O documento discute a definição de receita para fins de cobrança de contribuições no regime não cumulativo, abordando a posição do STF, as alterações trazidas pela Lei 12.973/14 e as exceções legais. Apresenta também as diferenças entre o EFD-Contribuições e a ECD para reporte de receitas.
Alcance da não cumulatividade das contribuições sociais e a definição de insu...
Receita e Lei 12.973
1. Abrangência do conteúdo de receita e a
Lei n° 12.973 (conversão da MP 627)
Fabio Rodrigues de Oliveira
Advogado e Contabilista. Mestre em Ciências Contábeis. Coordenador,
autor e coautor de diversos livros em matéria contábil e tributária.
Palestrante e professor de cursos de pós-graduação. Pesquisador do
Grupo de Pesquisas em Controladoria e Gestão Tributária da USP, com
artigos apresentados no Brasil e no exterior. Avaliador ad hoc da Revista
Brasileira de Contabilidade do Conselho Federal de Contabilidade.
Sócio na empresa Systax Sistemas Fiscais.
2. Programa
Cenário anterior à vigência da Lei 12.973
A definição de receita do regime não cumulativo
A posição do STF
Nova definição de faturamento?
Nova definição de receita?
Exceções legais
EFD-Contribuições versus ECD
3. Cenário anterior à vigência da Lei n° 12.973
• Constituição Federal (redação original):
Permitia a cobrança sobre o faturamento das empresas
• Lei nº 9.715/98 (art. 3º)
Faturamento = Receita bruta das vendas de mercadorias ou
serviços.
• Lei nº 9.718/98 (art. 3º, § 1º)
Faturamento = Total de receitas auferidas pela pessoa jurídica
4. Cenário anterior à vigência da Lei n° 12.973
Faturamento = Receita da
venda de bens e serviços
(“operacionais”)
Total de Receitas =
Faturamento + Outras
receitas (p. ex. locação)
5. Cenário anterior à vigência da Lei n° 12.973
• Emenda Constitucional nº 20/98
Passou a permitir a cobrança sobre a receita ou faturamento das empresas
• Supremo Tribunal Federal – STF
Recursos Extraordinários 357950, 390840, 358273 e 346084
Declarou a inconstitucionalidade do § 1º do art. 3º da Lei nº 9.718/98
• Lei nº 11.941/2009
Revogou o § 1º do art. 3º da Lei nº 9.718/98
Efeito a partir de 28.05.2009
• Consequência: Passou a ser previsto apenas:
“Art. 3º O faturamento a que se refere o artigo anterior corresponde à
receita bruta da pessoa jurídica.” [grifo nosso]
6. Cenário anterior à vigência da Lei n° 12.973
• Leis nºs 10.637/2002 e 10.833/2003 (regime não
cumulativo)
“Art. 1o A contribuição para o PIS/Pasep tem como fato gerador
o faturamento mensal, assim entendido o total das receitas
auferidas pela pessoa jurídica, independentemente de sua
denominação ou classificação contábil. ”
• Incoerente, mas constitucional face à Emenda Constitucional nº 20
7. Cenário anterior à vigência da Lei n° 12.973
Regime cumulativo
Faturamento = Receita da
venda de bens e serviços
(“operacionais”)
Regime não cumulativo
Total de Receitas =
Faturamento + Outras
receitas (p. ex. locação)
8. A definição de receita do
regime não cumulativo
• Entendimento fiscal
• o conceito tributário de receita tem a mesma extensão dada
pela contabilidade
Consequência: tudo aquilo que é reconhecido
contabilmente como receita, salvo expressa previsão legal
em sentido contrário, seria tributado pelas contribuições
no regime não cumulativo.
9. A definição de receita do
regime não cumulativo
• Definição contábil:
– “Receitas são aumentos nos benefícios econômicos durante o
período contábil, sob a forma da entrada de recursos ou do
aumento de ativos ou diminuição de passivos, que resultam em
aumentos do patrimônio líquido, e que não estejam relacionados
com a contribuição dos detentores dos instrumentos
Patrimoniais”.
– “A definição de receita abrange tanto receitas propriamente
ditas quanto ganhos.”
• Fonte: CPC - Pronunciamento Conceitual Básico
10. A definição de receita do
regime não cumulativo
• Valores tributados (entendimento fiscal)
Créditos não recebidos
Recuperações de custos e despesas
Descontos obtidos
Bonificações desvinculadas de uma compra
Doações recebidas
Perdão de dívida
Subvenção de custeio
11. A posição do STF
• RECURSO EXTRAORDINÁRIO 606.107 RIO GRANDE DO SUL
“O conceito de receita, acolhido pelo art. 195, I, “b”, da
Constituição Federal, não se confunde com o conceito contábil.
Entendimento, aliás, expresso nas Leis 10.637/02 (art. 1º) e Lei
10.833/03 (art. 1º), que determinam a incidência da contribuição
ao PIS/PASEP e da COFINS não cumulativas sobre o total das
receitas, “independentemente de sua denominação ou
classificação contábil”. Ainda que a contabilidade elaborada para
fins de informação ao mercado, gestão e planejamento das
empresas possa ser tomada pela lei como ponto de partida para a
determinação das bases de cálculo de diversos tributos, de modo
algum subordina a tributação. A contabilidade constitui ferramenta
utilizada também para fins tributários, mas moldada nesta seara
pelos princípios e regras próprios do Direito Tributário.
12. A posição do STF
• RECURSO EXTRAORDINÁRIO 606.107 RIO GRANDE DO SUL
Sob o específico prisma constitucional, receita bruta
pode ser definida como o ingresso financeiro que se
integra no patrimônio na condição de elemento novo e
positivo, sem reservas ou condições”. [grifos nosso]
13. A posição do STF
• Caso concreto: reconheceu que a “transferência de créditos
decorrentes de exportação” não é receita.
• E contabilmente é?
• Aquisição de mercadoria:
• D – Estoque (AC) R$ 900,00
• D – ICMS a Recuperar (AC) R$ 100,00
• C – Fornecedor (PC) R$ 1.000,00
• Na venda do crédito acumulado:
• C – ICMS a Recuperar (AC) R$ 100,00
• D – Banco (AC) R$ 100,00
14. Nova definição de faturamento?
• Lei nº 9.718/98 (nova redação do art. 3º):
“Art. 3º O faturamento a que se refere o art. 2º compreende a receita bruta
de que trata o art. 12 do Decreto-Lei nº 1.598, de 26 de dezembro de
1977”.
– Decreto-Lei nº 1.598/77
“Art. 12. A receita bruta compreende:
I - o produto da venda de bens nas operações de conta própria;
II - o preço da prestação de serviços em geral;
III - o resultado auferido nas operações de conta alheia; e
IV - as receitas da atividade ou objeto principal da pessoa jurídica, não
compreendidas nos incisos I a III.”
15. Nova definição de faturamento?
• Lei nº 9.718/98 (nova redação do art. 3º):
Põe fim à polêmica das instituições financeiras:
Receitas da venda de bens e serviços
Versus
Receitas da atividade
16. Nova definição de faturamento?
– Decreto-Lei nº 1.598/77
“Art. 12. [...]
§ 4º Na receita bruta, não se incluem os tributos não cumulativos cobrados,
destacadamente, do comprador ou contratante, pelo vendedor dos bens ou
pelo prestador dos serviços na condição de mero depositário.
§ 5º Na receita bruta, incluem-se os tributos sobre ela incidentes e os
valores decorrentes do ajuste a valor presente, de que trata o inciso VIII do
caput do art. 183 da Lei nº 6.404, de 1976, das operações previstas no
caput, observado o disposto no § 4º.”
A exclusão do ICMS está pendente de decisão do STF.
Foi objeto de Ação Declaratória de Constitucionalidade (ADC).
17. Nova definição de receita?
• Leis nºs 10.637/2002 e 10.833/2003 (nova redação
do art. 1º):
“Art. 1º [...]
§ 1º Para efeito do disposto neste artigo, o total das receitas compreende a
receita bruta de que trata o art. 12 do Decreto-Lei nº 1.598, de 26 de
dezembro de 1977, e todas as demais receitas auferidas pela pessoa
jurídica com os seus respectivos valores decorrentes do ajuste a valor
presente de que trata o inciso VIII do caput do art. 183 da Lei nº 6.404, de
15 de dezembro de 1976.”
18. Exceções legais (Art. 1°, § 3°)
I - isentas ou não alcançadas pela incidência da contribuição ou
sujeitas à alíquota 0 (zero);
II - de que trata o inciso IV do caput do art. 187 da Lei no 6.404, de 15
de dezembro de 1976, decorrentes da venda de bens do ativo não
circulante, classificado como investimento, imobilizado ou intangível;
III - auferidas pela pessoa jurídica revendedora, na revenda de
mercadorias em relação às quais a contribuição seja exigida da
empresa vendedora, na condição de substituta tributária;
IV - Revogado.
19. Exceções legais (Art. 1°, § 3°)
V - referentes a:
a) vendas canceladas e aos descontos incondicionais concedidos;
b) reversões de provisões e recuperações de créditos baixados como
perda que não representem ingresso de novas receitas, o resultado
positivo da avaliação de investimentos pelo valor do patrimônio líquido
e os lucros e dividendos derivados de participações societárias, que
tenham sido computados como receita;
VI - decorrentes de transferência onerosa a outros contribuintes do
Imposto sobre Operações relativas à Circulação de Mercadorias e
sobre Prestações de Serviços de Transporte Interestadual e
Intermunicipal e de Comunicação - ICMS de créditos de ICMS
originados de operações de exportação, conforme o disposto no inciso
II do § 1º do art. 25 da Lei Complementar nº 87, de 13 de setembro de
1996.
20. Exceções legais (Art. 1°, § 3°)
VII - financeiras decorrentes do ajuste a valor presente de que trata o inciso
VIII do caput do art. 183 da Lei no 6.404, de 15 de dezembro de 1976,
referentes a receitas excluídas da base de cálculo da Cofins;
VIII - relativas aos ganhos decorrentes de avaliação do ativo e passivo com
base no valor justo;
IX - de subvenções para investimento, inclusive mediante isenção ou redução
de impostos, concedidas como estímulo à implantação ou expansão de
empreendimentos econômicos e de doações feitas pelo poder público;
X - reconhecidas pela construção, recuperação, reforma, ampliação ou
melhoramento da infraestrutura, cuja contrapartida seja ativo intangível
representativo de direito de exploração, no caso de contratos de concessão de
serviços públicos;
XI - relativas ao valor do imposto que deixar de ser pago em virtude das
isenções e reduções de que tratam as alíneas "a", "b", "c" e "e" do § 1º do art.
19 do Decreto-Lei no 1.598, de 26 de dezembro de 1977; e
XII - relativas ao prêmio na emissão de debêntures.
21. EFD-Contribuições versus ECD
• Na EFD-Contribuições devem ser informadas
todas as receitas, sejam tributadas ou não.
As receita não tributadas devem ser
informadas com seus respectivos
“códigos de receitas”.
• Na ECD também são informadas todas as
receitas da empresa.
22. OBRIGADO
Fabio Rodrigues de Oliveira
Advogado e Contabilista. Mestre em Ciências Contábeis. Coordenador,
autor e coautor de diversos livros em matéria contábil e tributária.
Palestrante e professor de cursos de pós-graduação. Pesquisador do
Grupo de Pesquisas em Controladoria e Gestão Tributária da USP, com
artigos apresentados no Brasil e no exterior. Avaliador ad hoc da Revista
Brasileira de Contabilidade do Conselho Federal de Contabilidade.
Sócio na empresa Systax Sistemas Fiscais.