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horas de carro ou moto em estrada de terra. Isolamento
e pobreza formam um binômio trágico que vitima os
sertanejos daquela região.
VOLUNTARIADO: AJUDAR ALGUÉM
É A MAIOR RECOMPENSA
ALEXANDRE NAIME BARBOSA É MÉDICO INFECTOLOGISTA E DOCENTE
DA UNIVERSIDADE ESTADUAL PAULISTA - CAMPUS DE BOTUCATU/SP
11
EM FOCO
Foice no pescoço
Não fazia parte do plano atender urgências e emergências,
maselasacontecem.Edaformamaisinusitadanossaequipe
foisurpreendida.Estávamosemumapacatavisitadomiciliar,
numa casinha perdida no meio da caatinga atendendo uma
nonagenária que não conseguia se locomover, quando
um rapaz sabendo da presença dos médicos chegou de
moto esbaforido pedindo por socorro. A cerca de quinze
quilômetros dali, um homem alcoolizado tinha acabado de
atacar sua esposa no pescoço com uma foice.
Pegamos a caminhonete 4x4 que nos deslocava por
aquelas longas estradas de terra, e aceleramos atrás da
moto por cerca de uns 10 minutos. Ao chegar no local, a
cenaquenuncavouesquecer:umamulhervememdireção
ao carro aos tropeços, exibindo um vestido rasgado e o
pescoço aberto jorrando sangue. Pulamos do carro para
socorrê-la, eu a estudante de 3º Ano de Medicina Paula
e percebemos que a paciente estava completamente
alcoolizada, num misto de euforia e desespero cíclicos.
O golpe de foice provocou um corte profundo de quinze
centímetros, que atingiu provavelmente a jugular externa
e o esternocleidomastoideo.
Usamos uma camiseta para estancar o sangramento,
fazendo muita pressão manual e colocamos a vítima no
banco de trás da camionete, para a remoção. Enquanto
eu e Paula pressionávamos o ferimento e contínhamos
fisicamente a paciente que estava muito agitada, nossa
fisioterapeuta Marlise fazia um verdadeiro rali dos sertões
pelas estradas de terra por quase duas horas até chegar
no Pronto-Socorro mais próximo, na cidade de Betânia.
Lá pudemos fazer um curativo compressivo adequado,
e iniciar as medidas para transferência para um hospital
secundário, onde a mulher foi operada pela Cirurgia
Vascular para corrigir a lesão. Uma semana depois ficamos
sabendo que nossa inusitada paciente passeava sem
maiores preocupações pela feira de sábado da cidade, o
que nos deixou extremamente recompensados.
Lição de vida
E o que trouxe de mais valioso do Sertão? Entender o
valor do pequeno gesto. Por mais pontual e momentâneo
que nossa ação tenha sido, por mais que a realidade de
miséria e fome continue por lá, pudemos fazer a diferença
na vida daquelas pessoas tratando as doenças, cuidando
de ferimentos, orientando sobre medidas de prevenção
e acolhendo quem mais precisa. O brilho nos olhos e o
sorriso no rosto dos sertanejos que atendemos nos dão a
garantia de que fizemos a coisa certa e nos impulsiona a
voltar em novas missões.
Foram mais de 2.700 atendimentos voluntários e gratuitos
para quase 2.000 pessoas carentes em dez dias de missão
em quatro localidades de três municípios do Sertão do
Piauí. Formamos time que permitiu maximizar cada
potencial individual graças ao cuidado e ao apoio fraternal
e espontâneo que surgiu rapidamente no grupo, mesmo
nas situações mais adversas.
Centenas de quilômetros rodados, muitas caixas e
equipamentos pesados, sol escaldante, calor, poeira...
Falta de água e banho por dias se tornaram apenas
histórias engraçadas, graças ao foco e à dedicação em
dar nosso melhor para a gente tão sofrida e também tão
querida do Sertão.
VOLUNTARIADO: AJUDAR ALGUÉM É A MAIOR RECOMPENSA
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Missao Medica Dharma VV Piaui Sociedade Brasileira Infectologia 2017

  • 1. O que leva um grupo de pessoas com carreiras profissionais extremamente atribuladas e estressantes doarem o período de férias para trabalhar de graça, em situações de pouco conforto em um lugarejo remoto e perdido do Sertão do Piauí? A resposta para essa pergunta não é racional, e só um pouco do que vivemos por lá pode tentar explicar essa paixão por fazer a diferença na vida de alguém. Aeroporto de Petrolina: 27 de novembro de 2017, 16h45- vindos de oito estados diferentes, 30 voluntários entre médicos, dentistas, enfermeiros, psicólogos, fisioterapeutas e vários outros profissionais que não trabalhamnaáreadasaúde(engenheiros,administradores, empresários, fotógrafos, jornalistas etc) se reúnem com um misto de empolgação, alegria e ansiedade. Está para começar a Missão Médica Volunteer Vacations - Dharma ao Sertão do Nordeste 2017, uma rotina de dez dias de muitos quilômetros rodados, atendendo milhares de pessoas que vivem no semiárido do Piauí, em pequenas comunidades longínquas e de muito difícil acesso. Betânia do Piauí Primeira parada, município que conta com pouco mais de 6.000habitantes,espalhadospormaisde600km2.Apenas 255 betanhenses (4,2% do total) estão formalmente empregados, sendo o Programa Bolsa Família e outros repasses de verbas federais e estaduais a principal fonte de recursos do município. Saneamento básico não cobre 0,1% da população, comprometendo de forma importante as taxas de mortalidade infantil e internação por diarreia, situação que se repetia nos municípios que iríamos visitar. Após mais três horas de muita estrada de terra, nos alojamos em uma escola de ensino fundamental na simpática Vila do Mel, pertencente ao município de Betânia, no topo da Serra do Inácio. Na manhã seguinte começamos o atendimento, composto por Clínica Médica, Pediatria, Ginecologia, Oftalmologia, Odontologia, Psicologia e Fisioterapia. Todas as medicações prescritas eram fornecidas por farmácia que montamos no próprio local. Havia ainda a distribuição de óculos de grau, após a avaliação oftalmológica e muito trabalhopedagógicodeeducaçãoemsaúdecomapopulação. As principais patologias atendidas eram da esfera básica: hipertensão arterial, diabetes, cefaleia crônica, lombalgias, entre outras. Muitos desses pacientes não passavam por atendimento médico há mais de um ou dois anos, e estava em total descontrole clínico. Devido à localização do povoado, a farmácia mais próxima fica a quase duas horas de carro ou moto em estrada de terra. Isolamento e pobreza formam um binômio trágico que vitima os sertanejos daquela região. VOLUNTARIADO: AJUDAR ALGUÉM É A MAIOR RECOMPENSA ALEXANDRE NAIME BARBOSA É MÉDICO INFECTOLOGISTA E DOCENTE DA UNIVERSIDADE ESTADUAL PAULISTA - CAMPUS DE BOTUCATU/SP 11 EM FOCO
  • 2. Foice no pescoço Não fazia parte do plano atender urgências e emergências, maselasacontecem.Edaformamaisinusitadanossaequipe foisurpreendida.Estávamosemumapacatavisitadomiciliar, numa casinha perdida no meio da caatinga atendendo uma nonagenária que não conseguia se locomover, quando um rapaz sabendo da presença dos médicos chegou de moto esbaforido pedindo por socorro. A cerca de quinze quilômetros dali, um homem alcoolizado tinha acabado de atacar sua esposa no pescoço com uma foice. Pegamos a caminhonete 4x4 que nos deslocava por aquelas longas estradas de terra, e aceleramos atrás da moto por cerca de uns 10 minutos. Ao chegar no local, a cenaquenuncavouesquecer:umamulhervememdireção ao carro aos tropeços, exibindo um vestido rasgado e o pescoço aberto jorrando sangue. Pulamos do carro para socorrê-la, eu a estudante de 3º Ano de Medicina Paula e percebemos que a paciente estava completamente alcoolizada, num misto de euforia e desespero cíclicos. O golpe de foice provocou um corte profundo de quinze centímetros, que atingiu provavelmente a jugular externa e o esternocleidomastoideo. Usamos uma camiseta para estancar o sangramento, fazendo muita pressão manual e colocamos a vítima no banco de trás da camionete, para a remoção. Enquanto eu e Paula pressionávamos o ferimento e contínhamos fisicamente a paciente que estava muito agitada, nossa fisioterapeuta Marlise fazia um verdadeiro rali dos sertões pelas estradas de terra por quase duas horas até chegar no Pronto-Socorro mais próximo, na cidade de Betânia. Lá pudemos fazer um curativo compressivo adequado, e iniciar as medidas para transferência para um hospital secundário, onde a mulher foi operada pela Cirurgia Vascular para corrigir a lesão. Uma semana depois ficamos sabendo que nossa inusitada paciente passeava sem maiores preocupações pela feira de sábado da cidade, o que nos deixou extremamente recompensados. Lição de vida E o que trouxe de mais valioso do Sertão? Entender o valor do pequeno gesto. Por mais pontual e momentâneo que nossa ação tenha sido, por mais que a realidade de miséria e fome continue por lá, pudemos fazer a diferença na vida daquelas pessoas tratando as doenças, cuidando de ferimentos, orientando sobre medidas de prevenção e acolhendo quem mais precisa. O brilho nos olhos e o sorriso no rosto dos sertanejos que atendemos nos dão a garantia de que fizemos a coisa certa e nos impulsiona a voltar em novas missões. Foram mais de 2.700 atendimentos voluntários e gratuitos para quase 2.000 pessoas carentes em dez dias de missão em quatro localidades de três municípios do Sertão do Piauí. Formamos time que permitiu maximizar cada potencial individual graças ao cuidado e ao apoio fraternal e espontâneo que surgiu rapidamente no grupo, mesmo nas situações mais adversas. Centenas de quilômetros rodados, muitas caixas e equipamentos pesados, sol escaldante, calor, poeira... Falta de água e banho por dias se tornaram apenas histórias engraçadas, graças ao foco e à dedicação em dar nosso melhor para a gente tão sofrida e também tão querida do Sertão. VOLUNTARIADO: AJUDAR ALGUÉM É A MAIOR RECOMPENSA 12