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Mundo Fabuloso...
Você não quer contar essa história para seus filhos, quer?
Fita Verde no Cabelo, de João Guimarães Rosa
Havia uma aldeia emalgum lugar, nem maior nem menor, com velhos e velhas que velhavam, homens
e mulheres que esperavam, e meninos e meninas que nasciam e cresciam.
Todos com juízo, suficientemente, menos uma meninazinha, a que por enquanto. Aquela, um dia, saiu
de lá, com uma fita verde inventada no cabelo. Sua mãe mandara-a, com um cesto e um pote, à avó, que a
amava, a uma outra e quase igualzinha aldeia. Fita-Verde partiu, sobre logo, ela a linda, tudo era uma vez. O
pote continha um doce em calda, e o cesto estava vazio, que para buscar framboesas. Daí, que, indo, no
atravessar o bosque, viu só os lenhadores, que por lá lenhavam; mas o lobo nenhum, desconhecido nem
peludo. Pois os lenhadores tinham exterminado o lobo.Então, ela, mesma, era quem se dizia:
– Vou à vovó, com cesto e pote, e a fita verde no cabelo, o tanto que a mamãe me mandou.
A aldeia e a casa esperando-a acolá, depois daquele moinho, que a gente pensa que vê, e das horas,
que a gente não vê que não são. E ela mesma resolveu escolher tomar este caminho de cá, louco e longo, e
não o outro, encurtoso. Saiu, atrás de suas asas ligeiras, sua sombra também vinha-lhe correndo, em pós.
Divertia-se com ver as avelãs do chão não voarem, com inalcançar essas borboletas nunca em buquê nem
em botão, e com ignorar se cada uma em seu lugar as plebeinhas flores, princesinhas e incomuns, quando a
gente tanto por elas passa.Vinha sobejadamente. Demorou, para dar com a avó em casa, que assim lhe
respondeu, quando ela, toque, toque, bateu:
– Quem é?
– Sou eu… – e Fita-Verde descansou a voz. – Sou sua linda netinha, com cesto e pote, com a fita verde
no cabelo, que a mamãe me mandou.
Vai, a avó, difícil, disse: – Puxa o ferrolho de pau da porta, entra e abre. Deus te abençoe. Fita-Verde
assim fez, e entrou e olhou.
A avó estavana cama, rebuçada e só. Devia,para falaragagadoe fraco e rouco, assim,de ter apanhado
um ruim defluxo. Dizendo: – Depõe o pote e o cesto na arca, e vem para perto de mim, enquanto é tempo.
Mas agora Fita-Verde se espantava, além de entristecer-se de ver que perdera em caminho sua grande fita
verde no cabelo atada; e estava suada, com enorme fome de almoço. Ela perguntou:
– Vovozinha, que braços tão magros, os seus, e que mãos tão trementes!
– É porque não vou poder nunca mais te abraçar, minha neta… – a avó murmurou.
– Vovozinha, mas que lábios, aí, tão arroxeados!
– É porque não vou nunca mais poder te beijar, minha neta… – a avó suspirou.
– Vovozinha, e que olhos tão fundos e parados, nesse rosto encovado, pálido?
– É porque já não estou te vendo, nunca mais, minha netinha… – a avó ainda gemeu.
Fita-Verde mais se assustou, como se fosse ter juízo pela primeira vez. Gritou: – Vovozinha, eu tenho
medo do Lobo! … Mas a avó não estava mais lá, sendo que demasiado ausente, a não ser pelo frio, triste e
tão repentino corpo.
Extraído do livro Meus primeiros contos. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, Antologia de Contistas Brasileiros vol. 3, 2001.
Chapeuzinho Amarelo – poema de Chico Buarque
Era a ChapeuzinhoAmarelo
Amareladade medo
Tinhamedode tudo,aquelaChapeuzinho.
Já não ria
Em festa,nãoaparecia
Não subiaescada,nemdescia
Não estavaresfriada,mastossia
Ouviacontode fada,e estremecia
Não brincavamaisde nada, nemde amarelinha
Tinhamedode trovão
Minhoca,pra ela,era cobra
E nunca apanhavasol,porque tinhamedoda sombra
Não iapra fora pra não se sujar
Não tomavasopapra nãoensopar
Não tomavabanhopra não descolar
Não falavanadapra não engasgar
Não ficavaempé com medode cair
Então viviaparada,deitada,massemdormir,commedode pesadelo
Era a ChapeuzinhoAmarelo…
E de todosos medosque tinha
O medomaisque medonhoerao medodotal do LOBO.
Um LOBO que nunca se via,
que morava lápra longe,
do outroladoda montanha,
numburaco da Alemanha,
cheiode teiade aranha,
numaterra tão estranha,
que vai ver que o tal do LOBO
nemexistia.
Mesmoassima Chapeuzinho
tinhacada vezmais medodomedodo medo
do medode um diaencontrarum LOBO
Um LOBO que não existia.
E Chapeuzinhoamarelo,
de tanto pensarno LOBO,
de tanto sonharcom o LOBO,
de tanto esperaro LOBO,
um diatopoucom ele
que era assim:
carão de LOBO,
olhãode LOBO,
jeitãode LOBO,
e principalmenteumbocão
tão grande que era capaz de comer duasavós,
um caçador, rei,princesa,sete panelasde arroz…
e umchapéude sobremesa.
Mas o engraçadoé que,
assimque encontrouoLOBO,
a ChapeuzinhoAmarelo
foi perdendoaquelemedo:
o medodo medodomedodo medoque tinhadoLOBO.
Foi ficandosó comum pouco de medodaquele lobo.
Depoisacabouo medoe elaficousó com o lobo.
O loboficouchateadode veraquelamenina
olhandopracara dele,
só que semo medodele.
Ficoumesmoenvergonhado,triste,murchoe branco-azedo,
porque umlobo,tiradoo medo,é um arremedode lobo.
É feitoumlobosempelo.
Um lobopelado.
O loboficouchateado.
Ele gritou:sou umLOBO!
Mas a Chapeuzinho,nada.
E ele gritou:EU SOU UM LOBO!!!
E a Chapeuzinhodeurisada.
E ele berrou:EU SOU UM LOBO!!!!!!!!!!
Chapeuzinho,jámeioenjoada,
com vontade de brincarde outracoisa.
Ele entãogritoubemforte aquele seunome de LOBO
umas vinte e cincovezes,
que era pro medoirvoltandoe a menininhasaber
com quemnão estavafalando:
LO BO LO BO LO BO LO BO LO BO LO BO LO BO LO BO LO BO LO BO LO
Aí, Chapeuzinhoencheue disse:
“Pára assim!Agora!Já! Do jeitoque você tá!”
E o loboparadoassim,dojeitoque o loboestava,já não era maisumLO-BO.
Era umBO-LO.
Um bolode lobofofo,tremendoque nempudim, commedode Chapeuzim.
Com medode sercomido,com velae tudo,inteirim.
Chapeuzinhonãocomeuaquelebolode lobo,
porque sempre preferiude chocolate.
Aliás,elaagoracome de tudo,menossolade sapato.
Não temmaismedode chuva,nemfoge de carrapato.
Cai,levanta,se machuca,vai à praia,entrano mato,
Trepa emárvore,roubafruta, depoisjogaamarelinha,
com o primoda vizinha,coma filhadojornaleiro,
com a sobrinhada madrinha
e o netodosapateiro.
Mesmoquandoestá sozinha,inventaumabrincadeira.
E transformaem companheirocadamedoque elatinha:
O raio virouorrái;
barata é tabará;
a bruxa virouxabru;
e o diaboé bodiá.
FIM
( Ah,outroscompanheirosdaChapeuzinhoAmarelo:
o Gãodra, a Jacoru,
o Barãotu, o PãoBichôpa…
e todosos trosmons).
http://contobrasileiro.com.br/chapeuzinho-amarelo-poema-de-chico-buarque/
EM TERRITÓRIO INIMIGO
Outro dia íamos pela avenida Brasil várias pessoas num carro, quando aquela que
dirigia perdeu a entrada para a estrada de Petrópolis. Tal entrada é pessimamente
sinalizada.
E era noite.Então, o carro seguiu até que achássemos o primeiro retorno à direita.
E era noite. Mas se fosse de dia não seria muito diferente. Era no Brasil. Mas em Nova
York já tive a mesma sensação.
Enquanto o carro ia penetrando por uma ou outra rua, perdidamente, procurando a via
que nos reconduzisse à pista da avenida Brasil, começamos a nos dar conta de que mais do
que perdidos, estávamos começando a ficar com medo.
Sempre há uma aflição quando se perde o rumo. Surge uma sensação de pesadelo ou de
amnésia e a pessoa começa a perder também sua identidade. Ter que perguntar a outros
"onde estou?" passa a valer como "quem sou?". A rigor, as duas únicas pessoas que, segundo
registra a história, se deram bem quando perderam o leme foram Colombo e Cabral. Hoje
sabemos que estavam falsamente perdidos. E ali naquele carro havia dúvidas de que
chegássemos ao oriente pelo ocidente, além do que a situação era de falsa calmaria.
Na verdade, a sensação era incômoda. Por ter saído da pista conhecida, achávamos que
tínhamos caído num mundo ignoto e ameaçador.
E era outro mundo.
Não porque fosse de noite, repito. A noite certamente aumenta as incertezas. Era a
convicção de que havíamos cruzado a fronteira.
Alguém no carro, ingênua e ousadamente, sugeriu:
- Vamos parar naquele bar e perguntar àqueles homens.
Ali estavam eles. Eram, como diria Mário de Andrade, "brasileiros que nem eu". E,
no entanto, tivemos medo.
No carro, uns disfarçavam mais que outros o clima sutil, que ia do receio ao pavor.
E isto nos deixou humilhados, tanto no sentimento de cidadania quanto no de amor ao
próximo. Mas o fato é que não paramos. Rodamos, rodamos, rodamos até desembocar,
aliviados, na avenida. Tínhamos voltado a um porto seguro.
Há alguns dias estava indo para o aeroporto Kennedy, em Nova York. E lá, alguns
choferes de táxi gostam de cortar o caminho se enfiando por bairros como o Harlem. E era
dia. E tive medo. Medo não somente quando o chofer deu numa rua sem saída debaixo de um
viaduto. Não havia ali nada de especial, mas imediatamente comecei a pensar em filmes de
terror. Tive aquela incômoda sensação de estar passando por um estranho e constrangedor
cenário ao cruzar a agressiva sujeira daquelas ruas onde moram pretos e hispanos. Era
difícil acreditar que aquela era parte da mesma cidade onde havia os prédios pós-modernos
da Quinta e da Park Avenue.
Era preciso urgente achar a pista que me levasse de volta ao conhecido. Errar uma
entrada de um viaduto pode nos jogar na boca do lobo.
Tenho a impressão de que na Idade Média era assim também. Fora dos muros do castelo
começava a temerária aventura: podia-se cair nos braços dos salteadores de estrada, que
às vezes eram até canibais. Quando derrubaram os muros das cidades com o Renascimento,
pensamos que o mundo seria um iluminado e fraterno paraíso. Não foi, inventamos outros
tipos de muros.
Volta e meia ouça alguém dizer de lugares onde se pode andar ainda com o espírito e as
mãos desarmados. Mar Del Plata é assim. Um amigo que tem casa lá disse que não tem sequer
chave na porta. Fiquei pensando se deveria alardear isto nesta crônica.
Também naqueles filmes americanos da década de 40 era assim. A porta dos fundos
ficava sempre aberta e a da frente não tinha chave. Igualzinho ao interior do Brasil do
meu tempo. No máximo se fechava a porta com uma tramela.
Perguntem a uma criança de hoje se sabe ao menos o que é uma tramela. As palavras
somem com os objetos. As palavras somem como objetos diante de nosso desgaste moral.
Então, estamos condenados a não poder sair de nossa pista?
Não podemos mais errar uma estrada ou andar aleatoriamente a pé ou de carro como
fazia uma amiga toda vez que se chateava com seu namorado e saía de carro por ruas
desconhecidas pelo simples prazer de perder-se para se reencontrar e, se reencontrando,
se iludir que se reencontrara apesar do namorado.
A fábula do Chapeuzinho Vermelho, vejam só, está mais atual que nunca. Temos que
levar uma cestinha de um lugar a outro, mas só podemos andar por um caminho, pela pista
mais movimentada da floresta, porque fora daí nos surpreenderá o lobo.
Escreveu-me um amigo que em Miami é um risco sair a pé à noite. E quem sair de carro,
que feche bem os vidros.
Alguma coisa está errada na maioria das cidades.
Alguma coisa está erra. Nos homens e suas cidades.
13.5.92
SANT’ANNA, Afonso Romano. Porta de Colégio. Para Gostar de Ler. 7ª ed. Editora Ática. p. 109-112.

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Mundo fabuloso

  • 1. Mundo Fabuloso... Você não quer contar essa história para seus filhos, quer? Fita Verde no Cabelo, de João Guimarães Rosa Havia uma aldeia emalgum lugar, nem maior nem menor, com velhos e velhas que velhavam, homens e mulheres que esperavam, e meninos e meninas que nasciam e cresciam. Todos com juízo, suficientemente, menos uma meninazinha, a que por enquanto. Aquela, um dia, saiu de lá, com uma fita verde inventada no cabelo. Sua mãe mandara-a, com um cesto e um pote, à avó, que a amava, a uma outra e quase igualzinha aldeia. Fita-Verde partiu, sobre logo, ela a linda, tudo era uma vez. O pote continha um doce em calda, e o cesto estava vazio, que para buscar framboesas. Daí, que, indo, no atravessar o bosque, viu só os lenhadores, que por lá lenhavam; mas o lobo nenhum, desconhecido nem peludo. Pois os lenhadores tinham exterminado o lobo.Então, ela, mesma, era quem se dizia: – Vou à vovó, com cesto e pote, e a fita verde no cabelo, o tanto que a mamãe me mandou. A aldeia e a casa esperando-a acolá, depois daquele moinho, que a gente pensa que vê, e das horas, que a gente não vê que não são. E ela mesma resolveu escolher tomar este caminho de cá, louco e longo, e não o outro, encurtoso. Saiu, atrás de suas asas ligeiras, sua sombra também vinha-lhe correndo, em pós. Divertia-se com ver as avelãs do chão não voarem, com inalcançar essas borboletas nunca em buquê nem em botão, e com ignorar se cada uma em seu lugar as plebeinhas flores, princesinhas e incomuns, quando a gente tanto por elas passa.Vinha sobejadamente. Demorou, para dar com a avó em casa, que assim lhe respondeu, quando ela, toque, toque, bateu: – Quem é? – Sou eu… – e Fita-Verde descansou a voz. – Sou sua linda netinha, com cesto e pote, com a fita verde no cabelo, que a mamãe me mandou. Vai, a avó, difícil, disse: – Puxa o ferrolho de pau da porta, entra e abre. Deus te abençoe. Fita-Verde assim fez, e entrou e olhou. A avó estavana cama, rebuçada e só. Devia,para falaragagadoe fraco e rouco, assim,de ter apanhado um ruim defluxo. Dizendo: – Depõe o pote e o cesto na arca, e vem para perto de mim, enquanto é tempo. Mas agora Fita-Verde se espantava, além de entristecer-se de ver que perdera em caminho sua grande fita verde no cabelo atada; e estava suada, com enorme fome de almoço. Ela perguntou: – Vovozinha, que braços tão magros, os seus, e que mãos tão trementes!
  • 2. – É porque não vou poder nunca mais te abraçar, minha neta… – a avó murmurou. – Vovozinha, mas que lábios, aí, tão arroxeados! – É porque não vou nunca mais poder te beijar, minha neta… – a avó suspirou. – Vovozinha, e que olhos tão fundos e parados, nesse rosto encovado, pálido? – É porque já não estou te vendo, nunca mais, minha netinha… – a avó ainda gemeu. Fita-Verde mais se assustou, como se fosse ter juízo pela primeira vez. Gritou: – Vovozinha, eu tenho medo do Lobo! … Mas a avó não estava mais lá, sendo que demasiado ausente, a não ser pelo frio, triste e tão repentino corpo. Extraído do livro Meus primeiros contos. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, Antologia de Contistas Brasileiros vol. 3, 2001. Chapeuzinho Amarelo – poema de Chico Buarque Era a ChapeuzinhoAmarelo Amareladade medo Tinhamedode tudo,aquelaChapeuzinho. Já não ria Em festa,nãoaparecia Não subiaescada,nemdescia Não estavaresfriada,mastossia Ouviacontode fada,e estremecia Não brincavamaisde nada, nemde amarelinha Tinhamedode trovão Minhoca,pra ela,era cobra E nunca apanhavasol,porque tinhamedoda sombra Não iapra fora pra não se sujar Não tomavasopapra nãoensopar Não tomavabanhopra não descolar Não falavanadapra não engasgar Não ficavaempé com medode cair Então viviaparada,deitada,massemdormir,commedode pesadelo Era a ChapeuzinhoAmarelo… E de todosos medosque tinha O medomaisque medonhoerao medodotal do LOBO. Um LOBO que nunca se via, que morava lápra longe, do outroladoda montanha, numburaco da Alemanha, cheiode teiade aranha, numaterra tão estranha, que vai ver que o tal do LOBO nemexistia. Mesmoassima Chapeuzinho tinhacada vezmais medodomedodo medo do medode um diaencontrarum LOBO Um LOBO que não existia.
  • 3. E Chapeuzinhoamarelo, de tanto pensarno LOBO, de tanto sonharcom o LOBO, de tanto esperaro LOBO, um diatopoucom ele que era assim: carão de LOBO, olhãode LOBO, jeitãode LOBO, e principalmenteumbocão tão grande que era capaz de comer duasavós, um caçador, rei,princesa,sete panelasde arroz… e umchapéude sobremesa. Mas o engraçadoé que, assimque encontrouoLOBO, a ChapeuzinhoAmarelo foi perdendoaquelemedo: o medodo medodomedodo medoque tinhadoLOBO. Foi ficandosó comum pouco de medodaquele lobo. Depoisacabouo medoe elaficousó com o lobo. O loboficouchateadode veraquelamenina olhandopracara dele, só que semo medodele. Ficoumesmoenvergonhado,triste,murchoe branco-azedo, porque umlobo,tiradoo medo,é um arremedode lobo. É feitoumlobosempelo. Um lobopelado. O loboficouchateado. Ele gritou:sou umLOBO! Mas a Chapeuzinho,nada. E ele gritou:EU SOU UM LOBO!!! E a Chapeuzinhodeurisada. E ele berrou:EU SOU UM LOBO!!!!!!!!!! Chapeuzinho,jámeioenjoada, com vontade de brincarde outracoisa. Ele entãogritoubemforte aquele seunome de LOBO umas vinte e cincovezes, que era pro medoirvoltandoe a menininhasaber com quemnão estavafalando: LO BO LO BO LO BO LO BO LO BO LO BO LO BO LO BO LO BO LO BO LO Aí, Chapeuzinhoencheue disse: “Pára assim!Agora!Já! Do jeitoque você tá!” E o loboparadoassim,dojeitoque o loboestava,já não era maisumLO-BO. Era umBO-LO. Um bolode lobofofo,tremendoque nempudim, commedode Chapeuzim. Com medode sercomido,com velae tudo,inteirim.
  • 4. Chapeuzinhonãocomeuaquelebolode lobo, porque sempre preferiude chocolate. Aliás,elaagoracome de tudo,menossolade sapato. Não temmaismedode chuva,nemfoge de carrapato. Cai,levanta,se machuca,vai à praia,entrano mato, Trepa emárvore,roubafruta, depoisjogaamarelinha, com o primoda vizinha,coma filhadojornaleiro, com a sobrinhada madrinha e o netodosapateiro. Mesmoquandoestá sozinha,inventaumabrincadeira. E transformaem companheirocadamedoque elatinha: O raio virouorrái; barata é tabará; a bruxa virouxabru; e o diaboé bodiá. FIM ( Ah,outroscompanheirosdaChapeuzinhoAmarelo: o Gãodra, a Jacoru, o Barãotu, o PãoBichôpa… e todosos trosmons). http://contobrasileiro.com.br/chapeuzinho-amarelo-poema-de-chico-buarque/ EM TERRITÓRIO INIMIGO Outro dia íamos pela avenida Brasil várias pessoas num carro, quando aquela que dirigia perdeu a entrada para a estrada de Petrópolis. Tal entrada é pessimamente sinalizada. E era noite.Então, o carro seguiu até que achássemos o primeiro retorno à direita. E era noite. Mas se fosse de dia não seria muito diferente. Era no Brasil. Mas em Nova York já tive a mesma sensação. Enquanto o carro ia penetrando por uma ou outra rua, perdidamente, procurando a via que nos reconduzisse à pista da avenida Brasil, começamos a nos dar conta de que mais do que perdidos, estávamos começando a ficar com medo. Sempre há uma aflição quando se perde o rumo. Surge uma sensação de pesadelo ou de amnésia e a pessoa começa a perder também sua identidade. Ter que perguntar a outros "onde estou?" passa a valer como "quem sou?". A rigor, as duas únicas pessoas que, segundo registra a história, se deram bem quando perderam o leme foram Colombo e Cabral. Hoje sabemos que estavam falsamente perdidos. E ali naquele carro havia dúvidas de que chegássemos ao oriente pelo ocidente, além do que a situação era de falsa calmaria. Na verdade, a sensação era incômoda. Por ter saído da pista conhecida, achávamos que tínhamos caído num mundo ignoto e ameaçador. E era outro mundo. Não porque fosse de noite, repito. A noite certamente aumenta as incertezas. Era a convicção de que havíamos cruzado a fronteira. Alguém no carro, ingênua e ousadamente, sugeriu: - Vamos parar naquele bar e perguntar àqueles homens. Ali estavam eles. Eram, como diria Mário de Andrade, "brasileiros que nem eu". E, no entanto, tivemos medo. No carro, uns disfarçavam mais que outros o clima sutil, que ia do receio ao pavor. E isto nos deixou humilhados, tanto no sentimento de cidadania quanto no de amor ao próximo. Mas o fato é que não paramos. Rodamos, rodamos, rodamos até desembocar, aliviados, na avenida. Tínhamos voltado a um porto seguro.
  • 5. Há alguns dias estava indo para o aeroporto Kennedy, em Nova York. E lá, alguns choferes de táxi gostam de cortar o caminho se enfiando por bairros como o Harlem. E era dia. E tive medo. Medo não somente quando o chofer deu numa rua sem saída debaixo de um viaduto. Não havia ali nada de especial, mas imediatamente comecei a pensar em filmes de terror. Tive aquela incômoda sensação de estar passando por um estranho e constrangedor cenário ao cruzar a agressiva sujeira daquelas ruas onde moram pretos e hispanos. Era difícil acreditar que aquela era parte da mesma cidade onde havia os prédios pós-modernos da Quinta e da Park Avenue. Era preciso urgente achar a pista que me levasse de volta ao conhecido. Errar uma entrada de um viaduto pode nos jogar na boca do lobo. Tenho a impressão de que na Idade Média era assim também. Fora dos muros do castelo começava a temerária aventura: podia-se cair nos braços dos salteadores de estrada, que às vezes eram até canibais. Quando derrubaram os muros das cidades com o Renascimento, pensamos que o mundo seria um iluminado e fraterno paraíso. Não foi, inventamos outros tipos de muros. Volta e meia ouça alguém dizer de lugares onde se pode andar ainda com o espírito e as mãos desarmados. Mar Del Plata é assim. Um amigo que tem casa lá disse que não tem sequer chave na porta. Fiquei pensando se deveria alardear isto nesta crônica. Também naqueles filmes americanos da década de 40 era assim. A porta dos fundos ficava sempre aberta e a da frente não tinha chave. Igualzinho ao interior do Brasil do meu tempo. No máximo se fechava a porta com uma tramela. Perguntem a uma criança de hoje se sabe ao menos o que é uma tramela. As palavras somem com os objetos. As palavras somem como objetos diante de nosso desgaste moral. Então, estamos condenados a não poder sair de nossa pista? Não podemos mais errar uma estrada ou andar aleatoriamente a pé ou de carro como fazia uma amiga toda vez que se chateava com seu namorado e saía de carro por ruas desconhecidas pelo simples prazer de perder-se para se reencontrar e, se reencontrando, se iludir que se reencontrara apesar do namorado. A fábula do Chapeuzinho Vermelho, vejam só, está mais atual que nunca. Temos que levar uma cestinha de um lugar a outro, mas só podemos andar por um caminho, pela pista mais movimentada da floresta, porque fora daí nos surpreenderá o lobo. Escreveu-me um amigo que em Miami é um risco sair a pé à noite. E quem sair de carro, que feche bem os vidros. Alguma coisa está errada na maioria das cidades. Alguma coisa está erra. Nos homens e suas cidades. 13.5.92 SANT’ANNA, Afonso Romano. Porta de Colégio. Para Gostar de Ler. 7ª ed. Editora Ática. p. 109-112.