1. CYAN MAGENTA AMARELO PRETO pg.05
E STA D O D E M I N A S ● S Á B A D O , 9 D E J U N H O D E 2 0 0 7
VEÍCULOS 5
COMPORTAMENTO
Automóvel fez as vezes de poltrona e ajudou a popularizar cinema, mas cenas
c
de sexo mudaram rumo do drive-in, que atrai freqüentadores em Belo Horizonte m
y
k
Namorando no carro
DANIEL CAMARGOS
Aldo Garcia não gosta das obras na
há um drive-in que tenha
tela de cinema. Nos 10 bo-
xes simples do drive-in de
Avenida Antônio Carlos, principal via de Garcia, há espaço para es-
ligação do Centro à Região Norte de Belo tacionar o veículo, e no
Horizonte. Pior: tem antipatia do trans- fundo, uma bancada de
porte coletivo e dos passageiros que se cimento, acolchoada
amontoam à espera do ônibus no ponto com almofada, faz vezes
próximo ao número 6.500 da avenida. de sofá. Além disso, tem
Apesar do sobrenome de vilão e de suas um interfone, para saciar
birras, o Garcia da vez não quer impedir o desejo por algo ofereci-
que a felicidade se dissemine pelas classes do no cardápio pregado
menos abastadas, como o sargento Gar- na parede de cimento
cia, que vive a infernizar o justiceiro Zorro. grosseiro: cerveja, cacha-
Garcia, o Aldo, é do bem e faz gosto que as ça, vodka, refrigerante,
pessoas sejam felizese tenham prazer. preservativo e misto-
Proprietário de um drive-in há nove anos, quente, que, segundo
ele é testemunha de aceleradas e derrapa- Garcia, é fornecido por
das no piso pé-de-moleque que calça os terceiros. Mesmo proces-
30 boxes do lote ladeado por uma reven- so vale para lavar a roupa
da de carros e por uma loja de materiais de cama. A lavanderia se
de construção, em frente ao campus da faz necessária pelas ou-
UFMG, na Pampulha. tras duas categorias de
A birra de Garcia com o movimento de boxes: com cama e suíte.
trabalhadores, tratores e pedestres na ave-
nida é porque inibe potenciais freqüenta- DINÂMICA São 18h36 e um
dores de seu drive-in. Nem a imensa faixa outro casal que havia che-
de lona alaranjada, que serve de outdoor, gado 17h30, pede a conta e
ajuda na reconquista da freguesia. “Perdi saí em um Renault Clio Se-
20% desde que as obras começaram. O dan cinza. Estavam no box
pessoal também atrapalha muito. O casal 8. Pagaram os R$ 14,90 e fi-
está com vontade de entrar, mas a moça caram menos de uma hora,
fica sem graça quando o ponto está lota- sendo que poderiam per-
do”, explica. A sorte de Garcia e de todos os manecer duas e desfrutar
proprietários de drive-in na cidade é que das instalações: piso de azu-
existem os desinibidos e as boas datas, co- lejo branco, parede pintada
mo o Dia dos Namorados, terça-feira. “É no cimento sem reboco, cama
quando tem movimento”, detalha Aldo, de casal e um corredor estreito
PRETO
que esconde os números para não muni- com banheiro. Tem também uma minús-
ciar a concorrência. Porém, ele conta que cula televisão em preto-e-branco com sibilita ao casal namorar dentro do auto- HISTÓRIAS
vésperas dos feriados, fins de semana e o uma única opção de canal, o 3, que exibe móvel. Além de ser a opção mais barata (R$
Dia de Secretária (30 de setembro) tam- performances de atrizes e atores de filmes 6 por duas horas, contra R$ 14,90 e R$ 16
AMARELO
bém são datas de movimento intenso. pornográficos. Garcia explica que se o ca- das outras mais sofisticadas). Garcia conta
Dias fracos são os feriados, principalmen- sal não quiser assistir à TV, na parede está que tem quem prefira independentemen- CHUPETA GALERA
te os religiosos: “Sexta-feira da paixão fica colado papel explicando que pode ser sin- te da condição financeira: “Muitas vezes Cena comum é o funcionário ajudar o amante No início, há mais de 70 anos, o objetivo
às moscas”. tonizada como transmissor de rádio. Há chegam senhores em carros de luxo, pa- a empurrar o carro depois do serviço no box. do drive-in era levar a família para ver o
“Direto, principalmente, carro velho acaba a filme e pagar um bilhete só. Porém, a
também um quadro com bucólica paisa- gam com nota grande e escolhem o box
carga da bateria e ajudamos a empurrar. Tem época é outra e os mais empolgados que
EVOLUÇÃO A reportagem do caderno Veí- gem campestre, o cardápio e o interfone. mais simples”, revela. Para quem se enqua- vez que tem até que transferir carga de outro chegam em grupo em um único carro não
culos acompanhou a movimentação no Terça-feira é dia de movimento fraco. dra nesse perfil ou namora, o caderno Veí- carro”, conta Garcia, se referindo ao processo podem ir todos para o mesmo box. A
MAGENTA
drive-in entre 18h e 20h da última terça- Às 19h05, alguém sai caminhando de culos sugere como presente para o Dia dos conhecido como “chupeta” . Quando isso orientação é que são dois apenas por box.
feira. Depois de 30 minutos chega o pri- um dos boxes dos fundos. Passa pela Namorados o Haynes Sex Manual, um Ka- acontece quem fica sem graça é a moça. Porém, se depois de entrarem os clientes
meiro casal, a bordo de um Chevrolet portaria do drive-in e resmunga, dizen- ma sutra adaptado para o automóvel. Pre- quiserem alternar, Garcia diz que, “são
Corsa Sedan cinza escuro. A escolha é pe- do que “vai ali”. Garcia explica que é um parado pela editora Haynes, especializada CALOTE outros 500”.
lo box 14, classificado como box com ca- freqüentador habitual, “que sempre che- em publicações automotivas, o manual é É freqüente casais ou homens acompanhados
de prostitutas chegarem com doses a mais de AGRADO
ma, o predileto pelos freqüentadores. São ga a pé com a namorada, ou quem sabe em inglês, mas, mesmo quem não domi- álcool na cabeça e não se lembrarem que, an- Depois de uma hora e 10 minutos, às
14 desse tipo lá. Garcia conta que, no iní- esposa”. É que o drive-in, a despeito mais na o idioma, pode se valer, pois é didatica- tes de ir embora, precisam pagar pelo uso do 19h40, o casal do Corsa pede a conta: R$
CYAN
cio, eram oferecidos apenas os boxes uma vez, da origem do nome recebe mente ilustrado. Entretanto, a cortina ver- local. Nessas situações, a orientação é exigir 14,90. O vidro com película escura é aber-
simples, que remetem ao sentido origi- aqueles que chegam sem carro também. melha do drive-in se faz necessária, pois o garantia de que o usuário retornará ao local to no limite de passar uma nota de R$ 10 e
nal do drive-in, em que as pessoas che- O freqüentador assíduo havia chegado namoro no carro, de acordo com o manual, para acertar a dívida. Como muitos não vol- outra de R$ 5. Não esperam a moeda de
gam, estacionam e ficam no carro. Aliás, o por volta de 17h e foi em um botequim, não se restringe ao habitáculo do veículo. tam, Garcia brinca que, em breve, montará um R$ 0,10 de troco. É sempre assim. A maio-
carro. Já tem três rodas que vieram de estepes ria faz o máximo para evitar qualquer
tal sentido original do drive-in já está há buscar uma marmita. Os minutos pas- Além disso, é crime de atentado violento
de usuários caloteiros, um macaco e até capa- conversa. Mas, terça-feira, terão que abrir
muito deturpado. Criado na década de sam, Garcia diz que o movimento no dri- ao pudor praticar os ditames do livreto em cete de moto. Além de aparelhos de telefone um pouco mais, pois Garcia promete um
1930, em Nova Jersey (EUA), ajudou a po- ve-in é como pescaria: “Tem momentos via pública. celular, bolsas e um pé de botina. bombom ou uma flor para as moças.
pularizar o cinema, pois o bilhete era co- que chegam vários carros ao mesmo
brado por carro e não por pessoa. Na dé- tempo, mas tem vez que fica muito tem-
cada de 1960, as fitas de cunho sexual po sem aparecer ninguém”. Enquanto o
perverteram o caráter do drive-in. freguês não chega, as histórias são conta-
Depois que descambou para o sexo, as das, com a ajuda do recepcionista Ricar-
telas foram sumindo e o substantivo do e da faxineira Adriana. (leia quadro)
também. O que era “drive-in cinema” fi-
cou só “drive-in”. Em Belo Horizonte, não MANUAL O mais espartano dos boxes pos- Euroville Duro vai ser contar para a família
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