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A Região de Turismo do Algarve dinamizou, no dia 6 de dezembro, mais
uma Fam Trip, desta vez com destino a Vila do Bispo e com o objetivo duplo
de dar a conhecer as belezas deste concelho, mas também o seu legado
Omíada. Para tal convidou algumas dezenas de profissionais de turismo,
agentes culturais e jornalistas, numa jornada que terminou com um
deslumbrante pôr-do-sol no Cabo de São Vicente.
À descoberta do legado
Omíada em Vila do Bispo
Texto: Fotografia:
ALGARVE INFORMATIVO #87 44
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D
epois de Alcoutim, São
Brás de Alportel,
Monchique, Lagos, Lagoa,
Aljezur, Tavira e Silves, a
Fam Trip «Redescobrir os
Segredos do Algarve», promovida pela
Região de Turismo do Algarve, rumou,
no dia 6 de dezembro, ao concelho de
Vila do Bispo. O propósito da iniciativa
foi, como de costume, dar a conhecer
mais alguns dos segredos do principal
destino turístico do país e, em
simultâneo, revelar a herança árabe na
região. Aliás, a Fam Trip a Vila do Bispo
integrou a descoberta da Rota dos
Omíadas no Algarve, itinerário
turístico-cultural dedicado à dinastia
árabe que há mil anos dominava o
Mediterrâneo.
A jornada iniciou-se logo pela 8h30,
junto à sede da RTA, em Faro e, depois
de uma breve paragem em Vale
Paraíso, para recolher mais
elementos da comitiva, seguiu-se
para Vila do Bispo, mais
concretamente à Praça da República,
junto à Igreja Matriz de Vila do
Bispo, onde nos esperavam Adelino
Soares, presidente da Câmara
Municipal de Vila do Bispo, Desidério
Silva, presidente da Região de
Turismo do Algarve, e Alexandra
Gonçalves, Diretora Regional da
Cultura do Algarve. No Centro de
Interpretação de Vila do Bispo foi
feita uma pequena introdução ao
território e visitou-se a exposição
«Paisagens Condutoras», um
cruzamento entre arte, cultura
gastronómica e património histórico
e arqueológico do Algarve, com
algumas curiosas passagens sobre o
legado omíada.
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Aproveitando a pausa para café,
Adelino Soares lembrou que se
encontram, em Vila do Bispo, os
vestígios mais acentuados da grande
Pangeia, de onde se separaram os
continentes que hoje desenham o
globo terrestre, mas também aqui se
podem observar pegadas de
dinossauros e vislumbrar o triops
vicentinus, que vive nos charcos
temporários deste concelho. O
autarca falou igualmente dos menires,
da presença romana e árabe, dos
Descobrimentos e do Infante D.
Henrique. “Este território tem uma
série de referências que remontam a
milhões de anos atrás, mas também
vários fenómenos especiais que não
se conseguem bem explicar, como o
pôr-do-sol no Cabo de São Vicente”,
frisou.
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Continuando nesta viagem ao passado,
Adelino Soares recordou os
afundamentos ocorridos, em 1917, ao
largo de Vila do Bispo durante a
Primeira Guerra Mundial e que todos
esses vestígios vão tornar-se, em 2017,
Património da Humanidade. “Vila do
Bispo nunca foi massificado e tem uma
grande história associada. O São
Vicente, por exemplo, tem muito a ver
connosco e saiu daqui para Lisboa, da
qual se tornou santo padroeiro. Hoje,
se calhar, somos periféricos no Algarve
mas, noutros tempos, fomos uma zona
central do mundo e por aqui passou
toda a gente”, apontou o autarca,
visivelmente orgulhoso do concelho que
lidera.
Desidério Silva, presidente da Região
de Turismo do Algarve, reforçou a
importância destes eventos para que
o trade e a própria comunicação
social contatem com alguns locais
menos conhecidos do Algarve e assim
possam melhor divulgar todas as suas
potencialidades. “Vila do Bispo tem
trabalhado muito na diferenciação
dos seus produtos e esta presença
aqui enquadra-se também na Rota
Omíada, um projeto internacional
que envolve a RTA, a Cultura e os
municípios. Este ano, teremos cerca
de 18 milhões de turistas, mas ainda
não é suficiente. Em novembro,
tivemos uma taxa de ocupação de 46
por cento, em janeiro, teremos 30 e
tal por cento, em julho e agosto,
estaremos completamente
esgotados, e há que vender mais
entre outubro e maio”, defendeu
Desidério Silva. “Em concelhos como
Vila do Bispo, as pessoas encontram
Adelino Soares, presidente da Câmara Municipal de Vila do Bispo, Alexandra Gonçalves, Diretora
Regional da Cultura do Algarve, e Desidério Silva, presidente da Região de Turismo do Algarve
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tranquilidade, qualidade, diversidade,
bem-estar e isso tem contribuído para
uma taxa de ocupação anual mais
equilibrada”, reforçou.
Por sua vez, Alexandra Gonçalves
revelou que esta viagem a Vila do
Bispo marcava o início de um percurso
associado à Rota Omíada, que inclui 14
concelhos do Algarve. “Está na mão de
cada um de nós dinamizar, exigir,
promover e dar notoriedade, trazer
turistas para percorrer a rota. A
Direção Regional de Cultura
desempenha, sobretudo, um papel
científico e histórico, fornecendo
conteúdos de base para a
estruturação da Rota”, referiu,
esclarecendo que os atrasos ocorridos
no processo se devem ao facto de
estarem envolvidos dezenas de
parceiros de sete países. “É um
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trabalho que nem sempre consegue
cumprir os prazos que gostaríamos,
mas que é absolutamente necessário e
do qual não podemos desistir. É um
esforço diário e não podemos perder
de vista este bem comum, os nossos
recursos culturais e históricos
associados a um legado árabe do
período Omíada”.
Dali partiu-se para o Menir do Padrão,
na Raposeira, onde se abordou o tema
Megalitismo e a sacralização das
paisagens com os primeiros
monumentos de pedra erguida. Não
esquecer que Vila do Bispo é a área da
maior concentração de menires do
ocidente europeu, provavelmente os
mais antigos, quiçá mesmo os
primeiros. Ao longo da Finisterra
Mediterrânica passou-se pelas praias da
Ingrina, do Zavial, da Salema e da Boca
do Rio, onde foi possível sentir o
impacto de uma paisagem de primeira
grandeza natural e contactar com uma
série de apontamentos de elevado
interesse do ponto de vista cultural.
Destaque, entre outros, para um trilho
de interpretação da biodiversidade
sobre o Paul da Lontreira; uma villa
romana originalmente dedicada à
indústria conserveira; uma fortificação
do século XVII construída para proteção
das almadravas de atum; uma armação
de pesca de época pombalina; e um
naufrágio do século XVIII.
Com a Fam Trip a meio, o almoço não
poderia ter acontecido num local mais
emblemático, o Forte de Santo António
de Beliche, com vista privilegiada sobre
a Ponta de Sagres e o Cabo de São
Vicente. Pelo facto de nela existir um
escudo atribuído ao Rei D. Sebastião,
poderá ter sido erguida no século
XVI, mas há quem defenda que a sua
construção tenha ocorrido no
reinado de Manuel I ou do seu
sucessor, D. João III, seguramente
antes de 1587, uma vez que este
edifício se encontra desenhado num
mapa desta região produzido
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aquando do ataque do corsário inglês
Francis Drake, que o destruiu. Tinha como
função controlar aquele ancoradouro e
proteger os pescadores que ali exploravam
uma armação de pesca de atum. Quanto à
fortificação atual, remonta a uma
reconstrução ordenada por Filipe III de
Portugal (1621-1640), tendo sido
reinaugurada em 1632, conforme inscrição
epigráfica sobre o portão de armas.
De barriga cheia, a comitiva rumou ao
«fim-do-mundo mediterrâneo»,
segundo a cosmovisão greco-romana,
com uma visita interpretativa ao
palimpsesto cultural do grande Cabo de
São Vicente. Algumas histórias sobre a
origem toponímica de Sagres, a
sacralização da paisagem do grande
Cabo, o culto de São Vicente e a
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presumível localização da Kanisat al-
Gurab, a mítica Ermida do Corvo, foram
alguns dos pontos altos da conversa.
Segundo a tradição histórica e religiosa
(hagiográfica), entre o século VIII e o
século XII, algures na zona de Sagres,
existiu um templo dedicado ao culto de
São Vicente, naquela época um dos
santuários mais concorridos nas rotas de
peregrinação moçárabe da Península
Ibérica. No século XII, o geógrafo árabe
Al-Idrisi documenta esta «Igreja dos
Corvos» (Kanisat al-Gurab) nos seus
relatos acerca da finisterra
mediterrânica. Entretanto desaparecida,
presume-se que a mítica Ermida do
Corvo terá sido edificada precisamente
na ponta mais sudoeste da Europa
Continental, denominada desde então
de Cabo de São Vicente.
Percorrido o Farol Dom Fernando,
mais um momento inesquecível, o
mágico pôr-do-sol no Cabo de São
Vicente, poeticamente descrito por
autores clássicos romanos e que
ainda hoje motiva uma singular
romaria que converge para esta
extremidade da Europa. De facto,
centenas de pessoas ali se juntam
diariamente para assistir ao
fenómeno celeste, aplaudindo o
momento em que o astro rei se
extingue no «mar sideral». Depois,
com centenas de fotos na bagagem e
imagens surreais na cabeça, era hora
de regressar ao ponto de partida,
assim se concluindo mais uma Fam
Trip da Região de Turismo do Algarve,
desta feita ao concelho de Vila do
Bispo .
Foto de família da comitiva no Forte do Beliche, à hora do almoço