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CAPÍTULO 1


          Hipertensão Arterial -
          Hipertensão Arterial -
                                               Diagnóstico e Classificação

              O diagnóstico da hipertensão arterial é basicamente estabe-      flar rapidamente e aguardar de 15 a 30 segundos antes de inflar
          lecido pelo encontro de níveis tensionais permanentemente ele-       novamente.
          vados acima dos limites de normalidade, quando a pressão arte-
          rial é determinada por meio de métodos e condições apropria-            9 - Colocar o estetoscópio nos ouvidos, com a curvatura vol-
          dos. Portanto, a medida da pressão arterial é o elemento-chave       tada para a frente.
          para o estabelecimento do diagnóstico da hipertensão arterial.
                                                                                  10 - Posicionar a campânula do estetoscópio suavemente
                                                                               sobre a artéria braquial, na fossa antecubital, evitando compres-
               Medida Indireta da Pressão Arterial                             são excessiva.
              A medida da pressão arterial, pela sua importância, deve
          ser estimulada e realizada, em toda avaliação de saúde, por            11 - Solicitar ao paciente que não fale durante o procedi-
          médicos de todas as especialidades e demais profissionais da         mento de medição.
          área de saúde.
              O esfigmomanômetro de coluna de mercúrio é o ideal para             12 - Inflar rapidamente, de 10 mmHg em 10 mmHg, até o
          essas medidas. Os aparelhos do tipo aneróide, quando usados,         nível estimado da pressão arterial.
          devem ser periodicamente testados e devidamente calibrados.
          A medida da pressão arterial deve ser realizada na posição sen-          13 - Proceder à deflação, com velocidade constante inicial
          tada, de acordo com o procedimento descrito a seguir:                de 2 mmHg a 4 mmHg por segundo, evitando congestão venosa
                                                                               e desconforto para o paciente.
               1 - Explicar o procedimento ao paciente.
                                                                                  14 - Determinar a pressão sistólica no momento do apareci-
               2 - Certificar-se de que o paciente:                            mento do primeiro som (fase I de Korotkoff), que se intensifica
                   • não está com a bexiga cheia;                              com o aumento da velocidade de deflação.
                   • não praticou exercícios físicos;
                   • não ingeriu bebidas alcoólicas, café, alimentos,              15 - Determinar a pressão diastólica no desaparecimento do
                   ou fumou até 30 minutos antes da medida.                    som (fase V de Korotkoff), exceto em condições especiais. Aus-
                                                                               cultar cerca de 20 mmHg a 30 mmHg abaixo do último som
             3 - Deixar o paciente descansar por 5 a 10 minutos em ambi-       para confirmar seu desaparecimento e depois proceder à defla-
          ente calmo, com temperatura agradável.                               ção rápida e completa. Quando os batimentos persistirem até o
                                                                               nível zero, determinar a pressão diastólica no abafamento dos
               4 - Localizar a artéria braquial por palpação.
                                                                               sons (fase IV de Korotkoff).
             5 - Colocar o manguito firmemente cerca de 2 cm a 3 cm
          acima da fossa antecubital, centralizando a bolsa de borracha            16 - Registrar os valores das pressões sistólica e diastólica,
          sobre a artéria braquial. A largura da bolsa de borracha do man-     complementando com a posição do paciente, o tamanho do
          guito deve corresponder a 40% da circunferência do braço e seu       manguito e o braço em que foi feita a mensuração. Deverá ser
          comprimento, envolver pelo menos 80% do braço. Assim, a lar-         registrado sempre o valor da pressão obtido na escala do manô-
          gura do manguito a ser utilizado estará na dependência da cir-       metro, que varia de 2 mmHg em 2 mmHg, evitando-se arredon-
          cunferência do braço do paciente (Tabela I).                         damentos e valores de pressão terminados em “5”.

               6 - Manter o braço do paciente na altura do coração.               17 - Esperar 1 a 2 minutos antes de realizar novas medidas.

              7 - Posicionar os olhos no mesmo nível da coluna de mercú-          18 - O paciente deve ser informado sobre os valores da pres-
          rio ou do mostrador do manômetro aneróide.                           são arterial e a possível necessidade de acompanhamento.

              8 - Palpar o pulso radial e inflar o manguito até seu desapa-       A Tabela I a seguir apresenta os diferentes tamanhos de man-
          recimento, para a estimativa do nível da pressão sistólica, desin-   guito, de acordo com a circunferência do braço.
                                                                                                                                               1




III-CBHA.pm6                       1                                                          20/12/01, 15:31
III CBHA



                                                                    Tabela I
               Dimensões recomendadas da bolsa inflável do manguito (“American Heart Association”).
           Circunferência                     Denominação                                  Largura                       Comprimento
           do braço (cm)                      do manguito                                da bolsa (cm)                   da bolsa (cm)

                 5-7,5                        Recém-nascido                                       3                              5

                7,5-13                        Lactente                                            5                              8

                13-20                         Criança                                             8                              13

                17-24                         Adulto magro                                       11                              17

                24-32                         Adulto                                             13                              24

                32-42                         Adulto obeso                                       17                              32

                42-50                         Coxa                                               20                              42



           Para a medida da pressão arterial na coxa, o procedimento é         • avaliar a eficácia da terapêutica anti-hipertensiva;
      o seguinte:                                                              • estimular a adesão ao tratamento; e
           • Utilizar manguito de tamanho adequado, colocado no ter-           • reduzir custos.
      ço inferior da coxa.                                                     Os aparelhos eletrônicos devidamente validados e calibra-
           • Colocar o paciente em decúbito ventral.                       dos são os mais indicados para a medida da pressão arterial do-
           • Realizar a ausculta na artéria poplítea.                      miciliar. Os aparelhos de coluna de mercúrio e os aneróides po-
           Na medida da pressão arterial na posição ereta, o braço deve    dem ser usados, desde que calibrados e após treinamento apro-
      ser mantido na altura do coração, com apoio. Na presença de          priado. Os aparelhos de medida da pressão arterial no dedo não
      fibrilação atrial, pela dificuldade de determinação da pressão       são recomendados.
      arterial, deverão ser considerados os valores aproximados. Nos           Apesar de ainda não existir consenso quanto aos valores de
      indivíduos idosos, portadores de disautonomia, alcoólatras e/ou      normalidade para a medida da pressão arterial domiciliar, con-
      em uso de medicação anti-hipertensiva, a pressão arterial deve       sideram-se valores normais até 135/85 mmHg.
      ser medida também na posição ortostática.
           Tomadas na consulta - Em cada consulta, deverão ser realiza-
      das no mínimo duas medidas, com intervalo de 1 a 2 minutos entre
      elas; caso as pressões diastólicas obtidas apresentem diferenças        Medida Ambulatorial da
      superiores a 5 mmHg, sugere-se que sejam realizadas novas aferi-        Pressão Arterial (MAPA)
      ções, até que seja obtida medida com diferença inferior a esse va-
      lor. De acordo com a situação clínica presente, recomenda-se que
                                                                               A MAPA é um método automático de medida indireta e in-
      as medidas sejam repetidas em pelo menos duas ou mais visitas.As
                                                                           termitente da pressão arterial durante 24 horas, enquanto o pa-
      medições na primeira avaliação devem ser obtidas em ambos os
                                                                           ciente realiza suas atividades rotineiras, inclusive durante o sono.
      membros superiores. As posições recomendadas na rotina para a
                                                                           Estudos têm demonstrado que esse método apresenta melhor
      medida da pressão arterial são sentada e/ou deitada.
                                                                           correlação com risco cardiovascular do que a medida da pres-
                                                                           são arterial de consultório. As principais indicações para o uso
                                                                           desse método, de acordo com o II Consenso de MAPA, estão
           Medida Domiciliar e                                             apresentadas no Quadro 1.
           Automedida da Pressão Arterial                                      É importante ressaltar que ainda não existe evidência de
                                                                           que esse método deva ser empregado na avaliação rotineira
         Esses procedimentos são úteis para:                               do paciente hipertenso, não substituindo, portanto, a avalia-
         • identificar a hipertensão do avental branco (hipertensão de     ção clínica do paciente e a medida da pressão arterial de con-
      consultório isolada);                                                sultório
      2




III-CBHA.pm6                     2                                                           20/12/01, 15:31
HIPERTENSÃO ARTERIAL - DIAGNÓSTICO E CLASSIFICAÇÃO



                                                                      Quadro 1
                                                          Indicações para a MAPA.

                • Hipertensão de consultório (hipertensão do avental branco)

                • Hipertensão arterial limítrofe

                • Hipertensão episódica

                • Avaliação do efeito terapêutico anti-hipertensivo, quando existirem dúvidas no controle da pressão arterial em 24 horas

                • Outras: sintomas sugestivos de hipotensão, suspeita de disfunção autonômica, episódios de síncope e pesquisa clínica




               Situações Especiais de                                             Obesos
                                                                                    Em pacientes obesos, deve-se utilizar manguito de tamanho
               Medida da Pressão Arterial                                      adequado à circunferência do braço (Tabela I). Na ausência deste,
                                                                               pode-se:
               Crianças                                                             • corrigir a leitura obtida com manguito padrão (13 cm x 24
             A determinação da pressão arterial em crianças é recomen-         cm), de acordo com a tabelas próprias;
          dada como parte integrante de sua avaliação clínica. À seme-              • usar fita de correção aplicada no manguito; e
          lhança dos critérios já descritos para adultos:                           • colocar o manguito no antebraço e auscultar a artéria radi-
             1) A largura da bolsa de borracha do manguito deve corres-        al, sendo esta a forma menos recomendada.
          ponder a 40% da circunferência do braço.
             2) O comprimento da bolsa do manguito deve envolver 80%
          a 100% da circunferência do braço.                                      Critérios Diagnósticos
             3) A pressão diastólica deve ser determinada na fase V de            e Classificação
          Korotkoff.
                                                                                   Qualquer número é arbitrário e qualquer classificação, insu-
               Idosos                                                          ficiente. A necessidade de sistematização obriga uma definição
              Na medida da pressão arterial do idoso, existem dois aspec-      operacional para separar indivíduos sãos dos doentes. Na realida-
          tos importantes:                                                     de, podemos ter maior ou menor risco cardiovascular tanto acima
              1) Maior freqüência de hiato auscultatório, que subestima a      como abaixo do número limítrofe, quando o paciente é conside-
          verdadeira pressão sistólica.                                        rado individualmente. Pelo exposto, enfatiza-se a necessidade de
              2) Pseudo-hipertensão, caracterizada por nível de pressão        extrema cautela antes de rotular alguém como hipertenso, tanto
          arterial falsamente elevado em decorrência do enrijecimento da       pelo risco de falso-positivo como pela repercussão na própria saúde
          parede da artéria. Pode ser detectada por meio da manobra de         do indivíduo e o custo social resultante. Aceita-se como normal
          Osler, que consiste na inflação do manguito até o desapareci-        para indivíduos adultos (com mais de 18 anos de idade) cifras
          mento do pulso radial. Se a artéria continuar palpável após esse     inferiores a 85 mmHg de pressão diastólica e inferiores a 130
          procedimento, o paciente é considerado Osler positivo.               mmHg de pressão sistólica (Tabela II).
                                                                                   A inclusão do grupo com cifras tensionais normal limítrofe
               Gestantes                                                       de 130-139 mmHg/85-89 mmHg deve-se ao fato de que esses
              Devido às alterações na medida da pressão arterial em dife-      indivíduos se beneficiarão com as medidas preventivas.
          rentes posições, atualmente recomenda-se que a medida da pres-           A Tabela III apresenta os valores da pressão arterial refe-
          são arterial em gestantes seja feita na posição sentada. A deter-    rentes aos percentis 90 e 95 de pressão arterial em crianças e
          minação da pressão diastólica deverá ser considerada na fase V       jovens de acordo com os percentis 50 e 75 de estatura:
          de Korotkoff. Eventualmente, quando os batimentos arteriais              • valores abaixo do percentil 90 = normotensão;
          permanecerem audíveis até o nível zero, deve-se utilizar a fase          • entre os percentis 90 e 95 = normal limítrofe;
          IV para registro da pressão arterial diastólica.                         • acima do percentil 95 = hipertensão arterial.
                                                                                                                                                3




III-CBHA.pm6                       3                                                          20/12/01, 15:31
III CBHA



                                                                         Tabela II
                             Classificação diagnóstica da hipertensão arterial (> 18 anos de idade).
                 PAD                                        PAS
               (mmHg)                                     (mmHg)                                         Classificação

                    < 85                                     < 130                                       Normal

                    85-89                                 130-139                                        Normal limítrofe

                    90-99                                 140-159                                        Hipertensão leve (estágio 1)

                100-109                                   160-179                                        Hipertensão moderada (estágio 2)

                    > 110                                    > 180                                       Hipertensão grave (estágio 3)

                    < 90                                     > 140                                       Hipertensão sistólica isolada


                                                                         Tabela III
                                          Valores da pressão arterial em crianças e adolescentes.
                                              SEXO MASCULINO                                              SEXO FEMININO
                            Estatura:               Pressão arterial                 Estatura:                 Pressão arterial
                            percentil                  (mmHg)                        percentil                    (mmHg)
          Idade             e valor                                                  e valor
          (anos)            em cm             Percentil 90           Percentil 95    em cm               Percentil 90         Percentil 95
               1            50 th (76)           98/53                  102/57        50 th (74)             100/54               104/58

                            75 th (78)           100/54                 104/58        75 th (77)             102/55               105/59

               3            50 th (97)           105/61                 109/65        50 th (96)             103/62               107/66

                            75 th (99)           107/62                 111/66        75 th (98)             104/63               108/67

               6            50 th (116)          110/70                 114/74        50 th (115)            107/69               111/73

                            75 th (119)          111/70                 115/75        75 th (118)            109/69               112/73

               9            50 th (132)          113/74                 117/79        50 th (132)            113/73               117/77

                            75 th (136)          115/75                 119/80        75 th (137)            114/74               118/78

               12           50 th (150)          119/77                 123/81        50 th (152)            119/76               123/80

                            75 th (155)          121/78                 125/82        75 th (155)            120/77               124/81

               15           50 th (168)          127/79                 131/83        50 th (161)            124/79               128/83

                            75 th (174)          129/80                 133/84        75 th (166)            125/80               129/84

               17           50 th (176)          133/83                 136/87        50 th (163)            125/80               129/84

                            75 th (180)          134/84                 138/88        75 th (167)            126/81               130/85

      4




III-CBHA.pm6                              4                                                         20/12/01, 15:31
HIPERTENSÃO ARTERIAL - DIAGNÓSTICO E CLASSIFICAÇÃO



              Por exemplo, um menino com 12 anos de idade, medindo 155            tensional de 124/80 mmHg o faria ser considerado hipertenso. Como
          cm de altura (percentil 75) e apresentando pressão arterial de 118/     outro exemplo, uma menina com 1 ano de idade, 77 cm de altura
          76 mmHg será considerado normotenso. Já outro menino de mes-            (percentil 75) e pressão arterial de 107/64 mmHg será considerada
          ma idade e mesma altura mas com pressão arterial de 124/80 mmHg         hipertensa; em contrapartida, se essa mesma pressão arterial for
          será considerado normal limítrofe. Se esta segunda criança, ao in-      encontrada em uma menina de 3 anos de idade com 96 cm de altu-
          vés de 155 cm, tivesse estatura de 150 cm (percentil 50), o nível       ra (percentil 50), a criança será considerada normal limítrofe.




               Rotina Diagnóstica e de Seguimento
              De acordo com a situação clínica presente, recomenda-se             novas aferições, até que seja obtida medida com diferença infe-
          que as medidas sejam repetidas em pelo menos duas ou mais               rior a esse valor. As recomendações para o seguimento estão
          visitas. As medições na primeira avaliação devem ser obtidas            apresentadas na Tabela IV.
          em ambos os membros superiores. As posições recomenda-                      De acordo com a situação clínica presente, recomenda-se
          das na rotina para a medida da pressão arterial são sentada e/          que as medidas sejam repetidas em pelo menos duas ou mais
          ou deitada.                                                             visitas. As medições na primeira avaliação devem ser obtidas
              Para a confirmação do diagnóstico, em cada consulta, deve-          em ambos os membros superiores.
          rão ser realizadas no mínimo duas medidas, com intervalo de 1               Nos indivíduos idosos, portadores de disautonomia, alcoó-
          a 2 minutos entre elas; caso as pressões obtidas apresentem di-         latras e/ou em uso de medicação anti-hipertensiva, a pressão
          ferenças superiores a 6 mmHg, sugere-se que sejam realizadas            arterial deve ser medida também na posição ortostática.



                                                                         Tabela IV
                                         Recomendações para seguimento (prazos máximos).*
                                                Pressão arterial inicial (mmHg)**
                Sistólica                              Diastólica                          Seguimento

                  < 130                                    < 85                            Reavaliar em 1 ano

                 130-139                                  85-89                            Reavaliar em 6 meses

                 140-159                                  90-99                            Confirmar em 2 meses

                 160-179                                 100-109                           Confirmar em 1 mês

                  > 180                                    > 110                           Intervenção imediata ou reavaliar em 1 semana

                * Modificar o esquema de seguimento de acordo com a condição clínica do paciente.

                ** Se as pressões sistólica ou diastólica forem de categorias diferentes, o seguimento recomendado é definido
                como de menor tempo.




                                                                                                                                                 5




III-CBHA.pm6                       5                                                              20/12/01, 15:31
III CBHA
     CAPÍTULO 2


      Hipertensão Arterial -
      Hipertensão Arterial -
                 Investigação Clínico Laboratorial e Decisão Terapêutica

          Os principais objetivos da avaliação clínico laboratorial es-         4 - História pregressa de doença arterial coronariana, insufi-
      tão apresentados no Quadro 2.                                         ciência cardíaca, doença cerebrovascular, insuficiência vascu-
          Para que esses objetivos sejam atingidos, são fundamentais        lar arterial periférica, doença renal e diabete melito.
      a história clínica, o exame físico e a avaliação laboratorial, res-
      peitando-se o princípio de custo/benefício.                               5 - História familiar de acidente vascular encefálico, doença
                                                                            arterial coronariana prematura (homens < 55 anos; mulheres <
                                                                            65 anos), doença renal, diabete melito, dislipidemia, morte pre-
                                                                            matura e súbita.
                                 Quadro 2
                                                                                6 - Perfil psicossocial: fatores ambientais e psicossociais,
                     Objetivos da investigação                              sintomas de depressão, situação familiar, condições de trabalho
                                                                            e grau de escolaridade.
                       clínico laboratorial.
                                                                               7 - Avaliação dietética, incluindo consumo de sal, bebidas
          • Confirmar a elevação da pressão arterial                        alcoólicas, gordura saturada e cafeína.

          • Avaliar lesões de órgãos-alvo                                       8 - Consumo de medicamentos ou drogas que possam elevar
                                                                            a pressão arterial ou interferir em seu tratamento.
          • Identificar fatores de risco para doenças cardiovasculares

          • Diagnosticar a etiologia da hipertensão arterial                   Exame Físico
                                                                               Os ítens relacionados a seguir dever ser destacados no exa-
                                                                            me físico:

                                                                               1 - Medida de peso e altura, para cálculo do índice de massa
                                                                            corporal.

                                                                               2 - Inspeção: fácies e aspecto físico sugestivos de hiperten-
           História Clínica                                                 são secundária (Quadro 3).

                                                                               3 - Sinais vitais: duas medidas da pressão arterial, separadas
           São aspectos relevantes da história clínica:                     por intervalo de pelo menos 2 minutos, com o paciente em posi-
         1 - Identificação: sexo, idade, raça e condição socioeconô-        ção deitada ou sentada. Deve ser medida também a pressão após
      mica.                                                                 2 minutos na posição em pé, nas situações especificadas anteri-
                                                                            ormente. Verificar a pressão do braço contralateral; caso as pres-
          2 - História atual: duração conhecida da hipertensão arterial     sões sejam diferentes, considerar a mais elevada. A freqüência
      e níveis de pressão arterial; adesão e reações adversas a trata-      cardíaca também deve ser medida.
      mentos prévios; sintomas de doença arterial coronariana, insu-
      ficiência cardíaca, doença cerebrovascular, insuficiência vas-            4 - Pescoço: palpação e ausculta das artérias carótidas, veri-
      cular arterial periférica, doença renal e diabete melito; indícios    ficação da presença de estase venosa e palpação de tireóide.
      de hipertensão secundária (Quadro 3).
                                                                                5 - Exame do precórdio: icto sugestivo de hipertrofia ou di-
           3 - Investigação sobre diversos aparelhos e fatores de risco:    latação do ventrículo esquerdo, arritmias, 3a bulha (sinaliza dis-
      dislipidemia, tabagismo, diabete melito, obesidade e sedenta-         função sistólica do ventrículo esquerdo) ou 4a bulha (sinaliza
      rismo; alteração de peso; características do sono; função sexu-       presença de disfunção diastólica do ventrículo esquerdo), hi-
      al; e outras afecções concomitantes, como doença pulmonar obs-        perfonese de 2a bulha em foco aórtico, além de sopros nos fo-
      trutiva crônica e gota.                                               cos mitral e aórtico.
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HIPERTENSÃO ARTERIAL - INVESTIGAÇÃO CLÍNICO LABORATORIAL E DECISÃO TERAPÊUTICA



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                                                     Indícios de hipertensão secundária.

                • Início da hipertensão antes dos 30 ou após os 50 anos

                • Hipertensão arterial grave (estágio 3) e/ou resistente à terapia

                • Tríade do feocromocitoma: palpitações, sudorese e cefaléia em crises

                • Uso de medicamentos e drogas que possam elevar a pressão arterial (Quadro 14)

                • Fácies ou biotipo de doença que cursa com hipertensão: doença renal, hipertireoidismo, acromegalia, síndrome de
                  Cushing

                • Presença de massas ou sopros abdominais

                • Diminuição da amplitude ou retardo do pulso femoral

                • Aumento da creatinina sérica

                • Hipopotassemia espontânea (< 3,0 mEq/l)

                • Exame de urina anormal (proteinúria ou hematúria)




               6 - Exame do pulmão: ausculta de estertores, roncos e sibilos.

              7 - Exame do abdome: massas abdominais indicativas de
          rins policísticos, hidronefrose, tumores e aneurismas. Identifi-
          cação de sopros abdominais (aorta e artérias renais).

             8 - Extremidades: palpação de pulsos braquiais, radiais, fe-
          morais, tibiais posteriores e pediosos. A diminuição da amplitu-                                  Quadro 4
          de ou o retardo do pulso das artérias femorais sugerem doença
          obstrutiva ou coartação da aorta. Verificação de edema.                          Avaliação laboratorial básica.
               9 - Exame neurológico sumário.                                        • Exame de urina: bioquímica e sedimento
              10 - Exame de fundo do olho: identificar estreitamento arte-           • Creatinina
          riolar, cruzamentos arteriovenosos patológicos, hemorragias,
          exsudatos e papiledema.                                                    • Potássio

                                                                                     • Glicemia
               Avaliação Laboratorial
                                                                                     • Colesterol total
               Avaliação básica
              Os exames laboratoriais recomendados como básicos na ava-              • Eletrocardiograma de repouso
          liação do hipertenso estão apresentados no Quadro 4.
                                                                                                                                    7




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III CBHA



          Avaliação complementar
         De acordo com a indicação clínica, os exames relacionados            Os pacientes que apresentarem indícios de hipertensão se-
      no Quadro 5 poderão fazer parte da avaliação laboratorial com-       cundária (Quadro 3) ou de lesão em órgãos-alvo devem ser in-
      plementar do paciente hipertenso.                                    vestigados por meio de métodos específicos.


                                                                     Quadro 5
                                                Avaliação laboratorial complementar
               Cardiovascular

               • Monitorização Ambulatorial da Pressão Arterial (MAPA — vide Capítulo 1 quanto a indicações)

               • Ecocardiograma

               • Radiografia de tórax

               • Teste de esforço (paciente com risco coronariano)


               Bioquímica

               • HDL-colesterol (sempre que o colesterol total e a glicemia estiverem elevados)

               • Triglicerídeos

               • Ácido úrico

               • Proteinúria de 24 horas

               • Hematócrito e hemoglobina

               • Cálcio

               • TSH




          Decisão Terapêutica
          A decisão terapêutica deve levar em conta, além dos valores      tratamento medicamentoso inicial. O tratamento medicamento-
      da pressão arterial, a presença ou não de lesões em órgãos-alvo      so também está indicado para os pacientes hipertensos com le-
      e de fatores de risco cardiovascular associados. No Quadro 6         são em órgãos-alvo, ou doença cardiovascular, ou diabete meli-
      estão apresentados os componentes para a estratificação do ris-      to, independentemente do estágio da hipertensão arterial. Paci-
      co individual dos pacientes em função da presença de fatores de      entes com valores de pressão arterial enquadrados na faixa nor-
      risco e de lesão em órgãos-alvo.                                     mal limítrofe mas pertencentes ao grupo de risco C devem rece-
          Com base nessas informações, os pacientes podem ser clas-        ber tratamento medicamentoso caso apresentem insuficiência
      sificados em três grupos, descritos no Quadro 7.                     cardíaca, insuficiência renal, ou diabete melito. Na hipertensão
          A Tabela V apresenta a orientação terapêutica baseada na         leve (estágio 1), os pacientes enquadrados nos grupos de risco
      estratificação do risco e nos níveis da pressão arterial. As medi-   A e B são elegíveis para ser tratados unicamente com modifica-
      das de modificação de estilo de vida podem ser recomendadas à        ções no estilo de vida por 6 a 12 meses. Se, nesse período de
      população em geral, como forma de promoção da saúde. Além            acompanhamento, a pressão arterial não for controlada, o trata-
      disso, essas medidas devem ser instituídas em todos os pacien-       mento medicamentoso deverá ser considerado. A idade avança-
      tes enquadrados na Tabela V. Todos os pacientes com hiperten-        da ou a presença de pressão sistólica elevada isoladamente não
      são arterial moderada e severa (estágios 2 e 3) devem receber        alteram a decisão terapêutica.
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HIPERTENSÃO ARTERIAL - INVESTIGAÇÃO CLÍNICO LABORATORIAL E DECISÃO TERAPÊUTICA




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                          Componentes para a estratificação do risco individual dos pacientes em
                            função da presença de fatores de risco e de lesão em órgãos-alvo.
                Fatores de risco maiores                                           Lesões em órgãos-alvo ou doenças cardiovasculares

                • Tabagismo                                                        • Doenças cardíacas:
                                                                                         - hipertrofia ventricular esquerda;
                • Dislipidemia                                                           - angina ou infarto prévio do miocárdio;
                                                                                         - revascularização miocárdica prévia;
                • Diabete melito                                                         - insuficiência cardíaca.

                • Idade acima de 60 anos                                           • Episódio isquêmico ou acidente vascular encefálico

                • Sexo: homens ou mulheres pós-menopausa                           • Nefropatia

                • História familiar de doença cardiovascular em:                   • Doença vascular arterial periférica
                       - mulheres com menos de 65 anos de idade
                       - homens com menos de 55 anos de idade                      • Retinopatia hipertensiva



                                                                          Quadro 7
                              Estratificação em grupos, de acordo com o fator de risco individual.
                Grupo A
                     sem fatores de risco e sem lesões em órgãos-alvo

                Grupo B
                     presença de fatores de risco (não incluindo diabete melito) e sem lesão em órgão-alvo

                Grupo C
                     presença de lesão em órgãos-alvo, doença cardiovascular clinicamente identificável e/ou diabete melito



                                                                           Tabela V
                        Decisão terapêutica baseada na estratificação do risco e nos níveis de pressão.
               Pressão arterial                         Grupo A                             Grupo B                            Grupo C

               Normal limítrofe                         Modificações no                     Modificações no                    Modificações no
               (130-139 mmHg/85-89 mmHg)                estilo de vida                      estilo de vida                     estilo de vida*

               Hipertensão leve (estágio 1)             Modificações no                     Modificações no                   Terapia
               (140-159 mmHg/90-99 mmHg)                estilo de vida                      estilo de vida**                  medicamentosa
                                                        (até 12 meses)                      (até 6 meses)

               Hipertensão moderada e severa            Terapia                             Terapia                            Terapia
               (estágios 2 e 3)                         medicamentosa                       medicamentosa                      medicamentosa
               (> 160 mmHg/> 100 mmHg)

                * Tratamento medicamentoso deve ser instituído na presença de insuficiência cardíaca, insuficiência renal, ou diabete melito.

                ** Pacientes com múltiplos fatores de risco podem ser considerados para o tratamento medicamentoso inicial.


                                                                                                                                                 9




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CAPÍTULO 3
     III CBHA



      Hipertensão Arterial -
      Hipertensão Arterial -
                                         Abordagem Multiprofissional do Hipertenso


           Introdução                                                          Para que a equipe seja composta, cada local de trabalho deve
                                                                           adequar sua realidade. Isso significa que não são necessários
          Pelo fato de a hipertensão arterial ser multicausal e multifa-   todos os profissionais, nem todos os equipamentos para a for-
      torial, por não acarretar, na maioria das vezes, qualquer sintoma    mação desse grupo de ação, bastando conhecimento, boa von-
      aos pacientes e por envolver orientações voltadas para vários        tade e determinação.
      objetivos, o sucesso na consecução dessas metas é bastante li-           A seguir estão relacionadas as principais vantagens desse
      mitado quando decorre da ação de um único profissional. Esse         tipo de atuação:
      fato talvez justifique o baixo índice de sucesso e de adesão ob-
      tido quando os cuidados aos pacientes são realizados por um              1 - O número de pessoas atendidas será maior e tão maior
      único profissional de saúde, classicamente o médico.                 quanto mais afinada estiver a equipe em seus diversos modos
          Objetivos múltiplos exigem diferentes abordagens e a for-        de abordagem.
      mação de uma equipe multiprofissional, que irá proporcionar
      essa ação diferenciada.                                                 2 - A adesão ao tratamento será nitidamente superior.
          Tratar e até mesmo prevenir a hipertensão arterial envolve,
      fundamentalmente, ensinamentos para que se processem mu-                3 - O número de pacientes com pressão arterial controlada e
      danças do hábitos de vida, tanto no que se refere ao tratamento      adotando hábitos de vida saudáveis será, conseqüentemente,
      não-medicamentoso quanto ao tratamento com agentes anti-hi-          muito maior.
      pertensivos. A consecução dessas mudanças é lenta e, na maio-
      ria das vezes, penosa, e por serem medidas educativas, necessi-          4 - Cada paciente poderá ser um replicador de conhecimen-
      tam continuidade em sua implementação.                               tos sobre esses hábitos.
          É considerando exatamente esse aspecto que o trabalho da
      equipe multiprofissional, ao invés do médico isoladamente, po-           5 - Haverá favorecimento do desenvolvimento de ações de
      derá dar aos pacientes e à comunidade uma gama muito maior           pesquisa em serviço, já que a sistematização do atendimento
      de informações, procurando torná-los participantes ativos das        possibilita esse tipo de atuação.
      ações que a eles estarão sendo dirigidas, e com motivação sufi-          Existem, ainda, vantagens adicionais, como o crescimento
      ciente para vencer o desafio de adotar atitudes que tornem essas     profissional de cada um pela constante troca de informações e
      ações efetivas e definitivas.                                        pela maior confiança individual e do serviço como um todo,
                                                                           servindo, inclusive, de incentivo para outros setores espelhados
                                                                           no trabalho coeso da equipe.
           A Equipe
          A equipe multiprofissional pode e deve ser constituída por          Ações Comuns à Equipe
      profissionais que, de uma forma ou de outra, lidem com pacien-          Multiprofissional
      tes hipertensos. Médicos, enfermeiros, técnicos de enfermagem,
      auxiliares de enfermagem, nutricionistas, psicólogos, assisten-         A seguir estão descritas as ações comuns a todos os mem-
      tes sociais, professores de educação física, farmacêuticos e, in-    bros da equipe:
      clusive, funcionários administrativos e agentes comunitários em
      saúde podem integrar a equipe. Isso não implica, entretanto, na          1 - Ações educativas (educação preventiva, modificação de
      necessidade da existência de todo esse grupo para a formação         fatores de risco, produção de material educativo).
      da equipe. Quando se aglutina mais de um profissional, desde
      que imbuídos do mesmo espírito, pode estar sendo constituída            2 - Treinamento de profissionais.
      uma equipe multiprofissional. O que determina a existência dessa
      equipe é a filosofia de trabalho, que, em última análise, visa ao       3 - Encaminhamento a outros profissionais, quando indicado.
      bem-estar dos pacientes e das pessoas de maneira geral. Os
      membros de um grupo multiprofissional, respeitada a especifi-           4 - Ações assistenciais, individuais e em grupo.
      cidade de sua ação dada pela sua formação básica, devem co-
      nhecer a ação individual de cada um dos outros membros.                 5 - Participação em projetos de pesquisa.
      10




III-CBHA.pm6                     10                                                         20/12/01, 15:31
HIPERTENSÃO ARTERIAL - ABORDAGEM MULTIPROFISSIONAL DO HIPERTENSO



               Ações Específicas Individuais                                       Psicóloga
                                                                                    A participação da psicóloga consiste de:
                                                                                    • consulta de psicologia: avaliação, diagnóstico e tratamento
              Apesar de haver uma definição bastante clara do papel que         de aspectos emocionais que interfiram com a qualidade de vida
          será exercido pelos diferentes profissionais, haverá momentos         do paciente;
          em que as funções serão comuns, e isso deve acontecer de ma-              • atendimento a familiares, para facilitar as mudanças de
          neira natural. Essa naturalidade só será possível na imbricação       hábitos de vida do paciente e sua adesão ao tratamento;
          de funções se for adotada, por ocasião da constituição do gru-            • consulta com outros profissionais para esclarecer a melhor
          po, uma perfeita uniformidade de linguagem, evitando-se, as-          abordagem do paciente;
          sim, que idéias ou terminologias conflitantes possam dificultar           • constituir grupo de apoio para maior harmonia da equipe;
          o processo educativo do paciente.                                         • atendimento a grupos de pacientes, possibilitando a inova-
              Uma vez diagnosticada a hipertensão arterial, seja qual for o     ção e a adequação de modelos que viabilizem melhor adesão.
          meio, é iniciada efetivamente a ação da equipe.

                                                                                   Assistente social
                                                                                    A participação da assistente social consiste de:
               Enfermeira                                                           • entrevista social: para identificação socioeconômica e fa-
              A consulta de enfermagem consiste de:                             miliar, caracterização da situação de trabalho e previdência, e
              • aferição da pressão arterial;                                   levantamento de expectativas para o tratamento;
              • investigação sobre fatores de risco e hábitos de vida;              • atualização do cadastro de recursos sociais (para encami-
              • orientação sobre o uso de medicamentos e seus efeitos co-       nhamento do atendimento das dificuldades dos pacientes e fa-
          laterais, avaliação de sintomas, reforço a orientações sobre há-      mília que possam interferir na terapêutica);
          bitos de vida pessoais e familiares;                                      • busca ativa de faltosos.
              • administração do serviço: controle de retornos, busca de
          faltosos e controle de consultas agendadas.
              As atividades do técnico/auxiliar de enfermagem serão de-
          legadas pelo enfermeiro.                                                 Professor de Educação Física
                                                                                   A participação do professor de Educação Física consiste de:
                                                                                   • programação e supervisão das atividades físicas dos paci-
                                                                                entes, adequando-as às realidades locais;
               Médico
              A participação do médico consiste de:
              • consulta médica (ver Avaliação Clínica);
                                                                                   Farmacêutico
              • responsabilidade pelas condutas terapêuticas aos pacientes
                                                                                   A participação do farmacêutico consiste de:
          em consonância com as regras gerais do Consenso (ver capítu-
                                                                                   • planificação do quantitativo de drogas no serviço;
          los pertinentes);
                                                                                   • manuseio e cuidados com o uso dos medicamentos.
              • revisão da avaliação clínica dos pacientes com pressão con-
          trolada pelo menos uma vez por ano;
              • apoio aos demais membros, quando solicitado.
                                                                                   Funcionários administrativos
                                                                                   A participação dos funcionários administrativos consiste de:
                                                                                   • recepção dos pacientes e controle de consultas e reuniões
               Nutricionista                                                    agendadas.
              A participação da nutricionista consiste de:
              • consulta de nutrição: avaliação nutricional e de hábitos ali-
          mentares;
              • educação nutricional individual e em grupo;                        Agentes comunitários em saúde
              • prescrição de dietas, resguardando aspectos socioeconô-            São o elo entre a equipe multiprofissional e a comunidade.
          micos e culturais;                                                    Suas ações são:
              • criação de modelos que possibilitem a implementação dos            • coleta de dados referentes à hipertensão;
          conhecimentos alimentares e nutricionais, em consonância com             • sugestão de encaminhamento para Unidades de Saúde de
          as recomendações para os pacientes hipertensos, traduzidas em         Referência;
          preparações alimentares saborosas e práticas.                            • ações educativas primárias, visando à promoção da saúde.
                                                                                                                                              11




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III CBHA



           Ações em Grupo
           Reuniões com pacientes                                           Programas comunitários
          São ações educativas e terapêuticas em saúde, desenvolvi-          Dada a escassez de recursos, a equipe multiprofissional deve
      das com grupos de pacientes e seus familiares, sendo adicionais    procurar estimular, por meio dos pacientes, dos representantes
      as atividades individuais.                                         da comunidade e da sociedade civil, o desenvolvimento de ati-
          A convivência estimula a relação social, possibilita a troca   vidades comunitárias, que terão grande força de pressão para a
      de informações e permite apoio mútuo. O paciente, nesse tipo       implementação das mais diversas ações governamentais ou não
      de atividade, identifica-se com outros pacientes com proble-       em benefício da saúde da comunidade.
      mas semelhantes, aprendendo a expressar seus medos e ex-               É preciso ressaltar, novamente, que não há necessidade da
      pectativas. Passa a compartilhar das experiências de todos e a     existência de todos os profissionais nos grupos de atendimento
      discutir, buscando soluções reais para problemas de saúde se-      multiprofissional a ser constituídos. O número de componentes
      melhantes aos seus.                                                importa pouco, o tipo de profissional de saúde é secundário. O
                                                                         que determina o bom funcionamento do grupo é sua filosofia
           Reuniões da equipe                                            de trabalho: caminhar unido na mesma direção.
         Atividades periódicas com a participação de todo o grupo,
      para a análise crítica das atividades desenvolvidas, acerto de
      arestas e novas orientações, caso necessário.




      12




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CAPÍTULO 4


          Hipertensão Arterial -
          Hipertensão Arterial -
                       Tratamento Não-Medicamentoso ou Modificações do Estilo de Vida

              O tratamento não-medicamentoso tem, como principal ob-           ponente para a hipertensão. Todos os hipertensos com excesso
          jetivo, diminuir a morbidade e a mortalidade cardiovasculares        de peso devem ser incluídos em programas de redução de peso
          por meio de modificações do estilo de vida que favoreçam a           de modo a alcançar Índice de Massa Corpórea (IMC) inferior a
          redução da pressão arterial.                                         25 kg/m² e Relação Cintura-Quadril (RCQ) inferior a 0,8 para
              Está indicado a todos os hipertensos e aos indivíduos mes-       as mulheres e a 0,9 para os homens, em razão de sua associação
          mo que normotensos, mas de alto risco cardiovascular. Dentre         com risco cardiovascular aumentado.
          essas modificações, as que comprovadamente reduzem a pres-               As recomendações genéricas para a redução do peso corpo-
          são arterial são: redução do peso corporal, da ingestão do sal e     ral compreendem:
          do consumo de bebidas alcoólicas, prática de exercícios físicos          • princípios dietéticos; e
          com regularidade, e a não-utilização de drogas que elevam a              • programas de atividade física.
          pressão arterial. As razões que tornam as modificações do esti-          Os princípios da terapia dietética estão apresentados no
          lo de vida úteis são:                                                Quadro 8.
              • baixo custo e risco mínimo;                                        Para a manutenção do peso desejável a longo prazo, é ne-
              • redução da pressão arterial, favorecendo o controle de ou-     cessária a adequação dietética individualizada, com particular
          tros fatores de risco;                                               atenção aos aspectos socioeconômicos e culturais e à motivação
              • aumento da eficácia do tratamento medicamentoso; e             dos pacientes.
              • redução do risco cardiovascular.

                                                                                  Redução na Ingestão de Sal/Sódio
               Redução do Peso Corporal
                                                                                  O sal (cloreto de sódio — NaCl) há muito tempo tem sido
            O excesso de peso corporal tem forte correlação com o au-          considerado importante fator no desenvolvimento e na intensida-
          mento da pressão arterial. O aumento do peso é um fator predis-      de da hipertensão arterial. Hoje em dia, a literatura mundial é



                                                                      Quadro 8
                                                  Princípios gerais da terapia dietética.

               • Respeitar dieta hipocalórica balanceada, evitando o jejum ou as dietas “milagrosas”

               • Manter o consumo diário de colesterol inferior a 300 mg (o consumo de gorduras saturadas não deve ultrapassar 10% do
                 total de gorduras ingeridas)

               • Substituir gorduras animais por óleos vegetais (mono e poliinsaturados)

               • Reduzir o consumo de sal a menos de 6 g/dia (1 colher de chá)

               • Evitar açúcar e doces

               • Preferir ervas, especiarias e limão para temperar os alimentos

               • Ingerir alimentos cozidos, assados, grelhados, ou refogados

               • Utilizar alimentos fonte de fibras (grãos, frutas, cereais integrais, hortaliças e legumes, preferencialmente crus)

                                                                                                                                            13




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III CBHA



      praticamente unânime em considerar a forte correlação entre a              Para que o efeito hipotensor máximo da restrição salina
      ingestão excessiva de sal e a elevação da pressão arterial. No âmbito   se manifeste, é necessário intervalo de pelo menos 8 sema-
      populacional, a ingestão de sal parece ser um dos fatores envolvi-      nas. É importante salientar que os pacientes deverão ser ori-
      dos no aumento progressivo da pressão arterial que acontece com         entados para a leitura dos rótulos dos alimentos industriali-
      o envelhecimento. A hipertensão arterial é observada primaria-          zados, a fim de observar a presença e a quantidade de sódio
      mente em comunidades com ingestão de sal superior a 100 mEq/            contidas nos mesmos.
      dia. Por outro lado, a hipertensão arterial é rara em populações
      cuja ingestão de sal é inferior a 50 mEq/dia. Essa constatação
      parece ser independente de outros fatores de risco para hiperten-
      são arterial, tais como obesidade e alcoolismo.                            Aumento da Ingestão de Potássio
          Além da redução da pressão arterial, alguns estudos demons-
      traram também benefícios da restrição salina na redução da                  A ingestão do potássio pode ser aumentada pela escolha de
      mortalidade por acidente vascular encefálico e na regressão da          alimentos pobres em sódio e ricos em potássio (feijões, ervilha,
      hipertrofia ventricular esquerda. A restrição salina pode ainda         vegetais de cor verde-escuro, banana, melão, cenoura, beterra-
      reduzir a excreção urinária de cálcio, contribuindo para a pre-         ba, frutas secas, tomate, batata inglesa e laranja).
      venção da osteoporose em idosos.                                            Essa indicação se justifica pela possibilidade de o potássio
          Dessa forma, a restrição de sal na dieta é uma medida reco-         exercer efeito anti-hipertensivo, ter ação protetora contra danos
      mendada não apenas para hipertensos, mas para a população de            cardiovasculares, e servir como medida auxiliar em pacientes
      modo geral. Tal orientação deve objetivar ingestão em torno de          submetidos a terapia com diuréticos, desde que não existam con-
      100 mEq/dia (6 g de sal = 1 colher de chá). Do ponto de vista           tra-indicações.
      prático, deve-se evitar a ingestão de alimentos processados in-             Deve-se ter cautela no uso de suplemento medicamentoso à
      dustrialmente, tais como enlatados, conservas, embutidos e de-          base de potássio em pacientes suscetíveis a hiperpotassemia,
      fumados. Deve-se ainda orientar os pacientes a utilizar o míni-         incluindo aqueles com insuficiência renal, ou em uso de inibi-
      mo de sal no preparo dos alimentos, além de evitar o uso de             dores da enzima conversora da angiotensina (ECA), ou bloque-
      saleiro à mesa, durante as refeições.                                   adores de receptores da angiotensina II.
          O uso de substitutos de sal contendo cloreto de potássio em             O uso de substitutos do sal contendo cloreto de potássio
      substituição ao NaCl pode ser recomendado aos pacientes, em-            em substituição ao NaCl pode ser recomendado aos pacientes
      bora alguns tenham a palatabilidade como fator limitante.               como uma forma de suplementação de potássio, embora al-




                                                                      Quadro 9
                                                      Fontes de maior teor de sódio.

               • Sal de cozinha (NaCl) e temperos industrializados

               • Alimentos industrializados (“ketchup”, mostarda, shoyu, caldos concentrados)

               • Embutidos (salsicha, mortadela, lingüiça, presunto, salame, paio)

               • Conservas (picles, azeitona, aspargo, palmito)

               • Enlatados (extrato de tomate, milho, ervilha)

               • Bacalhau, charque, carne seca, defumados

               • Aditivos (glutamato monossódico) utilizados em alguns condimentos e sopas de pacote

               • Queijos em geral


      14




III-CBHA.pm6                        14                                                         20/12/01, 15:31
HIPERTENSÃO ARTERIAL - TRATAMENTO NÃO-MEDICAMENTOSO OU MODIFICAÇÕES DO ESTILO DE VIDA



          guns deles tenham a palatabilidade como fator limitante. O         80% da freqüência cardíaca de reserva, ou 80% acima do con-
          emprego desses substitutos de sal em pacientes hipertensos         sumo máximo de oxigênio, têm pouco efeito sobre a pressão
          com diminuição da função renal, especialmente se diabéticos        arterial de hipertensos.
          e em uso de inibidores da ECA, deve ser cauteloso devido ao            Adicionalmente, baixo nível de capacitação física está asso-
          risco de hiperpotassemia.                                          ciado a maior risco de óbito por doenças coronariana e cardio-
                                                                             vascular em homens sadios, independentemente dos fatores de
                                                                             risco convencionais.
                                                                                 Exercícios isométricos, como levantamento de peso, não são
               Redução do Consumo                                            recomendáveis para indivíduos hipertensos. Pacientes em uso
               de Bebidas Alcoólicas                                         de medicamentos anti-hipertensivos que interferem na freqüên-
                                                                             cia cardíaca (como, por exemplo, betabloqueadores) devem ser
                                                                             previamente submetidos a avaliação médica.
              O consumo excessivo de álcool eleva a pressão arterial e a
          variabilidade pressórica, aumenta a prevalência de hipertensão,
          é fator de risco para acidente vascular encefálico, além de ser
          uma das causas de resistência à terapêutica anti-hipertensiva.
              Para os hipertensos do sexo masculino que fazem uso de
                                                                                Abandono do Tabagismo
          bebida alcoólica, é aconselhável que o consumo não ultrapas-
          se 30 ml de etanol/dia, contidos em 60 ml de bebidas destila-          O tabagismo é a mais importante causa modificável de mor-
          das (uísque, vodca, aguardente, etc.), 240 ml de vinho, ou 720     te, sendo responsável por 1 em cada 6 óbitos. No Brasil, a pre-
          ml de cerveja. Em relação às mulheres e indivíduos de baixo        valência do tabagismo é elevada. Em 1989, existiam 30.6 mi-
          peso, a ingestão alcoólica não deve ultrapassar 15 ml de eta-      lhões de fumantes na população com idade superior a 5 anos,
          nol/dia. Aos pacientes que não conseguem se enquadrar nes-         correspondendo a 23,9% da população dessa faixa etária, o que
          ses limites de consumo, sugere-se o abandono do consumo de         demonstra a relevância do problema em nosso país.
          bebidas alcoólicas.                                                    Ainda que a pressão arterial e a freqüência cardíaca se ele-
                                                                             vem durante o ato de fumar, o uso prolongado de nicotina não
                                                                             se associa a maior prevalência de hipertensão. Além do risco
                                                                             aumentado para a doença coronariana associada ao tabagismo,
               Exercício Físico Regular                                      indivíduos que fumam mais de uma carteira de cigarros ao dia
                                                                             têm risco 5 vezes maior de morte súbita do que indivíduos não-
                                                                             fumantes. Adicionalmente, o tabagismo colabora para o efeito
              O exercício físico regular reduz a pressão arterial, além de
                                                                             adverso da terapêutica de redução dos lípides séricos e induz
          produzir benefícios adicionais, tais como diminuição do peso
                                                                             resistência ao efeito de drogas anti-hipertensivas.
          corporal e ação coadjuvante no tratamento das dislipidemias,
                                                                                 Dentre outras medidas, o tabagismo deve ser combatido
          da resistência à insulina, do abandono do tabagismo e do con-
                                                                             por colaborar com o risco de câncer e de doenças pulmonares,
          trole do estresse. Contribui, ainda, para a redução do risco de
                                                                             e por constituir risco para doença coronariana, acidente vas-
          indivíduos normotensos desenvolverem hipertensão.
                                                                             cular encefálico e morte súbita. Para tanto, é essencial o acon-
              Exercícios físicos, tais como caminhada, ciclismo, natação
                                                                             selhamento médico precoce, repetido e consistente até o aban-
          e corrida, realizados numa intensidade entre 50% e 70% da
                                                                             dono definitivo.
          freqüência cardíaca de reserva (vide fórmula a seguir), ou en-
          tre 50% e 70% do consumo máximo de oxigênio, com dura-
          ção de 30 a 45 minutos, três a cinco vezes por semana, redu-
          zem a pressão arterial de indivíduos hipertensos. Em contra-
          partida, exercícios físicos muito intensos, realizados acima de       Controle das Dislipidemias
                                                                                e do Diabete Melito
                                  Quadro 10
                                                                                 A associação de dislipidemia e diabete melito com hiperten-
                          Cálculo da freqüência                              são é sabidamente deletéria, mesmo que essa associação não afe-
                          cardíaca de exercício.                             te, necessariamente, os níveis da pressão arterial. A restrição de
                                                                             alimentos ricos em colesterol e gorduras, além dos açúcares sim-
                        Freqüência cardíaca de exercício =                   ples, atua sobre os fatores de risco convencionais e auxilia no
                                                                             controle do peso corporal. No Quadro 11 estão apresentadas al-
                (FC máxima - FC basal) (% intensidade) + FC basal            gumas das medidas utilizadas para o combate da dislipidemia.
                     onde FC máxima = 220 - idade em anos                        Os Quadros 12 e 13 apresentam as principais fontes alimen-
                                                                             tares de triglicerídeos, colesterol e gordura saturada.
                                                                                                                                            15




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III CBHA



                                                                    Quadro 11
                                                 Medidas para o combate da dislipidemia.

               • Aumentar o conteúdo de fibras da dieta

               • Substituir os carboidratos simples (açúcar, mel e doces) pelos complexos (massas, cereais, frutas, grãos, raízes e
                  legumes)

               • Restringir bebidas alcoólicas

               • Aumentar a atividade física

               • Abandonar o tabagismo

               • Reduzir a ingestão de gorduras saturadas, utilizando preferencialmente gorduras mono e poliinsaturadas na dieta



                                                                    Quadro 12
                                           Alimentos que provocam aumento dos triglicerídeos.

               • Todos os alimentos e bebidas preparados com açúcar

               • Mel e derivados

               • Cana de açúcar, garapa, melado e rapadura

               • Bebidas alcoólicas

               • Todos os alimentos ricos em gordura


                                                                    Quadro 13
                                      Alimentos ricos em colesterol e/ou gorduras saturadas.
                                                                             • Gema de ovo e suas preparações
               • Porco (banha, carne, “bacon”, torresmo)
                                                                             • Carne de gado com gordura visível
               • Leite integral, creme de leite, nata, manteiga
                                                                             • Óleo, leite e polpa de coco
               • Lingüiça, salame, mortadela, presunto, salsicha, sardinha
                                                                             • Azeite de dendê
               • Frituras com qualquer tipo de gordura
                                                                             • Castanhas, amendoim
               • Frutos do mar ( camarão, mexilhão, ostras)
                                                                             • Chocolate e derivados
               • Miúdos (coração, moela, fígado, miolos, rim)
                                                                             • Sorvetes
               • Pele de frango, couro de peixe

               • Dobradinha, caldo de mocotó

      16




III-CBHA.pm6                          16                                                       20/12/01, 15:32
HIPERTENSÃO ARTERIAL - TRATAMENTO NÃO-MEDICAMENTOSO OU MODIFICAÇÕES DO ESTILO DE VIDA



                 Suplementação de Cálcio e Magnésio                             permanente. Em razão de a abordagem do hipertenso ser direci-
                                                                                onada a diversos objetivos, a ação médica é beneficiada com a
              Não se recomenda a suplementação medicamentosa de cálcio          abordagem multiprofissional.
          ou magnésio para redução da pressão arterial, exceto na deficiên-         Vale ressaltar que é de fundamental importância o envolvi-
          cia destes, embora a manutenção de ingestão adequada de cálcio        mento dos familiares do hipertenso na busca das metas a serem
          seja uma medida recomendável na prevenção da osteoporose.             atingidas pelas modificações do estilo de vida. O Quadro 15
                                                                                apresenta uma análise crítica da eficácia das medidas não-me-
                                                                                dicamentosas discutidas neste capítulo.
                 Medidas Antiestresse
                                                                                                             Quadro 14
              Há evidências de possíveis efeitos do estresse psicossocial
          na pressão arterial relacionadas a “condições estressantes”, tais      Drogas que podem elevar a pressão arterial.
          como pobreza, insatisfação social, baixo nível educacional, de-                    • Anticoncepcionais orais
          semprego, inatividade física e, em especial, aquelas atividades
                                                                                             • Antiinflamatórios não-esteróides
          profissionais caracterizadas por altas demandas psicológicas e
          baixo controle dessas situações.                                                   • Anti-histamínicos descongestionantes
              Mesmo assim, o papel do tratamento antiestresse e o uso de
                                                                                             • Antidepressivos tricíclicos
          técnicas que visam a modificações de respostas comportamentais
          no tratamento de pacientes hipertensos ainda não estão definidos.                  • Corticosteróides, esteróides anabolizantes
              Técnicas de relaxamento, tais como ioga, “biofeedback”, me-
                                                                                             • Vasoconstritores nasais
          ditação transcendental, “tai chi chuan” e psicoterapia, não são
          superiores a técnicas fictícias (“sham”) ou a automonitorização.                   • Carbenoxolona
                                                                                             • Ciclosporina
                 Evitar Drogas que Podem                                                     • Inibidores da monoaminoxidase (IMAO)
                 Elevar a Pressão Arterial                                                   • Chumbo, cádmio, tálio

             No Quadro 14 estão apresentadas várias drogas que po-                           • Alcalóides derivados do “ergot”
          dem ter efeitos hipertensivos, devendo ser evitadas ou des-                        • Moderadores do apetite
          continuadas.
                                                                                             • Hormônios tireoideanos (altas doses)
                                                                                             • Antiácidos ricos em sódio
                 Considerações Gerais sobre
                                                                                             • Eritropoetina
                 o Tratamento Não-Medicamentoso
                                                                                             • Cocaína
            Torna-se evidente que quase todas as medidas não-medica-
                                                                                             • Cafeína (?)
          mentosas dependem de mudanças no estilo de vida de forma

                                                                        Quadro 15
                                    Medidas não-medicamentosas para o controle da hipertensão
                                               e dos fatores de risco cardiovascular.
               Medidas com maior eficácia anti-hipertensiva       Medidas sem avaliação definitiva               Medidas associadas

               • Redução do peso corporal                         • Suplementação de cálcio e magnésio           • Abandono do tabagismo

               • Redução da ingestão de sódio                     • Dietas vegetarianas ricas em fibras          • Controle das dislipidemias

               • Maior ingestão de alimentos ricos em potássio    • Medidas antiestresse                         • Controle do diabete melito

               • Redução do consumo de bebidas alcoólicas                                                        • Evitar drogas que potencialmente
                                                                                                                   elevem a pressão
               • Exercícios físicos regulares


                                                                                                                                                  17




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III CBHA 5
      CAPÍTULO


      Hipertensão Arterial -
      Hipertensão Arterial -
                                            Tratamento Medicamentoso

           Objetivos                                                            Princípios Gerais
                                                                                do Tratamento Medicamentoso
          O objetivo primordial do tratamento da hipertensão arterial é
      a redução da morbidade e da mortalidade cardiovasculares do               Depois de decidido o tratamento medicamentoso, devem-se
      paciente hipertenso, aumentadas em decorrência dos altos níveis        observar os critérios relacionados no Quadro 16.
      tensionais, sendo utilizadas tanto medidas não-medicamentosas
      isoladas como associadas a medicamentos anti-hipertensivos.
          Assim, os agentes anti-hipertensivos a serem utilizados no
      tratamento do paciente hipertenso devem permitir não somente
                                                                                Escolha do Medicamento
      a redução dos níveis tensionais, mas também a redução da taxa             Anti-Hipertensivo
      de eventos mórbidos cardiovasculares fatais e não-fatais.
          Até o presente momento, a redução da morbidade e da mor-               Os medicamentos anti-hipertensivos de uso corrente em nos-
      talidade cardiovasculares em hipertensos leves a moderados foi         so meio podem ser divididos em 6 grupos, apresentados no
      demonstrada de forma consistente, em inúmeros estudos, ape-            Quadro 17.
      nas para os diuréticos e betabloqueadores.                                 Qualquer grupo de medicamentos, com exceção dos vasodi-
          Em relação à pressão arterial, o tratamento medicamentoso          latadores de ação direta, pode ser apropriado para o controle da
      visa a reduzir os níveis de pressão para valores inferiores a 140      pressão arterial em monoterapia inicial, especialmente para paci-
      mmHg de pressão sistólica e a 90 mmHg de pressão diastólica,           entes portadores de hipertensão arterial leve a moderada, que não
      respeitando-se as características individuais, a co-morbidade e        responderam às medidas não-medicamentosas. Sua escolha de-
      a qualidade de vida dos pacientes. Reduções da pressão para            verá ser pautada nos princípios gerais descritos anteriormente.
      níveis inferiores a 130/85 mmHg podem ser úteis em situações               Além do controle da pressão arterial, já mencionado, os anti-
      específicas, como em pacientes com nefropatia proteinúrica e           hipertensivos também devem ser capazes de reduzir a morbida-
      na prevenção de acidente vascular cerebral.                            de e a mortalidade cardiovasculares dos hipertensos. Essa capa-


                                                                    Quadro 16
                                          Tratamento medicamentoso: princípios gerais.

               • O medicamento deve ser eficaz por via oral

               • Deve ser bem tolerado

               • Deve permitir a administração do menor número possível de tomadas diárias, com preferência para aqueles com poso-
               logia de dose única diária

               • O tratamento deve ser iniciado com as menores doses efetivas preconizadas para cada situação clínica, podendo ser
               aumentadas gradativamente e/ou associar-se a outro hipotensor de classe farmacológica diferente (deve-se levar em conta
               que quanto maior a dose, maiores são as probabilidades de surgirem efeitos indesejáveis)

               • Respeitar um período mínimo de 4 semanas para se proceder o aumento da dose e ou a associação de drogas, salvo em
               situações especiais

               • Instruir o paciente sobre a doença, sobre os efeitos colaterais dos medicamentos utilizados e sobre a planificação e os
               objetivos terapêuticos

               • Considerar as condições socioeconômicas

      18




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HIPERTENSÃO ARTERIAL - TRATAMENTO MEDICAMENTOSO



                                                                               aumento dos níveis séricos de triglicerídeos, em geral depen-
                                   Quadro 17
                                                                               dente da dose, transitório e de importância clínica ainda não
                      Classes de anti-hipertensivos.                           comprovada. Em muitos casos, provocam disfunção sexual. Em
                                                                               geral, o aparecimento dos efeitos indesejáveis dos diuréticos está
                                                                               relacionado à dosagem utilizada.
                • Diuréticos

                • Inibidores adrenérgicos
                                                                                  Inibidores adrenérgicos
                • Vasodilatadores diretos
                                                                                   a) Ação central
                • Inibidores da enzima conversora da angiotensina                  Atuam estimulando os receptores alfa-2-adrenérgicos pré-
                                                                               sinápticos (alfametildopa, clonidina e guanabenzo) e/ou os re-
                • Antagonistas dos canais de cálcio                            ceptores imidazolidínicos (moxonidina) no sistema nervoso cen-
                                                                               tral, reduzindo a descarga simpática. A eficácia anti-hipertensi-
                • Antagonistas do receptor da angiotensina II                  va desse grupo de medicamentos como monoterapia é, em ge-
                                                                               ral, discreta. Até o presente momento, não existe experiência
                                                                               clínica suficiente em nosso meio com o inibidor dos receptores
                                                                               imidazolidínicos. Essas drogas podem ser úteis em associação
                                                                               com medicamentos de outras classes terapêuticas, particular-
          cidade, já demonstrada para diuréticos e betabloqueadores, tam-      mente quando existem evidências de hiperatividade simpática.
          bém foi observada, recentemente, em um estudo (Syst-Eur) com             Entre os efeitos indesejáveis, destacam-se aqueles decorren-
          pacientes idosos portadores de hipertensão arterial sistólica iso-   tes da ação central, como sonolência, sedação, boca seca, fadi-
          lada tratados com nitrendipina, um antagonista dos canais de         ga, hipotensão postural e impotência. Especificamente com a
          cálcio diidropiridínico, isoladamente ou em associação com o         alfametildopa, pode ocorrer ainda, com pequena freqüência,
          inibidor da ECA enalapril.                                           galactorréia, anemia hemolítica e lesão hepática. O emprego da
              Estão sendo realizados vários estudos com inibidores da ECA      alfametildopa é contra-indicado na presença de disfunção he-
          e antagonistas do receptor da angiotensina II e com outros anta-     pática. No caso da clonidina, destaca-se a hipertensão rebote,
          gonistas dos canais de cálcio, para avaliar o impacto dessas dro-    quando da suspensão brusca da medicação.
          gas sobre a morbidade e a mortalidade cardiovasculares dos hi-
          pertensos. Entretanto, até o presente momento não existem da-            b) Alfa-1 bloqueadores
          dos que permitam avaliar a capacidade de essas classes terapêu-          Apresentam baixa eficácia como monoterapia, devendo ser
          ticas influenciar esses parâmetros.                                  utilizados em associação com outros anti-hipertensivos. Podem
                                                                               induzir o aparecimento de tolerância farmacológica, que obriga
               Diuréticos                                                      o uso de doses crescentes. Têm a vantagem de propiciar melho-
             O mecanismo anti-hipertensivo dos diuréticos está relacio-        ra do metabolismo lipídico (discreta) e da urodinâmica (sinto-
          nado, numa primeira fase, à depleção de volume e, a seguir, à        mas) de pacientes com hipertrofia prostática. Os efeitos indese-
          redução da resistência vascular periférica decorrente de meca-       jáveis mais comuns são: hipotensão postural (mais evidente com
          nismos diversos.                                                     a primeira dose), palpitação e, eventualmente, astenia.
             São eficazes como monoterapia no tratamento da hiperten-
          são arterial, tendo sido comprovada sua eficácia na redução da           c) Betabloqueadores
          morbidade e da mortalidade cardiovasculares. Como anti-hiper-            O mecanismo anti-hipertensivo, complexo, envolve diminui-
          tensivos, dá-se preferência aos diuréticos tiazídicos e similares.   ção do débito cardíaco (ação inicial), redução da secreção de
          Diuréticos de alça são reservados para situações de hipertensão      renina, readaptação dos barorreceptores e diminuição das cate-
          associada a insuficiências renal e cardíaca.                         colaminas nas sinapses nervosas. Esses medicamentos são efi-
             Os diuréticos poupadores de potássio apresentam pequena           cazes como monoterapia, tendo sido comprovada sua eficácia
          potência diurética, mas quando associados a tiazídicos e diuréti-    na redução da morbidade e da mortalidade cardiovasculares.
          cos de alça são úteis na prevenção e no tratamento de hipopotas-     Aqueles com atividade simpatomimética intrínseca são úteis em
          semia. O uso de diuréticos poupadores de potássio em pacientes       gestantes hipertensas e em pacientes com feocromocitoma. Cons-
          com redução de função renal pode acarretar hiperpotassemia.          tituem a primeira opção na hipertensão arterial associada a do-
             Entre os efeitos indesejáveis dos diuréticos, ressalta-se fun-    ença coronariana ou arritmias cardíacas. São úteis em pacientes
          damentalmente a hipopotassemia, por vezes acompanhada de             com síndrome de cefaléia de origem vascular (enxaqueca). En-
          hipomagnesemia (que pode induzir arritmias ventriculares), e a       tre as reações indesejáveis dos betabloqueadores destacam-se:
          hiperuricemia. É ainda relevante o fato de os diuréticos pode-       broncoespasmo, bradicardia excessiva (inferior a 50 bat/min),
          rem provocar intolerância à glicose. Podem também promover           distúrbios da condução atrioventricular, depressão miocárdica,
                                                                                                                                              19




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III CBHA



      vasoconstrição periférica, insônia, pesadelos, depressão psíqui-        Inibidores da enzima conversora da angiotensina
      ca, astenia e disfunção sexual. Do ponto de vista metabólico,            O mecanismo de ação dessas substâncias é fundamentalmen-
      podem acarretar intolerância à glicose, hipertrigliceridemia e       te dependente da inibição da enzima conversora, bloqueando,
      redução do HDL-colesterol. A importância clínica das altera-         assim, a transformação da angiotensina I em II no sangue e nos
      ções lipídicas induzidas pelos betabloqueadores ainda não está       tecidos. São eficazes como monoterapia no tratamento da hi-
      comprovada. A suspensão brusca desses bloqueadores pode pro-         pertensão arterial.
      vocar hiperatividade simpática, com hipertensão rebote e/ou              Também reduzem a morbidade e a mortalidade de pacientes
      manifestações de isquemia miocárdica. Os betabloqueadores são        hipertensos com insuficiência cardíaca, e de pacientes com in-
      formalmente contra-indicados em pacientes com asma, doença           farto agudo do miocárdio, especialmente daqueles com baixa
      pulmonar obstrutiva crônica e bloqueio atrioventricular de 2o e      fração de ejeção. Quando administrados a longo prazo, os inibi-
      3o graus. Devem ser utilizados com cautela em pacientes com          dores da ECA retardam o declínio da função renal em pacientes
      doença arterial obstrutiva periférica.                               com nefropatia diabética e de outras etiologias.
                                                                               Entre os efeitos indesejáveis, destacam-se tosse seca, altera-
           Vasodilatadores diretos                                         ção do paladar e reações de hipersensibilidade (erupção cutâ-
         Os medicamentos desse grupo, como a hidralazina e o mi-           nea, edema angioneurótico). Em indivíduos com insuficiência
      noxidil, atuam diretamente sobre a musculatura da parede vas-        renal crônica, podem induzir hiperpotassemia. Em pacientes com
      cular, promovendo relaxamento muscular com conseqüente va-           hipertensão renovascular bilateral ou com rim único, podem pro-
      sodilatação e redução da resistência vascular periférica. Em con-    mover redução da filtração glomerular com aumento dos níveis
      seqüência da vasodilatação arterial direta, promovem retenção        séricos de uréia e creatinina.
      hídrica e taquicardia reflexa, o que contra-indica seu uso como          Seu uso em pacientes com função renal reduzida pode se acom-
      monoterapia, devendo ser utilizados associados a diuréticos e/       panhar de aumento dos níveis séricos de creatinina. Entretanto, a
      ou betabloqueadores.                                                 longo prazo, prepondera o efeito nefroprotetor dessas drogas.
                                                                               Em associação com diurético, a ação anti-hipertensiva dos
           Antagonistas dos canais de cálcio                               inibidores da ECA é magnificada, podendo ocorrer hipoten-
          A ação anti-hipertensiva dos antagonistas dos canais de cál-     são postural.
      cio decorre da redução da resistência vascular periférica por di-        Seu uso é contra-indicado na gravidez. Em adolescentes e
      minuição da concentração de cálcio nas células musculares lisas      mulheres jovens em idade fértil e que não façam uso de méto-
      vasculares. Não obstante o mecanismo final comum, esse grupo         do anticoncepcional medicamente aceitável, o emprego dos
      de anti-hipertensivos é dividido em 4 subgrupos, com caracterís-     inibidores da ECA deve ser cauteloso devido ao risco de mal-
      ticas químicas e farmacológicas diferentes: fenilalquilaminas (ve-   formações fetais.
      rapamil), benzotiazepinas (diltiazem), diidropiridinas (nifedipi-
      na, isradipina, nitrendipina, felodipina, amlodipina, nisoldipina,      Antagonistas do receptor da angiotensina II
      lacidipina) e antagonistas do canal T (mibefradil).                      Essas drogas antagonizam a ação da angiotensina II por meio
          São medicamentos eficazes como monoterapia, e a nitren-          do bloqueio específico de seus receptores AT1. São eficazes como
      dipina mostrou-se também eficiente na redução da morbidade e         monoterapia no tratamento do paciente hipertenso. Em um estu-
      da mortalidade cardiovasculares em idosos com hipertensão sis-       do (ELITE), mostraram-se eficazes na redução da morbidade e
      tólica isolada.                                                      da mortalidade de pacientes idosos com insuficiência cardíaca.
          No tratamento da hipertensão arterial, deve-se dar prefe-            Apresentam bom perfil de tolerabilidade e os efeitos colate-
      rência ao uso dos antagonistas dos canais de cálcio de longa         rais relatados são tontura e, raramente, reação de hipersensibili-
      duração de ação (intrínseca ou por formulação galênica), não         dade cutânea (“rash”).
      sendo recomendada a utilização de antagonistas dos canais de             As precauções para seu uso são semelhantes às descritas para
      cálcio de curta duração de ação.                                     os inibidores da ECA.
          Os efeitos adversos desse grupo incluem: cefaléia, tontura,
      rubor facial (mais freqüentes com diidropiridínicos de curta
      duração de ação) e edema periférico. Mais raramente, podem
      induzir hipertrofia gengival. Os diidropiridínicos de curta du-         Esquemas Terapêuticos
      ração de ação acarretam importante estimulação simpática re-
      flexa, deletéria ao sistema cardiovascular. Verapamil e diltia-          Os medicamentos preferenciais para o controle da pressão
      zem podem provocar depressão miocárdica e bloqueio atrio-            arterial em monoterapia inicial são diuréticos, betabloqueado-
      ventricular. Bradicardia excessiva também tem sido relatada          res, antagonistas dos canais de cálcio, inibidores da enzima
      com essas duas drogas e com o mibefradil especialmente quan-         conversora da angiotensina e antagonistas do receptor da an-
      do utilizados em associação com betabloqueadores. Obstipa-           giotensina II.
      ção intestinal é um efeito indesejável observado principalmente          O tratamento deve ser individualizado e a escolha inicial do
      com verapamil.                                                       medicamento como monoterapia deve basear-se no mecanismo
      20




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Iii consenso bras_hip_arterial

  • 1. CAPÍTULO 1 Hipertensão Arterial - Hipertensão Arterial - Diagnóstico e Classificação O diagnóstico da hipertensão arterial é basicamente estabe- flar rapidamente e aguardar de 15 a 30 segundos antes de inflar lecido pelo encontro de níveis tensionais permanentemente ele- novamente. vados acima dos limites de normalidade, quando a pressão arte- rial é determinada por meio de métodos e condições apropria- 9 - Colocar o estetoscópio nos ouvidos, com a curvatura vol- dos. Portanto, a medida da pressão arterial é o elemento-chave tada para a frente. para o estabelecimento do diagnóstico da hipertensão arterial. 10 - Posicionar a campânula do estetoscópio suavemente sobre a artéria braquial, na fossa antecubital, evitando compres- Medida Indireta da Pressão Arterial são excessiva. A medida da pressão arterial, pela sua importância, deve ser estimulada e realizada, em toda avaliação de saúde, por 11 - Solicitar ao paciente que não fale durante o procedi- médicos de todas as especialidades e demais profissionais da mento de medição. área de saúde. O esfigmomanômetro de coluna de mercúrio é o ideal para 12 - Inflar rapidamente, de 10 mmHg em 10 mmHg, até o essas medidas. Os aparelhos do tipo aneróide, quando usados, nível estimado da pressão arterial. devem ser periodicamente testados e devidamente calibrados. A medida da pressão arterial deve ser realizada na posição sen- 13 - Proceder à deflação, com velocidade constante inicial tada, de acordo com o procedimento descrito a seguir: de 2 mmHg a 4 mmHg por segundo, evitando congestão venosa e desconforto para o paciente. 1 - Explicar o procedimento ao paciente. 14 - Determinar a pressão sistólica no momento do apareci- 2 - Certificar-se de que o paciente: mento do primeiro som (fase I de Korotkoff), que se intensifica • não está com a bexiga cheia; com o aumento da velocidade de deflação. • não praticou exercícios físicos; • não ingeriu bebidas alcoólicas, café, alimentos, 15 - Determinar a pressão diastólica no desaparecimento do ou fumou até 30 minutos antes da medida. som (fase V de Korotkoff), exceto em condições especiais. Aus- cultar cerca de 20 mmHg a 30 mmHg abaixo do último som 3 - Deixar o paciente descansar por 5 a 10 minutos em ambi- para confirmar seu desaparecimento e depois proceder à defla- ente calmo, com temperatura agradável. ção rápida e completa. Quando os batimentos persistirem até o nível zero, determinar a pressão diastólica no abafamento dos 4 - Localizar a artéria braquial por palpação. sons (fase IV de Korotkoff). 5 - Colocar o manguito firmemente cerca de 2 cm a 3 cm acima da fossa antecubital, centralizando a bolsa de borracha 16 - Registrar os valores das pressões sistólica e diastólica, sobre a artéria braquial. A largura da bolsa de borracha do man- complementando com a posição do paciente, o tamanho do guito deve corresponder a 40% da circunferência do braço e seu manguito e o braço em que foi feita a mensuração. Deverá ser comprimento, envolver pelo menos 80% do braço. Assim, a lar- registrado sempre o valor da pressão obtido na escala do manô- gura do manguito a ser utilizado estará na dependência da cir- metro, que varia de 2 mmHg em 2 mmHg, evitando-se arredon- cunferência do braço do paciente (Tabela I). damentos e valores de pressão terminados em “5”. 6 - Manter o braço do paciente na altura do coração. 17 - Esperar 1 a 2 minutos antes de realizar novas medidas. 7 - Posicionar os olhos no mesmo nível da coluna de mercú- 18 - O paciente deve ser informado sobre os valores da pres- rio ou do mostrador do manômetro aneróide. são arterial e a possível necessidade de acompanhamento. 8 - Palpar o pulso radial e inflar o manguito até seu desapa- A Tabela I a seguir apresenta os diferentes tamanhos de man- recimento, para a estimativa do nível da pressão sistólica, desin- guito, de acordo com a circunferência do braço. 1 III-CBHA.pm6 1 20/12/01, 15:31
  • 2. III CBHA Tabela I Dimensões recomendadas da bolsa inflável do manguito (“American Heart Association”). Circunferência Denominação Largura Comprimento do braço (cm) do manguito da bolsa (cm) da bolsa (cm) 5-7,5 Recém-nascido 3 5 7,5-13 Lactente 5 8 13-20 Criança 8 13 17-24 Adulto magro 11 17 24-32 Adulto 13 24 32-42 Adulto obeso 17 32 42-50 Coxa 20 42 Para a medida da pressão arterial na coxa, o procedimento é • avaliar a eficácia da terapêutica anti-hipertensiva; o seguinte: • estimular a adesão ao tratamento; e • Utilizar manguito de tamanho adequado, colocado no ter- • reduzir custos. ço inferior da coxa. Os aparelhos eletrônicos devidamente validados e calibra- • Colocar o paciente em decúbito ventral. dos são os mais indicados para a medida da pressão arterial do- • Realizar a ausculta na artéria poplítea. miciliar. Os aparelhos de coluna de mercúrio e os aneróides po- Na medida da pressão arterial na posição ereta, o braço deve dem ser usados, desde que calibrados e após treinamento apro- ser mantido na altura do coração, com apoio. Na presença de priado. Os aparelhos de medida da pressão arterial no dedo não fibrilação atrial, pela dificuldade de determinação da pressão são recomendados. arterial, deverão ser considerados os valores aproximados. Nos Apesar de ainda não existir consenso quanto aos valores de indivíduos idosos, portadores de disautonomia, alcoólatras e/ou normalidade para a medida da pressão arterial domiciliar, con- em uso de medicação anti-hipertensiva, a pressão arterial deve sideram-se valores normais até 135/85 mmHg. ser medida também na posição ortostática. Tomadas na consulta - Em cada consulta, deverão ser realiza- das no mínimo duas medidas, com intervalo de 1 a 2 minutos entre elas; caso as pressões diastólicas obtidas apresentem diferenças Medida Ambulatorial da superiores a 5 mmHg, sugere-se que sejam realizadas novas aferi- Pressão Arterial (MAPA) ções, até que seja obtida medida com diferença inferior a esse va- lor. De acordo com a situação clínica presente, recomenda-se que A MAPA é um método automático de medida indireta e in- as medidas sejam repetidas em pelo menos duas ou mais visitas.As termitente da pressão arterial durante 24 horas, enquanto o pa- medições na primeira avaliação devem ser obtidas em ambos os ciente realiza suas atividades rotineiras, inclusive durante o sono. membros superiores. As posições recomendadas na rotina para a Estudos têm demonstrado que esse método apresenta melhor medida da pressão arterial são sentada e/ou deitada. correlação com risco cardiovascular do que a medida da pres- são arterial de consultório. As principais indicações para o uso desse método, de acordo com o II Consenso de MAPA, estão Medida Domiciliar e apresentadas no Quadro 1. Automedida da Pressão Arterial É importante ressaltar que ainda não existe evidência de que esse método deva ser empregado na avaliação rotineira Esses procedimentos são úteis para: do paciente hipertenso, não substituindo, portanto, a avalia- • identificar a hipertensão do avental branco (hipertensão de ção clínica do paciente e a medida da pressão arterial de con- consultório isolada); sultório 2 III-CBHA.pm6 2 20/12/01, 15:31
  • 3. HIPERTENSÃO ARTERIAL - DIAGNÓSTICO E CLASSIFICAÇÃO Quadro 1 Indicações para a MAPA. • Hipertensão de consultório (hipertensão do avental branco) • Hipertensão arterial limítrofe • Hipertensão episódica • Avaliação do efeito terapêutico anti-hipertensivo, quando existirem dúvidas no controle da pressão arterial em 24 horas • Outras: sintomas sugestivos de hipotensão, suspeita de disfunção autonômica, episódios de síncope e pesquisa clínica Situações Especiais de Obesos Em pacientes obesos, deve-se utilizar manguito de tamanho Medida da Pressão Arterial adequado à circunferência do braço (Tabela I). Na ausência deste, pode-se: Crianças • corrigir a leitura obtida com manguito padrão (13 cm x 24 A determinação da pressão arterial em crianças é recomen- cm), de acordo com a tabelas próprias; dada como parte integrante de sua avaliação clínica. À seme- • usar fita de correção aplicada no manguito; e lhança dos critérios já descritos para adultos: • colocar o manguito no antebraço e auscultar a artéria radi- 1) A largura da bolsa de borracha do manguito deve corres- al, sendo esta a forma menos recomendada. ponder a 40% da circunferência do braço. 2) O comprimento da bolsa do manguito deve envolver 80% a 100% da circunferência do braço. Critérios Diagnósticos 3) A pressão diastólica deve ser determinada na fase V de e Classificação Korotkoff. Qualquer número é arbitrário e qualquer classificação, insu- Idosos ficiente. A necessidade de sistematização obriga uma definição Na medida da pressão arterial do idoso, existem dois aspec- operacional para separar indivíduos sãos dos doentes. Na realida- tos importantes: de, podemos ter maior ou menor risco cardiovascular tanto acima 1) Maior freqüência de hiato auscultatório, que subestima a como abaixo do número limítrofe, quando o paciente é conside- verdadeira pressão sistólica. rado individualmente. Pelo exposto, enfatiza-se a necessidade de 2) Pseudo-hipertensão, caracterizada por nível de pressão extrema cautela antes de rotular alguém como hipertenso, tanto arterial falsamente elevado em decorrência do enrijecimento da pelo risco de falso-positivo como pela repercussão na própria saúde parede da artéria. Pode ser detectada por meio da manobra de do indivíduo e o custo social resultante. Aceita-se como normal Osler, que consiste na inflação do manguito até o desapareci- para indivíduos adultos (com mais de 18 anos de idade) cifras mento do pulso radial. Se a artéria continuar palpável após esse inferiores a 85 mmHg de pressão diastólica e inferiores a 130 procedimento, o paciente é considerado Osler positivo. mmHg de pressão sistólica (Tabela II). A inclusão do grupo com cifras tensionais normal limítrofe Gestantes de 130-139 mmHg/85-89 mmHg deve-se ao fato de que esses Devido às alterações na medida da pressão arterial em dife- indivíduos se beneficiarão com as medidas preventivas. rentes posições, atualmente recomenda-se que a medida da pres- A Tabela III apresenta os valores da pressão arterial refe- são arterial em gestantes seja feita na posição sentada. A deter- rentes aos percentis 90 e 95 de pressão arterial em crianças e minação da pressão diastólica deverá ser considerada na fase V jovens de acordo com os percentis 50 e 75 de estatura: de Korotkoff. Eventualmente, quando os batimentos arteriais • valores abaixo do percentil 90 = normotensão; permanecerem audíveis até o nível zero, deve-se utilizar a fase • entre os percentis 90 e 95 = normal limítrofe; IV para registro da pressão arterial diastólica. • acima do percentil 95 = hipertensão arterial. 3 III-CBHA.pm6 3 20/12/01, 15:31
  • 4. III CBHA Tabela II Classificação diagnóstica da hipertensão arterial (> 18 anos de idade). PAD PAS (mmHg) (mmHg) Classificação < 85 < 130 Normal 85-89 130-139 Normal limítrofe 90-99 140-159 Hipertensão leve (estágio 1) 100-109 160-179 Hipertensão moderada (estágio 2) > 110 > 180 Hipertensão grave (estágio 3) < 90 > 140 Hipertensão sistólica isolada Tabela III Valores da pressão arterial em crianças e adolescentes. SEXO MASCULINO SEXO FEMININO Estatura: Pressão arterial Estatura: Pressão arterial percentil (mmHg) percentil (mmHg) Idade e valor e valor (anos) em cm Percentil 90 Percentil 95 em cm Percentil 90 Percentil 95 1 50 th (76) 98/53 102/57 50 th (74) 100/54 104/58 75 th (78) 100/54 104/58 75 th (77) 102/55 105/59 3 50 th (97) 105/61 109/65 50 th (96) 103/62 107/66 75 th (99) 107/62 111/66 75 th (98) 104/63 108/67 6 50 th (116) 110/70 114/74 50 th (115) 107/69 111/73 75 th (119) 111/70 115/75 75 th (118) 109/69 112/73 9 50 th (132) 113/74 117/79 50 th (132) 113/73 117/77 75 th (136) 115/75 119/80 75 th (137) 114/74 118/78 12 50 th (150) 119/77 123/81 50 th (152) 119/76 123/80 75 th (155) 121/78 125/82 75 th (155) 120/77 124/81 15 50 th (168) 127/79 131/83 50 th (161) 124/79 128/83 75 th (174) 129/80 133/84 75 th (166) 125/80 129/84 17 50 th (176) 133/83 136/87 50 th (163) 125/80 129/84 75 th (180) 134/84 138/88 75 th (167) 126/81 130/85 4 III-CBHA.pm6 4 20/12/01, 15:31
  • 5. HIPERTENSÃO ARTERIAL - DIAGNÓSTICO E CLASSIFICAÇÃO Por exemplo, um menino com 12 anos de idade, medindo 155 tensional de 124/80 mmHg o faria ser considerado hipertenso. Como cm de altura (percentil 75) e apresentando pressão arterial de 118/ outro exemplo, uma menina com 1 ano de idade, 77 cm de altura 76 mmHg será considerado normotenso. Já outro menino de mes- (percentil 75) e pressão arterial de 107/64 mmHg será considerada ma idade e mesma altura mas com pressão arterial de 124/80 mmHg hipertensa; em contrapartida, se essa mesma pressão arterial for será considerado normal limítrofe. Se esta segunda criança, ao in- encontrada em uma menina de 3 anos de idade com 96 cm de altu- vés de 155 cm, tivesse estatura de 150 cm (percentil 50), o nível ra (percentil 50), a criança será considerada normal limítrofe. Rotina Diagnóstica e de Seguimento De acordo com a situação clínica presente, recomenda-se novas aferições, até que seja obtida medida com diferença infe- que as medidas sejam repetidas em pelo menos duas ou mais rior a esse valor. As recomendações para o seguimento estão visitas. As medições na primeira avaliação devem ser obtidas apresentadas na Tabela IV. em ambos os membros superiores. As posições recomenda- De acordo com a situação clínica presente, recomenda-se das na rotina para a medida da pressão arterial são sentada e/ que as medidas sejam repetidas em pelo menos duas ou mais ou deitada. visitas. As medições na primeira avaliação devem ser obtidas Para a confirmação do diagnóstico, em cada consulta, deve- em ambos os membros superiores. rão ser realizadas no mínimo duas medidas, com intervalo de 1 Nos indivíduos idosos, portadores de disautonomia, alcoó- a 2 minutos entre elas; caso as pressões obtidas apresentem di- latras e/ou em uso de medicação anti-hipertensiva, a pressão ferenças superiores a 6 mmHg, sugere-se que sejam realizadas arterial deve ser medida também na posição ortostática. Tabela IV Recomendações para seguimento (prazos máximos).* Pressão arterial inicial (mmHg)** Sistólica Diastólica Seguimento < 130 < 85 Reavaliar em 1 ano 130-139 85-89 Reavaliar em 6 meses 140-159 90-99 Confirmar em 2 meses 160-179 100-109 Confirmar em 1 mês > 180 > 110 Intervenção imediata ou reavaliar em 1 semana * Modificar o esquema de seguimento de acordo com a condição clínica do paciente. ** Se as pressões sistólica ou diastólica forem de categorias diferentes, o seguimento recomendado é definido como de menor tempo. 5 III-CBHA.pm6 5 20/12/01, 15:31
  • 6. III CBHA CAPÍTULO 2 Hipertensão Arterial - Hipertensão Arterial - Investigação Clínico Laboratorial e Decisão Terapêutica Os principais objetivos da avaliação clínico laboratorial es- 4 - História pregressa de doença arterial coronariana, insufi- tão apresentados no Quadro 2. ciência cardíaca, doença cerebrovascular, insuficiência vascu- Para que esses objetivos sejam atingidos, são fundamentais lar arterial periférica, doença renal e diabete melito. a história clínica, o exame físico e a avaliação laboratorial, res- peitando-se o princípio de custo/benefício. 5 - História familiar de acidente vascular encefálico, doença arterial coronariana prematura (homens < 55 anos; mulheres < 65 anos), doença renal, diabete melito, dislipidemia, morte pre- matura e súbita. Quadro 2 6 - Perfil psicossocial: fatores ambientais e psicossociais, Objetivos da investigação sintomas de depressão, situação familiar, condições de trabalho e grau de escolaridade. clínico laboratorial. 7 - Avaliação dietética, incluindo consumo de sal, bebidas • Confirmar a elevação da pressão arterial alcoólicas, gordura saturada e cafeína. • Avaliar lesões de órgãos-alvo 8 - Consumo de medicamentos ou drogas que possam elevar a pressão arterial ou interferir em seu tratamento. • Identificar fatores de risco para doenças cardiovasculares • Diagnosticar a etiologia da hipertensão arterial Exame Físico Os ítens relacionados a seguir dever ser destacados no exa- me físico: 1 - Medida de peso e altura, para cálculo do índice de massa corporal. 2 - Inspeção: fácies e aspecto físico sugestivos de hiperten- História Clínica são secundária (Quadro 3). 3 - Sinais vitais: duas medidas da pressão arterial, separadas São aspectos relevantes da história clínica: por intervalo de pelo menos 2 minutos, com o paciente em posi- 1 - Identificação: sexo, idade, raça e condição socioeconô- ção deitada ou sentada. Deve ser medida também a pressão após mica. 2 minutos na posição em pé, nas situações especificadas anteri- ormente. Verificar a pressão do braço contralateral; caso as pres- 2 - História atual: duração conhecida da hipertensão arterial sões sejam diferentes, considerar a mais elevada. A freqüência e níveis de pressão arterial; adesão e reações adversas a trata- cardíaca também deve ser medida. mentos prévios; sintomas de doença arterial coronariana, insu- ficiência cardíaca, doença cerebrovascular, insuficiência vas- 4 - Pescoço: palpação e ausculta das artérias carótidas, veri- cular arterial periférica, doença renal e diabete melito; indícios ficação da presença de estase venosa e palpação de tireóide. de hipertensão secundária (Quadro 3). 5 - Exame do precórdio: icto sugestivo de hipertrofia ou di- 3 - Investigação sobre diversos aparelhos e fatores de risco: latação do ventrículo esquerdo, arritmias, 3a bulha (sinaliza dis- dislipidemia, tabagismo, diabete melito, obesidade e sedenta- função sistólica do ventrículo esquerdo) ou 4a bulha (sinaliza rismo; alteração de peso; características do sono; função sexu- presença de disfunção diastólica do ventrículo esquerdo), hi- al; e outras afecções concomitantes, como doença pulmonar obs- perfonese de 2a bulha em foco aórtico, além de sopros nos fo- trutiva crônica e gota. cos mitral e aórtico. 6 III-CBHA.pm6 6 20/12/01, 15:31
  • 7. HIPERTENSÃO ARTERIAL - INVESTIGAÇÃO CLÍNICO LABORATORIAL E DECISÃO TERAPÊUTICA Quadro 3 Indícios de hipertensão secundária. • Início da hipertensão antes dos 30 ou após os 50 anos • Hipertensão arterial grave (estágio 3) e/ou resistente à terapia • Tríade do feocromocitoma: palpitações, sudorese e cefaléia em crises • Uso de medicamentos e drogas que possam elevar a pressão arterial (Quadro 14) • Fácies ou biotipo de doença que cursa com hipertensão: doença renal, hipertireoidismo, acromegalia, síndrome de Cushing • Presença de massas ou sopros abdominais • Diminuição da amplitude ou retardo do pulso femoral • Aumento da creatinina sérica • Hipopotassemia espontânea (< 3,0 mEq/l) • Exame de urina anormal (proteinúria ou hematúria) 6 - Exame do pulmão: ausculta de estertores, roncos e sibilos. 7 - Exame do abdome: massas abdominais indicativas de rins policísticos, hidronefrose, tumores e aneurismas. Identifi- cação de sopros abdominais (aorta e artérias renais). 8 - Extremidades: palpação de pulsos braquiais, radiais, fe- morais, tibiais posteriores e pediosos. A diminuição da amplitu- Quadro 4 de ou o retardo do pulso das artérias femorais sugerem doença obstrutiva ou coartação da aorta. Verificação de edema. Avaliação laboratorial básica. 9 - Exame neurológico sumário. • Exame de urina: bioquímica e sedimento 10 - Exame de fundo do olho: identificar estreitamento arte- • Creatinina riolar, cruzamentos arteriovenosos patológicos, hemorragias, exsudatos e papiledema. • Potássio • Glicemia Avaliação Laboratorial • Colesterol total Avaliação básica Os exames laboratoriais recomendados como básicos na ava- • Eletrocardiograma de repouso liação do hipertenso estão apresentados no Quadro 4. 7 III-CBHA.pm6 7 20/12/01, 15:31
  • 8. III CBHA Avaliação complementar De acordo com a indicação clínica, os exames relacionados Os pacientes que apresentarem indícios de hipertensão se- no Quadro 5 poderão fazer parte da avaliação laboratorial com- cundária (Quadro 3) ou de lesão em órgãos-alvo devem ser in- plementar do paciente hipertenso. vestigados por meio de métodos específicos. Quadro 5 Avaliação laboratorial complementar Cardiovascular • Monitorização Ambulatorial da Pressão Arterial (MAPA — vide Capítulo 1 quanto a indicações) • Ecocardiograma • Radiografia de tórax • Teste de esforço (paciente com risco coronariano) Bioquímica • HDL-colesterol (sempre que o colesterol total e a glicemia estiverem elevados) • Triglicerídeos • Ácido úrico • Proteinúria de 24 horas • Hematócrito e hemoglobina • Cálcio • TSH Decisão Terapêutica A decisão terapêutica deve levar em conta, além dos valores tratamento medicamentoso inicial. O tratamento medicamento- da pressão arterial, a presença ou não de lesões em órgãos-alvo so também está indicado para os pacientes hipertensos com le- e de fatores de risco cardiovascular associados. No Quadro 6 são em órgãos-alvo, ou doença cardiovascular, ou diabete meli- estão apresentados os componentes para a estratificação do ris- to, independentemente do estágio da hipertensão arterial. Paci- co individual dos pacientes em função da presença de fatores de entes com valores de pressão arterial enquadrados na faixa nor- risco e de lesão em órgãos-alvo. mal limítrofe mas pertencentes ao grupo de risco C devem rece- Com base nessas informações, os pacientes podem ser clas- ber tratamento medicamentoso caso apresentem insuficiência sificados em três grupos, descritos no Quadro 7. cardíaca, insuficiência renal, ou diabete melito. Na hipertensão A Tabela V apresenta a orientação terapêutica baseada na leve (estágio 1), os pacientes enquadrados nos grupos de risco estratificação do risco e nos níveis da pressão arterial. As medi- A e B são elegíveis para ser tratados unicamente com modifica- das de modificação de estilo de vida podem ser recomendadas à ções no estilo de vida por 6 a 12 meses. Se, nesse período de população em geral, como forma de promoção da saúde. Além acompanhamento, a pressão arterial não for controlada, o trata- disso, essas medidas devem ser instituídas em todos os pacien- mento medicamentoso deverá ser considerado. A idade avança- tes enquadrados na Tabela V. Todos os pacientes com hiperten- da ou a presença de pressão sistólica elevada isoladamente não são arterial moderada e severa (estágios 2 e 3) devem receber alteram a decisão terapêutica. 8 III-CBHA.pm6 8 20/12/01, 15:31
  • 9. HIPERTENSÃO ARTERIAL - INVESTIGAÇÃO CLÍNICO LABORATORIAL E DECISÃO TERAPÊUTICA Quadro 6 Componentes para a estratificação do risco individual dos pacientes em função da presença de fatores de risco e de lesão em órgãos-alvo. Fatores de risco maiores Lesões em órgãos-alvo ou doenças cardiovasculares • Tabagismo • Doenças cardíacas: - hipertrofia ventricular esquerda; • Dislipidemia - angina ou infarto prévio do miocárdio; - revascularização miocárdica prévia; • Diabete melito - insuficiência cardíaca. • Idade acima de 60 anos • Episódio isquêmico ou acidente vascular encefálico • Sexo: homens ou mulheres pós-menopausa • Nefropatia • História familiar de doença cardiovascular em: • Doença vascular arterial periférica - mulheres com menos de 65 anos de idade - homens com menos de 55 anos de idade • Retinopatia hipertensiva Quadro 7 Estratificação em grupos, de acordo com o fator de risco individual. Grupo A sem fatores de risco e sem lesões em órgãos-alvo Grupo B presença de fatores de risco (não incluindo diabete melito) e sem lesão em órgão-alvo Grupo C presença de lesão em órgãos-alvo, doença cardiovascular clinicamente identificável e/ou diabete melito Tabela V Decisão terapêutica baseada na estratificação do risco e nos níveis de pressão. Pressão arterial Grupo A Grupo B Grupo C Normal limítrofe Modificações no Modificações no Modificações no (130-139 mmHg/85-89 mmHg) estilo de vida estilo de vida estilo de vida* Hipertensão leve (estágio 1) Modificações no Modificações no Terapia (140-159 mmHg/90-99 mmHg) estilo de vida estilo de vida** medicamentosa (até 12 meses) (até 6 meses) Hipertensão moderada e severa Terapia Terapia Terapia (estágios 2 e 3) medicamentosa medicamentosa medicamentosa (> 160 mmHg/> 100 mmHg) * Tratamento medicamentoso deve ser instituído na presença de insuficiência cardíaca, insuficiência renal, ou diabete melito. ** Pacientes com múltiplos fatores de risco podem ser considerados para o tratamento medicamentoso inicial. 9 III-CBHA.pm6 9 20/12/01, 15:31
  • 10. CAPÍTULO 3 III CBHA Hipertensão Arterial - Hipertensão Arterial - Abordagem Multiprofissional do Hipertenso Introdução Para que a equipe seja composta, cada local de trabalho deve adequar sua realidade. Isso significa que não são necessários Pelo fato de a hipertensão arterial ser multicausal e multifa- todos os profissionais, nem todos os equipamentos para a for- torial, por não acarretar, na maioria das vezes, qualquer sintoma mação desse grupo de ação, bastando conhecimento, boa von- aos pacientes e por envolver orientações voltadas para vários tade e determinação. objetivos, o sucesso na consecução dessas metas é bastante li- A seguir estão relacionadas as principais vantagens desse mitado quando decorre da ação de um único profissional. Esse tipo de atuação: fato talvez justifique o baixo índice de sucesso e de adesão ob- tido quando os cuidados aos pacientes são realizados por um 1 - O número de pessoas atendidas será maior e tão maior único profissional de saúde, classicamente o médico. quanto mais afinada estiver a equipe em seus diversos modos Objetivos múltiplos exigem diferentes abordagens e a for- de abordagem. mação de uma equipe multiprofissional, que irá proporcionar essa ação diferenciada. 2 - A adesão ao tratamento será nitidamente superior. Tratar e até mesmo prevenir a hipertensão arterial envolve, fundamentalmente, ensinamentos para que se processem mu- 3 - O número de pacientes com pressão arterial controlada e danças do hábitos de vida, tanto no que se refere ao tratamento adotando hábitos de vida saudáveis será, conseqüentemente, não-medicamentoso quanto ao tratamento com agentes anti-hi- muito maior. pertensivos. A consecução dessas mudanças é lenta e, na maio- ria das vezes, penosa, e por serem medidas educativas, necessi- 4 - Cada paciente poderá ser um replicador de conhecimen- tam continuidade em sua implementação. tos sobre esses hábitos. É considerando exatamente esse aspecto que o trabalho da equipe multiprofissional, ao invés do médico isoladamente, po- 5 - Haverá favorecimento do desenvolvimento de ações de derá dar aos pacientes e à comunidade uma gama muito maior pesquisa em serviço, já que a sistematização do atendimento de informações, procurando torná-los participantes ativos das possibilita esse tipo de atuação. ações que a eles estarão sendo dirigidas, e com motivação sufi- Existem, ainda, vantagens adicionais, como o crescimento ciente para vencer o desafio de adotar atitudes que tornem essas profissional de cada um pela constante troca de informações e ações efetivas e definitivas. pela maior confiança individual e do serviço como um todo, servindo, inclusive, de incentivo para outros setores espelhados no trabalho coeso da equipe. A Equipe A equipe multiprofissional pode e deve ser constituída por Ações Comuns à Equipe profissionais que, de uma forma ou de outra, lidem com pacien- Multiprofissional tes hipertensos. Médicos, enfermeiros, técnicos de enfermagem, auxiliares de enfermagem, nutricionistas, psicólogos, assisten- A seguir estão descritas as ações comuns a todos os mem- tes sociais, professores de educação física, farmacêuticos e, in- bros da equipe: clusive, funcionários administrativos e agentes comunitários em saúde podem integrar a equipe. Isso não implica, entretanto, na 1 - Ações educativas (educação preventiva, modificação de necessidade da existência de todo esse grupo para a formação fatores de risco, produção de material educativo). da equipe. Quando se aglutina mais de um profissional, desde que imbuídos do mesmo espírito, pode estar sendo constituída 2 - Treinamento de profissionais. uma equipe multiprofissional. O que determina a existência dessa equipe é a filosofia de trabalho, que, em última análise, visa ao 3 - Encaminhamento a outros profissionais, quando indicado. bem-estar dos pacientes e das pessoas de maneira geral. Os membros de um grupo multiprofissional, respeitada a especifi- 4 - Ações assistenciais, individuais e em grupo. cidade de sua ação dada pela sua formação básica, devem co- nhecer a ação individual de cada um dos outros membros. 5 - Participação em projetos de pesquisa. 10 III-CBHA.pm6 10 20/12/01, 15:31
  • 11. HIPERTENSÃO ARTERIAL - ABORDAGEM MULTIPROFISSIONAL DO HIPERTENSO Ações Específicas Individuais Psicóloga A participação da psicóloga consiste de: • consulta de psicologia: avaliação, diagnóstico e tratamento Apesar de haver uma definição bastante clara do papel que de aspectos emocionais que interfiram com a qualidade de vida será exercido pelos diferentes profissionais, haverá momentos do paciente; em que as funções serão comuns, e isso deve acontecer de ma- • atendimento a familiares, para facilitar as mudanças de neira natural. Essa naturalidade só será possível na imbricação hábitos de vida do paciente e sua adesão ao tratamento; de funções se for adotada, por ocasião da constituição do gru- • consulta com outros profissionais para esclarecer a melhor po, uma perfeita uniformidade de linguagem, evitando-se, as- abordagem do paciente; sim, que idéias ou terminologias conflitantes possam dificultar • constituir grupo de apoio para maior harmonia da equipe; o processo educativo do paciente. • atendimento a grupos de pacientes, possibilitando a inova- Uma vez diagnosticada a hipertensão arterial, seja qual for o ção e a adequação de modelos que viabilizem melhor adesão. meio, é iniciada efetivamente a ação da equipe. Assistente social A participação da assistente social consiste de: Enfermeira • entrevista social: para identificação socioeconômica e fa- A consulta de enfermagem consiste de: miliar, caracterização da situação de trabalho e previdência, e • aferição da pressão arterial; levantamento de expectativas para o tratamento; • investigação sobre fatores de risco e hábitos de vida; • atualização do cadastro de recursos sociais (para encami- • orientação sobre o uso de medicamentos e seus efeitos co- nhamento do atendimento das dificuldades dos pacientes e fa- laterais, avaliação de sintomas, reforço a orientações sobre há- mília que possam interferir na terapêutica); bitos de vida pessoais e familiares; • busca ativa de faltosos. • administração do serviço: controle de retornos, busca de faltosos e controle de consultas agendadas. As atividades do técnico/auxiliar de enfermagem serão de- legadas pelo enfermeiro. Professor de Educação Física A participação do professor de Educação Física consiste de: • programação e supervisão das atividades físicas dos paci- entes, adequando-as às realidades locais; Médico A participação do médico consiste de: • consulta médica (ver Avaliação Clínica); Farmacêutico • responsabilidade pelas condutas terapêuticas aos pacientes A participação do farmacêutico consiste de: em consonância com as regras gerais do Consenso (ver capítu- • planificação do quantitativo de drogas no serviço; los pertinentes); • manuseio e cuidados com o uso dos medicamentos. • revisão da avaliação clínica dos pacientes com pressão con- trolada pelo menos uma vez por ano; • apoio aos demais membros, quando solicitado. Funcionários administrativos A participação dos funcionários administrativos consiste de: • recepção dos pacientes e controle de consultas e reuniões Nutricionista agendadas. A participação da nutricionista consiste de: • consulta de nutrição: avaliação nutricional e de hábitos ali- mentares; • educação nutricional individual e em grupo; Agentes comunitários em saúde • prescrição de dietas, resguardando aspectos socioeconô- São o elo entre a equipe multiprofissional e a comunidade. micos e culturais; Suas ações são: • criação de modelos que possibilitem a implementação dos • coleta de dados referentes à hipertensão; conhecimentos alimentares e nutricionais, em consonância com • sugestão de encaminhamento para Unidades de Saúde de as recomendações para os pacientes hipertensos, traduzidas em Referência; preparações alimentares saborosas e práticas. • ações educativas primárias, visando à promoção da saúde. 11 III-CBHA.pm6 11 20/12/01, 15:31
  • 12. III CBHA Ações em Grupo Reuniões com pacientes Programas comunitários São ações educativas e terapêuticas em saúde, desenvolvi- Dada a escassez de recursos, a equipe multiprofissional deve das com grupos de pacientes e seus familiares, sendo adicionais procurar estimular, por meio dos pacientes, dos representantes as atividades individuais. da comunidade e da sociedade civil, o desenvolvimento de ati- A convivência estimula a relação social, possibilita a troca vidades comunitárias, que terão grande força de pressão para a de informações e permite apoio mútuo. O paciente, nesse tipo implementação das mais diversas ações governamentais ou não de atividade, identifica-se com outros pacientes com proble- em benefício da saúde da comunidade. mas semelhantes, aprendendo a expressar seus medos e ex- É preciso ressaltar, novamente, que não há necessidade da pectativas. Passa a compartilhar das experiências de todos e a existência de todos os profissionais nos grupos de atendimento discutir, buscando soluções reais para problemas de saúde se- multiprofissional a ser constituídos. O número de componentes melhantes aos seus. importa pouco, o tipo de profissional de saúde é secundário. O que determina o bom funcionamento do grupo é sua filosofia Reuniões da equipe de trabalho: caminhar unido na mesma direção. Atividades periódicas com a participação de todo o grupo, para a análise crítica das atividades desenvolvidas, acerto de arestas e novas orientações, caso necessário. 12 III-CBHA.pm6 12 20/12/01, 15:31
  • 13. CAPÍTULO 4 Hipertensão Arterial - Hipertensão Arterial - Tratamento Não-Medicamentoso ou Modificações do Estilo de Vida O tratamento não-medicamentoso tem, como principal ob- ponente para a hipertensão. Todos os hipertensos com excesso jetivo, diminuir a morbidade e a mortalidade cardiovasculares de peso devem ser incluídos em programas de redução de peso por meio de modificações do estilo de vida que favoreçam a de modo a alcançar Índice de Massa Corpórea (IMC) inferior a redução da pressão arterial. 25 kg/m² e Relação Cintura-Quadril (RCQ) inferior a 0,8 para Está indicado a todos os hipertensos e aos indivíduos mes- as mulheres e a 0,9 para os homens, em razão de sua associação mo que normotensos, mas de alto risco cardiovascular. Dentre com risco cardiovascular aumentado. essas modificações, as que comprovadamente reduzem a pres- As recomendações genéricas para a redução do peso corpo- são arterial são: redução do peso corporal, da ingestão do sal e ral compreendem: do consumo de bebidas alcoólicas, prática de exercícios físicos • princípios dietéticos; e com regularidade, e a não-utilização de drogas que elevam a • programas de atividade física. pressão arterial. As razões que tornam as modificações do esti- Os princípios da terapia dietética estão apresentados no lo de vida úteis são: Quadro 8. • baixo custo e risco mínimo; Para a manutenção do peso desejável a longo prazo, é ne- • redução da pressão arterial, favorecendo o controle de ou- cessária a adequação dietética individualizada, com particular tros fatores de risco; atenção aos aspectos socioeconômicos e culturais e à motivação • aumento da eficácia do tratamento medicamentoso; e dos pacientes. • redução do risco cardiovascular. Redução na Ingestão de Sal/Sódio Redução do Peso Corporal O sal (cloreto de sódio — NaCl) há muito tempo tem sido O excesso de peso corporal tem forte correlação com o au- considerado importante fator no desenvolvimento e na intensida- mento da pressão arterial. O aumento do peso é um fator predis- de da hipertensão arterial. Hoje em dia, a literatura mundial é Quadro 8 Princípios gerais da terapia dietética. • Respeitar dieta hipocalórica balanceada, evitando o jejum ou as dietas “milagrosas” • Manter o consumo diário de colesterol inferior a 300 mg (o consumo de gorduras saturadas não deve ultrapassar 10% do total de gorduras ingeridas) • Substituir gorduras animais por óleos vegetais (mono e poliinsaturados) • Reduzir o consumo de sal a menos de 6 g/dia (1 colher de chá) • Evitar açúcar e doces • Preferir ervas, especiarias e limão para temperar os alimentos • Ingerir alimentos cozidos, assados, grelhados, ou refogados • Utilizar alimentos fonte de fibras (grãos, frutas, cereais integrais, hortaliças e legumes, preferencialmente crus) 13 III-CBHA.pm6 13 20/12/01, 15:31
  • 14. III CBHA praticamente unânime em considerar a forte correlação entre a Para que o efeito hipotensor máximo da restrição salina ingestão excessiva de sal e a elevação da pressão arterial. No âmbito se manifeste, é necessário intervalo de pelo menos 8 sema- populacional, a ingestão de sal parece ser um dos fatores envolvi- nas. É importante salientar que os pacientes deverão ser ori- dos no aumento progressivo da pressão arterial que acontece com entados para a leitura dos rótulos dos alimentos industriali- o envelhecimento. A hipertensão arterial é observada primaria- zados, a fim de observar a presença e a quantidade de sódio mente em comunidades com ingestão de sal superior a 100 mEq/ contidas nos mesmos. dia. Por outro lado, a hipertensão arterial é rara em populações cuja ingestão de sal é inferior a 50 mEq/dia. Essa constatação parece ser independente de outros fatores de risco para hiperten- são arterial, tais como obesidade e alcoolismo. Aumento da Ingestão de Potássio Além da redução da pressão arterial, alguns estudos demons- traram também benefícios da restrição salina na redução da A ingestão do potássio pode ser aumentada pela escolha de mortalidade por acidente vascular encefálico e na regressão da alimentos pobres em sódio e ricos em potássio (feijões, ervilha, hipertrofia ventricular esquerda. A restrição salina pode ainda vegetais de cor verde-escuro, banana, melão, cenoura, beterra- reduzir a excreção urinária de cálcio, contribuindo para a pre- ba, frutas secas, tomate, batata inglesa e laranja). venção da osteoporose em idosos. Essa indicação se justifica pela possibilidade de o potássio Dessa forma, a restrição de sal na dieta é uma medida reco- exercer efeito anti-hipertensivo, ter ação protetora contra danos mendada não apenas para hipertensos, mas para a população de cardiovasculares, e servir como medida auxiliar em pacientes modo geral. Tal orientação deve objetivar ingestão em torno de submetidos a terapia com diuréticos, desde que não existam con- 100 mEq/dia (6 g de sal = 1 colher de chá). Do ponto de vista tra-indicações. prático, deve-se evitar a ingestão de alimentos processados in- Deve-se ter cautela no uso de suplemento medicamentoso à dustrialmente, tais como enlatados, conservas, embutidos e de- base de potássio em pacientes suscetíveis a hiperpotassemia, fumados. Deve-se ainda orientar os pacientes a utilizar o míni- incluindo aqueles com insuficiência renal, ou em uso de inibi- mo de sal no preparo dos alimentos, além de evitar o uso de dores da enzima conversora da angiotensina (ECA), ou bloque- saleiro à mesa, durante as refeições. adores de receptores da angiotensina II. O uso de substitutos de sal contendo cloreto de potássio em O uso de substitutos do sal contendo cloreto de potássio substituição ao NaCl pode ser recomendado aos pacientes, em- em substituição ao NaCl pode ser recomendado aos pacientes bora alguns tenham a palatabilidade como fator limitante. como uma forma de suplementação de potássio, embora al- Quadro 9 Fontes de maior teor de sódio. • Sal de cozinha (NaCl) e temperos industrializados • Alimentos industrializados (“ketchup”, mostarda, shoyu, caldos concentrados) • Embutidos (salsicha, mortadela, lingüiça, presunto, salame, paio) • Conservas (picles, azeitona, aspargo, palmito) • Enlatados (extrato de tomate, milho, ervilha) • Bacalhau, charque, carne seca, defumados • Aditivos (glutamato monossódico) utilizados em alguns condimentos e sopas de pacote • Queijos em geral 14 III-CBHA.pm6 14 20/12/01, 15:31
  • 15. HIPERTENSÃO ARTERIAL - TRATAMENTO NÃO-MEDICAMENTOSO OU MODIFICAÇÕES DO ESTILO DE VIDA guns deles tenham a palatabilidade como fator limitante. O 80% da freqüência cardíaca de reserva, ou 80% acima do con- emprego desses substitutos de sal em pacientes hipertensos sumo máximo de oxigênio, têm pouco efeito sobre a pressão com diminuição da função renal, especialmente se diabéticos arterial de hipertensos. e em uso de inibidores da ECA, deve ser cauteloso devido ao Adicionalmente, baixo nível de capacitação física está asso- risco de hiperpotassemia. ciado a maior risco de óbito por doenças coronariana e cardio- vascular em homens sadios, independentemente dos fatores de risco convencionais. Exercícios isométricos, como levantamento de peso, não são Redução do Consumo recomendáveis para indivíduos hipertensos. Pacientes em uso de Bebidas Alcoólicas de medicamentos anti-hipertensivos que interferem na freqüên- cia cardíaca (como, por exemplo, betabloqueadores) devem ser previamente submetidos a avaliação médica. O consumo excessivo de álcool eleva a pressão arterial e a variabilidade pressórica, aumenta a prevalência de hipertensão, é fator de risco para acidente vascular encefálico, além de ser uma das causas de resistência à terapêutica anti-hipertensiva. Para os hipertensos do sexo masculino que fazem uso de Abandono do Tabagismo bebida alcoólica, é aconselhável que o consumo não ultrapas- se 30 ml de etanol/dia, contidos em 60 ml de bebidas destila- O tabagismo é a mais importante causa modificável de mor- das (uísque, vodca, aguardente, etc.), 240 ml de vinho, ou 720 te, sendo responsável por 1 em cada 6 óbitos. No Brasil, a pre- ml de cerveja. Em relação às mulheres e indivíduos de baixo valência do tabagismo é elevada. Em 1989, existiam 30.6 mi- peso, a ingestão alcoólica não deve ultrapassar 15 ml de eta- lhões de fumantes na população com idade superior a 5 anos, nol/dia. Aos pacientes que não conseguem se enquadrar nes- correspondendo a 23,9% da população dessa faixa etária, o que ses limites de consumo, sugere-se o abandono do consumo de demonstra a relevância do problema em nosso país. bebidas alcoólicas. Ainda que a pressão arterial e a freqüência cardíaca se ele- vem durante o ato de fumar, o uso prolongado de nicotina não se associa a maior prevalência de hipertensão. Além do risco aumentado para a doença coronariana associada ao tabagismo, Exercício Físico Regular indivíduos que fumam mais de uma carteira de cigarros ao dia têm risco 5 vezes maior de morte súbita do que indivíduos não- fumantes. Adicionalmente, o tabagismo colabora para o efeito O exercício físico regular reduz a pressão arterial, além de adverso da terapêutica de redução dos lípides séricos e induz produzir benefícios adicionais, tais como diminuição do peso resistência ao efeito de drogas anti-hipertensivas. corporal e ação coadjuvante no tratamento das dislipidemias, Dentre outras medidas, o tabagismo deve ser combatido da resistência à insulina, do abandono do tabagismo e do con- por colaborar com o risco de câncer e de doenças pulmonares, trole do estresse. Contribui, ainda, para a redução do risco de e por constituir risco para doença coronariana, acidente vas- indivíduos normotensos desenvolverem hipertensão. cular encefálico e morte súbita. Para tanto, é essencial o acon- Exercícios físicos, tais como caminhada, ciclismo, natação selhamento médico precoce, repetido e consistente até o aban- e corrida, realizados numa intensidade entre 50% e 70% da dono definitivo. freqüência cardíaca de reserva (vide fórmula a seguir), ou en- tre 50% e 70% do consumo máximo de oxigênio, com dura- ção de 30 a 45 minutos, três a cinco vezes por semana, redu- zem a pressão arterial de indivíduos hipertensos. Em contra- partida, exercícios físicos muito intensos, realizados acima de Controle das Dislipidemias e do Diabete Melito Quadro 10 A associação de dislipidemia e diabete melito com hiperten- Cálculo da freqüência são é sabidamente deletéria, mesmo que essa associação não afe- cardíaca de exercício. te, necessariamente, os níveis da pressão arterial. A restrição de alimentos ricos em colesterol e gorduras, além dos açúcares sim- Freqüência cardíaca de exercício = ples, atua sobre os fatores de risco convencionais e auxilia no controle do peso corporal. No Quadro 11 estão apresentadas al- (FC máxima - FC basal) (% intensidade) + FC basal gumas das medidas utilizadas para o combate da dislipidemia. onde FC máxima = 220 - idade em anos Os Quadros 12 e 13 apresentam as principais fontes alimen- tares de triglicerídeos, colesterol e gordura saturada. 15 III-CBHA.pm6 15 20/12/01, 15:32
  • 16. III CBHA Quadro 11 Medidas para o combate da dislipidemia. • Aumentar o conteúdo de fibras da dieta • Substituir os carboidratos simples (açúcar, mel e doces) pelos complexos (massas, cereais, frutas, grãos, raízes e legumes) • Restringir bebidas alcoólicas • Aumentar a atividade física • Abandonar o tabagismo • Reduzir a ingestão de gorduras saturadas, utilizando preferencialmente gorduras mono e poliinsaturadas na dieta Quadro 12 Alimentos que provocam aumento dos triglicerídeos. • Todos os alimentos e bebidas preparados com açúcar • Mel e derivados • Cana de açúcar, garapa, melado e rapadura • Bebidas alcoólicas • Todos os alimentos ricos em gordura Quadro 13 Alimentos ricos em colesterol e/ou gorduras saturadas. • Gema de ovo e suas preparações • Porco (banha, carne, “bacon”, torresmo) • Carne de gado com gordura visível • Leite integral, creme de leite, nata, manteiga • Óleo, leite e polpa de coco • Lingüiça, salame, mortadela, presunto, salsicha, sardinha • Azeite de dendê • Frituras com qualquer tipo de gordura • Castanhas, amendoim • Frutos do mar ( camarão, mexilhão, ostras) • Chocolate e derivados • Miúdos (coração, moela, fígado, miolos, rim) • Sorvetes • Pele de frango, couro de peixe • Dobradinha, caldo de mocotó 16 III-CBHA.pm6 16 20/12/01, 15:32
  • 17. HIPERTENSÃO ARTERIAL - TRATAMENTO NÃO-MEDICAMENTOSO OU MODIFICAÇÕES DO ESTILO DE VIDA Suplementação de Cálcio e Magnésio permanente. Em razão de a abordagem do hipertenso ser direci- onada a diversos objetivos, a ação médica é beneficiada com a Não se recomenda a suplementação medicamentosa de cálcio abordagem multiprofissional. ou magnésio para redução da pressão arterial, exceto na deficiên- Vale ressaltar que é de fundamental importância o envolvi- cia destes, embora a manutenção de ingestão adequada de cálcio mento dos familiares do hipertenso na busca das metas a serem seja uma medida recomendável na prevenção da osteoporose. atingidas pelas modificações do estilo de vida. O Quadro 15 apresenta uma análise crítica da eficácia das medidas não-me- dicamentosas discutidas neste capítulo. Medidas Antiestresse Quadro 14 Há evidências de possíveis efeitos do estresse psicossocial na pressão arterial relacionadas a “condições estressantes”, tais Drogas que podem elevar a pressão arterial. como pobreza, insatisfação social, baixo nível educacional, de- • Anticoncepcionais orais semprego, inatividade física e, em especial, aquelas atividades • Antiinflamatórios não-esteróides profissionais caracterizadas por altas demandas psicológicas e baixo controle dessas situações. • Anti-histamínicos descongestionantes Mesmo assim, o papel do tratamento antiestresse e o uso de • Antidepressivos tricíclicos técnicas que visam a modificações de respostas comportamentais no tratamento de pacientes hipertensos ainda não estão definidos. • Corticosteróides, esteróides anabolizantes Técnicas de relaxamento, tais como ioga, “biofeedback”, me- • Vasoconstritores nasais ditação transcendental, “tai chi chuan” e psicoterapia, não são superiores a técnicas fictícias (“sham”) ou a automonitorização. • Carbenoxolona • Ciclosporina Evitar Drogas que Podem • Inibidores da monoaminoxidase (IMAO) Elevar a Pressão Arterial • Chumbo, cádmio, tálio No Quadro 14 estão apresentadas várias drogas que po- • Alcalóides derivados do “ergot” dem ter efeitos hipertensivos, devendo ser evitadas ou des- • Moderadores do apetite continuadas. • Hormônios tireoideanos (altas doses) • Antiácidos ricos em sódio Considerações Gerais sobre • Eritropoetina o Tratamento Não-Medicamentoso • Cocaína Torna-se evidente que quase todas as medidas não-medica- • Cafeína (?) mentosas dependem de mudanças no estilo de vida de forma Quadro 15 Medidas não-medicamentosas para o controle da hipertensão e dos fatores de risco cardiovascular. Medidas com maior eficácia anti-hipertensiva Medidas sem avaliação definitiva Medidas associadas • Redução do peso corporal • Suplementação de cálcio e magnésio • Abandono do tabagismo • Redução da ingestão de sódio • Dietas vegetarianas ricas em fibras • Controle das dislipidemias • Maior ingestão de alimentos ricos em potássio • Medidas antiestresse • Controle do diabete melito • Redução do consumo de bebidas alcoólicas • Evitar drogas que potencialmente elevem a pressão • Exercícios físicos regulares 17 III-CBHA.pm6 17 20/12/01, 15:32
  • 18. III CBHA 5 CAPÍTULO Hipertensão Arterial - Hipertensão Arterial - Tratamento Medicamentoso Objetivos Princípios Gerais do Tratamento Medicamentoso O objetivo primordial do tratamento da hipertensão arterial é a redução da morbidade e da mortalidade cardiovasculares do Depois de decidido o tratamento medicamentoso, devem-se paciente hipertenso, aumentadas em decorrência dos altos níveis observar os critérios relacionados no Quadro 16. tensionais, sendo utilizadas tanto medidas não-medicamentosas isoladas como associadas a medicamentos anti-hipertensivos. Assim, os agentes anti-hipertensivos a serem utilizados no tratamento do paciente hipertenso devem permitir não somente Escolha do Medicamento a redução dos níveis tensionais, mas também a redução da taxa Anti-Hipertensivo de eventos mórbidos cardiovasculares fatais e não-fatais. Até o presente momento, a redução da morbidade e da mor- Os medicamentos anti-hipertensivos de uso corrente em nos- talidade cardiovasculares em hipertensos leves a moderados foi so meio podem ser divididos em 6 grupos, apresentados no demonstrada de forma consistente, em inúmeros estudos, ape- Quadro 17. nas para os diuréticos e betabloqueadores. Qualquer grupo de medicamentos, com exceção dos vasodi- Em relação à pressão arterial, o tratamento medicamentoso latadores de ação direta, pode ser apropriado para o controle da visa a reduzir os níveis de pressão para valores inferiores a 140 pressão arterial em monoterapia inicial, especialmente para paci- mmHg de pressão sistólica e a 90 mmHg de pressão diastólica, entes portadores de hipertensão arterial leve a moderada, que não respeitando-se as características individuais, a co-morbidade e responderam às medidas não-medicamentosas. Sua escolha de- a qualidade de vida dos pacientes. Reduções da pressão para verá ser pautada nos princípios gerais descritos anteriormente. níveis inferiores a 130/85 mmHg podem ser úteis em situações Além do controle da pressão arterial, já mencionado, os anti- específicas, como em pacientes com nefropatia proteinúrica e hipertensivos também devem ser capazes de reduzir a morbida- na prevenção de acidente vascular cerebral. de e a mortalidade cardiovasculares dos hipertensos. Essa capa- Quadro 16 Tratamento medicamentoso: princípios gerais. • O medicamento deve ser eficaz por via oral • Deve ser bem tolerado • Deve permitir a administração do menor número possível de tomadas diárias, com preferência para aqueles com poso- logia de dose única diária • O tratamento deve ser iniciado com as menores doses efetivas preconizadas para cada situação clínica, podendo ser aumentadas gradativamente e/ou associar-se a outro hipotensor de classe farmacológica diferente (deve-se levar em conta que quanto maior a dose, maiores são as probabilidades de surgirem efeitos indesejáveis) • Respeitar um período mínimo de 4 semanas para se proceder o aumento da dose e ou a associação de drogas, salvo em situações especiais • Instruir o paciente sobre a doença, sobre os efeitos colaterais dos medicamentos utilizados e sobre a planificação e os objetivos terapêuticos • Considerar as condições socioeconômicas 18 III-CBHA.pm6 18 20/12/01, 15:32
  • 19. HIPERTENSÃO ARTERIAL - TRATAMENTO MEDICAMENTOSO aumento dos níveis séricos de triglicerídeos, em geral depen- Quadro 17 dente da dose, transitório e de importância clínica ainda não Classes de anti-hipertensivos. comprovada. Em muitos casos, provocam disfunção sexual. Em geral, o aparecimento dos efeitos indesejáveis dos diuréticos está relacionado à dosagem utilizada. • Diuréticos • Inibidores adrenérgicos Inibidores adrenérgicos • Vasodilatadores diretos a) Ação central • Inibidores da enzima conversora da angiotensina Atuam estimulando os receptores alfa-2-adrenérgicos pré- sinápticos (alfametildopa, clonidina e guanabenzo) e/ou os re- • Antagonistas dos canais de cálcio ceptores imidazolidínicos (moxonidina) no sistema nervoso cen- tral, reduzindo a descarga simpática. A eficácia anti-hipertensi- • Antagonistas do receptor da angiotensina II va desse grupo de medicamentos como monoterapia é, em ge- ral, discreta. Até o presente momento, não existe experiência clínica suficiente em nosso meio com o inibidor dos receptores imidazolidínicos. Essas drogas podem ser úteis em associação com medicamentos de outras classes terapêuticas, particular- cidade, já demonstrada para diuréticos e betabloqueadores, tam- mente quando existem evidências de hiperatividade simpática. bém foi observada, recentemente, em um estudo (Syst-Eur) com Entre os efeitos indesejáveis, destacam-se aqueles decorren- pacientes idosos portadores de hipertensão arterial sistólica iso- tes da ação central, como sonolência, sedação, boca seca, fadi- lada tratados com nitrendipina, um antagonista dos canais de ga, hipotensão postural e impotência. Especificamente com a cálcio diidropiridínico, isoladamente ou em associação com o alfametildopa, pode ocorrer ainda, com pequena freqüência, inibidor da ECA enalapril. galactorréia, anemia hemolítica e lesão hepática. O emprego da Estão sendo realizados vários estudos com inibidores da ECA alfametildopa é contra-indicado na presença de disfunção he- e antagonistas do receptor da angiotensina II e com outros anta- pática. No caso da clonidina, destaca-se a hipertensão rebote, gonistas dos canais de cálcio, para avaliar o impacto dessas dro- quando da suspensão brusca da medicação. gas sobre a morbidade e a mortalidade cardiovasculares dos hi- pertensos. Entretanto, até o presente momento não existem da- b) Alfa-1 bloqueadores dos que permitam avaliar a capacidade de essas classes terapêu- Apresentam baixa eficácia como monoterapia, devendo ser ticas influenciar esses parâmetros. utilizados em associação com outros anti-hipertensivos. Podem induzir o aparecimento de tolerância farmacológica, que obriga Diuréticos o uso de doses crescentes. Têm a vantagem de propiciar melho- O mecanismo anti-hipertensivo dos diuréticos está relacio- ra do metabolismo lipídico (discreta) e da urodinâmica (sinto- nado, numa primeira fase, à depleção de volume e, a seguir, à mas) de pacientes com hipertrofia prostática. Os efeitos indese- redução da resistência vascular periférica decorrente de meca- jáveis mais comuns são: hipotensão postural (mais evidente com nismos diversos. a primeira dose), palpitação e, eventualmente, astenia. São eficazes como monoterapia no tratamento da hiperten- são arterial, tendo sido comprovada sua eficácia na redução da c) Betabloqueadores morbidade e da mortalidade cardiovasculares. Como anti-hiper- O mecanismo anti-hipertensivo, complexo, envolve diminui- tensivos, dá-se preferência aos diuréticos tiazídicos e similares. ção do débito cardíaco (ação inicial), redução da secreção de Diuréticos de alça são reservados para situações de hipertensão renina, readaptação dos barorreceptores e diminuição das cate- associada a insuficiências renal e cardíaca. colaminas nas sinapses nervosas. Esses medicamentos são efi- Os diuréticos poupadores de potássio apresentam pequena cazes como monoterapia, tendo sido comprovada sua eficácia potência diurética, mas quando associados a tiazídicos e diuréti- na redução da morbidade e da mortalidade cardiovasculares. cos de alça são úteis na prevenção e no tratamento de hipopotas- Aqueles com atividade simpatomimética intrínseca são úteis em semia. O uso de diuréticos poupadores de potássio em pacientes gestantes hipertensas e em pacientes com feocromocitoma. Cons- com redução de função renal pode acarretar hiperpotassemia. tituem a primeira opção na hipertensão arterial associada a do- Entre os efeitos indesejáveis dos diuréticos, ressalta-se fun- ença coronariana ou arritmias cardíacas. São úteis em pacientes damentalmente a hipopotassemia, por vezes acompanhada de com síndrome de cefaléia de origem vascular (enxaqueca). En- hipomagnesemia (que pode induzir arritmias ventriculares), e a tre as reações indesejáveis dos betabloqueadores destacam-se: hiperuricemia. É ainda relevante o fato de os diuréticos pode- broncoespasmo, bradicardia excessiva (inferior a 50 bat/min), rem provocar intolerância à glicose. Podem também promover distúrbios da condução atrioventricular, depressão miocárdica, 19 III-CBHA.pm6 19 20/12/01, 15:32
  • 20. III CBHA vasoconstrição periférica, insônia, pesadelos, depressão psíqui- Inibidores da enzima conversora da angiotensina ca, astenia e disfunção sexual. Do ponto de vista metabólico, O mecanismo de ação dessas substâncias é fundamentalmen- podem acarretar intolerância à glicose, hipertrigliceridemia e te dependente da inibição da enzima conversora, bloqueando, redução do HDL-colesterol. A importância clínica das altera- assim, a transformação da angiotensina I em II no sangue e nos ções lipídicas induzidas pelos betabloqueadores ainda não está tecidos. São eficazes como monoterapia no tratamento da hi- comprovada. A suspensão brusca desses bloqueadores pode pro- pertensão arterial. vocar hiperatividade simpática, com hipertensão rebote e/ou Também reduzem a morbidade e a mortalidade de pacientes manifestações de isquemia miocárdica. Os betabloqueadores são hipertensos com insuficiência cardíaca, e de pacientes com in- formalmente contra-indicados em pacientes com asma, doença farto agudo do miocárdio, especialmente daqueles com baixa pulmonar obstrutiva crônica e bloqueio atrioventricular de 2o e fração de ejeção. Quando administrados a longo prazo, os inibi- 3o graus. Devem ser utilizados com cautela em pacientes com dores da ECA retardam o declínio da função renal em pacientes doença arterial obstrutiva periférica. com nefropatia diabética e de outras etiologias. Entre os efeitos indesejáveis, destacam-se tosse seca, altera- Vasodilatadores diretos ção do paladar e reações de hipersensibilidade (erupção cutâ- Os medicamentos desse grupo, como a hidralazina e o mi- nea, edema angioneurótico). Em indivíduos com insuficiência noxidil, atuam diretamente sobre a musculatura da parede vas- renal crônica, podem induzir hiperpotassemia. Em pacientes com cular, promovendo relaxamento muscular com conseqüente va- hipertensão renovascular bilateral ou com rim único, podem pro- sodilatação e redução da resistência vascular periférica. Em con- mover redução da filtração glomerular com aumento dos níveis seqüência da vasodilatação arterial direta, promovem retenção séricos de uréia e creatinina. hídrica e taquicardia reflexa, o que contra-indica seu uso como Seu uso em pacientes com função renal reduzida pode se acom- monoterapia, devendo ser utilizados associados a diuréticos e/ panhar de aumento dos níveis séricos de creatinina. Entretanto, a ou betabloqueadores. longo prazo, prepondera o efeito nefroprotetor dessas drogas. Em associação com diurético, a ação anti-hipertensiva dos Antagonistas dos canais de cálcio inibidores da ECA é magnificada, podendo ocorrer hipoten- A ação anti-hipertensiva dos antagonistas dos canais de cál- são postural. cio decorre da redução da resistência vascular periférica por di- Seu uso é contra-indicado na gravidez. Em adolescentes e minuição da concentração de cálcio nas células musculares lisas mulheres jovens em idade fértil e que não façam uso de méto- vasculares. Não obstante o mecanismo final comum, esse grupo do anticoncepcional medicamente aceitável, o emprego dos de anti-hipertensivos é dividido em 4 subgrupos, com caracterís- inibidores da ECA deve ser cauteloso devido ao risco de mal- ticas químicas e farmacológicas diferentes: fenilalquilaminas (ve- formações fetais. rapamil), benzotiazepinas (diltiazem), diidropiridinas (nifedipi- na, isradipina, nitrendipina, felodipina, amlodipina, nisoldipina, Antagonistas do receptor da angiotensina II lacidipina) e antagonistas do canal T (mibefradil). Essas drogas antagonizam a ação da angiotensina II por meio São medicamentos eficazes como monoterapia, e a nitren- do bloqueio específico de seus receptores AT1. São eficazes como dipina mostrou-se também eficiente na redução da morbidade e monoterapia no tratamento do paciente hipertenso. Em um estu- da mortalidade cardiovasculares em idosos com hipertensão sis- do (ELITE), mostraram-se eficazes na redução da morbidade e tólica isolada. da mortalidade de pacientes idosos com insuficiência cardíaca. No tratamento da hipertensão arterial, deve-se dar prefe- Apresentam bom perfil de tolerabilidade e os efeitos colate- rência ao uso dos antagonistas dos canais de cálcio de longa rais relatados são tontura e, raramente, reação de hipersensibili- duração de ação (intrínseca ou por formulação galênica), não dade cutânea (“rash”). sendo recomendada a utilização de antagonistas dos canais de As precauções para seu uso são semelhantes às descritas para cálcio de curta duração de ação. os inibidores da ECA. Os efeitos adversos desse grupo incluem: cefaléia, tontura, rubor facial (mais freqüentes com diidropiridínicos de curta duração de ação) e edema periférico. Mais raramente, podem induzir hipertrofia gengival. Os diidropiridínicos de curta du- Esquemas Terapêuticos ração de ação acarretam importante estimulação simpática re- flexa, deletéria ao sistema cardiovascular. Verapamil e diltia- Os medicamentos preferenciais para o controle da pressão zem podem provocar depressão miocárdica e bloqueio atrio- arterial em monoterapia inicial são diuréticos, betabloqueado- ventricular. Bradicardia excessiva também tem sido relatada res, antagonistas dos canais de cálcio, inibidores da enzima com essas duas drogas e com o mibefradil especialmente quan- conversora da angiotensina e antagonistas do receptor da an- do utilizados em associação com betabloqueadores. Obstipa- giotensina II. ção intestinal é um efeito indesejável observado principalmente O tratamento deve ser individualizado e a escolha inicial do com verapamil. medicamento como monoterapia deve basear-se no mecanismo 20 III-CBHA.pm6 20 20/12/01, 15:32