A Kombi completa 50 anos de produção no Brasil. Ela foi projetada por Ben Pon e começou a ser produzida na Alemanha em 1947, sendo importada e montada no Brasil três anos depois. A Kombi se tornou um símbolo do país por transportar pessoas e cargas por todo o território nacional nas últimas cinco décadas, vendendo mais de 1,4 milhão de unidades no Brasil.
1. CLASSIFICADOS PA R A A N U N C I A R L I G U E ( 3 1 ) 3 2 2 8 - 2 0 0 0 ● W W W.V R U M .CO M . B R 3.109 OFERTAS
VEÍCULOS ESTADO DE MINAS
D O M I N G O , 2 D E S E T E M B R O D E 2 0 0 7
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VW KOMBI
Velha senhora da indústria automobilística nacional completa cinqüenta anos hoje.
Participou da construção do país, encarna espírito viajante e é uma legítima commodity
Coroa de ouro DANIEL CAMARGOS
Grande, Alemanha, em 1947, Pon observou veí- nais com ela. O motor era o
desajeitada, ultrapassa- culos usados para o serviço interno e 1200, com 36cv de potência. A
da, perigosa e curtida, pois teve a idéia. Riscou o papel e projetou a indústria automobilística brasi-
já tomou de tudo que um Kombi: um monte de lata com capaci- leira iniciou suas atividades um
motor aceita: só gasolina, só ál- dade de carga sobre o chassi do Fusca. ano antes, em setembro de 1956,
cool, os dois, diesel e até gás natu- Entre testes e o aperfeiçoamento da ae- com a produção da Romi-Isetta.
ral. A Kombi completa hoje 50 rodinâmica – até hoje contestada – co- Nas últimas cinco décadas, mais de
anos de produção no Brasil e pode meçou a ser produzida em março de 1,4 milhão de unidades da Kombi
ser considerada uma síntese do país 1950, na Alemanha, com chassi 21cm foram produzidas no Brasil, per-
– para o bem ou para o mal. Difícil maior do que o do sedã. Três anos de- dendo apenas para o Fusca (3,3 mi-
imaginar um pedaço de terra que não pois, passou a ser importada e monta- lhões) e o Gol (5 milhões). Diferente
tenha sido explorado pelos pneus aro da no Brasil, pelo grupo Brasmotor. Em dos outros dois modelos, ela não é
14, que sustentam os 1.297kg do utili- 2 de setembro de 1957, a Volkswagen somente um veículo, é uma com-
tário projetado pelo holandês Ben iniciou a produção de veículos nacio- modity, mas alia charme e simpatia
Pon. Revendedor da para agradar a via-
VW, em visita à jantes, hippies e
fábrica, na descolados.
MARCELO SANT’ANNA/EM MARIA TERESA CORREIA/EM
ônibus para casa, no Bairro Eldorado, em
Contagem, e várias vezes teve a desagra-
dável surpresa de se deparar com o veí-
culo arrombado ao chegar para traba-
lhar no dia seguinte. Para compensar o
prejuízo causado pelos clientes perdidos
devido ao ambiente boêmio da relojoa-
ria-bar, Francisco vende de tudo: lâmina
de barbear, tempero, termômetro, cigar-
ro, fita cassete e todas as iguarias cabíveis
no recinto. Na Kombi, além de consertar
relógios, vendia apenas panelas de alu-
mínio, que continuam sendo comer-
cializadas no bar/mercearia.
AVENTUREIROS Kombi, aliás, é um car-
ro comercial por essência. Mesmo quan-
do o objetivo não é esse. Há 28 anos, José
Carlos Mascarenhas era recém-casado e
sua esposa, Eliana, estava grávida de qua-
tro meses. Ele trocou o Passat LS 1978 por
O
uma Kombi quase zero. José Carlos traba-
relojoeiro Francisco Moreira lhava com produção de eventos e precisa- fundidos com ciganos, devido à imensa
trabalha em um bar na Rua va de um carro grande para transportar quantidade de móveis. O dono da mer-
Capivari, na entrada do Aglo- materiais. Aproveitando a deixa, a sogra, cearia queria trocar o material da mudan-
Tenho saudade merado da Serra, mas sente que é de Montes Claros, no Norte de Mi- ça por pequenas pedras, que jurava ser A viagem durou
saudade do tempo em que nas, estava reformando a casa e pediu que diamante bruto. Sem escambo e sem con-
do tempo em trabalhava dentro da Kombi, ainda estacio- o genro levasse alguns móveis para ela, seguirem convencer alguns que não eram perto de 30
nada à porta do estabelecimento. A cor do entre eles uma imensa geladeira, um so- ciganos, foram festejados, comeram pra-
que trabalhava veículo é marrom, mas a ação do tempo e fá, várias cadeiras e muitas caixas. tos típicos, assistiram a uma roda de vio- horas, mas
da poeira deixaram-no com um tom abs- “Saímos de Belo Horizonte às 8h, sob la, com direito a serrote. “O sujeito manti-
dentro da trato. Durante cinco anos, Francisco cum- uma chuva torrencial. Perto de Curvelo, nha a ferramenta entre os joelhos e pas- talvez tenha sido
priu expediente no interior da Kombi, para- uma ponte havia caído e tivemos que pe- sava um arco de violino tirando um som
Kombi, que da um pouco abaixo, na esquina, próxima a gar um desvio, passando por Diamanti- incrível”, explica José Carlos. Antes de ir uma das mais
uma casa de jogo-do-bicho. Faz um ano que na e inúmeros vilarejos e cidadezinhas. embora, porém, tinha que encher o tan-
ficava parada na trocou o modelo VW pelo bar, que durante Estrada péssima, chuva, buracos, atolei- que de combustível e, na falta de gasolina, divertidas que já
o dia é relojoaria e mercearia e no turno da ros e a Kombi seguindo em frente. Lá pe- valeu-se de cinco litros de querosene. Se-
rua noite funciona como boteco e salão de si- las 16h, quase sem combustível, paramos guiram até o próximo posto, onde foi fizemos
nuca. “Tem cliente antigo que reclama, diz em Mendanha (distrito de Diamantina), constatado que o motivo da “sede” era o
que veio só consertar o relógio e não atrás às margens do Rio Jequitinhonha”, lem- tanque furado. “A viagem durou perto de
de papo de bêbado”, lamenta. bra José Carlos. 30 horas, mas talvez tenha sido uma das
Resignado, a conversa de Francisco é Cansados e com fome, o casal dormiu mais divertidas que já fizemos”, afirma Jo-
■ Francisco Moreira, quase um murmúrio de tão baixa. Sem in- por lá, na Kombi, é claro. “Com muito con- sé Carlos, no melhor estilho on the road, ■ José Carlos Mascarenhas,
relojoeiro, que hoje trabalha no bar terromper o conserto do relógio, à luz de forto, apesar das encomendas da sogra”, mas ele nunca mais teve uma Kombi e produtor cultural
uma luminária improvisada em latinha de conta. O colchão de espuma, que era usa- nem encarou outra viagem.
refrigerante, ele explica que abandonou o do para evitar que os móveis da sogra ar-
trabalho na Kombi devido aos constantes
furtos. Quando terminava o serviço, ia de
ranhassem, serviu como uma confortável
cama. Antes do sono, porém, foram con- ❚ LEIA MAIS SOBRE A KOMBI
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