O documento discute diversos aspectos da poesia, incluindo definições, história, tipos de poemas e poetas. Em três frases, o resumo é:
O documento apresenta diferentes perspectivas sobre o que é poesia através de citações de poetas como Voltaire, Castro Alves e Paulo Leminski. Também discute a evolução histórica da poesia desde os textos antigos até a poesia moderna e conceitos como métrica e versificação. Finalmente, reflete sobre a importância social dos poetas.
1. O QUE É POESIA?
ACADEMIA PARANAENSE DA POESIA
Biblioteca Pública do Paraná - 18 horas - 29 de Outubro de 2015
Poeta Sérgio Augusto de Munhoz Pitaki - Cadeira No. 27
2. O QUE É POESIA?
CENTRO DE LETRAS DO PARANÁ
10 de Maio de 2016
Sérgio Augusto de Munhoz Pitaki – Cadeira 27
4. spitaki
Bilhete a Baudelaire
Vinicius de Moraes
Poeta, um pouco à tua maneira
E para distrair o spleen
Que estou sentindo vir a mim
Em sua ronda costumeira
Folheando-te, reencontro a rara
Delícia de me deparar
Com tua sordidez preclara
Na velha foto de Carjat
Que não revia desde o tempo
Em que te lia e te relia
A ti, A Verlaine, a Rimbaud…
Como passou depressa o tempo
Como mudou a poesia
Como teu rosto não mudou!
9. –Edgar Allan Poe (1809-1849)
“Poesia é a criação rítmica da beleza em
palavras.”
10. -Pablo Neruda (1904 - 1973)
“A Poesia é um ato de paz.
A paz entra na composição de um poeta,
tal como a farinha entra na composição do pão."
11. spitaki
Poesia
Gastei uma hora pensando um
verso
que a pena não quer escrever.
No entanto ele está cá dentro
inquieto, vivo.
Esle está cá dentro e não quer
sair.
Mas a poesia deste momento
inunda minha vida inteira.
Carlos Drummond de Andrade - (1902 - 1987)
12. - Paulo Leminski (1944-1989)
“poesia é um inutensílio”
A poesia é um inutensílio. A única razão da poesia é que ela faz parte daquelas
coisas inúteis da vida que não precisam de justificativa porque elas são a própria
razão de ser da vida.
Querer que a poesia tenha um porquê, querer que a poesia esteja a serviço de
alguma coisa é a mesma coisa, por exemplo, que você querer que um gol do Zico
tenha uma razão de ser, tenha um porquê, além da alegria da multidão. É a mesma
coisa que querer, por exemplo, que um orgasmo tenha um porquê. É a mesma coisa
que querer, por exemplo, que a alegria da amizade, do afeto, tenha um porquê. A
poesia faz parte daquelas coisas que não precisam ter um porquê.
Pra que porquê?
13. A Poesia é como a árvore,
bela por suas raízes,
troncos e galhos,
folhas e … frutos!
Sérgio Pitaki (1956 - …)
14. spitaki
Arte
é a atividade humana ligada a
manifestações de ordem estética,
feita por artistas a partir de
percepção, emoções e ideias, com o
objetivo de estimular esse interesse
de consciência em um ou mais
espectadores, e cada obra de arte
possui um significado
único e diferente.
Arte
15. spitaki
A arte não é meramente uma manifestação
estética
a serviço do deleite do observador,
ela tem o poder de inspirar ideias,
estimular a sensibilidade e o raciocínio,
alargar o universo pessoal,
promover trocas de percepções e pontos d
e vista,
despertar a inteligência,
colaborar com o desenvolvimento psíquico
e
construir uma rede neurológica ampla.
Ruy Sant'Anna
16. spitaki
ARS
S e n t i do
criação artificial
habilidade especial
valor e importância
novidade e ineditismo
senso de prazer ou beleza
ordem, padrão ou harmonia
Resposta a um dado problema
excitação da imaginação e a fantasia
expressão da realidade interior do criador
indução ou comunicação de uma experiência-pico
comunicação sob a forma de uma linguagem especial
18. spitaki
Orfeu foi poeta e médico.
Filho da musa Calíope e de Apolo.
Foi o poeta mais talentoso que já viveu.
Quando tocava sua lira, que seu pai lhe
deu,
os pássaros paravam de voar para
escutar
e os animais selvagens perdiam o
medo.
As árvores se curvavam para pegar os
sons
ao vento.
“aedos" Grécia
“vates" em Roma.
Eurídice no Reino de Hades
19. spitaki
Monólogo de Orfeu -
Vinicius de Moraes por Maria Betânia
v
https://www.youtube.com/watch?v=KUTiKPPDld4
20. A poesia pertence à ficção,
pois trata-se de um processo criativo e de algo inventado.
Os gregos chamavam de poiésis ao “ato de criar algo”
O texto poético se caracteriza por
privilegiar o prazer estético da leitura.
Poesia é algo imaterial e poema é um gênero textual
com características de estrutura próprias.
22. spitaki
O historiador polonês de estética Wladyslaw Tatarkiewicz
num trabalho acadêmico sobre "O Conceito de Poesia”,
traça a evolução do que são na verdade dois conceitos
de poesia.
Assinala que o termo é aplicado a duas coisas distintas…
Paul Valéry observou, “em um certo ponto encontram união…
Mas a poesia também tem um significado mais geral,
que é difícil de definir, porque é menos determinado:
A poesia é uma arte baseada na linguagem.
A poesia expressa um certo “estado da mente”.
23. spitaki
“Hoje eu acordei poesia…
respiro poesia
só quero poesia
fazer poesia
pensar poesia…
Até a voz do vento
recita poesia.
À noite adormecerei poesia
e amanhã acordarei poesia…
Talvez consiga morrer poesia…
Janske Schlenker, “Deixa que eu fale"
24. spitaki
O POETA:
"Não sei se os povos amam os seus cientistas,
mas todos os povos amam seus poetas.
No Brasil os poetas são amados por milhões.
Por que que os povos amam seus poetas?
Porque os povos precisam disso,
porque os poetas dizem uma coisa que as pessoas
precisam que seja dita,
o poeta não é um ser de luxo
ele não é uma excrescência ornamental da sociedade,
ele é uma necessidade orgânica de uma sociedade,
a sociedade precisa daquela loucura para respirar,
é através da loucura dos poetas,
através da ruptura que ele representa
que a sociedade respira"
Paulo Leminski
25. spitaki
"O poeta, além de incorrigível sonhador,
cinzela frases, esculpe versos, dá
colorido às expressões, vida às estrofes
e celestial musicalidade às rimas! Seus
versos podem trazer o sorriso ou
conduzir às lágrimas; podem soar com
suave e dulcíssima serenata ou como
melancólico réquiem!"
Professor Mamed Zauíth
"O que é poesia?" 2013
26. spitaki
“The poet makes himself a seer by a long,
prodigious, and rational disordering of all the senses.
Every form of love, of suffering, of madness;
he searches himself, he consumes all the poisons in him,
and keeps only their quintessences.”
" O poeta se faz um vidente por uma longa,
prodigiosa, e racional desorganização de todos os sentidos .
Toda forma de amor, de sofrimento, de loucura ;
ele procura em si mesmo, ele consome todos os venenos nele
e mantém apenas a sua quintessência . "
―Arthur Rimbaud
27. spitaki
“Ler poesia é ato de inauguração pessoal,
pisar novo no chão,
uma outra aterrissagem,
possibilidade de transmigrar de planeta mental,
emocional.
Fenômeno que acontece mesmo quando estamos
relendo pela enésima vez um poema que já conhecemos
até de cor.
Ler novamente um poema que amamos
é como lavar o rosto pela manhã"
Ítalo Moriconi
28. –Ezra Pound
“mais do que nunca,
o leitor e a leitora de poesia são antenas da
raça.”
30. spitaki
MÉTRICA
"apenas distingue o estilo do
artista"
AUTONOMIA
VERSOS LIVRES
(POESIA MODERNA)
PROSA POÉTICA
'harmonia, ritmo e
emoção'
POESIA é um gênero literário
caracterizado pela composição
em versos, estruturados de
forma harmoniosa.
É uma manifestação
de beleza e estética
retratada pelo poeta
em forma de palavras.
No SENTIDO
FIGURADO,
poesia é tudo aquilo
que comove,
sensibiliza e
desperta sentimentos,
que inspira e encanta,
que é sublime e bela.
31. spitaki
A POESIA como forma de arte pode ser anterior à escrita.
Obras dos vedas indianos (1700-1200aC)
os Gathas de Zoroastro (1200-900aC) até
a Odisséia (800-675 aC)
32. spitaki
O POEMA MAIS ANTIGO: POEMA AO REI SHU
Noivo, caro ao meu coração,
Agradável é a tua beleza, doce mel,
Leão, caro ao meu coração,
Agradável é a tua beleza, doce mel.
Noivo, eu deixaria que me levasses para o quarto,
Tu cativaste-me, deixa-me permanecer tremente perante ti,
Noivo, deixa que te acaricie,
A minha preciosa carícia é mais saborosa do que o mel,
Tu, porque me amas,
Dá-me o favor das tuas carícias, …
33. spitaki
Meu querido é alvo,
de pele rosada,
o mais insígne dentre dez mil.
Sua cabeça é um lingote de ouro
fino,
Seus cachos, cachos de palmeira,
pretos como um corvo.
Seus olhos são como pombas
junto aos espelhos d’água,
lavando-se no leite,
ou posando nas bacias.
Suas faces são como um canteiro
de bálsamo produzindo perfumes.
Seus lábios são lírios que
destilam a mais pura mirra.
Suas mãos são braceletes de
ourorepletos de topázios.
Seu ventre, uma chapa de
marfim coberta de safiras.
Suas pernas são colunas de
alabastro,
erguidas sobre socos de ouro fino.
Seu rosto é como o Líbano:
é a elite, tal qual os cedros.
Seu paladar é a própria doçura;
tudo nele é desejável.
Tal é meu querido, tal meu
companheiro,
filhas de Jerusalém.
Cântico dos Cânticos - 5, 10-16
38. spitaki
Por cima do abismo
estende-se minh’alma
tensa como um cabo
onde me equilibro,
malabarista de palavras.
Vladimir Maiacovski (1893 – 1930)
39. spitaki
“O professor inexperiente, temendo sua própria ignorância,
tem medo de admiti-la. Talvez essa coragem somente venha
quando a gente sabe até que ponto a ignorância é quase universal.
Tentativas de camuflagem são simplesmente,
a longo prazo uma perda de tempo."
Pessoas perfeitamente sinceras dizem:
“literatura não se ensina”.
E o que querem significar com tal
afirmação é provavelmente verdade.
O que se pode nitidamente fazer é
ensinar alguém a distinguir entre uma e
outra espécie de livros."
Ezra Pound
abc da Literatura
41. spitaki
LICENÇA POÉTICA
A POESIA pode fazer uso da chamada licença poética,
que é a permissão para extrapolar o uso da norma culta da lín
gua,
tomando a liberdade para recorrer a recursos como o uso de
palavras de baixo-calão, desvios da norma ortográfica que se
aproximam
mais da linguagem falada ou a utilização de figuras de estilo c
omo a
hipérbole ou outras que assumem o caráter “fingidor” da poesi
a,
de acordo com a conhecida fórmula de Fernando Pessoa
- “O poeta é um fingidor”.
42. spitaki
ARTHUR RIMBAUD 1854-1891
Vênus Anadiômene (27 de julho de 1870)
Como de um verde túmulo em latão o vulto
De uma mulher, cabelos brunos empastados,
De uma velha banheira emerge, lento e estulto,
Com déficits bastante mal dissimulados;
Do colo graxo e gris saltam as omoplatas
Amplas, o dorso curto que entra e sai no ar;
Sob a pele a gordura cai em folhas chatas,
E o redondo dos rins como a querer voar…
O dorso é avermelhado e em tudo há um sabor
Estranhamente horrível; notam-se a rigor,
particularidades que demandam lupa…
Nos rins dois nomes só gravados: CLARA VÊNUS;
- E todo o corpo move e estende a ampla garupa
- Bela horrorosamente, uma úlcera no ânus.
44. spitaki
CLASSIFICADOR DE POESIA
Paulo Araújo e Nuno J. Mamede
Institudo Superior de Engenharia de Lisboa
Conceitos de Estrofe, Verso, Sílaba e Rima (2002)
Definidos no dicionário de termos literários e
no dicionário de literatura.
“The Gardner Kit” - jogo para construção de poemas.
“Magnetic Poetry”de Dave Kapell.
“Ray Kurzweil’s Cybernetic Poet” - automático
48. spitaki
GÊNEROS DA POESIA
De como deveriam ser representadas as fábulas, respondeu
Sócrates a Adimanto na República, de Platão:
“Tal como Deus é realmente,
assim é que se deve sem dúvida representar,
quer se trate de poesia épica, lírica ou trágica”.
Dicionário Aurélio
“nas obras de um artista, de uma escola,
cada uma das categorias que, por tradição,
se definem e classificam segundo o estilo, a natureza ou a
técnica”.
50. spitaki
mar azul
mar azul marco azul
mar azul marco azul barco azul
mar azul marco azul barco azul arco azul
mar azul marco azul barco azul arco azul ar azul
Ferreira Gullar
51. spitaki
Lirismo
Elegíaco = trata de assuntos tristes.
Nênia = homenagem a uma pessoa morta.
Era declamada junto à fogueira de
incineração.
Endecha = revela as dores do coração.
Epitáfio = pequeno verso gravado em pedras tumulares.
Epicédio = o poeta relata a vida de uma pessoa morta.
Ditirambo = louvor ao deus Dionísio (Baco), alegria,
musa…
Bucólico = versa sobre assuntos campestres
52. spitaki
ACRÓSTICO as letras iniciais formam versos com um nome
BALADA quatro estrofes: três oitavas ou três décimas
e uma quadra ou quintilha
HAICAI origem japonesa, composto de uma estrofe com
três versos: o primeiro com cinco sílabas
(redondilha menor)
e o segundo com sete sílabas (redondilha maior);
SONETO catorze versos (dois quartetos e dois tercetos
ou, ainda, por uma estrofe com doze versos e
outra com
dois versos);
TROVA uma estrofe de quatro versos com sete sílabas
poéticas
(redondilha maior).
LIVRES (desde que tenham poesia…..!!!!!!!)
54. spitaki
" Hoje, em que chegamos ao fim do que se chamou de arte moderna,
os critérios de juízo para apreciação já não são os mesmos
fundados na
experiência do cubismo.
Estamos agora em outro ciclo, que não é mais puramente artístico,
mas cultural, radicalmente diferente do anterior e iniciado, digamos,
pela pop art.
A esse novo ciclo de vocação anti-arte, chamaria de arte pós-
moderna."
Mario Pedrosa sobre a arte de Hélio Oiticica (1966)
55. spitaki
A MÉTRICA ou medida é representada pelo número de sílabas de
um verso. Essa estrutura em sílabas permite ao leitor identificar o
ritmo
do poema:
Representação da métrica de um verso
As sílabas poéticas ou métricas não são contadas como as sílabas
gramaticais.
A contagem de sílabas poéticas respeita o ritmo do poema, é feita
auditivamente e vai apenas até a última sílaba tônica do verso.
AL/ MA/ MI/ NHA/ GEN/TIL/ QUE/ TE/ PAR/ TIS/ TE
1 2 3 4 5 6 7 8 9 10
56. spitaki
Dividir um verso em sílabas poéticas é chamado de
A ESCANSÃO deve seguir determinadas regras, tais como:
Os ditongos crescentes formam apenas uma sílaba.
Duas vogais podem formar apenas uma sílaba quando uma
delas se encontra no final de uma palavra, e a outra,
no início da palavra seguinte.
A/ MOR/ É / FO/ GO / QUE AR/ DE/ SEM / SE /
VER
1 2 3 4 5 6 7 8 9 10
escandir.
57. spitaki
VERSOS MAIS EMPREGADOS NOS POEMAS
PENTASSÍLABOS ou redondilha menor: compostos de cinco sílabas.
HEPTASSÍLABOS ou redondilha maior: compostos de sete sílabas.
DECASSÍLABOS ou heróicos: compostos de dez sílabas.
DODECASSÍLABOS ou alexandrinos: compostos de doze sílabas.
Alexandrino Clássico, Francês ou Arcaico
58. spitaki
O RITMO, responsável pela estrutura melódica do
texto poético, é marcado pela sucessão de sílabas átonas
e tônicas dentro do verso ou do poema:
“Samba, suor e cerveja”, Caetano Veloso.
“Morte a cavalo”, Carlos Drummond de Andrade.
A cavalo de galope
a cavalo de galope
a cavalo de galope
lá vem a morte chegando.
Acho que a chuva ajuda a gente a se ver
59. spitaki
por falar em trem…por que partiu?… por que partiu?
ou.ça.o..ba..ru..lho…da…ro..da…no..tri..lho..do..trem
ou..ça..o..ba..ru..lho..da..ro..da..no..tri..lho..do..trem
ou.ça.o.ba.ru.lho.da.ro.da.no.tri.lho.do.trem
ouçaobarulhodarodanotrilhodotrem
Sérgio Pitaki - 13/10/2015
60. spitaki
Rima
A rima é o resultado de sons iguais
ou semelhantes entre as palavras,
no meio ou no final de versos
diferentes. Há vários tipos de rima:
RIMA
61. spitaki
QUANTO A POSIÇÃO NA ESTROFE
CRUZADA OU ALTERNADA (ABAB)
O primeiro verso rima com o terceiro, e o segundo com o
quarto:
INTERPOLADA (ABBA)
O primeiro verso rima com o quarto, e o segundo com o
terceiro:
EMPARELHADA (AABB)
O primeiro verso rima com o segundo, e o terceiro com o
quarto:
INTERNAS Quando rimam palavras que estão no fim do verso e
no
interior do verso seguinte
MISTURADAS Não tem esquema fixo.
VERSOS BRANCOS OU SOLTOS São os que não tem rima.
62. Última flor do Lácio, inculta e bela,
és, a um tempo, esplendor e sepultura:
ouro nativo, que na ganga impura
a bruta mina entre os cascalhos vela…
Língua Portuguesa
Olavo Bilac
63. spitaki
QUANTO À TONICIDADE
AGUDAS Quando rimam palavras oxítonas ou
monossilábicas:
a/mor e com/por; a/mém e Be/lém.
GRAVES Quando rimam palavras paroxítonas:
an/ta e man/ta; qui/os/que e bos/que.
ESDRÚXULAS Quando rimam palavras proparoxítonas:
má/gi/co e trá/gi/co; lí/ri/co e o/ní/ri/co.
64. No ar lento fumam gomas aromáticas,
Brilham as navetas, brilham as dalmáticas.
Eugênio de Castro
65. spitaki
QUANTO À SONORIDADE
PERFEITAS Há uma perfeita identidade dos sons finais:
festa e manifesta; cedo e medo.
IMPERFEITAS Quando não há uma perfeita identidade dos sons
finais:
céu e breu; sais e paz.
CONSOANTES Quando há os mesmos sons a partir da última tônica:
perto e incerto; dezenas e apenas.
TOANTES Quando só há identidade com a vogal tônica do verso:
terra e pedra; vela e terra.
66. spitaki
Zé Maria era um rude camponês
Assinar o seu nome não sabia.
Mas contudo encerrava polidez
A moral natural de Zé Maria.
O Trabalho foi sempre o seu estudo
Para ele esta lida era um brinquedo,
Era o nome de Deus o seu escudo
E por isto de nada tinha medo.
Patativa do Assaré
67. spitaki
QUANTO AO VALOR
POBRES Quando rimam palavras da mesma classe gramatical:
Ex: amor e flor; meu e teu.
RICAS Quando rimam palavras de classes gramaticais diferentes:
ex: festa e manifesta; cedo e medo.
RARAS Quando rimam palavras de difícil combinação melódica:
ex: cisne e tisne; leque e Utreque.
PRECIOSAS São rimas artificiais, decorrentes da combinação de um
nome com a forma verbo-pronome:
ex: tranqüilo e ouvi-lo; estrela e vê-la.
69. spitaki
Quanto ao metro dos versos, as estrofes podem ser:
SIMPLES agrupam versos de um mesmo metro.
COMPOSTAS - agrupam versos de metros diferentes.
POLIMÉTRICAS (livres) agrupam versos de diferentes
medidas sem obediência a qualquer regra.
* “exprimo-me sem metro porque não sou poeta."
Sócrates - em A República - Platão – 393aC
71. spitaki
Em certo dia, à hora, à hora
Da meia-noite que apavora,
Eu, caindo de sono e exausto de fadiga,
Ao pé de muita lauda antiga,
De uma velha doutrina, agora morta,
Ia pensando, quando ouvi à porta
Do meu quarto um soar devagarinho,
E disse estas palavras tais:
"É alguém que me bate à porta de mansinho;
Há de ser isso e nada mais."
Numa meia-noite agreste, quando eu lia, lento e triste,
Vagos, curiosos tomos de ciências ancestrais,
E já quase adormecia, ouvi o que parecia
O som de alguém que batia levemente a meus umbrais.
"Uma visita", eu me disse, "está batendo a meus umbrais.
É só isto, e nada mais."
Machado de Assis
Fernando Pessoa
“The Raven” -
Edgar Allan Poe - 1845
Poeta, um pouco à tua maneira
E para distrair o spleen
Que estou sentindo vir a mim
Em sua ronda costumeira
Folheando-te, reencontro a rara
Delícia de me deparar
Com tua sordidez preclara
Na velha foto de Carjat
Que não revia desde o tempo
Em que te lia e te relia
A ti, A Verlaine, a Rimbaud…
Como passou depressa o tempo
Como mudou a poesia
Como teu rosto não mudou!
Editora Nova Aguilar 1995
A poesia é um inutensílio. A única razão da poesia é que ela faz parte daquelas coisas inúteis da vida que não precisam de justificativa porque elas são a própria razão de ser da vida. Querer que a poesia tenha um porquê, querer que a poesia esteja a serviço de alguma coisa é a mesma coisa, por exemplo, que você querer que um gol do Zico tenha uma razão de ser, tenha um porquê, além da alegria da multidão. É a mesma coisa que querer, por exemplo, que um orgasmo tenha um porquê. É a mesma coisa que querer, por exemplo, que a alegria da amizade, do afeto, tenha um porquê. A poesia faz parte daquelas coisas que não precisam ter um porquê. Pra que porquê?
Na mitologia grega, Orfeu era poeta e médico, filho da musa Calíope e de Apolo ou Eagro, rei da Trácia[1] . Era o poeta mais talentoso que já viveu. Quando tocava sua lira que seu pai lhe deu, os pássaros paravam de voar para escutar e os animais selvagens perdiam o medo. As árvores se curvavam para pegar os sons no vento.
Foi um dos cinquenta homens - os argonautas - que atenderam ao chamado de Jasão para buscar o Tosão de ouro. Acalmava as brigas que aconteciam no navio com sua lira. Durante a viagem de volta, Orfeu salvou os outros tripulantes quando seu canto silenciou as sereias, responsáveis pelos naufrágios de inúmeras embarcações.
Orfeu apaixonou-se por Eurídice e casou-se com ela. Mas Eurídice era tão bonita que, pouco tempo depois do casamento, atraiu um apicultor chamado Aristeu. Quando ela recusou suas atenções, ele a perseguiu. Tentando escapar, ela tropeçou em uma serpente que a mordeu e a matou. Por causa disso, as ninfas, companheiras de Eurídice, fizeram todas as suas abelhas morrerem.
Orfeu ficou transtornado de tristeza. Levando sua lira, foi até o mundo inferior, para tentar trazê-la de volta. A canção pungente e emocionada de sua lira convenceu o barqueiro Caronte a levá-lo vivo pelo rio Estige. Em seguida, a canção da lira adormeceu Cérbero, o cão de três cabeças que vigiava os portões. Seu tom carinhoso aliviou os tormentos dos condenados. Encontrou muitos monstros durante sua jornada, e os encantou com seu canto.
Finalmente Orfeu chegou ao trono de Hades. O rei dos mortos ficou irritado ao ver que um vivo tinha entrado em seu domínio, mas a agonia na música de Orfeu o comoveu, e ele chorou lágrimas de ferro. Sua esposa, a deusa Perséfone, implorou-lhe que atendesse o pedido de Orfeu. Assim, Hades atendeu seu desejo[1] . Eurídice poderia voltar com Orfeu ao mundo dos vivos[1] . Mas com uma única condição: que ele não olhasse para ela até que ela, outra vez, estivesse à luz do sol[1] .
Orfeu partiu pela trilha íngreme que levava para fora do escuro reino da morte, tocando músicas de alegria e celebração enquanto caminhava, para guiar a sombra de Eurídice de volta à vida. Ele então quase no final do tenebroso túnel olhou para se certificar de que Eurídice o acompanhava e não a viu. Hades e Perséfone os seguiram e como ficou estabelecido que ele não poderia olhar para Eurídice até chegar ao fim do túnel, Hades a tomou novamente.
Milles Orfeus 2008e.jpg
Por um momento ele a viu, perto da saída do túnel escuro, perto da vida outra vez. Mas enquanto ele olhava, ela se tornou de novo um fino fantasma, seu grito final de amor e pena não mais do que um suspiro na brisa que saía do Mundo dos Mortos. Ele a havia perdido para sempre. Em desespero total, Orfeu se tornou amargo. Recusava-se a olhar para qualquer outra mulher, não querendo lembrar-se da perda de sua amada. Posteriormente deu origem ao Orfismo, uma espécie de serviço de aconselhamento; ele ajudava muito os outros com seus conselhos, mas não conseguia resolver seus próprios problemas, até que um dia, furiosas por terem sido desprezadas, um grupo de mulheres selvagens chamadas Mênades caíram sobre ele, frenéticas, atirando dardos. Os dardos de nada valiam contra a música do lirista, mas elas, abafando sua música com gritos, conseguiram atingi-lo e o mataram. Depois despedaçaram seu corpo e jogaram sua cabeça cortada no rio Hebro, e ela flutuou, ainda cantando, "Eurídice! Eurídice!"
Chorando, as nove musas reuniram seus pedaços e os enterraram no monte Olimpo. Dizem que, desde então, os rouxinóis das proximidades cantaram mais docemente que os outros. Pois Orfeu, na morte, se uniu à sua amada Eurídice.
Quanto às Mênades, que tão cruelmente mataram Orfeu, os deuses não lhes concederam a misericórdia da morte. Quando elas bateram os pés na terra, em triunfo, sentiram seus dedos se espicharem e entrarem no solo. Quanto mais tentavam tirá-los, mais profundamente eles se enraizavam. Suas pernas se tornaram madeira pesada, e também seus corpos, até que elas se transformaram em carvalhos silenciosos. E assim permaneceram pelos anos, batidas pelos ventos furiosos que antes se emocionavam ao som da lira de Orfeu, até que por fim seus troncos mortos e vazios caíram.
Pela beleza de Eurídice - Aristeu apicultor a atraiu e ela fugiu. Na queda foi picada por uma cobra e morreu.
Barqueiro Caronte o levou pelo Rio Estinge ao reino de Hades cujo guarda Cérbero cão de três cabeças adormeceu com a sua lira . O rei do reino dos mortos, Hades ficou contrariado de ver um vivo mas ficou comovido com sua lira e sua esposa Perséfone, o convenceu a levar Eurídice - contudo sem olhar para ela até pisar na terra. Na saída para ver se ela estava atrás ainda olhou-a e ela voltou para o reino dos mortos. Tornou-se amargo e criou-se o ORFISMO ajudar os outros sem ajudar a si próprio - Mulheres selvagens MÊNADES furiosas o mataram despedaçaram-no cortaram sua cabeça e a jogaram no rio Hebro e ela ainda cantou Eurídice Eurídice.
Parecem ter sido compostas em forma poética para ajudar a memorização e a transmissão oral nas sociedades pré-históricas e antigas.
A POESIA aparece entre os primeiros registros da maioria das culturas letradas, com fragmentos poéticos encontrados em antigos monolitos, pedras rúnicas e estelas.
O POEMA épico mais antigo sobrevivente é a Epopéia de Gilgamesh, originado no terceiro milênio, mais de 4.000 a.C. na Suméria (Mesopotâmia) escrito em letras cuneiformes em tabletes de argila e depois em papiro, estão preservados em biblioteca em Istambul.
DICHTEN É O VERBO ALEMÃO CORRESPONDENTE AO SUBSTANTIVO DICHTUNG, QUE SIGNIFICA “POESIA” E O LEXICÓGRAFO TRADUZIU-O PELO VERBO ITALIANO QUE SIGNIFICA “CONDENSAR”
TRADUÇÃO E ORGANIZAÇÃO AUGUSTO DE CAMPOS – IRMÃO DO HAROLDO DE CAMPOS QUE JUNTO COM DÉCIO PIGNATARI
FUNDARAM O MOVIMENTO DA POESIA CONCRETA – NA DÉCADA DE 1950 – JUNTO COM O MOVIMENTO INICIADO NA SUIÇA
TAMBÉM PELO BRASILEIRO SUECO ÖYVIND FAHLSTRÖM
Manifest for konkret poesie
A POESIA pode fazer uso da chamada licença poética, que é a permissão para extrapolar o uso da norma culta da língua, tomando a liberdade para recorrer a recursos como o uso de palavras de baixo-calão, desvios da norma ortográfica que se aproximam mais da linguagem falada ou a utilização de figuras de estilo como a hipérbole ou outras que assumem o caráter “fingidor” da poesia, de acordo com a conhecida fórmula de Fernando Pessoa (“O poeta é um fingidor”).
Dê-me um cigarro
Diz a gramática
Do professor e do aluno
E do mulato sabido
Mas o bom negro e o bom branco
Da Nação Brasileira
Dizem todos os dias
Deixa disso camarada
Me dá um cigarro
Melopéia – palavras impregnadas de uma propriedade musical (som ritmo) que orienta o significado
Homero, Arnaut Daniel e os provençais
Fanopéia – um lance de imagens sobre a imaginação visual – os chineses chegaram ao máximo de fanopéia – natureza dos ideogramas
Logopéia – dança do intelecto entre as palavras, que trabalha no domínio específico das manifestações verbais e não se pode conter em música ou em plástica (Propércio, Laforgue)
Navetas = peças metálicas para carregar o incenso nas liturgias
Dalmática = trajes litúrgicos dos diáconos da igreja católica
Quanto ao número de versos agrupados, as estrofes recebem diferentes denominações:
Disposição das estrofes em um poema
A estrofe de oito versos, quando possuir o esquema rítmico (ABABABCC) será denominada oitava-rima ou oitava heróica.
exprimo-me…… Sócrates contando sobre como Homero diria seus poema se fossem apenas narrados….