4. O HOMEM
o discurso naturalista
Trinta a trinta e cinco anos. Elegante, louro, meio calvo, barba rente espetando no queixo de
duas pontas de saca-rolha... quanto ao vil metal, não Bnha nem pouco, nem muito; era pobre,
pobre como o país onde nascera; mas descendia em linha reta de uma família portuguesa muito
ilustre pelo sangue, e em cujos primeiros galhos até príncipes apontavam. Vivia a custo de um
cavalo igualmente puro no sangue e na raça, com o qual apostava no Prado.
obje5vidade na descrição dos 5pos humanos, tendendo à caricatura
5. O HOMEM
o discurso naturalista
Ora aí tem! É a febre histérica! Classificou logo o Dr. Lobão. E, em resposta às perguntas do
Conselheiro, despejou um chorrilho de nomes técnicos, dizendo que ‘Aquilo não podia ser febre
Bfóide, nem Ter sua origem na flegmasia encefálica, nem tão pouco na alteração de algum
órgão esplâncnico, porque uma meningite, ou uma encefalite ou mesmo a febre Bfoide comum
não poderiam chegar àquele grau, porque não havia doente capaz de resisBr!
predileção pelas teorias pseudocien>ficas
6. O HOMEM
o discurso naturalista
Rouquejava gemidos que iam se transformando num pigarro conVnuo; as suas pupilas estavam
já imóveis e veladas; escorria-lhe das ventas e da boca aberta, como um buraco feito na cara,
uma grossa mucosidade esverdinhada e fedenBnosa.
aspectos grotescos, sórdidos e repugnantes
7. O HOMEM
o discurso naturalista
– Não precisas de nobreza; não precisas de ciências; não precisas de dinheiro! Então de que
diabo precisas tu?
– De um homem...
– Um homem! Quanta desfarçatez! De que precisavas, grandíssima desavergonhada, era de
uma boa carga de pau, para te apagar o fogo do rabo!
o ser humano é escravo de sua natureza, de seus ins5ntos
8. O HOMEM
o discurso naturalista
Foi um sucesso em todo o quarteirão a chegada desta velha relíquia dos bons tempos: os
vizinhos do Luiz assomaram à janela... O corBço inteiro agitou-se; as lavadeiras abandonaram as
Bnas e os coradouros e vieram ruidosamente ao portão da estalagem, com os braços nus, saias
arrepolhadas no quadril, mostrando pernas sem meias e grossos pés meBdos em tamancos; a
pequenada descalça acompanhava os carregadores numa grande algazarra... Luiz, lá do alto da
pedreira, onde estava trabalhando a essas horas, mal compreendeu pelo movimento da rua,
que a cama chegava, degalgou o morro e precipitou-se de carreira para o corBço, nu da cintura
para cima, muito suado e coberto do pó branco da pedreira.
observação de grupos sociais, mormente de classe baixa
9. O HOMEM
o discurso naturalista
Faz lásBma que um organismo tão rico e tão bom para procriar, se sacrifique desse modo! Enfim
– ainda não é tarde; mas se ela não casar quanto antes – hum hum! Não respondo pelo resto.
determinismo
10. O HOMEM
o discurso naturalista
Sim, Magdá, tudo o que vem das suas mãos de pai traz o germe do amor, que é a vida. A própria
terra nada mais é do que um grande ovo, que ele incuba com a calentura do seu amor eterno! O
Criador seu ao homem vesículas seminais, e ovário à mulher, para que eles se correspondessem,
e se amassem, e se reproduzisse. Só nos amando assim, como agora nos amamos, podemos
glorificá-lo, porque o amor é a perpetuidade de sua obra.
o homem é uma máquina guiada por leis Esico-químicas
11. O HOMEM
o discurso naturalista
Respondeu a criada a fungar forte, como um animal que procura descobrir alguma coisa pelo
faro.
zoomorfismo
13. O HOMEM
o discurso poético
Venha o meu amado para o seu jardim, e coma o fruto das suas macieiras. Eu vim para o meu
jardim, irmã minha esposa; sequei a minha mirra aromáBca; comi o fato de mel; bebi o meu
vinho com o meu leite. Comei, amigos, e bebei, e embriagai-vos, caríssimos! Eu durmo e o meu
coração vela; eis a voz do meu amado que bate, dizendo: – Abre-me, irmã minha, pomba minha,
imaculada minha, porque sinto a cabeça cheia de orvalho, e me estão correndo pelos anéis do
cabelo, as gotas da noite.
o diálogo intertextual com Cantares, de Salomão, rela5viza o discurso cien>fico
14. O HOMEM
o discurso poético
Ele tomou Magdá nos braços e correu para a gruta, que em verdade, era muito perto dali.
ConsisBa numa grande rocha negra, toca encipoada de heras e parasitas com uma pequena
fenda que mal dava passagem a uma só pessoa de cada vez. O cavouqueiro transpôs a brecha e
em seguida fez entrar a companheira.
uso de metáforas de cunho eró5co
15. O HOMEM
lendo o naturalismo
as epígrafes
Les passions et les affecBons morales tristes sont les seules qui prédisposent à l’histérie.
L’alienaBon est, à bien considérer, une douler; la malher est au fond du plus grand nombre de
vésanies.
Tu a amar-me e eu a amar-te:/ Não sei qual será mais firme!/ Eu como o sol a buscar-te;/ Tu
como sombra a fugir-me.
Le sommeil est une façon d’exister tout aussi réele et plus générale qu’aucune autre.
os temas antecipados
paixão histeria loucura
discurso amoroso fantasia [sonho]
16. O HOMEM
aspectos gerais
breve comentário sobre o enredo
a críBca aponta duas fontes intertextuais que corroboraram para a composição do romance
Thèrese Raquin, de Émile Zola Um mâle, de Camile Lamonier
discursos presentes na obra
duas vozes se encontram e se relaBvizam na obra de Azevedo
o discurso naturalista o discurso poéBco
plano da realidade
cienBficismo e determinismo
saber estabelecido pela sociedade patriarcal
plano da alucinação
intertextualidade com o texto bíblico
relaBvização do discurso cienBficista
17. O HOMEM
enredo, plano da realidade 01
Magdá e Fernando são criados juntos e começam a se interessar um pelo outro; o Conselheiro
Pinto Marques avisa a Fernando que ele não se pode casar com Magdá porque eles são irmãos;
Fernando se afasta de Magdá, que conBnua esperando o pedido de casamento após a formatura;
Fernando se forma e não pede a mão de Magdá; esta tem uma crise de nervos, depois da qual o
pai diz que ela não poderia se casar com Fernando porque era irmã dele; Magdá parece aceitar a
realidade; Fernando viaja para a Europa e morre por lá; a filha do Conselheiro começa a ter crises
frequentemente; o doutor Lobão sugere o casamento como cura para os males da moça; o pai dá
festas par arrumar pretendentes para Magdá; ela, no entanto, não escolhe pretendente algum;
a jovem acaba por buscar refúgio na religião; para tanto, corroboram a Ba velha, irmã de Marques,
e certa viagem que fizera à Europa; as crises se intensificam e a família se muda para uma chácara,
afastada do centro; Magdá conhece um trabalhador braçal [Luiz] e se interessa por ele; depois de
ser conduzida pedreira abaixo pelo trabalhador, começa a sonhar ininterruptamente com ele; a
protagonista começa a confundir alucinação e realidade; decrépita, alimenta-se mal e vai sendo
consumida pela doença; vive apenas para os sonhos; convida os noivos Rosinha e Luiz para uma
18. O HOMEM
enredo, plano da realidade 02
visita em sua casa; oferece-lhes um cálice do remédio que tomava [contra a histeria]; os jovens
noivos morrem intoxicados; Magdá é conduzida para a clínica de alienados do doutor Lobão.
19. O HOMEM
enredo, plano da alucinação
Magdá lê muito a Bíblia, principalmente o “Cantares” e reza a oração que lhe ensinara a Ba:
Jesus, filho de Maria, príncipe dos céus e rei na terra, senhor dos homens, amado meu, esposo
de minha alma, vale-me tu, que és a minha salvação e o meu amor! Esconde-me, querido, com
o teu manto, que o leão me cerca! Protege-me contra mim mesma! Esconjura o bicho imundo
que habita minha carne e suja minha alma! Salva-me! Não me deixes cair em pecado de luxúria,
que eu sinto já as línguas do inferno me lambendo as carnes do meu corpo e enfiando-se pelas
minhas veias! ... Amado de meu coração, espero-te esta noite no meu sonho, deitada de ventre
para cima, com os peitos bem abertos, para que tu me penetres até no fundo de minhas
entranhas e me ilumines toda por dentro com a luz do teu espírito!
depois de ter sido conduzida por Luiz, nos braços, após ter desmaiado no alto da pedreira, a filha
do Conselheiro Pinto Marques começa a ter sonhos eróBcos com o trabalhador; nos primeiros
sonhos, a protagonista consegue disBnguir a realidade da alucinação; entretanto, à medida que a
histeria avança, os dois planos se fundem na cabeça de Magdá; em sua existência duplicada, a
filha do Conselheiro tem um filho com Luiz; já debilitada pela doença, Magdá acaba por preferir o
mundo dos sonhos; depois de, no plano da realidade, matar Luiz e Rosinha, a protagonista alucina
a presença da “ilha” [onde vive com Luiz e Fernando]; no plano da realidade, é recolhida à casa
de saúde do doutor Lobão.
20. O HOMEM
aspectos temáticos
a representação da mulher
01. representante da elite que vive um delírio eró5co com um representante da plebe;
[o vampirismo presente num dos sonhos aponta para a exploração das classes populares]
02. a protagonista pertence a uma família patriarcal, aristocrá5ca;
[criada pelo pai, orientada intelectualmente pelo irmão e tutelada pelo doutor Lobão]
03. Magdá tem orgulho de classe e trata com desprezo os represententes das classes baixas:
principiava a chegar gente; surgiam homens de palito na boca, o colete desabotoado sobre o
ventre; calcinhas brancas, curtas e malfeitas, mostrando botas empoeiradas; gorduras feias dos
climas abrasados; hidroceles obscenas; chapéus altos ensalitrados de suor. Mulheres da Cidade
Nova, com umas caras reluzentes, vermelhas como se acabassem de ser esbofeteadas;
portuguesas monstruosas, com umas ancas que pediam palmadas, os pés túrgidos em sapatos
de pano preto sem feiBo. “Uma gente impossível!” Magda via-os a todos, um por um, enjoada,
com o narizinho torcido e cheia de uma secreta vontade de chicoteá-los
21. O HOMEM
aspectos temáticos
papeis destinados à mulher
01. mesmo na Ilha, os modelos da sociedade patriarcal se reproduzem [móveis, maternidade];
02. a protagonista é um nega5vo da feminilidade ideal;
[rejeita pretendentes, não se casa, não procria, inscreve em seu corpo os sintomas da loucura]
03. reflete o papel histórico da mulher na sociedade
[loucura em oposição à razão (pai e pelo médico); destrói o objeto de desejo da outra]
04. nega-se a encenar o papel que a sociedade des5na às mulheres
[mergulha no sonho e ali vive intensamente o delírio de uma plenitude eróBca].
22. O HOMEM
aspectos temáticos
lendo o título
desejo, carência Jesus Cristo
concreBzado na figura de Luiz presenBficado no Cristo de marfim e nos sonhos
23. O HOMEM
aspectos temáticos
o substrato religioso
Magdá
o nome da protagonista funciona como emblema do pecado e do arrependimento
a formação da personagem
foi educada por freiras num colégio interno + lições da Ba Camila + viagem à Europa
o Cristo de marfim
sexualizado nos delírios de Magdá; é um dos duplos de Fernando [amor ideal da protagonista]
an5clericalismo
o doutor Lobão criBca veementemente a beaBce de Tia Camila
24. O HOMEM
aspectos temáticos
fontes intertextuais
“Cantares”, de Salomão
história de Abelardo e Heloísa
Pietá
os elementos poéBcos presentes na linguagem dos sonhos de Magdá são análogos ao discurso bíblico
Abelardo tem um filho com a filha do cônego Fulbert e, por isso, foi castrado;
há inúmeras referências a estátuas, dentre as quais a de Pietá e a de um homem forte com um cachorro
25. O HOMEM
aspectos temáticos
o discurso cienBficista o discurso poéBco
Doutor Lobão
discurso ultrapassado
Magdá precisa copular
sociedade patriarcal
a mulher nasceu para a procriação
espaço da ordem
contenção
Magdá
espaço dos sonhos
Magdá nega-se a seguir o script predeterminado
críBca ao patriarcalismo
revelação do desejo da mulher
espaço do prazer e da realização eróBca
transbordamento
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