O documento discute as filosofias do realismo científico e empirismo construtivo na ciência e no ensino de ciências. Apresenta as visões de que as teorias científicas podem descrever a verdade sobre o mundo versus a visão de que elas devem ser julgadas apenas por sua adequação empírica. Também debate a importância das entidades observáveis e não observáveis e como essas filosofias influenciam a abordagem do ensino de ciências.
Realismo científico e empirismo construtivo na ciência e no ensino de ciências
1. Jair Lúcio Prados Ribeiro
REALISMO CIENTÍFICO E
EMPIRISMO CONSTRUTIVO
NA CIÊNCIA E NO ENSINO
DE CIÊNCIAS
Setembro2016
Seminário PPGEC / PPGEduc
2. Filosofia
Estudo de problemas fundamentais relacionados à
existência, ao conhecimento, à verdade, aos valores morais
e estéticos, à mente e à linguagem.
6. Os “inimigos da ciência”?
Para Theocaris e Psimopoulos (1987), os quatro
“traidores da verdade” atacaram a noção de que a
ciência pode alcançar o conhecimento objetivo.
Popper Lakatos Kuhn Feyerabend
7. Onde está a verdade?
A proposição “não existem verdades” se
autocontradiz – logo, algumas verdades devem
existir (THEOCARIS e PSIMOPOULOS, 1987).
8. Origens do realismo científico
O realismo tem como objetivo remover as
ressalvas que se poderia ter contra a confirmação
efetiva das teorias científicas (PSILLOS, 1999).
10. Realismo científico ingênuo
O retrato que a ciência nos dá do mundo é
verdadeiro e fidedigno, e as entidades postuladas na
ciência realmente existem (VAN FRAASSEN, 2007).
11. Realismo científico
As teorias científicas bem-sucedidas devem ser
aceitas como descrições verdadeiras - ou melhor,
aproximadamente verdadeiras - do mundo (PSILLOS, 1999).
12. Realismo: descoberta vs. invenção
Uma teoria científica é um relato sobre o que realmente
existe, e a ciência é um empreendimento de descoberta,
em vez de invenção (PSILLOS, 1999).
16. Observável e inobservável
As entidades observáveis são aquelas detectáveis
pelos sentidos humanos não assistidos.
17. Observabilidade ≠ existência
Um cavalo alado seria observável – é por isso que estamos
tão certos de que não existe nenhum. Por sua vez, não é
possível observar o número dezessete (Van Fraassen, 2007).
18. Questões sobre observabilidade
As luas de Júpiter seriam observáveis por um indivíduo
em uma localização adequada (Van Fraassen, 2007).
20. Quando um físico observa partículas subatômicas,
ele está vendo um traço na tela (CAMPBELL, 2005)
Questões sobre observabilidade
21. Não observável ou não observado?
Ilustração do Augsburger Wunderzeichenbuch (séc. XVI)
22. Não observável ou não observado?
Parélios (sun dogs) em Fargo (EUA).
23. Limites da percepção
Nossos limites da percepção devem ter um
papel nas nossas atitudes epistêmicas em
relação à ciência (VAN FRAASSEN, 1985).
24. Transição do observável para o
inobservável
A linha entre o observável e o não-observável
é difusa, e varia de um problema científico
para outro (KUKLA, 1998).
25. A pressão é observável?
A linha entre o observável e o não-observável
é difusa, e varia de um problema científico
para outro (KUKLA, 1998).
26. Sucesso empírico da ciência
As teorias bem confirmadas são conjunções de enunciados
genuínos bem confirmados e as entidades às quais elas se
referem provavelmente existem (MAXWELL, 1962).
27. Argumento do milagre
O realismo científico é a única filosofia que não faz do
sucesso científico um milagre (PUTNAM, 1975).
28. Contra-argumentação
Toda teoria científica nasce em uma competição feroz, uma
selva de dentes e garras ensanguentadas. Apenas as teorias
bem-sucedidas sobrevivem (VAN FRAASSEN, 2007).
29. Pressupostos do realismo científico
Epistemológico
As teorias científicas bem-
sucedidas (fazem previsões
que são confirmadas) são
aproximadamente
verdadeiras, e as entidades
postuladas (ou bastante
similares) por tais teorias
realmente existem.
Metafísico
O mundo tem uma estrutura
natural definida e
independente da mente .
Semântico
As teorias científicas devem
ser tomadas de forma
literal, encarando-as como
descrições verdadeiras no
seu domínio pretendido.
32. Quando falamos de átomos, a linguagem é usada como na poesia:
a preocupação não está na descrição de fatos, mas sim na criação
de imagens e estabelecimento de conexões (BOHR, 2011).
Linguagem em ciência
33. Ler uma metáfora em termos de denotação e não de
conotação, em termos de prosa e não em termos de poesia,
é um erro de leitura de um símbolo (CAMPBELL, 2005)
A metáfora inevitável
34. Antirrealismo
O objetivo da ciência pode bem ser atendido sem fazer um relato
verdadeiro, e a aceitação de uma teoria pode envolver algo a menos (ou
diferente) que a crença de que ela é verdadeira (VAN FRAASSEN, 2007).
38. Empirismo construtivo
As teorias devem ser empiricamente adequadas; e a aceitação
de uma teoria envolve, como crença, apenas aquela de que ela
é empiricamente adequada (VAN FRAASSEN, 2007).
39. Primazia da experimentação
A construção de teorias não pode ser a atividade científica
suprema. A real importância da teoria é que ela é um dos
elementos da elaboração de experimentos (VAN FRAASSEN, 2007).
40. Primazia da experimentação
A construção de teorias não pode ser a atividade científica
suprema. A real importância da teoria é que ela é um dos
elementos da elaboração de experimentos (VAN FRAASSEN, 2007).
42. Empirismo e verdade
A tese do empirismo construtivo, de que o que importa na
ciência é a adequação empírica, e não as questões sobre a
verdade (VAN FRAASSEN, 2007).
43. Agnosticismo
Não há a necessidade de se acreditar na existência física
das entidades inobserváveis postuladas por uma teoria.
45. Observabilidade e verdade
Para teorias sobre o não observável, a verdade demanda
adequação empírica mas não vice-versa: uma teoria pode ser
empiricamente adequada mas ser falsa. (MUSGRAVE, 1985)
46. Limites da percepção
A percepção humana é notoriamente não confiável, podendo
ser influenciada por condições atmosféricas, drogas, estresse,
ilusões de óptica e assim por diante (FRANKLIN, 1999).
47. Limites da percepção
A percepção humana é notoriamente não confiável, podendo
ser influenciada por condições atmosféricas, drogas, estresse,
ilusões de óptica e assim por diante (FRANKLIN, 1999).
48. Tese pragmática de Ellis (1985)
A ciência visa prover o melhor conjunto de explicações possíveis
dos fenômenos naturais; e a aceitação de uma teoria científica
envolve a crença de que ela pertence a esse conjunto.
49. Afinal, e o ensino de ciências?
Uma concepção mais real da natureza da ciência seria os
professores adotarem uma atitude filosófica sobre os conceitos
que denotam entidades inobserváveis (SILVA, 2013).
52. Integração com a história da ciência
A apresentação de um debate realista vs. antirrealista
sem menção à história do tema pode acabar por
distorcer a própria história (SILVA, 2013).
53. “Superação” de uma teoria
O professor pode acomodar o episódio escolhido no
quadro tradicional , mostrando os fracassos
(ou dificuldades) da ciência (SILVA, 2013).
54. Para refletir...
O debate realista vs. antirrealista não costuma se desenvolver
a partir de modelos das ciências humanas ou sociais.
57. Referências
• BOHR, N. Atomic theory and the description of nature. 1a ed. (reed.), 128p, Londo: Cambridge Univ. Press, 2011.
• CAMPBELL, J. O poder do mito. 23a ed., 250p, São Paulo: Palas Atena, 2005.
• ELLIS, B. “What science aims to do” [1985]. In: PAPINEAU, D. (ed.) The philosophy of science (Oxford readings in
philosophy). 1a ed., p.166-193, New York, Oxford University Press, 1999.
• CHURCHLAND, P. The anti-realist epistemology of van Fraassen's The Scientific Image. The Los Angeles Pacific
Philosophical Quarterly, v.63, n.3, p.226-235, 1982.
• FRANKLIN, A. Can that be right? Essays on experiment, evidence and science. 1a ed., p.149-162, Norwell: Kluwer
Academic Publishers, 1999.
• HACKING, I. Representing and Intervening. 1a ed., p.24, London: Cambridge University Press, 1983.
• MAXWELL, G. “The ontological status of theoretical entities” [1962], in McGREW, T.; ALSPECTOR-KELLY, M.;
ALLHOFF, F. Philosophy of science: an historical anthology. 1a ed., p. 450-456, New York: Wiley-Blackwell, 2009.
• MUSGRAVE, A. “Realism versus constructive empiricism”, [1985], in CHURCHLAND, P.; HOOKER, C. (org.) Images
of science: essays on Realism and Empiricism, with a Reply from Bas C. Van Fraassen. 1a ed., p.197-221, Chicago:
University of Chicago Press, 1985.
• PSILLOS, S. Scientific realism: how science tracks truth (trad. MARQUES SEGUNDO, L.). 1a ed., p.XVII-99, New
York: Routledge, 1999.
• PUTNAM, H. Mathematics, Matter and Method: Philosophical Papers, v. 1. 1a ed., p. 75, London: Cambridge
University Press, 1975.
• RIBEIRO, J. Are you ready, kids? It’s Spongebob triclops! The Physics Teacher, v.53, n.5, p.246-247, 2015.
• SILVA, M. Ensino de ciências: realismo, antirrealismo e a construção do conceito de oxigênio. História, Ciências &
Saúde, v.20, n.2, p.481-497, 2013.
• THEOCARIS, T.; PSIMOPOULOS, M. Where science has gone wrong. Nature, v.329, n.6140, p.595-598, 1987.
• VAN FRAASSEN, B. “Empiriscism in the philosophy of science”, [1985], in CHURCHLAND, P.; HOOKER, C. (org.)
Images of science: essays on Realism and Empiricism, with a Reply from Bas C. Van Fraassen. 1a ed., p.245-308,
Chicago: University of Chicago Press, 1985.
• VAN FRAASSEN, B. A imagem científica. 1a ed., 374p, São Paulo: Editora UNESP, 2007.