O documento analisa o poema "Ode Triunfal" de Fernando Pessoa. A análise descreve o excesso de sensações no poema, incluindo visuais, auditivas, táteis e olfativas. Também discute temas como paixão, violência, erotismo, sadomasoquismo e identificação com maquinismos presentes no poema.
4. Análise do poema “Ode Triunfal”
Análise semântica
Excesso de sensações
•Sensação visual:
•“À dolorosa luz das grandes lâmpadas eléctricas” (v.1)
•Sensação auditiva:
•“De vos ouvir demasiadamente de perto” (v.11)
•Sensação táctil:
•“Tenho os lábios secos” (v.10)
•Sensação olfactiva:
•“A todos os perfumes de óleos e calores de carvão” (v.31)
•Global:
•“Como eu vos amo de todas as maneiras,/Com os olhos e com os ouvidos
e com o olfacto/E com o tacto (o que apalpar-vos representa para mim!)/E
com a inteligência como uma antena que fazeis vibrar!/Ah!, como todos os
meus sentidos têm cio de vós!” (vv.87-91)
5. Análise do poema “Ode Triunfal”
Paixão
“Amo-vos a todos, a tudo, como uma fera./Amo-vos carnivoramente.” (vv.105-
106)
Violência
“À dolorosa luz das lâmpadas eléctricas da fábrica” (v.1)
Erotismo e Sadomasoquismo
“Possuo-vos como a uma mulher bela” (v.116)
“Eu podia morrer triturado por um motor/Com o sentimento de deliciosa entrega
duma mulher possuída./Atirem-me para dentro das fornalhas!/Metam-me
debaixo dos comboios!/Espanquem-me a bordo de navios!/Masoquismo através
de maquinismos!/Sadismo de não sei quê moderno e eu e barulho!” (vv. 134-
140)
“Fazendo-me um excesso de carícias ao corpo numa só carícia à alma.” (v.25)
“Poder ao menos penetrar-me fisicamente de tudo isto, / Rasgar-me todo, abrir-
me completamente, tornar-me passento / A todos os perfumes de óleos e
calores e carvões / Desta flora estupenda, negra, artificial e insaciável!” (vv.29-
32)
Identificação/Fusão com os maquinismos
6. Análise do poema “Ode Triunfal”
Uso da ironia, para exprimir a face negativa da civilização industrial:
— “escrocs exageradamente bem vestidos”: além da ironia, está aqui
presente a antítese entre a compostura exterior (vestuário) dos escrocs e as
suas intenções;
— “Chefes de família vagamente felizes”: o advérbio “vagamente” projecta
sobre a felicidade dos chefes de família a sombra do cansaço (fartos de viver);
— “Banalidade interessante.../ Das burguesinhas.../ Que andam na rua
com um fim
qualquer”: de assinalar são a palavra “burguesinhas” e a expressão “com um
fim qualquer”, já que mostram a existência de uma antítese entre o aspecto
exterior das burguesinhas (diminutivo irónico) e as suas obscuras intenções;
— “A maravilhosa beleza das corrupções políticas, / Deliciosos
escândalos financeiros e
diplomáticos”: a adjectivação antitética assume aqui a forma de oxímoro.
7. Análise do poema “Ode Triunfal”
_ outras antíteses presentes no poema são:
— “tudo o que passa e nunca passa”: exprime a concentração do passado no
presente, ou a continuidade dos acontecimentos do dia-a-dia.;
— “O ruído cruel e delicioso da civilização de hoje”: antítese que reflecte os
sentimentos
contraditórios do poeta em relação à civilização industrial.
_ presença de metáforas e imagens expressivas, tais como:
“Arde-me a cabeça de vos querer cantar”; “Grandes trópicos humanos de
ferro, fogo e força”
“Desta flora estupenda, negra, artificial e insaciável”
“Nos cafés, oásis de inutilidade ruidosas” “Quilhas de chapa de ferro
sorrindo “
Através destas imagens e metáforas, o sujeito poético mostra a forma como vibra
com as coisas da civilização industrial (com a fúria do movimento das máquinas).
8. Análise do poema “Ode Triunfal”
Análise fónica e morfossintáctica
Frases exclamativas que sublinham a reacção emocional do sujeito poético;
Interjeições que reforçam a importância conferida às emoções do sujeito poético.
(espanto, alegria, animação, etc.): Ó!; Olá!; Eia!; Eh-lá!;
Enumerações remetem para uma expressão pautada pela emoção e não pela
razão.
Desvios sintácticos: Acentuam a ideia de espontaneidade do discurso emotivo
do sujeito poético:
“fera para a beleza de tudo isto”; “todos os nervos dissecados fora” (v.8)