contun- dente a partir de meados do século XX, com problemas característicos que nos afligem mais fortemente a nível global. Por isso, Latour et al. (1998) contextualizam ‘meio am- biente’ como uma construção po- lítica e um evento histórico recente para que nos defendamos de algo produzido pelas próprias socieda- des (Latour et al., 1988:106). A ‘unificação’ do termo se deve à globalização de algumas incertezas (climáticas, etnográficas, religiosas, ideológicas etc). Os grupos passam a discutir mais preocupadamente as questões ambientais a partir do momento em que sofrem diretamente por causa da degradação ambiental. As questões ecológicas se mostram geralmente como questões exóti- cas e distantes, uma ameaça em po- tencial: o uso e abuso dos recursos hídricos, o efeito estufa, o buraco na camada de ozônio, os desma- tamentos etc. Estes tópicos são, na verdade, incertezas globais. No entanto, se essas incertezas concre- tizam-se afligindo-nos diretamen- te, ou ocorram grandes catástrofes locais de alguma forma ligadas a elas, instaura-se um sentimento de incapacidade, impotência por parte das sociedades, aflorando aí a necessidade de discussão. Énessemomentoqueaassocia- ção da teoria das representações so- ciais com a educação ambiental re- flete um importante ganho teórico no trato das discussões emergentes sobre ‘meio ambiente’. Como re- sultado da força de tal complemen- taridade, surge a possibilidade de uma cidadania mais encorpada por parte dos sujeitos, ou atores sociais, em seus lugares determinados ou percebidos, históricos e de relações dinâmicas entre o meio natural e o social, enfim, em seu meio am- biente como proposto por Reigota (2002:14). A vantagem que as represen- tações sociais trazem para o cam- po da educação ambiental é o fato delas não apresentarem méritos de julgamento, não ditarem o que é certo ou errado a respeito de um determinado objeto (Mazzotti, 2001), fato que, de certa forma, po- tencializa a educação ambiental na medida em que valoriza a troca de saberes e o diálogo, compartilhados entre os atores sociais. A educação ambiental partiria do conhecimento prático que os sujeitos possuem sobre determina- do objeto, sendo esse conhecimen- to fonte de trocas entre os saberes científicos e os saberes populares. A função da educação ambiental pas- sa a ser de, a partir da análise dos resultados gerados pela teoria das representações sociais, negociar al- ternativas visando promover uma melhor qualidade de vida tomando como referência um ideal de sus- tentabilidade. A própria legislação brasileira (Brasil, Lei 9.975/99) que estabelece a Política Nacional de Educação Ambiental, em seu capítulo I, expressa essas metas e estabelece: Art 1º – Entende-se por educação ambiental os processos por meio dos quais os indivíduos e a coleti- vidade constroem valores sociais, conhecimentos, habilidades, atitu- des e competências voltadas para a conservaçãodomeioambiente,bem de uso comum do povo, essencial à sadia qualidade de vida e sua sus- tentabilidade. Considerações finais A característica de imparciali- dade relativa às representações so- ciais, desenvolvida por Moscovici, foi um grande ganho teórico para os pesquisadores, inclusive os vin- culados à educação ambiental. Até então, os psicólogos sociais ao estu- darem comportamentos e relações sociais deformavam-nas e simplifi- cavam-nas a fim de obter seus re- sultados (Moscovici, 2001:45), fato que seguramente afeta negativa- mente a qualidade dos mesmos. Em contrapartida, ao utilizar a teoria das representações sociais, a educação ambiental pode propor- cionar o fortalecimento da teoria e ampliar suas possibilidades na me- dida em que passa a inquirir aos seus estudiosos a seguinte questão: a representação foi identificada e daí? O que faremos com ela? Como trataremos tais questões a partir do conhecimento prático apreendido? Para que estudamos as represen- tações? Como os especialistas e os seus estudos sobre representações sociais podem auxiliar na constru- ção de um mundo melhor? São perguntas que objetivam discutir a utilidade dos resultados das repre- sentações coletadas e mobilizam os estudiosos (psicólogos sociais, antropólogos, sociólogos, vários educadores, dentre outros) que se interessam por tais desafios. Instaura-se uma nova fase mui- to importante, a análise da repre- sentação. Esta fase determina a crítica que valida (ou não) a imple- mentação de esforços no sentido de se buscar transformar determinada representação. Pensamos que iden- tificando ecompreendendoosenso comum, que embasa comporta- mentos e atitudes dos seres huma- nos a respeito de ‘meio ambiente’, favoreceremos o encaminhamento de novos aportes educativos. Ins- pirados em Andrade Júnior et. al. (2004:47), esperamos que esta re- flexão contribua para o desenvol- vimento de condutas ambientais críticas, porque a associação entre a teoria das representações sociais
  • 8. REPRESENTAÇÕES SOCIAIS, MEIO AMBIENTE E SAÚDE: POR UMA EDUCAÇÃO AMBIENTAL DE QUALIDADE O MUNDO DA SAÚDE São Paulo: 2006: out/dez 30 (4): 598-606 605 e o campo da educação ambiental mostra-se como substrato facilita- dor para focarmos as transforma- ções sociais, ao levar em conta a forma como as questões ambien- tais, portanto, também as de saúde, são concebidas por diferentes gru- pos na sociedade. Considerações finais Conhecendo, através de análi- ses das suas representações sociais, o que pensam (ou poderiam pen- sar) e acham (ou poderiam achar) indivíduos e/ou grupos estaremos mais aptos a intervir nos processos educativos voltados para uma nova racionalidade, que reflita sobre a importância da Terra e determine, conseqüentemente,umaoutraglo- balização, solidária e que foque o referencial da sustentabilidade. Sabemos que as representações sociais são conhecimentos partilha- dos e estáveis, e sua transformação não é fácil, mas, a exemplo de Boff (1999:101), “recuso-me a pensar que os seres humanos estejam condenados a explorar-se mutuamente, a viver ob- sessionadospelaacumulaçãoàcustada misériadosoutroscondenadosaoegoís- mo”. Por isso, concluímos que há a necessidade de um esforço intelec- tual intenso por parte dos educado- res e demais profissionais ligados à temática ambiental no tratamento da interface entre as representações sociaiseaeducaçãoambiental,bus- cando-se a análise dos resultados estruturados, superando assim um dos grandes problemas da educa- ção ambiental que, de acordo com Guimarães, é: [...] entender as estruturas e visões de mundo dessa sociedade e sua relação com a natureza, a sua di- nâmicaintermediadapelasrelações desiguais de poder, as suas motiva- ções dinamizadas pelo privilégio aos interesses particulares, da parte sobre o todo, sobre o bem coletivo. É desvelar e agir sobre as relações que originaram os problemas ambien- tais e não apenas nos restringirmos a no máximo informarmos as suas conseqüências. É perceber os emba- tes, para neles atuar como campos de disputa constitutivos da realida- de, entre os quais o da noção sobre sustentabilidade (Guimarães, 2003:100). REFERÊNCIAS Andrade Jr H, Souza MA, Brochier JI. Representação social da educação ambiental e da educação em saúde em universitários. Psicol Reflex Crit 2004; 17(1):43-50. Disponível em: URL:http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0102- 79722004000 100007&lng=pt&nrm=isso. Boff L. Ecologia – mundialização – espiritualidade. São Paulo: Ática; 1999. Brasil. Constituição Federal. Capítulo VI. Do meio ambiente. 1988. Disponível em: URL: https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/ Constituicao/Constitui%E7ao.htm. Brasil.Lei nº 9.975 de 27 de abril de 1999. Dispõe sobre a educação ambiental, institui a Política Nacional de Educação Ambiental e dá outras providências. Disponível em: URL: https://www.planalto.gov.br Brasil. Ministério da Educação e Cultura/Secretaria de Ensino Fundamental. Parâmetros Curriculares Nacionais: temas transversais. Brasília; 1998. Leite ALTA, Medina NM, coordenadores. Educação ambiental: curso básico a distância - documentos e legislação ambiental da edu- cação ambiental. 2ª.ed ampl. Brasília:[s.n.];2001. Carvalho ICM. Educação ambiental: a formação do sujeito ecológico. São Paulo: Cortez; 2004. Diegues ACS. O mito moderno da natureza intocada. São Paulo: Hucitec; 1998. Freire P. Pedagogia da indignação: cartas pedagógicas e outros escritos. São Paulo: UNESP; 2000. Freire P. Extensão ou comunicação? Trad Rosisca Darcy de Oliveira. 7ª.ed. Rio de Janeiro: Paz e Terra; 1983. [O Mundo, Hoje, 24]. Grün M. Ética e educação ambiental: a conexão necessária. Campinas/SP: Papirus; 1996 [Coleção Magistério: formação e trabalho pedagógico]. Guimarães M. Sustentabilidade e educação ambiental. In: Cunha SB, Guerra AJT. Questão ambiental: diferentes abordagens. 17ª. ed. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil; 2003. p.81-105. Jodelet D. Representações sociais: um domínio em expansão. In: Jodelet D. As representações sociais. Rio de Janeiro: EdUERJ; 2001. p.17-44. Latour B, etal. A crise dos meios ambientes: desafios às ciências humanas. In: Araújo HR, organizador.Tecnociência e cultura: ensaios sobre o tempo presente. São Paulo: Estação Liberdade; 1998. p.91-125. Leff E, coordenador. A complexidade ambiental. São Paulo: Cortez; 2003.
  • 9. REPRESENTAÇÕES SOCIAIS, MEIO AMBIENTE E SAÚDE: POR UMA EDUCAÇÃO AMBIENTAL DE QUALIDADE 606 O MUNDO DA SAÚDE São Paulo: 2006: out/dez 30 (4): 598-606 Recebido em 4 de maio de 2006 Aprovado em 31 de maio de 2006 Lencastre EF. Educação em saúde: campos de atuação escolar. Rev bras saúde esc 1990; 1(1):19-21. Loureiro CFB, et al. Educação ambiental e gestão participativa em Unidades de Conservação. Rio de Janeiro: IBAMA/IBASE; 2003. Mazzotti TB. Representação social de ‘problema ambiental’: uma contribuição à educação ambiental. In: Moreira ASP. Representações sociais: teoria e prática. João Pessoa: UFPB; 2001. p.333-368. Minayo MCS. Pesquisa social: teoria, método e criatividade. 6ª ed. Petrópolis: Vozes; 1996. Moscovici S. Representações sociais: investigações em psicologia social. Petrópolis/RJ: Vozes; 2003 [Coleção Psicologia Social]. Moscovici S. Das representações coletivas às representações sociais: elementos para uma história. In: Jodelet D. As representações sociais. Rio de Janeiro: EdUERJ; 2001. p.45-66. Moscovici S. A representação social da Psicanálise. Rio de Janeiro: Zahar; 1978. Ranauro ML, Irving MA. Educação ambiental e saber local: do desencontro à participação. In: 7º Encontro de educação ambiental do Estado do Rio de Janeiro; 2003 set 23-23; Rio de Janeiro. Anais. Reigota M. Meio ambiente e representação social. 5ª ed. São Paulo: Cortez; 2002 [Questões da nossa época, 41]. Ruscheinsky A. Meio ambiente e percepção do real: os rumos da educação ambiental nas veias das ciências sociais. Rev eletrônica Mestr Educ Ambient 2001 out-nov-dez; 7: 26-44. Sá CP. Representações sociais: o conceito e o estado atual da teoria. In: Spink MJ, organizadora. O conhecimento no cotidiano: as representações sociais na perspectiva da psicologia social. São Paulo: Brasiliense; 1993. p.19-45. Santos M. Por uma outra globalização: do pensamento único à consciência universal. Rio de Janeiro: Record; 2000. Wagner W. Sócio-gênese e características das representações sociais. In: Moreira ASP, Oliveira DC, organizadores. Estudos interdis- ciplinares de representação social. 2ª ed. Goiânia: AB; 1998. p.03-25.