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A estação do Neolítico antigo de Cabranosa
(Sagres). Contribuição para o estudo
da neolitização do Algarve
❚ ANTÓNIO FAUSTINO CARVALHO
1
❚ JOÃO LUÍS CARDOSO
2
❚
23
A ESTAÇÃO DO NEOLÍTICO ANTIGO DE CABRANOSA (SAGRES). CONTRIBUIÇÃO PARA O ESTUDO DA NEOLITIZAÇÃO DO ALGARVE
RESUMO Este trabalho corresponde ao
desenvolvimento de um outro, recentemente
publicado, sobre a estação de Cabranosa. Este
último, no qual se estudou de forma sistemática,
o espólio arqueológico até ao presente recolhido,
permitiu considerar a existência, nos primórdios
do Neolítico antigo, datado na estação pelo
radiocarbono no terceiro quartel do VI milénio cal
BC, de uma comunidade que, sedeada no extremo
sudoeste da Península Ibérica, praticava já um
modo de vida de tendência sedentária, com a
presença de animais domésticos (cabra e/ou ovelha).
Esta constatação impunha a realização de um estudo
mais desenvolvido na perspectiva da integração
cultural da estação e do seu próprio significado, no
contexto geográfico regional e supra-regional em
que se insere.
O exercício comparativo efectuado permitiu concluir
que a produção cerâmica (que inclui vasos cardiais
produzidos localmente) se distingue, a vários títulos,
das produções homólogas do Neolítico antigo do
litoral alentejano e da Andaluzia ocidental,
geograficamente mais próximas, face às das fases
mais tardias do Neolítico cardial da Andaluzia
oriental e do País Valenciano, mais longínquas.
Também ao nível dos conjuntos de pedra lascada se
detectaram diferenças entre o recolhido na
Cabranosa e, de modo mais geral, os das estações
algarvias, face à realidade conhecida das estações do
litoral alentejano, na passagem do Mesolítico para o
Neolítico.
Os elementos referidos afiguram-se de importância
significativa na discussão dos modelos possíveis que
presidiram à neolitização do litoral meridional
português. No estado actual dos conhecimentos,
afigura-se provável a existência simultânea de duas
comunidades culturalmente distintas na referida
orla litoral: uma, mesolítica, de há muito
estabelecida em ecossistemas litorais, praticando
uma economia de caça-pesca-recolecção; outra, já
neolítica, estabelecida na faixa litoral algarvia, com
uma economia já de produção (pelo menos a
pastorícia e, muito provavelmente a agricultura),
portadora de uma cultura material diferente.
Posta nestes termos discussão, é forçoso concluir
que a génese do Neolítico no litoral algarvio (de que
ABSTRACT This work builds on earlier, recently
published work on the site of Cabranosa.
This earlier article, in which the available
archaeological evidence was studied in a
systematic way, permitted us to consider the
existence, by the beginning of the Early Neolithic
and radiocarbon dated to the third quarter of the
6
th
millennium BC, of a sedentary community
with domestic animals (goat and/or sheep) in the
extreme southwest of the Iberian Peninsula.
This evidence stimulated a more developed study
of the cultural integration of the site and its
significance, in the regional and supra-regional
geographic context in which it was situated.
This comparative exercise allowed us to conclude
that ceramic production (which includes locally
produced Cardial vases) can be distinguished
from the homologous products of the Early
Neolithic of the Alentejo coast and eastern
Andalucia, as well as the latest phases of the
Cardial Neolithic of eastern Andalucia and of
Valencia, further away. Furthermore, at the
level of the flaked stone assemblages there were
differences detected between those recovered
in Cabranosa and, in general, those from others
sites of the Algarve, and those sites known
in the coastal Alentejo, between the Mesolithic
and Neolithic.
These cultural indicators contribute to our
understanding of the possible factors that
presided in the neolithization of the western
Portuguese coast. In the present state of
knowledge, it seems likely that there existed
simultaneously two distinct cultural communities
in this area: one, Mesolithic, long-established
in the coastal ecosystem, practicing an economy
of hunting-fishing-gathering; the other, already
Neolithic, established in the Algarve coast, with
an economy of production (at least herding
and, very likely agriculture), and a carrier of a
different material culture.
Placed in these terms, we must conclude that
the genesis of the Neolithic in the Algarve
coast (of which Cabranosa is paradigmatic)
appears to have been related to the presence
of populations possibly coming from the
24
MUITA GENTE, POUCAS ANTAS? ORIGENS, ESPAÇOS E CONTEXTOS DO MEGALITISMO • ACTAS DO II COLÓQUIO INTERNACIONAL SOBRE MEGALITISMO
1. Antecedentes
A estação arqueológica de Cabranosa é já clássica na bibliografia arqueológica portu-
guesa. A sua identificação ocorreu em 1970 durante os levantamentos geológicos da região
de Vila do Bispo, pelos então Serviços Geológicos de Portugal (Fig. 1). Nessa ocasião, reco-
lheram-se na parte inferior da vasta cobertura de areias dunares modernas que se espraiam
pela região, no contacto com os depósitos consolidados avermelhados plio-quaternários sub-
jacentes alguns fragmentos de cerâmica, inquestionavelmente pré-históricos, cuja impor-
tância, logo reconhecida, justificou a apresentação de notícia preliminar, publicada no
mesmo ano (Ferreira, 1970). O espólio foi atribuído ao Neolítico antigo. Essa cronologia foi
reforçada pela comparação da Cabranosa com outros conjuntos cerâmicos afins, proveni-
entes de vários pontos do actual território português (Guilaine e Ferreira, 1970). Neste
último trabalho, os materiais foram sumariamente descritos, salientando-se a presença
nalguns fragmentos cerâmicos da técnica cardial.
Na época, a Cabranosa constituía um caso único no Sul de Portugal, o que motivou a
manutenção do interesse de O.V. Ferreira e colaboradores pela estação. Assim, em Julho de
1975, J. Norton efectuou várias acções de prospecção e recolha de materiais na área de dis-
tribuição dos achados, tendo recolhido fragmentos decorados que se verificou pertencerem
é paradigma a estação de Cabranosa) parece ter-se
ficado a dever à presença de grupos populacionais
oriundos possivelmente da costa levantina da
Península, os quais teriam interagido,
ulteriormente, com os já sedeados na região,
designadamente os que se dispersavam ao longo do
litoral alentejano. Porém, como é óbvio, a definição
cultural destes dois hipotéticos grupos está longe de
se poder considerar satisfatória, bem como
discutível se afigura, também, a cronologia do
referido processo de interacção: se, em meados do
VI milénio cal BC (se se considerarem os dados
cronométricos de Vale Pincel ou Medo Tojeiro), ou
apenas a partir do início do V milénio cal BC (a
aceitar-se somente os dados do concheiro do cabeço
das Amoreiras, no baixo vale do Sado). É admissível,
ainda, qualquer data intermédia, visto que o
concheiro das Amoreiras se situa já numa posição
periférica relativamente ao possível foco de
neolitização considerado, a partir do litoral algarvio.
A terminar, é feita breve alusão à emergência do
fenómeno megalítico regional: na estação de
Cabranosa, não se conhecem menires partilhando o
espaço de ocupação neolítica, situação que concorda
com os escassos indicadores cronológicos que fazer
corresponder, quando muito, ao Neolítico antigo
evoluído as primeiras manifestações megalíticas
(menires e sepulcros proto-megalíticos).
Levantine coast of the Peninsula, which were
later integrated with those already based in
the region, namely those which were dispersed
along the Alentejo coast.
Clearly, the cultural definition of these two
possible groups is far from satisfactory, and the
chronology of their interaction is debatable.
It is unclear whether this interaction dates
to the middle of the 6
th
millennium cal BC
(if one considers the chronometric dates of Vale
Pincel or Medo Tojeiro), or only from the
beginning of the 5
th
millennium BC (if we only
accept the dates of the shell-midden on the
hill at Amoreiras, in the lower Sado valley).
An intermediate date is even possible, given
that the shell-midden of Amoreiras is already
situated in a peripheral position, relative to the
possible focus of Neolithization, from the
Algarve coast. Finally, this article makes
a brief reference to the emergence of a
regional megalithic phenomenon.
At the site of Cabranosa, there are no known
menhirs that share its Neolithic occupational
space, which is consistent with the scarce
chronological evidence that the first megaliths
(menhirs and proto-megalithic burials)
correspond to, at the earliest, to the evolved
Early Neolithic.
em parte a vasos já publicados anteriormente, e um conjunto apreciável de artefactos de
sílex. Foi numa dessas ocasiões que se localizou, a cerca de 2000 m do núcleo dos achados,
um grande vaso globular liso, aparentemente não associado a qualquer outro vestígio, reco-
lhido no seio das areias dunares (Figs. 2, 3 e 4).
Em Dezembro do ano seguinte, no decurso de prospecções que continuaram a ser peri-
odicamente efectuadas por O.V. Ferreira, M. Leitão, C.T. North, J. Norton e G. Zbyszewski,
foram identificadas várias manchas de areias acinzentadas e um pouco mais consolidadas,
com restos malacológicos, sugerindo a existência de lareiras. Esta observação foi confirmada
através da realização de uma escavação em torno de uma destas lareiras. Zbyszewski e cola-
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A ESTAÇÃO DO NEOLÍTICO ANTIGO DE CABRANOSA (SAGRES). CONTRIBUIÇÃO PARA O ESTUDO DA NEOLITIZAÇÃO DO ALGARVE
FIG. 1 – Implantação da Cabranosa na Carta Militar de Portugal na escala de 1/25 000. Folha de Sagres (Vila do Bispo). Lisboa,
Serviços Cartográficos do Exército, 1952.
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MUITA GENTE, POUCAS ANTAS? ORIGENS, ESPAÇOS E CONTEXTOS DO MEGALITISMO • ACTAS DO II COLÓQUIO INTERNACIONAL SOBRE MEGALITISMO
FIG. 2 – Local do achado do grande vaso de provisões (ver Fig. 3). Foto de J. Norton.
FIG. 3 – Pormenor do modo de jazida do grande vaso de provisões, no seio das areias dunares (ver Fig. 3). Foto de J. Norton.
boradores publicaram em 1981 a planta da escavação, indicando a localização dos ecofactos
e artefactos recolhidos ao nível do solo de ocupação (Zbyszewski et al., 1981). A delimita-
ção precisa da distribuição de materiais de superfície permitiu a identificação de uma área
elíptica, com cerca de 150 m de eixo maior. As novas recolhas incluíam outros fragmentos
decorados, os quais, somados aos anteriormente reunidos, permitiram a reconstituição de
diversos recipientes, mais ou menos completos.
A algumas centenas de metros a Norte da área de maior concentração de vestígios foi
recolhido, por J. Norton, um machado mirense isolado. Jazia no contacto entre as dunas
móveis actuais com impregnações calcárias e o substrato geológico local, a que já se fez refe-
rência (paleo-solo endurecido avermelhado). Deve concluir-se, por conseguinte, que o
machado mirense é anterior à ocupação do Neolítico antigo incorporada nas dunas e teste-
munhada pelos materiais e pelas estruturas de combustão ali observadas.
27
A ESTAÇÃO DO NEOLÍTICO ANTIGO DE CABRANOSA (SAGRES). CONTRIBUIÇÃO PARA O ESTUDO DA NEOLITIZAÇÃO DO ALGARVE
FIG. 4 – Grande vaso liso de corpo globular e colo estrangulado (vaso de provisões), com mamilos na parte superior do bojo e
decoração cardial.
A retoma do estudo deste espólio teve lugar muito mais tarde, em meados da década de
1990. A primeira acção consistiu na obtenção de uma datação de radiocarbono a partir de
fragmentos de conchas de Mytilus sp. recuperadas durante a escavação da lareira supracitada.
O resultado da datação, que prontamente se publicou, confirmou plenamente as propostas
anteriores (Cardoso, Carreira e Ferreira, 1996, p. 22). Subsequentemente, procedeu-se à revi-
são, desenho e estudo sistemático da totalidade do espólio recolhido nos anos 70 (Cardoso,
Carvalho e Norton, 1998). Este estudo baseou-se na totalidade do espólio recolhido na esta-
ção, que entretanto se tinha disperso; a sua reunião e publicação integral, antecedeu o seu
depósito no Museu Nacional de Arqueologia, onde deu entrada em Setembro de 1998, por
vontade expressa do principal investigador da estação, o Doutor O. da Veiga Ferreira.
2. Espólio
O espólio recolhido é muito diversificado. Abundam os restos de talhe da pedra e os
fragmentos de cerâmica; estão também presentes algumas peças em pedra polida, adornos
sobre concha e fauna malacológica e mamalógica.
2.1. Cerâmica
A reconstituição gráfica do material cerâmico permitiu identificar quatro tipos mor-
fológicos principais:
• vasos fechados em forma de saco (Fig. 5, n.
o
2);
• vasos em forma de saco com colo estrangulado (Fig. 5, n.o
1);
• vasos abertos de fundo parabolóide (Fig. 6, n.os
1 e 2);
• vasos de tendência esférica com colo estrangulado (Fig. 4).
As técnicas decorativas estão representadas por impressões (entre as quais se assinala
a presença de cardial), incisões e elementos plásticos de vários tipos.
A cerâmica cardial está representada em dois recipientes em forma de saco (Fig. 5, n.
os
1
e 2), apresentando um deles colo estrangulado. No primeiro (Fig. 5, n.o
2), a decoração orga-
niza-se em métopas paralelas entre si, horizontais ou verticais, organizadas logo abaixo do lábio
e na parte superior do bojo, entre pequenas asas de perfuração vertical ali implantadas. O
segundo vaso não conserva a parte superior do colo, mas é possível verificar a presença de qua-
tro asas de perfuração horizontal entre as quais se encontram grupos de três bandas de méto-
pas horizontais obtidas através desta técnica (Fig. 5, n.o
1).
Outro tipo de impressões encontra-se num grande vaso aberto de corpo parabolóide
com quatro pequenas asas em fita e perfurações troncocónicas (Fig. 6, n.o
2). Tratam-se de
pequenas impressões arqueadas, em forma de meia-cana, dispostas em quatro bandas
constituídas por nove métopas horizontais entre os elementos de preensão e por uma
banda contínua, ao longo da parte inferior do bojo do recipiente, produzido por três méto-
pas idênticas às anteriores.
As cerâmicas com decoração incisa estão muito pouco representadas no espólio da Cabra-
nosa. Um exemplo é a aplicação de sulcos verticais irregulares formando uma banda sob o
bordo, que se encontrou num fragmento de recipiente fechado em forma de saco (Fig. 7, n.o
2).
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MUITA GENTE, POUCAS ANTAS? ORIGENS, ESPAÇOS E CONTEXTOS DO MEGALITISMO • ACTAS DO II COLÓQUIO INTERNACIONAL SOBRE MEGALITISMO
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A ESTAÇÃO DO NEOLÍTICO ANTIGO DE CABRANOSA (SAGRES). CONTRIBUIÇÃO PARA O ESTUDO DA NEOLITIZAÇÃO DO ALGARVE
FIG. 5 – n.
o
1 – Vaso de colo apertado com decoração cardial; n.
o
2 – Vaso pequeno em forma de saco com decoração cardial.
1
2
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MUITA GENTE, POUCAS ANTAS? ORIGENS, ESPAÇOS E CONTEXTOS DO MEGALITISMO • ACTAS DO II COLÓQUIO INTERNACIONAL SOBRE MEGALITISMO
FIG. 6 – n.
o
1 – Vaso aberto, de fundo parabolóide, com decoração plástica de cordões e grinaldas; n.
o
2 – vaso aberto, de fundo
parabolóide, com decoração impressa organizada em métopas.
1
2
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A ESTAÇÃO DO NEOLÍTICO ANTIGO DE CABRANOSA (SAGRES). CONTRIBUIÇÃO PARA O ESTUDO DA NEOLITIZAÇÃO DO ALGARVE
FIG. 7 – n.
o
1 – Fragmento de vaso com cordões em relevo segmentados, formando grinaldas partindo de botão sobre o bordo;
n.
o
2 – Fragmento de vaso em forma de saco com decoração canelada; n.
o
3 – Fragmento de vaso com asa perfura horizontalmente,
com decoração denteada na parte superior; n.
o
4 – Fragmento de vaso de bordo denteado, com cordão em relevo segmentado
sob o bordo; n.
o
5 – Fragmento de grande vaso com cordão liso, unindo elementos de preensão situados no bojo.
1 2
3
4
5
As decorações plásticas consistem em cordões em relevo. No grande recipiente aberto
de corpo parabolóide constituem o elemento decorativo de ligação entre as asas e o motivo
de tipo grinalda abaixo do bordo (Fig. 6, n.o
1). Os mesmos cordões simples arqueados
observaram-se entre as asas de um fragmento de grande vaso de corpo esferoidal (Fig. 7,
n.o
5). Em recipientes tendencialmente abertos, encontram-se cordões em relevo inter-
rompidos por impressões, constituindo, tal como anteriormente, elementos de ligação
entre mamilos ou botões, situados imediatamente sob o bordo (Fig. 7, n.o
4). Estes cordões
podem desenvolver-se na horizontal, acompanhando os bordos dos respectivos recipientes,
ou formando grinaldas partindo de mamilos ou botões (Fig. 7, n.o
1).
Impressões do tipo observado nos cordões podem ainda observar-se no bordo de um
dos fragmentos (resultando num bordo denteado simples: Fig. 7, n.o
4) e na parte superior
de asa de perfuração horizontal (Fig. 7, n.o
3).
Os elementos de preensão consistem, por um lado, em asas de vários tipos e, por outro,
em pegas e mamilos. As primeiras apresentam morfologias anelares (de perfuração verti-
cal ou horizontal) e em fita. Observam-se tanto sobre o bojo como partindo do bordo dos
recipientes. As pegas e mamilos com carácter predominantemente decorativo correspon-
derão aos mamilos de menores dimensões que se encontram estreitamente articulados com
outros elementos decorativos, ou isolados.
2.2. Talhe da pedra
Na Cabranosa, o talhe aplicou-se no sílex, cristal de rocha, quartzo, quartzito e grau-
vaque. Porém, apenas no sílex se verifica um número elevado de restos de talhe e utensí-
lios, demonstrando ter sido esta a rocha mais frequente e sistematicamente usada durante
a ocupação do local (as restantes rochas estão representadas por vezes por peças singulares).
A origem da matéria-prima é local, ocorrendo em nódulos dispersos pelos calcários jurás-
sicos existentes nas proximidades.
A análise dos núcleos e material de debitagem (Fig. 8) permitiu identificar quatro prin-
cipais processos de talhe aos quais se recorria sistematicamente para a obtenção da uten-
silagem desejada, e que se podem descrever sucintamente como segue:
Debitagem aleatória de nódulos brutos ou fragmentos de nódulo
Consiste na extracção de lascas através de levantamentos avulsos, descontínuos, aplicados
nas extremidades ou zonas angulosas de nódulos ou fragmentos de nódulo. Os núcleos
resultantes deste processo representam 37%. A opção por este tipo de debitagem ocorria
na experimentação da aptidão dos blocos para talhe, na conformação e preparação de
núcleos de outros tipos, e na produção deliberada de lascas para produção de utensílios.
Debitagem de nódulos sem padrão preferencial
Trata-se da produção de lascas através de levantamentos segundo direcções de debita-
gem não recorrentes, mas estendendo-se a uma extensa área do bloco. Os núcleos
resultantes deste procedimento apresentam tipologias ovais ou esféricas, e perfazem
22% do total dos núcleos.
Debitagem centrípeta de nódulos ou lascas
Visa a produção de lascas finas e largas através de debitagem centrípeta. Os suportes des-
tes núcleos podem ser blocos ou lascas mais ou menos espessas. Somam 14% dos núcleos.
32
MUITA GENTE, POUCAS ANTAS? ORIGENS, ESPAÇOS E CONTEXTOS DO MEGALITISMO • ACTAS DO II COLÓQUIO INTERNACIONAL SOBRE MEGALITISMO
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A ESTAÇÃO DO NEOLÍTICO ANTIGO DE CABRANOSA (SAGRES). CONTRIBUIÇÃO PARA O ESTUDO DA NEOLITIZAÇÃO DO ALGARVE
FIG. 8 – Núcleos de sílex: 1 – núcleo prismático para lamelas debitado por pressão (note-se a preparação da plataforma por
facetagem e a existência de negativos de lamelas ultrapassadas); 2 – Núcleo prismático para lamelas reaproveitado para
debitagem de lascas após a remoção da plataforma original; 3 – Núcleo sobre lasca com levantamentos centrípetos;
4 e 5 – Núcleos debitados; 6 a 8 – Núcleos bipolares; 9 – Núcleo prismático para lamelas.
2
1
3
4
5 7
8
9
6
Debitagem de volumes prismáticos
É o único tipo de debitagem especificamente pré-determinada para a produção de
lâminas e lamelas, que se realiza a partir de núcleos prismáticos. Estes núcleos totali-
zam 21% do total. As lâminas e lamelas resultantes deste método de talhe apresentam
morfologias muito regulares e normalizadas (bordos e nervuras paralelas, perfis direi-
tos ou arqueados na parte distal), secções trapezoidais ou triangulares, e talões em regra
facetados. De acordo com os ensaios de talhe experimental publicados, pode concluir-
se que as técnicas utilizadas seriam a percussão indirecta e/ou a pressão (cf. síntese sis-
tematizada por Gallet, 1998).
34
MUITA GENTE, POUCAS ANTAS? ORIGENS, ESPAÇOS E CONTEXTOS DO MEGALITISMO • ACTAS DO II COLÓQUIO INTERNACIONAL SOBRE MEGALITISMO
FIG. 9 – Utensílios retocados em sílex: 1 e 5 – Lascas com entalhe; 2 – Lasca de retoques descontínuos; 3 – Denticulado sobre
lasca cortical; 4 – Raspador; 6 – Lasca não cortical de silhueta triangular com alguns retoques invasores no gume maior,
tendo sido classificada pelos escavadores como “tranchant” ou “flecha transversal”; 7 – Furador sobre lasca; 8 a 10 – Lâminas
e lamela de “fase plena de debitagem” com retoques contínuos.
1 2 3
4 5 6
7
8
9 10
Apesar do maior investimento de tempo e energia que constituía a produção de lâmi-
nas e lamelas, os suportes maioritariamente utilizados na utensilagem são as lascas com
80%, resumindo-se as lâminas a 11% e as lamelas a 8% (percentagens arredondadas ao
inteiro mais próximo). A tipologia dos utensílios retocados, e a sua variação percentual,
estrutura-se do seguinte modo (Fig. 9):
Lâminas, lamelas e lascas com retoques curtos ou marginais
Peças com retoque de afilamento e/ou reavivamento dos gumes; embora no caso das
lâminas e lamelas este tipo de retoque possa conformar “elementos de foice”, é muito
provável que este tipo de peças tenha tido utilizações múltiplas; este grupo de utensí-
lios soma 39%.
Peças com entalhes e denticulados
Utilizam quase em exclusivo lascas como suportes; são o segundo grupo de utensílios
melhor representado, com 32%.
Furadores
Oito em nove dos furadores foram produzidos sobre lascas; estes são robustos e pare-
cem ter sido concebidos para perfurar materiais resistentes; representam 12% do total
da utensilagem da Cabranosa.
Raspadores
Estas peças, por vezes bastante robustas, são sempre sobre lasca; representam 8% do
total dos utensílios.
Truncaturas
Na Cabranosa, as truncaturas apresentam-se sobre extremo de lasca e não em lâminas
ou lamelas, como é a regra, o que é uma situação invulgar no Neolítico antigo do Sul
de Portugal (Soares, 1995); equivalem a 7% do total dos utensílios.
Peças de retoques invasores
São apenas duas as peças inseríveis neste conjunto (uma lasca e uma lamela), o que
se traduz numa percentagem mínima: 3%.
2.3. Pedra polida
Durante as prospecções de superfície foram recolhidos três artefactos de pedra polida,
classificáveis tipologicamente como sachos. São peças de pequenas dimensões, com 10 cm
de comprimento máximo, e secções sub-rectangulares. Estão totalmente ou quase total-
mente polidas, por vezes com pátina eólica intensa (Fig. 10, 1-3).
Apresentam gumes em bisel assimétrico, um dos quais de contorno arqueado típico
das enxós; mas o embotamento do gume que um dos sachos ostenta (como resultado da
sua utilização) torna mais aceitável esta classificação. De facto, a possibilidade de cor-
responderem a verdadeiras enxós para desbaste de madeiras não é corroborada pelas
características do coberto vegetal dunar da área; por outro lado, a natureza arenosa dos
solos dispensaria artefactos de cava mais pesados, na agricultura incipiente que era a da
época.
35
A ESTAÇÃO DO NEOLÍTICO ANTIGO DE CABRANOSA (SAGRES). CONTRIBUIÇÃO PARA O ESTUDO DA NEOLITIZAÇÃO DO ALGARVE
36
MUITA GENTE, POUCAS ANTAS? ORIGENS, ESPAÇOS E CONTEXTOS DO MEGALITISMO • ACTAS DO II COLÓQUIO INTERNACIONAL SOBRE MEGALITISMO
1 2
3
4
FIG. 10 – 1 a 3 – Artefactos de pedra polida, de rochas locais (grauvaques e xistos siliciosos), utilizados provavelmente como
sachos; 4 – Concha de Thais haemastoma parcialmente polida e perfurada, para uso como elemento de adorno.
2.4. Objecto de adorno
Apesar das referências de Zbyszewski et al. (1981, p. 304) a algumas conchas ou búzios
perfurados, apenas um pequeno exemplar de Thais haemastoma mostra uma pequena per-
furação que permite concluir tratar-se de uma peça de adorno. A sua utilização elemento de
adorno é reforçada por polimento parcial da superfície e do bordo (Fig. 10, n.o
4).
As intensas fracturas apresentadas por exemplares de maiores dimensões da mesma
espécie, sem quaisquer indícios de afeiçoamento, deverão ser o resultado da técnica utili-
zada no seu consumo, ou de causas pós-deposicionais.
2.5. Fauna
A fauna mamalógica está resumida a uma hemimandíbula de Capra hircus ou Ovis aries
recolhida por C.T. Silva e J. Soares na base de uma lareira posta a descoberto pelas movi-
mentações dunares (que não corresponde à escavada pelos Serviços Geológicos de Portu-
gal), e classificada por D. Geddes (Silva, 1997, p. 577).
A fauna malacológica seguramente associável à ocupação neolítica da Cabranosa (quer
na lareira de maiores dimensões escavada em 1976, quer da sua área adjacente) é composta
por 55 valvas de Mytilus sp., 8 de Thais haemastoma e 4 de Patella sp. Parte dos restos de Myti-
lus sp. foi destruída para a obtenção de uma datação de radiocarbono.
Em recolhas efectuadas na superfície das dunas, portanto sem que se possa garantir a
sua associação aos restos da ocupação pré-histórica, recolheram-se 6 conchas de Thais hae-
mastoma, 6 de Patella sp., um fragmento de valva de Glycymeris glycymeris e 2 de Pollicipes
cornucopia.
3. Situação geográfica e tipo de ocupação
A Cabranosa localiza-se numa vasta plataforma regular, recortada a poente e a sul por
uma escarpa marítima. A plataforma encontra-se entre cerca de 50 e 60 m de altitude.
É constituída por dunas móveis, com um coberto vegetal escasso, de tipo arbustivo. A água
é escassa e os poucos solos agricultáveis resumem-se a faixas delgadas dispostas ao longo
dos cursos de água sazonais que cruzam a área.
A ocupação neolítica escolheu a adjacência de um desses ribeiros temporários, o bar-
ranco do Vale Santo, afluente da Ribeira da Cabranosa. A presença dos referidos solos are-
nosos agricultáveis com recurso apenas a pequenos sachos de pedra terá sido uma das
razões para a escolha deste local. A presença do resto de ovino ou caprino, adicionada à evi-
dência anterior, testemunha o domínio de uma economia agro-pastoril. Esta terá sido com-
plementada, especialmente no Verão, pela exploração de recursos marinhos, os quais estão
representados pelas valvas de moluscos. A Praia do Belixe, que proporcionaria um fácil
acesso à exploração daqueles recursos, está à distância mínima que separa a Cabranosa do
oceano (cerca de 2 km a S-SW).
Este conjunto de indícios aponta na direcção de um significativo grau de sedentariza-
ção desta comunidade. Este aspecto é, aliás, sugerido por outros indicadores. Assim, o
vaso globular de grandes dimensões é destinado sem dúvida a armazenamento, o que é
incompatível com elevados índices de mobilidade; a análise macroscópica dos artefactos de
pedra lascada indica que se tratam de rochas locais (grauvaques cinzentos de grão médio,
37
A ESTAÇÃO DO NEOLÍTICO ANTIGO DE CABRANOSA (SAGRES). CONTRIBUIÇÃO PARA O ESTUDO DA NEOLITIZAÇÃO DO ALGARVE
e rochas verde-anegradas, mais finas, talvez xistos siliciosos); e, finalmente, o mesmo se
pode concluir a propósito do sílex, na sua maioria recolhido nas margens das ribeiras que
cruzam a área da Ponta de Sagres.
A análise das pastas realizada anteriormente (Cardoso, Carvalho e Norton, 1998) per-
mitiu verificar que os recipientes cardiais terão sido fabricados localmente, com recurso a
elementos não plásticos disponíveis nas proximidades da estação arqueológica. Inversa-
mente, os restantes apresentam desengordurantes provavelmente originários de areias ou
solos do maciço ígneo de Monchique. Esta observação permite concluir que, num primeiro
momento, a comunidade instalada na Cabranosa terá produzido cerâmicas a partir de
matérias-primas locais, recorrendo à impressão cardial para as decorar. Num momento sub-
sequente, estas cerâmicas terão sido substituídas por outras, de matérias-primas alógenas
oriundas de um espaço geográfico mais alargado.
38
MUITA GENTE, POUCAS ANTAS? ORIGENS, ESPAÇOS E CONTEXTOS DO MEGALITISMO • ACTAS DO II COLÓQUIO INTERNACIONAL SOBRE MEGALITISMO
FIG. 12 – Sítios do Neolítico antigo do Algarve (segundo Gomes e Silva, 1987; Gomes, 1997; Gomes, Cardoso e Alves, 1995;
Bicho et al., 2000): 1. Barranco das Quebradas I e II; 2. Castelejo; 3. Vale Santo I; 4. Cabranosa; 5. Padrão; 6. Gruta de Ibn
Amar; 7. Areias das Almas; 8. Caramujeira; 9. Ribeira de Alcantarilha.
FIG. 11 – Sítios do Mesolítico do Algarve (segundo Gomes e Silva, 1987; Silva e Soares, 1997; Bicho et al., 2000): 1. Montes de
Baixo; 2. Praia de Vale Figueira; 3. Barranco das Quebradas I e II; 4. Castelejo; 5. Armação Nova/Rocha das Gaivotas.
4. Cronologia absoluta e integração cultural
Atribuída ao Neolítico antigo desde a sua descoberta, a datação de conchas de Mytilus
sp. provenientes da lareira escavada na Cabranosa veio confirmar a sua suposta cronologia:
o resultado obtido foi de 6550±70 BP (Sac-1321), após correcção do efeito de reservatório (Car-
doso et al., 1996, p. 22), que corresponde a 5611-5393 cal BC (a 1 sigma) ou 5621-5369 cal BC
(a 2 sigma), fazendo uso da curva de calibração de Stuiver e Van der Plicht (1998). A ocupa-
ção neolítica da Cabranosa ocorreu, portanto, no terceiro quartel do VI milénio cal BC.
A única jazida algarvia que se pode considerar contemporânea da Cabranosa é Padrão
(Vila do Bispo), onde se obtiveram duas datações, também sobre conchas, com a mesma
ordem de valores: 6440±60 BP (ICEN-645) e 6570±70 BP (ICEN-873), após correcção do
efeito de reservatório (Gomes, 1997). Estas amostras haviam sido recolhidas numa estru-
tura de combustão integrada num estrato que incluía também fauna doméstica e selvagem,
cerâmica e pedra polida, além de adornos e talhe do sílex. Salienta-se o facto de, entre a cerâ-
mica, se contarem também exemplares cardiais.
O grosso das datações absolutas publicadas para o Algarve reporta a contextos mais
antigos, que apresentam uma cultura material e uma economia exclusiva de caça-pesca-reco-
lecção. Tratam-se dos seguintes sítios:
Castelejo (Vila do Bispo)
Os seus níveis basal e médio apresentam um conjunto de datações escalonadas ao
longo da primeira metade do VII milénio cal BC (Gomes e Silva, 1987; Silva e Soares,
1997); infelizmente, o seu nível superior, atribuído ao Neolítico antigo, não conta com
qualquer datação, não podendo ser objecto de comparação directa com a Cabranosa;
Montes de Baixo (Odeceixe)
Os níveis mesolíticos deste concheiro foram datados de finais do VII milénio cal BC
(Silva e Soares, 1997), portanto de uma cronologia muito anterior à Cabranosa;
Armação Nova / Rocha das Gaivotas (Vila do Bispo) — as várias datações já disponí-
veis permitem colocar as ocupações mesolíticas deste local na transição do VII para o
VI milénio cal BC; no entanto, trata-se de um sítio ainda em curso de estudo e publi-
cação3
, pelo que não pode ser plenamente valorizado neste momento.
Recentemente, Bicho e colaboradores publicaram algumas datações para concheiros
com cerâmica em Vale Santo I (Vila do Bispo) e Ribeira de Alcantarilha (Silves), que os colo-
cam dois a quatro séculos depois da Cabranosa, ou seja, no final do VI milénio cal BC. Não
está ainda verificado se nestes níveis de concheiro existem espécies domésticas. Por outro lado,
a cerâmica é de tipo epicardial, pois segundo ao autores apresentam-se “(...) decoradas com cor-
dões e impressões, mas sem vestígios de decoração cardial” (Bicho et al., 2000, p. 14).
O exercício comparativo efectuado anteriormente (Cardoso, Carvalho e Norton,
1998) permitiu concluir que a produção cerâmica da Cabranosa se distingue a vários títu-
los das do Neolítico antigo do litoral alentejano e da Andaluzia ocidental, assemelhando-
-se às peças típicas das fases tardias do Neolítico cardial da Andaluzia oriental (Carigüela)
e do País Valenciano (Or e Cendres). Os indicadores utilizados foram, em concreto, os
seguintes:
• as impressões cardiais estão representadas em metade do conjunto recolhido em
escavação, o que significa uma percentagem importante;
39
A ESTAÇÃO DO NEOLÍTICO ANTIGO DE CABRANOSA (SAGRES). CONTRIBUIÇÃO PARA O ESTUDO DA NEOLITIZAÇÃO DO ALGARVE
• as respectivas formas inserem-se no “Grupo XV” (vasos ovais) da tipologia proposta
por Bernabeu (1989) para o Neolítico IA da região valenciana;
• as decorações presentes, independentemente da técnica utilizada, não estão restritas
a uma faixa junto ao bordo, antes cobrem boa parte ou a totalidade da superfície dos
vasos;
• as peças com cordões são cerca de metade do total do conjunto cerâmico, e encon-
tram-se por vezes segmentados, seja por traços incisos, seja por impressões de pon-
tas biseladas.
5. Diversidade cultural no processo de neolitização do Algarve
O presente capítulo visa apontar algumas questões para as quais os dados da Cabranosa
podem trazer alguma contribuição. A cronologia da ocupação tem feito dela um sítio-chave
nos principais modelos correntes sobre a neolitização do Algarve. O seu papel neste pro-
cesso é, no entanto, interpretado de forma diversa:
Segundo Silva e Soares (1987; Silva, 1989; Soares, 1995), a transição para o Neolítico
no Sul de Portugal é entendida como um processo de aculturação do substrato mesolítico,
e terá tido o seu início em meados do VI milénio cal BC através da aquisição gradual dos
elementos neolíticos (cerâmica, pedra polida e economia de produção). Neste contexto, a
Cabranosa é interpretada como um acampamento-base atribuível à fase inicial do Neolítico
antigo.
Segundo Zilhão (1998), a Cabranosa testemunha, a par do habitat de Padrão atrás refe-
rido, a existência de um “enclave neolítico” similar ao que o mesmo autor propõe para a
Estremadura, resultante da chegada, por volta de meados do VI milénio cal BC, de um efec-
tivo contingente populacional exógeno portador da tecnologia e economia neolíticas. Um
dos argumentos na atribuição cultural deste enclave é a presença de cerâmica cardial, a qual
está muito mal representada nas restantes regiões do Sul do País.
Um balanço recente da questão, que procurou explorar a comparação da cultura mate-
rial da Cabranosa e Padrão, por um lado, e dos restantes sítios do Alentejo e Algarve, por
outro, debateu-se com algumas limitações importantes (Carvalho, s.d.): os sítios que fazem
parte do proposto “enclave neolítico” resumem-se por enquanto a dois, e os rituais funerá-
rios — e, consequentemente, a antropologia física das respectivas populações e os artefac-
tos votivos — são conhecidos quase somente em contexto mesolítico. O ensaio comparativo
pôde apenas debruçar-se, portanto, sobre a evidência paleoeconómica disponível e sobre
aspectos tipológicos e tecnológicos das componentes artefactuais. Apesar daquelas limita-
ções, foi possível concluir provisoriamente o seguinte (Carvalho, s.d.):
A natureza da generalidade dos solos da região alentejana não permite, por norma, a
preservação de matéria orgânica, contrariamente ao que sucede no Algarve. Contudo, aten-
tando aos dados ainda assim disponíveis, verifica-se que para esta fase — meados/finais do
VI milénio cal BC — não existem até ao momento quaisquer restos de animais domésticos
no Alentejo; inversamente, na Cabranosa e no Padrão esse tipo de restos já foi identificado
(Ovis aries e/ou Capra hircus e Bos taurus), segundo, respectivamente, Silva (1997) e Gomes
(1997).
A tipologia cerâmica destas regiões no período considerado é, de um modo geral,
muito semelhante em termos formais e estilísticos. A única excepção é, de facto, o conjunto
40
MUITA GENTE, POUCAS ANTAS? ORIGENS, ESPAÇOS E CONTEXTOS DO MEGALITISMO • ACTAS DO II COLÓQUIO INTERNACIONAL SOBRE MEGALITISMO
proveniente da Cabranosa, que se diferencia dos restantes pelas formas compósitas, pelas
decorações em largas zonas da superfície dos vasos, pelas percentagens significativas (para
contextos portugueses) de decoração cardial (cerca de um quinto do total), e pela exuberância
de alguns motivos plásticos. O próprio sítio de Padrão não apresenta estas características
cerâmicas (a cerâmica cardial é diminuta), apesar de incluído por Zilhão (1998) no “enclave
neolítico”.
Conquanto as análises aprofundadas das indústrias de pedra lascada meso e neolíticas
já publicadas sejam escassas, foi possível verificar que as indústrias alentejanas e algarvias
são ambas de base lamelar e apresentam módulos de talhe equivalentes. Porém, nos sítios
algarvios está presente o tratamento térmico, o recurso ao talhe por pressão e/ou percus-
são indirecta, e as armaduras representam percentagens ínfimas do total dos utensílios reto-
cados (estes dados podem observar-se na Cabranosa, Padrão ou Caramujeira). Estas carac-
terísticas assinalam, com efeito, importantes diferenças entre os sistemas técnicos de talhe
da pedra do Algarve e do Alentejo na passagem do Mesolítico para o Neolítico.
As observações anteriores indicam como provável a existência nesta fase de duas comu-
nidades distintas no Sul de Portugal: uma mesolítica, estabelecida há muito em ecossistemas
litorais e ribeirinhos, praticante de uma economia de caça-pesca-recolecção; outra neolítica,
estabelecida na faixa litoral do Algarve, praticante de uma economia de produção (pelo
menos a pastorícia) em articulação com a exploração de recursos selvagens, e portadora de
uma cultura material diversa. Como é óbvio, e dadas as limitações que se têm vindo a refe-
rir, a definição daqueles dois grupos está longe de se poder considerar definitiva. Por outro
lado, a existência de interacção entre ambos é um facto bem estabelecido, estando por defi-
nir em bases sólidas a cronologia de início deste processo: se em meados do VI milénio cal
BC (se se considerarem os dados de Vale Pincel ou Medo Tojeiro), ou se apenas a partir do
início do V milénio cal BC (a aceitar-se somente os dados do concheiro de Amoreiras).
Convém salientar ainda a possibilidade de a neolitização das regiões do Alentejo poder
ter-se processado a partir de “influências neolíticas”, chegadas através do Guadiana e com
origem na Extremadura e na Andaluzia ocidental, como proposto por Diniz (1996). Toda-
via, a ausência de contextos meso e neolíticos bem definidos e datados, tanto de uma como
de outra margem do Guadiana, obriga a que se aguarde a publicação, por exemplo, dos sítios
actualmente em curso de estudo no âmbito do Plano de Minimização da construção da bar-
ragem de Alqueva, para definitiva avaliação desta hipótese.
Um dos aspectos mais característicos do Neolítico do Algarve é os inúmeros menires,
isolados ou agrupados em cromeleques, normalmente atribuídos ao Neolítico médio e
final e correlacionados com o desenvolvimento do Megalitismo. No entanto, alguns auto-
res têm vindo a propor cronologias do Neolítico antigo para a erecção dos primeiros meni-
res e cromeleques (p. ex., Calado, 1997; Gomes, 1994, 1997). Estas propostas, que não se
circunscrevem ao Barlavento algarvio, têm-se baseado nos seguintes principais indicadores:
(1) a recorrente associação espacial entre habitats daquela época e menires (principalmente
Padrão, Areias das Almas e Caramujeira, no caso do Algarve); (2) a “estratigrafia figurativa”
de algumas gravuras presentes nos menires; (3) a reutilização de menires em monumen-
tos funerários megalíticos (concretamente, nos casos da Granja de S. Pedro, Vale de Rodrigo
e Pedra Escorregadia), o que fornece uma idade mínima aos primeiros; (4) o achado de
menires em contexto estratigráfico fechado atribuível ao Neolítico antigo; e (5) a datação de
matéria orgânica no fundo dos alvéolos de implantação dos menires.
Não se pretende discutir aqui o alcance e as limitações das metodologias e das con-
clusões apontadas. Todavia, é importante assinalar desde já duas observações — na Cabra-
nosa não se conhecem menires partilhando o espaço da ocupação neolítica e, por outro lado,
41
A ESTAÇÃO DO NEOLÍTICO ANTIGO DE CABRANOSA (SAGRES). CONTRIBUIÇÃO PARA O ESTUDO DA NEOLITIZAÇÃO DO ALGARVE
os únicos daqueles indicadores que já forneceram efectivas cronologias para o Megali-
tismo menírico apontam para o Neolítico antigo evoluído. Este é, com efeito, o caso do menir
da Meada, em Castelo de Vide, onde carvões recolhidos naquelas condições contextuais
foram datados de 6022±40 BP (UtC-4452) (Oliveira, 2000); e da “camada 3” do habitat da
Caramujeira, que encerrava um menir e se encontrava “selada” por uma ocupação do Neo-
lítico final (Gomes, Monteiro e Serrão, 1978; Gomes, 1997).
De qualquer modo, a confirmarem-se futuramente estas propostas, o entendimento da
neolitização do Barlavento algarvio deverá ultrapassar a análise das transformações econó-
micas e tecnológicas. De facto, dispor-se-á então de bases para abordar directamente aspec-
tos do domínio mágico-simbólico e, correlativamente, da própria emergência do Megali-
tismo no Sul de Portugal.
NOTAS
1
Faculdade de Ciências Humanas e Sociais da Universidade do Algarve
2
Universidade Aberta • Academia Portuguesa da História e Centro de Estudos Arqueológicos do Concelho de Oeiras (CMO)
3
A dupla designação do cado (Bicho et al., 2000), e por J. Soares no Colóquio O Mesolítico no Território Português (Salvaterra de Magos,
Dezembro de 1999), em comunicação intitulada “Os caçadores-recolectores holocénicos na Costa Sudoeste”.
BIBLIOGRAFIA
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42
MUITA GENTE, POUCAS ANTAS? ORIGENS, ESPAÇOS E CONTEXTOS DO MEGALITISMO • ACTAS DO II COLÓQUIO INTERNACIONAL SOBRE MEGALITISMO
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43
A ESTAÇÃO DO NEOLÍTICO ANTIGO DE CABRANOSA (SAGRES). CONTRIBUIÇÃO PARA O ESTUDO DA NEOLITIZAÇÃO DO ALGARVE

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Estação do neolítico antigo de cabranosa sagres (af carvalho, jlcardoso)

  • 1. A estação do Neolítico antigo de Cabranosa (Sagres). Contribuição para o estudo da neolitização do Algarve ❚ ANTÓNIO FAUSTINO CARVALHO 1 ❚ JOÃO LUÍS CARDOSO 2 ❚ 23 A ESTAÇÃO DO NEOLÍTICO ANTIGO DE CABRANOSA (SAGRES). CONTRIBUIÇÃO PARA O ESTUDO DA NEOLITIZAÇÃO DO ALGARVE RESUMO Este trabalho corresponde ao desenvolvimento de um outro, recentemente publicado, sobre a estação de Cabranosa. Este último, no qual se estudou de forma sistemática, o espólio arqueológico até ao presente recolhido, permitiu considerar a existência, nos primórdios do Neolítico antigo, datado na estação pelo radiocarbono no terceiro quartel do VI milénio cal BC, de uma comunidade que, sedeada no extremo sudoeste da Península Ibérica, praticava já um modo de vida de tendência sedentária, com a presença de animais domésticos (cabra e/ou ovelha). Esta constatação impunha a realização de um estudo mais desenvolvido na perspectiva da integração cultural da estação e do seu próprio significado, no contexto geográfico regional e supra-regional em que se insere. O exercício comparativo efectuado permitiu concluir que a produção cerâmica (que inclui vasos cardiais produzidos localmente) se distingue, a vários títulos, das produções homólogas do Neolítico antigo do litoral alentejano e da Andaluzia ocidental, geograficamente mais próximas, face às das fases mais tardias do Neolítico cardial da Andaluzia oriental e do País Valenciano, mais longínquas. Também ao nível dos conjuntos de pedra lascada se detectaram diferenças entre o recolhido na Cabranosa e, de modo mais geral, os das estações algarvias, face à realidade conhecida das estações do litoral alentejano, na passagem do Mesolítico para o Neolítico. Os elementos referidos afiguram-se de importância significativa na discussão dos modelos possíveis que presidiram à neolitização do litoral meridional português. No estado actual dos conhecimentos, afigura-se provável a existência simultânea de duas comunidades culturalmente distintas na referida orla litoral: uma, mesolítica, de há muito estabelecida em ecossistemas litorais, praticando uma economia de caça-pesca-recolecção; outra, já neolítica, estabelecida na faixa litoral algarvia, com uma economia já de produção (pelo menos a pastorícia e, muito provavelmente a agricultura), portadora de uma cultura material diferente. Posta nestes termos discussão, é forçoso concluir que a génese do Neolítico no litoral algarvio (de que ABSTRACT This work builds on earlier, recently published work on the site of Cabranosa. This earlier article, in which the available archaeological evidence was studied in a systematic way, permitted us to consider the existence, by the beginning of the Early Neolithic and radiocarbon dated to the third quarter of the 6 th millennium BC, of a sedentary community with domestic animals (goat and/or sheep) in the extreme southwest of the Iberian Peninsula. This evidence stimulated a more developed study of the cultural integration of the site and its significance, in the regional and supra-regional geographic context in which it was situated. This comparative exercise allowed us to conclude that ceramic production (which includes locally produced Cardial vases) can be distinguished from the homologous products of the Early Neolithic of the Alentejo coast and eastern Andalucia, as well as the latest phases of the Cardial Neolithic of eastern Andalucia and of Valencia, further away. Furthermore, at the level of the flaked stone assemblages there were differences detected between those recovered in Cabranosa and, in general, those from others sites of the Algarve, and those sites known in the coastal Alentejo, between the Mesolithic and Neolithic. These cultural indicators contribute to our understanding of the possible factors that presided in the neolithization of the western Portuguese coast. In the present state of knowledge, it seems likely that there existed simultaneously two distinct cultural communities in this area: one, Mesolithic, long-established in the coastal ecosystem, practicing an economy of hunting-fishing-gathering; the other, already Neolithic, established in the Algarve coast, with an economy of production (at least herding and, very likely agriculture), and a carrier of a different material culture. Placed in these terms, we must conclude that the genesis of the Neolithic in the Algarve coast (of which Cabranosa is paradigmatic) appears to have been related to the presence of populations possibly coming from the
  • 2. 24 MUITA GENTE, POUCAS ANTAS? ORIGENS, ESPAÇOS E CONTEXTOS DO MEGALITISMO • ACTAS DO II COLÓQUIO INTERNACIONAL SOBRE MEGALITISMO 1. Antecedentes A estação arqueológica de Cabranosa é já clássica na bibliografia arqueológica portu- guesa. A sua identificação ocorreu em 1970 durante os levantamentos geológicos da região de Vila do Bispo, pelos então Serviços Geológicos de Portugal (Fig. 1). Nessa ocasião, reco- lheram-se na parte inferior da vasta cobertura de areias dunares modernas que se espraiam pela região, no contacto com os depósitos consolidados avermelhados plio-quaternários sub- jacentes alguns fragmentos de cerâmica, inquestionavelmente pré-históricos, cuja impor- tância, logo reconhecida, justificou a apresentação de notícia preliminar, publicada no mesmo ano (Ferreira, 1970). O espólio foi atribuído ao Neolítico antigo. Essa cronologia foi reforçada pela comparação da Cabranosa com outros conjuntos cerâmicos afins, proveni- entes de vários pontos do actual território português (Guilaine e Ferreira, 1970). Neste último trabalho, os materiais foram sumariamente descritos, salientando-se a presença nalguns fragmentos cerâmicos da técnica cardial. Na época, a Cabranosa constituía um caso único no Sul de Portugal, o que motivou a manutenção do interesse de O.V. Ferreira e colaboradores pela estação. Assim, em Julho de 1975, J. Norton efectuou várias acções de prospecção e recolha de materiais na área de dis- tribuição dos achados, tendo recolhido fragmentos decorados que se verificou pertencerem é paradigma a estação de Cabranosa) parece ter-se ficado a dever à presença de grupos populacionais oriundos possivelmente da costa levantina da Península, os quais teriam interagido, ulteriormente, com os já sedeados na região, designadamente os que se dispersavam ao longo do litoral alentejano. Porém, como é óbvio, a definição cultural destes dois hipotéticos grupos está longe de se poder considerar satisfatória, bem como discutível se afigura, também, a cronologia do referido processo de interacção: se, em meados do VI milénio cal BC (se se considerarem os dados cronométricos de Vale Pincel ou Medo Tojeiro), ou apenas a partir do início do V milénio cal BC (a aceitar-se somente os dados do concheiro do cabeço das Amoreiras, no baixo vale do Sado). É admissível, ainda, qualquer data intermédia, visto que o concheiro das Amoreiras se situa já numa posição periférica relativamente ao possível foco de neolitização considerado, a partir do litoral algarvio. A terminar, é feita breve alusão à emergência do fenómeno megalítico regional: na estação de Cabranosa, não se conhecem menires partilhando o espaço de ocupação neolítica, situação que concorda com os escassos indicadores cronológicos que fazer corresponder, quando muito, ao Neolítico antigo evoluído as primeiras manifestações megalíticas (menires e sepulcros proto-megalíticos). Levantine coast of the Peninsula, which were later integrated with those already based in the region, namely those which were dispersed along the Alentejo coast. Clearly, the cultural definition of these two possible groups is far from satisfactory, and the chronology of their interaction is debatable. It is unclear whether this interaction dates to the middle of the 6 th millennium cal BC (if one considers the chronometric dates of Vale Pincel or Medo Tojeiro), or only from the beginning of the 5 th millennium BC (if we only accept the dates of the shell-midden on the hill at Amoreiras, in the lower Sado valley). An intermediate date is even possible, given that the shell-midden of Amoreiras is already situated in a peripheral position, relative to the possible focus of Neolithization, from the Algarve coast. Finally, this article makes a brief reference to the emergence of a regional megalithic phenomenon. At the site of Cabranosa, there are no known menhirs that share its Neolithic occupational space, which is consistent with the scarce chronological evidence that the first megaliths (menhirs and proto-megalithic burials) correspond to, at the earliest, to the evolved Early Neolithic.
  • 3. em parte a vasos já publicados anteriormente, e um conjunto apreciável de artefactos de sílex. Foi numa dessas ocasiões que se localizou, a cerca de 2000 m do núcleo dos achados, um grande vaso globular liso, aparentemente não associado a qualquer outro vestígio, reco- lhido no seio das areias dunares (Figs. 2, 3 e 4). Em Dezembro do ano seguinte, no decurso de prospecções que continuaram a ser peri- odicamente efectuadas por O.V. Ferreira, M. Leitão, C.T. North, J. Norton e G. Zbyszewski, foram identificadas várias manchas de areias acinzentadas e um pouco mais consolidadas, com restos malacológicos, sugerindo a existência de lareiras. Esta observação foi confirmada através da realização de uma escavação em torno de uma destas lareiras. Zbyszewski e cola- 25 A ESTAÇÃO DO NEOLÍTICO ANTIGO DE CABRANOSA (SAGRES). CONTRIBUIÇÃO PARA O ESTUDO DA NEOLITIZAÇÃO DO ALGARVE FIG. 1 – Implantação da Cabranosa na Carta Militar de Portugal na escala de 1/25 000. Folha de Sagres (Vila do Bispo). Lisboa, Serviços Cartográficos do Exército, 1952.
  • 4. 26 MUITA GENTE, POUCAS ANTAS? ORIGENS, ESPAÇOS E CONTEXTOS DO MEGALITISMO • ACTAS DO II COLÓQUIO INTERNACIONAL SOBRE MEGALITISMO FIG. 2 – Local do achado do grande vaso de provisões (ver Fig. 3). Foto de J. Norton. FIG. 3 – Pormenor do modo de jazida do grande vaso de provisões, no seio das areias dunares (ver Fig. 3). Foto de J. Norton.
  • 5. boradores publicaram em 1981 a planta da escavação, indicando a localização dos ecofactos e artefactos recolhidos ao nível do solo de ocupação (Zbyszewski et al., 1981). A delimita- ção precisa da distribuição de materiais de superfície permitiu a identificação de uma área elíptica, com cerca de 150 m de eixo maior. As novas recolhas incluíam outros fragmentos decorados, os quais, somados aos anteriormente reunidos, permitiram a reconstituição de diversos recipientes, mais ou menos completos. A algumas centenas de metros a Norte da área de maior concentração de vestígios foi recolhido, por J. Norton, um machado mirense isolado. Jazia no contacto entre as dunas móveis actuais com impregnações calcárias e o substrato geológico local, a que já se fez refe- rência (paleo-solo endurecido avermelhado). Deve concluir-se, por conseguinte, que o machado mirense é anterior à ocupação do Neolítico antigo incorporada nas dunas e teste- munhada pelos materiais e pelas estruturas de combustão ali observadas. 27 A ESTAÇÃO DO NEOLÍTICO ANTIGO DE CABRANOSA (SAGRES). CONTRIBUIÇÃO PARA O ESTUDO DA NEOLITIZAÇÃO DO ALGARVE FIG. 4 – Grande vaso liso de corpo globular e colo estrangulado (vaso de provisões), com mamilos na parte superior do bojo e decoração cardial.
  • 6. A retoma do estudo deste espólio teve lugar muito mais tarde, em meados da década de 1990. A primeira acção consistiu na obtenção de uma datação de radiocarbono a partir de fragmentos de conchas de Mytilus sp. recuperadas durante a escavação da lareira supracitada. O resultado da datação, que prontamente se publicou, confirmou plenamente as propostas anteriores (Cardoso, Carreira e Ferreira, 1996, p. 22). Subsequentemente, procedeu-se à revi- são, desenho e estudo sistemático da totalidade do espólio recolhido nos anos 70 (Cardoso, Carvalho e Norton, 1998). Este estudo baseou-se na totalidade do espólio recolhido na esta- ção, que entretanto se tinha disperso; a sua reunião e publicação integral, antecedeu o seu depósito no Museu Nacional de Arqueologia, onde deu entrada em Setembro de 1998, por vontade expressa do principal investigador da estação, o Doutor O. da Veiga Ferreira. 2. Espólio O espólio recolhido é muito diversificado. Abundam os restos de talhe da pedra e os fragmentos de cerâmica; estão também presentes algumas peças em pedra polida, adornos sobre concha e fauna malacológica e mamalógica. 2.1. Cerâmica A reconstituição gráfica do material cerâmico permitiu identificar quatro tipos mor- fológicos principais: • vasos fechados em forma de saco (Fig. 5, n. o 2); • vasos em forma de saco com colo estrangulado (Fig. 5, n.o 1); • vasos abertos de fundo parabolóide (Fig. 6, n.os 1 e 2); • vasos de tendência esférica com colo estrangulado (Fig. 4). As técnicas decorativas estão representadas por impressões (entre as quais se assinala a presença de cardial), incisões e elementos plásticos de vários tipos. A cerâmica cardial está representada em dois recipientes em forma de saco (Fig. 5, n. os 1 e 2), apresentando um deles colo estrangulado. No primeiro (Fig. 5, n.o 2), a decoração orga- niza-se em métopas paralelas entre si, horizontais ou verticais, organizadas logo abaixo do lábio e na parte superior do bojo, entre pequenas asas de perfuração vertical ali implantadas. O segundo vaso não conserva a parte superior do colo, mas é possível verificar a presença de qua- tro asas de perfuração horizontal entre as quais se encontram grupos de três bandas de méto- pas horizontais obtidas através desta técnica (Fig. 5, n.o 1). Outro tipo de impressões encontra-se num grande vaso aberto de corpo parabolóide com quatro pequenas asas em fita e perfurações troncocónicas (Fig. 6, n.o 2). Tratam-se de pequenas impressões arqueadas, em forma de meia-cana, dispostas em quatro bandas constituídas por nove métopas horizontais entre os elementos de preensão e por uma banda contínua, ao longo da parte inferior do bojo do recipiente, produzido por três méto- pas idênticas às anteriores. As cerâmicas com decoração incisa estão muito pouco representadas no espólio da Cabra- nosa. Um exemplo é a aplicação de sulcos verticais irregulares formando uma banda sob o bordo, que se encontrou num fragmento de recipiente fechado em forma de saco (Fig. 7, n.o 2). 28 MUITA GENTE, POUCAS ANTAS? ORIGENS, ESPAÇOS E CONTEXTOS DO MEGALITISMO • ACTAS DO II COLÓQUIO INTERNACIONAL SOBRE MEGALITISMO
  • 7. 29 A ESTAÇÃO DO NEOLÍTICO ANTIGO DE CABRANOSA (SAGRES). CONTRIBUIÇÃO PARA O ESTUDO DA NEOLITIZAÇÃO DO ALGARVE FIG. 5 – n. o 1 – Vaso de colo apertado com decoração cardial; n. o 2 – Vaso pequeno em forma de saco com decoração cardial. 1 2
  • 8. 30 MUITA GENTE, POUCAS ANTAS? ORIGENS, ESPAÇOS E CONTEXTOS DO MEGALITISMO • ACTAS DO II COLÓQUIO INTERNACIONAL SOBRE MEGALITISMO FIG. 6 – n. o 1 – Vaso aberto, de fundo parabolóide, com decoração plástica de cordões e grinaldas; n. o 2 – vaso aberto, de fundo parabolóide, com decoração impressa organizada em métopas. 1 2
  • 9. 31 A ESTAÇÃO DO NEOLÍTICO ANTIGO DE CABRANOSA (SAGRES). CONTRIBUIÇÃO PARA O ESTUDO DA NEOLITIZAÇÃO DO ALGARVE FIG. 7 – n. o 1 – Fragmento de vaso com cordões em relevo segmentados, formando grinaldas partindo de botão sobre o bordo; n. o 2 – Fragmento de vaso em forma de saco com decoração canelada; n. o 3 – Fragmento de vaso com asa perfura horizontalmente, com decoração denteada na parte superior; n. o 4 – Fragmento de vaso de bordo denteado, com cordão em relevo segmentado sob o bordo; n. o 5 – Fragmento de grande vaso com cordão liso, unindo elementos de preensão situados no bojo. 1 2 3 4 5
  • 10. As decorações plásticas consistem em cordões em relevo. No grande recipiente aberto de corpo parabolóide constituem o elemento decorativo de ligação entre as asas e o motivo de tipo grinalda abaixo do bordo (Fig. 6, n.o 1). Os mesmos cordões simples arqueados observaram-se entre as asas de um fragmento de grande vaso de corpo esferoidal (Fig. 7, n.o 5). Em recipientes tendencialmente abertos, encontram-se cordões em relevo inter- rompidos por impressões, constituindo, tal como anteriormente, elementos de ligação entre mamilos ou botões, situados imediatamente sob o bordo (Fig. 7, n.o 4). Estes cordões podem desenvolver-se na horizontal, acompanhando os bordos dos respectivos recipientes, ou formando grinaldas partindo de mamilos ou botões (Fig. 7, n.o 1). Impressões do tipo observado nos cordões podem ainda observar-se no bordo de um dos fragmentos (resultando num bordo denteado simples: Fig. 7, n.o 4) e na parte superior de asa de perfuração horizontal (Fig. 7, n.o 3). Os elementos de preensão consistem, por um lado, em asas de vários tipos e, por outro, em pegas e mamilos. As primeiras apresentam morfologias anelares (de perfuração verti- cal ou horizontal) e em fita. Observam-se tanto sobre o bojo como partindo do bordo dos recipientes. As pegas e mamilos com carácter predominantemente decorativo correspon- derão aos mamilos de menores dimensões que se encontram estreitamente articulados com outros elementos decorativos, ou isolados. 2.2. Talhe da pedra Na Cabranosa, o talhe aplicou-se no sílex, cristal de rocha, quartzo, quartzito e grau- vaque. Porém, apenas no sílex se verifica um número elevado de restos de talhe e utensí- lios, demonstrando ter sido esta a rocha mais frequente e sistematicamente usada durante a ocupação do local (as restantes rochas estão representadas por vezes por peças singulares). A origem da matéria-prima é local, ocorrendo em nódulos dispersos pelos calcários jurás- sicos existentes nas proximidades. A análise dos núcleos e material de debitagem (Fig. 8) permitiu identificar quatro prin- cipais processos de talhe aos quais se recorria sistematicamente para a obtenção da uten- silagem desejada, e que se podem descrever sucintamente como segue: Debitagem aleatória de nódulos brutos ou fragmentos de nódulo Consiste na extracção de lascas através de levantamentos avulsos, descontínuos, aplicados nas extremidades ou zonas angulosas de nódulos ou fragmentos de nódulo. Os núcleos resultantes deste processo representam 37%. A opção por este tipo de debitagem ocorria na experimentação da aptidão dos blocos para talhe, na conformação e preparação de núcleos de outros tipos, e na produção deliberada de lascas para produção de utensílios. Debitagem de nódulos sem padrão preferencial Trata-se da produção de lascas através de levantamentos segundo direcções de debita- gem não recorrentes, mas estendendo-se a uma extensa área do bloco. Os núcleos resultantes deste procedimento apresentam tipologias ovais ou esféricas, e perfazem 22% do total dos núcleos. Debitagem centrípeta de nódulos ou lascas Visa a produção de lascas finas e largas através de debitagem centrípeta. Os suportes des- tes núcleos podem ser blocos ou lascas mais ou menos espessas. Somam 14% dos núcleos. 32 MUITA GENTE, POUCAS ANTAS? ORIGENS, ESPAÇOS E CONTEXTOS DO MEGALITISMO • ACTAS DO II COLÓQUIO INTERNACIONAL SOBRE MEGALITISMO
  • 11. 33 A ESTAÇÃO DO NEOLÍTICO ANTIGO DE CABRANOSA (SAGRES). CONTRIBUIÇÃO PARA O ESTUDO DA NEOLITIZAÇÃO DO ALGARVE FIG. 8 – Núcleos de sílex: 1 – núcleo prismático para lamelas debitado por pressão (note-se a preparação da plataforma por facetagem e a existência de negativos de lamelas ultrapassadas); 2 – Núcleo prismático para lamelas reaproveitado para debitagem de lascas após a remoção da plataforma original; 3 – Núcleo sobre lasca com levantamentos centrípetos; 4 e 5 – Núcleos debitados; 6 a 8 – Núcleos bipolares; 9 – Núcleo prismático para lamelas. 2 1 3 4 5 7 8 9 6
  • 12. Debitagem de volumes prismáticos É o único tipo de debitagem especificamente pré-determinada para a produção de lâminas e lamelas, que se realiza a partir de núcleos prismáticos. Estes núcleos totali- zam 21% do total. As lâminas e lamelas resultantes deste método de talhe apresentam morfologias muito regulares e normalizadas (bordos e nervuras paralelas, perfis direi- tos ou arqueados na parte distal), secções trapezoidais ou triangulares, e talões em regra facetados. De acordo com os ensaios de talhe experimental publicados, pode concluir- se que as técnicas utilizadas seriam a percussão indirecta e/ou a pressão (cf. síntese sis- tematizada por Gallet, 1998). 34 MUITA GENTE, POUCAS ANTAS? ORIGENS, ESPAÇOS E CONTEXTOS DO MEGALITISMO • ACTAS DO II COLÓQUIO INTERNACIONAL SOBRE MEGALITISMO FIG. 9 – Utensílios retocados em sílex: 1 e 5 – Lascas com entalhe; 2 – Lasca de retoques descontínuos; 3 – Denticulado sobre lasca cortical; 4 – Raspador; 6 – Lasca não cortical de silhueta triangular com alguns retoques invasores no gume maior, tendo sido classificada pelos escavadores como “tranchant” ou “flecha transversal”; 7 – Furador sobre lasca; 8 a 10 – Lâminas e lamela de “fase plena de debitagem” com retoques contínuos. 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10
  • 13. Apesar do maior investimento de tempo e energia que constituía a produção de lâmi- nas e lamelas, os suportes maioritariamente utilizados na utensilagem são as lascas com 80%, resumindo-se as lâminas a 11% e as lamelas a 8% (percentagens arredondadas ao inteiro mais próximo). A tipologia dos utensílios retocados, e a sua variação percentual, estrutura-se do seguinte modo (Fig. 9): Lâminas, lamelas e lascas com retoques curtos ou marginais Peças com retoque de afilamento e/ou reavivamento dos gumes; embora no caso das lâminas e lamelas este tipo de retoque possa conformar “elementos de foice”, é muito provável que este tipo de peças tenha tido utilizações múltiplas; este grupo de utensí- lios soma 39%. Peças com entalhes e denticulados Utilizam quase em exclusivo lascas como suportes; são o segundo grupo de utensílios melhor representado, com 32%. Furadores Oito em nove dos furadores foram produzidos sobre lascas; estes são robustos e pare- cem ter sido concebidos para perfurar materiais resistentes; representam 12% do total da utensilagem da Cabranosa. Raspadores Estas peças, por vezes bastante robustas, são sempre sobre lasca; representam 8% do total dos utensílios. Truncaturas Na Cabranosa, as truncaturas apresentam-se sobre extremo de lasca e não em lâminas ou lamelas, como é a regra, o que é uma situação invulgar no Neolítico antigo do Sul de Portugal (Soares, 1995); equivalem a 7% do total dos utensílios. Peças de retoques invasores São apenas duas as peças inseríveis neste conjunto (uma lasca e uma lamela), o que se traduz numa percentagem mínima: 3%. 2.3. Pedra polida Durante as prospecções de superfície foram recolhidos três artefactos de pedra polida, classificáveis tipologicamente como sachos. São peças de pequenas dimensões, com 10 cm de comprimento máximo, e secções sub-rectangulares. Estão totalmente ou quase total- mente polidas, por vezes com pátina eólica intensa (Fig. 10, 1-3). Apresentam gumes em bisel assimétrico, um dos quais de contorno arqueado típico das enxós; mas o embotamento do gume que um dos sachos ostenta (como resultado da sua utilização) torna mais aceitável esta classificação. De facto, a possibilidade de cor- responderem a verdadeiras enxós para desbaste de madeiras não é corroborada pelas características do coberto vegetal dunar da área; por outro lado, a natureza arenosa dos solos dispensaria artefactos de cava mais pesados, na agricultura incipiente que era a da época. 35 A ESTAÇÃO DO NEOLÍTICO ANTIGO DE CABRANOSA (SAGRES). CONTRIBUIÇÃO PARA O ESTUDO DA NEOLITIZAÇÃO DO ALGARVE
  • 14. 36 MUITA GENTE, POUCAS ANTAS? ORIGENS, ESPAÇOS E CONTEXTOS DO MEGALITISMO • ACTAS DO II COLÓQUIO INTERNACIONAL SOBRE MEGALITISMO 1 2 3 4 FIG. 10 – 1 a 3 – Artefactos de pedra polida, de rochas locais (grauvaques e xistos siliciosos), utilizados provavelmente como sachos; 4 – Concha de Thais haemastoma parcialmente polida e perfurada, para uso como elemento de adorno.
  • 15. 2.4. Objecto de adorno Apesar das referências de Zbyszewski et al. (1981, p. 304) a algumas conchas ou búzios perfurados, apenas um pequeno exemplar de Thais haemastoma mostra uma pequena per- furação que permite concluir tratar-se de uma peça de adorno. A sua utilização elemento de adorno é reforçada por polimento parcial da superfície e do bordo (Fig. 10, n.o 4). As intensas fracturas apresentadas por exemplares de maiores dimensões da mesma espécie, sem quaisquer indícios de afeiçoamento, deverão ser o resultado da técnica utili- zada no seu consumo, ou de causas pós-deposicionais. 2.5. Fauna A fauna mamalógica está resumida a uma hemimandíbula de Capra hircus ou Ovis aries recolhida por C.T. Silva e J. Soares na base de uma lareira posta a descoberto pelas movi- mentações dunares (que não corresponde à escavada pelos Serviços Geológicos de Portu- gal), e classificada por D. Geddes (Silva, 1997, p. 577). A fauna malacológica seguramente associável à ocupação neolítica da Cabranosa (quer na lareira de maiores dimensões escavada em 1976, quer da sua área adjacente) é composta por 55 valvas de Mytilus sp., 8 de Thais haemastoma e 4 de Patella sp. Parte dos restos de Myti- lus sp. foi destruída para a obtenção de uma datação de radiocarbono. Em recolhas efectuadas na superfície das dunas, portanto sem que se possa garantir a sua associação aos restos da ocupação pré-histórica, recolheram-se 6 conchas de Thais hae- mastoma, 6 de Patella sp., um fragmento de valva de Glycymeris glycymeris e 2 de Pollicipes cornucopia. 3. Situação geográfica e tipo de ocupação A Cabranosa localiza-se numa vasta plataforma regular, recortada a poente e a sul por uma escarpa marítima. A plataforma encontra-se entre cerca de 50 e 60 m de altitude. É constituída por dunas móveis, com um coberto vegetal escasso, de tipo arbustivo. A água é escassa e os poucos solos agricultáveis resumem-se a faixas delgadas dispostas ao longo dos cursos de água sazonais que cruzam a área. A ocupação neolítica escolheu a adjacência de um desses ribeiros temporários, o bar- ranco do Vale Santo, afluente da Ribeira da Cabranosa. A presença dos referidos solos are- nosos agricultáveis com recurso apenas a pequenos sachos de pedra terá sido uma das razões para a escolha deste local. A presença do resto de ovino ou caprino, adicionada à evi- dência anterior, testemunha o domínio de uma economia agro-pastoril. Esta terá sido com- plementada, especialmente no Verão, pela exploração de recursos marinhos, os quais estão representados pelas valvas de moluscos. A Praia do Belixe, que proporcionaria um fácil acesso à exploração daqueles recursos, está à distância mínima que separa a Cabranosa do oceano (cerca de 2 km a S-SW). Este conjunto de indícios aponta na direcção de um significativo grau de sedentariza- ção desta comunidade. Este aspecto é, aliás, sugerido por outros indicadores. Assim, o vaso globular de grandes dimensões é destinado sem dúvida a armazenamento, o que é incompatível com elevados índices de mobilidade; a análise macroscópica dos artefactos de pedra lascada indica que se tratam de rochas locais (grauvaques cinzentos de grão médio, 37 A ESTAÇÃO DO NEOLÍTICO ANTIGO DE CABRANOSA (SAGRES). CONTRIBUIÇÃO PARA O ESTUDO DA NEOLITIZAÇÃO DO ALGARVE
  • 16. e rochas verde-anegradas, mais finas, talvez xistos siliciosos); e, finalmente, o mesmo se pode concluir a propósito do sílex, na sua maioria recolhido nas margens das ribeiras que cruzam a área da Ponta de Sagres. A análise das pastas realizada anteriormente (Cardoso, Carvalho e Norton, 1998) per- mitiu verificar que os recipientes cardiais terão sido fabricados localmente, com recurso a elementos não plásticos disponíveis nas proximidades da estação arqueológica. Inversa- mente, os restantes apresentam desengordurantes provavelmente originários de areias ou solos do maciço ígneo de Monchique. Esta observação permite concluir que, num primeiro momento, a comunidade instalada na Cabranosa terá produzido cerâmicas a partir de matérias-primas locais, recorrendo à impressão cardial para as decorar. Num momento sub- sequente, estas cerâmicas terão sido substituídas por outras, de matérias-primas alógenas oriundas de um espaço geográfico mais alargado. 38 MUITA GENTE, POUCAS ANTAS? ORIGENS, ESPAÇOS E CONTEXTOS DO MEGALITISMO • ACTAS DO II COLÓQUIO INTERNACIONAL SOBRE MEGALITISMO FIG. 12 – Sítios do Neolítico antigo do Algarve (segundo Gomes e Silva, 1987; Gomes, 1997; Gomes, Cardoso e Alves, 1995; Bicho et al., 2000): 1. Barranco das Quebradas I e II; 2. Castelejo; 3. Vale Santo I; 4. Cabranosa; 5. Padrão; 6. Gruta de Ibn Amar; 7. Areias das Almas; 8. Caramujeira; 9. Ribeira de Alcantarilha. FIG. 11 – Sítios do Mesolítico do Algarve (segundo Gomes e Silva, 1987; Silva e Soares, 1997; Bicho et al., 2000): 1. Montes de Baixo; 2. Praia de Vale Figueira; 3. Barranco das Quebradas I e II; 4. Castelejo; 5. Armação Nova/Rocha das Gaivotas.
  • 17. 4. Cronologia absoluta e integração cultural Atribuída ao Neolítico antigo desde a sua descoberta, a datação de conchas de Mytilus sp. provenientes da lareira escavada na Cabranosa veio confirmar a sua suposta cronologia: o resultado obtido foi de 6550±70 BP (Sac-1321), após correcção do efeito de reservatório (Car- doso et al., 1996, p. 22), que corresponde a 5611-5393 cal BC (a 1 sigma) ou 5621-5369 cal BC (a 2 sigma), fazendo uso da curva de calibração de Stuiver e Van der Plicht (1998). A ocupa- ção neolítica da Cabranosa ocorreu, portanto, no terceiro quartel do VI milénio cal BC. A única jazida algarvia que se pode considerar contemporânea da Cabranosa é Padrão (Vila do Bispo), onde se obtiveram duas datações, também sobre conchas, com a mesma ordem de valores: 6440±60 BP (ICEN-645) e 6570±70 BP (ICEN-873), após correcção do efeito de reservatório (Gomes, 1997). Estas amostras haviam sido recolhidas numa estru- tura de combustão integrada num estrato que incluía também fauna doméstica e selvagem, cerâmica e pedra polida, além de adornos e talhe do sílex. Salienta-se o facto de, entre a cerâ- mica, se contarem também exemplares cardiais. O grosso das datações absolutas publicadas para o Algarve reporta a contextos mais antigos, que apresentam uma cultura material e uma economia exclusiva de caça-pesca-reco- lecção. Tratam-se dos seguintes sítios: Castelejo (Vila do Bispo) Os seus níveis basal e médio apresentam um conjunto de datações escalonadas ao longo da primeira metade do VII milénio cal BC (Gomes e Silva, 1987; Silva e Soares, 1997); infelizmente, o seu nível superior, atribuído ao Neolítico antigo, não conta com qualquer datação, não podendo ser objecto de comparação directa com a Cabranosa; Montes de Baixo (Odeceixe) Os níveis mesolíticos deste concheiro foram datados de finais do VII milénio cal BC (Silva e Soares, 1997), portanto de uma cronologia muito anterior à Cabranosa; Armação Nova / Rocha das Gaivotas (Vila do Bispo) — as várias datações já disponí- veis permitem colocar as ocupações mesolíticas deste local na transição do VII para o VI milénio cal BC; no entanto, trata-se de um sítio ainda em curso de estudo e publi- cação3 , pelo que não pode ser plenamente valorizado neste momento. Recentemente, Bicho e colaboradores publicaram algumas datações para concheiros com cerâmica em Vale Santo I (Vila do Bispo) e Ribeira de Alcantarilha (Silves), que os colo- cam dois a quatro séculos depois da Cabranosa, ou seja, no final do VI milénio cal BC. Não está ainda verificado se nestes níveis de concheiro existem espécies domésticas. Por outro lado, a cerâmica é de tipo epicardial, pois segundo ao autores apresentam-se “(...) decoradas com cor- dões e impressões, mas sem vestígios de decoração cardial” (Bicho et al., 2000, p. 14). O exercício comparativo efectuado anteriormente (Cardoso, Carvalho e Norton, 1998) permitiu concluir que a produção cerâmica da Cabranosa se distingue a vários títu- los das do Neolítico antigo do litoral alentejano e da Andaluzia ocidental, assemelhando- -se às peças típicas das fases tardias do Neolítico cardial da Andaluzia oriental (Carigüela) e do País Valenciano (Or e Cendres). Os indicadores utilizados foram, em concreto, os seguintes: • as impressões cardiais estão representadas em metade do conjunto recolhido em escavação, o que significa uma percentagem importante; 39 A ESTAÇÃO DO NEOLÍTICO ANTIGO DE CABRANOSA (SAGRES). CONTRIBUIÇÃO PARA O ESTUDO DA NEOLITIZAÇÃO DO ALGARVE
  • 18. • as respectivas formas inserem-se no “Grupo XV” (vasos ovais) da tipologia proposta por Bernabeu (1989) para o Neolítico IA da região valenciana; • as decorações presentes, independentemente da técnica utilizada, não estão restritas a uma faixa junto ao bordo, antes cobrem boa parte ou a totalidade da superfície dos vasos; • as peças com cordões são cerca de metade do total do conjunto cerâmico, e encon- tram-se por vezes segmentados, seja por traços incisos, seja por impressões de pon- tas biseladas. 5. Diversidade cultural no processo de neolitização do Algarve O presente capítulo visa apontar algumas questões para as quais os dados da Cabranosa podem trazer alguma contribuição. A cronologia da ocupação tem feito dela um sítio-chave nos principais modelos correntes sobre a neolitização do Algarve. O seu papel neste pro- cesso é, no entanto, interpretado de forma diversa: Segundo Silva e Soares (1987; Silva, 1989; Soares, 1995), a transição para o Neolítico no Sul de Portugal é entendida como um processo de aculturação do substrato mesolítico, e terá tido o seu início em meados do VI milénio cal BC através da aquisição gradual dos elementos neolíticos (cerâmica, pedra polida e economia de produção). Neste contexto, a Cabranosa é interpretada como um acampamento-base atribuível à fase inicial do Neolítico antigo. Segundo Zilhão (1998), a Cabranosa testemunha, a par do habitat de Padrão atrás refe- rido, a existência de um “enclave neolítico” similar ao que o mesmo autor propõe para a Estremadura, resultante da chegada, por volta de meados do VI milénio cal BC, de um efec- tivo contingente populacional exógeno portador da tecnologia e economia neolíticas. Um dos argumentos na atribuição cultural deste enclave é a presença de cerâmica cardial, a qual está muito mal representada nas restantes regiões do Sul do País. Um balanço recente da questão, que procurou explorar a comparação da cultura mate- rial da Cabranosa e Padrão, por um lado, e dos restantes sítios do Alentejo e Algarve, por outro, debateu-se com algumas limitações importantes (Carvalho, s.d.): os sítios que fazem parte do proposto “enclave neolítico” resumem-se por enquanto a dois, e os rituais funerá- rios — e, consequentemente, a antropologia física das respectivas populações e os artefac- tos votivos — são conhecidos quase somente em contexto mesolítico. O ensaio comparativo pôde apenas debruçar-se, portanto, sobre a evidência paleoeconómica disponível e sobre aspectos tipológicos e tecnológicos das componentes artefactuais. Apesar daquelas limita- ções, foi possível concluir provisoriamente o seguinte (Carvalho, s.d.): A natureza da generalidade dos solos da região alentejana não permite, por norma, a preservação de matéria orgânica, contrariamente ao que sucede no Algarve. Contudo, aten- tando aos dados ainda assim disponíveis, verifica-se que para esta fase — meados/finais do VI milénio cal BC — não existem até ao momento quaisquer restos de animais domésticos no Alentejo; inversamente, na Cabranosa e no Padrão esse tipo de restos já foi identificado (Ovis aries e/ou Capra hircus e Bos taurus), segundo, respectivamente, Silva (1997) e Gomes (1997). A tipologia cerâmica destas regiões no período considerado é, de um modo geral, muito semelhante em termos formais e estilísticos. A única excepção é, de facto, o conjunto 40 MUITA GENTE, POUCAS ANTAS? ORIGENS, ESPAÇOS E CONTEXTOS DO MEGALITISMO • ACTAS DO II COLÓQUIO INTERNACIONAL SOBRE MEGALITISMO
  • 19. proveniente da Cabranosa, que se diferencia dos restantes pelas formas compósitas, pelas decorações em largas zonas da superfície dos vasos, pelas percentagens significativas (para contextos portugueses) de decoração cardial (cerca de um quinto do total), e pela exuberância de alguns motivos plásticos. O próprio sítio de Padrão não apresenta estas características cerâmicas (a cerâmica cardial é diminuta), apesar de incluído por Zilhão (1998) no “enclave neolítico”. Conquanto as análises aprofundadas das indústrias de pedra lascada meso e neolíticas já publicadas sejam escassas, foi possível verificar que as indústrias alentejanas e algarvias são ambas de base lamelar e apresentam módulos de talhe equivalentes. Porém, nos sítios algarvios está presente o tratamento térmico, o recurso ao talhe por pressão e/ou percus- são indirecta, e as armaduras representam percentagens ínfimas do total dos utensílios reto- cados (estes dados podem observar-se na Cabranosa, Padrão ou Caramujeira). Estas carac- terísticas assinalam, com efeito, importantes diferenças entre os sistemas técnicos de talhe da pedra do Algarve e do Alentejo na passagem do Mesolítico para o Neolítico. As observações anteriores indicam como provável a existência nesta fase de duas comu- nidades distintas no Sul de Portugal: uma mesolítica, estabelecida há muito em ecossistemas litorais e ribeirinhos, praticante de uma economia de caça-pesca-recolecção; outra neolítica, estabelecida na faixa litoral do Algarve, praticante de uma economia de produção (pelo menos a pastorícia) em articulação com a exploração de recursos selvagens, e portadora de uma cultura material diversa. Como é óbvio, e dadas as limitações que se têm vindo a refe- rir, a definição daqueles dois grupos está longe de se poder considerar definitiva. Por outro lado, a existência de interacção entre ambos é um facto bem estabelecido, estando por defi- nir em bases sólidas a cronologia de início deste processo: se em meados do VI milénio cal BC (se se considerarem os dados de Vale Pincel ou Medo Tojeiro), ou se apenas a partir do início do V milénio cal BC (a aceitar-se somente os dados do concheiro de Amoreiras). Convém salientar ainda a possibilidade de a neolitização das regiões do Alentejo poder ter-se processado a partir de “influências neolíticas”, chegadas através do Guadiana e com origem na Extremadura e na Andaluzia ocidental, como proposto por Diniz (1996). Toda- via, a ausência de contextos meso e neolíticos bem definidos e datados, tanto de uma como de outra margem do Guadiana, obriga a que se aguarde a publicação, por exemplo, dos sítios actualmente em curso de estudo no âmbito do Plano de Minimização da construção da bar- ragem de Alqueva, para definitiva avaliação desta hipótese. Um dos aspectos mais característicos do Neolítico do Algarve é os inúmeros menires, isolados ou agrupados em cromeleques, normalmente atribuídos ao Neolítico médio e final e correlacionados com o desenvolvimento do Megalitismo. No entanto, alguns auto- res têm vindo a propor cronologias do Neolítico antigo para a erecção dos primeiros meni- res e cromeleques (p. ex., Calado, 1997; Gomes, 1994, 1997). Estas propostas, que não se circunscrevem ao Barlavento algarvio, têm-se baseado nos seguintes principais indicadores: (1) a recorrente associação espacial entre habitats daquela época e menires (principalmente Padrão, Areias das Almas e Caramujeira, no caso do Algarve); (2) a “estratigrafia figurativa” de algumas gravuras presentes nos menires; (3) a reutilização de menires em monumen- tos funerários megalíticos (concretamente, nos casos da Granja de S. Pedro, Vale de Rodrigo e Pedra Escorregadia), o que fornece uma idade mínima aos primeiros; (4) o achado de menires em contexto estratigráfico fechado atribuível ao Neolítico antigo; e (5) a datação de matéria orgânica no fundo dos alvéolos de implantação dos menires. Não se pretende discutir aqui o alcance e as limitações das metodologias e das con- clusões apontadas. Todavia, é importante assinalar desde já duas observações — na Cabra- nosa não se conhecem menires partilhando o espaço da ocupação neolítica e, por outro lado, 41 A ESTAÇÃO DO NEOLÍTICO ANTIGO DE CABRANOSA (SAGRES). CONTRIBUIÇÃO PARA O ESTUDO DA NEOLITIZAÇÃO DO ALGARVE
  • 20. os únicos daqueles indicadores que já forneceram efectivas cronologias para o Megali- tismo menírico apontam para o Neolítico antigo evoluído. Este é, com efeito, o caso do menir da Meada, em Castelo de Vide, onde carvões recolhidos naquelas condições contextuais foram datados de 6022±40 BP (UtC-4452) (Oliveira, 2000); e da “camada 3” do habitat da Caramujeira, que encerrava um menir e se encontrava “selada” por uma ocupação do Neo- lítico final (Gomes, Monteiro e Serrão, 1978; Gomes, 1997). De qualquer modo, a confirmarem-se futuramente estas propostas, o entendimento da neolitização do Barlavento algarvio deverá ultrapassar a análise das transformações econó- micas e tecnológicas. De facto, dispor-se-á então de bases para abordar directamente aspec- tos do domínio mágico-simbólico e, correlativamente, da própria emergência do Megali- tismo no Sul de Portugal. NOTAS 1 Faculdade de Ciências Humanas e Sociais da Universidade do Algarve 2 Universidade Aberta • Academia Portuguesa da História e Centro de Estudos Arqueológicos do Concelho de Oeiras (CMO) 3 A dupla designação do cado (Bicho et al., 2000), e por J. Soares no Colóquio O Mesolítico no Território Português (Salvaterra de Magos, Dezembro de 1999), em comunicação intitulada “Os caçadores-recolectores holocénicos na Costa Sudoeste”. BIBLIOGRAFIA BERNABEU, J. (1989) - La tradición cultural de las cerámicas impresas en la zona oriental de la Península Ibérica. Valencia: Servicio de Investigación Prehistórica. (Série de Trabajos Varios, 86). BICHO, N. F.; LINDLY, J.; STINER, M.; FERRING, C. R. (2000) - O processo de neolitização na Costa Sudoeste. In 3.o Congresso de Arqueologia Peninsular, III. Porto: ADECAP, p. 11-20. CALADO, M. (1997) - Cromlechs alentejanos e arte megalítica. In III Coloquio Internacional de Arte Megalítico. A Coruña: Museo Arqueolóxico e Histórico (Brigantium; 10), p. 289-298 CARDOSO, J. L.; CARREIRA, J. R.; FERREIRA, O. da V. (1996) - Novos elementos para o estudo do Neolítico antigo da região de Lisboa. Estudos Arqueológicos de Oeiras. Oeiras. 6, p. 9-26. CARDOSO, J. L.; CARVALHO, A.F.; NORTON, J. (s.d.) - A estação do Neolítico antigo de Cabranosa (Sagres, Vila do Bispo): estudo dos materiais e integração cronológico-cultural. O Arqueólogo Português; no prelo. CARVALHO, A.F. (s.d.). - Current perspectives on the transition from the Mesolithic to the Neolithic in Portugal. In Neolithic Landscapes of the Mediterranean. València: Universitat (Saguntum Extra); no prelo. DINIZ, M. (1996) - A neolitização no Interior/Sul de Portugal: uma proposta alternativa. In I Congrès del Neolític a la Península Ibèrica, 2. Gavà: Museo de Gavà (Rubricatum; 1), p. 683-688. FERREIRA, O. da V. (1970) - A estação com cerâmica cardial da Ponta de Sagres, Algarve. Arqueologia e História. Lisboa. Série IX. 2, p. 347-359. FERREIRA, O. da V.; LEITÃO, M. (1981) - Portugal Pré-Histórico. Seu enquadramento no Mediterrâneo. Lisboa: Europa- -América. GALLET, M. (1998) - Pour une technologie des débitages laminaires préhistoriques. Caractérisation des modalités d’obtention des ensembles laminaires par l’analyse morphologique. Paris: CNRS (Dossier de Documentation Archéologique; 19). GOMES, M.V. (1994) - Menires e cromeleques no complexo cultural megalítico português. Trabalhos recentes e estado da questão. In Seminário “O Megalitismo no Centro de Portugal”. Viseu: CEPHBA (Estudos Pré-Históricos; 2), p. 317- -342. GOMES, M.V. (1997) - Megalitismo do Barlavento Algarvio: breve síntese. Setúbal Arqueológica. Setúbal. 11-12, p. 147-190. GOMES, M.V.; CARDOSO, J.L.; ALVES, F.J.S. (1995) - Levantamento arqueológico do Algarve. Concelho de Lagoa. Lagoa: Câmara Municipal. 42 MUITA GENTE, POUCAS ANTAS? ORIGENS, ESPAÇOS E CONTEXTOS DO MEGALITISMO • ACTAS DO II COLÓQUIO INTERNACIONAL SOBRE MEGALITISMO
  • 21. GOMES, M.V.; SILVA, C.T. (1987) - Levantamento arqueológico do Algarve. Concelho de Vila do Bispo. Faro: Delegação Regional do Sul/Secretaria de Estado da Cultura. GOMES, M.V.; MONTEIRO, J.P.; SERRÃO, E.C. (1978) - A estação pré-histórica da Caramujeira. Trabalhos de 1975-76. In III Jornadas Arqueológicas, I. Lisboa: Associação dos Arqueólogos Portugueses, p. 33-72. GUILAINE, J.; FERREIRA, O.V. (1970) - Le Néolithique ancien au Portugal. Bulletin de la Société Préhistorique Française. Paris. 67:1, p. 304-322. OLIVEIRA, J. (2000) - O Megalitismo de xisto da Bacia do Sever (Montalvão – Cedillo). In GONÇALVES, V. S., ed. - Muitas antas, pouca gente? Actas do I Colóquio Internacional sobre Megalitismo. Lisboa: IPA (Trabalhos de Arqueologia; 16), p. 135-158. SILVA, C. T. da (1997) - O Neolítico antigo e a origem do Megalitismo no Sul de Portugal. In RODRÍGUEZ, A., ed. - O Neolítico atlántico e as orixes do Megalitismo. Santiago de Compostela: Universidade, p. 575-585. SILVA, C.T.; SOARES, J. (1987) - Les communautés du Néolithique ancien dans le Sud du Portugal. In GUILAINE, J.; COURTIN, J.; ROUDIL, J. L.; VERNET, J. L. eds. - Premières Communautés Paysannes en Méditerranée Occidentale. Paris: CNRS, p. 663-671. SILVA, C.T.; SOARES, J. (1997) - Economias costeiras na Pré-História do Sudoeste português. O concheiro de Montes de Baixo. Setúbal Arqueológica. Setúbal. 11-12, p. 69-108. SOARES, J. (1995) - Mesolítico-Neolítico na Costa Sudoeste: transformações e permanências. Trabalhos de Antropologia e Etnologia. Porto. 35:2, p. 27-45. STUIVER, M.; VAN DER PLICHT, J. (1998) - Radiocarbon calibration program 1998; Ver. 3.0. Radiocarbon. London. 40:3. Special Calibration Issue – INTCAL 98. ZBYSZEWSKI, G.; FERREIRA, O.V.; LEITÃO, M.; NORTH, C.T.; NORTON, J. (1981) - Nouvelles données sur le Néolithique ancien de la station à céramique cardiale de Sagres, Algarve. Comunicações dos Serviços Geológicos de Portugal. Lisboa. 67:2, p. 301-311. ZILHÃO, J. (1998) - A passagem do Mesolítico ao Neolítico na costa do Alentejo. Revista Portuguesa de Arqueologia. Lisboa. 1:1, p. 27-44. 43 A ESTAÇÃO DO NEOLÍTICO ANTIGO DE CABRANOSA (SAGRES). CONTRIBUIÇÃO PARA O ESTUDO DA NEOLITIZAÇÃO DO ALGARVE