SlideShare uma empresa Scribd logo
1 de 15
IMAGOS VIRTUAIS:
Imagem, morte e eternidade em
plataformas ciberespaciais de relacionamento 1
Cíntia Dal Bello2
Resumo: Este artigo observa a situação sui generis de profiles (perfis em comunidades
virtuais de relacionamento, como o Orkut) que permanecem online após a morte
concreta de seus usuários, bem como o impacto do fenômeno no imaginário religioso
dos demais internautas e as práticas culturais decorrentes. Para tanto, sinaliza a natureza
fantasmagórica das imagens (de acordo com Debray, Kamper, Morin e Baitello Jr.) nos
processos de espectralização da identidade no cyberspace (Virilio, Baudrillard,
Trivinho, Dal Bello).
A natureza fantasmagórica das imagens
Ao mesmo tempo que se pretenderá imortal, o homem designar-se-á a
si próprio como mortal. (MORIN, 1988, p. 26).
O nascimento da imagem está envolvido com a morte. Mas se a
imagem arcaica jorra dos túmulos é por recusar o nada e para
prolongar a vida. (DEBRAY, 1994, p. 20).
A consciência da morte está inextricavelmente ligada ao desabrochar da
individualidade, razão pela qual se relaciona com o processo de humanização e
civilização. Desperto do sono-natureza, o ser humano ergueu-se, paulatinamente, no
contínuo empreendimento de domesticar a selvageria de seu entorno e a sua própria
ferocidade, concentrando parte de seus interesses em lidar com o terror do nada-ser, ou
do nunca-mais-ser, da morte. Para Morin (1988, p. 31), por trás da dor dos ritos
funerários, do horror à decomposição do cadáver e da obsessão pela morte, encontra-se
o medo primeiro: “a perda da individualidade”. Frente à carcaça de um animal ou de um
inimigo, o ser humano pode enojar-se, mas não necessariamente se comover; entretanto,
quando aquele que está morto é reconhecidamente um semelhante, com o qual há
identificação, o horror se põe como antevisão da própria tragédia e a dor se faz maior
sempre que o morto é sentido como único e insubstituível.
1
Artigo integrante da programação da 6ª Conferência Mídia, Religião e Cultura, promovida em 2008 pela
Metodista. Disponível no CD-ROM dos anais do evento (ISBN 978-85-7814-048-99).
2
A autora é mestranda do Programa de Estudos Pós-Graduados em Comunicação e Semiótica da
Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PEPGCOS-PUC/SP) e bolsista CAPES (Coordenação de
Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior). Sua pesquisa é orientada pelo Prof. Dr. Eugênio
Trivinho sob o título (provisório) de Cibercultura e subjetividade: uma investigação sobre a identidade
em comunidades virtuais de relacionamento. E-mails: pubcintia@yahoo.com.br; cbello@uninove.br.
A individualidade que se revolta perante a morte é uma
individualidade que se afirma sobre a morte. A prova experimental,
tangível, desta afirmação é a réplica à putrefação, a imortalidade, que
é a afirmação da individualidade para além da morte. (...) O caráter
categórico, universal, da afirmação da imortalidade é da mesma
craveira do caráter categórico, universal, da afirmação da
individualidade. (MORIN, 1988, p. 34).
A consciência de si implica o reconhecimento das fragilidades e limitações
que concorrem diretamente com a preservação da própria vida. Nascimento e morte,
contrapostos, constituem uma das mais importantes oposições binárias3
desde os
primórdios da cultura humana, dualidade que marca a percepção e compõe valores
polarizados e assimétricos, tais como luz e sombra, dia e noite, começo e fim, bem e
mal (BYSTRINA, 1995, p. 7-8). Nesse sentido, Baitello Jr. (1997, p. 70) lembra que os
mitos e os rituais mágicos, entre outros artefatos culturais, compõem estratégias de
superação destas dualidades, reconfigurando as assimetrias. A morte, apesar se ser (e
exatamente porque é) pólo negativo da vida, comparece simbolicamente instituída como
ambivalente (mortalidade e imortalidade). Desde os vocabulários mais arcaicos é
considerada como um sono, uma viagem, um nascimento, uma doença, um acidente, um
malefício, uma entrada para a morada dos antepassados “e, o mais das vezes, [como]
tudo isto ao mesmo tempo” (MORIN, 1988, p. 25).
As práticas funerárias e o trato dos mortos, conforme demonstrado por
Frazer (apud MORIN, 1988, p. 25), indicam a força, por que não dizer universalidade?,
da crença na imortalidade, ou seja, “no prolongamento da vida por período indefinido,
mas não necessariamente eterno”, já que a noção abstrata de eternidade é tardia. As
imagens nascem nesse caldo paradoxal em que o ser vivo, mortal, aspira à imortalidade,
obsessão que revela, muitas vezes em detrimento da própria vida, a aguda preocupação
com a conservação da individualidade após a morte. As imagens surgem, de acordo com
Kamper (2002, p. 9), contra o medo da morte e, por isso, a elas “se prendem os desejos
de imortalidade”. Nascem como mortalhas que, exatamente por serem o que são, só
podem fazer lembrar aquilo que pretendem esconder e fazer esquecer: se imagens são
presenças de ausências, são o próprio retrato do vazio. Nesse sentido, Debray (1994, p.
29-30) assinala que, ante o traumatismo da visão do cadáver, presença/ausência
inominável, restou ao ser humano a contramedida de recompor em imagem aquilo que
3
Os pares de opostos direita/esquerda (relativo ao próprio corpo) e masculino/feminino (relativo ao outro
que complementa) também são significativas matrizes constitutivas do dualismo fundador da cultura.
se decompõe: ao fazer “um duplo do morto para mantê-lo vivo”, o ser humano deixa
“de ver esse não-sei-o-quê em si”, “de ver a si mesmo como quase nada”.
A natureza fantasmagórica das imagens e sua relação com o mito arcaico do
duplo pode ser inferida a partir da etimologia. Imagem, do latim imago, refere-se
primeiramente à máscara mortuária modelada em cera a partir do próprio rosto do
morto, utilizada nos rituais funerários e guardada “em casa nos nichos do átrio, a salvo,
na prateleira” (DEBRAY, 1994, p. 23). Simulacrum significa espectro e eídolon, a alma
dos mortos. Só depois estas palavras passaram a significar imagem, retrato.
O eídolon arcaico designa a alma do morto que sai do cadáver sob a
forma de uma sombra imperceptível, seu duplo, cuja natureza tênue,
mas ainda corporal, facilita a figuração plástica. A imagem é a
sombra; ora, sombra é o nome comum do duplo. (DEBRAY, 1994, p.
23).
Em seus estudos sobre fotografia, Morin (1997, 51-52) assinala a
capacidade humana de inocular na imagem “o vírus da presença”, tornando-a objeto de
adoração, de posse, de culto e de apropriação em rituais ocultistas. Como materialização
ou cristalização de lembranças, a fotografia presta-se à prática da recordação,
substituindo, nos lares, amuletos, estatuetas e outros objetos que poderiam constituir
símbolos ou índices de lugares e momentos específicos; a troca de imagens entre os
apaixonados, que beijam-nas quando saudosos e rasgam-nas quando a relação termina,
“realiza magicamente essa troca de individualidades, em que cada um se torna não só
ídolo como escravo, e que constitui o amor” (MORIN, 1997, p. 38); nas práticas
magísticas, ocultistas e espíritas, opera-se à distância sobre a imagem fotográfica de
uma pessoa com finalidades diversas: “Quer isto dizer que a fotografia é, no sentido
estrito do termo, presença real da pessoa representada, que nela se pode ler a sua alma,
a sua doença, o seu destino. E mais: que se torna possível agir por seu intermédio e
sobre ela” (MORIN, 1997, p. 39). O que pensar, então, do curioso medo de que a
câmera fotográfica aprisione a alma na materialidade da fotografia?
O que parecem ser propriedades da fotografia são propriedades do
nosso espírito, que nela se fixaram, e que ela nos devolve. Em vez de
se procurar na coisa fotográfica a qualidade tão evidente e
profundamente humana da fotografia, dever-se-á partir do homem... A
riqueza da fotografia reside, de fato, no que nela não existe, mas que
nela é projetado e fixado por nós. (MORIN, 1997, p. 41).
O estranhamento experimentado diante da própria imagem revela o
paradoxo fundamental da complexidade humana: a não-identidade na identidade
(MORIN, 2005), relativa ao saber-se idêntico à sua própria imagem e, ainda assim, não
sentir-se representado completamente nela. Eis o que expressa o mito do duplo, sombra
zombeteira ou maléfica que foge ao controle de seu senhor (como em Peter Pan),
figuração que envelhece no lugar do original (como acontece com Dorian Gray), alma
que se desgarra do corpo físico, durante o sono ou após a morte (o vampiro não tem
reflexo porque já é o próprio duplo em sua eternidade amaldiçoada). Quando a
fotografia, imagem material, parece revelar uma qualidade que o original não possui,
revela em si sua natureza de duplo. Embora possa ser considerada ontologicamente
inferior ao que representa (de acordo com os pressupostos platônicos), a realidade-
fantástica do duplo é assustadoramente mágica. Mas, se o duplo é o reflexo, a sombra, o
fantasma... ele também é a ausência. Ausência, sobretudo, do sujeito que, atônito,
observa do lado de fora do espelho: até que ponto sou a minha própria imagem?
Sartre diz que ‘a característica essencial da imagem mental é uma
certa forma que o objeto tem de estar ausente na sua própria
presença’. Acrescente-se, também, o recíproco: de estar presente na
sua própria ausência. Como igualmente diz Sartre, ‘o original encarna-
se, desce à imagem’. A imagem é uma presença vivida e uma ausência
real, uma presença-ausência. (MORIN, 1997, p. 42).
Wolff (2005, p. 30-31) sinaliza os três graus de ausência passíveis de
representação pela imagem: (1) a acidental, quando aquele que está representado não se
encontra presente mas pode fazê-lo a qualquer momento – neste caso, a imagem é um
artefato de substituição e consolo; (2) a substancial, quando a ausência do que já esteve
presente é irreversível e a consciência da falta soma-se a agonia da saudade – caso dos
momentos passados, da infância distante e dos mortos queridos; e, por fim, (3) a
absoluta, ou seja, aquilo que é, em essência, ausente deste mundo: os seres sobrenaturais
ou transcendentais e os deuses; neste caso, a imagem engendra a ilusão de que emana
diretamente do invisível que representa, “e não daquele que a fez. É como se os dois
tipos de imagens, o retrato e o fantasma, se confundissem” (WOLFF, 2005, p. 32); é
como se o próprio ausente pudesse se manifestar por meio da imagem.
Entre a representação do acidentalmente ausente (apenas ocasionalmente
invisível, razão pela qual a imagem consola) e do absolutamente ausente (portanto,
“divinamente” invisível),
as imagens visíveis têm o poder de representar as coisas passadas ou
os seres defuntos, que não são nem inteiramente visíveis nem
inteiramente invisíveis. E é nesse nível que há concorrência entre dois
tipos de imagens nas crenças populares: as verdadeiras imagens feitas
pela mão do homem e que têm o verdadeiro poder de representar os
mortos, e as imagens ilusórias, com as quais imaginamos que os
mortos se apresentem. (WOLFF, 2005, p. 31).
Em sua luta ancestral para vencer a morte e imortalizar o que não pode mais
ser, o homem, ainda hoje, produz e consome imagens. Entretanto, a revolução
tecnológica e a digitalização das informações, a comunicação em tempo real e o advento
do cyberspace, a configuração de uma sociedade que se articula em rede e avança nos
processos de espectralização da existência redimensionam, no macro contexto da era da
visibilidade mediática (TRIVINHO, 2007, 2008), novas (velhas) práticas culturais. Para
além de uma sociedade espetacular que se embevece diante do speculum (espelho)
televisivo porque nele se reconhece em um pacto de fantasia coletiva, vive-se como
imagem no próprio speculum cibertecnológico das comunidades virtuais de
relacionamento: o que não são os perfis senão carcaças-sígnicas com as quais os
usuários configuram sua mediática aparição-presença?
Nesse sentido, Kamper (2002, p. 11) afirma que os homens de hoje vivem
nas imagens do mundo, de si próprios e dos outros homens – uma permanência
imaginária que conduz à condição de uma vida morta. Já que às imagens se prendem os
desejos de imortalidade, fazer uma imagem do corpo humano “significa alinhá-lo na
falange dos mortos-vivos, dos espectros e fantasmas”. Essa compreensão permite que se
tome as representações do eu na virtualidade por espectros ciberculturais.
Espectros do Orkut
O cyberspace pode ser compreendido como arquitetura tecnológica cuja
trama, em rede invisível, engendra mecanismos de vigilância e de controle, conforme os
aportes crítico-teóricos de Virilio (2000) e Trivinho (2007). Dentre os diversos
arranjamentos que interfaceiam o fluxo de informações e a comunicação em tempo real,
as comunidades virtuais de relacionamento se destacam por constituírem refinados
ambientes de visibilidade mediática; são espaços de exposição do eu que permitem aos
sujeitos se circunscreverem no irrefreado fluxo informacional. Neste estudo, toma-se o
Orkut como exemplar em virtude de ser, ainda hoje, a rede de contatos pessoais mais
popular no Brasil.
Diferentemente dos chats públicos, onde a associação4
entre usuários é
provisória por ocorrer apenas no momento em que os sujeitos, identificados por seus
nicknames, estão conectados à sala para interagir, o Orkut sinaliza a possibilidade da
permanência (mesmo que se desconecte da rede, o perfil do usuário ou as discussões
encetadas nos fóruns comunitários permanecem disponíveis) e da atualização (sempre
que está online, o sujeito pode reconfigurar o seu perfil, publicando textos, imagens e
vídeos; ao percorrer outros perfis, participar dos fóruns e deixar recados em scrapbooks,
colabora para atualizar o próprio ambiente). Além disso, o espectro formado pelas
páginas-informações que identifica o sujeito e circunscreve suas fronteiras em relação
ao outro também comporta a intersubjetividade: há introjeção do “nós” no “eu”, já que
parte constitutiva do perfil é exatamente o conjunto de relações expresso sob a chancela
de “meus amigos”. É assim que cada “eu” encontra-se multiplicado ao longo dos “nós”
da rede de relacionamentos; a imagem de cada “amigo” é, na verdade, um hiper-ícone
que remete ao universo subjetivo devidamente “perfilado”.
Se para estar no Orkut é preciso projetar as imagens constitutivas de si
mesmo em um arranjamento lúdico, dinâmico e espectral, ser no Orkut exige que se
revista desse ruidoso conjunto para andarilhar, espiar, assombrar e deixar rastros. A
permanência e ubiqüidade do perfil, a despeito do sujeito não estar sincronamente
conectado, permite que se afirme que, no cyberspace, é possível estar sem ser. Em seus
desdobramentos, o fenômeno da espectralização generalizada da existência em prol da
teleexistência interativa implica não apenas a transformação do mundo em imagens ou
da mediatização das relações pelas imagens; trata-se, também, da experimentação da
própria vida na realidade hiperespetacular dos corpos tecno-fantásticos, estética-
instrumental de individuação e marcação da identidade.
Em trabalho anterior, investigou-se a constituição do espectro virtual de
acordo com os parâmetros (ora antagônicos, ora complementares) da representação e da
simulação (o duplo como reflexo e como sombra, respectivamente) para compreender a
natureza das práticas relativas à alimentação do sistema informacional na composição
de imagens do “eu” (DAL BELLO, 2007b). Parte das conseqüências desta alimentação
gratuita e muitas vezes ingênua, levada a cabo como passatempo, também já foi
aventada na denúncia de um regime avançado de indexação sígnica (DAL BELLO,
2007a). O presente estudo tem por objetivo registrar e refletir sobre os rituais que
4
A associação pode ocorrer por tema, faixa etária ou sexo, entre outras possibilidades de estratificação
desses canais de conversação.
amalgamam, também no cyberspace, imagem, morte e eternidade: a imortalidade do
perfil que permanece online após a morte do usuário-sujeito e seu contraponto, a morte
da imagem-perfil, expressa como orkuticídio.
A hiper-realidade dos perfis desencarnados
O não abandono dos mortos implica a sua sobrevivência. (MORIN,
1988, p. 25).
A comunidade Profiles de Gente Morta (PGM)5
, criada em dezembro de
2004, tem mais de 48 mil membros associados e nove comunidades relacionadas.6
O
principal objetivo de seu fórum é pesquisar e divulgar a morte de usuários do Orkut.
Aqui vemos como, de uma hora para a outra, nossa vida acaba e deixamos
tudo para trás, inclusive banalidades como Orkut, Fotolog, MSN, etc...
Banalidades essas que, por vez, podemos chamar de "rastros virtuais".
Mas o que são esses rastros?? Seriam eles úteis?? Um conforto para quem
fica?? Uma imortalidade virtual?? Bom, estamos aí para discutir...
Queremos que vc poste o profile de algum conhecido seu que tenha falecido
ou algum profile que vc conhece. Não é permitido brincadeiras de má
intenção, bem como falta de respeito com os mortos. Deixo claro também
que sou contra qualquer tipo de violência e jamais faço apologia a morte aqui
nessa comunidade. Sem mais, desejo que todos descansem em paz...
Ass.: Guilherme Dorta
Tabela 1: Texto de apresentação da comunidade Profiles de Gente Morta (PGM)
Para cada notícia de falecimento abre-se um tópico na lista do fórum; os
títulos trazem os nomes dos mortos identificados entre cruzes (figura 1). Cada tópico
contém, necessariamente, o hiperlink para acesso ao perfil do falecido; além disso, pode
informar a causa7
do óbito. Conhecidos e, sobretudo, desconhecidos, manifestam seu
pesar tanto no fórum quanto no scrapbook do perfil recém-desencarnado; nestes
também ocorre o vandalismo virtual, expresso como mensagens difamatórias ou de
baixo calão deixadas por perfis anônimos ou falsos (fake profiles).
5
Disponível em: http://www.orkut.com.br/Community.aspx?cmm=993780. Acesso em: 01/06/2008.
6
Dados de junho de 2008. Comunidades relacionadas: Eu já chorei lendo a Profiles (1484 membros); Gente morta
sem profile (1359 membros); Sou viciado na Profiles (876 membros); Eu adoro a PGM (775 membros); PGM –
Investigações (741 membros); Se eu morrer, me enterre na PGM (557 membros); Eu sou um pegeêmico – PGM (215
membros); Não ao RIP e DEP nos profiles (135 membros); e A PGM não me deixa trabalhar (28 membros).
7
Na enquete da própria comunidade, 2205 usuários responderam a seguinte pergunta, formulada em agosto de 2007:
que tipo de morte mais aparece aqui na PGM? Resultado: suicídio (29%), acidente de carro (28%), acidente de moto
(14%) e homicídio (14%).
Figura 2: Fórum da PGM, imagem capturada em junho de 2008.
Em novembro de 2007, um tópico divulgou o suicídio de G8
. Cerca de 500
mensagens, além de condolências, passaram a especular as razões que a levaram a esse
ato extremo. No trabalho coletivo de “investigação”, após analisarem fotos e mensagens
dos perfis de parentes e amigos da falecida, os internautas chegaram à possível
conclusão de que G. havia se matado por não suportar a ausência ou indiferença de seu
filho, cujo comportamento aparentemente era motivado pelo pai, ex-marido de G. O
mais inusitado, entretanto, era o álbum do perfil da própria G. No conjunto, imagens e
legendas formavam uma hiperespetacular carta suicida endereçada ao filho e aos pais:
“Nossa senhora cubra meu filho com seu manto de amor. Guarda-o na paz desse
olhar...”; “Meu filho, minha vida, mainha te ama muito, viu!!! Serás um grande homem,
em nom...”; “Saudades eternas... Meus Paizinhos, sempre os amarei, sempre estarão em
meu coraç...”. G. também se preocupou em postar imagens artísticas em preto e branco
que simbolizam a sensualidade feminina, a tristeza (lágrima) e a angústia (prostração),
respectivamente (ver figura 2).
8
Embora o Orkut seja um publicador de perfis, ou seja, aquele que entra na rede tem ciência de que o conteúdo
gerado será público, optou-se em preservar a identidade de G., abreviação do apelido registrado em seu perfil.
Figura 2: Álbum de G., imagem capturada em novembro de 2007.
O trabalho de atualizar o álbum (escolha das imagens e composição das
legendas) e tratar a sua própria imagem (a chamada “foto do perfil”), conferindo-lhe um
aspecto aéreo, espectral, permite supor que G., embora se dirija apenas ao filho e aos
pais, tinha interesse em assegurar e legitimar, na visibilidade ciberespacial, o quanto os
amava, de forma que seu suicídio não fosse compreendido como ausência de amor. Esta
preocupação sobrepôs-se à necessidade de justificar sua atitude e expressa, de forma
indireta, um cuidado com sua imagem pós-morte. Seu perfil é sua imago, sua máscara
mortuária virtual, sua última imagem – a imagem que postulará o quanto era sublime
seu amor de mãe, apesar de suicida. Para Debray (1994, p. 25-26), “a transposição em
imagem (...) é o melhor que acontece ao homem do Ocidente porque sua imagem é a
sua melhor parte: seu ego imunizado, colocado em lugar seguro”. O perfil mumifica a
vida do duplo não em seu último suspiro, mas em sua última atualização, para assim
permanecer em um presente eternizado e receber as mensagens rest in peace de amigos
e desconhecidos. Se a própria morte é premeditada, o perfil pode ossificar para a
eternidade a imagem que se deseja que os demais guardem de si. Convertido em
“santinho” interativo, o perfil vira ponto de romaria; transforma-se também em curiosa
aberração.
Embora o caso de G. seja exponencial, o desejo de que o perfil seja mantido
online após a morte foi manifestado por 47% dos 527 membros da PGM que
responderam em enquete da própria comunidade a seguinte pergunta: você gostaria que
seu profile fosse deletado após a sua morte? (formulada em abril de 2007). 22%
disseram não se importar e 13% disseram que, dependendo do tipo de morte, é melhor
que o perfil seja apagado pelos familiares. Apenas 16% não desejam que o perfil seja
mantido. Alguns comentários9
deixados pelos respondentes permitem que se
compreenda a congruência entre perfil e identidade para além de índice ou ícone da
subjetividade; o desejo de permanência do perfil corresponde, portanto, ao desejo de
sobrevivência da individualidade.
Tassia: naum gostaria pq,sei lá...seria minha única marca antes de
morrer.minhas últimas palavras e talz... seria minha lembrança mais viva e
eu naum gostaria q ela fosse apagada.
Gabriela Meg: Gostaria que as pessoas se lembrassem de mim, de alguma
forma. Provar que fiz algo na minha vida, mesmo que fosse somente um
profile no orkut. e quanto as mensagens que receberia, a morte não é um
fim, apenas um começo...
Antonio Marcos: Quando eu não mais estiver nesse mundo, quero que as
pessoas que ficaram, saibam que eu fui, das coisas que eu gostava, assim
como as que não.
Tabela 2: Enquete PGM - comentários em resposta à pergunta
Você gostaria que seu profile fosse deletado após a sua morte? (abril de 2007).
De acordo com Renard (2001, p. 56-71, apud LEGROS et al, 2007, p. 231),
“as técnicas modernas acolhem voluntariamente o sobrenatural: fotos espíritas, vozes de
defuntos, calculadoras astrológicas”. Na intangibilidade desmaterializada e fugaz do
ecrã, os fantasmagóricos perfis desencarnados (porque absolutamente livres de uma
corporeidade à qual deva representar) tornam-se hiper-reais10
, simulacros epicurianos
desgarrados da realidade concreta que fomentam o imaginário tecno-religioso11
a partir
9
Os comentários não foram reproduzidos necessariamente na ordem em que aparecem postados. As fotos do perfil
(que acompanham cada mensagem) foram dispensadas. Além disso, para facilitar a leitura, caracteres especiais e
textos em caixa alta foram modificados sem alteração do conteúdo. No mais, a transcrição é literal. Os comentários,
nas enquetes, não são datados.
10
Aquilo que é mais real do que o real liquida os seus referenciais e deixa de representá-los, obliterando a diferença
entre verdadeiro e falso, real e imaginário (BAUDRILLARD, 1991, p. 7-14).
11
Para Legros et al (2007, p. 218), “religião e imaginário, por terem em comum uma característica fundamental – a
atividade simbólica -, são dois domínios que se aproximaram, assimilando-se mutuamente”.
da possibilidade de sobrevida por meio da imagem, como pode ser observado nos
seguintes comentários:
Dra Kittie: Após d morta quero ficar viva... nem q seja virtualmente
Paula: Eu queria que não fosse deletado já pedi a minha família que me post
aqui e não delete meu orkut, já que eu vou morrer dexa eu aqui plisss
Pinn: se excluirem meu orkut o que eu vo faze no ceu ou inferno?
Bruno: naum uai vai q la no ceu tenha lan house u.u*
Deep: Não gostaria de ficar recebendo scraps me chingando mesmo após
minha morte
Tabela 3: Enquete PGM - comentários em resposta à pergunta
Você gostaria que seu profile fosse deletado após a sua morte? (abril de 2007).
Permanência e atualização de conteúdos no Orkut corroboram para o
embaralhamento de postulados demarcados tais como vida e morte. Sete meses depois,
ainda online, o perfil de G. pode ser localizado; houve um trabalho de atualização do
conteúdo (provavelmente feito por alguém que teve acesso à senha): as mensagens
ofensivas postadas à época do falecimento foram apagadas, bem como as mensagens de
sua mãe, respondendo às condolências virtuais de familiares e amigos; o álbum de fotos
foi modificado, reduzindo-se a uma única imagem. Mas, os muitos recados que chegam,
sucessivamente, não são deletados. Acumulam-se saudações, poesias e mensagens de
otimismo absolutamente impessoais; cartões animados (slideshow) por ocasião de datas
festivas; divulgações de comunidades, sites, festas, produtos e serviços. Nas poucas
mensagens dirigidas especificamente à G., são recorrentes imagens bíblicas ou de
paisagens banhadas em luz; G. é chamada de “eterna amiga”, “G. de luz”, “meu
anjinho”. Curiosamente, em maio de 2008, G. recebeu mais de 20 mensagens de
congratulação por seu aniversário como se ainda estivesse viva, a ponto de um dos
usuários ter de intervir diretamente:
(Usuário não existe mais): Gente!!!!!!!!! Tenho certeza que vcs não sabem!!!
Mas G. faleceu o ano passado... Que Deus a tenha em seu reino... Que tenha
misericórdia e lhe perdoe. (29/05/2008)
Tabela 4: Mensagem retirada do scrapbook do perfil de G.
O embaralhamento12
chega a tal ponto que alguns internautas manifestam o
seu aturdimento: fato ou boato? Verdade ou mentira? Viva, morta ou... ressuscitada?
Representação do vivo, imago-efígie ou fantasma?13
Afinal, representado quer dizer
“presente na imagem (e não na realidade) e tornado presente pela imagem” (WOLFF,
2005, p. 21). Mas a que tipo de presença o perfil de G. se refere?
Graça: Recebi o recado de vcs amigos de G. dizendo do falecimento.... porem
o profile de vcs não recebe recados... só envia, achei muito estranho!!!
Coloque o recado na pagina dela... avisando do falecimento!! Obrigada
(19/05/2008)
Everaldo: porque vc tah tão sumida??? (19/05/2008)
Graça: G. vc ressucitou??/ Pois a notica que correu na rede é que vc havia se
suicidado. Por favor alguém pode me responder? (15/05/2008)
Graça: Atenção familiares da G.!!!!! Se ela faleceu porque continuar com o
orkut dela.... vcs não acham que é mais sofrimento??? Gostaria de ter uma
explicação plausível pra continuar com este orkut!!! A G. não faleceu!????
Está parecendo coisa meio enrolada...... A quem vcs querem enganar pois ta
tudo muito estranho!!! Porque vcs querem prolongar este sofrimento
familiar... A não ser que a familia seja masoquista.... (25/03/2008)
Jonathan: vc morreu ou não? (21/01/2008)
Graça: O que aconteceu com vc??? Estes boatos do orkut que vc suicidou é
verdade... Por favor alguém responda!!!! Que loucura foi esta????
(07/01/2008)
Graça: Que recados são estes a respeito de seu suicídio?? Será vírus??
Alguém me de noticias por favor pois adoro muito você e estou preocupada
com esta noticia!!! (12/12/2008)
Tabela 4: Mensagem retirada do scrapbook do perfil de G.
A análise do scrapbook de G. revela, em meio à saturação informacional
cuja obesidade se deve ao “delírio de estocar tudo e tudo memorizar”
(BAUDRILLARD, 1996, p. 25), um grande vazio: o que se pode extrair de
verdadeiramente substancial? Muito pouco. Quem sabia ou queria realmente saber de
G.? Poucos. Mesmo as mensagens de aniversário se transformam em pseudo-afronta,
pois não constituem uma lembrança legítima: a plataforma indexa os “amigos”
aniversariantes do dia, aos quais se podem enviar os devidos “parabéns”.
O envio massificado de mensagens indiferenciadas presta-se antes a tornar-
se visível no scrapbook daqueles que estão vinculados como “amigos” que
12
Na hiper-realidade (BAUDRILLARD, 1991, 1996), as dicotomias implodem e causam a estranheza do
embaralhamento.
13
Para Wolff (2005, p. 32), “as imagens dão novamente vida aos mortos (está aí seu poder), isso porque a vida dos
mortos é a das imagens (aí está a ilusão). (...) Ela tem o poder de representar o ausente. Ela pode também criar a
ilusão de que é o próprio ausente que se apresenta”.
propriamente entabular uma conversação, um vínculo efetivo, comportamento
condizente com a cultura narcisista vigente (LASCH, 1983, 1990). Mensagens como
“pensei em você” ou “tenha um ótimo final de semana” publicizam o eu e multiplicam
seus pontos de acesso, já que, ao lado de cada mensagem, segue-se o composto
imagem/nome “hiperlinkado” ao perfil. E estas seguem, inclusive, aos “amigos”
falecidos, atualizando seus scrapbooks. Esta supermultiplicação conduz ao êxtase, “essa
qualidade própria a todos os corpos que giram sobre si mesmos até a perda de
consciência e que resplandecem então em suas formas puras e vazias”
(BAUDRILLARD, 1996, p. 9).
Orkuticídio: assassinato ou suicídio do espectro virtual?
O contraponto dos perfis sem corpos são os corpos sem perfis, sujeitos que
optaram por encerrar sua conta no Orkut e assim, cometeram orkuticídio, assassinato-
suicídio do espectro virtual. A prática, de caráter ambivalente, constitui assassinato
quando se toma o espectro como “eu mesmo-outro”; mas também é suicídio porque só é
possível atentar contra o espectro sendo este próprio espectro. No Orkut, há pelo menos
46 comunidades relativas; a maior, com 6419 membros, chama-se Já pensei em fazer
orkuticídio14
. As justificativas freqüentes dadas por quem já pensou ou de fato cometeu
(mas voltou, criando um novo perfil) denunciam, no conjunto, que esse espaço de
visibilidade fomenta práticas correlatas: o controle, a vigilância, a especulação e o roubo
de identidade. Se, por um lado, novas ferramentas buscam assegurar maior privacidade
no Orkut, por outro, acabam com parte da essência da plataforma. Nela, tudo parece
perfeito e, exatamente por isso, absolutamente irreal.
Adriele: Pq tudo aqui e "perfeito"... todos são lindos, interessantes e cultos!
AHHH e sem contar que aqui todo mundo s ama, mas quando lhe v na rua
nem olha para a sua cara!
Tabela 5: Enquete da comunidade Já pensei em fazer orkuticídio - comentário em
resposta à pergunta Você já cometeu orkuticídio? (abril de 2007).
Enquanto alguns usuários relatam o desejo de sair para evitar fofocas, brigas
e preservar sua privacidade, outros dizem que o Orkut perdeu a graça com essas novas
ferramentas:
Bezinha: to morrendo de ódio do orkut com esses cadeadinhos desgraçados
14
Disponível em: http://www.orkut.com.br/Community.aspx?cmm=3618861. Acesso em 01/06/2008.
Tabela 6: Enquete da comunidade Já pensei em fazer orkuticídio - comentário em
resposta à pergunta Você já cometeu orkuticídio? (abril de 2007).
Há quem já saiu simplesmente para testar se seus amigos sentiriam sua falta
no Orkut. Dos 432 membros que responderam à enquete Você já cometeu orkuticídio?
(pergunta postada em maio de 2007), apenas 35% disseram que sim, e mais de uma vez,
tornando a criar um novo perfil. Aqueles que não cometeram, mas já pensaram no
assunto, dizem não fazerem por medo de se arrepender depois, já que é trabalhoso
construir o perfil e reunir os “amigos”. Há uma constante referência ao sentimento de
que viver no Orkut constitui um “vício”. Será esse um dos efeitos do feitiço da imagem,
ser e viver na imagem?
Henrique Martins: Fala pra mim... O que eu iria fazer na Internet todos os dias
sem que eu tivesse orkut ? O que tem de INTERESSANTE na Internet, por
emquanto, melhor que o orkut ? Tem coisa mais divertida que conversar e
conhecer pessoas pelo orkut ? Quando alguem inventar coisa melhor eu
deleto o meu.
Tabela 7: Enquete da comunidade Já pensei em fazer orkuticídio - comentário em
resposta à pergunta Você já cometeu orkuticídio? (abril de 2007).
Referências
BAITELLO Jr., Norval. O animal que parou os relógios. São Paulo: Annablume,
1997.
BAUDRILLARD, Jean. Simulacros e simulação. São Paulo: Relógio D´Água, 1991.
________. As estratégias fatais. Rio de Janeiro: Rocco, 1996.
BYSTRINA, Ivan. Tópicos da semiótica da cultura. São Paulo: Centro
Interdisciplinar de Semiótica da Cultura e da Mídia, PUC-SP, 1995. Cópia reprográfica.
40 f.
DAL BELLO, Cíntia. A espectralização da existência: indexação sígnica em
comunidades virtuais de relacionamento. In: IX SEMINÁRIO INTERNACIONAL DA
COMUNICAÇÃO, 9., 2007, Porto Alegre. Simulacros e (dis)simulações na sociedade
hiperespetacular. Porto Alegre: PUCRS, 2007. P. 47 – 64. Disponível em:
<http://www.pucrs.br/eventos/sicom/textos/gt03.pdf>. Acesso em: 10 nov. 2007(a).
________. Espectros virtuais: a construção de corpos-sígnicos em comunidades virtuais
de relacionamento. E-Compós. Brasília: Compós, v. 10, dez-2007(b).
________. Espectros virtuais: as dimensões do “apareser” em comunidades virtuais de
relacionamento. Cadernos de Semiótica Aplicada. Araraquara: FCLAR-UNESP, v.6,
n.1, 2008.
DEBRAY, Regis. Vida e morte da imagem: uma história do olhar no ocidente.
Petrópolis, Rio de Janeiro: Vozes, 1994.
KAMPER, Dietmar. Imagem. 2002. Disponível em:
<http://www.cisc.org.br/portal/biblioteca/imagemkamper.pdf>. Acesso em: 10 set.
2006.
LASCH, Christopher. Cultura do narcisismo. Rio de Janeiro: Imago, 1983.
__________. O mínimo eu: sobrevivência psíquica em dias difíceis. São Paulo:
Brasiliense, 1990.
LEGROS, Patrick et al. Sociologia do imaginário. Porto Alegre: Sulina, 2007.
MORIN, Edgar. O homem e a morte. Mem Martins, Portugal, 1988.
________. O cinema ou o homem imaginário. Tradução: António-Pedro Vasconcelos.
São Paulo: Relógio d´Água, 1997.
________. O método 5: a humanidade da humanidade. Porto Alegre: Sulina, 2005.
TRIVINHO, Eugênio. A dromocracia cibercultural: lógica da vida humana na
civilização mediática avançada. São Paulo: Paulus, 2007.
________. Visibilidade mediática e violência transpolítica na cibercultura: condição
atual da repercussão social-histórica do fenômeno glocal na civilização mediática
avançada. In: XVII Encontro Nacional da COMPÓS, 17., 2008, São Paulo. Disponível
em: www.compos.org.br/data/biblioteca_287.pdf. Acesso em: 25 jun. 2008.
VIRILIO, Paul. Cibermundo: a política do pior. Lisboa: Teorema, 2000.
WOLFF, Francis. Por trás do espetáculo: o poder das imagens. In: NOVAES, Adauto
(Org). Muito além do espetáculo. São Paulo: Senac, 2005.

Mais conteúdo relacionado

Mais procurados

A metodologia da pesquisa e a importância das imagens
A metodologia da pesquisa e a importância das imagensA metodologia da pesquisa e a importância das imagens
A metodologia da pesquisa e a importância das imagensAntonio Medina
 
Renata aguiar rodrigues
Renata aguiar rodriguesRenata aguiar rodrigues
Renata aguiar rodriguesVera Cruz
 
Aula 06 - Epistemologias contemporâneas modernas - Deleuze e Morin
Aula 06 - Epistemologias contemporâneas modernas - Deleuze e MorinAula 06 - Epistemologias contemporâneas modernas - Deleuze e Morin
Aula 06 - Epistemologias contemporâneas modernas - Deleuze e MorinMarco Bonito
 
2 - Prefácio do Livro De Urântia - (Click em full para ampliar a imagem)
2 - Prefácio do Livro De Urântia - (Click em full para ampliar a imagem)2 - Prefácio do Livro De Urântia - (Click em full para ampliar a imagem)
2 - Prefácio do Livro De Urântia - (Click em full para ampliar a imagem)Estudiantes Urantia
 
O cinema como lembrança encobridora (Psicanálise, História e Cinema)
O cinema como lembrança encobridora (Psicanálise, História e Cinema)O cinema como lembrança encobridora (Psicanálise, História e Cinema)
O cinema como lembrança encobridora (Psicanálise, História e Cinema)Diego Penha
 
Seminário sobre Lefebvre: La presencia y la ausencia
Seminário sobre Lefebvre: La presencia y la ausenciaSeminário sobre Lefebvre: La presencia y la ausencia
Seminário sobre Lefebvre: La presencia y la ausenciaMaria Inês Möllmann
 
Maffesoli. iconologias. traduação cláudio paiva 05.05.2011
Maffesoli. iconologias. traduação cláudio paiva 05.05.2011Maffesoli. iconologias. traduação cláudio paiva 05.05.2011
Maffesoli. iconologias. traduação cláudio paiva 05.05.2011claudiocpaiva
 

Mais procurados (20)

ivan-ferrer-maia-arte-terapia
ivan-ferrer-maia-arte-terapiaivan-ferrer-maia-arte-terapia
ivan-ferrer-maia-arte-terapia
 
Situação Atual do Símbolo
Situação Atual do SímboloSituação Atual do Símbolo
Situação Atual do Símbolo
 
A metodologia da pesquisa e a importância das imagens
A metodologia da pesquisa e a importância das imagensA metodologia da pesquisa e a importância das imagens
A metodologia da pesquisa e a importância das imagens
 
Renata aguiar rodrigues
Renata aguiar rodriguesRenata aguiar rodrigues
Renata aguiar rodrigues
 
267
267267
267
 
Imagina
ImaginaImagina
Imagina
 
Lógica, cultura, memória e significados
Lógica, cultura, memória e significadosLógica, cultura, memória e significados
Lógica, cultura, memória e significados
 
1806 8405-1-pb
1806 8405-1-pb1806 8405-1-pb
1806 8405-1-pb
 
Aula 06 - Epistemologias contemporâneas modernas - Deleuze e Morin
Aula 06 - Epistemologias contemporâneas modernas - Deleuze e MorinAula 06 - Epistemologias contemporâneas modernas - Deleuze e Morin
Aula 06 - Epistemologias contemporâneas modernas - Deleuze e Morin
 
2 - Prefácio do Livro De Urântia - (Click em full para ampliar a imagem)
2 - Prefácio do Livro De Urântia - (Click em full para ampliar a imagem)2 - Prefácio do Livro De Urântia - (Click em full para ampliar a imagem)
2 - Prefácio do Livro De Urântia - (Click em full para ampliar a imagem)
 
O cinema como lembrança encobridora (Psicanálise, História e Cinema)
O cinema como lembrança encobridora (Psicanálise, História e Cinema)O cinema como lembrança encobridora (Psicanálise, História e Cinema)
O cinema como lembrança encobridora (Psicanálise, História e Cinema)
 
Barthes
BarthesBarthes
Barthes
 
Seminário sobre Lefebvre: La presencia y la ausencia
Seminário sobre Lefebvre: La presencia y la ausenciaSeminário sobre Lefebvre: La presencia y la ausencia
Seminário sobre Lefebvre: La presencia y la ausencia
 
Imagina8
Imagina8Imagina8
Imagina8
 
Analise Semiotica
Analise SemioticaAnalise Semiotica
Analise Semiotica
 
iIconografia e imaginário
iIconografia e imaginárioiIconografia e imaginário
iIconografia e imaginário
 
Imagem, magia e imaginação
Imagem, magia e imaginaçãoImagem, magia e imaginação
Imagem, magia e imaginação
 
Maffesoli. iconologias. traduação cláudio paiva 05.05.2011
Maffesoli. iconologias. traduação cláudio paiva 05.05.2011Maffesoli. iconologias. traduação cláudio paiva 05.05.2011
Maffesoli. iconologias. traduação cláudio paiva 05.05.2011
 
Poesia e Imaginário
Poesia e ImaginárioPoesia e Imaginário
Poesia e Imaginário
 
Software Junguiano
Software JunguianoSoftware Junguiano
Software Junguiano
 

Destaque

A espectralização da existência: indexação sígnica nas comunidades virtuais d...
A espectralização da existência: indexação sígnica nas comunidades virtuais d...A espectralização da existência: indexação sígnica nas comunidades virtuais d...
A espectralização da existência: indexação sígnica nas comunidades virtuais d...Cíntia Dal Bello
 
AV2 - MAPA DE ESTUDOS - 6º SEM PP - 2014/2
AV2 - MAPA DE ESTUDOS - 6º SEM PP - 2014/2AV2 - MAPA DE ESTUDOS - 6º SEM PP - 2014/2
AV2 - MAPA DE ESTUDOS - 6º SEM PP - 2014/2Cíntia Dal Bello
 
Roteiro de estudos - SUB Av Integrada - 2014-2
Roteiro de estudos - SUB Av Integrada - 2014-2Roteiro de estudos - SUB Av Integrada - 2014-2
Roteiro de estudos - SUB Av Integrada - 2014-2Cíntia Dal Bello
 
Eterni.me: a tele-existência após a morte
Eterni.me: a tele-existência após a morteEterni.me: a tele-existência após a morte
Eterni.me: a tele-existência após a morteCíntia Dal Bello
 
Visibilidade mediática, vigilância e naturalização do desejo de autoexposição
Visibilidade mediática, vigilância e naturalização do desejo de autoexposiçãoVisibilidade mediática, vigilância e naturalização do desejo de autoexposição
Visibilidade mediática, vigilância e naturalização do desejo de autoexposiçãoCíntia Dal Bello
 
Do assistir ao tele-existir: TV aberta e apelo à dromoaptidão
Do assistir ao tele-existir: TV aberta e apelo à dromoaptidãoDo assistir ao tele-existir: TV aberta e apelo à dromoaptidão
Do assistir ao tele-existir: TV aberta e apelo à dromoaptidãoCíntia Dal Bello
 
AV3 - 3 sem - ROTEIRO DE ESTUDOS - 2014/2
AV3 - 3 sem - ROTEIRO DE ESTUDOS - 2014/2AV3 - 3 sem - ROTEIRO DE ESTUDOS - 2014/2
AV3 - 3 sem - ROTEIRO DE ESTUDOS - 2014/2Cíntia Dal Bello
 
TPP - Roteiro de Estudos AV3 - 2014/2
TPP - Roteiro de Estudos AV3 - 2014/2TPP - Roteiro de Estudos AV3 - 2014/2
TPP - Roteiro de Estudos AV3 - 2014/2Cíntia Dal Bello
 
A evolução do setor e o papel do profissional de atendimento
A evolução do setor e o papel do profissional de atendimentoA evolução do setor e o papel do profissional de atendimento
A evolução do setor e o papel do profissional de atendimentoCíntia Dal Bello
 
PREX II - 2014/2 - TERMO DE CESSÃO DE DIREITOS AUTORAIS
PREX II - 2014/2 - TERMO DE CESSÃO DE DIREITOS AUTORAISPREX II - 2014/2 - TERMO DE CESSÃO DE DIREITOS AUTORAIS
PREX II - 2014/2 - TERMO DE CESSÃO DE DIREITOS AUTORAISCíntia Dal Bello
 
Midia linguagem e pensamento
Midia linguagem e pensamentoMidia linguagem e pensamento
Midia linguagem e pensamentoCíntia Dal Bello
 
Sorria, você está sendo indexado! A questão da privacidade nas plataformas ci...
Sorria, você está sendo indexado! A questão da privacidade nas plataformas ci...Sorria, você está sendo indexado! A questão da privacidade nas plataformas ci...
Sorria, você está sendo indexado! A questão da privacidade nas plataformas ci...Cíntia Dal Bello
 
WAKE´UP - 9ª edição - Ficha de Inscrição 2014/2
WAKE´UP - 9ª edição - Ficha de Inscrição 2014/2WAKE´UP - 9ª edição - Ficha de Inscrição 2014/2
WAKE´UP - 9ª edição - Ficha de Inscrição 2014/2Cíntia Dal Bello
 
Prexii etapa 5 criacao
Prexii etapa 5 criacaoPrexii etapa 5 criacao
Prexii etapa 5 criacaopablonaba
 
Book de criação III - Trabalho 7º sem - Belas Artes
Book de criação III - Trabalho 7º sem - Belas ArtesBook de criação III - Trabalho 7º sem - Belas Artes
Book de criação III - Trabalho 7º sem - Belas ArtesCíntia Dal Bello
 
TOP 10 - PROJETO EXPERIMENTAL - 2014-2
TOP 10 - PROJETO EXPERIMENTAL - 2014-2TOP 10 - PROJETO EXPERIMENTAL - 2014-2
TOP 10 - PROJETO EXPERIMENTAL - 2014-2Cíntia Dal Bello
 

Destaque (20)

A espectralização da existência: indexação sígnica nas comunidades virtuais d...
A espectralização da existência: indexação sígnica nas comunidades virtuais d...A espectralização da existência: indexação sígnica nas comunidades virtuais d...
A espectralização da existência: indexação sígnica nas comunidades virtuais d...
 
AV2 - MAPA DE ESTUDOS - 6º SEM PP - 2014/2
AV2 - MAPA DE ESTUDOS - 6º SEM PP - 2014/2AV2 - MAPA DE ESTUDOS - 6º SEM PP - 2014/2
AV2 - MAPA DE ESTUDOS - 6º SEM PP - 2014/2
 
Roteiro de estudos - SUB Av Integrada - 2014-2
Roteiro de estudos - SUB Av Integrada - 2014-2Roteiro de estudos - SUB Av Integrada - 2014-2
Roteiro de estudos - SUB Av Integrada - 2014-2
 
Eterni.me: a tele-existência após a morte
Eterni.me: a tele-existência após a morteEterni.me: a tele-existência após a morte
Eterni.me: a tele-existência após a morte
 
Visibilidade mediática, vigilância e naturalização do desejo de autoexposição
Visibilidade mediática, vigilância e naturalização do desejo de autoexposiçãoVisibilidade mediática, vigilância e naturalização do desejo de autoexposição
Visibilidade mediática, vigilância e naturalização do desejo de autoexposição
 
Do assistir ao tele-existir: TV aberta e apelo à dromoaptidão
Do assistir ao tele-existir: TV aberta e apelo à dromoaptidãoDo assistir ao tele-existir: TV aberta e apelo à dromoaptidão
Do assistir ao tele-existir: TV aberta e apelo à dromoaptidão
 
AV3 - 3 sem - ROTEIRO DE ESTUDOS - 2014/2
AV3 - 3 sem - ROTEIRO DE ESTUDOS - 2014/2AV3 - 3 sem - ROTEIRO DE ESTUDOS - 2014/2
AV3 - 3 sem - ROTEIRO DE ESTUDOS - 2014/2
 
TPP - Roteiro de Estudos AV3 - 2014/2
TPP - Roteiro de Estudos AV3 - 2014/2TPP - Roteiro de Estudos AV3 - 2014/2
TPP - Roteiro de Estudos AV3 - 2014/2
 
A evolução do setor e o papel do profissional de atendimento
A evolução do setor e o papel do profissional de atendimentoA evolução do setor e o papel do profissional de atendimento
A evolução do setor e o papel do profissional de atendimento
 
PREX II - 2014/2 - TERMO DE CESSÃO DE DIREITOS AUTORAIS
PREX II - 2014/2 - TERMO DE CESSÃO DE DIREITOS AUTORAISPREX II - 2014/2 - TERMO DE CESSÃO DE DIREITOS AUTORAIS
PREX II - 2014/2 - TERMO DE CESSÃO DE DIREITOS AUTORAIS
 
Midia linguagem e pensamento
Midia linguagem e pensamentoMidia linguagem e pensamento
Midia linguagem e pensamento
 
Sorria, você está sendo indexado! A questão da privacidade nas plataformas ci...
Sorria, você está sendo indexado! A questão da privacidade nas plataformas ci...Sorria, você está sendo indexado! A questão da privacidade nas plataformas ci...
Sorria, você está sendo indexado! A questão da privacidade nas plataformas ci...
 
WAKE´UP - 9ª edição - Ficha de Inscrição 2014/2
WAKE´UP - 9ª edição - Ficha de Inscrição 2014/2WAKE´UP - 9ª edição - Ficha de Inscrição 2014/2
WAKE´UP - 9ª edição - Ficha de Inscrição 2014/2
 
Prexii etapa 5 criacao
Prexii etapa 5 criacaoPrexii etapa 5 criacao
Prexii etapa 5 criacao
 
Book de criação III - Trabalho 7º sem - Belas Artes
Book de criação III - Trabalho 7º sem - Belas ArtesBook de criação III - Trabalho 7º sem - Belas Artes
Book de criação III - Trabalho 7º sem - Belas Artes
 
TOP 10 - PROJETO EXPERIMENTAL - 2014-2
TOP 10 - PROJETO EXPERIMENTAL - 2014-2TOP 10 - PROJETO EXPERIMENTAL - 2014-2
TOP 10 - PROJETO EXPERIMENTAL - 2014-2
 
Book de criação - 2016/2
Book de criação - 2016/2Book de criação - 2016/2
Book de criação - 2016/2
 
Book de criação
Book de criação Book de criação
Book de criação
 
Sinais e símbolos
Sinais e símbolosSinais e símbolos
Sinais e símbolos
 
Aula 4 - Direção de Arte
Aula 4 - Direção de ArteAula 4 - Direção de Arte
Aula 4 - Direção de Arte
 

Semelhante a Imagos virtuais: imagem, morte e eternidade em plataformas ciberespaciais de relacionamento

Imagem, ambiente e visualidade
Imagem, ambiente e visualidadeImagem, ambiente e visualidade
Imagem, ambiente e visualidadeJorge Barata
 
Baudrillando: o lado mais obscuro da globalização
Baudrillando: o lado mais obscuro da globalizaçãoBaudrillando: o lado mais obscuro da globalização
Baudrillando: o lado mais obscuro da globalizaçãoguilhermewr
 
Minicurso - A Morte no ensino das Ciências da Vida (1ª aula)
Minicurso - A Morte no ensino das Ciências da Vida (1ª aula)Minicurso - A Morte no ensino das Ciências da Vida (1ª aula)
Minicurso - A Morte no ensino das Ciências da Vida (1ª aula)Mario Amorim
 
A leitura existencial_da
A leitura existencial_daA leitura existencial_da
A leitura existencial_daCardoso José
 
Artigo apartheid congresso 2011
Artigo apartheid congresso 2011Artigo apartheid congresso 2011
Artigo apartheid congresso 2011lumennovum
 
Mitos e ritos roberto crema
Mitos e ritos roberto cremaMitos e ritos roberto crema
Mitos e ritos roberto cremaLígia Lima
 
Apresentação Nietzsche
Apresentação Nietzsche Apresentação Nietzsche
Apresentação Nietzsche Carlos Faria
 
Apresentação Nietzsche
Apresentação NietzscheApresentação Nietzsche
Apresentação NietzscheCarlos Faria
 
Gabriel Marcel e o existencialismo
Gabriel Marcel e o existencialismoGabriel Marcel e o existencialismo
Gabriel Marcel e o existencialismoBruno Carrasco
 
Destino: A Casa de Hades - um estudo sobre a relação do homem ocidental com a...
Destino: A Casa de Hades - um estudo sobre a relação do homem ocidental com a...Destino: A Casa de Hades - um estudo sobre a relação do homem ocidental com a...
Destino: A Casa de Hades - um estudo sobre a relação do homem ocidental com a...Simone Elisa Heitor
 
Religião e morte para entender os egipcios
Religião e morte para entender os egipciosReligião e morte para entender os egipcios
Religião e morte para entender os egipciosFabio Santos
 
Sentido da morte
Sentido da morteSentido da morte
Sentido da morteir_joice
 
Sentido da morte
Sentido da morteSentido da morte
Sentido da morteir_joice
 
A Câmara Clara - Roland Barthes
A Câmara Clara - Roland BarthesA Câmara Clara - Roland Barthes
A Câmara Clara - Roland BarthesRodrigo Volponi
 
A CONCEPÇÃO DE MORTE NUMA PERSPECTIVA ESPAÇO-TEMPORAL: O MORRER NA MESOPOTÂM...
A CONCEPÇÃO DE MORTE NUMA PERSPECTIVA ESPAÇO-TEMPORAL: O  MORRER NA MESOPOTÂM...A CONCEPÇÃO DE MORTE NUMA PERSPECTIVA ESPAÇO-TEMPORAL: O  MORRER NA MESOPOTÂM...
A CONCEPÇÃO DE MORTE NUMA PERSPECTIVA ESPAÇO-TEMPORAL: O MORRER NA MESOPOTÂM...Pedro Torres
 

Semelhante a Imagos virtuais: imagem, morte e eternidade em plataformas ciberespaciais de relacionamento (20)

A Caverna de Platão e o cinema
A Caverna de Platão e o cinemaA Caverna de Platão e o cinema
A Caverna de Platão e o cinema
 
Imagem, ambiente e visualidade
Imagem, ambiente e visualidadeImagem, ambiente e visualidade
Imagem, ambiente e visualidade
 
Baudrillando: o lado mais obscuro da globalização
Baudrillando: o lado mais obscuro da globalizaçãoBaudrillando: o lado mais obscuro da globalização
Baudrillando: o lado mais obscuro da globalização
 
Minicurso - A Morte no ensino das Ciências da Vida (1ª aula)
Minicurso - A Morte no ensino das Ciências da Vida (1ª aula)Minicurso - A Morte no ensino das Ciências da Vida (1ª aula)
Minicurso - A Morte no ensino das Ciências da Vida (1ª aula)
 
Sócrates a partir do filme Matrix
Sócrates a partir do filme MatrixSócrates a partir do filme Matrix
Sócrates a partir do filme Matrix
 
A leitura existencial_da
A leitura existencial_daA leitura existencial_da
A leitura existencial_da
 
Artigo apartheid congresso 2011
Artigo apartheid congresso 2011Artigo apartheid congresso 2011
Artigo apartheid congresso 2011
 
Arquétipos
ArquétiposArquétipos
Arquétipos
 
Mitos e ritos roberto crema
Mitos e ritos roberto cremaMitos e ritos roberto crema
Mitos e ritos roberto crema
 
1 a visao_morte_longo_tempo
1 a visao_morte_longo_tempo1 a visao_morte_longo_tempo
1 a visao_morte_longo_tempo
 
Apresentação Nietzsche
Apresentação Nietzsche Apresentação Nietzsche
Apresentação Nietzsche
 
Apresentação Nietzsche
Apresentação NietzscheApresentação Nietzsche
Apresentação Nietzsche
 
Gabriel Marcel e o existencialismo
Gabriel Marcel e o existencialismoGabriel Marcel e o existencialismo
Gabriel Marcel e o existencialismo
 
Destino: A Casa de Hades - um estudo sobre a relação do homem ocidental com a...
Destino: A Casa de Hades - um estudo sobre a relação do homem ocidental com a...Destino: A Casa de Hades - um estudo sobre a relação do homem ocidental com a...
Destino: A Casa de Hades - um estudo sobre a relação do homem ocidental com a...
 
Religião e morte para entender os egipcios
Religião e morte para entender os egipciosReligião e morte para entender os egipcios
Religião e morte para entender os egipcios
 
Sentido da morte
Sentido da morteSentido da morte
Sentido da morte
 
Sentido da morte
Sentido da morteSentido da morte
Sentido da morte
 
A Câmara Clara - Roland Barthes
A Câmara Clara - Roland BarthesA Câmara Clara - Roland Barthes
A Câmara Clara - Roland Barthes
 
A trama do signo
A trama do signoA trama do signo
A trama do signo
 
A CONCEPÇÃO DE MORTE NUMA PERSPECTIVA ESPAÇO-TEMPORAL: O MORRER NA MESOPOTÂM...
A CONCEPÇÃO DE MORTE NUMA PERSPECTIVA ESPAÇO-TEMPORAL: O  MORRER NA MESOPOTÂM...A CONCEPÇÃO DE MORTE NUMA PERSPECTIVA ESPAÇO-TEMPORAL: O  MORRER NA MESOPOTÂM...
A CONCEPÇÃO DE MORTE NUMA PERSPECTIVA ESPAÇO-TEMPORAL: O MORRER NA MESOPOTÂM...
 

Mais de Cíntia Dal Bello

BA Creative Collectibles - Projeto de Stand
BA Creative Collectibles - Projeto de StandBA Creative Collectibles - Projeto de Stand
BA Creative Collectibles - Projeto de StandCíntia Dal Bello
 
Ba creative collectibles 2018.1
Ba creative collectibles 2018.1Ba creative collectibles 2018.1
Ba creative collectibles 2018.1Cíntia Dal Bello
 
Briefing Converse - relação de peças solicitadas
Briefing Converse - relação de peças solicitadasBriefing Converse - relação de peças solicitadas
Briefing Converse - relação de peças solicitadasCíntia Dal Bello
 
Briefing Converse - Chuck Taylor All Star
Briefing Converse - Chuck Taylor All StarBriefing Converse - Chuck Taylor All Star
Briefing Converse - Chuck Taylor All StarCíntia Dal Bello
 
Briefing de criação x estrutura do anúncio publicitário - versão beta
Briefing de criação x estrutura do anúncio publicitário - versão betaBriefing de criação x estrutura do anúncio publicitário - versão beta
Briefing de criação x estrutura do anúncio publicitário - versão betaCíntia Dal Bello
 
Exercício de criação: Sonho de Valsa
Exercício de criação: Sonho de ValsaExercício de criação: Sonho de Valsa
Exercício de criação: Sonho de ValsaCíntia Dal Bello
 
Resolução - Briefing de Criação - Case Vigor Grego - Exercício 2
 Resolução - Briefing de Criação - Case Vigor Grego - Exercício 2 Resolução - Briefing de Criação - Case Vigor Grego - Exercício 2
Resolução - Briefing de Criação - Case Vigor Grego - Exercício 2Cíntia Dal Bello
 
Resolução - Briefing de Criação - Case Vigor Grego - Exercício 1
Resolução - Briefing de Criação - Case Vigor Grego - Exercício 1Resolução - Briefing de Criação - Case Vigor Grego - Exercício 1
Resolução - Briefing de Criação - Case Vigor Grego - Exercício 1Cíntia Dal Bello
 
Da leveza: uma civilização sem peso (Gilles Lipovetsky)
Da leveza: uma civilização sem peso (Gilles Lipovetsky)Da leveza: uma civilização sem peso (Gilles Lipovetsky)
Da leveza: uma civilização sem peso (Gilles Lipovetsky)Cíntia Dal Bello
 
Análise de peça publicitária - Resolução – Case Vigor - 5B - final
Análise de peça publicitária - Resolução – Case Vigor - 5B - finalAnálise de peça publicitária - Resolução – Case Vigor - 5B - final
Análise de peça publicitária - Resolução – Case Vigor - 5B - finalCíntia Dal Bello
 
Análise de peça publicitária - Resolução – Case Vigor - 5A - final.pptx
Análise de peça publicitária - Resolução – Case Vigor - 5A - final.pptxAnálise de peça publicitária - Resolução – Case Vigor - 5A - final.pptx
Análise de peça publicitária - Resolução – Case Vigor - 5A - final.pptxCíntia Dal Bello
 
PIM - ROTEIRO DE PROJETO - MÍDIAS SOCIAIS DIGITAIS
PIM - ROTEIRO DE PROJETO - MÍDIAS SOCIAIS DIGITAISPIM - ROTEIRO DE PROJETO - MÍDIAS SOCIAIS DIGITAIS
PIM - ROTEIRO DE PROJETO - MÍDIAS SOCIAIS DIGITAISCíntia Dal Bello
 
Análise de projeto gráfico de revista e anúncio publicitário
Análise de projeto gráfico de revista e anúncio publicitárioAnálise de projeto gráfico de revista e anúncio publicitário
Análise de projeto gráfico de revista e anúncio publicitárioCíntia Dal Bello
 
Briefing de criação exercicio
Briefing de criação exercicioBriefing de criação exercicio
Briefing de criação exercicioCíntia Dal Bello
 
Criação em Propaganda: a relação texto x imagem
Criação em Propaganda: a relação texto x imagemCriação em Propaganda: a relação texto x imagem
Criação em Propaganda: a relação texto x imagemCíntia Dal Bello
 
A Sociedade de consumo: A liturgia formal do objeto - Jean Baudrillard
A Sociedade de consumo: A liturgia formal do objeto - Jean BaudrillardA Sociedade de consumo: A liturgia formal do objeto - Jean Baudrillard
A Sociedade de consumo: A liturgia formal do objeto - Jean BaudrillardCíntia Dal Bello
 
Guia do Projeto REVISTA - 2017-1
Guia do Projeto REVISTA - 2017-1Guia do Projeto REVISTA - 2017-1
Guia do Projeto REVISTA - 2017-1Cíntia Dal Bello
 
Dinâmicas de identidade e exclusão
Dinâmicas de identidade e exclusãoDinâmicas de identidade e exclusão
Dinâmicas de identidade e exclusãoCíntia Dal Bello
 

Mais de Cíntia Dal Bello (20)

BA Creative Collectibles - Projeto de Stand
BA Creative Collectibles - Projeto de StandBA Creative Collectibles - Projeto de Stand
BA Creative Collectibles - Projeto de Stand
 
Ba creative collectibles 2018.1
Ba creative collectibles 2018.1Ba creative collectibles 2018.1
Ba creative collectibles 2018.1
 
Briefing Converse - relação de peças solicitadas
Briefing Converse - relação de peças solicitadasBriefing Converse - relação de peças solicitadas
Briefing Converse - relação de peças solicitadas
 
Briefing Converse - Chuck Taylor All Star
Briefing Converse - Chuck Taylor All StarBriefing Converse - Chuck Taylor All Star
Briefing Converse - Chuck Taylor All Star
 
Briefing de criação x estrutura do anúncio publicitário - versão beta
Briefing de criação x estrutura do anúncio publicitário - versão betaBriefing de criação x estrutura do anúncio publicitário - versão beta
Briefing de criação x estrutura do anúncio publicitário - versão beta
 
Exercício de criação: Sonho de Valsa
Exercício de criação: Sonho de ValsaExercício de criação: Sonho de Valsa
Exercício de criação: Sonho de Valsa
 
Resolução - Briefing de Criação - Case Vigor Grego - Exercício 2
 Resolução - Briefing de Criação - Case Vigor Grego - Exercício 2 Resolução - Briefing de Criação - Case Vigor Grego - Exercício 2
Resolução - Briefing de Criação - Case Vigor Grego - Exercício 2
 
Resolução - Briefing de Criação - Case Vigor Grego - Exercício 1
Resolução - Briefing de Criação - Case Vigor Grego - Exercício 1Resolução - Briefing de Criação - Case Vigor Grego - Exercício 1
Resolução - Briefing de Criação - Case Vigor Grego - Exercício 1
 
Da leveza: uma civilização sem peso (Gilles Lipovetsky)
Da leveza: uma civilização sem peso (Gilles Lipovetsky)Da leveza: uma civilização sem peso (Gilles Lipovetsky)
Da leveza: uma civilização sem peso (Gilles Lipovetsky)
 
BOOK DE CRIAÇÃO - 2017-1
BOOK DE CRIAÇÃO - 2017-1BOOK DE CRIAÇÃO - 2017-1
BOOK DE CRIAÇÃO - 2017-1
 
A criação do cartaz
A criação do cartaz A criação do cartaz
A criação do cartaz
 
Análise de peça publicitária - Resolução – Case Vigor - 5B - final
Análise de peça publicitária - Resolução – Case Vigor - 5B - finalAnálise de peça publicitária - Resolução – Case Vigor - 5B - final
Análise de peça publicitária - Resolução – Case Vigor - 5B - final
 
Análise de peça publicitária - Resolução – Case Vigor - 5A - final.pptx
Análise de peça publicitária - Resolução – Case Vigor - 5A - final.pptxAnálise de peça publicitária - Resolução – Case Vigor - 5A - final.pptx
Análise de peça publicitária - Resolução – Case Vigor - 5A - final.pptx
 
PIM - ROTEIRO DE PROJETO - MÍDIAS SOCIAIS DIGITAIS
PIM - ROTEIRO DE PROJETO - MÍDIAS SOCIAIS DIGITAISPIM - ROTEIRO DE PROJETO - MÍDIAS SOCIAIS DIGITAIS
PIM - ROTEIRO DE PROJETO - MÍDIAS SOCIAIS DIGITAIS
 
Análise de projeto gráfico de revista e anúncio publicitário
Análise de projeto gráfico de revista e anúncio publicitárioAnálise de projeto gráfico de revista e anúncio publicitário
Análise de projeto gráfico de revista e anúncio publicitário
 
Briefing de criação exercicio
Briefing de criação exercicioBriefing de criação exercicio
Briefing de criação exercicio
 
Criação em Propaganda: a relação texto x imagem
Criação em Propaganda: a relação texto x imagemCriação em Propaganda: a relação texto x imagem
Criação em Propaganda: a relação texto x imagem
 
A Sociedade de consumo: A liturgia formal do objeto - Jean Baudrillard
A Sociedade de consumo: A liturgia formal do objeto - Jean BaudrillardA Sociedade de consumo: A liturgia formal do objeto - Jean Baudrillard
A Sociedade de consumo: A liturgia formal do objeto - Jean Baudrillard
 
Guia do Projeto REVISTA - 2017-1
Guia do Projeto REVISTA - 2017-1Guia do Projeto REVISTA - 2017-1
Guia do Projeto REVISTA - 2017-1
 
Dinâmicas de identidade e exclusão
Dinâmicas de identidade e exclusãoDinâmicas de identidade e exclusão
Dinâmicas de identidade e exclusão
 

Imagos virtuais: imagem, morte e eternidade em plataformas ciberespaciais de relacionamento

  • 1. IMAGOS VIRTUAIS: Imagem, morte e eternidade em plataformas ciberespaciais de relacionamento 1 Cíntia Dal Bello2 Resumo: Este artigo observa a situação sui generis de profiles (perfis em comunidades virtuais de relacionamento, como o Orkut) que permanecem online após a morte concreta de seus usuários, bem como o impacto do fenômeno no imaginário religioso dos demais internautas e as práticas culturais decorrentes. Para tanto, sinaliza a natureza fantasmagórica das imagens (de acordo com Debray, Kamper, Morin e Baitello Jr.) nos processos de espectralização da identidade no cyberspace (Virilio, Baudrillard, Trivinho, Dal Bello). A natureza fantasmagórica das imagens Ao mesmo tempo que se pretenderá imortal, o homem designar-se-á a si próprio como mortal. (MORIN, 1988, p. 26). O nascimento da imagem está envolvido com a morte. Mas se a imagem arcaica jorra dos túmulos é por recusar o nada e para prolongar a vida. (DEBRAY, 1994, p. 20). A consciência da morte está inextricavelmente ligada ao desabrochar da individualidade, razão pela qual se relaciona com o processo de humanização e civilização. Desperto do sono-natureza, o ser humano ergueu-se, paulatinamente, no contínuo empreendimento de domesticar a selvageria de seu entorno e a sua própria ferocidade, concentrando parte de seus interesses em lidar com o terror do nada-ser, ou do nunca-mais-ser, da morte. Para Morin (1988, p. 31), por trás da dor dos ritos funerários, do horror à decomposição do cadáver e da obsessão pela morte, encontra-se o medo primeiro: “a perda da individualidade”. Frente à carcaça de um animal ou de um inimigo, o ser humano pode enojar-se, mas não necessariamente se comover; entretanto, quando aquele que está morto é reconhecidamente um semelhante, com o qual há identificação, o horror se põe como antevisão da própria tragédia e a dor se faz maior sempre que o morto é sentido como único e insubstituível. 1 Artigo integrante da programação da 6ª Conferência Mídia, Religião e Cultura, promovida em 2008 pela Metodista. Disponível no CD-ROM dos anais do evento (ISBN 978-85-7814-048-99). 2 A autora é mestranda do Programa de Estudos Pós-Graduados em Comunicação e Semiótica da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PEPGCOS-PUC/SP) e bolsista CAPES (Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior). Sua pesquisa é orientada pelo Prof. Dr. Eugênio Trivinho sob o título (provisório) de Cibercultura e subjetividade: uma investigação sobre a identidade em comunidades virtuais de relacionamento. E-mails: pubcintia@yahoo.com.br; cbello@uninove.br.
  • 2. A individualidade que se revolta perante a morte é uma individualidade que se afirma sobre a morte. A prova experimental, tangível, desta afirmação é a réplica à putrefação, a imortalidade, que é a afirmação da individualidade para além da morte. (...) O caráter categórico, universal, da afirmação da imortalidade é da mesma craveira do caráter categórico, universal, da afirmação da individualidade. (MORIN, 1988, p. 34). A consciência de si implica o reconhecimento das fragilidades e limitações que concorrem diretamente com a preservação da própria vida. Nascimento e morte, contrapostos, constituem uma das mais importantes oposições binárias3 desde os primórdios da cultura humana, dualidade que marca a percepção e compõe valores polarizados e assimétricos, tais como luz e sombra, dia e noite, começo e fim, bem e mal (BYSTRINA, 1995, p. 7-8). Nesse sentido, Baitello Jr. (1997, p. 70) lembra que os mitos e os rituais mágicos, entre outros artefatos culturais, compõem estratégias de superação destas dualidades, reconfigurando as assimetrias. A morte, apesar se ser (e exatamente porque é) pólo negativo da vida, comparece simbolicamente instituída como ambivalente (mortalidade e imortalidade). Desde os vocabulários mais arcaicos é considerada como um sono, uma viagem, um nascimento, uma doença, um acidente, um malefício, uma entrada para a morada dos antepassados “e, o mais das vezes, [como] tudo isto ao mesmo tempo” (MORIN, 1988, p. 25). As práticas funerárias e o trato dos mortos, conforme demonstrado por Frazer (apud MORIN, 1988, p. 25), indicam a força, por que não dizer universalidade?, da crença na imortalidade, ou seja, “no prolongamento da vida por período indefinido, mas não necessariamente eterno”, já que a noção abstrata de eternidade é tardia. As imagens nascem nesse caldo paradoxal em que o ser vivo, mortal, aspira à imortalidade, obsessão que revela, muitas vezes em detrimento da própria vida, a aguda preocupação com a conservação da individualidade após a morte. As imagens surgem, de acordo com Kamper (2002, p. 9), contra o medo da morte e, por isso, a elas “se prendem os desejos de imortalidade”. Nascem como mortalhas que, exatamente por serem o que são, só podem fazer lembrar aquilo que pretendem esconder e fazer esquecer: se imagens são presenças de ausências, são o próprio retrato do vazio. Nesse sentido, Debray (1994, p. 29-30) assinala que, ante o traumatismo da visão do cadáver, presença/ausência inominável, restou ao ser humano a contramedida de recompor em imagem aquilo que 3 Os pares de opostos direita/esquerda (relativo ao próprio corpo) e masculino/feminino (relativo ao outro que complementa) também são significativas matrizes constitutivas do dualismo fundador da cultura.
  • 3. se decompõe: ao fazer “um duplo do morto para mantê-lo vivo”, o ser humano deixa “de ver esse não-sei-o-quê em si”, “de ver a si mesmo como quase nada”. A natureza fantasmagórica das imagens e sua relação com o mito arcaico do duplo pode ser inferida a partir da etimologia. Imagem, do latim imago, refere-se primeiramente à máscara mortuária modelada em cera a partir do próprio rosto do morto, utilizada nos rituais funerários e guardada “em casa nos nichos do átrio, a salvo, na prateleira” (DEBRAY, 1994, p. 23). Simulacrum significa espectro e eídolon, a alma dos mortos. Só depois estas palavras passaram a significar imagem, retrato. O eídolon arcaico designa a alma do morto que sai do cadáver sob a forma de uma sombra imperceptível, seu duplo, cuja natureza tênue, mas ainda corporal, facilita a figuração plástica. A imagem é a sombra; ora, sombra é o nome comum do duplo. (DEBRAY, 1994, p. 23). Em seus estudos sobre fotografia, Morin (1997, 51-52) assinala a capacidade humana de inocular na imagem “o vírus da presença”, tornando-a objeto de adoração, de posse, de culto e de apropriação em rituais ocultistas. Como materialização ou cristalização de lembranças, a fotografia presta-se à prática da recordação, substituindo, nos lares, amuletos, estatuetas e outros objetos que poderiam constituir símbolos ou índices de lugares e momentos específicos; a troca de imagens entre os apaixonados, que beijam-nas quando saudosos e rasgam-nas quando a relação termina, “realiza magicamente essa troca de individualidades, em que cada um se torna não só ídolo como escravo, e que constitui o amor” (MORIN, 1997, p. 38); nas práticas magísticas, ocultistas e espíritas, opera-se à distância sobre a imagem fotográfica de uma pessoa com finalidades diversas: “Quer isto dizer que a fotografia é, no sentido estrito do termo, presença real da pessoa representada, que nela se pode ler a sua alma, a sua doença, o seu destino. E mais: que se torna possível agir por seu intermédio e sobre ela” (MORIN, 1997, p. 39). O que pensar, então, do curioso medo de que a câmera fotográfica aprisione a alma na materialidade da fotografia? O que parecem ser propriedades da fotografia são propriedades do nosso espírito, que nela se fixaram, e que ela nos devolve. Em vez de se procurar na coisa fotográfica a qualidade tão evidente e profundamente humana da fotografia, dever-se-á partir do homem... A riqueza da fotografia reside, de fato, no que nela não existe, mas que nela é projetado e fixado por nós. (MORIN, 1997, p. 41).
  • 4. O estranhamento experimentado diante da própria imagem revela o paradoxo fundamental da complexidade humana: a não-identidade na identidade (MORIN, 2005), relativa ao saber-se idêntico à sua própria imagem e, ainda assim, não sentir-se representado completamente nela. Eis o que expressa o mito do duplo, sombra zombeteira ou maléfica que foge ao controle de seu senhor (como em Peter Pan), figuração que envelhece no lugar do original (como acontece com Dorian Gray), alma que se desgarra do corpo físico, durante o sono ou após a morte (o vampiro não tem reflexo porque já é o próprio duplo em sua eternidade amaldiçoada). Quando a fotografia, imagem material, parece revelar uma qualidade que o original não possui, revela em si sua natureza de duplo. Embora possa ser considerada ontologicamente inferior ao que representa (de acordo com os pressupostos platônicos), a realidade- fantástica do duplo é assustadoramente mágica. Mas, se o duplo é o reflexo, a sombra, o fantasma... ele também é a ausência. Ausência, sobretudo, do sujeito que, atônito, observa do lado de fora do espelho: até que ponto sou a minha própria imagem? Sartre diz que ‘a característica essencial da imagem mental é uma certa forma que o objeto tem de estar ausente na sua própria presença’. Acrescente-se, também, o recíproco: de estar presente na sua própria ausência. Como igualmente diz Sartre, ‘o original encarna- se, desce à imagem’. A imagem é uma presença vivida e uma ausência real, uma presença-ausência. (MORIN, 1997, p. 42). Wolff (2005, p. 30-31) sinaliza os três graus de ausência passíveis de representação pela imagem: (1) a acidental, quando aquele que está representado não se encontra presente mas pode fazê-lo a qualquer momento – neste caso, a imagem é um artefato de substituição e consolo; (2) a substancial, quando a ausência do que já esteve presente é irreversível e a consciência da falta soma-se a agonia da saudade – caso dos momentos passados, da infância distante e dos mortos queridos; e, por fim, (3) a absoluta, ou seja, aquilo que é, em essência, ausente deste mundo: os seres sobrenaturais ou transcendentais e os deuses; neste caso, a imagem engendra a ilusão de que emana diretamente do invisível que representa, “e não daquele que a fez. É como se os dois tipos de imagens, o retrato e o fantasma, se confundissem” (WOLFF, 2005, p. 32); é como se o próprio ausente pudesse se manifestar por meio da imagem. Entre a representação do acidentalmente ausente (apenas ocasionalmente invisível, razão pela qual a imagem consola) e do absolutamente ausente (portanto, “divinamente” invisível),
  • 5. as imagens visíveis têm o poder de representar as coisas passadas ou os seres defuntos, que não são nem inteiramente visíveis nem inteiramente invisíveis. E é nesse nível que há concorrência entre dois tipos de imagens nas crenças populares: as verdadeiras imagens feitas pela mão do homem e que têm o verdadeiro poder de representar os mortos, e as imagens ilusórias, com as quais imaginamos que os mortos se apresentem. (WOLFF, 2005, p. 31). Em sua luta ancestral para vencer a morte e imortalizar o que não pode mais ser, o homem, ainda hoje, produz e consome imagens. Entretanto, a revolução tecnológica e a digitalização das informações, a comunicação em tempo real e o advento do cyberspace, a configuração de uma sociedade que se articula em rede e avança nos processos de espectralização da existência redimensionam, no macro contexto da era da visibilidade mediática (TRIVINHO, 2007, 2008), novas (velhas) práticas culturais. Para além de uma sociedade espetacular que se embevece diante do speculum (espelho) televisivo porque nele se reconhece em um pacto de fantasia coletiva, vive-se como imagem no próprio speculum cibertecnológico das comunidades virtuais de relacionamento: o que não são os perfis senão carcaças-sígnicas com as quais os usuários configuram sua mediática aparição-presença? Nesse sentido, Kamper (2002, p. 11) afirma que os homens de hoje vivem nas imagens do mundo, de si próprios e dos outros homens – uma permanência imaginária que conduz à condição de uma vida morta. Já que às imagens se prendem os desejos de imortalidade, fazer uma imagem do corpo humano “significa alinhá-lo na falange dos mortos-vivos, dos espectros e fantasmas”. Essa compreensão permite que se tome as representações do eu na virtualidade por espectros ciberculturais. Espectros do Orkut O cyberspace pode ser compreendido como arquitetura tecnológica cuja trama, em rede invisível, engendra mecanismos de vigilância e de controle, conforme os aportes crítico-teóricos de Virilio (2000) e Trivinho (2007). Dentre os diversos arranjamentos que interfaceiam o fluxo de informações e a comunicação em tempo real, as comunidades virtuais de relacionamento se destacam por constituírem refinados ambientes de visibilidade mediática; são espaços de exposição do eu que permitem aos sujeitos se circunscreverem no irrefreado fluxo informacional. Neste estudo, toma-se o Orkut como exemplar em virtude de ser, ainda hoje, a rede de contatos pessoais mais popular no Brasil.
  • 6. Diferentemente dos chats públicos, onde a associação4 entre usuários é provisória por ocorrer apenas no momento em que os sujeitos, identificados por seus nicknames, estão conectados à sala para interagir, o Orkut sinaliza a possibilidade da permanência (mesmo que se desconecte da rede, o perfil do usuário ou as discussões encetadas nos fóruns comunitários permanecem disponíveis) e da atualização (sempre que está online, o sujeito pode reconfigurar o seu perfil, publicando textos, imagens e vídeos; ao percorrer outros perfis, participar dos fóruns e deixar recados em scrapbooks, colabora para atualizar o próprio ambiente). Além disso, o espectro formado pelas páginas-informações que identifica o sujeito e circunscreve suas fronteiras em relação ao outro também comporta a intersubjetividade: há introjeção do “nós” no “eu”, já que parte constitutiva do perfil é exatamente o conjunto de relações expresso sob a chancela de “meus amigos”. É assim que cada “eu” encontra-se multiplicado ao longo dos “nós” da rede de relacionamentos; a imagem de cada “amigo” é, na verdade, um hiper-ícone que remete ao universo subjetivo devidamente “perfilado”. Se para estar no Orkut é preciso projetar as imagens constitutivas de si mesmo em um arranjamento lúdico, dinâmico e espectral, ser no Orkut exige que se revista desse ruidoso conjunto para andarilhar, espiar, assombrar e deixar rastros. A permanência e ubiqüidade do perfil, a despeito do sujeito não estar sincronamente conectado, permite que se afirme que, no cyberspace, é possível estar sem ser. Em seus desdobramentos, o fenômeno da espectralização generalizada da existência em prol da teleexistência interativa implica não apenas a transformação do mundo em imagens ou da mediatização das relações pelas imagens; trata-se, também, da experimentação da própria vida na realidade hiperespetacular dos corpos tecno-fantásticos, estética- instrumental de individuação e marcação da identidade. Em trabalho anterior, investigou-se a constituição do espectro virtual de acordo com os parâmetros (ora antagônicos, ora complementares) da representação e da simulação (o duplo como reflexo e como sombra, respectivamente) para compreender a natureza das práticas relativas à alimentação do sistema informacional na composição de imagens do “eu” (DAL BELLO, 2007b). Parte das conseqüências desta alimentação gratuita e muitas vezes ingênua, levada a cabo como passatempo, também já foi aventada na denúncia de um regime avançado de indexação sígnica (DAL BELLO, 2007a). O presente estudo tem por objetivo registrar e refletir sobre os rituais que 4 A associação pode ocorrer por tema, faixa etária ou sexo, entre outras possibilidades de estratificação desses canais de conversação.
  • 7. amalgamam, também no cyberspace, imagem, morte e eternidade: a imortalidade do perfil que permanece online após a morte do usuário-sujeito e seu contraponto, a morte da imagem-perfil, expressa como orkuticídio. A hiper-realidade dos perfis desencarnados O não abandono dos mortos implica a sua sobrevivência. (MORIN, 1988, p. 25). A comunidade Profiles de Gente Morta (PGM)5 , criada em dezembro de 2004, tem mais de 48 mil membros associados e nove comunidades relacionadas.6 O principal objetivo de seu fórum é pesquisar e divulgar a morte de usuários do Orkut. Aqui vemos como, de uma hora para a outra, nossa vida acaba e deixamos tudo para trás, inclusive banalidades como Orkut, Fotolog, MSN, etc... Banalidades essas que, por vez, podemos chamar de "rastros virtuais". Mas o que são esses rastros?? Seriam eles úteis?? Um conforto para quem fica?? Uma imortalidade virtual?? Bom, estamos aí para discutir... Queremos que vc poste o profile de algum conhecido seu que tenha falecido ou algum profile que vc conhece. Não é permitido brincadeiras de má intenção, bem como falta de respeito com os mortos. Deixo claro também que sou contra qualquer tipo de violência e jamais faço apologia a morte aqui nessa comunidade. Sem mais, desejo que todos descansem em paz... Ass.: Guilherme Dorta Tabela 1: Texto de apresentação da comunidade Profiles de Gente Morta (PGM) Para cada notícia de falecimento abre-se um tópico na lista do fórum; os títulos trazem os nomes dos mortos identificados entre cruzes (figura 1). Cada tópico contém, necessariamente, o hiperlink para acesso ao perfil do falecido; além disso, pode informar a causa7 do óbito. Conhecidos e, sobretudo, desconhecidos, manifestam seu pesar tanto no fórum quanto no scrapbook do perfil recém-desencarnado; nestes também ocorre o vandalismo virtual, expresso como mensagens difamatórias ou de baixo calão deixadas por perfis anônimos ou falsos (fake profiles). 5 Disponível em: http://www.orkut.com.br/Community.aspx?cmm=993780. Acesso em: 01/06/2008. 6 Dados de junho de 2008. Comunidades relacionadas: Eu já chorei lendo a Profiles (1484 membros); Gente morta sem profile (1359 membros); Sou viciado na Profiles (876 membros); Eu adoro a PGM (775 membros); PGM – Investigações (741 membros); Se eu morrer, me enterre na PGM (557 membros); Eu sou um pegeêmico – PGM (215 membros); Não ao RIP e DEP nos profiles (135 membros); e A PGM não me deixa trabalhar (28 membros). 7 Na enquete da própria comunidade, 2205 usuários responderam a seguinte pergunta, formulada em agosto de 2007: que tipo de morte mais aparece aqui na PGM? Resultado: suicídio (29%), acidente de carro (28%), acidente de moto (14%) e homicídio (14%).
  • 8. Figura 2: Fórum da PGM, imagem capturada em junho de 2008. Em novembro de 2007, um tópico divulgou o suicídio de G8 . Cerca de 500 mensagens, além de condolências, passaram a especular as razões que a levaram a esse ato extremo. No trabalho coletivo de “investigação”, após analisarem fotos e mensagens dos perfis de parentes e amigos da falecida, os internautas chegaram à possível conclusão de que G. havia se matado por não suportar a ausência ou indiferença de seu filho, cujo comportamento aparentemente era motivado pelo pai, ex-marido de G. O mais inusitado, entretanto, era o álbum do perfil da própria G. No conjunto, imagens e legendas formavam uma hiperespetacular carta suicida endereçada ao filho e aos pais: “Nossa senhora cubra meu filho com seu manto de amor. Guarda-o na paz desse olhar...”; “Meu filho, minha vida, mainha te ama muito, viu!!! Serás um grande homem, em nom...”; “Saudades eternas... Meus Paizinhos, sempre os amarei, sempre estarão em meu coraç...”. G. também se preocupou em postar imagens artísticas em preto e branco que simbolizam a sensualidade feminina, a tristeza (lágrima) e a angústia (prostração), respectivamente (ver figura 2). 8 Embora o Orkut seja um publicador de perfis, ou seja, aquele que entra na rede tem ciência de que o conteúdo gerado será público, optou-se em preservar a identidade de G., abreviação do apelido registrado em seu perfil.
  • 9. Figura 2: Álbum de G., imagem capturada em novembro de 2007. O trabalho de atualizar o álbum (escolha das imagens e composição das legendas) e tratar a sua própria imagem (a chamada “foto do perfil”), conferindo-lhe um aspecto aéreo, espectral, permite supor que G., embora se dirija apenas ao filho e aos pais, tinha interesse em assegurar e legitimar, na visibilidade ciberespacial, o quanto os amava, de forma que seu suicídio não fosse compreendido como ausência de amor. Esta preocupação sobrepôs-se à necessidade de justificar sua atitude e expressa, de forma indireta, um cuidado com sua imagem pós-morte. Seu perfil é sua imago, sua máscara mortuária virtual, sua última imagem – a imagem que postulará o quanto era sublime seu amor de mãe, apesar de suicida. Para Debray (1994, p. 25-26), “a transposição em imagem (...) é o melhor que acontece ao homem do Ocidente porque sua imagem é a sua melhor parte: seu ego imunizado, colocado em lugar seguro”. O perfil mumifica a vida do duplo não em seu último suspiro, mas em sua última atualização, para assim permanecer em um presente eternizado e receber as mensagens rest in peace de amigos e desconhecidos. Se a própria morte é premeditada, o perfil pode ossificar para a eternidade a imagem que se deseja que os demais guardem de si. Convertido em
  • 10. “santinho” interativo, o perfil vira ponto de romaria; transforma-se também em curiosa aberração. Embora o caso de G. seja exponencial, o desejo de que o perfil seja mantido online após a morte foi manifestado por 47% dos 527 membros da PGM que responderam em enquete da própria comunidade a seguinte pergunta: você gostaria que seu profile fosse deletado após a sua morte? (formulada em abril de 2007). 22% disseram não se importar e 13% disseram que, dependendo do tipo de morte, é melhor que o perfil seja apagado pelos familiares. Apenas 16% não desejam que o perfil seja mantido. Alguns comentários9 deixados pelos respondentes permitem que se compreenda a congruência entre perfil e identidade para além de índice ou ícone da subjetividade; o desejo de permanência do perfil corresponde, portanto, ao desejo de sobrevivência da individualidade. Tassia: naum gostaria pq,sei lá...seria minha única marca antes de morrer.minhas últimas palavras e talz... seria minha lembrança mais viva e eu naum gostaria q ela fosse apagada. Gabriela Meg: Gostaria que as pessoas se lembrassem de mim, de alguma forma. Provar que fiz algo na minha vida, mesmo que fosse somente um profile no orkut. e quanto as mensagens que receberia, a morte não é um fim, apenas um começo... Antonio Marcos: Quando eu não mais estiver nesse mundo, quero que as pessoas que ficaram, saibam que eu fui, das coisas que eu gostava, assim como as que não. Tabela 2: Enquete PGM - comentários em resposta à pergunta Você gostaria que seu profile fosse deletado após a sua morte? (abril de 2007). De acordo com Renard (2001, p. 56-71, apud LEGROS et al, 2007, p. 231), “as técnicas modernas acolhem voluntariamente o sobrenatural: fotos espíritas, vozes de defuntos, calculadoras astrológicas”. Na intangibilidade desmaterializada e fugaz do ecrã, os fantasmagóricos perfis desencarnados (porque absolutamente livres de uma corporeidade à qual deva representar) tornam-se hiper-reais10 , simulacros epicurianos desgarrados da realidade concreta que fomentam o imaginário tecno-religioso11 a partir 9 Os comentários não foram reproduzidos necessariamente na ordem em que aparecem postados. As fotos do perfil (que acompanham cada mensagem) foram dispensadas. Além disso, para facilitar a leitura, caracteres especiais e textos em caixa alta foram modificados sem alteração do conteúdo. No mais, a transcrição é literal. Os comentários, nas enquetes, não são datados. 10 Aquilo que é mais real do que o real liquida os seus referenciais e deixa de representá-los, obliterando a diferença entre verdadeiro e falso, real e imaginário (BAUDRILLARD, 1991, p. 7-14). 11 Para Legros et al (2007, p. 218), “religião e imaginário, por terem em comum uma característica fundamental – a atividade simbólica -, são dois domínios que se aproximaram, assimilando-se mutuamente”.
  • 11. da possibilidade de sobrevida por meio da imagem, como pode ser observado nos seguintes comentários: Dra Kittie: Após d morta quero ficar viva... nem q seja virtualmente Paula: Eu queria que não fosse deletado já pedi a minha família que me post aqui e não delete meu orkut, já que eu vou morrer dexa eu aqui plisss Pinn: se excluirem meu orkut o que eu vo faze no ceu ou inferno? Bruno: naum uai vai q la no ceu tenha lan house u.u* Deep: Não gostaria de ficar recebendo scraps me chingando mesmo após minha morte Tabela 3: Enquete PGM - comentários em resposta à pergunta Você gostaria que seu profile fosse deletado após a sua morte? (abril de 2007). Permanência e atualização de conteúdos no Orkut corroboram para o embaralhamento de postulados demarcados tais como vida e morte. Sete meses depois, ainda online, o perfil de G. pode ser localizado; houve um trabalho de atualização do conteúdo (provavelmente feito por alguém que teve acesso à senha): as mensagens ofensivas postadas à época do falecimento foram apagadas, bem como as mensagens de sua mãe, respondendo às condolências virtuais de familiares e amigos; o álbum de fotos foi modificado, reduzindo-se a uma única imagem. Mas, os muitos recados que chegam, sucessivamente, não são deletados. Acumulam-se saudações, poesias e mensagens de otimismo absolutamente impessoais; cartões animados (slideshow) por ocasião de datas festivas; divulgações de comunidades, sites, festas, produtos e serviços. Nas poucas mensagens dirigidas especificamente à G., são recorrentes imagens bíblicas ou de paisagens banhadas em luz; G. é chamada de “eterna amiga”, “G. de luz”, “meu anjinho”. Curiosamente, em maio de 2008, G. recebeu mais de 20 mensagens de congratulação por seu aniversário como se ainda estivesse viva, a ponto de um dos usuários ter de intervir diretamente: (Usuário não existe mais): Gente!!!!!!!!! Tenho certeza que vcs não sabem!!! Mas G. faleceu o ano passado... Que Deus a tenha em seu reino... Que tenha misericórdia e lhe perdoe. (29/05/2008) Tabela 4: Mensagem retirada do scrapbook do perfil de G.
  • 12. O embaralhamento12 chega a tal ponto que alguns internautas manifestam o seu aturdimento: fato ou boato? Verdade ou mentira? Viva, morta ou... ressuscitada? Representação do vivo, imago-efígie ou fantasma?13 Afinal, representado quer dizer “presente na imagem (e não na realidade) e tornado presente pela imagem” (WOLFF, 2005, p. 21). Mas a que tipo de presença o perfil de G. se refere? Graça: Recebi o recado de vcs amigos de G. dizendo do falecimento.... porem o profile de vcs não recebe recados... só envia, achei muito estranho!!! Coloque o recado na pagina dela... avisando do falecimento!! Obrigada (19/05/2008) Everaldo: porque vc tah tão sumida??? (19/05/2008) Graça: G. vc ressucitou??/ Pois a notica que correu na rede é que vc havia se suicidado. Por favor alguém pode me responder? (15/05/2008) Graça: Atenção familiares da G.!!!!! Se ela faleceu porque continuar com o orkut dela.... vcs não acham que é mais sofrimento??? Gostaria de ter uma explicação plausível pra continuar com este orkut!!! A G. não faleceu!???? Está parecendo coisa meio enrolada...... A quem vcs querem enganar pois ta tudo muito estranho!!! Porque vcs querem prolongar este sofrimento familiar... A não ser que a familia seja masoquista.... (25/03/2008) Jonathan: vc morreu ou não? (21/01/2008) Graça: O que aconteceu com vc??? Estes boatos do orkut que vc suicidou é verdade... Por favor alguém responda!!!! Que loucura foi esta???? (07/01/2008) Graça: Que recados são estes a respeito de seu suicídio?? Será vírus?? Alguém me de noticias por favor pois adoro muito você e estou preocupada com esta noticia!!! (12/12/2008) Tabela 4: Mensagem retirada do scrapbook do perfil de G. A análise do scrapbook de G. revela, em meio à saturação informacional cuja obesidade se deve ao “delírio de estocar tudo e tudo memorizar” (BAUDRILLARD, 1996, p. 25), um grande vazio: o que se pode extrair de verdadeiramente substancial? Muito pouco. Quem sabia ou queria realmente saber de G.? Poucos. Mesmo as mensagens de aniversário se transformam em pseudo-afronta, pois não constituem uma lembrança legítima: a plataforma indexa os “amigos” aniversariantes do dia, aos quais se podem enviar os devidos “parabéns”. O envio massificado de mensagens indiferenciadas presta-se antes a tornar- se visível no scrapbook daqueles que estão vinculados como “amigos” que 12 Na hiper-realidade (BAUDRILLARD, 1991, 1996), as dicotomias implodem e causam a estranheza do embaralhamento. 13 Para Wolff (2005, p. 32), “as imagens dão novamente vida aos mortos (está aí seu poder), isso porque a vida dos mortos é a das imagens (aí está a ilusão). (...) Ela tem o poder de representar o ausente. Ela pode também criar a ilusão de que é o próprio ausente que se apresenta”.
  • 13. propriamente entabular uma conversação, um vínculo efetivo, comportamento condizente com a cultura narcisista vigente (LASCH, 1983, 1990). Mensagens como “pensei em você” ou “tenha um ótimo final de semana” publicizam o eu e multiplicam seus pontos de acesso, já que, ao lado de cada mensagem, segue-se o composto imagem/nome “hiperlinkado” ao perfil. E estas seguem, inclusive, aos “amigos” falecidos, atualizando seus scrapbooks. Esta supermultiplicação conduz ao êxtase, “essa qualidade própria a todos os corpos que giram sobre si mesmos até a perda de consciência e que resplandecem então em suas formas puras e vazias” (BAUDRILLARD, 1996, p. 9). Orkuticídio: assassinato ou suicídio do espectro virtual? O contraponto dos perfis sem corpos são os corpos sem perfis, sujeitos que optaram por encerrar sua conta no Orkut e assim, cometeram orkuticídio, assassinato- suicídio do espectro virtual. A prática, de caráter ambivalente, constitui assassinato quando se toma o espectro como “eu mesmo-outro”; mas também é suicídio porque só é possível atentar contra o espectro sendo este próprio espectro. No Orkut, há pelo menos 46 comunidades relativas; a maior, com 6419 membros, chama-se Já pensei em fazer orkuticídio14 . As justificativas freqüentes dadas por quem já pensou ou de fato cometeu (mas voltou, criando um novo perfil) denunciam, no conjunto, que esse espaço de visibilidade fomenta práticas correlatas: o controle, a vigilância, a especulação e o roubo de identidade. Se, por um lado, novas ferramentas buscam assegurar maior privacidade no Orkut, por outro, acabam com parte da essência da plataforma. Nela, tudo parece perfeito e, exatamente por isso, absolutamente irreal. Adriele: Pq tudo aqui e "perfeito"... todos são lindos, interessantes e cultos! AHHH e sem contar que aqui todo mundo s ama, mas quando lhe v na rua nem olha para a sua cara! Tabela 5: Enquete da comunidade Já pensei em fazer orkuticídio - comentário em resposta à pergunta Você já cometeu orkuticídio? (abril de 2007). Enquanto alguns usuários relatam o desejo de sair para evitar fofocas, brigas e preservar sua privacidade, outros dizem que o Orkut perdeu a graça com essas novas ferramentas: Bezinha: to morrendo de ódio do orkut com esses cadeadinhos desgraçados 14 Disponível em: http://www.orkut.com.br/Community.aspx?cmm=3618861. Acesso em 01/06/2008.
  • 14. Tabela 6: Enquete da comunidade Já pensei em fazer orkuticídio - comentário em resposta à pergunta Você já cometeu orkuticídio? (abril de 2007). Há quem já saiu simplesmente para testar se seus amigos sentiriam sua falta no Orkut. Dos 432 membros que responderam à enquete Você já cometeu orkuticídio? (pergunta postada em maio de 2007), apenas 35% disseram que sim, e mais de uma vez, tornando a criar um novo perfil. Aqueles que não cometeram, mas já pensaram no assunto, dizem não fazerem por medo de se arrepender depois, já que é trabalhoso construir o perfil e reunir os “amigos”. Há uma constante referência ao sentimento de que viver no Orkut constitui um “vício”. Será esse um dos efeitos do feitiço da imagem, ser e viver na imagem? Henrique Martins: Fala pra mim... O que eu iria fazer na Internet todos os dias sem que eu tivesse orkut ? O que tem de INTERESSANTE na Internet, por emquanto, melhor que o orkut ? Tem coisa mais divertida que conversar e conhecer pessoas pelo orkut ? Quando alguem inventar coisa melhor eu deleto o meu. Tabela 7: Enquete da comunidade Já pensei em fazer orkuticídio - comentário em resposta à pergunta Você já cometeu orkuticídio? (abril de 2007). Referências BAITELLO Jr., Norval. O animal que parou os relógios. São Paulo: Annablume, 1997. BAUDRILLARD, Jean. Simulacros e simulação. São Paulo: Relógio D´Água, 1991. ________. As estratégias fatais. Rio de Janeiro: Rocco, 1996. BYSTRINA, Ivan. Tópicos da semiótica da cultura. São Paulo: Centro Interdisciplinar de Semiótica da Cultura e da Mídia, PUC-SP, 1995. Cópia reprográfica. 40 f. DAL BELLO, Cíntia. A espectralização da existência: indexação sígnica em comunidades virtuais de relacionamento. In: IX SEMINÁRIO INTERNACIONAL DA COMUNICAÇÃO, 9., 2007, Porto Alegre. Simulacros e (dis)simulações na sociedade hiperespetacular. Porto Alegre: PUCRS, 2007. P. 47 – 64. Disponível em: <http://www.pucrs.br/eventos/sicom/textos/gt03.pdf>. Acesso em: 10 nov. 2007(a). ________. Espectros virtuais: a construção de corpos-sígnicos em comunidades virtuais de relacionamento. E-Compós. Brasília: Compós, v. 10, dez-2007(b). ________. Espectros virtuais: as dimensões do “apareser” em comunidades virtuais de relacionamento. Cadernos de Semiótica Aplicada. Araraquara: FCLAR-UNESP, v.6, n.1, 2008.
  • 15. DEBRAY, Regis. Vida e morte da imagem: uma história do olhar no ocidente. Petrópolis, Rio de Janeiro: Vozes, 1994. KAMPER, Dietmar. Imagem. 2002. Disponível em: <http://www.cisc.org.br/portal/biblioteca/imagemkamper.pdf>. Acesso em: 10 set. 2006. LASCH, Christopher. Cultura do narcisismo. Rio de Janeiro: Imago, 1983. __________. O mínimo eu: sobrevivência psíquica em dias difíceis. São Paulo: Brasiliense, 1990. LEGROS, Patrick et al. Sociologia do imaginário. Porto Alegre: Sulina, 2007. MORIN, Edgar. O homem e a morte. Mem Martins, Portugal, 1988. ________. O cinema ou o homem imaginário. Tradução: António-Pedro Vasconcelos. São Paulo: Relógio d´Água, 1997. ________. O método 5: a humanidade da humanidade. Porto Alegre: Sulina, 2005. TRIVINHO, Eugênio. A dromocracia cibercultural: lógica da vida humana na civilização mediática avançada. São Paulo: Paulus, 2007. ________. Visibilidade mediática e violência transpolítica na cibercultura: condição atual da repercussão social-histórica do fenômeno glocal na civilização mediática avançada. In: XVII Encontro Nacional da COMPÓS, 17., 2008, São Paulo. Disponível em: www.compos.org.br/data/biblioteca_287.pdf. Acesso em: 25 jun. 2008. VIRILIO, Paul. Cibermundo: a política do pior. Lisboa: Teorema, 2000. WOLFF, Francis. Por trás do espetáculo: o poder das imagens. In: NOVAES, Adauto (Org). Muito além do espetáculo. São Paulo: Senac, 2005.