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artigo de revisão / review article / discusión crítica
O Mundo da Saúde, São Paulo: 2011;35(5):319-331.	 319
* Docente do Centro Universitário São Camilo. Doutora em Administração Hospitalar FSP – Faculdade de Saúde Pública da Universidade de São Paulo-USP.
E-mail: v_bonato@hotmail.com
Gestão de qualidade em saúde: melhorando assistência ao cliente
Health quality management: improving support to client
Gestión de calidad en salud: mejorando asistencia al cliente
Vera Lucia Bonato*
Resumo: O presente artigo trata dos conceitos de qualidade, aplicados ao segmentos da saúde em todos os seus níveis de planejamen-
to e execução. Apresenta, também, algumas metodologias de avaliação de qualidade, que estão sendo frequentemente utilizadas em
diferentes instituições de saúde públicas ou privadas.
Palavras-chave: Assistência. Sistemas de Saúde. Qualidade.
Abstract: This paper deals with the quality concepts applied to the health segment in all its implementation and planning levels; it
also presents some quality evaluation methodologies that are usually used in different public or private health institutions.
Keywords: Assistance. Health Systems. Quality Management.
Resumen: El presente artículo trata de los conceptos de calidad, aplicados al segmento de la salud en todos sus niveles de planificación
y ejecución; presenta también algunas metodologías de evaluación de calidad, que están siendo frecuentemente utilizadas en diferentes
instituciones de salud públicas o privadas.
Palabras-llave: Asistencia. Sistemas de Salud. Gestión de Calidad.
Introdução
Este artigo aborda o tema “Qua-
lidade” a partir das experiências de
trabalho em saúde, constatando
que práticas de saúde só se reali-
zam por meio da ação humana,
responsáveis pela organização do
trabalho.
Compreender como se efetiva
a “Qualidade” e como os diferentes
Sistemas de Avaliação são pratica-
dos,qualapercepçãodosdiferentes
atores sociais que participam nesse
processo, nos diferentes níveis de
ação em saúde, é um desafio cons-
tante a ser realizado pelo gestor.
Nesse campo, é fundamental en-
tender o conceito de “Qualidade”
pelos que conduzem os processos
tanto assistenciais como aqueles
voltados à gestão.
A “Qualidade” é uma práxis ilu-
minada pela crítica e vice-versa; se
entendida e tratada nessa perspec-
tiva, representa uma importante
contribuição para a existência, con-
cretude e historicidade do setor.
Nas décadas de 80 e 90, o con-
ceito de “Qualidade” passou a cir-
cular nos meios de comunicação,
levando as empresas a transforma-
rem-se, com vistas ao futuro; pela
necessidade de sustentabilidade.
O planejamento, a revisão de
processos e o acompanhamento
de performance, assim como me-
lhorias constantes, passaram a ser
vitais para o posicionamento das
organizações no mercado. Siste-
mas de Qualidade foram adotados
na busca de competitividade, de
eficiência e eficácia dos processos
e dos altos índices de desempenho
com resultados de sucesso.
Esse movimento refletiu mu-
danças na gestão das organizações,
cujo olhar dirigiu-se à reestrutura-
ção, inovação e para a busca de ex-
celência, por meio de práticas mais
racionais e focadas nas demandas
dos clientes. Dentre as mudanças
requeridas destacam-se: a visão
sistêmica da organização dos seus
processos institucionais, a transfor-
mação dos indivíduos, com ações
dirigidas por novos paradigmas,
buscando autorrealização e ino-
vação, estímulo ao desenvolvi-
mento de novas capacidades, da
criatividade e alta produtividade,
mobilizando sujeitos mais capazes,
criativos e produtivos. Verifica-se,
por parte das organizações, tendên-
cia à valorização dos talentos hu-
manos para atuarem como agentes
participativos do replanejamento
e da resignificação do contexto do
trabalho vigente.
Constata-se, portanto, que os
profissionais vêm sofrendo influ-
ências diversas. Entre elas, o traba-
lho que contribuiu para mudanças
no plano profissional e pessoal, exi-
gindo do trabalhador postura ativa,
participativa e transformadora, afe-
tando diretamente as relações com
as organizações e o modo de fazer.
Gestão de qualidade em saúde: melhorando assistência ao cliente
320	 O Mundo da Saúde, São Paulo: 2011;35(5):319-331.
Essas considerações permitem
refletir sobre a abrangência e in-
fluência da “Qualidade” nos di-
versos campos da sociedade, com
destaque para a saúde. Dentre as
diferentes organizações que se
preocupam com saúde, podemos
destacar hospitais, clínicas, unida-
des ambulatoriais, de emergência,
consultórios, entre outros.
Hospitais são instituições pres-
tadoras de serviços de grande im-
portância social, possuindo alta
complexidade e peculiaridade,
portanto a prática da “Qualidade”
adquire enfoque e diferencial espe-
cíficos. Conhecer a história, evolu-
ção e funcionamento dos hospitais
permite delinear o cenário em que
se configuram as ações da “Quali-
dade”, que deram início às práticas
que tiveram suas primeiras iniciati-
vas nos setores voltados a produtos,
e se aproximando posteriormente
da área de prestação de serviços,
como saúde, educação e outros.
Focando na saúde, temos Teixeira1
,
que afirma:
		os avanços tecnológicos e o
aparecimento da medicina
científica, no fim do século XIX
e início do século XX, revolu-
cionaram o papel e as funções
do hospital. Ele deixa de ser um
local onde pobres e doentes são
levados para morrer, transfor-
mando-se na mais importante
instituição para o tratamento
de enfermidades, oferecendo
ao médico infraestrutura que
não podia ser deslocada à re-
sidência do paciente (...) no
século XX, o hospital ampliou
suas fronteiras e passou a servir
toda a comunidade.
Quanto à questão econômi-
ca, o hospital responde hoje pelos
maiores custos dos cuidados com
a saúde, assim, procura-se dimi-
nuir as internações, aumentando
os serviços ambulatoriais, a assis-
tência domiciliar, expandindo e
formalizando compromissos com
a qualidade, satisfazendo o usuário
e diminuindo custos.
Atualmente, as instituições
hospitalares são sistemas abertos
que sofrem a ação do meio, sen-
do influenciadas pela evolução e
mudanças em todos os campos
sociais, tornando-se um espaço
multidisciplinar de interação com
a sociedade.
		O cenário hospitalar atual
caracteriza-se por conter um
sistema mais humano do que
mecânico; paradoxalmente, é
muito burocrático, com regras
e regulamentos para controlar
o comportamento e o trabalho
de seus membros. Perdeu, qua-
se totalmente, suas caracterís-
ticas paternais e autoritárias,
assumindo caráter de organi-
zação funcional-racional-buro-
crática1
.
O esforço de construção e or-
ganização de um sistema produ-
tivo que contemple relações mais
claras e definidas entre os diversos
atores sociais constitui um desafio
dos pensadores da administração,
da psicologia, entre outros, princi-
palmente quando abordado o tema
saúde, seja qual for o cenário em
destaque: clínica, consultório, hos-
pital, unidade básica, laboratório.
Frente ao mundo repleto de
transformações tecnológicas, eco-
nômicas e sociais, encontra-se no
conhecimento e na informação a
vantagem competitiva para o indi-
víduo e para as organizações.
Criar um ambiente de trabalho
estimulador para compartilhar co-
nhecimento, em que as relações
pessoais se manifestam, gerando
novos conhecimentos, o desen-
volvimento de novas competên-
cias, coloca-se como desafio para
a organização focada na gestão das
pessoasepreocupadacoma“Quali-
dade”. Ao potencializar o saber dos
indivíduos, a organização realizará
saltos em busca de crescimento e
inovação.
É preciso conhecer e entender
as mudanças atuais nos diferen-
tes âmbitos: social, econômico,
organizacional e psicológico, para
poder administrá-las. Esse é o ca-
minho para a construção de uma
organização que evolui em parale-
lo com o desenvolvimento social e
estimula seus trabalhadores rumo
à cidadania.
Organizações vencedoras serão
aquelas que criarem alternativas
com maior rapidez, avançando,
melhorando, identificando suas
fragilidades e estabelecendo opor-
tunidades para criar mecanismos
inovadores no cotidiano. Outro
aspecto que merece destaque é a
definição e identificação da concor-
rência, estabelecendo formas para
identificá-las e mecanismos para
lidar com ela.
A“QualidadeTotal”surgecomo
ferramenta de apoio para tratar
esta realidade. Assume diferentes
significados: qualidade de trabalho,
serviço, informação, processo, es-
trutura e pessoas. Implica a satisfa-
ção das expectativas e necessidades
dosclientespormeiodeumagestão
científicadosprocessos,baseadaem
fatos e dados, voltada para a corre-
ção e prevenção de erros. Deve ser
baseadanamanutençãoemelhoria
dos padrões de desempenho atuais,
com produtos e serviços melhores
e mais competitivos, participação e
envolvimento dos membros da or-
ganização, considerando aspectos
éticos que envolvem a prestação
dos serviços de saúde.
A construção dos conceitos de
“Qualidade” envolve uma multi-
plicidade de variáveis, assinalando
setores e tendências predominan-
tes, em um dado contexto de tra-
balho.
Constata-se, na literatura es-
pecífica e na prática, a existência
de diferentes abordagens para
“Qualidade”. Algumas valorizam
a produtividade e o equilíbrio da
organização, outras estão mais
Gestão de qualidade em saúde: melhorando assistência ao cliente
O Mundo da Saúde, São Paulo: 2011;35(5):319-331.	 321
voltadas ao desenvolvimento do
potencial humano. Tais tendências
mostram-se presentes nos planos e
ações das organizações, que atuam
no segmento saúde, independen-
temente do seu porte.
As ações dos gestores em saúde
contêm a representação social do
conceito de “Trabalho” e “Quali-
dade”, que estabelece a vinculação
do fazer com a percepção e com
a verdade tomada pela liderança
como direcionadora de seus pla-
nos de trabalho. Essas ações, fre-
quentemente, parecem ser mais
dirigidas intuitivamente do que
embasadas em um conhecimento
construído, alinhando a teoria e a
prática. Portanto, torna-se essencial
queosprofissionaisbusquemapoio
na literatura, em benchmarking, vi-
sando ao suporte e consistência na
implementação de seus projetos,
adequando-os à realidade de cada
serviço, seja ele uma unidade de
saúde, um hospital ou, ainda, uma
clínica. Esse processo sistematizado
e com bons alicerces legitimará as
práticas institucionais, validando as
ações propostas.
Em algumas instituições, cons-
tata-se que o gestor da “Qualidade”
ocupa lugar em esferas decisórias,
fazendo parte do planejamento es-
tratégico da organização, podendo
integrar as metas da “Qualidade”
aos objetivos macroinstitucionais,
fato bastante favorável para impul-
sionar programas dessa natureza.
A sistemática de qualidade es-
colhida pelos serviços de saúde,
qualquer que seja, está vinculada
a um conjunto de ações e posições
socioculturais de seus gestores.
Retrata relações estabelecidas en-
tre eles, no processo de trabalho
e em seus grupos de referência,
refletindo-se nas opções definidas.
O sistema de crenças e valores dos
indivíduos e da organização está
embutidonaescolhametodológica,
que visa a atender às expectativas
das partes comprometidas no pro-
cesso. Os sistemas híbridos podem
ser positivos e alavancadores de um
desenvolvimento crescente e espi-
ralado, envolvendo, cada vez mais,
os diversos níveis da instituição.
Considera-se a aproximação
das áreas técnica e estratégica es-
sencial para o sucesso das ações de
“Qualidade”, pois envolvem mu-
danças estruturais e paradigmáticas
visíveis aos profissionais e usuários.
O movimento institucional pela
qualidade gera, na coletividade, a
clara identificação e a visão refe-
rente ao real apoio destinado aos
programas dessa natureza. A trans-
parência desse processo de aproxi-
mação entre os diferentes atores
envolvidos interfere diretamente
nos resultados pretendidos, uma
vez que os indivíduos aprendem,
no decorrer de suas existências, a
decodificarmensagensverdadeiras,
daquelas que manipulam o corpo
funcional.
As sistemáticas de
“Qualidade” na área da
saúde como modelo de
gestão
A seguir, serão apresentadas,
de modo sucinto, as metodologias
de “Qualidade” e suas principais
características. A primeira grande
classificação a ser colocada refere-
se ao conceito de acreditação e cer-
tificação.
Acreditação
Acreditação é um procedi-
mento da avaliação dos recursos
organizacio­nais, “voluntário”, pe-
riódico e reservado, que tende a
garantir a qualidade da assistência
com base em padrões previamen-
te aceitos. A acreditação tem início
com uma avaliação de qualidade
e de proce­dimentos baseada em
padrões internacionalmente le-
gitimados, ge­rando um conjunto
de orientações para a organização,
visando à melhoria do seu desem-
penho. Na acreditação, não se
avaliam setores ou departa­mentos
isoladamente, mas todos os servi-
ços da organização.
Um programa de acredita-
ção hospitalar deve ter efetiva
responsabili­dade em medir o de-
sempenho, em promover me-
lhorias de qualidade facilitando
estímulos externos e o necessário
esforço interno, e deve ter também
genuína responsabilidade perante
os usuá­rios/consumidores.
É importante ressaltar que a
ênfase da avaliação é na qualidade
do serviço profissional prestado,
independentemente dos recursos
tecnoló­gicos envolvidos. O atendi-
mento deve pautar-se pelo critério
da excelên­cia, aproveitando-se da
tecnologia disponível, qualquer
que seja ela. Sendo assim, tanto o
hospital público quanto o hospital
privado, locali­zados em uma me-
trópole ou zona rural, terão que
se adaptar aos mesmos padrões de
qualidade.
Acreditação é um método de
avaliação externa da “Qualidade”
dos serviços de saúde. Difundida
em países de língua inglesa, ante-
cedeu o movimento do gerencia-
mento da “Qualidade Total”. Seu
desenvolvimento se confunde
com aquele dos serviços de saúde
nos Estados Unidos, exemplo mais
conhecido e divulgado dessa ver-
tente da “Qualidade”. Por ter sido
desenvolvida para a saúde e dentro
da sua realidade, envolveu, sobre-
tudo, a corporação médica. Essas
características tendem a diminuir
as resistências observadas no setor
para a adoção de métodos de ava-
liação.
O modelo de acreditação mar-
ca a medicina americana tentando
assegurar a excelência dos pro-
cedimentos médicos e garantir a
segurança das ações de saúde, res-
pondendo, assim, com a prestação
Gestão de qualidade em saúde: melhorando assistência ao cliente
322	 O Mundo da Saúde, São Paulo: 2011;35(5):319-331.
de serviços com qualidade para
uma sociedade organizada e cons-
ciente de seus direitos.
Os modelos de avaliação não
têm impacto somente na quali-
dade do atendimento ao paciente,
mas também afetam todas as partes
envolvidas no Sistema de Saúde,
como:médicos,outrosprofissionais
da área, fornecedores, investidores
e a comunidade em geral.
O processo de acreditação pro-
põe a participação voluntária das
instituições, estimulando-as a um
comportamento de procura da
melhoria contínua da Qualidade,
criando e desenvolvendo a integra-
ção com a sociedade, estimulando
a cidadania. Tem um caráter emi-
nentemente educativo, voltado
para melhoria contínua, sem fina-
lidade de fiscalização ou controle
oficial. As principais vantagens da
acreditação são: segurança para os
pacientes e profissionais; qualidade
da assistência; construção de equi-
pe e melhoria contínua; útil instru-
mento de gerenciamento; critérios
e objetivos concretos adaptados
à realidade brasileira; o caminho
para melhoria contínua.
De acordo com uma análise
do COREN (Conselho Nacional
de Enfermagem), os processos de
“Acreditação Hospitalar” vêm au-
mentando no Brasil. Isso ocorre
por duas razões: a primeira, pela
disseminação do Manual da Or-
ganização de Acreditação – ONA
(Organização Nacional de Acredi-
tação), que serve como base para
obtenção do título e detalha os
processos administrativos e seus
atributos mínimos – liderança, ad-
ministração, garantia de qualidade,
organização da assistência, atenção
ao paciente/cliente e diagnósticos –
para o bom funcionamento de em
um estabelecimento assistencial de
saúde e, dessa forma, torna-se um
instrumento de inestimável valor
para o administrador hospitalar; a
segunda, pelo impacto positivo que
a Acreditação causa no corpo fun-
cional e nos cliente das instituições
de saúde.
Com o intuito de alcançar os
mais elevados padrões assisten-
ciais, os hospitais buscam iniciati-
vas que respondem as necessidades
dos clientes. A qualidade tornou-se
um fator significativo, conduzindo
instituições para os mercados na-
cionais e internacionais, buscando
êxito organizacional e crescimento.
Uma das iniciativas está volta-
da para o processo de “Acreditação
Hospitalar”, que impõe novas exi-
gências no que se refere às mudan-
ças comportamentais, mobilização
constante dos profissionais em bus-
ca de metas e objetivos propostos,
além da melhoria permanente e
contínua do atendimento prestado.
Segundo Bonato2
:
		O estudo da qualidade no cam-
po da saúde envolve, além de
um conjunto de técnicas, uma
dimensão mais ampla de ações
como projeto social, cujos ele-
mentos principais para seu
desenvolvimento são aqueles
que atuam e exercem seu pa-
pel nessa cadeia, considerando
a pluralidade das mudanças e
das diferentes lógicas. Dessa
maneira, o conjunto de práti-
cas e ações desenvolvidas pelos
sujeitos são construídas a partir
de uma história pessoal e social
com autonomia, embora esti-
mulada institucionalmente.
O novo paradigma exige dos
profissionais posturas que reflitam
ainternalizaçãodevaloreserevisão
de conceitos, que pela sinergia das
pessoas e da organização construi-
rão um novo cenário das relações e
do processo de trabalho.
Segundo Paganini, Novaes3
, “o
processo de acreditação, no Bra-
sil, começa a tornar-se possível
no início dos anos noventa, com
a publicação da ‘Acreditação de
Hospitais para América e Caribe’”.
Em 1990, foi firmado um convênio
entre a (OPAS) Organização Pan-
Americana de Saúde e a Federação
Latino-Americana de Hospitais
para produção de um manual de
“Padrões de Acreditação para Amé-
rica Latina”, estruturado em pa-
drões e níveis “mínimos” a serem
atingidos. Em 1992, foi realizado,
em Brasília, o primeiro seminá-
rio nacional de acreditação, com
a participação de representantes
de diversas entidades nacionais da
área da saúde, sendo apresentado o
“Manual de Acreditação”.
Acreditação Canadense
Para aprimorar a qualidade de
atendimento e serviços, hospitais
brasileiros contam com a experiên-
ciadoSistemadeSaúdedoCanadá,
que exporta seu conhecimento por
meio de um Programa de Acredita-
ção existente, há mais de 50 anos,
naquele país.
A“AcreditaçãoCanadense”tem
como foco a segurança do paciente
e as boas práticas no atendimen-
to. A certificação canadense abre
caminho às instituições de saúde
brasileiras para buscar seu posicio-
namento conceitual com o restante
do mundo.
O modelo canadense de acre-
ditação de serviços de saúde, reco-
nhecidos como um dos melhores
do mundo, oferece uma gama de
soluções de qualidade, já testadas,
possibilitando sua eventual adoção
no Brasil, com alterações ou adap-
tações mínimas. Os indicadores
incluem categorias que englobam
a qualidade e o desempenho de
todas as áreas de atendimento dos
serviços de saúde, incluindo os ele-
mentos: atendimento, recepção de
pacientes, calibragem de equipa-
mentos, capacitação e tecnologia
de gestão. O sistema de acreditação
poderá ser utilizado localmente por
hospitais e outros serviços de saúde
na obtenção de um selo de quali-
Gestão de qualidade em saúde: melhorando assistência ao cliente
O Mundo da Saúde, São Paulo: 2011;35(5):319-331.	 323
dade diferenciado e de reconheci-
mento internacional. Esse modelo
é uma ferramenta importante de
gestão institucional, proporcio-
nando às instituições de Saúde
melhorias contínuas e a procura
da excelência em gestão.
O CCHSA (Canadian Council on
Health Services Accreditation) avalia
os processos de qualidade dentro
das instituições que já, em sua
maioria, possuem o nível de exce-
lênciapelaONA.Aavaliaçãoenvol-
ve a verificação diária de atividades
eserviçosemrelaçãoapadrõespre-
estabelecidos e utiliza, como norte,
princípios de excelência alinhados
à segurança do paciente, com base
na criação de protocolos e fluxos de
atendimento assistencial.
O CCHSA tem como princí-
pio da metodologia avaliar pontos
considerados fundamentais para
a qualidade, a saber: estratégia e
liderança, cultura organizacional;
informaçãoecomunicação;proces-
sos em times de trabalho; resulta-
dos; segurança dos pacientes.
O processo de implantação
exige: envolvimento das equipes,
com a formação de times de traba-
lho; reestruturação dos processos;
revisão de protocolos; assim como
coerência entre diretrizes e metas.
Além de ter emitido certificados
para 977 organizações canadenses
somente em 2007, o CCHSA, a
cada ano, acompanha o crescimen-
to de sua presença mundialmente.
O auxílio prestado na reestrutura-
ção, organização, avaliação e me-
lhoria da qualidade da assistência e
dos serviços prestados pelos órgãos
de saúde atraíram, até o momento,
o interesse da França, da Itália, dos
Emirados Árabes, do Caribe, entre
outros, somando mais de 3.500 lo-
calizações internacionais.
Por aumentar a confiabilidade
de médicos e pacientes e a motiva-
ção dos colaboradores, o programa
AC (Acreditação Canadense) “gera
uma grande reformulação na for-
ma de ver, de fazer e de disponibi-
lizar cuidados de saúde dentro de
um hospital”.
Em 1993, o manual de acre-
ditação para os hospitais era diri-
gido para funções da organização e
do cuidado ao paciente para mudar
o foco dos padrões que medem a
capacidade de desempenho da or-
ganização, para aqueles padrões
que observam seu desempenho
real. Nesse mesmo ano, a JC (Joint
Commission) iniciou visitas ao aca-
so não anunciadas em cerca de 5%
das organi­zações acreditadas nos
EUA, e o número e a natureza das
queixas confir­madas contra insti-
tuições acreditadas tornaram-se de
domínio público.
Em 1998, a política de eventos
sentinela foi reformulada com o in-
tuito de promover o autorrelatório
dos erros médicos para examinar a
causa-raiz desses eventos.
Em 1999, a missão da JC é revi-
sada, explicitando a referência na
segurança do paciente “para con-
tinuamente melhorar a segurança
e qua­lidade do cuidado oferecido
ao público através da provisão da
acredita­ção do cuidado de saúde e
serviços relacionados que apóiam
a melhora do desempenho nas
organizações de saúde”. A JC cria
uma hotline gratuita para encorajar
pacientes, seus familiares e pro-
fissionais da sa­úde a compartilhar
preocupações com relação à quali-
dade do serviço nas organizações
acreditadas.
CBA – Consórcio Brasileiro
de Acreditação de Sistemas
e Serviços de Saúde
Em 1998, foi constituído o Con-
sórcio Brasileiro de Acreditação de
Sistemas e Serviços de Saúde por
Protocolo de Cooperação, firmado
a 8 de junho, que associa a expe-
riência acadêmica, científica e de
formação de recursos humanos da
Universidade do Estado do Rio de
Janeiro – UERJ, por meio de seu
Instituto de Medicina Social, à tra-
dição e à capacidade técnica do Co-
légio Brasileiro de Cirurgiões – CBC
e da Academia Nacional de Medici-
na–ANMeàexperiênciadeavalia-
ção de sistemas sociais da Fundação
CESGRANRIO, cabendo a essa últi-
ma alocar tal acreditação.
A união das quatro instituições
teve por finalidade possibilitar, na
área da saúde, o desenvolvimento
de avaliações e ações de aprimora-
mento da qualidade, trabalhando
em estreita cooperação. Ao mesmo
tempo, visou a assegurar: a parti-
cipação das entidades que repre-
sentam os prestadores de serviços;
os financiadores do atendimento à
saúde; os representantes dos usuá-
rios; comunidade; profissionais da
saúde; e das instituições técnico-
científicas ligadas a esta área.
O Consórcio Brasileiro de Acre-
ditação (CBA) é o único repre-
sentante da JCI (Joint Commission
International)noBrasil,comsedeno
Rio de Janeiro, con­tando com uma
equipe de profissionais especializa-
dos, constituída por médicos, en-
fermeiros e administradores. Além
da adoção de rigorosos processos de
seleçãoeformação,oCBAmantém
um efetivo programa contínuo de
educação e qualificação contando
com a participação em várias opor-
tunidades de técnicos e consultores
da JCI, assim como com a presença
deprofissionaisdoCBAemativida-
des internacionais, tanto na sede da
JCI, em Chicago, como em outras
localidades.
O planejamento das avaliações
é feito com base nas características
do hospital informadas, em geral,
pelo diretor da instituição quando
do preenchimento da solicitação da
avaliação, por decisão voluntária
do hospital. Durante a avalia­ção, os
avaliadores verificarão a conformi-
dade da estrutura, dos proces­sos e
dos resultados obtidos pelo hospital
comparadoscompadrõesdomanu-
Gestão de qualidade em saúde: melhorando assistência ao cliente
324	 O Mundo da Saúde, São Paulo: 2011;35(5):319-331.
al. As fontes da avaliação utilizadas
pelos avaliadores são entrevis­tas
com pacientes e familiares, entre-
vistascomfuncionáriosdohospital,
reuniões e observações diretas por
meio de visitas aos diversos setores
do hospital, incluindo os prontuá-
rios dos pacientes. Todas essas ativi-
dades são acompanhadas por pelo
menos um profissional do hospital,
de acordo com a agenda preparada
de comum acordo entre a direção
do hos­pital e agência acreditadora.
O trabalho de campo termina com
umareu­niãodeencerramentocom
os líderes organizacionais, durante
a qual os avaliadores fornecem
ao hospital um relatório de deci-
são preliminar, ba­seados em seus
achados durante a avaliação. Esse
relatório é, então, enviado ao co-
mitê de acreditação, que tem, entre
suas atribuições, a apro­vação do re-
latório e outorga da acreditação. O
ciclo de acreditação tem a duração
de 3 anos, sendo que, nos 6 meses
que antecedem a data de seu térmi-
no, a agência acreditadora notifica
a organização para a realização de
nova avaliação e reacreditação, e
um novo ciclo tem início.
Esses serviços e produtos po-
dem compor diversos projetos,
com diferentes etapas de desen-
volvimento, conforme o inte­resse
e possibilidades de investimento
das instituições.
Paraobterocertificadode“Hos-
pital Acreditado”, a instituição deve
demonstrar conformidade com o
manual de padrões dessa metodo-
logia. Tais padrões são desenvol-
vidos e testados por profissionais
especialistas que atuam especifi­
camente no setor de saúde de vá-
rias partes do mundo; baseados em
padrões aplicáveis, predetermina-
dos e publicados; avaliados in loco,
por uma equipe multiprofissional
de avaliadores e ocorre a cada três
anos; aplicáveis de forma individu-
alizada nas organizações de saúde,
adaptáveis ao contexto das crenças,
valores, cultura e legislação do país
ao qual ela se aplica; criados para
promover a redução de riscos para
pacientes e profissionais; voltados
para a garantia da segurança do pa-
ciente; testado em todas as regiões
do mundo.
Enfim, trata-se de uma ferra-
menta de avaliação de qualidade e
gerencia­mentoqueganhouvisibili-
dade internacional e que promove
um compromisso visível com a me-
lhora da qualidade, garantindo um
ambiente de trabalho seguro e efi-
ciente, com redução de riscos, tanto
ao paciente, quanto ao corpo clíni-
co,melhorandoograudesa­tisfação
dos colaboradores, além de auxiliar
organizações de saúde internacio-
nais, agências públicas de saúde
a avaliar, melhorar e demons-
trar a qualidade do atendimento
ao paciente em sua localidade.
Vantagens e benefícios para a
Instituição
Cria uma cultura aberta ao
aprendizado baseado no relato de
even­tos adversos e preocupações
com a segurança; estabelece uma
liderança colaboradora, que pre-
coniza prioridades com relação à
qualidade e segurança do pacien-
te; permite desenvolver estratégias
para redução de riscos e táticas para
prevenir eventos adversos; garante
acesso à ampla fonte de dados so-
bre boas práticas; garante o acesso a
um informativo internacional edi-
tado pela JCI; leva a participação
de eventos promovidos pela JCI e
seus parcei­ros em várias regiões do
mundo; permite clareza na defini-
ção da missão; permite a ampliação
daabrangênciadesetoreseserviços
(terceiros, próprios, etc.); promove
o desenvolvimento de estrutura de
gerenciamento de qualidade; per-
mite a integração clínica e gerencial
alinhada às estratégias, a implanta-
ção de um processo de educação e
qualificação profissional, o moni-
toramento das principais atividades
clínicas e gerenciais, com indicado-
res de desempenho, a implantação
de ações e sistemas de garantia de
segurança dos processos assisten-
ciais; permite a otimização e racio-
nalização dos processos.
O primeiro diferencial é a ga-
rantia de excelência das atividades
dainstituição,peloreconhecimento
de um processo de certificação
atualmente validado em diversos
países do mundo e utilizado nos
EUA há mais de 50 anos.
Por ser um sistema interna-
cional de avaliação de qualidade,
cria a possibilidade de comparação
entre as instituições participantes
do programa a partir do estabele-
cimento de indicadores clínicos e
gerenci­ais.
No Brasil, coube ao Colégio
Brasileiro de Cirurgiões (CBC) o
papelpioneironodesenvolvimento
da acreditação em 1986, pela cons-
tituição de uma através de uma
co­missão especial permanente de
qualificação de hospitais.
Em 1994, o Colégio Brasileiro
de Cirurgiões (CBC), juntamente
com a Academia Nacional de Me-
dicina e o Instituto de Medicina So-
cial da Universidade do Estado do
Rio de Ja­neiro (IMS/UERJ), orga-
nizouosemináriodeacreditaçãode
hospitais e melhoria da qualidade e
que teve como fruto o Programa de
Avaliação e Certificação de Quali-
dade em Saúde (PACQS), com ob-
jetivo de aprofundar a análise e a
implementação de procedimentos,
técnicas e instrumentos voltados
para a acreditação de hospitais,
apontando três direções princi­
pais: a) criação de uma agência de
acreditação não governamental; b)
desenvolvimento de padrões inter-
nacionais e procedimentos para a
acre­ditação de serviços e sistemas
de saúde; c) disseminação de mé-
todos e procedimentos de gerência
de qualidade em saúde.
Em julho de 1997, a Fundação
CESGRANRIO promoveu, no CBC
Gestão de qualidade em saúde: melhorando assistência ao cliente
O Mundo da Saúde, São Paulo: 2011;35(5):319-331.	 325
(Colégio Brasileiro de Cirurgiões),
em conjunto com as instituições
participantes do PACQS (Programa
de Avaliação e Certificação de Qua-
lidade em Saúde), uma oficina de
tra­balho com representantes da JC
para discutir e propor metodologias
de avaliação de hospitais com base
na experiência internacional.
A missão do CBA é “contribuir
para a melhoria da qualidade do
cuidado aos pacientes nos hospi-
tais e demais serviços de saúde no
país, por meio de um processo de
acreditação”.
O CBA conta com uma equipe
multiprofissional altamente capaci-
tada (médicos, enfermeiros, admi-
nistradores), possui um programa
contínuo de educação e qualifica-
ção desses profissionais, contando
com a participação de técnicos e
consultores da JCI com atividades
no Brasil e em outras localidades.
Realiza eventos científicos (abran-
gência regional, nacional e inter-
nacional), com temas relacionados
ao Processo de acreditação Inter-
nacional.
O número de instituições acre-
ditadas no Brasil está crescendo
cada vez mais. De acordo com o si-
te, o CBA conta com 23 instituições
acreditadas até o primeiro semestre
de 2011.
O passo a passo para iniciar a
acreditação constitui:
A solicitação de avaliação deve
ser feita pela instituição interessa-
da; o planejamento da avaliação
pelo CBA é feito “sob medida”, com
base nas características do hospital;
a primeira avaliação será realizada
após a verificação da conformida-
de da estrutura, dos processos e dos
resultados obtidos pelo hospital,
comparados com padrões preesta-
belecidos; os avaliadores fornecem
ao hospital um relatório de deci-
são preliminar, baseado em seus
achados durante a avaliação – esse
relatório é enviado ao Comitê de
Acreditação, que tem, em suas atri-
buições, a aprovação do relatório
e a outorga da acreditação; o ciclo
da acreditação tem duração de 3
anos. Seis meses antes da data de
seu término, a agência acreditadora
notifica a instituição, com vistas à
realização de nova avaliação para
reacreditação, e um novo ciclo tem
início.
As etapas do Processo de Acre-
ditaçãoInternacionalsãoasseguin-
tes: apresentação da metodologia e
do manual de padrões da acredita-
ção;sensibilizaçãodasliderançasdo
hospital; constituição do grupo fa-
cilitador; elaboração e desenvolvi-
mentodoprogramadeeducaçãodo
hospital;autoavaliação;pesquisade
opinião de paciente e funcionário;
preparação do hospital para avalia-
ção; avaliação baseada em padrões
da acreditação sem pontuação; dis-
cussão do relatório e recomenda-
ções; elaboração do plano de ações
parabuscadeconformidadecomos
padrões; implementação das ações
corretivas; avaliação baseada em
vários padrões de acreditação com
pontuação; continuidade das ações
corretivas (caso necessário); avalia-
ção para acreditação.
Vale ressaltar que, para o pro-
grama ter sucesso, é necessário
participação e compromisso das li-
deranças, motivação e participação
da equipe como um todo, elabora-
ção de dados estatísticos e, princi-
palmente, a sincronia da missão da
Instituição com o projeto.
A acreditação traz muitos be-
nefícios à Instituição. Alguns deles
estão a seguir.
Manual Brasileiro de
Acreditação Hospitalar – MBAH
De acordo com a ONA4
, acredi-
tar significa “conceder reputação a
tornar digno de confiança”. Assim,
nesse sentido, um serviço de saúde,
ao se tornar acreditado, adquire o
status de instituição que inspira ou
merece confiança da sua comuni-
dade. Ao se imaginar a implemen-
tação de um projeto dessa natureza
em nível nacional, pode-se visua-
lizar, em um futuro próximo, to-
da uma rede de serviços de saúde
digna de confiança, em que o pa-
ciente terá certeza da qualidade do
atendimento, independentemente
do estado ou do município onde se
encontre.
Segundo o MBAH, desde 1995,
quando foi criado o programa da
“Qualidade em Saúde”, o Minis-
tério da Saúde vêm investindo no
desenvolvimento do Programa
Brasileiro de Acreditação Hospita-
lar. Várias etapas desse programa
foram cumpridas exitosamente,
desde as de sensibilização e divul-
gação até as de definição das ca-
racterísticas específicas que deste
processo. Já que há uma grande di-
versidade dos hospitais brasileiros e
pouca tradição de busca contínua
da qualidade.
A ONA é uma organização não
governamental. Trata-se de pessoa
jurídica de direito privado sem fins
lucrativos e de interesse coletivo,
que tem atuação nacional.
O objetivo dessa organização é
implementar um processo de ava-
liação de maneira contínua e cer-
tificação de qualidade. Sua missão
é promover o desenvolvimento de
umprocessodeacreditaçãovisando
a aprimorar a qualidade da assis-
tência à saúde em nosso País. Tem
definido como sua visão se tornar
o Sistema Brasileiro de Acreditação
e a Organização Nacional de Acre-
ditação até 2010, uma referência
nacional e internacional, com uma
metodologia reconhecidamente
sólida e confiável, comprometida
com a viabilização de um processo
de melhoria contínua, qualidade e
produtividade no setor da saúde.
Seus valores são credibilidade, le-
gitimidade, qualidade, ética e re-
sultado.
Segundo Donabedian5
, a quali-
dade está fundada em sete pilares:
“eficácia, efetividade, eficiência,
Gestão de qualidade em saúde: melhorando assistência ao cliente
326	 O Mundo da Saúde, São Paulo: 2011;35(5):319-331.
otimização, respeitabilidade, le-
gitimidade e equidade”, preceitos
objetivados em todo o processo de
acreditação.
O Manual Brasileiro de Acre-
ditação Hospitalar – MBAH é um
instrumento para estimular a me-
lhoria da Qualidade dos hospitais
brasileiros, com base na da análise
de alguns indicadores a serem ob-
servados.
O conceito de qualidade na ges-
tão administrativa de instituições
hospitalares evoluiu em busca da
garantia da satisfação do cliente/
paciente. A eficácia nos processos
de gestão e assistência hospitalar
somente têm sentido se estiverem
a serviço de uma melhor e mais
humanizada atenção ao paciente.
Essa melhoria na atenção parte do
respeito e valorização do paciente,
humanização do atendimento e da
adoção de medidas que atendam
as crescentes exigências e necessi-
dades da população, objetivos que
todos perseguem.
O programa se divide em três
níveis, com exigências diferencia-
das:
Nível 1: observa-se requisitos
básicos na qualidade de assistência
oferecida ao cliente, assim como
sua estrutura física e segurança,
tanto para o cliente interno como
externo. Nesse nível de avaliação,
a enfermagem se apresenta como
atuante fundamental. Observa-se
a presença de responsável técnico,
assistência prestada de maneira
contínua e ininterrupta, registros
em prontuários, capacitação dos
envolvidos na assistência, bem
como o dimensionamento correto
frente à demanda da instituição.
Nível 2: deve-se manter os re-
quisitos do nível 1, somados ao pla-
nejamento na assistência, descrição
e registros dos processos internos,
manuais de procedimentos opera-
cionais padronizados (POP’s), edu-
cação permanente como meio de
capacitação constante de todos os
profissionais envolvidos na presta-
ção de serviço de saúde, em todas
as suas esferas, indicadores de qua-
lidade assistencial e implementa-
ção de diagnóstico de enfermagem
com o objetivo de viabilizar assis-
tência de enfermagem integral e
individual.
Nível 3: Grau de Excelência:
observa-se a manutenção dos pre-
ceitos anteriormente descritos; mas
nestemomentoapresentadorcomo
indicadores, forma de monitorar
as ações implementadas, buscan-
do constantemente a melhoria na
qualidade e sua integração com a
produtividade.
Em suma, o programa de Acre-
ditação permite que a instituição
busque assegurar o padrão de qua-
lidade no atendimento, por meio
de procedimentos documentados e
de maneira que indique seus pon-
tos fracos para que a busca pela
excelência seja feita com esforços
direcionados aos reais problemas,
otimizando o tempo gasto para
implementar rotinas e garantindo
maior eficiência e eficácia do siste-
ma como um todo.
Certificação
Segundo Prazeres6
, “Certifica-
ção é a Atividade de comprovação
da qualificação de itens, produtos,
serviços, procedimentos, processos,
pessoal ou de sistema da qualidade,
no todo ou em parte”. A certifica-
ção da qualidade necessariamente
será executada por uma entidade
especificamente designada para tal
(organismo certificador), com base
em requisitos previamente estabe-
lecidos e documentados, podendo
ou não resultar em emissão de cer-
tificados.
“Tanto órgãos governamentais
quanto não governamentais con-
ferem certificação às instituições de
saúde. Embora geralmente volun-
tária, a certificação a confere certa
distinção, que promove a capacida-
de da instituição ou do profissional
de praticar ações em determinada
área. Autoridades governamen-
tais e organizações privadas, como
seguradoras, grupos de emprega-
dores ou planos de saúde, podem
exigir que uma instituição de saúde
atenda a algum tipo de padrão de
certificação para receber reembolso
pelos serviços prestados”7
.
CERTIFICAÇÃO ISO –
International Organization for
Standardization
A história da ISO tem início na
Segunda Guerra Mundial, quando
países aliados não podiam com-
partilhar munições, devido a dife-
renças de unidades de medida em
geral. Assim, a solução dos milita-
res foi a criação de normas para um
desenvolvimento uniforme dessas
munições, surgindo daí diversas
normas com o objetivo de criar pa-
dronizações8
.
A organização ISO tem ori-
gem no Reino Unido, em 1947, e,
é considerada a maior do mundo
nas questões de desenvolvimento
de padrões voltados à área técni-
ca, apontando para a importante
repercussão da utilização de seus
padrões para as áreas econômica e
social ao solucionarem problemas
de produção e distribuição para
engenheiros e outros fabricantes.
A utilidade dos padrões se esten-
de aos ambientes de produção,
tanto privados quanto públicos,
tornando-os mais seguros, eficien-
tes e transparentes. Os governos e
setores de regulação podem utilizá-
los como base técnica para as ques-
tões legais que envolvam saúde,
ambiente e segurança. Os padrões
também podem servir de suporte
na transferência de tecnologia para
países em desenvolvimento, além
de proteger consumidores e usuá-
rios. Dessa forma, a ISO aponta que
seus padrões são positivos para a
sociedade como um todo9
.
Prazeres6
define a Certificação
ISO como:
Gestão de qualidade em saúde: melhorando assistência ao cliente
O Mundo da Saúde, São Paulo: 2011;35(5):319-331.	 327
		Declaração emitida por um
organismo de certificação cre-
denciado, que atesta que a or-
ganização solicitante cumpre
com os requisitos das normas
ISO série 9000. Trata-se de
uma prova pública. Para ser
certificada, a organização pre-
cisa comprovar que tem um
sistema da qualidade implan-
tado e em funcionamento. A
comprovação é feita através
de uma auditoria de certifica-
ção conduzida pelo organismo
de certificação contratado, via
análise da documentação do
sistema da qualidade (procedi-
mentos, instruções de trabalho,
documentos e registros da qua-
lidade) e as evidências objetivas
de sua implementação e funcio-
namento.
A ISO é uma federação mun-
dial atualmente com 90 membros,
composta pelos organismos nacio-
nais de normalização da cada país,
no Brasil representada pela ABNT
(Associação Brasileira de Normas
Técnicas).
A expressão ISO 9000 designa
um grupo de normas técnicas que
estabelecem um modelo de gestão
da qualidade para organizações em
geral, qualquer que seja o seu tipo
ou dimensão. A adoção das nor-
mas ISO é vantajosa para as orga-
nizações, uma vez que lhes confere
maior organização, produtividade e
credibilidade,elementosfacilmente
identificáveispelosclientes,aumen-
tando a sua competitividade nos
mercados nacional e internacional.
A ISO 9000 é uma norma bá-
sica voltada para melhoria contí-
nua e padronização de processos,
com foco no cliente, ou seja, é uma
norma com boa amplitude, não se
restringindo a indicadores e padro-
nizações de processos assistenciais.
Dessa maneira, é uma das mais co-
nhecidas e tem sido utilizada pelos
diferentes segmentos empresariais,
inclusive na área da saúde8
.
O conceito básico adotado pe-
la NBR ISO 9000 define qualidade
como um conjunto de característi-
cas inerentes que satisfaz o requisi-
to. A partir dessa definição, a gestão
de qualidade tem como foco as ne-
cessidades de seus clientes, iden-
tificando requisitos de qualidade
do produto ou serviço, visando a
estabelecer e planejar um padrão
a ser atingido, e com objetivo de
constante busca de melhoria, em
todos os seus aspectos, visando à
satisfação dos clientes e à eficácia
da organização.
A NBR ISO 9001 passou por
uma revisão recentemente, que
ficou conhecida como “versão
2000”. Até dezembro de 2003, os
sistemas de gestão da qualidade
ainda podiam ter como base as
normas NBR ISO 9001, 9002, de
1994, mas, a partir dessa data, to-
das as certificações foram conver-
tidas para a ISO versão 2000. Hoje,
só há um padrão da qualidade, a
norma NBR ISO 9001.
CQH – Compromisso com a
Qualidade Hospitalar
O CQH é um sistema de in-
formações que visa a avaliar a
qualidade do atendimento médi-
co-hospitalar, baseado no registro,
na análise de dados, na aferição da
adequação dos serviços em con-
formidades com as suas normas e
critérios.
Foi inspirado nos trabalhos da
Comissão conjunta de Acreditação
de Organização de Saúde (CCOS),
dos EUA, e resultou de ampla dis-
cussão entre diversas entidades
ligadas ao atendimento médico-
hospitalar no Estado de São Paulo,
catalizada pelo Serviço de Vigilân-
cia Epidemiológica da Secretaria de
Estado da Saúde. As reuniões ini-
ciais para discussão do projeto, em
1989-1990, aconteceram na sede
daquele órgão. Uma vez iniciado, o
programa se estabeleceu na sede da
APM, onde permanece até hoje.
O CQH é um programa de ade-
são voluntária, cujo objetivo é con-
Quadro 1. Princípios de Gestão de Qualidade nas diretrizes ISO
1. Foco no cliente
Entender as necessidades presentes e futuras do
cliente;
Atender aos requisitos do cliente;
Exceder as expectativas do cliente.
2. Liderança
Manter a unidade de propósito e direção;
Manter um bom ambiente interno da organização;
Liderar pelo exemplo.
3. Envolvimento das
pessoas
Criar um ambiente de motivação;
Proporcionar a participação;
Aproveitar e valorizar o talento e as aptidões.
4. Abordagem de
processo
Gerenciar as atividades e recursos pertinentes como
um processo, para garantir com maior eficiência o
alcance dos resultados desejados.
5. Abordagem
Sistêmica de Gestão
Identificar, entender e gerenciar os processos inter-
relacionados, visando à eficácia da organização.
6. Melhoria Contínua Buscar a melhoria com objetivo permanente.
7. Enfoque factual para
tomada de decisão
Tomar decisão eficaz baseada na análise de dados e
informações.
8. Relacionamento com
os fornecedores para
benefício mútuo
Estabelecer a base para criação de valor para as partes
baseada no relacionamento “ganha-ganha”.
Fonte: ABNT. Princípios de Gestão de Qualidade.
Gestão de qualidade em saúde: melhorando assistência ao cliente
328	 O Mundo da Saúde, São Paulo: 2011;35(5):319-331.
tribuir para a melhoria contínua da
qualidade hospitalar. Estimula a
participação, e a autoavaliação da
candidata estabelece um compo-
nente educacional muito impor-
tante, que é o incentivo à mudança
de atitude e de comportamento.
Incentiva o trabalho coletivo, en-
volvendo grupos multidisciplinares
no aprimoramento dos processos
de atendimento. A missão do pro-
grama é contribuir para a melhoria
contínua da qualidade do aten-
dimento nos serviços de saúde
mediante metodologia específica,
estimulando a melhoria contínua
da qualidade de produtos e servi-
ços, estabelecendo amplo entendi-
mento dos requisitos de excelência
e desempenho.
PNGS – Prêmio Nacional de
Gestão em Saúde
O Prêmio Nacional da Ges-
tão em Saúde (PNGS) foi criado
em 2003, a partir da iniciativa da
Fundação Nacional da Qualidade
(FNQ) e do Controle da Qualidade
Hospitalar (CQH), com o objetivo
de incentivar as organizações da
área da saúde a avaliarem e busca-
rem melhorias contínuas de seus
sistemas de gestão.
O PNGS tem como missão con-
tribuir para o aprimoramento das
práticas de gestão nas organizações
de saúde, por meio da avaliação e
reconhecimento das melhores
práticas no setor. Sua visão é servir
como modelo de referência para
avaliação e orientação da gestão
das organizações de saúde em todo
o País.
É um programa de adesão vo-
luntária, cujo objetivo é contri-
buir para a melhoria contínua da
qualidade hospitalar. Estimula a
participação e a autoavaliação e
contém um componente educa-
cional muito importante, que é
incentivo à mudança de atitudes
e de comportamentos. Incentiva o
trabalho coletivo, principalmente
o de grupos multidisciplinares no
aprimoramento dos processos de
atendimento.
A busca desse prêmio reconhe-
ce as organizações que se destacam
pela utilização de práticas de gestão
e que apresentam resultados supe-
riores de desempenho.
O instrumento possui um sis-
tema de avaliação simplificada que
foca o desenvolvimento e aper-
feiçoamento de seus sistemas de
gestão, indicando seus principais
pontos fortes e oportunidades de
melhoria.
Para ser inscrito e concorrer a
esse prêmio, a organização deve sa-
tisfazer algumas condições: ter pelo
menos um ano de existência; ter,
no mínimo, dez profissionais na
força de trabalho; não ser operado-
ra de plano de saúde; ter registro no
Conselho Regional de Medicina do
seu Estado; estar inscrita no CNPJ.
Ao participar do PNGS, a orga-
nização de saúde estará fazendo
diagnóstico de seu sistema de ges-
tão, que indicará seus principais
pontos fortes e oportunidades de
melhorias, possibilitando a defi-
nição de planos de ação mais con-
sistentes, com base nas principais
lacunas identificadas pela banca
examinadora, composta por pro-
fissionais altamente capacitados.
As inscrições das organizações
de saúde consideradas elegíveis se-
rá feita mediante a entrega do Re-
latório da Gestão (RG) e envio do
pagamento referente à inscrição no
processo. A candidatura pode ocor-
rer para o prêmio Prata ou Prêmio
Ouro.
Ao candidatar-se ao PNGS, a
organização terá como benefícios:
compreensão dos requisitos para
excelência do desempenho; iden-
tificação de forma sistemática dos
pontos fortes e oportunidades de
melhoria; integração das necessi-
dades de todas as partes interes-
sadas no seu sucesso; comparação
com os referenciais de excelência e
divulgação; e reconhecimento do
nome de sua organização, quando
premiada.
O caminho de uma organização
em direção à excelência é um desa-
fio a ser superado com constância
de propósitos com profissionais
competentes, que levam a institui-
ção a um estágio de maturidade no
sistema de gestão. A organização
que adota o Modelo de Excelência
de Gestão consegue mapear com
clareza seu negócio e pode obter
melhoria na forma de atuação.
Os colaboradores compreendem
o seu papel e a direção para qual
caminhar.
Alguns aspectos diferem os
Critérios de elegibilidade para a
organização que deseja ser elegível
para esse prêmio, a saber: ter pelo
menos 1 ano de existência, ter, no
mínimo, 10 profissionais na força
de trabalho; não ser operadora de
plano de saúde; e ter registro no
Conselho Regional de Medicina de
seu Estado.
Categorias de premiação a con-
correrem são: Hospitais, Laborató-
rios de patologia clínica, Clínicas de
especialidades médicas, Clínicas de
Imagem, Oncologia, Diálise, Aten-
dimento Domiciliar, Hemoterapia.
O Modelo de Excelência da
Gestão tem como base um con-
junto de conceitos em práticas ou
fatores de desempenho encontra-
dos em organizações que buscam
constantementeoaperfeiçoamento
e a adaptação às mudanças em um
cenário ágil e turbulento. Os funda-
mentos que embasam os conceitos
são: Liderança, Estratégias e Planos,
Clientes, Sociedade, Informações e
Conhecimento, Pessoas, Processos
e Resultados. O referencial desse
modelo é a visão sistêmica perme-
ada por trabalho em equipe cons-
truída por profissionais capazes e
dirigidos por lideranças de alta ca-
pacitação.
Gestão de qualidade em saúde: melhorando assistência ao cliente
O Mundo da Saúde, São Paulo: 2011;35(5):319-331.	 329
Considerações finais
“Qualidade” é um termo utili-
zado por diversos especialistas, sob
diferentesperspectivas,tendocomo
ponto comum identificar focos que
promovam seu desenvolvimento
na gestão institucional. A busca de
um conceito único torna-se algo
difícil, especialmente na área da
saúde. À medida que a gestão da
qualidade em saúde se organiza,
é evidente o benefício que gera ao
cliente, quer seja no setor público,
quer no privado.
Instituições mais preparadas,
com processos mais estruturados,
irão certamente assegurar a esses
clientes garantias de melhor as-
sistência e, portanto, um restabe-
lecimento de saúde com práticas
mais definidas e disseminadas na
instituição, pois implica também
preparar os profissionais, por meio
de capacitação e desenvolvimento
contínuos, humanização no trata-
mento com usuários, competência
técnica e prazer em fazer parte da
equipe que integra.
Quando o colaborador está
apropriado da visão sistêmica do
trabalho, interconectada aos dife-
rentes serviços, atuará de forma a
estimular a integração entre pes-
soas e áreas. Essa convergência
certamente gera satisfação ao pro-
fissional e sucesso à organização,
alémdeumclaroreflexonosaspec-
tos de sustentação da instituição.
Conclusões
O Governo Federal brasileiro
tem atuado no sentido de desen-
volver programas cuja tendência
voltem-se para uma visão preven-
tiva e sistêmica, visando à diminui-
ção dos investimentos praticados
no nível terciário e quaternário,
além da ampliação e abrangência
de ação na sociedade, por meio do
incentivo das ações preventivas, no
segmento primário e secundário.
Tanto nos hospitais públicos
quanto nos privados, encontramos
graves problemasrelativos à área fí-
sica e de apoio, à ausência de equi-
pamentos em áreas emergenciais
– UTI e Prontos-Socorros. O Gover-
no Federal considera os programas
preventivos ações de longo prazo,
como alternativa para minimizar as
deficiências estruturais, diminuin-
do o fluxo de atendimento nesses
hospitais.
As condições físicas dos estabe-
lecimentos de saúde brasileiros, em
muitos aspectos, apontam para a
necessidade de reestruturação das
normas das instalações físicas de
segurança e cuidado ao paciente e
colaborador. Os Programas de Qua-
lidade ou de Gestão Hospitalar bus-
cam a superação dessas deficiências
na gestão da infraestrutura, mate-
riais e equipamentos, constituindo
medidas práticas de melhoria, que
apoiam a excelência e a humani-
zação da saúde, no atendimento à
população.
Mesmo com a existência de
alguns serviços de saúde que uti-
lizam dispositivos de qualidade, o
contexto evidencia que, na maioria
desses serviços, ocorre a inexistên-
cia de sistemas de monitoramento
e controle de qualidade. Há falta
ou desconhecimento de normas e
protocolos assistenciais e não acon-
tece o seguimento quando existem.
Há ausência de regionalizações ou
hierarquização formal e informal
dos cuidados, assim como ausência
na definição e fluxos no sistema de
saúde. Observa-se baixa capaci-
dade técnica e administrativa dos
serviços, ausência de estruturas ge-
renciais bem organizadas, padrões
de reembolso subestimados, não
cobrindo os custos reais e infraes-
trutura deteriorada e obsoleta.
Essa realidade, por vezes, im-
pulsiona alguns segmentos da
população na busca de assistência
em clínicas e consultórios. Por is-
so, também é esperado que a lógi-
ca desse setor esteja permeável às
questões principais impostas pela
“Qualidade”.
Outro ponto relevante a ser ob-
servado é a crescente busca de gru-
po de estrangeiros para assistência
médica no Brasil. Tal fato remete a
que se entenda a busca por acredi-
tações e certificações internacionais
conhecidas desses usuários.
No momento atual, a maioria
das instituições de saúde realiza
diagnóstico das falhas nos proces-
sos. As ações de promoção de me-
lhoria, com resultados palpáveis
para o cotidiano dos serviços pres-
tados, ainda representam lacunas
desse contexto. Na nova organiza-
ção de saúde, existem diferentes
instâncias que necessitam da im-
plementação de melhorias, tanto
na relação médico-paciente, quan-
to na capacitação profissional, em
níveis gerencial, administrativo e
operacional. Consolidar e fortale-
cer o processo de gestão da quali-
dade significa aproximar as áreas
técnicas e estratégicas dentro das
instituições. Os serviços de saúde,
quaisquer que sejam eles, devem
deixar de ser entendidos apenas
como locais de promoção, preven-
ção e assistência aos pacientes, mas
deve ser encarado como organiza-
ções que necessitam de gerencia-
mento e foco no cliente.
Éimportanteatribuiraousuário
do serviço de saúde papel relevante
na montagem e funcionamento do
serviço, portanto, é fundamental
buscar conhecer e entender o seu
modo de perceber o atendimento
prestado. Não há dúvidas de que
o funcionamento dos serviços de
saúde acabam por organizar-se
para atender as necessidades exclu-
sivas dos profissionais e das institui-
ções que representam, relegando o
usuário a uma posição secundária,
criando um círculo vicioso inter-
minável de desconhecimento/não
participação/atendimento insatis-
fatório. Ouvi-lo é estratégico ao
Gestão de qualidade em saúde: melhorando assistência ao cliente
330	 O Mundo da Saúde, São Paulo: 2011;35(5):319-331.
processo de mudanças no modelo
assistencial atual. Uma abordagem
aberta pode oferecer uma meto-
dologia adequada para equilibrar
essa relação de poder entre médi-
co, paciente e entre instituição e
paciente.
As metodologias de “Quali-
dade” auxiliam na reestruturação
dos processos internos, gerando
benefícios para o usuário e para os
colaboradores, tanto na configu-
ração das atividades de trabalho,
como na manutenção do foco em
infraestrutura. Constata-se a exis-
tência de diferentes abordagens e
programas para “Qualidade”. Al-
gumas valorizam a produtividade
e o equilíbrio da organização, ou-
tras estão voltadas ao desenvolvi-
mento do potencial humano. Tais
tendências mostram-se presentes
nos planos e ações das instituições
que atuam nesse segmento. Nota-
se que os hospitais brasileiros ainda
possuem problemas no que tange
à infraestrutura e organização dos
processos. Destaca-se, na análise,
que a maioria dos hospitais sub-
metidos à acreditação são serviços
privados. O processo de acreditação
gera um custo institucional, que os
serviços de saúde públicos não con-
seguem arcar.
Além da acreditação, percebe-
se um movimento em torno da
certificação da ISO, nos diversos
segmentos da saúde, principalmen-
te nos hospitais. A maioria deles,
inicialmente, optou por métodos
de certificação, sendo o Sistema de
Qualidade da Norma ISO 9000 o
mais adotado por sua aplicação de
caráter parcial, técnica e orienta-
dora. Posteriormente, algumas ins-
tituições adotaram outros métodos,
evidenciando a busca de uma vi-
são sistêmica do sistema de saúde,
como por exemplo, a Acreditação.
Recomendações
Consolidar e aprofundar a apli-
cação de metodologias de quali-
dade para os serviços de saúde;
gerar plano de desenvolvimento
e capacitação efetiva de recursos
humanos, como fator essencial de
qualidade institucional; realizar
pesquisa com as instituições que
aplicaram as diferentes metodo-
logias de “Qualidade”, buscando
objetivamente avaliar “o antes e o
depois” da aplicação, obtendo um
panorama nacional dos avanços
da gestão em saúde; incrementar
ações de controle e avaliação de
Programas de Qualidade voltadas
para a gestão da melhoria dos ser-
viços do sistema de saúde.
Referências
1. Teixeira JMC. Sistemas médicos, técnicos e administrativos do hospital moderno: sua ordenação. In: Machline C, et al. O hospital
e a visão administrativa contemporânea. 2a ed. São Paulo: Pioneira; 1989.
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3. Paganini JM, Novaes HM. Garantia de qualidade – acreditação de hospitais para a América Latina e Caribe. Brasília: OPAS; 1992.
[OPAS – Série Silos, 13].
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Bibliografia consultada
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Almeida Prado AR. Acessibilidade e Desenho Universal – pensando no idoso; 2005. Disponível em: http://www.creape.org.br
Gestão de qualidade em saúde: melhorando assistência ao cliente
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Capixaba de Pesquisas em Contabilidade, Economia e Finanças; 2007.
Recebido em 4 de março de 2011
Versão atualizada em 14 de abril de 2011
Aprovado em 23 de maio de 2011

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  • 1. artigo de revisão / review article / discusión crítica O Mundo da Saúde, São Paulo: 2011;35(5):319-331. 319 * Docente do Centro Universitário São Camilo. Doutora em Administração Hospitalar FSP – Faculdade de Saúde Pública da Universidade de São Paulo-USP. E-mail: v_bonato@hotmail.com Gestão de qualidade em saúde: melhorando assistência ao cliente Health quality management: improving support to client Gestión de calidad en salud: mejorando asistencia al cliente Vera Lucia Bonato* Resumo: O presente artigo trata dos conceitos de qualidade, aplicados ao segmentos da saúde em todos os seus níveis de planejamen- to e execução. Apresenta, também, algumas metodologias de avaliação de qualidade, que estão sendo frequentemente utilizadas em diferentes instituições de saúde públicas ou privadas. Palavras-chave: Assistência. Sistemas de Saúde. Qualidade. Abstract: This paper deals with the quality concepts applied to the health segment in all its implementation and planning levels; it also presents some quality evaluation methodologies that are usually used in different public or private health institutions. Keywords: Assistance. Health Systems. Quality Management. Resumen: El presente artículo trata de los conceptos de calidad, aplicados al segmento de la salud en todos sus niveles de planificación y ejecución; presenta también algunas metodologías de evaluación de calidad, que están siendo frecuentemente utilizadas en diferentes instituciones de salud públicas o privadas. Palabras-llave: Asistencia. Sistemas de Salud. Gestión de Calidad. Introdução Este artigo aborda o tema “Qua- lidade” a partir das experiências de trabalho em saúde, constatando que práticas de saúde só se reali- zam por meio da ação humana, responsáveis pela organização do trabalho. Compreender como se efetiva a “Qualidade” e como os diferentes Sistemas de Avaliação são pratica- dos,qualapercepçãodosdiferentes atores sociais que participam nesse processo, nos diferentes níveis de ação em saúde, é um desafio cons- tante a ser realizado pelo gestor. Nesse campo, é fundamental en- tender o conceito de “Qualidade” pelos que conduzem os processos tanto assistenciais como aqueles voltados à gestão. A “Qualidade” é uma práxis ilu- minada pela crítica e vice-versa; se entendida e tratada nessa perspec- tiva, representa uma importante contribuição para a existência, con- cretude e historicidade do setor. Nas décadas de 80 e 90, o con- ceito de “Qualidade” passou a cir- cular nos meios de comunicação, levando as empresas a transforma- rem-se, com vistas ao futuro; pela necessidade de sustentabilidade. O planejamento, a revisão de processos e o acompanhamento de performance, assim como me- lhorias constantes, passaram a ser vitais para o posicionamento das organizações no mercado. Siste- mas de Qualidade foram adotados na busca de competitividade, de eficiência e eficácia dos processos e dos altos índices de desempenho com resultados de sucesso. Esse movimento refletiu mu- danças na gestão das organizações, cujo olhar dirigiu-se à reestrutura- ção, inovação e para a busca de ex- celência, por meio de práticas mais racionais e focadas nas demandas dos clientes. Dentre as mudanças requeridas destacam-se: a visão sistêmica da organização dos seus processos institucionais, a transfor- mação dos indivíduos, com ações dirigidas por novos paradigmas, buscando autorrealização e ino- vação, estímulo ao desenvolvi- mento de novas capacidades, da criatividade e alta produtividade, mobilizando sujeitos mais capazes, criativos e produtivos. Verifica-se, por parte das organizações, tendên- cia à valorização dos talentos hu- manos para atuarem como agentes participativos do replanejamento e da resignificação do contexto do trabalho vigente. Constata-se, portanto, que os profissionais vêm sofrendo influ- ências diversas. Entre elas, o traba- lho que contribuiu para mudanças no plano profissional e pessoal, exi- gindo do trabalhador postura ativa, participativa e transformadora, afe- tando diretamente as relações com as organizações e o modo de fazer.
  • 2. Gestão de qualidade em saúde: melhorando assistência ao cliente 320 O Mundo da Saúde, São Paulo: 2011;35(5):319-331. Essas considerações permitem refletir sobre a abrangência e in- fluência da “Qualidade” nos di- versos campos da sociedade, com destaque para a saúde. Dentre as diferentes organizações que se preocupam com saúde, podemos destacar hospitais, clínicas, unida- des ambulatoriais, de emergência, consultórios, entre outros. Hospitais são instituições pres- tadoras de serviços de grande im- portância social, possuindo alta complexidade e peculiaridade, portanto a prática da “Qualidade” adquire enfoque e diferencial espe- cíficos. Conhecer a história, evolu- ção e funcionamento dos hospitais permite delinear o cenário em que se configuram as ações da “Quali- dade”, que deram início às práticas que tiveram suas primeiras iniciati- vas nos setores voltados a produtos, e se aproximando posteriormente da área de prestação de serviços, como saúde, educação e outros. Focando na saúde, temos Teixeira1 , que afirma: os avanços tecnológicos e o aparecimento da medicina científica, no fim do século XIX e início do século XX, revolu- cionaram o papel e as funções do hospital. Ele deixa de ser um local onde pobres e doentes são levados para morrer, transfor- mando-se na mais importante instituição para o tratamento de enfermidades, oferecendo ao médico infraestrutura que não podia ser deslocada à re- sidência do paciente (...) no século XX, o hospital ampliou suas fronteiras e passou a servir toda a comunidade. Quanto à questão econômi- ca, o hospital responde hoje pelos maiores custos dos cuidados com a saúde, assim, procura-se dimi- nuir as internações, aumentando os serviços ambulatoriais, a assis- tência domiciliar, expandindo e formalizando compromissos com a qualidade, satisfazendo o usuário e diminuindo custos. Atualmente, as instituições hospitalares são sistemas abertos que sofrem a ação do meio, sen- do influenciadas pela evolução e mudanças em todos os campos sociais, tornando-se um espaço multidisciplinar de interação com a sociedade. O cenário hospitalar atual caracteriza-se por conter um sistema mais humano do que mecânico; paradoxalmente, é muito burocrático, com regras e regulamentos para controlar o comportamento e o trabalho de seus membros. Perdeu, qua- se totalmente, suas caracterís- ticas paternais e autoritárias, assumindo caráter de organi- zação funcional-racional-buro- crática1 . O esforço de construção e or- ganização de um sistema produ- tivo que contemple relações mais claras e definidas entre os diversos atores sociais constitui um desafio dos pensadores da administração, da psicologia, entre outros, princi- palmente quando abordado o tema saúde, seja qual for o cenário em destaque: clínica, consultório, hos- pital, unidade básica, laboratório. Frente ao mundo repleto de transformações tecnológicas, eco- nômicas e sociais, encontra-se no conhecimento e na informação a vantagem competitiva para o indi- víduo e para as organizações. Criar um ambiente de trabalho estimulador para compartilhar co- nhecimento, em que as relações pessoais se manifestam, gerando novos conhecimentos, o desen- volvimento de novas competên- cias, coloca-se como desafio para a organização focada na gestão das pessoasepreocupadacoma“Quali- dade”. Ao potencializar o saber dos indivíduos, a organização realizará saltos em busca de crescimento e inovação. É preciso conhecer e entender as mudanças atuais nos diferen- tes âmbitos: social, econômico, organizacional e psicológico, para poder administrá-las. Esse é o ca- minho para a construção de uma organização que evolui em parale- lo com o desenvolvimento social e estimula seus trabalhadores rumo à cidadania. Organizações vencedoras serão aquelas que criarem alternativas com maior rapidez, avançando, melhorando, identificando suas fragilidades e estabelecendo opor- tunidades para criar mecanismos inovadores no cotidiano. Outro aspecto que merece destaque é a definição e identificação da concor- rência, estabelecendo formas para identificá-las e mecanismos para lidar com ela. A“QualidadeTotal”surgecomo ferramenta de apoio para tratar esta realidade. Assume diferentes significados: qualidade de trabalho, serviço, informação, processo, es- trutura e pessoas. Implica a satisfa- ção das expectativas e necessidades dosclientespormeiodeumagestão científicadosprocessos,baseadaem fatos e dados, voltada para a corre- ção e prevenção de erros. Deve ser baseadanamanutençãoemelhoria dos padrões de desempenho atuais, com produtos e serviços melhores e mais competitivos, participação e envolvimento dos membros da or- ganização, considerando aspectos éticos que envolvem a prestação dos serviços de saúde. A construção dos conceitos de “Qualidade” envolve uma multi- plicidade de variáveis, assinalando setores e tendências predominan- tes, em um dado contexto de tra- balho. Constata-se, na literatura es- pecífica e na prática, a existência de diferentes abordagens para “Qualidade”. Algumas valorizam a produtividade e o equilíbrio da organização, outras estão mais
  • 3. Gestão de qualidade em saúde: melhorando assistência ao cliente O Mundo da Saúde, São Paulo: 2011;35(5):319-331. 321 voltadas ao desenvolvimento do potencial humano. Tais tendências mostram-se presentes nos planos e ações das organizações, que atuam no segmento saúde, independen- temente do seu porte. As ações dos gestores em saúde contêm a representação social do conceito de “Trabalho” e “Quali- dade”, que estabelece a vinculação do fazer com a percepção e com a verdade tomada pela liderança como direcionadora de seus pla- nos de trabalho. Essas ações, fre- quentemente, parecem ser mais dirigidas intuitivamente do que embasadas em um conhecimento construído, alinhando a teoria e a prática. Portanto, torna-se essencial queosprofissionaisbusquemapoio na literatura, em benchmarking, vi- sando ao suporte e consistência na implementação de seus projetos, adequando-os à realidade de cada serviço, seja ele uma unidade de saúde, um hospital ou, ainda, uma clínica. Esse processo sistematizado e com bons alicerces legitimará as práticas institucionais, validando as ações propostas. Em algumas instituições, cons- tata-se que o gestor da “Qualidade” ocupa lugar em esferas decisórias, fazendo parte do planejamento es- tratégico da organização, podendo integrar as metas da “Qualidade” aos objetivos macroinstitucionais, fato bastante favorável para impul- sionar programas dessa natureza. A sistemática de qualidade es- colhida pelos serviços de saúde, qualquer que seja, está vinculada a um conjunto de ações e posições socioculturais de seus gestores. Retrata relações estabelecidas en- tre eles, no processo de trabalho e em seus grupos de referência, refletindo-se nas opções definidas. O sistema de crenças e valores dos indivíduos e da organização está embutidonaescolhametodológica, que visa a atender às expectativas das partes comprometidas no pro- cesso. Os sistemas híbridos podem ser positivos e alavancadores de um desenvolvimento crescente e espi- ralado, envolvendo, cada vez mais, os diversos níveis da instituição. Considera-se a aproximação das áreas técnica e estratégica es- sencial para o sucesso das ações de “Qualidade”, pois envolvem mu- danças estruturais e paradigmáticas visíveis aos profissionais e usuários. O movimento institucional pela qualidade gera, na coletividade, a clara identificação e a visão refe- rente ao real apoio destinado aos programas dessa natureza. A trans- parência desse processo de aproxi- mação entre os diferentes atores envolvidos interfere diretamente nos resultados pretendidos, uma vez que os indivíduos aprendem, no decorrer de suas existências, a decodificarmensagensverdadeiras, daquelas que manipulam o corpo funcional. As sistemáticas de “Qualidade” na área da saúde como modelo de gestão A seguir, serão apresentadas, de modo sucinto, as metodologias de “Qualidade” e suas principais características. A primeira grande classificação a ser colocada refere- se ao conceito de acreditação e cer- tificação. Acreditação Acreditação é um procedi- mento da avaliação dos recursos organizacio­nais, “voluntário”, pe- riódico e reservado, que tende a garantir a qualidade da assistência com base em padrões previamen- te aceitos. A acreditação tem início com uma avaliação de qualidade e de proce­dimentos baseada em padrões internacionalmente le- gitimados, ge­rando um conjunto de orientações para a organização, visando à melhoria do seu desem- penho. Na acreditação, não se avaliam setores ou departa­mentos isoladamente, mas todos os servi- ços da organização. Um programa de acredita- ção hospitalar deve ter efetiva responsabili­dade em medir o de- sempenho, em promover me- lhorias de qualidade facilitando estímulos externos e o necessário esforço interno, e deve ter também genuína responsabilidade perante os usuá­rios/consumidores. É importante ressaltar que a ênfase da avaliação é na qualidade do serviço profissional prestado, independentemente dos recursos tecnoló­gicos envolvidos. O atendi- mento deve pautar-se pelo critério da excelên­cia, aproveitando-se da tecnologia disponível, qualquer que seja ela. Sendo assim, tanto o hospital público quanto o hospital privado, locali­zados em uma me- trópole ou zona rural, terão que se adaptar aos mesmos padrões de qualidade. Acreditação é um método de avaliação externa da “Qualidade” dos serviços de saúde. Difundida em países de língua inglesa, ante- cedeu o movimento do gerencia- mento da “Qualidade Total”. Seu desenvolvimento se confunde com aquele dos serviços de saúde nos Estados Unidos, exemplo mais conhecido e divulgado dessa ver- tente da “Qualidade”. Por ter sido desenvolvida para a saúde e dentro da sua realidade, envolveu, sobre- tudo, a corporação médica. Essas características tendem a diminuir as resistências observadas no setor para a adoção de métodos de ava- liação. O modelo de acreditação mar- ca a medicina americana tentando assegurar a excelência dos pro- cedimentos médicos e garantir a segurança das ações de saúde, res- pondendo, assim, com a prestação
  • 4. Gestão de qualidade em saúde: melhorando assistência ao cliente 322 O Mundo da Saúde, São Paulo: 2011;35(5):319-331. de serviços com qualidade para uma sociedade organizada e cons- ciente de seus direitos. Os modelos de avaliação não têm impacto somente na quali- dade do atendimento ao paciente, mas também afetam todas as partes envolvidas no Sistema de Saúde, como:médicos,outrosprofissionais da área, fornecedores, investidores e a comunidade em geral. O processo de acreditação pro- põe a participação voluntária das instituições, estimulando-as a um comportamento de procura da melhoria contínua da Qualidade, criando e desenvolvendo a integra- ção com a sociedade, estimulando a cidadania. Tem um caráter emi- nentemente educativo, voltado para melhoria contínua, sem fina- lidade de fiscalização ou controle oficial. As principais vantagens da acreditação são: segurança para os pacientes e profissionais; qualidade da assistência; construção de equi- pe e melhoria contínua; útil instru- mento de gerenciamento; critérios e objetivos concretos adaptados à realidade brasileira; o caminho para melhoria contínua. De acordo com uma análise do COREN (Conselho Nacional de Enfermagem), os processos de “Acreditação Hospitalar” vêm au- mentando no Brasil. Isso ocorre por duas razões: a primeira, pela disseminação do Manual da Or- ganização de Acreditação – ONA (Organização Nacional de Acredi- tação), que serve como base para obtenção do título e detalha os processos administrativos e seus atributos mínimos – liderança, ad- ministração, garantia de qualidade, organização da assistência, atenção ao paciente/cliente e diagnósticos – para o bom funcionamento de em um estabelecimento assistencial de saúde e, dessa forma, torna-se um instrumento de inestimável valor para o administrador hospitalar; a segunda, pelo impacto positivo que a Acreditação causa no corpo fun- cional e nos cliente das instituições de saúde. Com o intuito de alcançar os mais elevados padrões assisten- ciais, os hospitais buscam iniciati- vas que respondem as necessidades dos clientes. A qualidade tornou-se um fator significativo, conduzindo instituições para os mercados na- cionais e internacionais, buscando êxito organizacional e crescimento. Uma das iniciativas está volta- da para o processo de “Acreditação Hospitalar”, que impõe novas exi- gências no que se refere às mudan- ças comportamentais, mobilização constante dos profissionais em bus- ca de metas e objetivos propostos, além da melhoria permanente e contínua do atendimento prestado. Segundo Bonato2 : O estudo da qualidade no cam- po da saúde envolve, além de um conjunto de técnicas, uma dimensão mais ampla de ações como projeto social, cujos ele- mentos principais para seu desenvolvimento são aqueles que atuam e exercem seu pa- pel nessa cadeia, considerando a pluralidade das mudanças e das diferentes lógicas. Dessa maneira, o conjunto de práti- cas e ações desenvolvidas pelos sujeitos são construídas a partir de uma história pessoal e social com autonomia, embora esti- mulada institucionalmente. O novo paradigma exige dos profissionais posturas que reflitam ainternalizaçãodevaloreserevisão de conceitos, que pela sinergia das pessoas e da organização construi- rão um novo cenário das relações e do processo de trabalho. Segundo Paganini, Novaes3 , “o processo de acreditação, no Bra- sil, começa a tornar-se possível no início dos anos noventa, com a publicação da ‘Acreditação de Hospitais para América e Caribe’”. Em 1990, foi firmado um convênio entre a (OPAS) Organização Pan- Americana de Saúde e a Federação Latino-Americana de Hospitais para produção de um manual de “Padrões de Acreditação para Amé- rica Latina”, estruturado em pa- drões e níveis “mínimos” a serem atingidos. Em 1992, foi realizado, em Brasília, o primeiro seminá- rio nacional de acreditação, com a participação de representantes de diversas entidades nacionais da área da saúde, sendo apresentado o “Manual de Acreditação”. Acreditação Canadense Para aprimorar a qualidade de atendimento e serviços, hospitais brasileiros contam com a experiên- ciadoSistemadeSaúdedoCanadá, que exporta seu conhecimento por meio de um Programa de Acredita- ção existente, há mais de 50 anos, naquele país. A“AcreditaçãoCanadense”tem como foco a segurança do paciente e as boas práticas no atendimen- to. A certificação canadense abre caminho às instituições de saúde brasileiras para buscar seu posicio- namento conceitual com o restante do mundo. O modelo canadense de acre- ditação de serviços de saúde, reco- nhecidos como um dos melhores do mundo, oferece uma gama de soluções de qualidade, já testadas, possibilitando sua eventual adoção no Brasil, com alterações ou adap- tações mínimas. Os indicadores incluem categorias que englobam a qualidade e o desempenho de todas as áreas de atendimento dos serviços de saúde, incluindo os ele- mentos: atendimento, recepção de pacientes, calibragem de equipa- mentos, capacitação e tecnologia de gestão. O sistema de acreditação poderá ser utilizado localmente por hospitais e outros serviços de saúde na obtenção de um selo de quali-
  • 5. Gestão de qualidade em saúde: melhorando assistência ao cliente O Mundo da Saúde, São Paulo: 2011;35(5):319-331. 323 dade diferenciado e de reconheci- mento internacional. Esse modelo é uma ferramenta importante de gestão institucional, proporcio- nando às instituições de Saúde melhorias contínuas e a procura da excelência em gestão. O CCHSA (Canadian Council on Health Services Accreditation) avalia os processos de qualidade dentro das instituições que já, em sua maioria, possuem o nível de exce- lênciapelaONA.Aavaliaçãoenvol- ve a verificação diária de atividades eserviçosemrelaçãoapadrõespre- estabelecidos e utiliza, como norte, princípios de excelência alinhados à segurança do paciente, com base na criação de protocolos e fluxos de atendimento assistencial. O CCHSA tem como princí- pio da metodologia avaliar pontos considerados fundamentais para a qualidade, a saber: estratégia e liderança, cultura organizacional; informaçãoecomunicação;proces- sos em times de trabalho; resulta- dos; segurança dos pacientes. O processo de implantação exige: envolvimento das equipes, com a formação de times de traba- lho; reestruturação dos processos; revisão de protocolos; assim como coerência entre diretrizes e metas. Além de ter emitido certificados para 977 organizações canadenses somente em 2007, o CCHSA, a cada ano, acompanha o crescimen- to de sua presença mundialmente. O auxílio prestado na reestrutura- ção, organização, avaliação e me- lhoria da qualidade da assistência e dos serviços prestados pelos órgãos de saúde atraíram, até o momento, o interesse da França, da Itália, dos Emirados Árabes, do Caribe, entre outros, somando mais de 3.500 lo- calizações internacionais. Por aumentar a confiabilidade de médicos e pacientes e a motiva- ção dos colaboradores, o programa AC (Acreditação Canadense) “gera uma grande reformulação na for- ma de ver, de fazer e de disponibi- lizar cuidados de saúde dentro de um hospital”. Em 1993, o manual de acre- ditação para os hospitais era diri- gido para funções da organização e do cuidado ao paciente para mudar o foco dos padrões que medem a capacidade de desempenho da or- ganização, para aqueles padrões que observam seu desempenho real. Nesse mesmo ano, a JC (Joint Commission) iniciou visitas ao aca- so não anunciadas em cerca de 5% das organi­zações acreditadas nos EUA, e o número e a natureza das queixas confir­madas contra insti- tuições acreditadas tornaram-se de domínio público. Em 1998, a política de eventos sentinela foi reformulada com o in- tuito de promover o autorrelatório dos erros médicos para examinar a causa-raiz desses eventos. Em 1999, a missão da JC é revi- sada, explicitando a referência na segurança do paciente “para con- tinuamente melhorar a segurança e qua­lidade do cuidado oferecido ao público através da provisão da acredita­ção do cuidado de saúde e serviços relacionados que apóiam a melhora do desempenho nas organizações de saúde”. A JC cria uma hotline gratuita para encorajar pacientes, seus familiares e pro- fissionais da sa­úde a compartilhar preocupações com relação à quali- dade do serviço nas organizações acreditadas. CBA – Consórcio Brasileiro de Acreditação de Sistemas e Serviços de Saúde Em 1998, foi constituído o Con- sórcio Brasileiro de Acreditação de Sistemas e Serviços de Saúde por Protocolo de Cooperação, firmado a 8 de junho, que associa a expe- riência acadêmica, científica e de formação de recursos humanos da Universidade do Estado do Rio de Janeiro – UERJ, por meio de seu Instituto de Medicina Social, à tra- dição e à capacidade técnica do Co- légio Brasileiro de Cirurgiões – CBC e da Academia Nacional de Medici- na–ANMeàexperiênciadeavalia- ção de sistemas sociais da Fundação CESGRANRIO, cabendo a essa últi- ma alocar tal acreditação. A união das quatro instituições teve por finalidade possibilitar, na área da saúde, o desenvolvimento de avaliações e ações de aprimora- mento da qualidade, trabalhando em estreita cooperação. Ao mesmo tempo, visou a assegurar: a parti- cipação das entidades que repre- sentam os prestadores de serviços; os financiadores do atendimento à saúde; os representantes dos usuá- rios; comunidade; profissionais da saúde; e das instituições técnico- científicas ligadas a esta área. O Consórcio Brasileiro de Acre- ditação (CBA) é o único repre- sentante da JCI (Joint Commission International)noBrasil,comsedeno Rio de Janeiro, con­tando com uma equipe de profissionais especializa- dos, constituída por médicos, en- fermeiros e administradores. Além da adoção de rigorosos processos de seleçãoeformação,oCBAmantém um efetivo programa contínuo de educação e qualificação contando com a participação em várias opor- tunidades de técnicos e consultores da JCI, assim como com a presença deprofissionaisdoCBAemativida- des internacionais, tanto na sede da JCI, em Chicago, como em outras localidades. O planejamento das avaliações é feito com base nas características do hospital informadas, em geral, pelo diretor da instituição quando do preenchimento da solicitação da avaliação, por decisão voluntária do hospital. Durante a avalia­ção, os avaliadores verificarão a conformi- dade da estrutura, dos proces­sos e dos resultados obtidos pelo hospital comparadoscompadrõesdomanu-
  • 6. Gestão de qualidade em saúde: melhorando assistência ao cliente 324 O Mundo da Saúde, São Paulo: 2011;35(5):319-331. al. As fontes da avaliação utilizadas pelos avaliadores são entrevis­tas com pacientes e familiares, entre- vistascomfuncionáriosdohospital, reuniões e observações diretas por meio de visitas aos diversos setores do hospital, incluindo os prontuá- rios dos pacientes. Todas essas ativi- dades são acompanhadas por pelo menos um profissional do hospital, de acordo com a agenda preparada de comum acordo entre a direção do hos­pital e agência acreditadora. O trabalho de campo termina com umareu­niãodeencerramentocom os líderes organizacionais, durante a qual os avaliadores fornecem ao hospital um relatório de deci- são preliminar, ba­seados em seus achados durante a avaliação. Esse relatório é, então, enviado ao co- mitê de acreditação, que tem, entre suas atribuições, a apro­vação do re- latório e outorga da acreditação. O ciclo de acreditação tem a duração de 3 anos, sendo que, nos 6 meses que antecedem a data de seu térmi- no, a agência acreditadora notifica a organização para a realização de nova avaliação e reacreditação, e um novo ciclo tem início. Esses serviços e produtos po- dem compor diversos projetos, com diferentes etapas de desen- volvimento, conforme o inte­resse e possibilidades de investimento das instituições. Paraobterocertificadode“Hos- pital Acreditado”, a instituição deve demonstrar conformidade com o manual de padrões dessa metodo- logia. Tais padrões são desenvol- vidos e testados por profissionais especialistas que atuam especifi­ camente no setor de saúde de vá- rias partes do mundo; baseados em padrões aplicáveis, predetermina- dos e publicados; avaliados in loco, por uma equipe multiprofissional de avaliadores e ocorre a cada três anos; aplicáveis de forma individu- alizada nas organizações de saúde, adaptáveis ao contexto das crenças, valores, cultura e legislação do país ao qual ela se aplica; criados para promover a redução de riscos para pacientes e profissionais; voltados para a garantia da segurança do pa- ciente; testado em todas as regiões do mundo. Enfim, trata-se de uma ferra- menta de avaliação de qualidade e gerencia­mentoqueganhouvisibili- dade internacional e que promove um compromisso visível com a me- lhora da qualidade, garantindo um ambiente de trabalho seguro e efi- ciente, com redução de riscos, tanto ao paciente, quanto ao corpo clíni- co,melhorandoograudesa­tisfação dos colaboradores, além de auxiliar organizações de saúde internacio- nais, agências públicas de saúde a avaliar, melhorar e demons- trar a qualidade do atendimento ao paciente em sua localidade. Vantagens e benefícios para a Instituição Cria uma cultura aberta ao aprendizado baseado no relato de even­tos adversos e preocupações com a segurança; estabelece uma liderança colaboradora, que pre- coniza prioridades com relação à qualidade e segurança do pacien- te; permite desenvolver estratégias para redução de riscos e táticas para prevenir eventos adversos; garante acesso à ampla fonte de dados so- bre boas práticas; garante o acesso a um informativo internacional edi- tado pela JCI; leva a participação de eventos promovidos pela JCI e seus parcei­ros em várias regiões do mundo; permite clareza na defini- ção da missão; permite a ampliação daabrangênciadesetoreseserviços (terceiros, próprios, etc.); promove o desenvolvimento de estrutura de gerenciamento de qualidade; per- mite a integração clínica e gerencial alinhada às estratégias, a implanta- ção de um processo de educação e qualificação profissional, o moni- toramento das principais atividades clínicas e gerenciais, com indicado- res de desempenho, a implantação de ações e sistemas de garantia de segurança dos processos assisten- ciais; permite a otimização e racio- nalização dos processos. O primeiro diferencial é a ga- rantia de excelência das atividades dainstituição,peloreconhecimento de um processo de certificação atualmente validado em diversos países do mundo e utilizado nos EUA há mais de 50 anos. Por ser um sistema interna- cional de avaliação de qualidade, cria a possibilidade de comparação entre as instituições participantes do programa a partir do estabele- cimento de indicadores clínicos e gerenci­ais. No Brasil, coube ao Colégio Brasileiro de Cirurgiões (CBC) o papelpioneironodesenvolvimento da acreditação em 1986, pela cons- tituição de uma através de uma co­missão especial permanente de qualificação de hospitais. Em 1994, o Colégio Brasileiro de Cirurgiões (CBC), juntamente com a Academia Nacional de Me- dicina e o Instituto de Medicina So- cial da Universidade do Estado do Rio de Ja­neiro (IMS/UERJ), orga- nizouosemináriodeacreditaçãode hospitais e melhoria da qualidade e que teve como fruto o Programa de Avaliação e Certificação de Quali- dade em Saúde (PACQS), com ob- jetivo de aprofundar a análise e a implementação de procedimentos, técnicas e instrumentos voltados para a acreditação de hospitais, apontando três direções princi­ pais: a) criação de uma agência de acreditação não governamental; b) desenvolvimento de padrões inter- nacionais e procedimentos para a acre­ditação de serviços e sistemas de saúde; c) disseminação de mé- todos e procedimentos de gerência de qualidade em saúde. Em julho de 1997, a Fundação CESGRANRIO promoveu, no CBC
  • 7. Gestão de qualidade em saúde: melhorando assistência ao cliente O Mundo da Saúde, São Paulo: 2011;35(5):319-331. 325 (Colégio Brasileiro de Cirurgiões), em conjunto com as instituições participantes do PACQS (Programa de Avaliação e Certificação de Qua- lidade em Saúde), uma oficina de tra­balho com representantes da JC para discutir e propor metodologias de avaliação de hospitais com base na experiência internacional. A missão do CBA é “contribuir para a melhoria da qualidade do cuidado aos pacientes nos hospi- tais e demais serviços de saúde no país, por meio de um processo de acreditação”. O CBA conta com uma equipe multiprofissional altamente capaci- tada (médicos, enfermeiros, admi- nistradores), possui um programa contínuo de educação e qualifica- ção desses profissionais, contando com a participação de técnicos e consultores da JCI com atividades no Brasil e em outras localidades. Realiza eventos científicos (abran- gência regional, nacional e inter- nacional), com temas relacionados ao Processo de acreditação Inter- nacional. O número de instituições acre- ditadas no Brasil está crescendo cada vez mais. De acordo com o si- te, o CBA conta com 23 instituições acreditadas até o primeiro semestre de 2011. O passo a passo para iniciar a acreditação constitui: A solicitação de avaliação deve ser feita pela instituição interessa- da; o planejamento da avaliação pelo CBA é feito “sob medida”, com base nas características do hospital; a primeira avaliação será realizada após a verificação da conformida- de da estrutura, dos processos e dos resultados obtidos pelo hospital, comparados com padrões preesta- belecidos; os avaliadores fornecem ao hospital um relatório de deci- são preliminar, baseado em seus achados durante a avaliação – esse relatório é enviado ao Comitê de Acreditação, que tem, em suas atri- buições, a aprovação do relatório e a outorga da acreditação; o ciclo da acreditação tem duração de 3 anos. Seis meses antes da data de seu término, a agência acreditadora notifica a instituição, com vistas à realização de nova avaliação para reacreditação, e um novo ciclo tem início. As etapas do Processo de Acre- ditaçãoInternacionalsãoasseguin- tes: apresentação da metodologia e do manual de padrões da acredita- ção;sensibilizaçãodasliderançasdo hospital; constituição do grupo fa- cilitador; elaboração e desenvolvi- mentodoprogramadeeducaçãodo hospital;autoavaliação;pesquisade opinião de paciente e funcionário; preparação do hospital para avalia- ção; avaliação baseada em padrões da acreditação sem pontuação; dis- cussão do relatório e recomenda- ções; elaboração do plano de ações parabuscadeconformidadecomos padrões; implementação das ações corretivas; avaliação baseada em vários padrões de acreditação com pontuação; continuidade das ações corretivas (caso necessário); avalia- ção para acreditação. Vale ressaltar que, para o pro- grama ter sucesso, é necessário participação e compromisso das li- deranças, motivação e participação da equipe como um todo, elabora- ção de dados estatísticos e, princi- palmente, a sincronia da missão da Instituição com o projeto. A acreditação traz muitos be- nefícios à Instituição. Alguns deles estão a seguir. Manual Brasileiro de Acreditação Hospitalar – MBAH De acordo com a ONA4 , acredi- tar significa “conceder reputação a tornar digno de confiança”. Assim, nesse sentido, um serviço de saúde, ao se tornar acreditado, adquire o status de instituição que inspira ou merece confiança da sua comuni- dade. Ao se imaginar a implemen- tação de um projeto dessa natureza em nível nacional, pode-se visua- lizar, em um futuro próximo, to- da uma rede de serviços de saúde digna de confiança, em que o pa- ciente terá certeza da qualidade do atendimento, independentemente do estado ou do município onde se encontre. Segundo o MBAH, desde 1995, quando foi criado o programa da “Qualidade em Saúde”, o Minis- tério da Saúde vêm investindo no desenvolvimento do Programa Brasileiro de Acreditação Hospita- lar. Várias etapas desse programa foram cumpridas exitosamente, desde as de sensibilização e divul- gação até as de definição das ca- racterísticas específicas que deste processo. Já que há uma grande di- versidade dos hospitais brasileiros e pouca tradição de busca contínua da qualidade. A ONA é uma organização não governamental. Trata-se de pessoa jurídica de direito privado sem fins lucrativos e de interesse coletivo, que tem atuação nacional. O objetivo dessa organização é implementar um processo de ava- liação de maneira contínua e cer- tificação de qualidade. Sua missão é promover o desenvolvimento de umprocessodeacreditaçãovisando a aprimorar a qualidade da assis- tência à saúde em nosso País. Tem definido como sua visão se tornar o Sistema Brasileiro de Acreditação e a Organização Nacional de Acre- ditação até 2010, uma referência nacional e internacional, com uma metodologia reconhecidamente sólida e confiável, comprometida com a viabilização de um processo de melhoria contínua, qualidade e produtividade no setor da saúde. Seus valores são credibilidade, le- gitimidade, qualidade, ética e re- sultado. Segundo Donabedian5 , a quali- dade está fundada em sete pilares: “eficácia, efetividade, eficiência,
  • 8. Gestão de qualidade em saúde: melhorando assistência ao cliente 326 O Mundo da Saúde, São Paulo: 2011;35(5):319-331. otimização, respeitabilidade, le- gitimidade e equidade”, preceitos objetivados em todo o processo de acreditação. O Manual Brasileiro de Acre- ditação Hospitalar – MBAH é um instrumento para estimular a me- lhoria da Qualidade dos hospitais brasileiros, com base na da análise de alguns indicadores a serem ob- servados. O conceito de qualidade na ges- tão administrativa de instituições hospitalares evoluiu em busca da garantia da satisfação do cliente/ paciente. A eficácia nos processos de gestão e assistência hospitalar somente têm sentido se estiverem a serviço de uma melhor e mais humanizada atenção ao paciente. Essa melhoria na atenção parte do respeito e valorização do paciente, humanização do atendimento e da adoção de medidas que atendam as crescentes exigências e necessi- dades da população, objetivos que todos perseguem. O programa se divide em três níveis, com exigências diferencia- das: Nível 1: observa-se requisitos básicos na qualidade de assistência oferecida ao cliente, assim como sua estrutura física e segurança, tanto para o cliente interno como externo. Nesse nível de avaliação, a enfermagem se apresenta como atuante fundamental. Observa-se a presença de responsável técnico, assistência prestada de maneira contínua e ininterrupta, registros em prontuários, capacitação dos envolvidos na assistência, bem como o dimensionamento correto frente à demanda da instituição. Nível 2: deve-se manter os re- quisitos do nível 1, somados ao pla- nejamento na assistência, descrição e registros dos processos internos, manuais de procedimentos opera- cionais padronizados (POP’s), edu- cação permanente como meio de capacitação constante de todos os profissionais envolvidos na presta- ção de serviço de saúde, em todas as suas esferas, indicadores de qua- lidade assistencial e implementa- ção de diagnóstico de enfermagem com o objetivo de viabilizar assis- tência de enfermagem integral e individual. Nível 3: Grau de Excelência: observa-se a manutenção dos pre- ceitos anteriormente descritos; mas nestemomentoapresentadorcomo indicadores, forma de monitorar as ações implementadas, buscan- do constantemente a melhoria na qualidade e sua integração com a produtividade. Em suma, o programa de Acre- ditação permite que a instituição busque assegurar o padrão de qua- lidade no atendimento, por meio de procedimentos documentados e de maneira que indique seus pon- tos fracos para que a busca pela excelência seja feita com esforços direcionados aos reais problemas, otimizando o tempo gasto para implementar rotinas e garantindo maior eficiência e eficácia do siste- ma como um todo. Certificação Segundo Prazeres6 , “Certifica- ção é a Atividade de comprovação da qualificação de itens, produtos, serviços, procedimentos, processos, pessoal ou de sistema da qualidade, no todo ou em parte”. A certifica- ção da qualidade necessariamente será executada por uma entidade especificamente designada para tal (organismo certificador), com base em requisitos previamente estabe- lecidos e documentados, podendo ou não resultar em emissão de cer- tificados. “Tanto órgãos governamentais quanto não governamentais con- ferem certificação às instituições de saúde. Embora geralmente volun- tária, a certificação a confere certa distinção, que promove a capacida- de da instituição ou do profissional de praticar ações em determinada área. Autoridades governamen- tais e organizações privadas, como seguradoras, grupos de emprega- dores ou planos de saúde, podem exigir que uma instituição de saúde atenda a algum tipo de padrão de certificação para receber reembolso pelos serviços prestados”7 . CERTIFICAÇÃO ISO – International Organization for Standardization A história da ISO tem início na Segunda Guerra Mundial, quando países aliados não podiam com- partilhar munições, devido a dife- renças de unidades de medida em geral. Assim, a solução dos milita- res foi a criação de normas para um desenvolvimento uniforme dessas munições, surgindo daí diversas normas com o objetivo de criar pa- dronizações8 . A organização ISO tem ori- gem no Reino Unido, em 1947, e, é considerada a maior do mundo nas questões de desenvolvimento de padrões voltados à área técni- ca, apontando para a importante repercussão da utilização de seus padrões para as áreas econômica e social ao solucionarem problemas de produção e distribuição para engenheiros e outros fabricantes. A utilidade dos padrões se esten- de aos ambientes de produção, tanto privados quanto públicos, tornando-os mais seguros, eficien- tes e transparentes. Os governos e setores de regulação podem utilizá- los como base técnica para as ques- tões legais que envolvam saúde, ambiente e segurança. Os padrões também podem servir de suporte na transferência de tecnologia para países em desenvolvimento, além de proteger consumidores e usuá- rios. Dessa forma, a ISO aponta que seus padrões são positivos para a sociedade como um todo9 . Prazeres6 define a Certificação ISO como:
  • 9. Gestão de qualidade em saúde: melhorando assistência ao cliente O Mundo da Saúde, São Paulo: 2011;35(5):319-331. 327 Declaração emitida por um organismo de certificação cre- denciado, que atesta que a or- ganização solicitante cumpre com os requisitos das normas ISO série 9000. Trata-se de uma prova pública. Para ser certificada, a organização pre- cisa comprovar que tem um sistema da qualidade implan- tado e em funcionamento. A comprovação é feita através de uma auditoria de certifica- ção conduzida pelo organismo de certificação contratado, via análise da documentação do sistema da qualidade (procedi- mentos, instruções de trabalho, documentos e registros da qua- lidade) e as evidências objetivas de sua implementação e funcio- namento. A ISO é uma federação mun- dial atualmente com 90 membros, composta pelos organismos nacio- nais de normalização da cada país, no Brasil representada pela ABNT (Associação Brasileira de Normas Técnicas). A expressão ISO 9000 designa um grupo de normas técnicas que estabelecem um modelo de gestão da qualidade para organizações em geral, qualquer que seja o seu tipo ou dimensão. A adoção das nor- mas ISO é vantajosa para as orga- nizações, uma vez que lhes confere maior organização, produtividade e credibilidade,elementosfacilmente identificáveispelosclientes,aumen- tando a sua competitividade nos mercados nacional e internacional. A ISO 9000 é uma norma bá- sica voltada para melhoria contí- nua e padronização de processos, com foco no cliente, ou seja, é uma norma com boa amplitude, não se restringindo a indicadores e padro- nizações de processos assistenciais. Dessa maneira, é uma das mais co- nhecidas e tem sido utilizada pelos diferentes segmentos empresariais, inclusive na área da saúde8 . O conceito básico adotado pe- la NBR ISO 9000 define qualidade como um conjunto de característi- cas inerentes que satisfaz o requisi- to. A partir dessa definição, a gestão de qualidade tem como foco as ne- cessidades de seus clientes, iden- tificando requisitos de qualidade do produto ou serviço, visando a estabelecer e planejar um padrão a ser atingido, e com objetivo de constante busca de melhoria, em todos os seus aspectos, visando à satisfação dos clientes e à eficácia da organização. A NBR ISO 9001 passou por uma revisão recentemente, que ficou conhecida como “versão 2000”. Até dezembro de 2003, os sistemas de gestão da qualidade ainda podiam ter como base as normas NBR ISO 9001, 9002, de 1994, mas, a partir dessa data, to- das as certificações foram conver- tidas para a ISO versão 2000. Hoje, só há um padrão da qualidade, a norma NBR ISO 9001. CQH – Compromisso com a Qualidade Hospitalar O CQH é um sistema de in- formações que visa a avaliar a qualidade do atendimento médi- co-hospitalar, baseado no registro, na análise de dados, na aferição da adequação dos serviços em con- formidades com as suas normas e critérios. Foi inspirado nos trabalhos da Comissão conjunta de Acreditação de Organização de Saúde (CCOS), dos EUA, e resultou de ampla dis- cussão entre diversas entidades ligadas ao atendimento médico- hospitalar no Estado de São Paulo, catalizada pelo Serviço de Vigilân- cia Epidemiológica da Secretaria de Estado da Saúde. As reuniões ini- ciais para discussão do projeto, em 1989-1990, aconteceram na sede daquele órgão. Uma vez iniciado, o programa se estabeleceu na sede da APM, onde permanece até hoje. O CQH é um programa de ade- são voluntária, cujo objetivo é con- Quadro 1. Princípios de Gestão de Qualidade nas diretrizes ISO 1. Foco no cliente Entender as necessidades presentes e futuras do cliente; Atender aos requisitos do cliente; Exceder as expectativas do cliente. 2. Liderança Manter a unidade de propósito e direção; Manter um bom ambiente interno da organização; Liderar pelo exemplo. 3. Envolvimento das pessoas Criar um ambiente de motivação; Proporcionar a participação; Aproveitar e valorizar o talento e as aptidões. 4. Abordagem de processo Gerenciar as atividades e recursos pertinentes como um processo, para garantir com maior eficiência o alcance dos resultados desejados. 5. Abordagem Sistêmica de Gestão Identificar, entender e gerenciar os processos inter- relacionados, visando à eficácia da organização. 6. Melhoria Contínua Buscar a melhoria com objetivo permanente. 7. Enfoque factual para tomada de decisão Tomar decisão eficaz baseada na análise de dados e informações. 8. Relacionamento com os fornecedores para benefício mútuo Estabelecer a base para criação de valor para as partes baseada no relacionamento “ganha-ganha”. Fonte: ABNT. Princípios de Gestão de Qualidade.
  • 10. Gestão de qualidade em saúde: melhorando assistência ao cliente 328 O Mundo da Saúde, São Paulo: 2011;35(5):319-331. tribuir para a melhoria contínua da qualidade hospitalar. Estimula a participação, e a autoavaliação da candidata estabelece um compo- nente educacional muito impor- tante, que é o incentivo à mudança de atitude e de comportamento. Incentiva o trabalho coletivo, en- volvendo grupos multidisciplinares no aprimoramento dos processos de atendimento. A missão do pro- grama é contribuir para a melhoria contínua da qualidade do aten- dimento nos serviços de saúde mediante metodologia específica, estimulando a melhoria contínua da qualidade de produtos e servi- ços, estabelecendo amplo entendi- mento dos requisitos de excelência e desempenho. PNGS – Prêmio Nacional de Gestão em Saúde O Prêmio Nacional da Ges- tão em Saúde (PNGS) foi criado em 2003, a partir da iniciativa da Fundação Nacional da Qualidade (FNQ) e do Controle da Qualidade Hospitalar (CQH), com o objetivo de incentivar as organizações da área da saúde a avaliarem e busca- rem melhorias contínuas de seus sistemas de gestão. O PNGS tem como missão con- tribuir para o aprimoramento das práticas de gestão nas organizações de saúde, por meio da avaliação e reconhecimento das melhores práticas no setor. Sua visão é servir como modelo de referência para avaliação e orientação da gestão das organizações de saúde em todo o País. É um programa de adesão vo- luntária, cujo objetivo é contri- buir para a melhoria contínua da qualidade hospitalar. Estimula a participação e a autoavaliação e contém um componente educa- cional muito importante, que é incentivo à mudança de atitudes e de comportamentos. Incentiva o trabalho coletivo, principalmente o de grupos multidisciplinares no aprimoramento dos processos de atendimento. A busca desse prêmio reconhe- ce as organizações que se destacam pela utilização de práticas de gestão e que apresentam resultados supe- riores de desempenho. O instrumento possui um sis- tema de avaliação simplificada que foca o desenvolvimento e aper- feiçoamento de seus sistemas de gestão, indicando seus principais pontos fortes e oportunidades de melhoria. Para ser inscrito e concorrer a esse prêmio, a organização deve sa- tisfazer algumas condições: ter pelo menos um ano de existência; ter, no mínimo, dez profissionais na força de trabalho; não ser operado- ra de plano de saúde; ter registro no Conselho Regional de Medicina do seu Estado; estar inscrita no CNPJ. Ao participar do PNGS, a orga- nização de saúde estará fazendo diagnóstico de seu sistema de ges- tão, que indicará seus principais pontos fortes e oportunidades de melhorias, possibilitando a defi- nição de planos de ação mais con- sistentes, com base nas principais lacunas identificadas pela banca examinadora, composta por pro- fissionais altamente capacitados. As inscrições das organizações de saúde consideradas elegíveis se- rá feita mediante a entrega do Re- latório da Gestão (RG) e envio do pagamento referente à inscrição no processo. A candidatura pode ocor- rer para o prêmio Prata ou Prêmio Ouro. Ao candidatar-se ao PNGS, a organização terá como benefícios: compreensão dos requisitos para excelência do desempenho; iden- tificação de forma sistemática dos pontos fortes e oportunidades de melhoria; integração das necessi- dades de todas as partes interes- sadas no seu sucesso; comparação com os referenciais de excelência e divulgação; e reconhecimento do nome de sua organização, quando premiada. O caminho de uma organização em direção à excelência é um desa- fio a ser superado com constância de propósitos com profissionais competentes, que levam a institui- ção a um estágio de maturidade no sistema de gestão. A organização que adota o Modelo de Excelência de Gestão consegue mapear com clareza seu negócio e pode obter melhoria na forma de atuação. Os colaboradores compreendem o seu papel e a direção para qual caminhar. Alguns aspectos diferem os Critérios de elegibilidade para a organização que deseja ser elegível para esse prêmio, a saber: ter pelo menos 1 ano de existência, ter, no mínimo, 10 profissionais na força de trabalho; não ser operadora de plano de saúde; e ter registro no Conselho Regional de Medicina de seu Estado. Categorias de premiação a con- correrem são: Hospitais, Laborató- rios de patologia clínica, Clínicas de especialidades médicas, Clínicas de Imagem, Oncologia, Diálise, Aten- dimento Domiciliar, Hemoterapia. O Modelo de Excelência da Gestão tem como base um con- junto de conceitos em práticas ou fatores de desempenho encontra- dos em organizações que buscam constantementeoaperfeiçoamento e a adaptação às mudanças em um cenário ágil e turbulento. Os funda- mentos que embasam os conceitos são: Liderança, Estratégias e Planos, Clientes, Sociedade, Informações e Conhecimento, Pessoas, Processos e Resultados. O referencial desse modelo é a visão sistêmica perme- ada por trabalho em equipe cons- truída por profissionais capazes e dirigidos por lideranças de alta ca- pacitação.
  • 11. Gestão de qualidade em saúde: melhorando assistência ao cliente O Mundo da Saúde, São Paulo: 2011;35(5):319-331. 329 Considerações finais “Qualidade” é um termo utili- zado por diversos especialistas, sob diferentesperspectivas,tendocomo ponto comum identificar focos que promovam seu desenvolvimento na gestão institucional. A busca de um conceito único torna-se algo difícil, especialmente na área da saúde. À medida que a gestão da qualidade em saúde se organiza, é evidente o benefício que gera ao cliente, quer seja no setor público, quer no privado. Instituições mais preparadas, com processos mais estruturados, irão certamente assegurar a esses clientes garantias de melhor as- sistência e, portanto, um restabe- lecimento de saúde com práticas mais definidas e disseminadas na instituição, pois implica também preparar os profissionais, por meio de capacitação e desenvolvimento contínuos, humanização no trata- mento com usuários, competência técnica e prazer em fazer parte da equipe que integra. Quando o colaborador está apropriado da visão sistêmica do trabalho, interconectada aos dife- rentes serviços, atuará de forma a estimular a integração entre pes- soas e áreas. Essa convergência certamente gera satisfação ao pro- fissional e sucesso à organização, alémdeumclaroreflexonosaspec- tos de sustentação da instituição. Conclusões O Governo Federal brasileiro tem atuado no sentido de desen- volver programas cuja tendência voltem-se para uma visão preven- tiva e sistêmica, visando à diminui- ção dos investimentos praticados no nível terciário e quaternário, além da ampliação e abrangência de ação na sociedade, por meio do incentivo das ações preventivas, no segmento primário e secundário. Tanto nos hospitais públicos quanto nos privados, encontramos graves problemasrelativos à área fí- sica e de apoio, à ausência de equi- pamentos em áreas emergenciais – UTI e Prontos-Socorros. O Gover- no Federal considera os programas preventivos ações de longo prazo, como alternativa para minimizar as deficiências estruturais, diminuin- do o fluxo de atendimento nesses hospitais. As condições físicas dos estabe- lecimentos de saúde brasileiros, em muitos aspectos, apontam para a necessidade de reestruturação das normas das instalações físicas de segurança e cuidado ao paciente e colaborador. Os Programas de Qua- lidade ou de Gestão Hospitalar bus- cam a superação dessas deficiências na gestão da infraestrutura, mate- riais e equipamentos, constituindo medidas práticas de melhoria, que apoiam a excelência e a humani- zação da saúde, no atendimento à população. Mesmo com a existência de alguns serviços de saúde que uti- lizam dispositivos de qualidade, o contexto evidencia que, na maioria desses serviços, ocorre a inexistên- cia de sistemas de monitoramento e controle de qualidade. Há falta ou desconhecimento de normas e protocolos assistenciais e não acon- tece o seguimento quando existem. Há ausência de regionalizações ou hierarquização formal e informal dos cuidados, assim como ausência na definição e fluxos no sistema de saúde. Observa-se baixa capaci- dade técnica e administrativa dos serviços, ausência de estruturas ge- renciais bem organizadas, padrões de reembolso subestimados, não cobrindo os custos reais e infraes- trutura deteriorada e obsoleta. Essa realidade, por vezes, im- pulsiona alguns segmentos da população na busca de assistência em clínicas e consultórios. Por is- so, também é esperado que a lógi- ca desse setor esteja permeável às questões principais impostas pela “Qualidade”. Outro ponto relevante a ser ob- servado é a crescente busca de gru- po de estrangeiros para assistência médica no Brasil. Tal fato remete a que se entenda a busca por acredi- tações e certificações internacionais conhecidas desses usuários. No momento atual, a maioria das instituições de saúde realiza diagnóstico das falhas nos proces- sos. As ações de promoção de me- lhoria, com resultados palpáveis para o cotidiano dos serviços pres- tados, ainda representam lacunas desse contexto. Na nova organiza- ção de saúde, existem diferentes instâncias que necessitam da im- plementação de melhorias, tanto na relação médico-paciente, quan- to na capacitação profissional, em níveis gerencial, administrativo e operacional. Consolidar e fortale- cer o processo de gestão da quali- dade significa aproximar as áreas técnicas e estratégicas dentro das instituições. Os serviços de saúde, quaisquer que sejam eles, devem deixar de ser entendidos apenas como locais de promoção, preven- ção e assistência aos pacientes, mas deve ser encarado como organiza- ções que necessitam de gerencia- mento e foco no cliente. Éimportanteatribuiraousuário do serviço de saúde papel relevante na montagem e funcionamento do serviço, portanto, é fundamental buscar conhecer e entender o seu modo de perceber o atendimento prestado. Não há dúvidas de que o funcionamento dos serviços de saúde acabam por organizar-se para atender as necessidades exclu- sivas dos profissionais e das institui- ções que representam, relegando o usuário a uma posição secundária, criando um círculo vicioso inter- minável de desconhecimento/não participação/atendimento insatis- fatório. Ouvi-lo é estratégico ao
  • 12. Gestão de qualidade em saúde: melhorando assistência ao cliente 330 O Mundo da Saúde, São Paulo: 2011;35(5):319-331. processo de mudanças no modelo assistencial atual. Uma abordagem aberta pode oferecer uma meto- dologia adequada para equilibrar essa relação de poder entre médi- co, paciente e entre instituição e paciente. As metodologias de “Quali- dade” auxiliam na reestruturação dos processos internos, gerando benefícios para o usuário e para os colaboradores, tanto na configu- ração das atividades de trabalho, como na manutenção do foco em infraestrutura. Constata-se a exis- tência de diferentes abordagens e programas para “Qualidade”. Al- gumas valorizam a produtividade e o equilíbrio da organização, ou- tras estão voltadas ao desenvolvi- mento do potencial humano. Tais tendências mostram-se presentes nos planos e ações das instituições que atuam nesse segmento. Nota- se que os hospitais brasileiros ainda possuem problemas no que tange à infraestrutura e organização dos processos. Destaca-se, na análise, que a maioria dos hospitais sub- metidos à acreditação são serviços privados. O processo de acreditação gera um custo institucional, que os serviços de saúde públicos não con- seguem arcar. Além da acreditação, percebe- se um movimento em torno da certificação da ISO, nos diversos segmentos da saúde, principalmen- te nos hospitais. A maioria deles, inicialmente, optou por métodos de certificação, sendo o Sistema de Qualidade da Norma ISO 9000 o mais adotado por sua aplicação de caráter parcial, técnica e orienta- dora. Posteriormente, algumas ins- tituições adotaram outros métodos, evidenciando a busca de uma vi- são sistêmica do sistema de saúde, como por exemplo, a Acreditação. Recomendações Consolidar e aprofundar a apli- cação de metodologias de quali- dade para os serviços de saúde; gerar plano de desenvolvimento e capacitação efetiva de recursos humanos, como fator essencial de qualidade institucional; realizar pesquisa com as instituições que aplicaram as diferentes metodo- logias de “Qualidade”, buscando objetivamente avaliar “o antes e o depois” da aplicação, obtendo um panorama nacional dos avanços da gestão em saúde; incrementar ações de controle e avaliação de Programas de Qualidade voltadas para a gestão da melhoria dos ser- viços do sistema de saúde. Referências 1. Teixeira JMC. Sistemas médicos, técnicos e administrativos do hospital moderno: sua ordenação. In: Machline C, et al. O hospital e a visão administrativa contemporânea. 2a ed. São Paulo: Pioneira; 1989. 2. Bonato VL. Gestão em Saúde: Programas de Qualidade em Hospitais. São Paulo: Ícone; 2007. 3. Paganini JM, Novaes HM. Garantia de qualidade – acreditação de hospitais para a América Latina e Caribe. Brasília: OPAS; 1992. [OPAS – Série Silos, 13]. 4. ONA. Organização Nacional de Acreditação. Disponível em: http://www.ona.org.br 5. Donabedian A. The seven pillars of quality. Arch Pathol Laboratory Med. 1990;114:1115-8. 6. Prazeres PM. Dicionário de termos da qualidade. São Paulo: Atlas; 1996. 7. Rooney AL, Ostenberg PR. Licenciamento, Acreditação e Certificação: abordagens à Qualidade dos Serviços de Saúde. Center for Human Services; 1999. p. 1-40. 8. Tajra SF. Gestão Estratégica na Saúde: reflexões práticas para uma administração voltada para a excelência. 2a ed. São Paulo: Iátria; 2008. 248 p. 9. Fortes MTR. A acreditação no contexto dos sistemas de saúde: as propostas de política e suas diversas acreditações [dissertação]. Rio de Janeiro: Universidade do Estado do Rio de Janeiro; 2007. 146 p. (Mestrado em Saúde Coletiva) Bibliografia consultada Almeida RT, Ichinose RM. Desmistificando a Certificação e a Acreditação em Hospitais. Memorias II Congresso Latinoamericano de Ingenieria Biomédica, Habana, May 2001. ANVISA. Acreditação: a busca pela qualidade nos serviços de saúde. Rev Saúde Pública. 2004;38(2):335-6. Almeida Prado AR. Acessibilidade e Desenho Universal – pensando no idoso; 2005. Disponível em: http://www.creape.org.br
  • 13. Gestão de qualidade em saúde: melhorando assistência ao cliente O Mundo da Saúde, São Paulo: 2011;35(5):319-331. 331 Brasil. Associação Brasileira de Normas Técnicas – ABNT NBR 9050:2004. Acessibilidade e edificações, mobiliário, espaços e equi- pamentos urbanos. Rio de Janeiro: ABNT; 2004. Brasil. Constituição da República Federativa do Brasil de 1988 – Seção II. Da Saúde artigos 196 a 200. Brasília; 1988. Brasil. Decreto No. 5296, de 2 de dezembro de 2004. Regulamenta as Leis No. 10.048, de 8 de novembro de 2004, que dá prioridade a pessoa específica, e 10.098, de 19 de dezembro de 2000, que estabelece as normas gerais e critérios básicos para promoção de acessibilidade. Brasília; 2004. Bittar OJNP. Gestão de Processos e Certificação para Qualidade. Rev Ass Med Bras. 2000;46(1). Camarano AA, Kanso S, Mello JL. Como vive o idoso brasileiro? In: Camarano AA, organizadora. Os novos idosos brasileiros: muito além dos 60? Rio de Janeiro: IPEA; 2004. p. 25-73. CBA. Conselho Brasileiro de Acreditação de Sistemas e Serviços de Saúde. Manual de acreditação hospitalar. Rio de Janeiro: CBA; 1999. CQH. Controle de Qualidade do Atendimento Médico Hospitalar no Estado de São Paulo. Manual de orientação aos hospitais parti- cipantes. 2a ed. São Paulo: Atheneu; 1998. Ferreira ABH. Novo Aurélio século XXI: o dicionário da língua portuguesa. 3a ed. São Paulo: Nova Fronteira; 1999. Gilmore CM, Novaes HM. Manual de gerência da qualidade. Washington (DC): OPAS; 1997. ISO – International Organization for Standardization [acessado 24 Mai 2009]. Disponível em: http://www.iso.org/iso/home. htm JCI – Joint Commission International. Melhorando os cuidados com a saúde no mundo inteiro. Oakbook Terrace; 1998. Kanaane R. Comportamento humano nas organizações: o homem rumo ao século XXI. São Paulo: Atlas; 1995. Lefèvre F, Lefèvre AMC, Teixeira JJV. Discurso do sujeito coletivo: uma nova abordagem metodológica em pesquisa qualitativa. Caxias do Sul: Educs; 2000. Malik AM. Qualidade em serviços de saúde nos setores público e privado. Cad Fundap. 1996;19:7-24. Mezomo JC. O administrador hospitalar: a caminho da eficiência. São Paulo: Cedas; 1991. Michaelis. Moderno dicionário da língua portuguesa. São Paulo: Melhoramentos; 1998. Gordilho A, Nascimento JS, Silvestre J, Ramos LR, Freire MPA, Espindola N, et al. Desafios a serem enfrentados no terceiro milênio pelo setor saúde na atenção integral ao idosos. Rio de Janeiro: UnATI/UERJ; 2000. Rutta AM, Pagliuso AT, Kanab MLZ. Critérios de excelência: o estado da arte da gestão para a excelência do desempenho e o aumento da competitividade. FPNQ; 2002. Sant’Anna RM, Câmara P, Braga MGC. Mobilidade na terceira idade, como planejar o futuro? Textos sobre Envelhecimento. 2003;6(1):9-30. Soares IEB. Práticas gerenciais como instrumento de gestão do conhecimento: um estudo comparativo entre empresas certificadas e empresas não certificadas do segmento rochas ornamentais no Estado do Espírito Santo [dissertação]. Vitória: Fundação Instituto Capixaba de Pesquisas em Contabilidade, Economia e Finanças; 2007. Recebido em 4 de março de 2011 Versão atualizada em 14 de abril de 2011 Aprovado em 23 de maio de 2011