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Participação ocupacional: o que é?
A participação é o envolvimento em ocupações desejadas de forma a que haja
satisfação pessoal e que sejam compatíveis com as expectativas dentro da
cultura.(American Occupational Therapy Association, 2014)
A participação ocupacional pode ocorrer individualmente ou com outras pessoas.
As pessoas podem ser independentes, apesar de receberem ajuda para desempenhar as
suas atividades ou ações necessárias para a sua participação, desde que estejam satisfeitas
com o seu desempenho.(American Occupational Therapy Association, 2014)
Os profissionais de terapia ocupacional consideram as pessoas independentes
quando estes desempenham as componentes de uma atividade por eles mesmo ou por
desempenharem uma ocupação num ambiente adaptado ou modificado, usando
estratégias ou dispositivos alternativos.(American Occupational Therapy Association,
2014)
Os profissionais reconhecem que a saúde é apoiada quando as pessoas são capazes
de envolver-se em vários ambientes como na escola, em casa, no local de trabalho e na
comunidade. Preocupam-se não só com as ocupações, mas, também, com a variedade de
fatores que permitem o envolvimento e a participação das pessoas em ocupações positivas
e que promovem a saúde e o bem-estar. (American Occupational Therapy Association,
2014)
Um dos fatores muito importante é a motivação. É um fator interno que permite
dar energia e direção ao comportamento e os objetivos a atingir. (Monteiro, 2010)
Pensemos, por exemplo, num individuo com uma deficiência ao nível da visão.
Este tipo de deficiência afeta negativamente a saúde e o bem-estar do individuo, dado
que, este não poderá envolver-se em atividades importantes como, por exemplo, as
atividades da vida diária. A sua participação na realização em algumas tarefas irá ser
bastante afetada como a arrumação da casa ou na preparação de refeições, o que irá causar
desmotivação e vontade de desistir dos seus objetivos. (Monteiro, 2010)
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Equilíbrio ocupacional
O equilíbrio ocupacional é um dos mais importantes conceitos na prática da
terapia ocupacional desde o inicio do século 20. Neste tempo, os médicos falaram sobre
implementar uma cura de trabalho como parte da rotina diária de atividades,
supervisionadas pelos terapeutas ocupacionais. Entre 1970 e 1980, os terapeutas
ocupacionais escrevera sobre o balanço do trabalho e como promover a saúde, e como
mudar o balanço entre o individuo e o ambiente para facilitar a adaptação. Mais
recentemente, os terapeutas ocupacionais referiram a necessidade ou satisfação do
balanço através desempenho ocupacional nas áreas da higiene, produtividade e lazer. A
perceção do balanço é individual e influenciada pela cultura, valores e expectativas do
ambiente. (Backman, 2004)
Christiansen sugere que existe 3 perspetivas que os terapeutas ocupacionais
devem considerar: a gestão de tempo nas ocupações, a cronobiologia (baseada nos ritmos
biológicos) e os projetos pessoais.
Simpson propôs 14 premissas em três quadros conceituais: função-disfunção
contínua, avaliação e intervenção. (Kathlyn L. Reed & Sanderson, 1999)
Um exemplo de quando uma pessoa está em desequilíbrio ocupacional é quando
não é possível realizar todas as atividades que são significativas para si, tendo como
consequência um mal-estar a nível pessoal e/ou social e a não realização de todos os seus
projetos pessoais. Para que haja um equilíbrio ocupacional, é necessário que o individuo
consiga gerir melhor o seu tempo para que consiga realizar todas as suas atividades que
são significativas para si, de modo a que, estabeleça os objetivos ao nível dos seus projetos
pessoais e que haja uma sincronização ao nível da sua cronobiologia (relógio interno e
externo do individuo).
Justiça ocupacional
A justiça ocupacional é algo que promove a mudança como aumentar a
consciência individual e recursos políticos, sociais e económicos como também promove
a igualdade de desenvolvimento das profissões que permitem às pessoas alcançar o bem-
estar e o seu potencial.(Parra-Esquivel, 2015)
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A justiça é baseada na construção humana e tem como princípios a atribuição de
direitos e deveres na sociedade e a distribuição apropriada dos benefícios ou trabalhos a
nível social. (Parra-Esquivel, 2015)
No estudo realizado por Thibeault sobre a justiça social, este teve em conta os
elementos de inclusão social, o envolvimento da comunidade e sustentabilidade. Neste
estudo conclui que os terapeutas ocupacionais podem promover a mudança a nível social
ao realizar ações como ajudando as pessoas que precisam e transmitindo o conhecimento
aos mais vulneráveis, que transcendem dos serviços de saúde tradicionais. Este tipo de
situação vai acabar por exigir maior compreensão sobre o tema da justiça e o impacto que
este tem. Numa entrevista realizada a Powell, conclui-se que é importante que os
terapeutas ocupacionais identifiquem a justiça social em duas vertentes: cultural e
económica. A terapia ocupacional deve ser algo que beneficie a todos utilizando teorias
ou métodos que, por vezes, têm maior relevância cultural ou exigem mais a nível
económico. (Parra-Esquivel, 2015)
A ideia de justiça ocupacional é baseada em 2 aspetos: em que as pessoas têm o
potencial para crescer para o mais alto nível de desenvolvimento pessoal através daquilo
que fazem e que têm o direito em relação à ocupação. Isto pode ser sumarizado em:
experiências de ocupações significativas e enriquecedoras, participação em ocupações
para beneficiar a saúde e a participação social, exerção da autonomia na escolha de
profissões e a diversidade de participação nas ocupações.
O conceito de injustiça pessoal leva-nos para ocupações que podem ser barradas,
confinadas, restritas, segregadas, proibidas, pouco desenvolvidas, alienadas,
marginalizadas, exploradas ou excluídas. (Jennifer Creek & Lougher, 2011)
Por exemplo, num caso de injustiça ocupacional, podemos encontrar um individuo
de cadeira de rodas que necessita de entrar num estabelecimento, mas que, a única
maneira de aceder ao mesmo, é subir um lance de escadas. Devido à falta de recursos
(neste caso, de uma rampa) o individuo não consegue atingir o seu mais alto nível de
desenvolvimento pessoal devido à exclusão social por parte da sociedade. Como tal, para
que haja justiça ocupacional é necessário que todos os indivíduos tenham o direito em
participar em todas as suas ocupações. Portanto, é preciso que haja uma igualdade ao
nível de envolvimento na comunidade e sustentabilidade e que, neste caso, seja construída
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uma rampa para pessoas com dificuldades a nível das suas competências motoras e que
necessitam de se deslocar de cadeira de rodas.
Privação ocupacional
As pessoas têm uma ocupação natural. Ou seja, as pessoas têm a tendência a
estarem ocupadas e essa ocupação preenche várias funções no individuo como a saúde e
a sua promoção. No entanto, também tem uma dimensão social que determina como as
pessoas devem realizar as suas ocupações, quais as ocupações que são socialmente úteis
e válidas para um determinado grupo de pessoas. Mas os fatores sociais e individuais
podem muitas vezes bloquear o acesso para um determinado número de ocupações e pode
levar a pessoa a experienciar desequilíbrio ocupacional ou privação ocupacional.
(Jennifer Creek & Lougher, 2011)
Wilcock listou uma lista de atividades que pode levar à privação ocupacional
como tecnologia, divisão do horário de trabalho, falta de oportunidade de emprego,
pobreza ou excesso de riqueza, valores culturais, normas e limitações impostas pelos
serviços sociais e sistemas de educação e as consequências sociais relativamente aos
doentes e pessoas incapacitadas. (Jennifer Creek & Lougher, 2011)
Whiteford sugere que quando a privação ocupacional é um fenómeno temporário
e baseia-se mais em fatores pessoais do que sociais devia ser chamado interrupção e não
privação. (Jennifer Creek & Lougher, 2011)
Temos como um exemplo de privação ocupacional o deslocamento de refugiados.
Estas pessoas devido aos seus valores culturais e crenças são obrigados a deslocar-se do
seu país, onde têm a sua vida e onde realizam as suas ocupações, para um país onde,
frequentemente, não são aceites da melhor maneira. São, portanto, privadas das suas
ocupações, devido aos fatores sociais e individuais, o que irá prejudicar, posteriormente,
a sua saúde.
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Adaptação ocupacional
A adaptação ocupacional é a capacidade de o individuo/paciente se adaptar a
novas atividades dado que, a situação que se encontra, não o permite realizar atividades
que antes realizava frequentemente.
A adaptação ocupacional, que é facilitada através do enquadramento das
ocupações diárias, pode ter impactos negativos ou positivos na saúde e bem-estar de uma
pessoa. Segundo Rudman, a ocupação é influenciada pela identidade pessoal e social da
pessoa enquanto que, segundo Kielhofner, a ocupação é influenciada pelos interesses,
papéis e rotinas da pessoa e pelo contexto e ambiente. (Nousheena Firfirey & Hess-April,
2014)
Por exemplo, um individuo que tenha tido um acidente de viação e que ficou
paralisado da cintura para baixo. Uma das atividades que este individuo adora realizar era
correr. Sempre lhe proporcionou um bem-estar e prazer e ajudava-o a manter o seu
equilíbrio. Mas, devido ao acidente, deixou de poder realizar esta ocupação. Contudo,
este individuo também sempre gostou de música e de tocar guitarra, mas nunca sentiu a
necessidade de aprender. Como o acidente só o paralisou da cintura para baixo, este ainda
possuía competências motoras ao nível dos membros superiores e, portanto, decidiu
aprender a tocar guitarra, que lhe dava as mesmas sensações de quando corria. Portanto,
o individuo sentiu a necessidade de se adaptar ao seu novo contexto temporal para que se
sentisse realizado a nível pessoal e ao nível da sua saúde.
Alienação ocupacional
Quando as pessoas experienciam a sua vida diária com falta de propósito e/ou
significado devido à dificuldade em encontrar algo importante para fazer ou realizar algo
que não tem qualquer significado para si, estamos, assim, perante a alienação
ocupacional.(Jennifer Creek & Lougher, 2011)
Alienação ocupacional refere-se a um senso de isolamento, impotência,
frustração, falta de controlo ou constrangimentos por parte da sociedade ou por parte do
próprio individuo, que resulta devido ao envolvimento em ocupações que não satisfazem
as suas necessidades.(Jennifer Creek & Lougher, 2011)
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Ao realizar atividades que não têm qualquer propósito para o individuo, pode
afetar a identidade pessoal do individuo.(Jennifer Creek & Lougher, 2011)
Por exemplo, um individuo que esteja licenciado em engenharia mecânica. Apesar
da área que mais gosta é a engenharia mecânica não conseguiu, no entanto, arranjar
trabalho nesta área. Portanto, devido a problemas económicos, sentiu a necessidade de
arranjar emprego numa área pela qual não tem qualquer interesse. Apesar de realizar o
trabalho, este sente frustração e impotência pois não consegue envolver-se em ocupações
do seu interesse e que satisfazem as suas necessidades.
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Referências bibliográficas:
American Occupational Therapy Association. (2014). Occupational Theraphy Practice
FRAMEWORK: Domain & Process 3rd Edition. The American Journal of
Occupational Therapy, 68, 48.
Backman, C. L. (2004). Occupational Balance: Exploring the relations. The Canadian
Journal of Occupational TherapyThe Canadian Journal of Occupational
Therapy, 71, p.202.
Jennifer Creek, & Lougher, L. (2011). Occupational Therapy and Mental Health:
Elsevier Health Sciences.
Kathlyn L. Reed, & Sanderson, S. N. (1999). Concepts of Occupational Therapy:
Lippincott Williams & Wilkins.
Monteiro, M. C. (2010). Participação Ocupacional do Idoso com Deficiência Visual:
sua percepção. (MESTRADO EM TERAPIA OCUPACIONAL), Instituto Politécnico
do Porto
Escola Superior de Tecnologia da Saúde.
Nousheena Firfirey, & Hess-April, L. (2014). A study to explore the occupational
adaption of adults with MDR-TB who undergo long-term hospitalisation. South
African Journal of Occupational Therapy, 44(3).
Parra-Esquivel, E. I. (2015). Análisis del concepto 'justicia' en terapia ocupacional.
Revista de la Facultad de Medicina, 63(3).