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MORRO DO PAPALÉO
SÍTIO PALEONTOLÓGICO
ORGANIZADORES
Guilherme Sonntag Hoerlle
Fernando Heck Michels
Tiago Antônio Morais
Francisco Paulo Garcia
Ideal Meio Ambiente LTDA
CMPC Celulose Riograndense LTDA
MORRO DO PAPALÉO
SÍTIO PALEONTOLÓGICO
Agradecemos ao Laboratório de Paleobotânica e ao Laboratório de Palinologia
Marleni Marques Toigo, especialmente aos Profs. Drs. Roberto Iannuzzi e Paulo
Alves de Souza, do Instituto de Geociências da Universidade Federal do Rio
Grande do Sul, pelas imagens cedidas e revisão.
Revisores de texto: Dra. Fabiana Maraschin, Prof. Dr. Roberto Iannuzzi
Design Editorial: Débora Zilz
Ilustrações: Voltaire Dutra Paes Neto
Fotos:
capa - Guilherme S. Hoerlle
miolo - Guilherme S. Hoerlle, Tiago A. Morais, Luiz Flávio Lopes.
1ª edição
Todos os direitos reservados.
A reprodução não autorizada desta publicação, no todo ou em parte,
constitui violação dos direitos autorais (Lei N° 9.610).
A história de uma floresta que
cobriu parte do Rio Grande do
Sul há mais de 280 milhões de
anos pode ser lida nas rochas de
Mariana Pimentel, basta observar
os detalhes...
10
APRESENTAÇÃO
O sítio paleobotânico do Morro do Papaléo, localizado no município de Mariana Pimentel, é uma
fonte preciosa para que aprofundemos o conhecimento do ambiente regional. A CMPC Celulose
Riograndense, ciente da importância do local, decidiu contribuir para que esta publicação
acontecesse.Taldecisão,sedeuporqueaempresaacreditaquefomentaroacessoaoconhecimento
é uma ferramenta poderosa para a valorização e conservação do patrimônio natural.
Espera-se que este extenso trabalho de resgate de artigos científicos publicados, reportagens
e entrevistas diretas com os pesquisadores que já trabalharam na área, somado aos novos
levantamentos de campo, ofereça a todos os interessados uma melhor compreensão das
dimensões do local e que, dessa forma, mais pessoas e instituições possam se engajar em busca
da manutenção desta incrível fonte de pesquisa sobre os histórico de nossa região.
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Introdução
Histórico do Morro do Papaléo
O Tempo Geológico
Paleontologia e Paleobotânica
Preservação dos Fósseis
Localização
As Rochas do Morro do Papaléo
Estratigrafia
Evolução Paleogeográfica
Paleobotânica do Permiano Sul-Riograndense
Palinologia
Glossário
Bibliografia e Leituras Recomendadas
INTRODUÇÃO
Uma antiga área de mineração deixou para trás alguns paredões
rochosos que parecem simplesmente camadas de pedras
empilhadas. Entretanto, o olhar minucioso dos paleontólogos
revela que estas rochas carregam uma rica história de uma floresta
que cobriu parte do Rio Grande do Sul há milhões de anos atrás.
A partir de impressões de folhas e caules, marcas de sementes
e grãos de pólen fossilizados nas finas camadas das rochas, os
cientistas foram capazes de conhecer um pouco da vegetação
que existiu ali. Além disso, a descoberta do sítio paleobotânico
no Morro do Papaléo ajudou os cientistas a escreverem parte da
história geológica da América do Sul e a entender as condições
ambientais existentes há milhões de anos.
Este livro apresenta de uma forma simples a história
paleoambiental e paleontológica do Morro do Papaléo e ressalta
a importância da sua preservação.
15
50m
HISTÓRICO DO MORRO DO PAPALÉO
A descoberta do Morro do Papaléo ocorreu devido a busca de
argilas a fim de abastecer a indústria cerâmica local. Dessa
forma, a mineração expôs os paredões rochosos que despertaram
o interesse dos pesquisadores para estudos aprofundados da
geologia da região. Historicamente, o Morro do Papaléo tem sido
alvo de variadas pesquisas no campo da geologia e paleontologia
desde a década de 60. No ano de 1968, foi publicado o primeiro
trabalho sobre as rochas do Morro do Papaléo. Esta pesquisa de
abrangência regional, descreveu as principais ocorrências de
argilas no Rio Grande do Sul.
Apenas no final dos anos 70, esta área começou a despertar a
atenção de paleontólogos. Em 1977, um estudo sobre a flora antiga
foi realizado na região de Mariana Pimentel para conhecer e
classificar as ocorrências de fósseis vegetais. No ano seguinte,
foram realizados estudos estratigráficos, objetivando determinar
as idades de formação das rochas na região do Morro do Papaléo.
No ano de 1982, foi publicado o primeiro trabalho específico sobre
o Afloramento do Morro do Papaléo. Neste estudo foi elaborado
o perfil paleoecológico do morro, ou seja, foram reconstruídos
os ecossistemas do passado com base nos fósseis presentes no
local. Além deste estudo, outras pesquisas paleoecológicas foram
realizadas na região, incluindo estudos paleogeográficos, que
situaram a região do Morro do Papaléo nos modelos geográficos
do final da Era Paleozoica, há aproximadamente 290 milhões de
anos, época em que se formaram os fósseis do Morro do Papaléo.
No início dos anos 90, foi publicado um trabalho de contexto
regional que abordou a bioestratigrafia das rochas do sul do
Brasil, possibilitando conhecer a idade das rochas a partir da
datação dos fósseis. No final dos anos 90 e início dos anos 2000,
os estudos estratigráficos avançaram na região. Tais pesquisas
resultaram na publicação de artigos científicos que auxiliaram na
compreensão da história geológica do Morro do Papaléo.
No ano de 2006, uma proposta de registrar oAfloramento do Morro
do Papaléo como geossítio foi submetida à Comissão Brasileira
de Sítios Geológicos e Paleobiológicos. Neste estudo, abordou-
se com clareza as associações de plantas fósseis e a estratigrafia
deste importante sítio paleontológico. Atualmente, a área do
entorno do Afloramento Morro do Papaléo é uma área de cultivo
de eucalipto pela CMPC Celulose Riograndense. Os afloramentos
são preservados e o acesso só é permitido a pessoas e instituições
que realizam pesquisas no local. Ademais, estudos de mestrado e
doutorado são produzidas com frequência abordando os aspectos
paleontológicos e estratigráficos do afloramento.
18
20
O TEMPO GEOLÓGICO
O objetivo de contar a história do Planeta Terra une os geólogos
e os paleontólogos através do estudo das rochas e dos fósseis.
A partir deles os pesquisadores são capazes de compreender
melhor como e quando a Terra foi formada, além de aprender
mais sobre quais tipos de plantas e animais viveram no nosso
planeta durante diferentes períodos de tempo.
O estudo do Tempo Geológico em relação à idade da Terra é
chamado de Geocronologia. O uso de tecnologias modernas
permite aos cientistas determinar a idade absoluta de alguns
tipos de rocha. Correlacionar essa informação com os estudos dos
fósseis encontrados em rochas sedimentares levou a elaboração
da Escala de Tempo Geológico, constantemente atualizada a partir
de novas descobertas. Atualmente, a teoria mais aceita pelos
cientistas é de que a Terra tenha se formado há aproximadamente
4,5 bilhões de anos.
O tempo geológico é subdividido em uma série de categorias. As
principais categorias são: Éons, Eras, Sub-Períodos e Épocas.
As rochas mais recentes no Tempo Geológico estão no topo da
tabela, enquanto as mais antigas se situam na parte de baixo. Os
números ao lado direito indicam, em milhões de anos, quando
um período do tempo geológico terminou e outro começou. Por
exemplo: os limites do período “Permiano” são delimitados pelas
idades de 299 e 252 milhões de anos.
Idade dos anfíbios
Idade dos dinossauros
e das amonites
Idade dos
dinossauros
Primeiros dinossauros
Primeiros répteis
Idade dos peixes
Primeiros crinóides
Primeiros corais
Peixes primitivos
Idade dos trilobitas
Registro dos primeiros fósseis
Primeiros eucariontes
Coral
Primeiros fósseis de algas azuis (cianofíceas)
Ausência de qualquer registro geológico terrestre
Gatos, cervos
Baleias primitivas
Homo sapiens sapiens
Primeiros hominídeos
(australopitecos)
Civilização humana
Cães, cavalos, ursos
Primeiros mamíferos
Oligoceno
Pleistoceno
Plioceno
Holoceno
Mioceno
Eoceno
Paleoceno
CAMBRIANO
HADEANO
CRETÁCEO
NEOGENO
PALEOGENO
JURÁSSICO
TRIÁSSICO
PERMIANO
SILURIANO
ORDOVICIANO
PROTEROZOICO
ARQUEANO
PALEOZOICOCENOZOICOMOSOZOICO
ÉON ERA PERÍODO ÉPOCA
FANEROZOICOPRÉ-CAMBRIANO
FORMAÇÃO DA TERRA
CARBONÍFERO
DEVONIANO
5,3
10.000 anos
Presente
2,6
23
34
56
66 M.a.
2500
299
358
419
443
485
541
4000
4600 M.a.
145
252
201
66
21
PALEONTOLOGIA E PALEOBOTÂNICA
A Paleontologia (do grego palaios = antigo + ontos = ser + logos
= estudo) é o ramo da Ciência que descreve e ajuda a entender
o passado da Terra através do estudo dos fósseis de seres vivos
que habitaram o nosso planeta ao longo do tempo geológico.
Por isso, os fósseis são considerados o objeto de estudo da
Paleontologia e são caracterizados por restos antigos de animais
e vegetais ou evidências de suas atividades que se encontram
naturalmente preservados nas rochas, representando a prova
mais concreta da existência de vida há milhares, milhões ou
mesmo bilhões de anos atrás.
Adescoberta de um fóssil em boas condições de conservação, além
de ser um fato que desperta a curiosidade mundial, pode indicar
um melhor entendimento sobre a evolução dos seres vivos e a
compreensão de antigos ecossistemas em que estes indivíduos,
hoje fossilizados, viviam.
Desta maneira, os princípios e métodos da Paleontologia estão
baseados em duas ciências: a Biologia e a Geologia. No campo
das ciências biológicas ocorre o estudo do fóssil em si, pois ele
representa os restos de um antigo organismo vivo. Já a Geologia
estuda os fósseis como ferramenta para definir a idade de rochas
nas quais eles foram encontrados, bem como para apontar
informações sobre processos globais que aconteceram no passado,
tais como drásticas mudanças climáticas, migração de continentes
e grandes extinções da vida no planeta, informando dados da
história da Terra e de seus habitantes durante o passado geológico.
A Paleobotânica (do grego palaios = antigo + botané = planta) é
uma área da Paleontologia que estuda as partes de um vegetal
fóssil, sob todas as formas conhecidas de fossilização nas rochas,
considerando a interação destas plantas com os seus ambientes
primitivos do passado.
Este ramo da Ciência, igualmente chamada de Paleontologia
Vegetal, acaba abrangendo tanto estudos sobre grandes partes
fossilizadas das plantas (caules, folhas, sementes, etc.), como
também a área denominada de Palinologia, que estuda os fósseis
de estruturas de reprodução muito pequenas dos vegetais, como
os grãos de pólen e esporos. Para compreender as dinâmicas
ambientais que resultaram nesta diversa flora que observamos
hoje na superfície do planeta, é muito importante olharmos
para o passado e entender a evolução dos vegetais através do
Tempo Geológico. Esta resposta pode ser encontrada nos fósseis
de plantas, que se apresentam como fotografias fixadas em
rochas sedimentares, conservando memórias de um passado
longínquo, e aguardando apenas serem reveladas pelas mãos de
um paleontólogo.
22
PRESERVAÇÃO DOS FÓSSEIS
Os fósseis são considerados como o registro
paleontológico conservado nas rochas por tempo
indeterminado, sendo preservados por processos
distintos que iniciam logo após a morte do organismo
e que são estudados por uma ciência chamada
tafonomia (do grego tafos = sepultamento + nomos
= leis). De um modo geral, a tafonomia visa entender
como os organismos e seus restos chegaram à rocha
e quais foram os fatores e processos que atuaram na
formaçãodasconcentraçõesfossilíferas.Paraumfóssil
se preservar, é imprescindível que o seu soterramento
seja lento sem eventos com temperaturas ou pressões
elevadas no interior da terra. Consequentemente, a
rocha sedimentar representa a melhor rocha para se
encontrar um fóssil.
A história tafonômica do fóssil passa por várias fases
a partir da morte do organismo, passando pela sua
desarticulação, soterramento e culminando em
processos no interior da terra como transformações
minerais, antes de ele ser novamente exposto
através da erosão da rocha já na forma fossilizada.
Observamos, através deste conhecimento, que o
achado fóssil em uma rocha representa uma situação
incomum e extraordinária visto que a maioria dos
organismos têm todas as suas partes decompostas
já nos primeiros estágios tafonômicos e não se
preservam após a morte.
25
Morro do Papaléo
Buenos Aires
Fonte da imagem: Google Earth
Data SIO, NOAA, US Navy, NGA, GEBCO
Image Landsat
Porto Alegre
Curitiba
São Paulo
BRASIL
Rio de Janeiro
500km
N
LOCALIZAÇÃO
O sítio paleontológico está localizado em Mariana Pimentel, município que se encontra na
porção leste do Rio Grande do Sul, a 85 quilômetros da capital do estado, Porto Alegre.
Partindo de Porto Alegre, o acesso a área se dá através da BR-116 e da RS-711. A partir do
centro da cidade de Mariana Pimentel, cerca de dez quilômetros em estrada de chão levam
ao Sítio Paleontológico do Morro do Papaléo.
Morro do Papaléo
Fonte da imagem: Google Earth
Data SIO, NOAA, US Navy,
NGA, GEBCO
Image Landsat
Porto Alegre
Mariana Pimentel
30km
N
BR-290
BR-116
RS-711
27
AS ROCHAS DO MORRO DO PAPALÉO
Rocha formada a partir da litificação de grãos de tamanho argila (< 0,0039 mm). Os
principais constituintes destas rochas são argilominerais, ricos em alumínio, silício,
potássio, magnésio, entre outros. Apresenta frequentemente textura maciça e compacta.
A ausência de estrutura sedimentar pode estar associada à falta de contraste entre o
tamanho dos grãos.
Rocha formada a partirda litificação de grãos de tamanho areia (2,0 – 0,062 mm). O principal
constituinteéoquartzo,maspodeterquantidadesvariáveisdefeldspatos,micaseimpurezas.
A presença e o tipo de impurezas determinam a coloração dos arenitos (p. ex. arenitos
avermelhados apresentam tal coloração pela quantidade de óxidos de ferro). A textura de um
arenito pode variar de estratificada a maciça. O tamanho de areia predominante na rocha
dá o segundo nome do arenito, podendo ser nomeado como arenito fino (0,250 – 0,062 mm);
arenito médio (0,50 – 0,250 mm) e arenito grosso (2,0 – 0,50 mm).
Argilito
Arenito
28
Rocha sedimentar detrítica (composta por clastos) formada a partir da litificação de grãos
de tamanho grosseiro (> 2,0 mm). Os principais constituintes são clastos e fragmentos de
rochas preexistentes misturados com uma matriz arenosa e/ou mais fina e cimentados
por material calcário, óxidos de ferro, sílica ou argila.
O tamanho dos fragmentos predominante na rocha dá o segundo nome do conglomerado,
podendo ser subdividido em: conglomerado de grânulos (4,0 – 2,0 mm), conglomerado
de seixos (64 – 4 mm), conglomerado de blocos (256 – 4,0 mm) ou conglomerado de
matacões (> 256 mm).
Conglomerado
Rocha formada a partir da litificação de grãos de tamanho silte (0,062 – 0,0039 mm). Os
principais constituintes são quartzo, feldspatos, micas e argilas. A textura dos siltitos pode
variarde maciçaalaminada, dependendo se háou não diferençaentre o tamanho dos grãos.
Siltito
29
ESTRATIGRAFIA
O empilhamento das rochas
As rochas sedimentares são formadas pela deposição
e acumulação de grãos de diversos tamanhos, desde
argilas até grandes blocos de rocha. Estes sedimentos
podem incluir minerais, fragmentos de plantas,
além de outros tipos de matéria orgânica. Após a
deposição no ambiente formador, os sedimentos são
comprimidos ao longo de um longo período antes
da consolidação em camadas de rocha (estratos). O
empilhamento das camadas de rochas é alvo de estudo
de um ramo da Geologia chamado de Estratigrafia.
Através da sucessão de estratos, é possível estudar
a evolução do ambiente deposicional além de obter
muitas outras informações do passado geológico.
31
I.
Ambiente lagunar glacial na
região de Mariana Pimentel há
aproximadamente 300 e 295
milhões de anos.
EVOLUÇÃO PALEOGEOGRÁFICA
Em busca de um melhor entendimento da evolução
paleogeográficae paleoambiental daregião onde hoje se situa
o afloramento do Morro do Papaléo, diversos pesquisadores
observaram minuciosamente as rochas encontradas na
área. Além disso, foram examinadas diversas amostras de
afloramentos e poços exploratórios perfurados em áreas
próximas ao Morro do Papaléo associados ao mesmo período
geológico. Desta forma, realizou-se a integração dos dados e
posterior elaboração de um modelo regional de evolução ao
longo do tempo geológico.
De acordo com as rochas mais antigas do afloramento,
infere-se que esta região esteve sob um regime glacial entre
o final do Carbonífero e o início do Permiano. Os sedimentos
encontrados nas rochas da base do afloramento são
associados a grandes lagos glaciais, de ocorrência de capas de
gelo e icebergs existentes na época, bem como sedimentos
lagunares associados ao posterior degelo
e consequente inundação do sistema
costeiro, mostrados na ilustração
abaixo (I).
32
Reconstituição paleoambiental da área do Morro do Papaléo entre 300 e 295 milhões de anos atrás, hoje
registrado nas rochas e fósseis do Grupo Itararé
33
II.
Ambientes fluviais e deltaicos
III.
Ambientes úmidos e pantanosos
Como consequência do intenso degelo, a região começou
a ser gradativamente inundada e dominada por diferentes
sistemas deposicionais. Desta forma, há aproximadamente
295 e 290 mihões de anos, a região contemplava ambientes
fluviais, deltaicos e transicionais do tipo laguna-barreira.
Estes ambientes eventualmente deram origem a depósitos
carbonosos relacionados ao topo da Formação Rio Bonito.
As figuras abaixo demonstram a evolução paleoambiental
da região do Morro do Papaléo durante o Eopermiano,
desde a alternância de ambientes fluviais, deltaicos e
lagunares (II) até a consolidação de um sistema do tipo
laguna barreira relacionado à intensa deposição de matéria
orgânica da Formação Rio Bonito (III). Estas camadas
com alto teor de matéria orgânica representam pacotes de
carvão semelhantes àqueles que são explorados no estado e
constituem, hoje em dia, uma importante fonte de energia.
34
Reconstituição paleoambiental da área do Morro do Papaléo entre 295 e 290 milhões de anos atrás, hoje
registrado nas rochas e nos fósseis da Formação Rio Bonito
35
PALEOBOTÂNICA DO PERMIANO SUL-RIOGRANDENSE
Durante o período Permiano (intervalo de tempo entre 299 e 252
milhões de anos atrás), a maioria dos continentes do planetaTerra
se encontravam muito próximos ou mesmo juntos em um evento
de rara ocorrência na história geológica formando um único
supercontinente, chamado de Pangeia. Este evento ocasionou
um afogamento das áreas costeiras ao redor do planeta, mesmo
daquelas mais distantes do oceano como no caso das existentes
no atual território do Rio Grande do Sul. Em um ambiente de
clima temperado a frio com alta umidade, crescia nas terras
baixas de planícies costeiras do sul do Brasil uma abundante
vegetação conhecida como “Flora Glossopteris”, preservada em
considerável quantidade de fósseis no sítio paleontológico do
Morro do Papaléo. Esta flora se desenvolveu próxima às zonas
alagadiças onde grandes quantidades de restos de vegetais (folhas,
galhos, troncos, sementes) eram depositadas continuamente e ali
permaneciam, originando milhões de anos depois os depósitos de
carvão do sul do Brasil.
A“FloraGlossopteris”representavaumgrupodeplantasatualmente
extintas, com feições que ainda colocam os pesquisadores em
dúvida se elas pertenciam ao grupo das gimnospermas ou mesmo
se eram os ancestrais mais antigos das angiospermas. Segundo os
registros fósseis, eram árvores de altura variável medindo entre 4
e 8 metros, e possuíam folhas semelhantes às samambaias. Além
desta vegetação descrita, outros grupos de plantas de ambientes
úmidos foram preservados como fósseis no Afloramento Morro
do Papaléo, como os representantes dos grupos das licófitas,
esfenófitas e as samambaias.
36
GANGAMOPTERIS
As Glossopterídeas representam um grupo
muito interessante pela sua anatomia
complexa e distinta das plantas atuais.
A estrutura das suas folhas era parecida
com as das samambaias, enquanto que seu
caule é semelhante ao das araucárias e suas
estruturas reprodutivas assemelham-se as
das angiospermas.
Os principais morfo-gêneros de folhas do
grupo são: Glossopteris e Gangamopteris.
As folhas de Glossopteris se diferenciam das
de Gangamopteris por serem percorridas
por um contínuo e nítido feixe mediano de
veias. Ambas possuíam um padrão de veias
reticuladas, lembrando algumas folhas das
samambaias atuais.
Gangamopteris
obovata var. major
1cm
38
GLOSSOPTERIS
Seu nome é atribuído às
suas folhas possuírem forma
semelhante a uma língua
(“glosso” = língua).
Normalmente, constituíam
árvores de porte médio com
alturas variando de 4 a 6 metros.
O grupo viveu na porção sul
do supercontinente Pangeia,
conhecida como Gondwana, em
zonas de médias a altas latitudes
em climas frios e temperados.
Glossopteris occidentalis
1cm
39
PHYLLOTHECA
As filotecas são plantas similares às atuais
cavalinhas ou rabo-de-cavalo.
Eram plantas arbustivas de caules finos e
folhas bem desenvolvidas e fundidas na base
que alcançavam até dois metros de altura.
Phyllotheca indica
1cm
50cm
40
Viviam em ambientes muito úmidos,
ocupando as beiras dos corpos d’água. Hoje,
plantas semelhantes são encontradas ao
longo da planície costeira do
Rio Grande do Sul.
Phyllotheca indica
1cm
41
ASTEROTHECA SP.
As plantas do gênero Asterotheca se
assemelham às atuais samambaias
arborescentes ou xaxins. Eram
vascularizadas e não possuíam sementes.
Foram abundantes nas partes úmidas das
matas do Permiano Sul-Riograndense.
5mm
Asterotheca sp.
42
BRASILODENDRON
PEDROANUM
Os caules de Brasilodendron
pedroanum correspondem a
licopódios que alcançavam até quatro
metros de altura.
Viviam em ambientes úmidos de
grande acumulação de matéria
orgânica, como as turfeiras.
Hoje, uma planta semelhante ao
Brasilodendro pedroanum é o
pinheirinho-de-praia, porém estes
são licopódios muito menores do que
os que viveram durante o Permiano
no Rio Grande do Sul.
Brasilodendron
pedroanum
1m
43
20 µm
CORDAITES HISLOPII
As Cordaitales viveram somente no Paleozoico
(541 a 252 milhões de anos atrás) e possuem
parentesco com os atuais pinheiros e araucárias.
Acredita-se que seu tamanho variava desde
arbustos até árvores de médio porte e eram
encontradas próximos aos corpos d’água, nas
matas de galeria do Rio Grande do Sul.
1cm
Cordaites hislopii
44
Dentre as principais similaridades com os
pinheiros, estão a distribuição helicoidal
das folhas e reprodução por estróbilos,
semelhantes às pinhas.
Entretanto, ao contrário das araucárias,
as Cordaitales possuíam folhas grandes e
multinervadas.
1cm
Cordaites hislopii
45
PALINOLOGIA
Os grãos de pólen e esporos encontrados preservados
nas rochas e em sedimentos são estudados num ramo da
Paleontologia denominado Palinologia. Eles são chamados
de palinomorfos e representam as estruturas reprodutivas
microscópicas das plantas. Quando liberados pelo vegetal,
parte deles se deposita no solo ou em corpos d’água,
podendo vir a serem soterrados e assim preservarem seu
envoltório externo (exina) durante milhões de anos como
um fóssil. Deste modo, os palinomorfos são testemunhos da
vegetação que dominava a região e permitem interpretações
de ambientes do passado através da análise palinológica.
No afloramento do Morro do Papaléo, são encontrados
palinomorfos em três níveis diferentes de rocha sedimentar
e a seguir estão ilustrados alguns grãos de pólen e esporos
representativos desta área.
Punctatisporites gretensis
10 µm
46
GRÃOS DE PÓLEN
20 μm
Peppersites sp. Striomonosaccites
Vesicaspora sp. Vittatina vittifera
Grãos de pólen
Tétrade de Lundbla
Cirratrirad
20 μm
Peppersites sp. Striomonosaccites
Vesicaspora sp. Vittatina vittifera
Grãos de pólen
Tétrade de Lundb
Cirratrirad20 μm
Peppersites sp. Striomonosaccites
Vesicaspora sp. Vittatina vittifera
Grãos de pólen
Tétrade d
20 μm
Peppersites sp. Striomonosaccites
Vesicaspora sp. Vittatina vittifera
Grãos de pólen
Tétrade
Peppersites sp.
Vesicaspora sp. Vittatina vittifera
Striomonosaccites
20 µm
47
ESPOROS
20 μm
Cirratriradites sp. Cristatisporites morungavensis
20 μm
Brevitriletes levis Convolutispora candiotensis
Horriditriletes uruguaiensis Horriditriletes gondwanensis
20 μm
20 μm
Brevitriletes levis Convolutispora candiotensis
Horriditriletes uruguaiensis Horriditriletes gondwanensis
20 μm
Cirratriradites sp. Cristatisporites morungavensis
20 μm
Brevitriletes levis Convolutispora candiotensis
Horriditriletes uruguaiensis Horriditriletes gondwanensis
20 μm
Cirratriradites sp. Cristatisporites morungavensis
20 μm
Brevitriletes levis Convolutispora candiotensis
Horriditriletes uruguaiensis Horriditriletes gondwanensis
Brevitriletes levis
Horriditriletes uruguaiensis Horriditriletes gondwanensis
Convulutispora candiotensis
20 µm
48
20 μm
Tétrade de Lundbladispora riobonitensis Vallatisporites splendens
Cirratriradites sp. Cristatisporites morungavensis
Esporos
saccites
vittifera
20 μm
Tétrade de Lundbladispora riobonitensis Vallatisporites splendens
Cirratriradites sp. Cristatisporites morungavensis
Esporos
Vallatisporites splendensTétrade de Lundbladispora riobonitensis
20 μm
Tétrade de Lundbladispora riobonitensis Vallatisporites splendens
Cirratriradites sp. Cristatisporites morungavensis
Esporos
accites
vittifera
20 μm
Tétrade de Lundbladispora riobonitensis Vallatisporites splendens
Cirratriradites sp. Cristatisporites morungavensis
Esporos
Cirratriradites sp. Cristatisporites morungavensis
20 µm
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GLOSSÁRIO
Afloramento: exposição de rochas na superfície da
terra. Em geologia, este termo é usado para a porção
de rocha visível no ambiente. Exemplos: cortes de
estrada, pedreiras.
Ambiente deltaico: referente à foz de um rio, ou seja,
o local onde o rio desagua no mar.
Ambiente fluvial entrelaçado: referente aos rios ou
cursos d’água com vários canais divididos por barras
arenosas, normalmente apresentam-se largos e ra-
sos. Representam importantes agentes de transporte
de sedimentos.
Amonites: grupo de moluscos marinhos extintos,
hoje encontrados apenas fossilizados nas rochas. Se
assemelham às atuais lulas gigantes e náutilos.
Anfíbios: grupo de animais que apresentam formas
larvais que vivem na água e formas adultas terres-
tres. Os sapos e salamandras são exemplos de anfí-
bios.
Bioestratigrafia: estudo das camadas de rocha a
partir dos fósseis que existem nelas. Análises bioes-
tratigráficas definem a idade de formação da rocha,
assim como relacionam camadas de rochas de dife-
rentes lugares pelo conteúdo fóssil encontrado nelas.
Biologia: é a ciência que estuda os seres vivos com-
preendendo aspectos de sua origem e evolução, da
sua constituição e também relação com outros orga-
nismos. Analisa os organismos tanto em escalas mi-
croscópicas até grandes escalas de populações.
Cianofíceas: algas primitivas que surgiram no pla-
neta Terra há aproximadamente 3,5 bilhões de anos
atrás. São consideradas como os primeiros organis-
mos que faziam fotossíntese.
Clasto: fragmento de rocha que foi transportado
por diferentes processos sedimentares, vulcânicos
ou biológicos.
Crinóides: grupo de organismos aquáticos que vivem
em sua maioria fixos em rochas ou no fundo do mar.
Hoje em dia os crinóides são mais raros que no pas-
sado, onde seus fósseis provam que eles possuíam
uma grande diversidade.
Depósitos carbonosos: camadas de rocha formada
pela compactação de grandes quantidades de maté-
ria orgânica por um longo período de tempo. O car-
vão mineral é extraído dos depósitos carbonosos.
Esfenófitas: são plantas que habitam preferencial-
mente áreas úmidas e se caracterizam por possuir
folhas pontiagudas saindo de um único caule verti-
cal. São consideradas um fóssil vivo, já que estão pre-
sentes no Planeta Terra há muito tempo. Exemplo:
cavalinha.
Esporos: estruturas muito pequenas, na maioria das
vezes invisíveis a olho nu, responsáveis pela repro-
dução de algumas plantas chamadas de briófitas e
pteridófitas, além de fungos e algas.
Estratigráfico: referente ao ramo da geologia chama-
do de estratigrafia que estuda a sequência de cama-
das das rochas procurando investigar as suas condi-
ções de formação.
Eucariontes: organismos com células dotadas de nú-
cleo individualizado, protegido por uma membrana e
com o citoplasma organizado. A maioria dos animais
e plantas são compostos deste tipo de células.
Extinto: referente a algum grupo de organismos que
sofreu extinção, ou seja, deixou de existir no ambien-
te porque todos os componentes deste grupo morre-
ram. As extinções são parte normal na evolução dos
seres vivos.
Fóssil: restos ou vestígios de seres vivos preservados
nas rochas. São utilizados para o estudo da vida no
passado, assim como para a datação das rochas que
os contém. A paleontologia é a ciência que estuda os
fósseis.
Geocronologia: ramo da geologia que estuda os mé-
todos de datação para avaliar as idades das rochas
e eventos geológicos. São utilizados métodos de da-
tação relativa a partir da relação entre as camadas
de rocha e os fósseis contidos nelas, como também
os métodos absolutos identificando as mudanças
químicas nos minerais das rochas para sua datação.
Geologia: ciência que estuda o Planeta Terra, sua
composição, estrutura e os seus processos formado-
res. As rochas representam o principal material de
estudo dos geólogos.
Geossítio: lugar conhecido por possuir formações de
rochas interessantes sob o ponto de vista didático,
científico ou turístico. Tem como elemento principal
o patrimônio geológico.
Gimnospermas: grupo de plantas terrestres que pos-
suem sementes nuas, ou seja, suas sementes não são
protegidas por um fruto como é o caso das angios-
permas. Exemplos de gimnospermas atuais: Pinhei-
ros e Araucárias.
Grão de Pólen: estrutura de reprodução de certas
plantas cujo papel é levar o material genético do ór-
gão masculino ao órgão feminino. De forma geral,
são pequenos e arredondados.
História geológica: processos e eventos geológicos
que influenciaram a evolução do Planeta Terra desde
a sua formação.
Hominídeos: família dos grandes primatas ao qual
pertence a espécie humana (Homo sapiens sapiens),
além dos Gorilas, Chimpanzés e Orangotangos.
50
51
Homo sapiens sapiens: espécie de hominídeos cujos
integrantes possuem as mesmas características dos
humanos atuais.
Iceberg: bloco de gelo que se desprende de uma geleira
e flutua pelo oceano levado pelas correntes marinhas.
Lacustre: provém de lago que é uma área onde se acu-
mula quantidade variável de água. Esta água é prove-
niente de rios, da chuva, ou mesmo de uma nascente
próxima. Os lagos geralmente se formam em regiões
baixas onde a água se deposita facilmente.
Lagunar: provém de laguna que é uma área onde se
acumula água e apresenta algum tipo de ligação com
o mar. As lagunas estão geralmente no litoral, sepa-
radas do mar por rochas, areias ou recifes. A água da
laguna é normalmente salobra.
Licófitas: um dos primeiros grupos de plantas que
surgiu no Planeta Terra. São pequenas e se diferen-
ciam de todas as outras plantas por possuírem folhas
com um único veio vascular.
Licopódios: são plantas pequenas do grupo das Pteri-
dófitas, considerado um dos primeiros vegetais que
surgiram no Planeta Terra. Estas plantas se reprodu-
zem pela dispersão de esporos.
Litoestratigrafia: é o ramo da estratigrafia que estuda
a formação das camadas de rochas presentes numa
região e como elas estão empilhadas.
Matéria orgânica: são partes e restos de algum or-
ganismo vivo como pedaços de plantas e animais,
ou mesmo a matéria que deriva de um ser vivo. Já se
apresenta em estado de decomposição.
Microfósseis: fósseis de organismos com tamanhos
muito pequenos que são estudados com auxílio de
lentes de aumento como a lupa e o microscópio. São
o foco de estudo da micropaleontologia.
Modelo geográfico: reconstituição de como estavam
os continentes em determinado período de tempo.
Vale lembrar que os continentes se movimentam de-
vido à movimentação das placas tectônicas.
Multinervado: referente a folhas que apresentam vá-
rias ranhuras vistas a olho nu em sua estrutura.
Paleoambiente: ambiente do passado inferido atra-
vés dos estudos dos fósseis e sua relação com o meio
físico da época. A caracterização de paleoambientes é
comum em estudos de paleontologia.
Paleobotânico: cientista especializado em paleobotâ-
nica cuja área de atuação é o estudo de vegetais fós-
seis sob todas as formas conhecidas de fossilização
nas rochas.
Paleoecológico: provém da palavra paleoecologia que
é o ramo da paleontologia voltado ao estudo das rela-
ções de organismos fósseis e seus ambientes de vida
no passado geológico.
Paleogeográfico: provém da palavra paleogeografia
que é o ramo da paleontologia que descreve a geogra-
fia física de determinada área no passado geológico
ou o estudo de sucessivas mudanças físicas no pla-
neta durante o tempo geológico.
Paleontologia: ciência que descreve e ajuda a enten-
der o passado do Planeta Terra através do estudo dos
fósseis e as formações de rochas que os contém.
Paleontólogo: cientista com formação superior em
biologia, geologia ou áreas afins que analisa a vida
do passado do Planeta Terra através do estudo dos
fósseis.
Palinologia: é a ciência que estuda os grãos de pó-
len, esporos e outros organismos que possuem pa-
rede orgânica resistente a ácidos. Uma das áreas de
atuação da palinologia é na paleontologia, quando
palinomorfos fósseis são estudados e características
de sua dispersão, constituição e período de vida são
analisados.
Palinomorfo: são os componentes estudados pela pa-
linologia. Podem ser grãos de pólen e esporos de plan-
tas, pequenos organismos marinhos, fungos e algas.
Normalmente são muito pequenos para serem vistos
a olho nu, por isso em trabalhos palinológicos são uti-
lizados microscópios para as análises.
Rocha sedimentar: rocha constituída através da acu-
mulação de sedimentos transportados pela água,
vento ou gelo ao longo do tempo. Adquire o aspecto
maciço de rocha após os sedimentos ficarem com-
pactados por um longo período de tempo.
Seção estratigráfica: tipos de rochas que apresen-
tam-se empilhadas em determinado afloramento.
O estudo da seção estratigráfica informa como era o
ambiente quando estas rochas foram formadas.
Tafonomia: ramo da paleontologia que investiga os
processos de preservação do organismo desde a sua
morte até ele se transformar em um fóssil.
Tétrade: arranjo de quatro elementos. Os esporos são
formados em tétrades nas estruturas reprodutivas
das plantas e acabam se separando na sua dispersão
para formar novas plantas.
Trilobitas: organismos marinhos extintos que habi-
tavam os oceanos na era paleozoica, há milhões de
anos atrás. Hoje são encontrados fossilizados em ro-
chas de vários lugares do mundo.
Turfeira: zona muito úmida e ás vezes alagada com
grande quantidade de matéria orgânica em decom-
posição, formando um solo orgânico. Muitas das tur-
feiras de antigamente se transformaram em depósi-
tos de carvão mineral.
52
BIBLIOGRAFIA E LEITURAS RECOMENDADAS
Carvalho, I.S. (2011). Paleontologia. 3ª edição. Rio de Janeiro: Editora Interciência, v. 3. 448p.
Coimbra, J.C.; Lemos,V.B.; Souza, P.A.; Schultz, C.L.; Iannuzzi, R. (2004).Antes dos Dinossauros.
1ª edição. Porto Alegre: Editora da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, v. 1. 91p.
Holz, M.; Ros, L.F. (2000). Paleontologia do Rio Grande do Sul. 1ª edição. Porto Alegre: CIGO/
UFRGS, v. 1. 397p.
Iannuzzi, R.;Vieira, C.E.L. (2005). Paleobotânica. 1ª edição. PortoAlegre: EditoradaUniversidade
Federal do Rio Grande do Sul. 167p.
Iannuzzi, R.; Scherer, C.M.S.; Souza, P.A.; Holz, M.; Caravaca, G.;Adami-Rodrigues, K.;Tybusch,
G.P.; Souza, J.M.; Smaniotto, L.P.; Fischer, T.V.; Silveira, A.S.; Lykawka, R.; Boardman, D.R.;
Barboza, E.G.(2006). Afloramento Morro do Papaléo, Mariana Pimentel, RS-Registro ímpar da
sucessão sedimentar e florística pós-glacial do Paleozóico da Bacia do Paraná. In: Winge, M.;
Schobbenhaus, C.; Berbert-Born, M.; Queiroz, E.T.; Campos, D.A.; Souza, C.R.G.; Fernandes,
A.C.S. (Edit.) Sítios Geológicos e Paleontológicos do Brasil (SIGEP). Disponível em www.unb.br/
ig/sigep/sitio101/sitio101.pdf.
Press, F.; Siever, R.; Grotzinger, J.; Jordan, T.H. (2006). Para entender a Terra. 4ª edição.
Bookman. 656p.
Teixeira, Toledo, Fairchild; Taioli (2000). Decifrando a Terra. Oficina de Textos, 624p.
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53
Composto com os tipos Questa e Titillium,
Impresso na Gráfica XXXXX,
Porto Alegre, RS, miolo em papel Couche Fosco (LD)
Matte 115g e capa em Supremo 250g.
1cm
Cordaites hislopii
1cm
Asterotheca sp.
Uma antiga área de mineração deixou para trás
alguns paredões rochosos que parecem simplesmente
camadas de pedras empilhadas. Entretanto, o olhar
minucioso dos paleontólogos revela que estas rochas
carregam uma rica história de uma floresta que cobriu
parte do Rio Grande do Sul há milhões de anos atrás.
A partir de impressões de folhas e caules, marcas
de sementes e grãos de pólen fossilizados nas finas
camadas das rochas, os cientistas foram capazes de
conhecer um pouco da vegetação que existiu ali. Além
disso, a descoberta do sítio paleobotânico no Morro
do Papaléo ajudou os cientistas a escreverem parte da
história geológica da América do Sul e a entender as
condições ambientais existentes há milhões de anos.
Este livro apresenta de uma forma simples a história
paleoambiental e paleontológica do Morro do Papaléo
e ressalta a importância da sua preservação.
MORRO DO PAPALÉO
SÍTIO PALEONTOLÓGICO

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Morro do papaléo

  • 1. MORRO DO PAPALÉO SÍTIO PALEONTOLÓGICO
  • 2.
  • 3. ORGANIZADORES Guilherme Sonntag Hoerlle Fernando Heck Michels Tiago Antônio Morais Francisco Paulo Garcia Ideal Meio Ambiente LTDA CMPC Celulose Riograndense LTDA MORRO DO PAPALÉO SÍTIO PALEONTOLÓGICO
  • 4.
  • 5. Agradecemos ao Laboratório de Paleobotânica e ao Laboratório de Palinologia Marleni Marques Toigo, especialmente aos Profs. Drs. Roberto Iannuzzi e Paulo Alves de Souza, do Instituto de Geociências da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, pelas imagens cedidas e revisão.
  • 6. Revisores de texto: Dra. Fabiana Maraschin, Prof. Dr. Roberto Iannuzzi Design Editorial: Débora Zilz Ilustrações: Voltaire Dutra Paes Neto Fotos: capa - Guilherme S. Hoerlle miolo - Guilherme S. Hoerlle, Tiago A. Morais, Luiz Flávio Lopes. 1ª edição Todos os direitos reservados. A reprodução não autorizada desta publicação, no todo ou em parte, constitui violação dos direitos autorais (Lei N° 9.610).
  • 7.
  • 8.
  • 9. A história de uma floresta que cobriu parte do Rio Grande do Sul há mais de 280 milhões de anos pode ser lida nas rochas de Mariana Pimentel, basta observar os detalhes...
  • 10. 10
  • 11. APRESENTAÇÃO O sítio paleobotânico do Morro do Papaléo, localizado no município de Mariana Pimentel, é uma fonte preciosa para que aprofundemos o conhecimento do ambiente regional. A CMPC Celulose Riograndense, ciente da importância do local, decidiu contribuir para que esta publicação acontecesse.Taldecisão,sedeuporqueaempresaacreditaquefomentaroacessoaoconhecimento é uma ferramenta poderosa para a valorização e conservação do patrimônio natural. Espera-se que este extenso trabalho de resgate de artigos científicos publicados, reportagens e entrevistas diretas com os pesquisadores que já trabalharam na área, somado aos novos levantamentos de campo, ofereça a todos os interessados uma melhor compreensão das dimensões do local e que, dessa forma, mais pessoas e instituições possam se engajar em busca da manutenção desta incrível fonte de pesquisa sobre os histórico de nossa região. 11
  • 12.
  • 13. 15 18 20 22 25 27 28 31 32 36 46 50 52 Introdução Histórico do Morro do Papaléo O Tempo Geológico Paleontologia e Paleobotânica Preservação dos Fósseis Localização As Rochas do Morro do Papaléo Estratigrafia Evolução Paleogeográfica Paleobotânica do Permiano Sul-Riograndense Palinologia Glossário Bibliografia e Leituras Recomendadas
  • 14.
  • 15. INTRODUÇÃO Uma antiga área de mineração deixou para trás alguns paredões rochosos que parecem simplesmente camadas de pedras empilhadas. Entretanto, o olhar minucioso dos paleontólogos revela que estas rochas carregam uma rica história de uma floresta que cobriu parte do Rio Grande do Sul há milhões de anos atrás. A partir de impressões de folhas e caules, marcas de sementes e grãos de pólen fossilizados nas finas camadas das rochas, os cientistas foram capazes de conhecer um pouco da vegetação que existiu ali. Além disso, a descoberta do sítio paleobotânico no Morro do Papaléo ajudou os cientistas a escreverem parte da história geológica da América do Sul e a entender as condições ambientais existentes há milhões de anos. Este livro apresenta de uma forma simples a história paleoambiental e paleontológica do Morro do Papaléo e ressalta a importância da sua preservação. 15
  • 16.
  • 17. 50m
  • 18. HISTÓRICO DO MORRO DO PAPALÉO A descoberta do Morro do Papaléo ocorreu devido a busca de argilas a fim de abastecer a indústria cerâmica local. Dessa forma, a mineração expôs os paredões rochosos que despertaram o interesse dos pesquisadores para estudos aprofundados da geologia da região. Historicamente, o Morro do Papaléo tem sido alvo de variadas pesquisas no campo da geologia e paleontologia desde a década de 60. No ano de 1968, foi publicado o primeiro trabalho sobre as rochas do Morro do Papaléo. Esta pesquisa de abrangência regional, descreveu as principais ocorrências de argilas no Rio Grande do Sul. Apenas no final dos anos 70, esta área começou a despertar a atenção de paleontólogos. Em 1977, um estudo sobre a flora antiga foi realizado na região de Mariana Pimentel para conhecer e classificar as ocorrências de fósseis vegetais. No ano seguinte, foram realizados estudos estratigráficos, objetivando determinar as idades de formação das rochas na região do Morro do Papaléo. No ano de 1982, foi publicado o primeiro trabalho específico sobre o Afloramento do Morro do Papaléo. Neste estudo foi elaborado o perfil paleoecológico do morro, ou seja, foram reconstruídos os ecossistemas do passado com base nos fósseis presentes no local. Além deste estudo, outras pesquisas paleoecológicas foram realizadas na região, incluindo estudos paleogeográficos, que situaram a região do Morro do Papaléo nos modelos geográficos do final da Era Paleozoica, há aproximadamente 290 milhões de anos, época em que se formaram os fósseis do Morro do Papaléo. No início dos anos 90, foi publicado um trabalho de contexto regional que abordou a bioestratigrafia das rochas do sul do Brasil, possibilitando conhecer a idade das rochas a partir da datação dos fósseis. No final dos anos 90 e início dos anos 2000, os estudos estratigráficos avançaram na região. Tais pesquisas resultaram na publicação de artigos científicos que auxiliaram na compreensão da história geológica do Morro do Papaléo. No ano de 2006, uma proposta de registrar oAfloramento do Morro do Papaléo como geossítio foi submetida à Comissão Brasileira de Sítios Geológicos e Paleobiológicos. Neste estudo, abordou- se com clareza as associações de plantas fósseis e a estratigrafia deste importante sítio paleontológico. Atualmente, a área do entorno do Afloramento Morro do Papaléo é uma área de cultivo de eucalipto pela CMPC Celulose Riograndense. Os afloramentos são preservados e o acesso só é permitido a pessoas e instituições que realizam pesquisas no local. Ademais, estudos de mestrado e doutorado são produzidas com frequência abordando os aspectos paleontológicos e estratigráficos do afloramento. 18
  • 19.
  • 20. 20 O TEMPO GEOLÓGICO O objetivo de contar a história do Planeta Terra une os geólogos e os paleontólogos através do estudo das rochas e dos fósseis. A partir deles os pesquisadores são capazes de compreender melhor como e quando a Terra foi formada, além de aprender mais sobre quais tipos de plantas e animais viveram no nosso planeta durante diferentes períodos de tempo. O estudo do Tempo Geológico em relação à idade da Terra é chamado de Geocronologia. O uso de tecnologias modernas permite aos cientistas determinar a idade absoluta de alguns tipos de rocha. Correlacionar essa informação com os estudos dos fósseis encontrados em rochas sedimentares levou a elaboração da Escala de Tempo Geológico, constantemente atualizada a partir de novas descobertas. Atualmente, a teoria mais aceita pelos cientistas é de que a Terra tenha se formado há aproximadamente 4,5 bilhões de anos. O tempo geológico é subdividido em uma série de categorias. As principais categorias são: Éons, Eras, Sub-Períodos e Épocas. As rochas mais recentes no Tempo Geológico estão no topo da tabela, enquanto as mais antigas se situam na parte de baixo. Os números ao lado direito indicam, em milhões de anos, quando um período do tempo geológico terminou e outro começou. Por exemplo: os limites do período “Permiano” são delimitados pelas idades de 299 e 252 milhões de anos.
  • 21. Idade dos anfíbios Idade dos dinossauros e das amonites Idade dos dinossauros Primeiros dinossauros Primeiros répteis Idade dos peixes Primeiros crinóides Primeiros corais Peixes primitivos Idade dos trilobitas Registro dos primeiros fósseis Primeiros eucariontes Coral Primeiros fósseis de algas azuis (cianofíceas) Ausência de qualquer registro geológico terrestre Gatos, cervos Baleias primitivas Homo sapiens sapiens Primeiros hominídeos (australopitecos) Civilização humana Cães, cavalos, ursos Primeiros mamíferos Oligoceno Pleistoceno Plioceno Holoceno Mioceno Eoceno Paleoceno CAMBRIANO HADEANO CRETÁCEO NEOGENO PALEOGENO JURÁSSICO TRIÁSSICO PERMIANO SILURIANO ORDOVICIANO PROTEROZOICO ARQUEANO PALEOZOICOCENOZOICOMOSOZOICO ÉON ERA PERÍODO ÉPOCA FANEROZOICOPRÉ-CAMBRIANO FORMAÇÃO DA TERRA CARBONÍFERO DEVONIANO 5,3 10.000 anos Presente 2,6 23 34 56 66 M.a. 2500 299 358 419 443 485 541 4000 4600 M.a. 145 252 201 66 21
  • 22. PALEONTOLOGIA E PALEOBOTÂNICA A Paleontologia (do grego palaios = antigo + ontos = ser + logos = estudo) é o ramo da Ciência que descreve e ajuda a entender o passado da Terra através do estudo dos fósseis de seres vivos que habitaram o nosso planeta ao longo do tempo geológico. Por isso, os fósseis são considerados o objeto de estudo da Paleontologia e são caracterizados por restos antigos de animais e vegetais ou evidências de suas atividades que se encontram naturalmente preservados nas rochas, representando a prova mais concreta da existência de vida há milhares, milhões ou mesmo bilhões de anos atrás. Adescoberta de um fóssil em boas condições de conservação, além de ser um fato que desperta a curiosidade mundial, pode indicar um melhor entendimento sobre a evolução dos seres vivos e a compreensão de antigos ecossistemas em que estes indivíduos, hoje fossilizados, viviam. Desta maneira, os princípios e métodos da Paleontologia estão baseados em duas ciências: a Biologia e a Geologia. No campo das ciências biológicas ocorre o estudo do fóssil em si, pois ele representa os restos de um antigo organismo vivo. Já a Geologia estuda os fósseis como ferramenta para definir a idade de rochas nas quais eles foram encontrados, bem como para apontar informações sobre processos globais que aconteceram no passado, tais como drásticas mudanças climáticas, migração de continentes e grandes extinções da vida no planeta, informando dados da história da Terra e de seus habitantes durante o passado geológico. A Paleobotânica (do grego palaios = antigo + botané = planta) é uma área da Paleontologia que estuda as partes de um vegetal fóssil, sob todas as formas conhecidas de fossilização nas rochas, considerando a interação destas plantas com os seus ambientes primitivos do passado. Este ramo da Ciência, igualmente chamada de Paleontologia Vegetal, acaba abrangendo tanto estudos sobre grandes partes fossilizadas das plantas (caules, folhas, sementes, etc.), como também a área denominada de Palinologia, que estuda os fósseis de estruturas de reprodução muito pequenas dos vegetais, como os grãos de pólen e esporos. Para compreender as dinâmicas ambientais que resultaram nesta diversa flora que observamos hoje na superfície do planeta, é muito importante olharmos para o passado e entender a evolução dos vegetais através do Tempo Geológico. Esta resposta pode ser encontrada nos fósseis de plantas, que se apresentam como fotografias fixadas em rochas sedimentares, conservando memórias de um passado longínquo, e aguardando apenas serem reveladas pelas mãos de um paleontólogo. 22
  • 23.
  • 24.
  • 25. PRESERVAÇÃO DOS FÓSSEIS Os fósseis são considerados como o registro paleontológico conservado nas rochas por tempo indeterminado, sendo preservados por processos distintos que iniciam logo após a morte do organismo e que são estudados por uma ciência chamada tafonomia (do grego tafos = sepultamento + nomos = leis). De um modo geral, a tafonomia visa entender como os organismos e seus restos chegaram à rocha e quais foram os fatores e processos que atuaram na formaçãodasconcentraçõesfossilíferas.Paraumfóssil se preservar, é imprescindível que o seu soterramento seja lento sem eventos com temperaturas ou pressões elevadas no interior da terra. Consequentemente, a rocha sedimentar representa a melhor rocha para se encontrar um fóssil. A história tafonômica do fóssil passa por várias fases a partir da morte do organismo, passando pela sua desarticulação, soterramento e culminando em processos no interior da terra como transformações minerais, antes de ele ser novamente exposto através da erosão da rocha já na forma fossilizada. Observamos, através deste conhecimento, que o achado fóssil em uma rocha representa uma situação incomum e extraordinária visto que a maioria dos organismos têm todas as suas partes decompostas já nos primeiros estágios tafonômicos e não se preservam após a morte. 25
  • 26. Morro do Papaléo Buenos Aires Fonte da imagem: Google Earth Data SIO, NOAA, US Navy, NGA, GEBCO Image Landsat Porto Alegre Curitiba São Paulo BRASIL Rio de Janeiro 500km N
  • 27. LOCALIZAÇÃO O sítio paleontológico está localizado em Mariana Pimentel, município que se encontra na porção leste do Rio Grande do Sul, a 85 quilômetros da capital do estado, Porto Alegre. Partindo de Porto Alegre, o acesso a área se dá através da BR-116 e da RS-711. A partir do centro da cidade de Mariana Pimentel, cerca de dez quilômetros em estrada de chão levam ao Sítio Paleontológico do Morro do Papaléo. Morro do Papaléo Fonte da imagem: Google Earth Data SIO, NOAA, US Navy, NGA, GEBCO Image Landsat Porto Alegre Mariana Pimentel 30km N BR-290 BR-116 RS-711 27
  • 28. AS ROCHAS DO MORRO DO PAPALÉO Rocha formada a partir da litificação de grãos de tamanho argila (< 0,0039 mm). Os principais constituintes destas rochas são argilominerais, ricos em alumínio, silício, potássio, magnésio, entre outros. Apresenta frequentemente textura maciça e compacta. A ausência de estrutura sedimentar pode estar associada à falta de contraste entre o tamanho dos grãos. Rocha formada a partirda litificação de grãos de tamanho areia (2,0 – 0,062 mm). O principal constituinteéoquartzo,maspodeterquantidadesvariáveisdefeldspatos,micaseimpurezas. A presença e o tipo de impurezas determinam a coloração dos arenitos (p. ex. arenitos avermelhados apresentam tal coloração pela quantidade de óxidos de ferro). A textura de um arenito pode variar de estratificada a maciça. O tamanho de areia predominante na rocha dá o segundo nome do arenito, podendo ser nomeado como arenito fino (0,250 – 0,062 mm); arenito médio (0,50 – 0,250 mm) e arenito grosso (2,0 – 0,50 mm). Argilito Arenito 28
  • 29. Rocha sedimentar detrítica (composta por clastos) formada a partir da litificação de grãos de tamanho grosseiro (> 2,0 mm). Os principais constituintes são clastos e fragmentos de rochas preexistentes misturados com uma matriz arenosa e/ou mais fina e cimentados por material calcário, óxidos de ferro, sílica ou argila. O tamanho dos fragmentos predominante na rocha dá o segundo nome do conglomerado, podendo ser subdividido em: conglomerado de grânulos (4,0 – 2,0 mm), conglomerado de seixos (64 – 4 mm), conglomerado de blocos (256 – 4,0 mm) ou conglomerado de matacões (> 256 mm). Conglomerado Rocha formada a partir da litificação de grãos de tamanho silte (0,062 – 0,0039 mm). Os principais constituintes são quartzo, feldspatos, micas e argilas. A textura dos siltitos pode variarde maciçaalaminada, dependendo se háou não diferençaentre o tamanho dos grãos. Siltito 29
  • 30.
  • 31. ESTRATIGRAFIA O empilhamento das rochas As rochas sedimentares são formadas pela deposição e acumulação de grãos de diversos tamanhos, desde argilas até grandes blocos de rocha. Estes sedimentos podem incluir minerais, fragmentos de plantas, além de outros tipos de matéria orgânica. Após a deposição no ambiente formador, os sedimentos são comprimidos ao longo de um longo período antes da consolidação em camadas de rocha (estratos). O empilhamento das camadas de rochas é alvo de estudo de um ramo da Geologia chamado de Estratigrafia. Através da sucessão de estratos, é possível estudar a evolução do ambiente deposicional além de obter muitas outras informações do passado geológico. 31
  • 32. I. Ambiente lagunar glacial na região de Mariana Pimentel há aproximadamente 300 e 295 milhões de anos. EVOLUÇÃO PALEOGEOGRÁFICA Em busca de um melhor entendimento da evolução paleogeográficae paleoambiental daregião onde hoje se situa o afloramento do Morro do Papaléo, diversos pesquisadores observaram minuciosamente as rochas encontradas na área. Além disso, foram examinadas diversas amostras de afloramentos e poços exploratórios perfurados em áreas próximas ao Morro do Papaléo associados ao mesmo período geológico. Desta forma, realizou-se a integração dos dados e posterior elaboração de um modelo regional de evolução ao longo do tempo geológico. De acordo com as rochas mais antigas do afloramento, infere-se que esta região esteve sob um regime glacial entre o final do Carbonífero e o início do Permiano. Os sedimentos encontrados nas rochas da base do afloramento são associados a grandes lagos glaciais, de ocorrência de capas de gelo e icebergs existentes na época, bem como sedimentos lagunares associados ao posterior degelo e consequente inundação do sistema costeiro, mostrados na ilustração abaixo (I). 32
  • 33. Reconstituição paleoambiental da área do Morro do Papaléo entre 300 e 295 milhões de anos atrás, hoje registrado nas rochas e fósseis do Grupo Itararé 33
  • 34. II. Ambientes fluviais e deltaicos III. Ambientes úmidos e pantanosos Como consequência do intenso degelo, a região começou a ser gradativamente inundada e dominada por diferentes sistemas deposicionais. Desta forma, há aproximadamente 295 e 290 mihões de anos, a região contemplava ambientes fluviais, deltaicos e transicionais do tipo laguna-barreira. Estes ambientes eventualmente deram origem a depósitos carbonosos relacionados ao topo da Formação Rio Bonito. As figuras abaixo demonstram a evolução paleoambiental da região do Morro do Papaléo durante o Eopermiano, desde a alternância de ambientes fluviais, deltaicos e lagunares (II) até a consolidação de um sistema do tipo laguna barreira relacionado à intensa deposição de matéria orgânica da Formação Rio Bonito (III). Estas camadas com alto teor de matéria orgânica representam pacotes de carvão semelhantes àqueles que são explorados no estado e constituem, hoje em dia, uma importante fonte de energia. 34
  • 35. Reconstituição paleoambiental da área do Morro do Papaléo entre 295 e 290 milhões de anos atrás, hoje registrado nas rochas e nos fósseis da Formação Rio Bonito 35
  • 36. PALEOBOTÂNICA DO PERMIANO SUL-RIOGRANDENSE Durante o período Permiano (intervalo de tempo entre 299 e 252 milhões de anos atrás), a maioria dos continentes do planetaTerra se encontravam muito próximos ou mesmo juntos em um evento de rara ocorrência na história geológica formando um único supercontinente, chamado de Pangeia. Este evento ocasionou um afogamento das áreas costeiras ao redor do planeta, mesmo daquelas mais distantes do oceano como no caso das existentes no atual território do Rio Grande do Sul. Em um ambiente de clima temperado a frio com alta umidade, crescia nas terras baixas de planícies costeiras do sul do Brasil uma abundante vegetação conhecida como “Flora Glossopteris”, preservada em considerável quantidade de fósseis no sítio paleontológico do Morro do Papaléo. Esta flora se desenvolveu próxima às zonas alagadiças onde grandes quantidades de restos de vegetais (folhas, galhos, troncos, sementes) eram depositadas continuamente e ali permaneciam, originando milhões de anos depois os depósitos de carvão do sul do Brasil. A“FloraGlossopteris”representavaumgrupodeplantasatualmente extintas, com feições que ainda colocam os pesquisadores em dúvida se elas pertenciam ao grupo das gimnospermas ou mesmo se eram os ancestrais mais antigos das angiospermas. Segundo os registros fósseis, eram árvores de altura variável medindo entre 4 e 8 metros, e possuíam folhas semelhantes às samambaias. Além desta vegetação descrita, outros grupos de plantas de ambientes úmidos foram preservados como fósseis no Afloramento Morro do Papaléo, como os representantes dos grupos das licófitas, esfenófitas e as samambaias. 36
  • 37.
  • 38. GANGAMOPTERIS As Glossopterídeas representam um grupo muito interessante pela sua anatomia complexa e distinta das plantas atuais. A estrutura das suas folhas era parecida com as das samambaias, enquanto que seu caule é semelhante ao das araucárias e suas estruturas reprodutivas assemelham-se as das angiospermas. Os principais morfo-gêneros de folhas do grupo são: Glossopteris e Gangamopteris. As folhas de Glossopteris se diferenciam das de Gangamopteris por serem percorridas por um contínuo e nítido feixe mediano de veias. Ambas possuíam um padrão de veias reticuladas, lembrando algumas folhas das samambaias atuais. Gangamopteris obovata var. major 1cm 38
  • 39. GLOSSOPTERIS Seu nome é atribuído às suas folhas possuírem forma semelhante a uma língua (“glosso” = língua). Normalmente, constituíam árvores de porte médio com alturas variando de 4 a 6 metros. O grupo viveu na porção sul do supercontinente Pangeia, conhecida como Gondwana, em zonas de médias a altas latitudes em climas frios e temperados. Glossopteris occidentalis 1cm 39
  • 40. PHYLLOTHECA As filotecas são plantas similares às atuais cavalinhas ou rabo-de-cavalo. Eram plantas arbustivas de caules finos e folhas bem desenvolvidas e fundidas na base que alcançavam até dois metros de altura. Phyllotheca indica 1cm 50cm 40
  • 41. Viviam em ambientes muito úmidos, ocupando as beiras dos corpos d’água. Hoje, plantas semelhantes são encontradas ao longo da planície costeira do Rio Grande do Sul. Phyllotheca indica 1cm 41
  • 42. ASTEROTHECA SP. As plantas do gênero Asterotheca se assemelham às atuais samambaias arborescentes ou xaxins. Eram vascularizadas e não possuíam sementes. Foram abundantes nas partes úmidas das matas do Permiano Sul-Riograndense. 5mm Asterotheca sp. 42
  • 43. BRASILODENDRON PEDROANUM Os caules de Brasilodendron pedroanum correspondem a licopódios que alcançavam até quatro metros de altura. Viviam em ambientes úmidos de grande acumulação de matéria orgânica, como as turfeiras. Hoje, uma planta semelhante ao Brasilodendro pedroanum é o pinheirinho-de-praia, porém estes são licopódios muito menores do que os que viveram durante o Permiano no Rio Grande do Sul. Brasilodendron pedroanum 1m 43 20 µm
  • 44. CORDAITES HISLOPII As Cordaitales viveram somente no Paleozoico (541 a 252 milhões de anos atrás) e possuem parentesco com os atuais pinheiros e araucárias. Acredita-se que seu tamanho variava desde arbustos até árvores de médio porte e eram encontradas próximos aos corpos d’água, nas matas de galeria do Rio Grande do Sul. 1cm Cordaites hislopii 44
  • 45. Dentre as principais similaridades com os pinheiros, estão a distribuição helicoidal das folhas e reprodução por estróbilos, semelhantes às pinhas. Entretanto, ao contrário das araucárias, as Cordaitales possuíam folhas grandes e multinervadas. 1cm Cordaites hislopii 45
  • 46. PALINOLOGIA Os grãos de pólen e esporos encontrados preservados nas rochas e em sedimentos são estudados num ramo da Paleontologia denominado Palinologia. Eles são chamados de palinomorfos e representam as estruturas reprodutivas microscópicas das plantas. Quando liberados pelo vegetal, parte deles se deposita no solo ou em corpos d’água, podendo vir a serem soterrados e assim preservarem seu envoltório externo (exina) durante milhões de anos como um fóssil. Deste modo, os palinomorfos são testemunhos da vegetação que dominava a região e permitem interpretações de ambientes do passado através da análise palinológica. No afloramento do Morro do Papaléo, são encontrados palinomorfos em três níveis diferentes de rocha sedimentar e a seguir estão ilustrados alguns grãos de pólen e esporos representativos desta área. Punctatisporites gretensis 10 µm 46
  • 47. GRÃOS DE PÓLEN 20 μm Peppersites sp. Striomonosaccites Vesicaspora sp. Vittatina vittifera Grãos de pólen Tétrade de Lundbla Cirratrirad 20 μm Peppersites sp. Striomonosaccites Vesicaspora sp. Vittatina vittifera Grãos de pólen Tétrade de Lundb Cirratrirad20 μm Peppersites sp. Striomonosaccites Vesicaspora sp. Vittatina vittifera Grãos de pólen Tétrade d 20 μm Peppersites sp. Striomonosaccites Vesicaspora sp. Vittatina vittifera Grãos de pólen Tétrade Peppersites sp. Vesicaspora sp. Vittatina vittifera Striomonosaccites 20 µm 47
  • 48. ESPOROS 20 μm Cirratriradites sp. Cristatisporites morungavensis 20 μm Brevitriletes levis Convolutispora candiotensis Horriditriletes uruguaiensis Horriditriletes gondwanensis 20 μm 20 μm Brevitriletes levis Convolutispora candiotensis Horriditriletes uruguaiensis Horriditriletes gondwanensis 20 μm Cirratriradites sp. Cristatisporites morungavensis 20 μm Brevitriletes levis Convolutispora candiotensis Horriditriletes uruguaiensis Horriditriletes gondwanensis 20 μm Cirratriradites sp. Cristatisporites morungavensis 20 μm Brevitriletes levis Convolutispora candiotensis Horriditriletes uruguaiensis Horriditriletes gondwanensis Brevitriletes levis Horriditriletes uruguaiensis Horriditriletes gondwanensis Convulutispora candiotensis 20 µm 48
  • 49. 20 μm Tétrade de Lundbladispora riobonitensis Vallatisporites splendens Cirratriradites sp. Cristatisporites morungavensis Esporos saccites vittifera 20 μm Tétrade de Lundbladispora riobonitensis Vallatisporites splendens Cirratriradites sp. Cristatisporites morungavensis Esporos Vallatisporites splendensTétrade de Lundbladispora riobonitensis 20 μm Tétrade de Lundbladispora riobonitensis Vallatisporites splendens Cirratriradites sp. Cristatisporites morungavensis Esporos accites vittifera 20 μm Tétrade de Lundbladispora riobonitensis Vallatisporites splendens Cirratriradites sp. Cristatisporites morungavensis Esporos Cirratriradites sp. Cristatisporites morungavensis 20 µm 49
  • 50. GLOSSÁRIO Afloramento: exposição de rochas na superfície da terra. Em geologia, este termo é usado para a porção de rocha visível no ambiente. Exemplos: cortes de estrada, pedreiras. Ambiente deltaico: referente à foz de um rio, ou seja, o local onde o rio desagua no mar. Ambiente fluvial entrelaçado: referente aos rios ou cursos d’água com vários canais divididos por barras arenosas, normalmente apresentam-se largos e ra- sos. Representam importantes agentes de transporte de sedimentos. Amonites: grupo de moluscos marinhos extintos, hoje encontrados apenas fossilizados nas rochas. Se assemelham às atuais lulas gigantes e náutilos. Anfíbios: grupo de animais que apresentam formas larvais que vivem na água e formas adultas terres- tres. Os sapos e salamandras são exemplos de anfí- bios. Bioestratigrafia: estudo das camadas de rocha a partir dos fósseis que existem nelas. Análises bioes- tratigráficas definem a idade de formação da rocha, assim como relacionam camadas de rochas de dife- rentes lugares pelo conteúdo fóssil encontrado nelas. Biologia: é a ciência que estuda os seres vivos com- preendendo aspectos de sua origem e evolução, da sua constituição e também relação com outros orga- nismos. Analisa os organismos tanto em escalas mi- croscópicas até grandes escalas de populações. Cianofíceas: algas primitivas que surgiram no pla- neta Terra há aproximadamente 3,5 bilhões de anos atrás. São consideradas como os primeiros organis- mos que faziam fotossíntese. Clasto: fragmento de rocha que foi transportado por diferentes processos sedimentares, vulcânicos ou biológicos. Crinóides: grupo de organismos aquáticos que vivem em sua maioria fixos em rochas ou no fundo do mar. Hoje em dia os crinóides são mais raros que no pas- sado, onde seus fósseis provam que eles possuíam uma grande diversidade. Depósitos carbonosos: camadas de rocha formada pela compactação de grandes quantidades de maté- ria orgânica por um longo período de tempo. O car- vão mineral é extraído dos depósitos carbonosos. Esfenófitas: são plantas que habitam preferencial- mente áreas úmidas e se caracterizam por possuir folhas pontiagudas saindo de um único caule verti- cal. São consideradas um fóssil vivo, já que estão pre- sentes no Planeta Terra há muito tempo. Exemplo: cavalinha. Esporos: estruturas muito pequenas, na maioria das vezes invisíveis a olho nu, responsáveis pela repro- dução de algumas plantas chamadas de briófitas e pteridófitas, além de fungos e algas. Estratigráfico: referente ao ramo da geologia chama- do de estratigrafia que estuda a sequência de cama- das das rochas procurando investigar as suas condi- ções de formação. Eucariontes: organismos com células dotadas de nú- cleo individualizado, protegido por uma membrana e com o citoplasma organizado. A maioria dos animais e plantas são compostos deste tipo de células. Extinto: referente a algum grupo de organismos que sofreu extinção, ou seja, deixou de existir no ambien- te porque todos os componentes deste grupo morre- ram. As extinções são parte normal na evolução dos seres vivos. Fóssil: restos ou vestígios de seres vivos preservados nas rochas. São utilizados para o estudo da vida no passado, assim como para a datação das rochas que os contém. A paleontologia é a ciência que estuda os fósseis. Geocronologia: ramo da geologia que estuda os mé- todos de datação para avaliar as idades das rochas e eventos geológicos. São utilizados métodos de da- tação relativa a partir da relação entre as camadas de rocha e os fósseis contidos nelas, como também os métodos absolutos identificando as mudanças químicas nos minerais das rochas para sua datação. Geologia: ciência que estuda o Planeta Terra, sua composição, estrutura e os seus processos formado- res. As rochas representam o principal material de estudo dos geólogos. Geossítio: lugar conhecido por possuir formações de rochas interessantes sob o ponto de vista didático, científico ou turístico. Tem como elemento principal o patrimônio geológico. Gimnospermas: grupo de plantas terrestres que pos- suem sementes nuas, ou seja, suas sementes não são protegidas por um fruto como é o caso das angios- permas. Exemplos de gimnospermas atuais: Pinhei- ros e Araucárias. Grão de Pólen: estrutura de reprodução de certas plantas cujo papel é levar o material genético do ór- gão masculino ao órgão feminino. De forma geral, são pequenos e arredondados. História geológica: processos e eventos geológicos que influenciaram a evolução do Planeta Terra desde a sua formação. Hominídeos: família dos grandes primatas ao qual pertence a espécie humana (Homo sapiens sapiens), além dos Gorilas, Chimpanzés e Orangotangos. 50
  • 51. 51 Homo sapiens sapiens: espécie de hominídeos cujos integrantes possuem as mesmas características dos humanos atuais. Iceberg: bloco de gelo que se desprende de uma geleira e flutua pelo oceano levado pelas correntes marinhas. Lacustre: provém de lago que é uma área onde se acu- mula quantidade variável de água. Esta água é prove- niente de rios, da chuva, ou mesmo de uma nascente próxima. Os lagos geralmente se formam em regiões baixas onde a água se deposita facilmente. Lagunar: provém de laguna que é uma área onde se acumula água e apresenta algum tipo de ligação com o mar. As lagunas estão geralmente no litoral, sepa- radas do mar por rochas, areias ou recifes. A água da laguna é normalmente salobra. Licófitas: um dos primeiros grupos de plantas que surgiu no Planeta Terra. São pequenas e se diferen- ciam de todas as outras plantas por possuírem folhas com um único veio vascular. Licopódios: são plantas pequenas do grupo das Pteri- dófitas, considerado um dos primeiros vegetais que surgiram no Planeta Terra. Estas plantas se reprodu- zem pela dispersão de esporos. Litoestratigrafia: é o ramo da estratigrafia que estuda a formação das camadas de rochas presentes numa região e como elas estão empilhadas. Matéria orgânica: são partes e restos de algum or- ganismo vivo como pedaços de plantas e animais, ou mesmo a matéria que deriva de um ser vivo. Já se apresenta em estado de decomposição. Microfósseis: fósseis de organismos com tamanhos muito pequenos que são estudados com auxílio de lentes de aumento como a lupa e o microscópio. São o foco de estudo da micropaleontologia. Modelo geográfico: reconstituição de como estavam os continentes em determinado período de tempo. Vale lembrar que os continentes se movimentam de- vido à movimentação das placas tectônicas. Multinervado: referente a folhas que apresentam vá- rias ranhuras vistas a olho nu em sua estrutura. Paleoambiente: ambiente do passado inferido atra- vés dos estudos dos fósseis e sua relação com o meio físico da época. A caracterização de paleoambientes é comum em estudos de paleontologia. Paleobotânico: cientista especializado em paleobotâ- nica cuja área de atuação é o estudo de vegetais fós- seis sob todas as formas conhecidas de fossilização nas rochas. Paleoecológico: provém da palavra paleoecologia que é o ramo da paleontologia voltado ao estudo das rela- ções de organismos fósseis e seus ambientes de vida no passado geológico. Paleogeográfico: provém da palavra paleogeografia que é o ramo da paleontologia que descreve a geogra- fia física de determinada área no passado geológico ou o estudo de sucessivas mudanças físicas no pla- neta durante o tempo geológico. Paleontologia: ciência que descreve e ajuda a enten- der o passado do Planeta Terra através do estudo dos fósseis e as formações de rochas que os contém. Paleontólogo: cientista com formação superior em biologia, geologia ou áreas afins que analisa a vida do passado do Planeta Terra através do estudo dos fósseis. Palinologia: é a ciência que estuda os grãos de pó- len, esporos e outros organismos que possuem pa- rede orgânica resistente a ácidos. Uma das áreas de atuação da palinologia é na paleontologia, quando palinomorfos fósseis são estudados e características de sua dispersão, constituição e período de vida são analisados. Palinomorfo: são os componentes estudados pela pa- linologia. Podem ser grãos de pólen e esporos de plan- tas, pequenos organismos marinhos, fungos e algas. Normalmente são muito pequenos para serem vistos a olho nu, por isso em trabalhos palinológicos são uti- lizados microscópios para as análises. Rocha sedimentar: rocha constituída através da acu- mulação de sedimentos transportados pela água, vento ou gelo ao longo do tempo. Adquire o aspecto maciço de rocha após os sedimentos ficarem com- pactados por um longo período de tempo. Seção estratigráfica: tipos de rochas que apresen- tam-se empilhadas em determinado afloramento. O estudo da seção estratigráfica informa como era o ambiente quando estas rochas foram formadas. Tafonomia: ramo da paleontologia que investiga os processos de preservação do organismo desde a sua morte até ele se transformar em um fóssil. Tétrade: arranjo de quatro elementos. Os esporos são formados em tétrades nas estruturas reprodutivas das plantas e acabam se separando na sua dispersão para formar novas plantas. Trilobitas: organismos marinhos extintos que habi- tavam os oceanos na era paleozoica, há milhões de anos atrás. Hoje são encontrados fossilizados em ro- chas de vários lugares do mundo. Turfeira: zona muito úmida e ás vezes alagada com grande quantidade de matéria orgânica em decom- posição, formando um solo orgânico. Muitas das tur- feiras de antigamente se transformaram em depósi- tos de carvão mineral.
  • 52. 52 BIBLIOGRAFIA E LEITURAS RECOMENDADAS Carvalho, I.S. (2011). Paleontologia. 3ª edição. Rio de Janeiro: Editora Interciência, v. 3. 448p. Coimbra, J.C.; Lemos,V.B.; Souza, P.A.; Schultz, C.L.; Iannuzzi, R. (2004).Antes dos Dinossauros. 1ª edição. Porto Alegre: Editora da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, v. 1. 91p. Holz, M.; Ros, L.F. (2000). Paleontologia do Rio Grande do Sul. 1ª edição. Porto Alegre: CIGO/ UFRGS, v. 1. 397p. Iannuzzi, R.;Vieira, C.E.L. (2005). Paleobotânica. 1ª edição. PortoAlegre: EditoradaUniversidade Federal do Rio Grande do Sul. 167p. Iannuzzi, R.; Scherer, C.M.S.; Souza, P.A.; Holz, M.; Caravaca, G.;Adami-Rodrigues, K.;Tybusch, G.P.; Souza, J.M.; Smaniotto, L.P.; Fischer, T.V.; Silveira, A.S.; Lykawka, R.; Boardman, D.R.; Barboza, E.G.(2006). Afloramento Morro do Papaléo, Mariana Pimentel, RS-Registro ímpar da sucessão sedimentar e florística pós-glacial do Paleozóico da Bacia do Paraná. In: Winge, M.; Schobbenhaus, C.; Berbert-Born, M.; Queiroz, E.T.; Campos, D.A.; Souza, C.R.G.; Fernandes, A.C.S. (Edit.) Sítios Geológicos e Paleontológicos do Brasil (SIGEP). Disponível em www.unb.br/ ig/sigep/sitio101/sitio101.pdf. Press, F.; Siever, R.; Grotzinger, J.; Jordan, T.H. (2006). Para entender a Terra. 4ª edição. Bookman. 656p. Teixeira, Toledo, Fairchild; Taioli (2000). Decifrando a Terra. Oficina de Textos, 624p. | | | | | | |
  • 53. 53
  • 54.
  • 55. Composto com os tipos Questa e Titillium, Impresso na Gráfica XXXXX, Porto Alegre, RS, miolo em papel Couche Fosco (LD) Matte 115g e capa em Supremo 250g.
  • 56. 1cm Cordaites hislopii 1cm Asterotheca sp. Uma antiga área de mineração deixou para trás alguns paredões rochosos que parecem simplesmente camadas de pedras empilhadas. Entretanto, o olhar minucioso dos paleontólogos revela que estas rochas carregam uma rica história de uma floresta que cobriu parte do Rio Grande do Sul há milhões de anos atrás. A partir de impressões de folhas e caules, marcas de sementes e grãos de pólen fossilizados nas finas camadas das rochas, os cientistas foram capazes de conhecer um pouco da vegetação que existiu ali. Além disso, a descoberta do sítio paleobotânico no Morro do Papaléo ajudou os cientistas a escreverem parte da história geológica da América do Sul e a entender as condições ambientais existentes há milhões de anos. Este livro apresenta de uma forma simples a história paleoambiental e paleontológica do Morro do Papaléo e ressalta a importância da sua preservação. MORRO DO PAPALÉO SÍTIO PALEONTOLÓGICO