1. Apostila de Estudos
Amazônicos 6º ano
Geografia
139 pag.
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2. 1
A PRÉ-HISTÓRIA DA AMAZÔNIA
A arqueologia é uma ciência surpreendente. Senão vejamos: sua finalidade é a produção de
conhecimento através do estudo de objetos, cujas referências encontram-se quase sempre no
passado (a palavra arqueologia vem do grego antigo – archeologia – e quer dizer: archeo =
antigo; logia = estudo; isto é, estudo do antigo.). Por outro lado, esses mesmos objetos têm por
origem a cultura produzida pelas sociedades humanas. Ou seja, a metafísica da arqueologia é
extremamente subjetiva já que lida com conceitos de tempo, no entanto seus objetos, especi-
almente aqueles provenientes da cultura material, são bastante concretos. É desse diálogo en-
tre a leitura subjetiva do tempo e a leitura objetiva da produção cultural do homem, que é
gerado o conhecimento arqueológico.
Mas esta não é a única peculiaridade da arqueologia. Ela também surpreende pela capacidade
de despertar a imaginação de leigos e curiosos. Quem nunca imaginou o passado? Quem nunca
questionou suas origens? Pois bem, tanto esta curiosidade quanto estas questões são tão an-
tigas quanto o próprio homem. É a velha pergunta: de onde viemos, quem somos, para onde
iremos? Isto dá margem a diferentes abordagens, sejam elas religiosas, científicas ou mesmo
especulativas. Por isso, pessoas leigas gostam de opinar sobre nossas origens e acabam por
desenvolver pseudociências, como por exemplo aquelas que defendem as origens extraterres-
tres das altas culturas pré-históricas, ou a origem fenícia de algumas civilizações americanas.
Arte rupestre no interior de caverna
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3. 2
Porém, o único ponto em comum entre a pesquisa leiga e
as pesquisa controlada e sistemática dos arqueólogos é a
vida de aventuras, riscos e descobertas.
A literatura e especialmente o cinema sabem muito bem
tirar proveito deste último aspecto da arqueologia. Filmes
como “A Múmia” e “Indiana Jones”, por exemplo, sem
manter qualquer compromisso com a realidade, são cheios
de aventuras, que cativam e divertem o público.
Mas o que se entende por arqueologia científica? Antes de
mais nada vamos esclarecer o seguinte: a História do Bra-
sil não começa com a conquista das Américas pelos euro-
peus. Nem mesmo com o início da colonização portuguesa.
Muito antes disto (na verdade milhares de anos antes) o
Brasil já existia, mas enquanto um imenso território sem
fronteiras políticas definidas, colonizado por centenas de
povos com línguas, etnias e costumes diferentes. Esses po-
vos, de mesma origem genética, mais precisamente, mon-
goloides provenientes do nordeste asiático, chegaram aqui
há mais de 10.000 anos.
Dizem até que nem mesmo eles teriam sido os primeiros.
Há quem defenda que os primeiros habitantes do que hoje
conhecemos como Brasil, foram povos pleistocênicos, pro-
venientes do sudeste da Ásia, mas de origem negroide.
Com isso, é até possível que a história do Brasil tenha co-
meçado bem antes da formação do mundo Ocidental e te-
nha se consolidado quando os povos mongoloides holocê-
nicos, finalmente substituem os primeiros habitantes ne-
groides ao se adaptarem com sucesso às nossas florestas
úmidas.
Ora, o estudo da Arqueologia, assim como o da História,
tem como pano de fundo a sucessão temporal. Mas en-
quanto a História estuda acontecimentos que contam com
documentos escritos (e hoje gravados, filmados, digitali-
zados e etc.), os objetos de pesquisa da arqueologia não
necessitam desses tipos de documentos para serem estu-
dados.
Por conta disto, diz-se que a História do Brasil começa com
a chegada dos portugueses em 1500, porque só a partir
de então são produzidos documentos escritos que relatam
os acontecimentos históricos a nós relacionados. Por conta
disso, tudo que aconteceu aqui antes de 1500 chamamos
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4. 3
de Pré-história. A Pré-História Brasileira, por sua vez, teve início quando o homem chega aqui,
isto talvez, uns 50.000 anos atrás, como indicam datações provenientes de sítios localizados
em São Raimundo Nonato, no Piauí. Aliás, aqui como em qualquer outro lugar do planeta, a
Pré-História começa quando o Homo sapiens sapiens aparece, fato que só acontece 60 milhões
de anos depois da extinção dos dinossauros e há apenas 100.000 anos atrás.
Entretanto, durante muito tempo foi comum a ideia de que sociedades de caçadores-coletores
seriam tão básicas e primitivas, que não teriam influência no surgimento e desenvolvimento
de civilizações, principalmente na Amazônia que durante muito tempo foi considerada como
uma região hostil à civilização, por ser uma área rudimentar e com baixa densidade demográ-
fica. Para muitos historiadores, somente quando a humanidade fosse capaz de domesticar as
plantas para satisfazer suas carências, é que teríamos as condições de formar sociedades agrí-
colas sedentárias, e isso é o que as levaria à civilização. A ocupação humana da Amazônia
inicia-se há pelo menos 12.000 anos, mas há quem acredite que essa ocupação seja mais
antiga. Arqueologicamente falando, o que se tem constatado é que a colonização da Amazônia
foi realizada por grupos de caçadores-coletores, que não eram nada primitivos. Diferentes par-
tes do que hoje consideramos como Amazônia brasileira já eram habitadas, como por exemplo,
a Serra dos Carajás, a bacia do rio Jamari e o baixo rio Negro próximo a onde se situa a cidade
de Manaus. Entre os padrões encontrados nos sítios arqueológicos dos caçadores-coletores
amazônicos, os constituídos por objetos típicos estariam na base de formação das culturas
agricultoras posteriores. O que hoje se sabe é que a diversidade ecológica na Amazônia e muito
rica e ampla e que as sociedades nativas não eram passivas de limitações ambientais pois, há
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5. 4
evidências que os ecossistemas eram explorados de maneira adequada às características am-
bientais, e isso se dava desde o início do holoceno.
Há também que considerar a grande variabilidade geográfica dentro da bacia amazônica – na
cobertura vegetal, na distribuição de espécies animais, na precipitação, na fertilidade do solo,
na química das águas e na temperatura - que tem implicações importantes para o processo de
ocupação humana da região. Os dados obtidos em diferentes partes da Amazônia mostram que,
de fato, a floresta tropical foi ocupada antes do advento da agricultura, ou seja, por populações
com economias baseadas em caça, pesca e coleta.
Dessa forma, é incorreto dizer que há um único padrão de organização social e política para as
populações pré-coloniais, pois à medida que avançam as pesquisas, se nota que a variação de
formas de vida no passado, talvez tenha sido maior que as da atualidade.
HISTÓRIA DA OCUPAÇÃO DA AMAZÔNIA
A primeira fase da longa história do povoamento humano na Amazônia começa praticamente
junto com a formação da floresta que conhecemos hoje. Apesar de ainda não terem sido en-
contrados vestígios concretos da presença humana na Amazônia durante o período compreen-
dido entre 20.000 e 12.000 a.p. (antes do presente) foi, provavelmente, neste período que
os primeiros grupos humanos provenientes da Ásia e Oceania chegaram de sua longa migração
até a América do Sul. Eram grupos nômades de caçadores-coletores que perseguiam as grandes
manadas de animais.
Rotas utilizadas pelos primeiros humanos em seu deslocamento para a Amazônia
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6. 5
PRIMEIROS HABITANTES
A Bacia Amazônica ocupa mais da metade do Continente Sul-
americano, e está distribuída entre vários países dos quais o ter-
ritório maior corresponde ao Brasil. Apesar de já existirem, desde
1970, dados esparsos que levaram a se levantar hipóteses sobre
a ocupação da Amazônia por bandos de caçadores arcaicos, foi
somente a partir da década de 1990 que maiores evidências o
demonstraram. Os achados, no Pará, das grutas do Gavião e de
Piquiá, em Carajás, descobertas em 1985 e estudadas por ar-
queólogos do Museu Paraense Emílio Goeldi, e da Caverna da Pe-
dra Pintada, em Monte Alegre, também descoberta por pesqui-
sadores do mesmo museu e posteriormente escavada pela ar-
queóloga estadunidense Anna Roosevelt, demonstraram, sem
dúvida, a existência de ocupações pré-históricas muito anteriores
ao estabelecimento das culturas tradicionais amazônicas de hor-
ticultores de floresta tropical.
Caverna da Pedra Pintada em Monte Alegre - Pa
Pode-se considerar a emer-
gência da agricultura como
um processo coevolutivo no
qual seres humanos e plan-
tas desenvolveram uma de-
pendência mutua que tornou
a vida de ambos impossível
sem a presença do outro. A
mandioca é um bom exem-
plo: foi domesticada na
Amazônia e atualmente é
consumida em larga escala
pela América Latina, Caribe,
África e Ásia.
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7. 6
O processo de domesticação das plantas se originou nas populações sedentárias das planícies
aluviais da Amazônia e que, depois, teriam sido difundidas para outras áreas.
E possível que os primeiros habitantes vivessem em um meio-ambiente muito diferente do
atual com aumento de temperatura e a ampliação das florestas. As populações que produziam
cerâmicas estavam situadas há mais de 7.000 anos ao longo dos grandes rios, e é provável
que eles fossem agricultores, que praticassem o manuseio de algum tipo de planta, e com o
passar dos anos desenvolvessem um princípio de cultivo de raízes como a mandioca, esse sis-
tema se melhorou com o passar dos anos, mas é utilizado ainda hoje pelas populações da Ama-
zônia. As maiores contribuições dos povos indígenas da América foram à domesticação de
diversas plantas que são usadas e consumidas por todo o planeta.
No processo de domesti-
cação de plantas e ani-
mais, há locais que são
classificados como cen-
tros ou lugares ou onde
esses processos inicia-
ram, enquanto que ou-
tras áreas são conside-
radas receptoras. A
Amazônia é considerada
como um desses centros
de domesticação há uma
extensa lista além da
mandioca e da pupunha.
Geralmente esses cen-
tros podem ser identifi-
cados a partir dos vestígios paleobotânicos que são encontrados nos sítios arqueológicos esses
indícios indicam a ocorrência de espécies selvagens que tenham parentescos com as domesti-
cadas. Dentro das características da Amazônia e de acordo com as evidências botânicas e ge-
néticas, a bacia do alto Madeira foi o local de domesticação da mandioca e da pupunha. Há
fortes evidências da presença humana durante todo o Holoceno, e o alto Madeira talvez tenha
sido o local de origem das línguas Tupis. As técnicas de cultivo eram do tipo “de coivara”, “de
toco” ou de “corte e queima”, nessas roças o aspecto e de sujeira e desorganização e a vida útil
e bastante curta, pois a fertilidade do solo diminui bastante. Por causa desse padrão, alguns
estudiosos sugerem que os cultivos de coivara não eram possíveis de manter populações se-
dentárias, pela constante realocação. O resultado dessas práticas são os chamados solos mu-
latos: terras férteis próximas a sítios arqueológicos, nesses locais são encontrados bastantes
objetos como: machados lascados ou polidos de pequeno porte, restos de cerâmicas que são
vestígios de uma ocupação intensa.
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8. 7
Para alguns estudiosos, esses grupos
teriam sido agricultores que voltaram
ao modo de vida caçador-coletor por
causa do homem branco conquista-
dor, mais essa volta pode ser expli-
cada ou vista de outra maneira, a ideia
de que esses grupos tenham oscilado
entre caça, pesca e coleta, e a agricul-
tura seria mais uma manifestação
dessa estrutura.
Uma das características mais mar-
cantes da presença humana na pré-
história da Amazônia é a cerâmica,
cuja produção está entre a mais an-
tiga do continente, há indícios no
atual estado do Pará, no Maranhão e,
é provável que no litoral do Suriname
também existam objetos desse tipo.
Fora da Caverna da Pedra Pintada, em
Monte Alegre, os outros locais onde
existem cerâmicas antigas são os
Sambaquis, sítios arqueológicos com-
postos por terra e restos de conchas,
colinas artificiais locais de moradia,
mas que também funcionavam como
cemitérios, pois é comum e presença
de sepultamentos humanos. Os Sam-
baquis da Amazônia são menos estudados que os do Sul e do Sudeste há informações acerca
de sua distribuição pelo litoral do Amapá e a zona do Salgado no litoral do Pará, o baixo Xingu,
a região de Santarém e Itapiranga no Amazonas e o vale do Guaporé em Rondônia. Sabe-se da
existência dos Sambaquis nessas áreas, por causa da sua destruição para o fornecimento de
cal.
A Amazônia era então uma ampla extensão de savanas, com apenas algumas manchas de flo-
resta ao longo dos rios. Nesse ambiente proliferavam grandes animais como o mastodonte, a
preguiça gigante, o toxodonte, o tigre-dentes-de-sabre e diversos outros exemplares de mega-
fauna, os quais se supõe, serviam de base alimentar para os bandos de caçadores gregários e
cujos fósseis podem ser encontrados nos barrancos de muitos dos rios amazônicos, especial-
mente no Acre.
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9. 8
A CULTURA DE FLORESTA TROPICAL
Mudanças climáticas e ambientais, ocorridas entre 7.000 e 6.000 anos, levaram ao aumento
da temperatura e da umidade do planeta, fazendo com que as florestas se expandissem.
Os primeiros conquistadores teriam chegado à Amazônia através das áreas abertas, represen-
tadas especialmente pelos cerrados que cobriam seus baixos chapadões, ainda no final do
Pleistoceno, que na Amazônia significou um clima mais seco e menos quente. Com o aumento
da umidade e do calor, as florestas retomam parte do espaço ocupado por cerrados e outros
ecossistemas. Isto representou, por exemplo, o confinamento dos cerrados nas áreas onde o
solo era mais pobre em nutrientes. Por isto, as paisagens amazônicas onde hoje encontramos
o sistema de cerrado ou elementos típicos do mesmo, indicam que elas, além de originais, não
teriam sofrido modificações significativas em suas características fundamentais, nem mesmo
durante as oscilações climáticas registradas entre o final do Pleistoceno e início do Holoceno.
Deste modo, seria justamente nessas paisagens que encontraríamos os sítios arqueológicos
mais antigos da Amazônia, visto elas terem sido a referência e o caminho natural dos seus
primeiros habitantes. E não por coincidência, as datações mais antigas para a presença hu-
mana na Amazônia são justamente provenientes de áreas onde existem elementos de cerrado,
incluído aí as datações dos sítios em grutas de Carajás, localizados nas bordas dos platôs co-
bertos por uma vegetação de canga, onde sobressaem espécimes de cerrado e de caatinga.
Preguiça gigante, um dos exemplares da megafauna que habitavam a Amazônia pré-histórica.
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10. 9
A presença de artefatos líticos polidos com icono-
grafias comuns, como muiraquitãs e estatuetas são
encontrados por diferentes locais, o que indica a
ocorrência de formas de contato que associaram di-
ferentes povos em um contexto maior. A partir
dessa época, se comprovam conflitos armados e
isso é confirmado pelas armações de defesa encon-
tradas no alto rio Negro e no alto Xingu. A ocupação
humana na Amazônia pré-colonial não foi um pro-
cesso regular e crescente. Ela foi caracterizada por
períodos de estabilidade e outros de grandes mu-
danças. As populações estavam envolvidas em re-
des políticas, econômicas e sociais muito amplas,
fato que tem sido mostrado pelos registros arqueo-
lógicos. A partir de 2000 anos atrás são encontra-
das no Alto rio Negro e no Alto Xingu estruturas de-
fensivas de sociedades guerreiras. A partir do ano
1000, fortes mudanças climáticas foram respon-
sáveis diretas pela expansão de grupos de língua
tupi, pois o aumento pluviométrico expandiu as áreas férteis da região, possibilitando uma
agricultura de melhor qualidade.
Os fatos acontecidos com o clima em 2005 dão conta de como pequenas mudanças podem ter
consequências desastrosas para este ecossistema, naquele ano a falta de chuva prejudicou o
nível dos rios da bacia amazônica, houve mortandade de peixes e muitas doenças. Por esses
episódios então é possível relacionar as mudanças climáticas ocorridas a partir do ano 1000
a.C com as modificações que ocorreram na arqueologia da Amazônia. Nesse contexto, o au-
mento das chuvas e a expansão da floresta criam condições para os modos de vida sedentários
e por consequência a adoção da agricultura.
Começava então uma segunda fase do povoamento humano da Amazônia, na qual as popula-
ções passaram a contar com recursos alimentares mais diversificados e novas formas de or-
ganização social surgiram. Essas novas práticas socioculturais, por volta de 5.000 anos atrás,
deram origem à chamada Cultura de Floresta Tropical, caracterizada por grupos que pratica-
vam uma agricultura ainda incipiente, complementada pela caça, pesca e coleta de frutos e
sementes da floresta. A partir dessa nova organização social, os grupos pré-históricos amazô-
nicos passaram também a fabricar cerâmica e a ocupar alguns locais por períodos mais pro-
longados. Com isso, deixaram grandes sítios arqueológicos que testemunham seu floresci-
mento por toda a Amazônia. A partir do surgimento da Cultura de Floresta Tropical, a ocupação
humana da Amazônia alcançou o estágio de alta diversificação que os europeus encontraram
ao começar a exploração da grande floresta.
Muiraquitã
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11. 10
Para entender as estratégias de sobrevivência dos grupos pré-históricos amazônicos, há que
se distinguir dois ecossistemas diferenciados: a várzea e a terra firme. A várzea corresponde
às planícies inundáveis pelos rios que nascem nos Andes e que são ricos em nutrientes; já na
terra firme predominam solos pobres e rios com poucos nutrientes, conhecidos na região como
“rios da fome”, provenientes dos escudos da Guiana e do Brasil dos quais o mais significativo
é o Rio Negro. As áreas de várzea contam com maiores recursos alimentares embora dependam
de níveis inseguros de inundação. Entretanto, a terra firme, que apresenta solos menos férteis,
é também menos vulnerável a mudanças climáticas. Um complexo sistema de adaptação eco-
lógica e de relações intertribais levou os homens das várzeas e das terras firmes amazônicas
a criar mecanismos de subsistência que permitiram o desenvolvimento de culturas inéditas e
originais como as de Marajó, de Santarém ou do Amapá, para citar algumas das mais signifi-
cativas.
VISÃO NEGATIVA
Até pouco tempo, havia uma visão negativa so-
bre o meio ambiente amazônico, principalmente
por falta de pesquisas científicas. Acreditava-se
que, durante a Pré-História, a Amazônia não foi
capaz de desenvolver uma cultura complexa, a
exemplo dos Andes e da Mesoamérica. Divul-
gava-se a ideia de que a região era um vazio de-
mográfico devido à enorme acidez do solo que,
por sua vez, não permitia uma grande produtivi-
dade agrícola. Acreditava-se, ainda, que todos
os artefatos de civilizações pré-históricas en-
contrados eram oriundos de outras regiões em Ossada em sítio arqueológico na Amazônia
Mata de várzea e Mata de Terra firme
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12. 11
função das constantes imigrações, comuns nessa fase da história da humanidade já que as
populações eram nômades.
SÉCULO X A.C.
Os registros de pesquisas nas áreas da antropologia, arqueologia e etno-história desenvolvidas
desde o século XIX, na América e na Amazônia, permitem-nos afirmar que as civilizações com-
plexas mais antigas, da pré-história, surgiram entre os séculos XXV a.C. e X a.C. nas regiões
Andinas e Mesoamericanas. Com relação à Amazônia, as civilizações complexas só surgiram
por volta do século X a.C.
Era comum, ainda, afirmar que, devido ao surgimento tardio das civilizações complexas na
Amazônia, a sua ocupação pré-histórica ocorreu do Oeste para o Leste Amazônico, e o desen-
volvimento dos cacicados complexos teriam sido originados nos Andes. Mas, graças às pesqui-
sas feitas por Domingos Ferreira Pena, João Barbosa Rodrigues, Charles Hart, Eduardo Góes
Neves, Betty Megers, Anna Roosevelt, André Prous e Pedro Ignácio Schmits, a orientação leva-
nos para outra direção: a ocupação pré-histórica da Amazônia originou-se do Leste para o
Oeste, e os cacicados complexos surgiram nas antigas sociedades ceramistas do Oriente Ama-
zônico (ou marajoara).
A OCUPAÇÃO PRÉ-HISTÓRICA DA AMAZÔNIA BRASILEIRA
Não existe um quadro consensual, entre os pesquisadores antropólogos e arqueólogos, sobre a
periodização da ocupação pré-histórica da Amazônia. Isso em função das poucas pesquisas
realizadas nessas primeiras fases de ocupação humana da Região. Por isso, os cientistas fize-
ram uma periodização provisória, assim organizada:
A) PRIMEIRA FASE: PALEOINDÍGENA.
B) SEGUNDA FASE: ARCAICA.
C) TERCEIRA FASE: PRÉ-HISTÓRIA TARDIA.
A pré-história da Amazônia vai desde uma ocupação paleoindígena, ocorrida acerca de 11.200
anos a.p. (antes do presente: expressão usada para datação de períodos arqueológicos; o ano
de 1950 é a data inicial do Presente), até a extinção dos cacicados complexos, a partir da
primeira metade do 2º milênio da Era Cristã.
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13. 12
FASE PALEOINDÍGENA
A população era pouco numerosa, dispersa, nômade e organizada socialmente em bandos frou-
xos. Os bandos da América do Sul, apesar de serem da mesma época dos da América do Norte,
possuíam suas particularidades.
Enquanto os paleoindígenas da América do Norte caçavam animais de grande porte como mas-
todontes, bisões, cavalos e elefantes antigos e etc. Os da América do Sul preferiam moluscos,
plantas e animais de pequeno porte.
Acredita-se que a ocupação paleoindígena da Amazônia, que teria acontecido por volta de
9.200 a.C., era baseada na coleta de frutas, na caça e na pesca; que se desenvolveu para uma
cultura de pescadores e coletores de moluscos. Isso pode ser comprovado através dos restos
alimentares que foram encontrados na caverna da Pedra Pintada, em Monte Alegre, no estado
do Pará.
Apesar das pontas de lanças, encontradas na caverna da Pedra Pintada, que sugerem os seus
usos em caça de grandes animais, especialmente de grandes peixes, não indicam uma especi-
alização na caça desse tipo, mas sim na caça e coleta generalizada.
Pontas de lanças encontradas nas proximidades de cavernas amazônicas no período paleoindígena
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14. 13
FASE ARCAICA
O homem do período arcaico
buscava novos recursos ali-
mentares nas savanas, nas es-
tepes, no litoral e nos lagos. A
caça é diversificada; amplia-
se a coleta animal e vegetal; a
experimentação e o conheci-
mento acumulado levam à do-
mesticação das plantas e de
animais. Pode-se considerar a
emergência da agricultura
como um processo coevolutivo
no qual seres humanos e plan-
tas desenvolveram uma de-
pendência mutua que tornou
impossível a vida de ambos
sem a presença do outro. A mandioca é um bom exemplo: foi domesticada na Amazônia e
atualmente é consumida em larga escala pela América Latina, Caribe, África e Ásia.
Por volta de 6000 a. C., as populações estabelecidas em áreas produtivas ao longo do rio
Amazonas começam a fabricar cerâmica. Entre 2000 e 1000 a.C., desenvolveu-se uma ocu-
pação estável de horticultores de raízes (mandioca e etc.), produtores de cerâmica com deco-
ração incisa e com apêndices zoomorfos modelados, às vezes com pintura geométrica vermelha
e branca.
Foram descobertos e identificados diversos sambaquis (depósitos artificiais de conchas) do
delta em região do baixo Amazonas, costa da Guiana e foz do Orinoco, através dos quais foi
possível inferir-se uma transição da subsistência baseada na caça e coleta para uma agricultura
incipiente, e do estágio pré-cerâmico inicial ao cerâmico.
FASE DA PRÉ-HISTÓRIA TARDIA
A Fase pré-história Tardia (1000 a.C. a 1000 d.C.) pode ser caracterizada pelo surgimento,
ao longo dos principais braços e deltas dos rios, de sociedades indígenas com grau de comple-
xidade bastante significativo na sua economia, na demografia e nas organizações políticas e
sociais. Tinham domínios culturais tão grandes ou até mesmo maiores que os de muitos Esta-
dos pré-industriais do Velho Mundo, tais como as civilizações minoica e micênica e os Estados
africanos como Ashanti e Benim, ou as do vale do Indo, na Índia. Essas sociedades indígenas
são denominadas pelos antropólogos de cacicados complexos.
Fragmentos de cerâmicas encontrados em Parintins, Amazonas, da
fase arcaica
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15. 14
Dados arqueológicos e etno-históricos revelam
indícios da presença dessas sociedades indíge-
nas complexas ao longo das várzeas dos rios
Amazonas e Orinoco; nos contrafortes orientais
dos Andes; e na região costeira do Caribe.
Especificamente na Amazônia, por volta de
1000 a.C., desenvolvem-se as culturas dos
construtores de tesos (aterros artificiais constru-
ídos em áreas inundáveis), as quais foram suce-
didas por sociedades complexas e hierarquiza-
das, associadas a uma indústria de cerâmica
muito refinada. Tais sociedades seriam exempli-
ficadas pela Marajoara, na ilha do Marajó, e pela
Tapajônica, na região de Santarém.
As sociedades da fase Marajoara eram constitu-
ídas por cacicados rivais, que em situações espe-
ciais, principalmente as religiosas, e quando uma delas se impunha culturalmente sobre as
outras, mantinham alianças entre si. Eles mantinham contato através de uma extensa rede de
trocas.
A sociedade tapajônica era hierarquizada e as mulheres tinham papeis importantes na religião
e na política, essas informações foram obtidas junto a missionários católicos que conviveram
com eles e também são garantidas pelas informações arqueológicas existentes.
Tesos – elevações construídas na ilha de Marajó
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16. 15
EXTINÇÃO DOS CACICADOS
Por cerca de dois mil anos, o meio ambiente forneceu a sustentação das sociedades complexas,
no entanto, com a chegada dos europeus, tudo retrocedeu. Começaram as fases da conquista e
da colonização; em nome de uma civilização cristã e de uma incessante busca de poder e ri-
queza material, os europeus destruíram os cacicados – diretamente com as guerras e a escra-
vidão; indiretamente, através do contágio por doenças até então desconhecidas – fazendo suas
populações desaparecerem completamente da maior parte das várzeas.
Com o início da colonização se verifica um processo de mudança entre as sociedades que ha-
bitavam a região amazônica, grande parte das terras indígenas hoje estão localizadas distantes
do rio Amazonas, estão no contorno da bacia em lugares como o alto Xingu, o alto rio Negro, o
planalto das Guianas e a bacia do alto Madeira. Os outros locais como a ilha de Marajó e os
próximos aos rios Solimões e Amazonas estão atualmente ocupados por descendentes dessas
sociedades.
Os índios sobreviventes internaram-se na floresta, formando sociedades tribais independen-
tes, provavelmente retornando aos padrões que antecederam ao surgimento dos cacicados:
subsistência baseada em plantas amidoadas e proteína animal e os estilos artísticos principal-
mente zoomórficos.
Estimativa de como seria uma tribo dos “tempos” dos cacicados
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17. 16
Nas atuais sociedades indígenas da Amazônia, em geral, não se pode encontrar nada que lem-
bre as sociedades complexas do Período da Pré-história Tardia, a não ser alguns vestígios
materiais, e o registro na memória
das crônicas dos conquistadores dos
séculos XVI e XVII.
O que a arqueologia mostra é que a
base das sociedades indígenas era a
família, o grupo, eles sempre se or-
ganizaram no cultivo das raízes como
a mandioca, na caça, pesca e coleta
de frutas e mel silvestre. Essas ca-
racterísticas lhes conferem condi-
ções para sobreviver apesar de todas
as adversidades que o “homem
branco conquistador e culturalmente
superior” lhe impõe diariamente,
seja derrubando as matas, seja polu-
indo as águas dos rios.
Resumindo, e no estado atual do co-
nhecimento, é possível o estabeleci-
mento de sequências sobre a ocupa-
ção humana na Amazônia que abran-
jam desde as primeiras levas de ca-
çadores-coletores nômades presen-
tes nas várzeas e na terra firme
desde o fim do Pleistoceno.
Posteriormente, já no Holoceno, apa-
recem ocupações sedentárias ou
semi-sedentárias de horticultores de raízes e conhecedores da manufatura de uma cerâmica
simples, assentados principalmente nas terras baixas de várzea. A esse período pertencem os
abundantes e extensos sambaquis fluviais que se encontram desde Manaus à costa do Pará e
que apresentam estágios diversos de ocupação, a partir do quinto milênio a.C. com intensivo
aproveitamento dos recursos marinhos. Num terceiro período que pode ter começado em torno
do século 5 d.C. e chega até o contato europeu, formaram-se sociedades mais complexas e
hierarquizadas com chefias ou cacicados; construíram-se grandes aterros onde situam-se as
aldeias tanto para proteger-se das enchentes como por medida defensiva e onde também en-
terravam os mortos. As cerâmicas cerimoniais e funerárias dessas sociedades são policromas
e profusamente decoradas com relevos e apliques antropomorfos e zoomorfos de grande com-
plexidade. Seu estágio cultural pode se situar no chamado período “formativo” das altas cultu-
ras andinas.
Urna funerária encontrada no Marajó
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18. 17
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19. 18
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20. 19
OS GEOGLIFOS – MARCAS DO PASSADO AMAZÔNICO
Povos que construíram figuras misteriosas no Acre, há 2 mil anos, faziam 'manejo agroflores-
tal', promovendo grandes alterações na floresta, sem desmatá-la.
OS GEOGLIFOS
Geoglifos são vestí-
gios arqueológicos
representados por
desenhos geométri-
cos (linhas, quadra-
dos, círculos, octógo-
nos, hexágonos, en-
tre outros), zoomor-
fos (animais) ou an-
tropomorfos (formas
humanas), de gran-
des dimensões e ela-
borados sobre o solo,
que podem ser total-
mente e melhor ob-
servados se vistos do
alto, em especial,
através de sobrevoo.
Geoglifos podem ser
encontrados em vá-
rias partes do mundo.
Os mais conhecidos e
estudados estão na América do Sul, principalmente na região andina do Chile, Peru e Bolívia.
Descobertos pelo pesquisador Ondemar Dias em 1977, os geoglifos do Acre estão sendo me-
lhor estudados a partir da ação de vários pesquisadores.
DESCOBERTA DE 450 GEOGLIFOS NA AMAZÔNIA AJUDA A DESVENDAR MISTÉRIO
Um novo estudo sobre as misteriosas figuras revelou que no oeste da Amazônia pré-colombi-
ana, uma população considerável tirava seu sustento da floresta, transformando-a intensa-
mente. Apesar disso, por realizar um manejo sustentável das espécies, as intervenções gera-
vam pouco desmatamento.
Um dos geoglifos estudados pelos cientistas, no leste do Acre
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21. 20
Nos últimos 40 anos, os cientistas têm localizado, no leste do Acre, um grande número de
geoglifos, que foram revelados graças ao gradual desmatamento na região, de acordo com os
autores da pesquisa.
Pelo menos 450 geoglifos foram descobertos até hoje, ocupando uma área equivalente a 13
mil quilômetros quadrados. A maior parte deles foi produzida há cerca de 2 mil anos, dizem os
cientistas. Alguns têm centenas de metros de diâmetro.
Toda aquela porção do extremo ocidental do Acre era coberta por floresta primária até os anos
1980 e vem sendo desflorestada para a criação de gado. Metade da cobertura florestal na
região já se perdeu.
Por ironia, não fosse o aumento da ocupação humana no Acre, as centenas de geoglifos pré-
históricos hoje catalogados continuariam ocultos pela mata. A floresta evidentemente esconde
muitos outros. Os geoglifos se espalham pelos vales dos rios Acre, Iquiri e Abunã, entre Rio
Branco e Xapuri, e também ao norte de Rio Branco, na direção do Estado do Amazonas.
A função dos geoglifos até hoje per-
manece um mistério. Dificilmente
eram cidades, já que os arqueólogos
encontram muito poucos artefatos
nas escavações. Pelo formato, os ci-
entistas também descartam que as
construções tivessem finalidade de-
fensiva. De acordo com os autores
do estudo, o mais provável é que
eles só eram utilizados ocasional-
mente, com objetivos rituais.
Pelo que se sabe, os geoglifos foram
feitos por índios Aruaques que mo-
ram na Amazônia séculos atrás para
servir de campo para rituais religio-
sos.
“Quando a gente faz as medidas
percebe que eles são muitos cons-
tantes. Eles não tinham instrumen-
tos de metal, faziam provavelmente
com pás de madeira, mas tinham
precisão matemática”, afirma De-
nise Schaan, da UFPA (Universidade
Federal do Pará), e coordenadora
das pesquisas dos geoglifos.
A descoberta dos geoglifos contra-
diz a ideia de que a Amazônia era
Stonehenge amazônico
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22. 21
um ecossistema intocado antes da colonização, já que havia modificações humanas na floresta
- mas também revela que os povos locais conseguiam fazer isso sem destruir a floresta.
O fato de que esses locais ficaram escondidos por séculos sob a floresta desafia a ideia de que
a Amazônia era um ecossistema intocado. O objetivo das pesquisas é saber se a região já tinha
florestas quando os geoglifos foram construídos e até que ponto o impacto dessas construções
tiveram impacto na paisagem.
DESVENDANDO O MISTÉRIO
Os geoglifos do Acre eram um espaço de comunicação espiritual e de ritual com a natureza,
afirma uma equipe de cientistas da Universidade de Helsinki, na Finlândia, e da USP.
Um novo estudo coman-
dado por pesquisadores
brasileiros e finlandeses
traz uma interpretação al-
ternativa.
Esses recursos de paisa-
gem antropogênica funci-
onariam como dispositi-
vos sistêmicos para se
envolver e viajar dentro
do mundo das entidades
invisíveis, por um lado; e,
de outro, mantinham os
sentimentos de unidade,
continuidade e pertenci-
mento ao lugar no mundo
dos humanos.
A pesquisa indica que os
geoglifos não eram usa-
dos por todos, mas ape-
nas pelos indivíduos das
comunidades especializa-
das em rituais ou intera-
ções com seres vivos
além dos humanos.
Segundo o estudo, tam-
bém eram importantes
para as comunidades in-
dígenas em certas etapas da vida – “as variedades dos padrões geométricos eram usadas como
Sitio Jacó Sá
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23. 22
portas ou caminhos para atingir conhecimento de elementos distintos do entorno que os rode-
ava”.
De acordo com as especialistas em antropologia ancestral, a visualização e interação ativa com
elementos vivos da natureza era importante e construtiva para as comunidades indígenas.
INSPIRAÇÃO ANIMAL
A razão pela qual os desenhos respondem a padrões geométricos específicos ainda não está
clara.
Para os pesquisadores, há inspiração em desenhos e formas encontradas em peles de animais.
Esses padrões também são observados nos dias de hoje em cerâmicas, tecidos e joias confec-
cionados pelos indígenas modernos.
Ainda de acordo com as teorias de arte visual, acredita-se que os padrões geométricos podem
ajudar as pessoas com fertilidade, resistência, conhecimento e poder.
Até hoje índios de tribos no Acre continuam protegendo esses lugares. Ao contrário de outros
moradores da região, evitam usar esse espaço para atividades que consideram mundanas,
como agricultura e moradia.
Esse comportamento, assinalam as pesquisadoras, reforçam ainda mais a ideia de origem sa-
grada dos desenhos.
HÁBITOS EM ANÁLISE
“A gente tem feito pesquisas para
fazer datações dessas construções,
para ver o que eles comiam, o que
plantavam, e para ver os tipos de ati-
vidades que tinham. A gente busca
isso nas escavações, e já temos des-
coberto algumas coisas: em um de-
les, por exemplo, havia um resto de
construção na entrada. Encontramos
restos de panelas de cerâmica, algu-
mas bem mais elaboradas. Se desco-
briu algumas coisas de plantação, e
eles comiam milho”, explica Schaan.
A maioria dos desenhos foi feita em
lugares abertos, próximo a palmei-
ras. “Os índios tinham crença nessa
coisa de espíritos que habitam as
palmeiras, e essas vegetações são
características desde a época dos geoglifos”, diz.
Segundo a pesquisa, formas geométricas reproduzidas no chão
foram inspiradas na pele dos animais
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24. 23
RECONSTITUIÇÃO FLORESTAL
Utilizando métodos de última geração, os cientistas reconstruíram as características da vege-
tação nos últimos 6 mil anos, nos dois sítios escolhidos. "Nós abrimos uma série de buracos
até 1,5 metro dentro e fora dos geoglifos e, do fundo deles, para extrair amostras do solo",
afirmou Jennifer Watling, da USP.
"Nessas amostras, analisamos os fitólitos (fósseis microscópicos de plantas). Cada tipo de
planta possui um fitólito diferente, o que nos permite descobrir qual era a vegetação que havia
ali primitivamente", explicou a cientista.
Além dos fitólitos, os pesquisadores também estudaram a quantidade de carvão vegetal en-
contrada nas amostras - para estimar a quantidade de floresta queimada no passado - e medi-
ram os isótopos estáveis de carbono, que indicam o quanto a vegetação era aberta ou fechada.
"Isso nos permitiu estimar se ali, há milhares de anos, havia floresta densa ou uma vegetação
semelhante à savana", afirmou.
Embora os geoglifos sejam formados por grandes baixos relevos escavados na terra, espa-
lhando-se por vastas áreas e causando grande alteração na paisagem, o estudo mostrou que
havia pouca remoção da floresta. Desmatamentos temporários eram feitos apenas para a cons-
trução dos geoglifos.
"Apesar do número enorme e da densidade de geoglifos na região, agora temos certeza de que
as florestas do Acre nunca haviam sido desmatadas tão extensivamente como ocorreu nos anos
recentes", disse a pesquisadora.
O impacto na floresta era grande, mas não o desmatamento, segundo ela. "Em vez de queimar
partes da floresta - para construir geoglifos ou para cultivar alimentos - esses povos transfor-
mavam seu ambiente concentrando espécies de árvores economicamente importantes, como
palmeiras e castanheiras", explicou Jennifer.
"DESIGNERS" DA AMAZÔNIA
Segundo a pesquisadora, o estudo traz evidências de que, no Acre, a biodiversidade de algumas
partes da floresta atual pode ser um legado dessas antigas "práticas agroflorestais".
"As florestas que estão lá hoje em dia têm pelo menos 6 mil anos. Mas a partir de 4 mil anos
atrás, elas começaram a ser alteradas para favorecer as plantas úteis. Isso é uma evidência de
que a biodiversidade atual foi produzida por essas populações", disse.
Segundo Jennifer, a evidência de que a floresta foi manejada pelos indígenas muito antes do
contato com os europeus não pode ser usada como justificativa para o uso da terra destrutivo
e insustentável que é feito atualmente.
"Em vez disso, essas evidências devem servir para mostrar que foi possível, no passado, um
regime de manejo que não levava à degradação da floresta. O estudo destaca também a impor-
tância do conhecimento indígena na busca de alternativas sustentáveis do uso do solo", decla-
rou.
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25. 24
GEOGLIFOS NA AMÉRICA LATINA
Os desenhos do Acre estão
numa lista para serem de-
clarados Patrimônio Mun-
dial da Humanidade pela
Unesco. Mas existem ou-
tros lugares com padrões
geométricos milenares.
A América Latina é um
grande foco dessas forma-
ções ancestrais, segundo
registros oficiais.
Alguns dos mais conheci-
dos são as linhas de Nazca,
localizadas a 400 quilôme-
tros ao sul de Lima, capital
do Peru.
Há também os geoglifos de
Chug-Chug, no deserto
chileno do Atacama, que
concentram uma elevada
concentração de desenhos
geométricos no chão que, ao que tudo indica, são muito mais antigos.
Fora da América do Sul, os mais famosos estão nos Estados Unidos, Reino Unido e Austrália.
Uma das preocupações agora é garantir a preservação do patrimônio na Amazônia e atrair
turistas para conhecer o patrimônio histórico.
“Muitos deles estão em fazendas de gados e áreas de questão de plantações de cana, e não há
cuidados de preservação. Eles poderiam servir para o turismo, mas não há estrutura. Não há
também um sítio preparado para visitação”, finaliza Schaan.
As linhas de Nazca, no Peru, cobrem uma área de aproximadamente
450 quilômetros quadrados
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26. 25
A CONQUISTA DA AMAZÔNIA PELOS EUROPEUS - UMA HISTÓRIA FEITA DE MITOS E DE-
SAFIOS.
A história da região tem
sido, da chegada dos primei-
ros europeus à Amazônia até
os dias atuais, uma trajetória
de perdas e danos e nela, a
Amazônia tem sido vítima
daquilo que ela tem de mais
especial — sua magia, sua
exuberância e sua riqueza.
Os primeiros conquistadores
e colonizadores não se con-
formaram em ver aquela
terra, que lhes parecia ser o
paraíso terrestre, ocupada
por povos que julgavam bár-
baros, primitivos, rudes,
preguiçosos e, possivel-
mente desprovidos de uma
alma.
As ações à conquista e à ma-
nutenção da Amazônia - hoje
patrimônio incontestável do povo brasileiro - constituem uma das mais belas páginas da his-
tória da humanidade. No curso, que durou quase 200 anos, sobraram coragem, determinação,
desprendimento e incontáveis sacrifícios. Homens, em sua grande maioria, mas também mu-
lheres e crianças; brancos, negros e, principalmente, índios, enfrentando dificuldades e ven-
cendo desafios, levaram a tarefa gigantesca de desbravar tão grande e desconhecida região.
Predominava na imaginação do Velho Mundo que os limites geográficos terminavam onde a
visão humana não podia atingir, dada a estrutura tecnológica que se dispunha. Assim, havia
um pré-conceito de que existia um local em que o mundo tinha fim. Com a ação das expedições
marítimas, e os indícios já suspeitos, deparou-se com um mundo mais vasto ainda, que a mente
humana não poderia imaginar. Terras e pessoas foram inseridas nos processos de descobertas.
Na região oceânica entre o Pacífico e o Atlântico havia um continente, que se estendia como
um desafio para o navegador europeu. Os espanhóis entregaram-se nesta tarefa de adentrar
na nova região, seguidos logo pelos portugueses, que ávidos pelo desejo de riquezas e glórias,
mostraram-se, ambos, audaciosos, no intuito único de agradar às realezas a que serviam. A
região amazônica inseriu-se neste contexto de descobrimentos, sendo disposta como uma
“margem” do Novo Mundo. As notícias advindas do encontro com o Novo Mundo fizeram surgir
no pensamento europeu uma série de mitologias, sendo duas as mais citadas: a do Eldorado,
“A conquista do Amazonas”. Óleo sobre tela de Antônio Parrei-
ras,1907
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27. 26
cidade encantada, erguida em ouro, e o das Amazonas. Com o adensamento dos contatos e a
introdução no território descoberto, o imaginário europeu começou a transformar-se, e aquilo
que se mesclava entre a realidade material e a realidade imaginada passa a distinguir-se.
O Eldorado
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32. 31
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33. 32
A crônica de Carvajal revelou para o mundo que sociedades populosas e bem organizadas es-
tavam presentes ao longo rio Amazonas. Entretanto, durante muito tempo, pesquisadores du-
vidaram da objetividade desses relatos, considerando-os exagerados. Essa informação de que
a Amazônia pré-colombiana era densamente povoada somente foi confirmada recentemente
por meio das pesquisas arqueológicas. Além disso, as lendas do Eldorado e das Amazonas tor-
naram-se importantes para a região amazônica na época da conquista, pois atiçaram o inte-
resse de outros conquistadores europeus por riquezas e belezas na região.
Entretanto, aos poucos, durante o século 16, os aventureiros espanhóis foram desistindo de
conquistar o vale do Amazonas, provavelmente por não terem encontrado ouro e outros metais
e porque já tinham conquistado a riqueza dos incas no Peru. Além disso, os Andes eram uma
barreira para chegar às cabeceiras do Amazonas. Restaram na região apenas os missionários
religiosos. Os portugueses, por outro lado, estavam dispostos a avançar as fronteiras e desres-
peitar o Tratado de Tordesilhas.
A luz da racionalidade permitiu ao descobridor idealizar estratégias para garantir a posse do
território, no preceito clássico da posse pelo uso (uti possidetis).
A partir do século XV, com a expansão europeia, os países europeus iniciaram um processo
expansionista em direção ao Atlântico. Coube a Portugal e à Espanha o pioneirismo na expan-
são marítima, devido ao fato de essas nações:
1) Serem as primeiras a centralizarem o poder nas mãos de um rei;
2) Possuírem uma posição geográfica privilegiada;
3) Terem acesso ao desenvolvimento tecnológico (caravela, bússola e astrolábio) existentes.
As divergências entre Portugal e Espanha sobre as novas ro-
tas de navegação estabelecidas no Atlântico foram solucio-
nadas por meio da assinatura de dois tratados: o Tratado da
Bula Inter Coetera (1493) e o Tratado de Tordesilhas
(1494). Pelos termos da Bula Inter Coetera, o “novo mundo”
seria dividido entre Portugal e Espanha. Isto assegurara a
Portugal o direito de Padroado, haja vista que a palavra da
santidade papal tinha força legal a que nenhuma nação cristã
oferecia restrição de qualquer natureza. No entanto, os ter-
mos da Bula desagradaram à Coroa Portuguesa. Para soluci-
onar esse impasse, foi negociado o Tratado de Tordesilhas,
que ampliava os domínios portugueses sobre vasta área do
continente descoberto.
A União Ibérica (1580-1640) favoreceu o processo de ex-
pansão portuguesa pela região Amazônica. Portugal e Espa-
nha permaneceram unidos até que o Tratado de Tordesilhas
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34. 33
perdeu sua força com a restauração da autonomia portuguesa para conduzir o processo de
ocupação da Amazônia, o que provocou modificações nas fronteiras e nos domínios desses
povos. Com o Tratado de Madri (1750), a Espanha reconhece o direito português na Amazônia
antes conquistada pelos espanhóis.
Inicialmente, os portugueses
realizaram expedições pelo lito-
ral norte do Brasil, seguindo os
passos de Pinzón, embora
ainda não conseguissem con-
quistar o território. Com a aber-
tura desse caminho, outros eu-
ropeus passaram a participar
da expansão ultramarina. En-
tretanto, os espanhóis não ti-
nham desistido de ocupar o vale
amazônico, até porque tinham
direito (até então) à área pelo
Tratado de Tordesilhas. Outras
expedições ocorreram pelo rio
Amazonas, de Quito à direção
oeste-leste.
Dali partiram os navegadores
espanhóis Gonçalo Pizarro,
Francisco Orellana e seus com-
panheiros (1539-1541) em
expedição pelo rio Amazonas,
sendo essa a primeira grande
viagem que os espanhóis realizaram na região, navegando em toda extensão do rio.
Com esse feito, Francisco Orellana conseguiu o título de Capitão e Governador das Terras da
Amazônia, com direito de colonizar a região. Em 1545, Orellana fez a 2ª viagem para a Ama-
zônia, com 1500 homens, porém não obtendo êxito nessa expedição. Tendo como referência
a cidade de Quito, os espanhóis não desistiram e realizaram nova expedição à Amazônia, ga-
rantindo a posse para os domínios da Coroa Espanhola, a qual visava à conquista das minas de
Potosí, na região andina.
Em 1560, o governo espanhol do Vice-Reinado do Peru, organizou uma expedição comandada
pelo militar Pedro de Ursúa, em direção ao Eldorado, sendo Pedro morto pelos seus compa-
nheiros, passando a comandar o aventureiro Lopo de Aguirre, que alcançou o delta do Amazo-
nas, em 1561, sendo essa a última viagem espanhola pelo Amazonas, não permitindo ainda
Representação do Tratado da Bula Inter Coetera
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35. 34
sua ocupação. No entanto, outros europeus tinham interesse nas riquezas da Amazônia: holan-
deses e ingleses procuraram ampliar seus domínios, das Antilhas até a América, visando à
colonização.
Também expedições holandesas (1598), no litoral
amazônico, estabeleceram feitorias, com 1600 ho-
mens em Orange e Nassau, nas margens do rio Xingu.
Os ingleses, em 1611, já tinham estabelecido feitorias
no delta do Amazonas, com suas primeiras tentativas
de ocupar a região, em busca de exploração mercantil
de suas riquezas naturais: as drogas do sertão. Essas
primeiras ações dos ingleses e holandeses foram de
iniciativa particular, ao contrário de Portugal e Espanha
que tinham aval dos reinos. Mais tarde, os governos de
Inglaterra e Holanda assumem os empreendimentos
em águas e terras da região, passando a organizar a
Companhia de Navegação e Colonização dos territórios
da Amazônia. Ingleses e Holandeses, mesmo não tendo
muito êxito, pois foram expulsos pelas tropas portu-
guesas, mas conseguiram, de alguma forma, se insta-
lar nas Guianas, uma vez que não havia muito interesse
de Portugal em colonizar a região, isto acabou favore-
cendo a penetração de holandeses e ingleses na Amazônia (1580-1640).
O Tratado de Zaragoza, também refe-
rido como Capitulação de Zaragoza, foi
um tratado de paz entre a Espa-
nha e Portugal assinado em 22 de
abril de 1529 por D. João III e pelo im-
perador Carlos I de Espanha, na cidade
Aragonesa de Zaragoza.
O tratado delimitava as zonas de in-
fluência portuguesa e castelhana
na Ásia para solucionar a chamada
"Questão das Molucas", em que ambos
os reinos reclamavam para si aquelas
ilhas, considerando-as dentro da sua
zona de exploração estabelecida no Tra-
tado de Tordesilhas de 1494. O conflito
nascera em 1520, quando as explora-
ções de ambos os reinos atingiram
o Oceano Pacífico, dado que não fora es-
tabelecido um limite a leste.
O tratado de Tordesilhas
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36. 35
Além desses, os franceses também tentaram conquistar além do Rio de Janeiro e Maranhão
onde já haviam penetrado, deram início à ocupação do território da Guiana, procurando fixa-
rem-se no Amapá, na Capitania do Cabo Norte. Desta forma, os franceses penetraram em ter-
ritório da Amazônia, fundaram fortificações militares e núcleos coloniais que deram origem à
Macapá (1764), cujas origens revelam as ações de defesa portuguesa contra a invasão fran-
cesa na região amazônica. No Pará, antes da fundação de Belém pelos portugueses, chegaram
até a fundar uma aldeia em Caeté (hoje Bragança), além de dominarem completamente o Ma-
ranhão.
O ciclo de navegações para o “novo mundo” tinha como principal objetivo, principalmente dos
portugueses, garantir o domínio nas águas e nas terras do Novo Mundo. Estava-se numa nova
era, cujos desdobramentos dar-se-iam pelos séculos XVI e XVII, com a vinda de franceses,
holandeses e ingleses, aventurando-se em regiões desconhecidas. O Tratado de Tordesilhas
evidenciara que os portugueses já tinham conhecimento sobre o continente sul-americano.
AS PRIMEIRAS EXPLORAÇÕES
A terceira fase da ocupação humana da Amazônia corresponde ao povoamento europeu da re-
gião. O escrivão da expedição, Gaspar de Carvajal, fez os primeiros registros escritos sobre a
floresta amazônica e sua diversidade de ambientes e culturas narrando à existência de mulhe-
res guerreiras nas margens do grande rio, a Amazonas, são responsáveis pelo nome que hoje
o identifica. Seguiram-se outras expedições espanholas com finalidade exploratória, até que
franceses tentassem, no norte do Brasil, estabelecer a França Equinocial.
Fundação de São Luís, capital da França Equi-
nocial, no início do século XVII Francisco de Orellana
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37. 36
O primeiro europeu a pisar as terras amazônicas,
foi o espanhol Vicente Pinzón (em janeiro de
1500), que percorreu a foz do Amazonas, co-
nheceu a ilha de Marajó e surpreendeu-se em ver
que se tratava de uma das regiões mais intensa-
mente povoadas do mundo então conhecido. Fi-
cou admirado vendo a pororoca (fenômeno natu-
ral que fez com que mudasse o curso de navega-
ção) e maravilhado com as águas doces do mais
extenso e mais volumoso rio do mundo que foi
chamado por ele de Mar Dulce. Foi bem acolhido
pelos índios da região. Mas, apesar de fantás-
tica, sua viagem marca o primeiro choque cultu-
ral e o primeiro ato de violência contra os povos
da Amazônia: Pinzón aprisiona índios e os leva
consigo para vender como escravos na Europa.
Com a chegada de Cabral em 1500 a coroa por-
tuguesa expandia seu domínio na nova Terra,
fazendo Salvador como um centro, onde as ex-
pedições partiam para as Índias e para o sul até
o Rio da Prata, isto faz com que a conquista da Amazônia retarde, pois, os espanhóis seus
“donos”, de acordo com o Tratado de Tordesilhas não deram muita importância ao território
amazônico.
Vicente Pinzón
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38. 37
Apesar de seu caráter pioneiro, a expedição de Orellana não deixou outros frutos que fossem
duradouros. A região voltou a pertencer exclusivamente aos cerca de 5 milhões de índios (se-
gundo uma das estimativas existentes) que ali habitavam e que também haviam sido motivo
da admiração nos relatos de Carvajal, tal sua quantidade e organização. Muitas décadas se
passariam antes que novas investidas à região fossem realizadas.
COLONIZAÇÃO PORTUGUESA - OS FORTES E MISSÕES
Com a união das coroas espanholas e portuguesas, os espanhóis fazem o reconhecimento da
área com Francisco de Orellana e Pinzón, como também Pedro de Ursúa e Lopes de Aguirre,
mas não tem a pretensão de povoar, abrindo precedentes para invasores como franceses, ho-
landeses, irlandeses e ingleses, que fazem contato com os nativos e mantêm boas relações e
fundam fortificações por toda
a Amazônia.
Em 1612, um conquistador
francês, Daniel de La Touche,
Senhor de La Ravardièri, fun-
dou a cidade de São Luís do
Maranhão, estabelecendo ami-
zade com os índios Tupi-
nambá, no vale do rio Pará. Em
guerra contra os Camarapins,
os franceses subiram as águas
do rio Tocantins, derrotando os
Pacajá e Parissó.
Esse fato fez com que a Coroa
Portuguesa tomasse uma me-
dida para conter a presença de
estrangeiros que só poderia ser
feita, através de uma ocupação
militar que tivesse a função de
expulsar os invasores e cons-
truir fortificações para guardar o território, designou oficiais como Jerônimo de Albuquerque,
Diogo de Campos e Francisco Caldeira de Castelo Branco, que partiu para a Amazônia, no início
do século XVII, onde expulsou os franceses de São Luís, Maranhão e fundou o Forte do Presépio
em dezembro de 1615 e a cidade de Belém em 1616 no Pará, que marca o início da ocupação
portuguesa a Amazônia e a construção de outros fortes ao longo do rio Amazonas, Gurupi,
Pauxis (Óbidos), Tapajós (Santarém) e São José do Rio Negro (Manaus).
O Forte do Presépio que, além de proteger possíveis invasões estrangeiras por via fluvial e de
dar origem à atual cidade de Belém, serviu como base para o povoamento da Amazônia.
Forte do Castelo – Belém – Pa
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39. 38
Após a expulsão dos franceses e diante da violência dos portugueses, os índios Tupinambá,
aliados dos franceses, invadem a cidade de Belém (07/01/1619) e destroem várias edifica-
ções, comandados pelo Cacique Guaimiaba (Cabelo de Velho), provocando a morte de muitos
índios e a revolta dos luso-brasileiros. Na conquista da Amazônia, então fizeram os portugue-
ses suas guerras contra as populações nativas da região, quase sempre as exterminando e
subjugando-as ao seu domínio, embora devessem também guerrear contra os outros invasores
europeus: ingleses e holandeses, pela posse do território.
Vê-se que, a fundação de Belém, na embocadura do Amazonas, foi o primeiro importante passo
dos portugueses, pela posse da região, permitindo o controle da navegação fluvial do Amazonas
ao Oceano Atlântico, sendo considerada como uma “decisão acertada” dos conquistadores lu-
sos. Depois disso, os portugueses passaram a realizar uma série de expedições militares pela
região amazônica para expulsão não só dos ingleses holandeses, mas também de qualquer povo
estrangeiro que invada a região.
Era necessário alargar os domínios portugueses para oeste, para assegurar a exploração das
riquezas ocultas da floresta. Coube ao capitão Pedro Teixeira, em 1637, o comando da expe-
dição composta por cerca de duas mil pessoas, sendo a grande maioria índios. Apesar das
dificuldades enfrentadas, ela conseguiu estabelecer marcos de ocupação territorial portuguesa
ao longo do rio. Além da proteção contra outros europeus, os fortes também serviam para
estabelecer núcleos de povoamento a partir dos quais pudesse ser estabelecida a colonização.
Na Amazônia, os principais recursos explorados pelos portugueses foram a mão-de-obra indí-
gena e as drogas do sertão, especiarias de alto preço no mercado europeu.
Essas missões tiveram um apoio importante dos religiosos que tinham a função de catequizar
e melhorar o relacionamento do indígena com os portugueses.
A IMPORTÂNCIA DE BELÉM PARA A EXPLORAÇÃO.
A fundação de Belém foi de vital im-
portância para os portugueses, pois
dali partiu suas principais expedi-
ções com o intuito de conquistar o
território amazônico, além de estar
em uma posição estratégica, situada
bem na foz do Amazonas principal
porta de entrada para exploração do
território.
O Capitão Pedro Teixeira, a frente de
sua expedição, lançou-se para Oeste,
contra a correnteza, pela calha do rio
Amazonas, com a finalidade de reco-
nhecer e explorar a região e colocar
marcos de ocupação portuguesa, até
Fundação de Belém, obra de Theodoro Braga
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40. 39
aonde pudesse chegar. E assim foi feito. Valendo-se do conhecimento e da adaptação à selva
de muitos índios que compunham a tripulação, levou sua missão até Quito, na América Espa-
nhola. A expedição durou cerca de 2 anos, constitui feito memorável e de suma importância
para o reconhecimento da presença portuguesa na Amazônia. Foi o único navegador de sua
época a fazer o trajeto de ida e volta, saindo da foz para nascente e de volta a foz.
Muitas outras entradas e bandeiras foram empreendidas pelos luso-brasileiros à Amazônia,
seja em busca do tão sonhado "El Dourado", seja para colher as chamadas "drogas do sertão",
especiarias muito apreciadas à época.
AMAZÔNIA PORTUGUESA
O estabelecimento do Tratado de Madri e o início da administração de Marquês de Pombal em
Portugal, ambos ocorridos em 1750, marcaram uma nova fase na qual a Amazônia brasileira
foi, em linhas gerais, definida. Vale lembrar que, nessa época, o conhecimento que se possuía
do interior do continente americano ainda era muito impreciso. O Mapa das Cortes, elaborado
a pedido do rei de Portugal, serviu de base para as negociações do Tratado de Madri e possuía
forte distorção do curso dos rios que cortam as terras a oeste do Brasil. Essas distorções eram
propositais, puxando o traçado dos rios para leste, diminuindo artificialmente a área preten-
dida pelos portugueses – e cumpriram perfeitamente o objetivo de desorientar os negociadores
espanhóis. Não menos importante do que o Tratado de Madri para a inauguração de uma nova
fase da história amazônica foi a administração empreendida pelo Marquês de Pombal. Tão
logo subiu ao poder, ainda em 1750, Pombal pretendia tirar Portugal da situação de atraso
que experimentava frente às demais potências europeias e da dependência da Inglaterra, país
do qual recebia proteção contra a França e a Espanha. Pombal criou a Companhia Geral do
Comércio do Grão-Pará e Maranhão que deveria oferecer preços atraentes para as mercadorias
ali produzidas a serem consumidas na Europa, tais como cacau, canela, cravo, algodão e arroz.
Começou também a introduzir na Amazônia a mão-de-obra escrava de origem africana.
CRONOLOGIA DAS AÇÕES PORTUGUESAS NA AMAZÔNIA
• 1612: Pedro Teixeira e Gaspar de Freitas de Macedo afundam um “patacho holandês” para
impedir sua aproximação de Belém;
• 1623: Luís Aranha de Vasconcelos e Bento Maciel Parente guerrearam contra os ingleses e
franceses para destruir suas fortificações, ao longo do rio Amazonas;
• 1625: Bento Maciel Parente atacou e destruiu o forte holandês de Mariocay;
• 1627: Pedro Teixeira guerreou contra ingleses e holandeses para destruir os fortes de Man-
diutuba, Tilletille e Uarimuaca, no Xingu e Capary;
• 1629: Pedro Teixeira e Pedro Costa Favela conquistaram o forte inglês de Torrego na Ilha
de Tocuju;
• 1631: Jacome Raimundo de Noronha e Pedro da Costa Favela conquistaram o forte inglês
Phillippe, entre os rios Matapy e Ananirapucu;
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41. 40
• Pedro Baião de Abreu assaltou o forte inglês de Cumaú, próximo à fortaleza de Macapá;
• 1637 -1638: Pedro Teixeira, com 70 soldados e 1000 índios, ampliou o domínio português
até o rio Tapajós, do rio Amazonas até a povoação espanhola de Payamino;
• 1639: A Guarnição luso-
brasileira afundou o navio de
guerra holandês que desem-
barcava colonos e soldados
holandeses;
• 1648: A milícia portu-
guesa faz seu último ataque
destruindo as fortificações
militares dos holandeses,
próximo à Macapá.
Na imensa região de várzea,
localizada ao longo das mar-
gens do rio Amazonas, entre
os séculos XV e XVII, con-
centravam-se várias popula-
ções indígenas, nos afluen-
tes dos rios Tocantins,
Xingu, Tapajós, Negro, Ma-
deira e Branco. Fundações e
fortificações de conquista-
dores europeus surgiram
nessa área, provocando a
despovoação de inúmeras al-
deias indígenas, as quais fo-
ram sendo substituídas por
missões religiosas e aldea-
mentos ao lado de fortalezas
lusas que mantinham o sis-
tema colonial português na
Amazônia.
Até fins do século XVIII, con-
forme dados históricos da
Amazônia, os nativos da região estavam praticamente desaparecendo da Várzea Amazônica,
resultado do “descimento” dos índios através dos médios e altos cursos dos rios, expulsão pro-
vocada por colonos lusos e mestiços, durante o processo da conquista e começo da colonização
portuguesa na Amazônia.
Mapa das Cortes
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42. 41
AS AÇÕES DAS MISSÕES RELIGIOSAS
A colonização portuguesa no vale amazônico estava baseada em três pontos: comércio, aldea-
mento e fortalezas, sendo que os últimos garantiam as condições para o sistema colonial fun-
cionar na região, com práticas mercantilistas na venda de drogas do sertão, ação realizada pelo
índio destribalizado e aldeado sob comando das ordens religiosas. Através da catequização e
expansão do catolicismo, os missionários desestruturavam as sociedades indígenas, transfor-
mando os índios em cristãos a serviço da colonização portuguesa, atuando como carregadores,
canoeiros, remeiros, guerreiros, guias, intérpretes, domésticos, artistas, operários e coletores
de ervas. Entre as principais ordens que se fizeram presentes na Amazônia se destacam quatro
grupos: os Jesuítas, os Mercedários, os Franciscanos e os Carmelitas. Os conflitos entre os
jesuítas e os colonos, disputando a mão-de-obra indígena, provocaram a expulsão dos jesuítas.
A partir do século XVII e definitivamente no século XVIII pelas reformas pombalinas e a opo-
sição do Marquês de Pombal aos soldados de Cristo. Os índios “descidos” para as missões eram
‘alugados’ aos colonos pelos jesuítas que regulavam o valor dos serviços; por outro lado, os
colonos não lhe pagavam pelo trabalho dos índios e raramente os devolvia às missões, escra-
vizando-os ilegalmente por meio das “guerras justas” e “Tropas de resgate”.
OS REFLEXOS DA EXPLORAÇÃO
A história da Amazônia foi construída sob o desejo europeu de alargar as dimensões territoriais
e aumentar as posses a partir da exploração das riquezas naturais. Dentro deste enfoque bus-
cou-se demonstrar como a Amazônia passou de apenas ideia ou noção sobre o desconhecido,
para os desbravadores portugueses e espanhóis, a uma utilização de um planejamento de ações
para dominar a área descoberta, sendo que o elemento indígena esteve presente durante toda
a evolução dos acontecimentos. Os episódios narrados neste texto, esquecidos por diversas
vezes das crônicas nacionais, dão a contribuição da Amazônia para a história da sociedade
brasileira, apresentando um contexto de conflitos entre povos europeus e os nativos amazôni-
das, cujos resultados influenciaram nos atuais limites geográficos e traços culturais que apre-
sentamos.
Conquistada a custo de sofrimentos e sacrifícios, a Amazônia precisava agora ser mantida.
A história dos homens na Amazônia tem sido construída a partir de muitos conflitos: de um
lado, a visão paradisíaca criada pela magia dos mitos da região e sobre a região; de outro, a
violência cotidiana gerada pela permanente exploração da natureza e desencadeada pelos pre-
conceitos em relação a ambos — homem e natureza.
Ao longo de quatro séculos perdeu-se, muito da identidade original do homem e os referenciais
da vida anterior, face aos sucessivos e constantes choques culturais. Hoje, o homem da Ama-
zônia procura reconstruir, sem cessar, uma nova identidade e uma nova forma de vida que lhe
possibilitem harmonizar uma nova cultura com a conservação da natureza, os benefícios e o
usufruto do progresso técnico e científico do mundo moderno.
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43. 42
O aumento da destruição da natureza é alarmante. Nas últimas décadas, enormes massas ve-
getais, que incluem madeiras nobres, vêm sendo queimadas impiedosamente. De 1500 a
1970, ou seja, em 470 anos, apenas 2% de toda a floresta amazônica havia sido destruído;
em apenas 30 anos (1970 a 2000), segundo o INPE, 14% foi devastado. Trata-se de um
desastre sem precedentes contra o maior patrimônio natural do planeta Terra, contra a econo-
mia e a sobrevivência dos habitantes naturais — caboclos, ribeirinhos, índios e outros. E, pode-
se mesmo dizer, contra o futuro da região e das novas gerações que precisarão dela para viver.
FUNDAÇÃO DE BELÉM: EXPLORADORES, ÍNDIOS E RELIGIOSOS.
A CONQUISTA DO PARÁ
Na época da conquista do Pará, Espanha e Portugal formavam a União Ibérica (desde 1580).
Para o Brasil, naquela fase de expansão territorial, a união peninsular foi benéfica, pois Por-
tugal e Espanha, transformadas em uma só nação, veio a tornar sem efeito o Tratado de Tor-
desilhas, facilitando, desse modo, a penetração interiorana.
A conquista do Norte foi determinada pelo rei de
Espanha e Portugal. Visava, inicialmente, desa-
lojar, do Maranhão, os franceses que ali haviam
criado a França Equinocial. E em 1614, Jerô-
nimo de Albuquerque segui à frente da tropa,
para cumprir aquela missão. Em 1615, já com
Alexandre de Moura liderando as tropas lusas,
houve a capitulação definitiva. Após a vitória,
Moura nomeou Albuquerque governador do Ma-
ranhão e encarregou o militar e explorador por-
tuguês Francisco Caldeira de Castelo Branco (-
1619) de conquistar o Pará.
A 25 de dezembro de 1615 a expedição partiu
da baía de São Marcos, composta do pata-
cho Santa Maria da Candelária, do carave-
lão Santa Maria das Graças e da lancha
grande Assunção. Compunha-se de 150 ho-
mens, 10 peças de artilharia, pólvora e muita
munição e mantimentos. O piloto-mor era Antônio Vicente Cochado, o francês Charies servindo
de guia. As três embarcações eram comandadas por Pedro de Freitas, Antônio da Fonseca e
Álvaro Neto. A viagem sem incidentes durou 18 dias. E a 12 de janeiro de 1616 os portugue-
ses aportaram na baía de Guajará, chamada pelos nativos de Paraná-Guaçu.
Localização do estado do Pará no mundo
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44. 43
TEXTO E CONTEXTO
O capitão André Pereira, que participou da expedição que fundou o Forte do Presépio na cidade
de Belém em 1616, dá notícia desse sucesso ao Rei de Espanha.
“Primeiramente depois que ò capitaom maior, Alexandre de Moura deu fin no Maranhaom à ò
enemigo como fez, è tendo à terra pacifica, è povoadas as fortalezas como lhe pareceo neces-
sario, pos por obra mandar fazer este novo descobrimento do grande Rio das Amazonas, è pera
tambem se saver ò que avia no Cavo do Norte, conforme à ordem que pera isso levava do
Governador Geral do Brasil Gaspar de Souza; è asi mandou 150 homens em tres companhias,
è por capitaom mor dellas à Francisco Caldeira de castel branco em tres embarcazoens. Parti-
mos para esta jornada dia de Natal pasado, em que deu principio à esta era de 1616. ”
“Chegando no sitio à onde fizemos fortaleza por el Rey nosso senhor, que será 35 leguoas
pello Rio asima pera ò Sul, por parecer elle à ò capitaom mor bom sitio. ”
“Há neste Rio em todas as partes delle muito Gentio por extremo de diversas nazoens, ò mais
delle mui bem encarado sem barba, trazem os homens cabello comprido como molheres, è de
mui perto ò parecem de que pode ser nasceria o emgano que dizem das Amazonas; pois naom
há outra cousa de que à este proposito se pudesse deitar maom. ”
À nova conquista, Castelo Branco, dando vazão a seu amor por Portugal, deu o nome de Feliz
Lusitânia. O engenheiro-mor Francisco Frias Mesquita iniciou a construção da Casa Forte, lo-
calizada à margem esquerda da foz do Piri (hoje doca do Ver-o-Peso). Recebeu a denominação
de Forte do Presépio e em seu interior levantaram uma pequena capela, sob a invocação de N.
S. das Graças.
Além do Forte do Presépio outros foram também construídos para proteger as terras da Ama-
zônia da invasão de conquistadores ao longo do século XVII: Forte de S. Pedro de Nolasco (Con-
vento das Mercês, em Belém), Forte N. S. das Mercês da Barra, Forte S. Antônio de Macapá,
Casa Forte (origem da cidade de Ourém), Forte de N. S. de Nazaré, Forte da embocadura do rio
Tuerê, Forte do Rio Paru, Forte do Tapajós (futura Santarém) e o Forte do Pauxis (origem da
cidade de Óbidos).
TEXTO E CONTEXTO
A 2 de janeiro de 1639 Pedro Teixeira redigiu, em Quito, uma Relação da sua jornada Ama-
zonas acima, endereçada ao presidente da Audiência de Quito.
“Nesse grande sítio tem Sua Majestade uma fortaleza que chamam ‘O Presépio’, situada na
Cidade de Belém; dista do mar 25 léguas [e] fica na banda leste, numa ponta de terra firme
mui saudável e fertilíssima. (...) Está situada a dita fortaleza sobre uma grande enseada que
ali faz o rio, tendo à vista três caudalosos rios: o primeiro se chama Capim, o segundo Oscaza
[Acará? ], o terceiro Moysu [Mojú]. ”
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45. 44
“A cidade do Pará está ao sul em dois terços [de grau] menos alguns minutos. Os holandeses
têm chegado sondando [explorando] até o sítio de caça Juro [?], quatro jornadas inteiras acima
do Tapajós e têm feito muitíssimo esforço para povoá-lo. ”
O local escolhido por Castelo Branco para os portugueses se instalarem compreendia uma es-
treita faixa de terra confinada por um lado pela baía de Guajará e por outro por um grande
pântano, chamado pelos nativos de Piry.
A localização escolhida mantinha o núcleo naturalmente abrigado de um ataque pelo interior,
ao mesmo tempo em que permitia o controle da entrada da baía.
O surgimento do Forte do Presépio representou, assim, o marco da fundação da cidade. Em
função do reduzido número de pessoas envolvidas no ato de fundação, a cidade nasceria em-
brionariamente dentro do forte.
Em 7 de janeiro de 1619, os Tupinambás chefiados por Guaimiaba, Cabelo de Velha, revolta-
ram-se contra os portugueses, atacando o Forte do Presépio. Porém, o levante Tupinambá foi
desbaratado pelos luso-brasileiros.
TEXTO E CONTEXTO
A “Descriçam do Estado do Maranham, Para, Corupa, Rio das Amazonas” de Maurício de He-
riarte (1662).
XXI. A Cidade de Bellem, capitania do Gram Para, esta asentada sobre o famoso rio que se
chamam Para, 25. Legoas da Barra, cercada com 4 rios, que por hûa parte e outra a cingem:
que sam, Guama, Guajara, Capim, e Moju, que todos juntos desaguam no Gram Para.
A Praça D'Armas do Forte do Presépio, Hoje.
Artefatos Bélicos encontrados por arqueólogos
nos arredores do Forte. Balas de canhão e pedras
de pederneira.
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46. 45
Tem esta cidade hûa fortaleza, sobre o porto, bastante e defensível, com tres companhias de
infantaria. Tem Capitam mor, Ouvidor, Provedor, Amoxarife, e Escrivam real, que tudo se des-
conta da Fazenda de S. Majestade. Tem sette engenhos de fazer asucar. Seus moradores fazem
muito tabaco, he muy abundante de mantimentos da terra e frutas.
XXIII. Sam as terras do Para firmes, e melhores que as de Sam Luis, muy fertiles em dar fruto,
e todo o anno criam, porque todo anno chove: suposto que no veram nam há tanta a agoa. Sam
capazes de grandes povoações, por serem terras larguissimas, e de muitos Indios, que quando
foy povoada de Portuguezes, avia mais de 600. Povoações de Indios Tapinambas e Tapuias,
que vendo que eram poucos os Portuguezes, se levantaram contra elles, e mataram 222, sendo
seu Capitam mor Francisco Caldeira de Castello Branco: mas os q’ ficaram, com muito trabalho,
deram grandes guerras à os Indios, e destruíram a naçam Tupinamba, que dominava sobre a
outra naçam Tapuia. Morreram muitos Indios na guerra, e outros se retiraram pella terra den-
tro.
Terminada a construção do Forte do Presépio, o próximo passo dos portugueses foi a coloniza-
ção de Belém. Ergueram as primeiras casas.
A conquista do Grão-Pará pode ser dividida em quatro momentos. Em um primeiro momento,
ocorreu a luta contra os indígenas que visava não só desalojá-los, mas também que continuas-
sem a apoiar os franceses. Destacaram-se nessas lutas Mahias de Albuquerque e Manuel Pires
(que dizimaram as tribos localizadas nos sertões de Cumã e Tapuitapera), Diogo Botelho (que
arrasou a aldeia de Muju), Gaspar de Freitas (que lutou nas aldeias de Iguapé), Bento Maciel
Parente e Pedro Teixeira.
Em um segundo momento, os portugueses tinham como meta a luta contra os estrangeiros a
fim de evitar que os franceses, ingleses e holandeses dominassem o vale amazônico, onde já
haviam construído várias fortalezas. As principais: Forte de Nassau, construído pelos holande-
ses entre 1599 e 1600, próximo à foz do Xingu, destruído em 1623; Forte de Mandiatuba,
próximo a Gurupá, pertencente também dos holandeses, atacado em 1625 por Pedro Teixeira;
Forte de Maiocaí, também de holandeses, destruído por Luís Aranha e Bento Maciel.
Em um terceiro momento, houve a ação de religiosos na região, que foi muito importante para
a conquista espiritual na Amazônia. Com Castelo Branco, veio o padre Manoel Figueiredo de
Mendonça, que rezou a primeira missa em Belém e que foi depois nomeado o 1º Vigário do
Pará. Em 1617, aportavam os frades capuchos frei Antônio de Merciana, frei Cristóvão de
São José, frei Sebastião do Rosário e frei Felipe de São Boaventura. Em 1618, os franciscanos
capuchos, por ordem régia, ficaram responsáveis pela catequese indígena. Em 1621, a corte
concordava com a reivindicação do capitão Manoel de Souza Eça, no sentido de que fossem
enviados jesuítas ao Grão-Pará. Em 1626, era fundado, em Belém, o convento de Santo An-
tônio. Em 1639 foi criada a Missão do Maranhão e Grão-Pará da Companhia de Jesus (depois
de, no ano anterior, ser entregue aos jesuítas o empreendimento catequista). Neste mesmo
ano, aportavam em Belém os primeiros mercedários, que, em 1640, fundaram o convento
(onde hoje se localiza a Igreja das Mercês). Fundaram missões no Rio Negro, Urubu, Amatari,
Aniba e Uatumã. Em 1643 chegou o padre Antônio Vieira, que, deslumbrado com o lugar,
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47. 46
sentiu que a conquista espiritual da Amazônia ampliaria os domínios de Sua Majestade e da
região.
Missões jesuítas foram fundadas ao longo do rio Amazonas, do Negro e do Tocantins. Tiveram
participação importante Francisco Veloso e Manoel Pires. Em 1660, os jesuítas inauguraram,
em Belém, a Igreja de São Francisco Xavier (atual Santo Alexandre). Nessa fase, a conquista
espiritual estava, assim, dividida: jesuítas, mercedários e frades de Santo Antônio cuidavam
da catequese; os carmelitas e os frades da Piedade encarregavam-se da moralização interna
das conquistas. Em 1667, foi criado o Bispado do Maranhão. Em 1706, outra ordem vinha
atuar na região: a dos Franciscanos da Província da Conceição da Beira de Minho. No dia 4 de
março de 1719, o Papa Clemente XI, através da bula Copiosus in misericórdia, criou o Bispado
do Grão-Pará, sendo nomeado o 1º bispo, o Carmelita D. Frei Bartolomeu do Pilar.
Por fim, ocorreu a conquista do Rio Amazo-
nas. Na primeira metade do século XVII a
Coroa Portuguesa já havia determinado que
o Rio Amazonas fosse explorado até o Peru.
O explorador e militar português Pedro Tei-
xeira (1570-1641) fora nomeado coman-
dante por Jácome de Noronha, dando-lhe a
patente de capitão-mor da força expedicio-
nária e poderes de capitão-geral governador
do Estado. Os demais cargos e postos foram
ocupados por outras pessoas influentes:
mestre de campo, o capitão Antonio de
Azambuja; sargento-mor, Felipe de Matos
Cotrim; comandante das companhias de in-
fantaria, os capitães Pedro Baião de Abreu
e Pedro da Costa Favela.
A Bandeira saiu de São Luís, aportando em
Belém em julho de 1637. Na capital para-
ense, foram incorporados à expedição 70
soldados, além do capitão Domingos Pires
da Costa, o sargento Domingos Gonçalves e
Diogo Rodrigues, o cronista da viagem João
Gomes de Andrade, entre outros. No dia 28
de outubro de 1637, a expedição seguiu, de
Cametá, já com 45 canoas, conduzindo 87
militares, três civis e mais de mil caboclos paraenses. No dia 3 de julho de 1638, a expedição
atingiu o estuário do Rio Aguarico. Ali, Pedro Teixeira instalou um destacamento militar sob o
comando de Pedro Favela, com a assistência de Pedro Baião de Abreu. No dia 15 de agosto
atingiu a povoação de Payamino, longe 80 léguas de Quito.
Estátua em homenagem a Pedro Teixeira, em Canta-
nhede, sua cidade natal
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48. 47
A 16 de fevereiro de 1639, Pedro Teixeira deu início à nova jornada, desta vez de regresso a
Belém. Vários religiosos acompanharam-no como os padres Cristóvão de Acunã (que a respeito
escreveu O Novo Descobrimento do Rio das Amazonas) e Andrés de Artieda. Rumaram para
Belém, chegando à baía do Guajará a 12 de dezembro de 1639. Os limites da Amazônia por-
tuguesa tinham sido dilatados.
CHOQUE CULTURAL
A chegada dos portugueses a terras brasileiras em 1.500 colocou em contato duas culturas
notavelmente diversas. A sociedade europeia privilegiava o dinheiro, as relações mercantis e
o cristianismo. A sociedade indígena, nativa da América, valorizava a relação com a natureza,
o mito e a vida comunitária. Mais tarde vieram os africanos sob a condição de escravos.
Nesses 500 anos de história em comum, a ação dos europeus, somada à contribuição de ame-
ríndios e africanos, criou uma sociedade original nos trópicos. No entanto, isto teve o seu preço.
Para os ameríndios, ocorreu a destruição quase completa de sua cultura original e o extermínio
de povos inteiros.
Logo houve combates religiosos: a fé em um deus único (monoteísmo) foi imposta e a fé em
vários deuses (politeísmo) foi combatida. O europeu obrigava os índios a cobrir o corpo todo
por “decência”, com vestidos, e a inutilizar os adereços (enfeites). Além disto, desde o início
da conquista portuguesa no Brasil, dos litorais do Sul até o Maranhão, os portugueses estive-
ram em contato com povos que falavam diversos dialetos.
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49. 48
Os padres religiosos decidiram então unificar todos os dialetos da língua tupi numa língua
única, escrevendo gramática e dicionários. Na Amazônia, pela Carta Régia de 1689, a língua
geral, isto é, a língua tupi, tornou-se oficial e devia ser ensinada pelos padres até aos filhos de
colonos. Essa língua ficou conhecida como Nheengatu. No plano político-social, a alta mortali-
dade e os descimentos reduziram a população indígena, afastando a possibilidade de organi-
zação, em virtude da redução do poder político dos caciques.
A Companhia de Jesus foi a ordem religiosa que mais se destacou no Brasil colonial. Fundada
em 1534 pelo espanhol Inácio de Loyola para ser uma organização religiosa de combate às
“heresias” e aos “inimigos da fé”, a Companhia de Jesus incorporou o espírito da Contrarre-
forma.
No Brasil, os jesuítas chegaram em 1549, na comitiva chefiada pelo padre Manuel da Nóbrega.
Nos séculos XVII e XVIII, os jesuítas mantinham igrejas, paróquias, colégios e missões desde
Paranaguá (no atual estado do Paraná) até a região amazônica. Tanto por seu trabalho pastoral
e missionário quanto pelo papel político que exerciam, os jesuítas tiveram forte presença na
Igreja de Santo Alexandre. Antiga Igreja e Escola dos jesuítas do século XVIII no Pará. Belém, Pará.
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50. 49
vida social e cultural da colônia. Foi na implantação das missões junto aos indígenas que os
jesuítas mais se destacaram.
A função das missões era reunir grupos nativos em aldeamentos, promover sua conversão e
aculturação e evitar sua escravização. Os índios aldeados ou “reduzidos” eram considerados
protegidos, ou “livres”. Nos aldeamentos, onde isolavam os índios, os missionários os catequi-
zavam e faziam produzir.
ADMINISTRAÇÃO COLONIAL
Após a fundação de Belém, a nova desco-
berta ficou administrada por capitães-mo-
res subordinados ao Governo Geral do Brasil.
Não demorou muito para que o vasto territó-
rio fosse dividido e várias capitanias, doadas
a pessoas de bom grado. Assim, criaram sete
capitanias:
1 – Capitania do Pará – Tinha como cede Be-
lém e estendia-se da margem esquerda do rio
Acutipuru (Quatipuru), até o primeiro braço
do Rio Pará (Tocantins).
2 – Capitania de Caeté – Gaspar de Souza, e
mais tarde seu filho Álvaro de Souza, era o
donatário. Não tinha delimitação certa.
3 – Capitania de Vera Cruz do Gurupi – Per-
tencente a Feliciano Coelho de Carvalho, fi-
lho de Francisco Coelho e Carvalho, governa-
dor do Maranhão e Pará.
4 – Capitania de Cametá – Feliciano Coelho de Carvalho, perdendo a concessão de Vera Cruz
de Gurupi, conseguiu outra, localizada em terras banhadas pelo Tocantins e habitada pelos
índios camutás (1623). Em 1635, criou a vila Viçosa de Santa Cruz de Cametá.
5 – Capitania do Cabo do Norte – Pertencente a Bento Maciel Parente. Compreendia quase a
totalidade das terras do atual Amapá.
6 – Capitania da Ilha de Joanes – Pertencente a Antônio de Souza Macedo, abrangendo todo o
território da ilha do Marajó.
Padre jesuíta Antônio Vieira em gravura que repre-
senta o padre convertendo índios na Amazônia.
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51. 50
7 – Capitania de Gurupá – Criada a partir das ruínas do forte holandês.
Esse sistema de capitanias não foi muito benéfico para a região, sendo extinto e revertendo à
Coroa as antigas doações. Em 23 de setembro de 1623, as capitanias do Grão-Pará e Mara-
nhão se unificaram em um só Estado, tendo como sede a cidade de São Luís. Em 1652, Pará
e Maranhão separaram-se; dois anos depois voltando a se unificar. Em 1673 o governador
Pedro César de Menezes transferiu a sede do governo para Belém. Em 1688, a corte determi-
nou que a capital voltasse a ser São Luís. No entanto, em 1737 a sede governamental retornou
a Belém para, em 1752, o Pará ganhar novamente sua autonomia. Em 1815, as capitanias
gerais do Brasil foram transformadas em províncias. A Província do Grão-Pará, com capital
em Belém, possuía toda a superfície da Amazônia, já que a capitania do Rio Negro (atual Estado
do Amazonas), continuava a depender do Pará.
O Pará (e a Amazônia) era subordinada diretamente a Lisboa, desvinculado do resto do Brasil.
Somente com a vinda de D. João VI, e sendo a Corte instalada no Rio de Janeiro, é que os laços
entre o extremo norte e o resto do país estreitaram-se mais.
EVOLUÇÃO URBANÍSTICA
Após a instalação do
Forte do Presépio, os
portugueses trataram de
dar início à colonização
da nova conquista. Ofici-
almente, a primeira rua
a ser aberta foi a
do Norte, hoje Siqueira
Mendes, paralela à baía
do Guajará, que ia da-
quela fortificação até a
casa do capitão-mor
Bento de Maciel Pa-
rente, onde hoje localiza-
se a Igreja do Carmo.
Depois abriram as ruas
do Espírito Santo (hoje Dr. Assis), dos Cavaleiros (Dr. Malcher), São João (João Diogo), da Re-
sidência (Félix Rocque), Atalaia (Joaquim Távora), Barroca (Gurupá), Longa (Ângelo Custó-
dio), Água das Flores (Pedro Albuquerque), Alfama (Rodrigues dos Santos) e Aljube (Cametá).
Em 1627, com a construção do Convento de Santo Antônio, pelos frades da mesma ordem,
que do igarapé do Una se transferiram para ali, começou a “conquista” do bairro da Campina.
Com a expansão urbanística, a cidade ficou dividida em dois bairros: o da Cidade e o da Cam-
pina. O igarapé do Piri servia de limite entre as duas aglomerações urbanas. Com a chegada
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52. 51
de colonos açorianos, em 1676, tiveram de abrir uma nova rua para abrigá-los. Eram cerca de
234 pessoas de ambos os sexos. A rua aberta foi chamada de São Vicente. Depois, prolonga-
ram-na até o Piri com o nome de Nova de Santana (é a atual Manoel Barata).
Nos dois bairros as paisagens se assemelhavam: as ruas eram estreitas, possuíam poucas edi-
ficações, contudo havia algumas igrejas e conventos importantes, predominantemente as
construções eram de casas de um só pavimento. A partir do século XVIII, edificaram-se impor-
tantes construções arquitetônicos como a capela de N. Sa. das Graças. Ergueram-se depois as
primeiras igrejas de São João, Carmo, Santo Alexandre, Capela Santo Antônio. Mercês. Cons-
truíram-se os conventos do Carmo, dos Franciscanos de Santo Antônio, Jesuítas, Mercês.
Neste momento, não havia
fonte de água na cidade. A
água que os moradores be-
biam era a que se colhia den-
tro de um barril enterrado no
chão, em um sítio chamado de
Pau de Água ou Paul de Água,
existente na estrada de
mesmo nome, posteriormente
chamou-se de São Jerônimo
e, hoje, governador José Mal-
cher. Contudo, o governador
José de Nápoles Telo de Me-
neses resolveu levar até ao
Lago do Palácio aquela água,
onde foi erguida a Casa de
Mãe de Água. No entanto, o
povo preferia servir-se do rio
e dos igarapés. Os melhores
poços eram o do Convento de
Santo Antônio, o da Horta do
Seminário, o do Palácio do
Governo e o da casa do Ouvi-
dor.
Mapa que mostra Belém do Pará, em 1724.
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53. 52
OS ESTADOS DA REGIÃO NORTE
A Região Norte do Brasil é a mais extensa com 3.869.637 km², sendo composta por sete
estados: Acre, Amapá, Amazonas, Pará, Rondônia, Roraima e Tocantins. Além de ser a maior
região territorial, nela está localizada os dois maiores estados do Brasil: Amazonas e Pará,
respectivamente. As cidades de Altamira, Barcelos e São Gabriel são as maiores cidades do
Brasil em área territorial, tendo cada uma, mais de 100.000 km², sendo maiores que os es-
tados de Sergipe, Espírito Santo, Rio de Janeiro e Alagoas juntos. Apesar de ser a maior região
do Brasil, é a menos povoada. A região faz divisa ao sul com Mato Grosso, Goiás e a Bolívia,
ao norte faz divisa com Venezuela, Suriname, Guiana, Guiana Francesa, ao leste com Mara-
nhão, Piauí e Bahia, e a oeste com Peru e Colômbia
ACRE
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54. 53
A incorporação do Acre ao Brasil foi um fato singular na história do país: deveu-se às popula-
ções do Nordeste, que povoaram o território e o tornaram produtivo, repetindo proeza dos ban-
deirantes dos séculos XVI e XVII.
A ocupação da região começou na segunda metade do século XIX, quando nordestinos flagela-
dos pelas secas acorreram para lá em busca da riqueza natural dos seringais. No entanto, a
incorporação definitiva do Acre ao Brasil se deu no começo do século XX, após décadas de
conflitos armados e disputas diplomáticas com a Bolívia e o Peru.
O estado do Acre situa-se no sudoeste da Amazônia brasileira, na região Norte, onde ocupa
uma área de 153.150km2. Limita-se com o estado do Amazonas, ao norte; o Peru, ao sul; a
Bolívia, a sudeste; e o estado de Rondônia, a leste. Sua capital é Rio Branco.
GEOGRAFIA FÍSICA
Praticamente todo o re-
levo do estado do Acre se
integra no baixo platô
arenítico, ou terra firme,
unidade morfológica que
domina a maior parte da
Amazônia brasileira. Es-
ses terrenos se inclinam,
no Acre, de sudoeste para
nordeste, com topografia,
em geral, tabular. No ex-
tremo oeste se encontra a
Serra da Contamana ou
do Divisor, ao longo da
fronteira ocidental, com
as maiores altitudes do
estado (609m). Cerca de
63% da superfície esta-
dual fica entre 200 e 300m de altitude; 16% entre 300 e 609; e 21% entre 200 e 135.
O clima é quente e muito úmido e as temperaturas médias mensais variam entre 24 e 27o C.
As chuvas atingem o total anual de 2.100mm, com uma nítida estação seca nos meses de
junho, julho e agosto. A floresta amazônica recobre todo o território estadual. Muito rica em
seringueiras da espécie mais valiosa (Hevea brasiliensis), a floresta garante ao Acre o lugar de
primeiro produtor nacional de borracha. Os principais rios do Acre, navegáveis apenas nas
cheias (Juruá, Tarauacá, Embira, Purus, Iaco e Acre), atravessam o estado com cursos quase
paralelos e só vão confluir fora de seu território.
Serra do Divisor
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POPULAÇÃO
É escassa a população do estado. Mais da metade concentra-se em dois municípios, Rio Branco
e Cruzeiro do Sul. A distribuição geográfica da população, dispersa ao longo dos rios, reflete a
dependência da navegação fluvial para as comunicações. Pouco mais da metade dos habitantes
vive na zona rural, e cerca de sessenta por cento da população ativa ocupa-se de atividades
extrativas. Povoações distantes entre si por dias de caminhada pela floresta e que por vezes,
no período das chuvas, ficam completamente isoladas, dificultam a irradiação da saúde pública.
Dos municípios, apenas Rio Branco tem abastecimento de água encanada, mas não possui
serviço de esgoto, o que impede o controle da disenteria amebiana endêmica. A malária é a
maior causa de mortalidade infantil.
ECONOMIA
A capital Rio Branco
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56. 55
A economia acreana repousa na exploração de recursos naturais. O mais importante é a borra-
cha, produto no qual se baseou o povoamento da região. A extração da borracha se faz ao longo
dos rios, pois a seringueira é árvore de mata de igapó. Os tipos produzidos são caucho, cer-
nambi caucho, cernambi rama e cernambi seringa. A maior parte da produção estadual cabe à
bacia do rio Purus. Nessa região destaca-se o vale do rio Acre, que, além de possuir o maior
número de seringueiras, é também região rica em castanheiras. A floresta acreana é também
objeto de exploração madeireira, e a caça nela praticada parece contribuir de forma substancial
para a alimentação local.
A agricultura reduz-se a pequenas culturas de mandioca, feijão, cana-de-açúcar e arroz. A in-
dústria de transformação compreende pouco mais que algumas serrarias e pequenas fábricas
de rapadura e de farinha de mandioca.
Como os rios mantêm no estado cursos aproxi-
madamente paralelos, as comunicações entre
os diversos vales se fazem pelas confluências,
o que envolve longos percursos. Com a conclu-
são das estradas que integram a ligação Rio
Branco-Porto Velho-Cuiabá-Limeira, o Acre
passou a contar com transporte rodoviário para
o Sudeste do país.
HISTÓRIA
As secas nordestinas e o apelo econômico da
borracha -- produto que no fim do século XIX
começava sua trajetória de preços altos nos
mercados internacionais -- inscrevem-se entre
as causas predominantes na movimentação de
massas humanas em busca do Eldorado acreano. As penetrações portuguesas do período colo-
nial já haviam atingido seus pontos máximos no Brasil durante o século XVIII. Consequência
inevitável foi a dilatação do horizonte geográfico na direção oeste, atingindo terras de posse
espanhola, fato que se tornou matéria dos tratados de Madri (1750) e de Santo Ildefonso
(1777). Ambos os tratados, partindo das explorações feitas por Manuel Félix de Leme nas
bacias do Guaporé e do Madeira, estabeleceram como linha divisória das possessões respecti-
vas, na área em questão, os leitos do Mamoré e do Guaporé até seu limite máximo ocidental,
na margem esquerda do Javari.
O povoamento da zona, estimulado pela criação da nova capitania real de Mato Grosso (1751),
deu-se na direção da fronteira, surgindo alguns centros importantes: Vila Bela (1752), às
margens do Guaporé, Vila Maria (1778), no rio Paraguai, e Casalvasco (1783). Até meados
do século XIX não se pensou em povoamento sistemático da área. Nessa época, o grande ma-
nancial virgem de borracha que aí se encontra atraíra o interesse mundial, provocando sua
colonização de modo inteiramente espontâneo.
Extração de látex da seringueira
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