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Lisboa, a cidade de Fernando Pessoa
Por encomenda da Fundação Calouste Gulbenkian, Almada Negreiros realizou, em 1964, uma
réplica (como que visto ao espelho) do Retrato de Fernando Pessoa, que havia executado
em 1954. O quadro está exposto no Centro de Arte Moderna /Fundação Calouste Gulbenkian.
Fernando Pessoa nasceu em Lisboa, no dia 13 de Junho de 1888. Foi a
cidade da sua vida, excluindo os nove anos que passou na África do Sul.
Trabalhou, como «correspondente comercial em línguas estrangeiras»,
em cerca de 20 escritórios. Outras vezes, ousou mesmo ser empresário,
criando, em associação ou não, firmas comerciais. Sempre em locais da
Baixa de Lisboa. Morou em vários sítios da cidade de Lisboa, às vezes em
quartos alugados, até que viveu os últimos 15 anos, entre 1920 e
1935, no nº 16 da Rua Coelho da Rocha, no Bairro de Campo
de Ourique. Morreu no dia 30 de Novembro de 1935, no Hospital
de São Luís dos Franceses, em Lisboa.
Fica aqui uma sugestão de um roteiro para a cidade de Lisboa nos
passos de Fernando Pessoa, a realizar em três percursos.
Fazemos notar que a grande maioria das firmas para as quais o poeta
trabalhou, ou de que foi proprietário, já não existe e que os
prédios estão, quase todos, muito degradados. Em alguns casos,
foram mesmo substituídos por outros.
Não obstante, entendemos dever privilegiar a palavra à imagem,
considerando que o nosso objectivo principal é assinalar os passos de
Fernando Pessoa em Lisboa.
Clicar para avançar20 de maio de 2013
09:56:24
Fernando
Pessoa
A
lberto
Caeiro
Á
lvaro
de
C
am
pos
Ricardo
Reis
Bernardo
Soares
Alexander
earch
A.A.Crosse
Fernando sonhou ser muitos rostos, mas
não conseguiu, sequer, ser ele próprio .
Terceiro Percurso:
Praça da Figueira
Rua da Madalena
Rua Jardim do Tabaco
Campo das Cebolas
Terreiro do Paço
Largo do Corpo Santo
Rua de São Paulo
Elevador da Bica
Bairro de Campo de Ourique
Largo do Chiado
Miradouro Santa Catarina
Percurso 3/3
Baixa de Lisboa
Cesário, que conseguiu
Cesário, que conseguiu
Ver claro, ver simples, ver puro,
Ver o mundo nas suas cousas,
Ser um olhar com uma alma por trás, e que vida
[tão breve!
Criança alfacinha do Universo.
Bendita sejas com tudo quanto está à vista!
Enfeito, no meu coração, a Praça da Figueira para ti
E não há recanto que não veja para ti, uns recantos
[dos seus recantos.
Álvaro de Campos, Poemas, 6/4/1930
Praça da Figueira
Rua da Madalena, 109 – “Casa Serras” (ou E. Dias Serras, Lda”
(primeira sede antes de 1934)
(…)
Isto me consola neste escritório estreito, cujas
janelas mal lavadas dão sobre um rua sem alegria.
Isto me consola, em o qual tenho por irmãos os
criadores da consciência do mundo – o dramaturgo
atabalhoado William Shakespeare, o mestre-escola
John Milton, o vadio Dante Alighieri, e até, se a
situação se permite, aquele Jesus Cristo que não
foi nada no mundo, tanto que se duvida dele pela
história.
(…)
Bernardo Soares, Livro do Desassossego
Rua Jardim do Tabaco, 74 – Comp. Industrial de Portugal e Colónias
(…)
Não tenho sentimento nenhum político ou social.
Tenho, porém, num sentido, um alto sentimento
patriótico. Minha pátria é a língua portuguesa.
Nada me pesaria que invadissem ou tomassem
Portugal, desde que não me incomodassem
pessoalmente. Mas odeio, com ódio verdadeiro,
com o único ódio que sinto, não quem escreve
mal português, não quem não sabe sintaxe, não
quem escreve em ortografia simplificada, mas a
página mal escrita, como pessoa própria, a
sintaxe errada, como gente em que se bata, a
orografia sem ípsilon, como o escarro directo que
me enoja independentemente de quem cuspisse.
Sim, porque a ortografia também é gente.
(…)
Bernardo Soares, Livro do Desassossego
Largo do Campo das Cebolas, 43, 1º - A. Xavier Pinto
Neste escritório, Fernando Pessoa recebeu, entre
1914 e 1915, um número razoável de postais e
cartas, quase todos de Paris, do seu grande amigo
Mário de Sá-Carneiro. Quase todo o original do
poema “Passagem das Horas” foi dactilografado
em papel com chancela desta firma, em 22 de
Maio de 1916.
PASSAGEM DAS HORAS
Trago dentro do meu coração,
Como num cofre que se não pode fechar de cheio,
Todos os lugares onde estive,
Todos os portos a que cheguei,
Todas as paisagens que vi através de janelas
[ou vigias
Ou de tombadilhos, sonhando,
E tudo isso, que é tanto, é pouco para o que
[eu quero.
(…)
Álvaro de Campos, Poemas
Terreiro do Paço - Café Martinho da Arcada
No final da sua vida, Fernando Pessoa passou mais tempo no Martinho da Arcada do que
em qualquer outro café da Baixa de Lisboa.
O café mantém, ainda hoje, a mesa em que o poeta habitualmente se sentava em
tertúlia com os amigos. Numa fotografia publicada em 1928 podemos vê-lo sentado a
uma mesa mais central convivendo com António Botto, Raul Leal e Augusto Ferreira
Gomes.
Cenário lisboeta por excelência, cenário pessoano quase inevitável, a cidade baixa assume,
nas proximidades do Tejo, a sua feição mais cosmopolita. Antes de dele, foi a cidade de
Cesário, como o próprio Fernando Pessoa escreve:
«Amo, pelas tardes demoradas de Verão, o sossego da cidade baixa, e sobretudo aquele
sossego que o contraste acentua na parte que o dia mergulha em mais bulício. A Rua do
Arsenal, a Rua da Alfândega, o prolongamento das ruas tristes que se alastram para leste
desde que a Alfândega cessa, toda a linha separada dos cais quedos - tudo isso me conforta
de tristeza, se me insiro, por essas tardes, na solidão do seu conjunto. Vivo uma era anterior
àquela em que vivo; gozo de sentir-me coevo de Cesário Verde, e tenho em mim, não outros
versos como os dele, mas a substância igual à dos versos que foram dele»
Bernardo Soares, Livro do Desassossego (1929)
Terreiro do Paço e Rua do Arsenal (vista do Martinho da Arcada
Largo do Corpo Santo, 28, 1º - “Francisco Camello”
Existiu, no número 28, o escritório “Francisco Camello”, para quem Fernando Pessoa
trabalhou nos últimos anos da sua vida, conforme comprova o testemunho do seu biografo
principal, João Gaspar Simões, que descreve uma visita que fez ao poeta neste local de
trabalho. Este escritório mantém-se em actividade (agora no 2º andar do nº 16) e, até
meados do ano de 2011, era possível ver, no antigo edifício, a secretária onde o poeta
trabalhou, graças ao empenho de um neto do antigo patrão. Lamentavelmente, o edifício
foi vendido, perdendo-se, quiçá, a última possibilidade visitar um espaço que
preservasse a memória pessoana.
Rua de S. Paulo, 117 - 121 - “Toscano & Cruz, Lda” (1920 - 1924)
A estrada de Sintra
Ao volante do Chevrolet pela estrada
[de Sintra,
Ao luar e ao sonho, na estrada deserta,
Sozinho guio, guio quase devagar, e um pouco
Me parece, ou me forço um pouco para
[que me pareça,
Que sigo por outra estrada, por outro sonho,
[por outro mundo,
Que sigo sem haver Lisboa deixada ou Sintra
[a que ir ter,
Que sigo, e que mais haverá em seguir senão
[não parar mas seguir?
Vou passar a noite a Sintra por não poder
[passá-la em Lisboa,
Mas, quando chegar a Sintra, terei pena de
[não ter ficado em Lisboa.
(…)
Álvaro de Campos, Poemas
Entre 1920 e 1924, Fernando
Pessoa trabalhou neste escritório
que se dedicava à venda de
motores, máquinas e automóveis…
Devaneio entre Cascais e Lisboa. Fui pagar a
Cascais uma contribuição do patrão Vasques,
de uma casa que tem no Estoril.
Antecipadamente gozei o prazer de ir, uma hora
para lá, uma hora para cá, vendo os aspectos
sempre vários do grande rio e da sua foz
atlântica. Na verdade, ao ir, perdi-me em
meditações abstractas, vendo sem ver as
paisagens aquáticas que me alegrava ir ver, e
ao voltar perdi-me na fixação destas
sensações. Não seria capaz de descrever o mais
pequeno pormenor da viagem, o mais pequeno
trecho de visível. Lucrei estas páginas por
olvido e contradição. Não sei se isso é melhor ou
pior do que o contrário, que também não sei o
que é.
O comboio abranda, é o Cais do Sodré. Cheguei
a Lisboa, mas não a uma conclusão.
Bernardo Soares, Livro do Desassossego
Elevador da Bica
Bairro de Campo de Ourique
É dos bairros mais característicos de Lisboa.
Tem uma vida própria, com o seu comércio,
jardim e ruas com traçado geométrico.
Certamente, era perto deste edifício (gaveto
da Rua Saraiva Carvalho com a Rua Ferreira
Borges), que Fernando Pessoa descia do
Eléctrico 28 para se dirigir à sua casa alugada
na Rua Coelho da Rocha, onde morou desde
1920 até 1935.
No caminho para casa, Fernando Pessoa
passava pela leitaria A Morgadinha, do senhor
Trindade (que já não existe hoje), e, dirigindo-
se ao balcão, dizia: 2, 6, 8.
Trindade servia-o: uma caixa de fósforos, um
cálice de aguardente e um maço de cigarros.
Os fósforos custavam 2 tostões, um cálice de
aguardente 6 e o maço de cigarros 8.
Pessoa simplificava: 2, 6, 8.
Rua Coelho da Rocha, 16
Casa Fernando Pessoa
Entre 1920 e 1935, Fernando Pessoa residiu no
1º andar deste prédio. Hoje, todo o edifício, onde
passou os últimos quinze anos da sua vida (depois
de ter habitado cerca de 30 locais diferentes), é
lhe inteiramente dedicado.
É a Casa Fernando Pessoa. Inaugurada em
Novembro de 1993, a casa Fernando Pessoa foi
concebida pela Câmara Municipal de Lisboa como
um centro cultural destinado a homenagear o poeta e
a sua memória na cidade onde viveu e no bairro
onde passou os últimos quinze anos da sua vida.
Possui um auditório, jardim, salas de exposição, objectos de arte, uma biblioteca dedicada
exclusivamente à poesia, além de uma parte do espólio do poeta (objectos e mobiliário que
pertenceram ao poeta). A Casa Fernando Pessoa é um pequeno universo polivalente onde,
nos seus três pisos principais, se realizam colóquios, sessões de leitura de poesia, encontros
de escritores, espectáculos musicais e de teatro, conferências temáticas, workshops,
exposições de artes plásticas, sessões de apresentação de livros, ateliers para crianças,
numa programação muito diversificada.
Casa Fernando Pessoa - A cómoda
No primeiro andar da Casa Fernando Pessoa está
o quarto do poeta. Aqui vê-se a célebre cómoda,
sobre a qual o heterónimo Alberto Caeiro
escreveu, numa só noite, o livro O Guardador de
Rebanhos.
«…Foi em 8 de Março de 1914 – acerquei-me de
uma cómoda alta, e, tomando um papel, comecei a
escrever, de pé, como escrevo sempre que
posso. E escrevi trinta e tantos poemas a fio,
numa espécie de êxtase cuja natureza não
conseguirei definir. Foi o dia triunfal da minha
vida, e nunca poderei ter outro assim. Abri com
um título, O Guardador de Rebanhos. E o que
se seguiu foi o aparecimento de alguém em mim, a
quem dei desde logo o nome de Alberto Caeiro.
Desculpe-me o absurdo da frase: aparecera em
mim o meu mestre. Foi essa a sensação imediata
que tive…»
Contou ele, por carta, a Adolfo Casais Monteiro,
em 13/01/1935
Eléctrico 28
O Eléctrico 28 foi seleccionado pela editora
Rough Guide to the World como uma das 1000
experiências de viagem mais importantes do
Mundo.
E este foi certamente o transporte público mais
utilizado por Pessoa nas sua deslocações entre a
sua casa em Campo de Ourique e a Baixa de
Lisboa, onde se situavam as casas comercias para
quem trabalhava e os cafés onde se encontrava
com os seus amigos.
«Vou num carro eléctrico, e estou reparando
lentamente, conforme é meu costume, em todos
os pormenores das pessoas que vão adiante de
mim. Para mim os pormenores são coisas, vozes,
frases. (…) Entonteço. Os bancos do eléctrico, de
um entretecido de palha forte e pequena, levam-
me a regiões distantes, multiplicam-se-me em
indústrias, operários, casas de operários, vidas,
realidades, tudo. Saio do carro exausto e
sonâmbulo. Vivi a vida inteira».
Bernardo Soares, Livro do Desassossego
(s/d)
Rua do Alecrim
Vem Sentar-te Comigo, Lídia, à Beira do Rio
Vem sentar-te comigo, Lídia, à beira do rio.
Sossegadamente fitemos o seu curso e aprendamos
Que a vida passa, e não estamos de mãos enlaçadas.
(Enlacemos as mãos.)
Depois pensemos, crianças adultas, que a vida
Passa e não fica, nada deixa e nunca regressa,
Vai para um mar muito longe, para ao pé do Fado,
Mais longe que os deuses.
Desenlacemos as mãos, porque não vale a pena
[cansarmo-nos
Quer gozemos, quer não gozemos, passamos como
[o rio
Mais vale saber passar silenciosamente
E sem desassossegos grandes.
(…)
Ricardo Reis, Odes
Largo do Chiado - Casa Havaneza
Releio passivamente, recebendo o que sinto
como uma inspiração e um livramento, aquelas
frases simples do Caeiro, na referência natural
ao que resulta do pequeno tamanho da sua
aldeia. Dali, diz ele, porque é pequena, pode
ver-se mais do mundo do que da cidade; e
por isso a aldeia é maior que a cidade…
Porque eu sou do tamanho do que vejo
E não do tamanho da minha altura.
Tenho vontade de erguer os braços e gritar
coisas de uma selvajaria (….)
Mas recolho-me e abrando. «Sou do tamanho
do que vejo!» E a frase fica-me sendo a alma
inteira, encosto a ela todas as emoções que
sinto, e sobre mim, por dentro, como sobre a
cidade por fora, cai a paz indecifrável do luar
duro que começa largo com o anoitecer.
Bernardo Soares, Livro do Desassossego
24/3/1930
Rua Garrett, 120 a 122 - Café A Brasileira (do Chiado)
Em 19 de Novembro de 1935 (a onze dias
de morrer), o poeta escreveu o seu último
poema em português:
Há doenças piores que as doenças,
Há dores que não doem, nem na alma,
Mas que são dolorosas mais que as outras.
Há angústias sonhadas mais reais
Que as que a vida nos traz, há sensações
Sentidas só com a imaginá-las
Que são mais nossas do que a nossa vida
Há tanta cousa que, sem sentir,
Existe, existe demoradamente,
E demoradamente é nossa, e nós..
Por sobre o verdor turvo do amplo rio
Os circunflexos brancos das gaivotas…
Por sobre a alma o adejar inútil
Do que não foi, nem pôde ser, e é tudo.
Dá me mais vinho, porque a nossa vida é
nada.
Fernando Pessoa
Largo do Chiado
Apaziguado, quiçá, com tal vista, Pessoa, a poucos dias
de morrer, escreveu, em 7/11/1935, um dos seus mais
misteriosos poemas, poema que intitulou Magnificat.
Quando é que passará esta noite interna, o universo,
E eu, a minha alma, terei o meu dia?
Quando é que despertarei de estar acordado?
Não sei. O sol brilha alto,
Impossível de fitar.
As estrelas pestanejam frio,
Impossíveis de contar.
O coração pulsa alheio,
Impossível de escutar.
Quando é que passará este drama sem teatro,
Ou este teatro sem drama,
E recolherei a casa?
Onde? Como? Quando?
Gato que me fitas com olhos de vida, que tens lá no fundo?
É esse! É esse!
Esse mandará como Josué parar o sol e eu acordarei;
E então será dia.
Sorri, dormindo, minha alma!
Sorri, minha alma, será dia !
Álvaro de Campos, Poemas
Estátua, da autoria de Lagoa Henriques,
recorda Fernando Pessoa à mesa do café
A Brasileira, onde se sentava para escrever
e conversar com os amigos. O poeta está,
curiosamente, de frente para os locais que
recordavam os melhores anos da sua vida
(a casa onde nasceu e “o sino da minha
aldeia”).
Miradouro de Santa Catarina
José Saramago, n´ O Ano da Morte de Ricardo Reis,
veio resolver um enigma deixado por Fernando
Pessoa: Ricardo Reis, o poeta das odes, partira
para o Brasil em 1919 e nada se sabia dele.
Ricardo Reis, na narrativa de José Saramago,
regressou a Portugal depois da cólica hepática
que vitimou Fernando Pessoa. Neste seu regresso,
Ricardo Reis e Fernando Pessoa conversaram
muitas vezes até ao dia em que ambos se
encaminharam para o cemitério dos Prazeres:
Ricardo Reis, porque agora morreu de vez;
Fernando Pessoa, de volta ao lugar donde saiu
para se encontrar com o amigo muito especial.
«Saíram de casa. Fernando Pessoa ainda observou, Você não trouxe o chapéu. Melhor do que eu sabe
que não se usa lá. Estavam no passeio do jardim, olhavam as luzes pálidas do rio, a sombra amaçadora
dos montes. Então vamos, disse Fernando Pessoa. Vamos, disse Ricardo Reis. O Adamastor não se
voltou para ver, parecia-lhe que desta vez ia ser capaz de dar um grande grito. Aqui, onde o mar se
acabou e a terra espera».
José Saramago, O Ano da Morte de Ricardo Reis
Bibliografia:
Fotobiografias Século XX –Direcção de Joaquim Vieira (Texto de Richard Zenith)
Fazer pela vida, Um Retrato de Fernando Pessoa, o empreendedor, de António Mega
Ferreira
Fernando Pessoa, Empregado de escritório, de João Rui de Sousa
Fernando Pessoa, o editor, o escritor e os seus leitores, Edição da Fundação Calouste
Gulbenkian
A Lisboa de Fernando Pessoa – Uma Fotobiografia, de Marina Tavares Dias
Lisboa nos passos de Fernando Pessoa, de Marina Tavares Dias
Fernando Pessoa, quando fui outro, de Luiz Ruffato
Fernando Pessoa - Livro do Desassossego, Edição de Teresa Sobral Cunha
Fernando Pessoa, vida, personalidade e génio, de António Quadros
Vida e Obra de Fernando Pessoa, de João Gaspar Simões
Poesia de Fernando Pessoa, de Adolfo Casais Monteiro
Antologias e livros de poesia pessoana (vários)
Música: Moon River, de
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Fotografias, Textos e Formatação:
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Lisboa, a cidade de fernando pessoa (terceiro percurso)

  • 1. Lisboa, a cidade de Fernando Pessoa Por encomenda da Fundação Calouste Gulbenkian, Almada Negreiros realizou, em 1964, uma réplica (como que visto ao espelho) do Retrato de Fernando Pessoa, que havia executado em 1954. O quadro está exposto no Centro de Arte Moderna /Fundação Calouste Gulbenkian.
  • 2. Fernando Pessoa nasceu em Lisboa, no dia 13 de Junho de 1888. Foi a cidade da sua vida, excluindo os nove anos que passou na África do Sul. Trabalhou, como «correspondente comercial em línguas estrangeiras», em cerca de 20 escritórios. Outras vezes, ousou mesmo ser empresário, criando, em associação ou não, firmas comerciais. Sempre em locais da Baixa de Lisboa. Morou em vários sítios da cidade de Lisboa, às vezes em quartos alugados, até que viveu os últimos 15 anos, entre 1920 e 1935, no nº 16 da Rua Coelho da Rocha, no Bairro de Campo de Ourique. Morreu no dia 30 de Novembro de 1935, no Hospital de São Luís dos Franceses, em Lisboa. Fica aqui uma sugestão de um roteiro para a cidade de Lisboa nos passos de Fernando Pessoa, a realizar em três percursos. Fazemos notar que a grande maioria das firmas para as quais o poeta trabalhou, ou de que foi proprietário, já não existe e que os prédios estão, quase todos, muito degradados. Em alguns casos, foram mesmo substituídos por outros. Não obstante, entendemos dever privilegiar a palavra à imagem, considerando que o nosso objectivo principal é assinalar os passos de Fernando Pessoa em Lisboa. Clicar para avançar20 de maio de 2013 09:56:24
  • 4. Terceiro Percurso: Praça da Figueira Rua da Madalena Rua Jardim do Tabaco Campo das Cebolas Terreiro do Paço Largo do Corpo Santo Rua de São Paulo Elevador da Bica Bairro de Campo de Ourique Largo do Chiado Miradouro Santa Catarina Percurso 3/3
  • 6. Cesário, que conseguiu Cesário, que conseguiu Ver claro, ver simples, ver puro, Ver o mundo nas suas cousas, Ser um olhar com uma alma por trás, e que vida [tão breve! Criança alfacinha do Universo. Bendita sejas com tudo quanto está à vista! Enfeito, no meu coração, a Praça da Figueira para ti E não há recanto que não veja para ti, uns recantos [dos seus recantos. Álvaro de Campos, Poemas, 6/4/1930 Praça da Figueira
  • 7. Rua da Madalena, 109 – “Casa Serras” (ou E. Dias Serras, Lda” (primeira sede antes de 1934) (…) Isto me consola neste escritório estreito, cujas janelas mal lavadas dão sobre um rua sem alegria. Isto me consola, em o qual tenho por irmãos os criadores da consciência do mundo – o dramaturgo atabalhoado William Shakespeare, o mestre-escola John Milton, o vadio Dante Alighieri, e até, se a situação se permite, aquele Jesus Cristo que não foi nada no mundo, tanto que se duvida dele pela história. (…) Bernardo Soares, Livro do Desassossego
  • 8. Rua Jardim do Tabaco, 74 – Comp. Industrial de Portugal e Colónias (…) Não tenho sentimento nenhum político ou social. Tenho, porém, num sentido, um alto sentimento patriótico. Minha pátria é a língua portuguesa. Nada me pesaria que invadissem ou tomassem Portugal, desde que não me incomodassem pessoalmente. Mas odeio, com ódio verdadeiro, com o único ódio que sinto, não quem escreve mal português, não quem não sabe sintaxe, não quem escreve em ortografia simplificada, mas a página mal escrita, como pessoa própria, a sintaxe errada, como gente em que se bata, a orografia sem ípsilon, como o escarro directo que me enoja independentemente de quem cuspisse. Sim, porque a ortografia também é gente. (…) Bernardo Soares, Livro do Desassossego
  • 9. Largo do Campo das Cebolas, 43, 1º - A. Xavier Pinto Neste escritório, Fernando Pessoa recebeu, entre 1914 e 1915, um número razoável de postais e cartas, quase todos de Paris, do seu grande amigo Mário de Sá-Carneiro. Quase todo o original do poema “Passagem das Horas” foi dactilografado em papel com chancela desta firma, em 22 de Maio de 1916. PASSAGEM DAS HORAS Trago dentro do meu coração, Como num cofre que se não pode fechar de cheio, Todos os lugares onde estive, Todos os portos a que cheguei, Todas as paisagens que vi através de janelas [ou vigias Ou de tombadilhos, sonhando, E tudo isso, que é tanto, é pouco para o que [eu quero. (…) Álvaro de Campos, Poemas
  • 10. Terreiro do Paço - Café Martinho da Arcada No final da sua vida, Fernando Pessoa passou mais tempo no Martinho da Arcada do que em qualquer outro café da Baixa de Lisboa. O café mantém, ainda hoje, a mesa em que o poeta habitualmente se sentava em tertúlia com os amigos. Numa fotografia publicada em 1928 podemos vê-lo sentado a uma mesa mais central convivendo com António Botto, Raul Leal e Augusto Ferreira Gomes.
  • 11. Cenário lisboeta por excelência, cenário pessoano quase inevitável, a cidade baixa assume, nas proximidades do Tejo, a sua feição mais cosmopolita. Antes de dele, foi a cidade de Cesário, como o próprio Fernando Pessoa escreve: «Amo, pelas tardes demoradas de Verão, o sossego da cidade baixa, e sobretudo aquele sossego que o contraste acentua na parte que o dia mergulha em mais bulício. A Rua do Arsenal, a Rua da Alfândega, o prolongamento das ruas tristes que se alastram para leste desde que a Alfândega cessa, toda a linha separada dos cais quedos - tudo isso me conforta de tristeza, se me insiro, por essas tardes, na solidão do seu conjunto. Vivo uma era anterior àquela em que vivo; gozo de sentir-me coevo de Cesário Verde, e tenho em mim, não outros versos como os dele, mas a substância igual à dos versos que foram dele» Bernardo Soares, Livro do Desassossego (1929) Terreiro do Paço e Rua do Arsenal (vista do Martinho da Arcada
  • 12. Largo do Corpo Santo, 28, 1º - “Francisco Camello” Existiu, no número 28, o escritório “Francisco Camello”, para quem Fernando Pessoa trabalhou nos últimos anos da sua vida, conforme comprova o testemunho do seu biografo principal, João Gaspar Simões, que descreve uma visita que fez ao poeta neste local de trabalho. Este escritório mantém-se em actividade (agora no 2º andar do nº 16) e, até meados do ano de 2011, era possível ver, no antigo edifício, a secretária onde o poeta trabalhou, graças ao empenho de um neto do antigo patrão. Lamentavelmente, o edifício foi vendido, perdendo-se, quiçá, a última possibilidade visitar um espaço que preservasse a memória pessoana.
  • 13. Rua de S. Paulo, 117 - 121 - “Toscano & Cruz, Lda” (1920 - 1924) A estrada de Sintra Ao volante do Chevrolet pela estrada [de Sintra, Ao luar e ao sonho, na estrada deserta, Sozinho guio, guio quase devagar, e um pouco Me parece, ou me forço um pouco para [que me pareça, Que sigo por outra estrada, por outro sonho, [por outro mundo, Que sigo sem haver Lisboa deixada ou Sintra [a que ir ter, Que sigo, e que mais haverá em seguir senão [não parar mas seguir? Vou passar a noite a Sintra por não poder [passá-la em Lisboa, Mas, quando chegar a Sintra, terei pena de [não ter ficado em Lisboa. (…) Álvaro de Campos, Poemas Entre 1920 e 1924, Fernando Pessoa trabalhou neste escritório que se dedicava à venda de motores, máquinas e automóveis…
  • 14. Devaneio entre Cascais e Lisboa. Fui pagar a Cascais uma contribuição do patrão Vasques, de uma casa que tem no Estoril. Antecipadamente gozei o prazer de ir, uma hora para lá, uma hora para cá, vendo os aspectos sempre vários do grande rio e da sua foz atlântica. Na verdade, ao ir, perdi-me em meditações abstractas, vendo sem ver as paisagens aquáticas que me alegrava ir ver, e ao voltar perdi-me na fixação destas sensações. Não seria capaz de descrever o mais pequeno pormenor da viagem, o mais pequeno trecho de visível. Lucrei estas páginas por olvido e contradição. Não sei se isso é melhor ou pior do que o contrário, que também não sei o que é. O comboio abranda, é o Cais do Sodré. Cheguei a Lisboa, mas não a uma conclusão. Bernardo Soares, Livro do Desassossego Elevador da Bica
  • 15. Bairro de Campo de Ourique É dos bairros mais característicos de Lisboa. Tem uma vida própria, com o seu comércio, jardim e ruas com traçado geométrico. Certamente, era perto deste edifício (gaveto da Rua Saraiva Carvalho com a Rua Ferreira Borges), que Fernando Pessoa descia do Eléctrico 28 para se dirigir à sua casa alugada na Rua Coelho da Rocha, onde morou desde 1920 até 1935. No caminho para casa, Fernando Pessoa passava pela leitaria A Morgadinha, do senhor Trindade (que já não existe hoje), e, dirigindo- se ao balcão, dizia: 2, 6, 8. Trindade servia-o: uma caixa de fósforos, um cálice de aguardente e um maço de cigarros. Os fósforos custavam 2 tostões, um cálice de aguardente 6 e o maço de cigarros 8. Pessoa simplificava: 2, 6, 8.
  • 16. Rua Coelho da Rocha, 16 Casa Fernando Pessoa Entre 1920 e 1935, Fernando Pessoa residiu no 1º andar deste prédio. Hoje, todo o edifício, onde passou os últimos quinze anos da sua vida (depois de ter habitado cerca de 30 locais diferentes), é lhe inteiramente dedicado. É a Casa Fernando Pessoa. Inaugurada em Novembro de 1993, a casa Fernando Pessoa foi concebida pela Câmara Municipal de Lisboa como um centro cultural destinado a homenagear o poeta e a sua memória na cidade onde viveu e no bairro onde passou os últimos quinze anos da sua vida. Possui um auditório, jardim, salas de exposição, objectos de arte, uma biblioteca dedicada exclusivamente à poesia, além de uma parte do espólio do poeta (objectos e mobiliário que pertenceram ao poeta). A Casa Fernando Pessoa é um pequeno universo polivalente onde, nos seus três pisos principais, se realizam colóquios, sessões de leitura de poesia, encontros de escritores, espectáculos musicais e de teatro, conferências temáticas, workshops, exposições de artes plásticas, sessões de apresentação de livros, ateliers para crianças, numa programação muito diversificada.
  • 17. Casa Fernando Pessoa - A cómoda No primeiro andar da Casa Fernando Pessoa está o quarto do poeta. Aqui vê-se a célebre cómoda, sobre a qual o heterónimo Alberto Caeiro escreveu, numa só noite, o livro O Guardador de Rebanhos. «…Foi em 8 de Março de 1914 – acerquei-me de uma cómoda alta, e, tomando um papel, comecei a escrever, de pé, como escrevo sempre que posso. E escrevi trinta e tantos poemas a fio, numa espécie de êxtase cuja natureza não conseguirei definir. Foi o dia triunfal da minha vida, e nunca poderei ter outro assim. Abri com um título, O Guardador de Rebanhos. E o que se seguiu foi o aparecimento de alguém em mim, a quem dei desde logo o nome de Alberto Caeiro. Desculpe-me o absurdo da frase: aparecera em mim o meu mestre. Foi essa a sensação imediata que tive…» Contou ele, por carta, a Adolfo Casais Monteiro, em 13/01/1935
  • 18. Eléctrico 28 O Eléctrico 28 foi seleccionado pela editora Rough Guide to the World como uma das 1000 experiências de viagem mais importantes do Mundo. E este foi certamente o transporte público mais utilizado por Pessoa nas sua deslocações entre a sua casa em Campo de Ourique e a Baixa de Lisboa, onde se situavam as casas comercias para quem trabalhava e os cafés onde se encontrava com os seus amigos. «Vou num carro eléctrico, e estou reparando lentamente, conforme é meu costume, em todos os pormenores das pessoas que vão adiante de mim. Para mim os pormenores são coisas, vozes, frases. (…) Entonteço. Os bancos do eléctrico, de um entretecido de palha forte e pequena, levam- me a regiões distantes, multiplicam-se-me em indústrias, operários, casas de operários, vidas, realidades, tudo. Saio do carro exausto e sonâmbulo. Vivi a vida inteira». Bernardo Soares, Livro do Desassossego (s/d)
  • 19. Rua do Alecrim Vem Sentar-te Comigo, Lídia, à Beira do Rio Vem sentar-te comigo, Lídia, à beira do rio. Sossegadamente fitemos o seu curso e aprendamos Que a vida passa, e não estamos de mãos enlaçadas. (Enlacemos as mãos.) Depois pensemos, crianças adultas, que a vida Passa e não fica, nada deixa e nunca regressa, Vai para um mar muito longe, para ao pé do Fado, Mais longe que os deuses. Desenlacemos as mãos, porque não vale a pena [cansarmo-nos Quer gozemos, quer não gozemos, passamos como [o rio Mais vale saber passar silenciosamente E sem desassossegos grandes. (…) Ricardo Reis, Odes
  • 20. Largo do Chiado - Casa Havaneza Releio passivamente, recebendo o que sinto como uma inspiração e um livramento, aquelas frases simples do Caeiro, na referência natural ao que resulta do pequeno tamanho da sua aldeia. Dali, diz ele, porque é pequena, pode ver-se mais do mundo do que da cidade; e por isso a aldeia é maior que a cidade… Porque eu sou do tamanho do que vejo E não do tamanho da minha altura. Tenho vontade de erguer os braços e gritar coisas de uma selvajaria (….) Mas recolho-me e abrando. «Sou do tamanho do que vejo!» E a frase fica-me sendo a alma inteira, encosto a ela todas as emoções que sinto, e sobre mim, por dentro, como sobre a cidade por fora, cai a paz indecifrável do luar duro que começa largo com o anoitecer. Bernardo Soares, Livro do Desassossego 24/3/1930
  • 21. Rua Garrett, 120 a 122 - Café A Brasileira (do Chiado) Em 19 de Novembro de 1935 (a onze dias de morrer), o poeta escreveu o seu último poema em português: Há doenças piores que as doenças, Há dores que não doem, nem na alma, Mas que são dolorosas mais que as outras. Há angústias sonhadas mais reais Que as que a vida nos traz, há sensações Sentidas só com a imaginá-las Que são mais nossas do que a nossa vida Há tanta cousa que, sem sentir, Existe, existe demoradamente, E demoradamente é nossa, e nós.. Por sobre o verdor turvo do amplo rio Os circunflexos brancos das gaivotas… Por sobre a alma o adejar inútil Do que não foi, nem pôde ser, e é tudo. Dá me mais vinho, porque a nossa vida é nada. Fernando Pessoa
  • 22. Largo do Chiado Apaziguado, quiçá, com tal vista, Pessoa, a poucos dias de morrer, escreveu, em 7/11/1935, um dos seus mais misteriosos poemas, poema que intitulou Magnificat. Quando é que passará esta noite interna, o universo, E eu, a minha alma, terei o meu dia? Quando é que despertarei de estar acordado? Não sei. O sol brilha alto, Impossível de fitar. As estrelas pestanejam frio, Impossíveis de contar. O coração pulsa alheio, Impossível de escutar. Quando é que passará este drama sem teatro, Ou este teatro sem drama, E recolherei a casa? Onde? Como? Quando? Gato que me fitas com olhos de vida, que tens lá no fundo? É esse! É esse! Esse mandará como Josué parar o sol e eu acordarei; E então será dia. Sorri, dormindo, minha alma! Sorri, minha alma, será dia ! Álvaro de Campos, Poemas Estátua, da autoria de Lagoa Henriques, recorda Fernando Pessoa à mesa do café A Brasileira, onde se sentava para escrever e conversar com os amigos. O poeta está, curiosamente, de frente para os locais que recordavam os melhores anos da sua vida (a casa onde nasceu e “o sino da minha aldeia”).
  • 23. Miradouro de Santa Catarina José Saramago, n´ O Ano da Morte de Ricardo Reis, veio resolver um enigma deixado por Fernando Pessoa: Ricardo Reis, o poeta das odes, partira para o Brasil em 1919 e nada se sabia dele. Ricardo Reis, na narrativa de José Saramago, regressou a Portugal depois da cólica hepática que vitimou Fernando Pessoa. Neste seu regresso, Ricardo Reis e Fernando Pessoa conversaram muitas vezes até ao dia em que ambos se encaminharam para o cemitério dos Prazeres: Ricardo Reis, porque agora morreu de vez; Fernando Pessoa, de volta ao lugar donde saiu para se encontrar com o amigo muito especial. «Saíram de casa. Fernando Pessoa ainda observou, Você não trouxe o chapéu. Melhor do que eu sabe que não se usa lá. Estavam no passeio do jardim, olhavam as luzes pálidas do rio, a sombra amaçadora dos montes. Então vamos, disse Fernando Pessoa. Vamos, disse Ricardo Reis. O Adamastor não se voltou para ver, parecia-lhe que desta vez ia ser capaz de dar um grande grito. Aqui, onde o mar se acabou e a terra espera». José Saramago, O Ano da Morte de Ricardo Reis
  • 24. Bibliografia: Fotobiografias Século XX –Direcção de Joaquim Vieira (Texto de Richard Zenith) Fazer pela vida, Um Retrato de Fernando Pessoa, o empreendedor, de António Mega Ferreira Fernando Pessoa, Empregado de escritório, de João Rui de Sousa Fernando Pessoa, o editor, o escritor e os seus leitores, Edição da Fundação Calouste Gulbenkian A Lisboa de Fernando Pessoa – Uma Fotobiografia, de Marina Tavares Dias Lisboa nos passos de Fernando Pessoa, de Marina Tavares Dias Fernando Pessoa, quando fui outro, de Luiz Ruffato Fernando Pessoa - Livro do Desassossego, Edição de Teresa Sobral Cunha Fernando Pessoa, vida, personalidade e génio, de António Quadros Vida e Obra de Fernando Pessoa, de João Gaspar Simões Poesia de Fernando Pessoa, de Adolfo Casais Monteiro Antologias e livros de poesia pessoana (vários)
  • 25. Música: Moon River, de Henry Mancini, por Ernesto Cortazar Fotografias, Textos e Formatação: Joaquim Boavida Março de 2012 F i m