SlideShare uma empresa Scribd logo
1 de 9
Baixar para ler offline
ALGARVE INFORMATIVO #211 40
AO FIM DE DUAS DÉCADAS, ESCAVAÇÕES
ARQUEOLÓGICAS NO «TERRAÇO»
DE VALE BOI APROXIMAM-SE DO FIM,
MAS HÁ MATERIAL PARA ESTUDAR
DURANTE MAIS 20 ANOS
Texto: Daniel Pina | Fotografia: Daniel Pina
40ALGARVE INFORMATIVO #211
41 ALGARVE INFORMATIVO #21141 ALGARVE INFORMATIVO #211
ALGARVE INFORMATIVO #211 42
o dia 20 de julho, o
Centro
Interdisciplinar de
Arqueologia e
Evolução do
Comportamento
Humano (ICArEHB)
da Universidade do Algarve dinamizou, em
colaboração com a Câmara Municipal de
Vila do Bispo, mais um Dia Aberto na
Jazida Arqueológica Paleolítica de Vale
Boi. O sítio arqueológico foi descoberto,
em 1998, como resultado dos trabalhos de
prospeção nos vales fluviais da Costa
Vicentina.
Situada a leste da Ribeira de Vale Boi
(concelho de Vila do Bispo), em frente
da pequena localidade com o mesmo
nome, a jazida paleolítica localiza-se a
cerca de dois quilómetros da atual linha
de costa. Os vestígios arqueológicos
apresentam uma dispersão superior a 10
mil metros quadrados, ocupando toda a
vertente, que é limitada a Este por um
afloramento calcário com 10 metros de
altura e a Oeste pelo aluvião da Ribeira.
43 ALGARVE INFORMATIVO #211
Os trabalhos arqueológicos tiveram início
em 2000 e têm-se pautado pela
intervenção em três áreas distintas da
jazida, que revelaram uma longa sequência
cronológica, iniciada há mais de 30 mil
anos com os mais antigos elementos da
nossa espécie em Portugal.
Para além de inúmeros artefactos de
caça e de atividades diárias, foram
também exumados milhares de ossos de
animais caçados, incluindo veado,
auroque, cavalo, javali e coelho, que terão
servido para a alimentação desses
caçadores-recolectores, bem como leão,
lobo, raposa e lince, provavelmente
caçados devido às suas peles. O
marisqueiro fazia também parte da vida
diária dessas primeiras comunidades
humanas no Algarve. De realçar ainda, no
sítio arqueológico de Vale Boi, a presença
de elementos de arte móvel, característica
do período paleolítico na Península
Ibérica, conforme explicaram Nuno
Bicho e João Cascalheira, professores da
Universidade do Algarve e os
responsáveis científicos pela escavação,
durante a visita do Algarve Informativo.
“É um dos locais mais importantes de
Portugal em termos do Paleolítico, e
talvez de todo o sul da Península
Ibérica, devido à grande duração de
ocupações e sua extensão. Começam
há 33 ou 34 mil anos e vêm até perto
dos sete mil anos, com as últimas
ocupações a serem do Neolítico”,
referiu Nuno Bicho.
A aventura com mais de duas décadas
começou, de facto, com um projeto de
prospeção para sítios arqueológicos da
pré-história desenvolvido em toda a
região, mas que incidiu particularmente
nesta parte do barlavento, e que
Os arqueólogos Nuno Bicho e João Cascalheira, da Universidade do Algarve
ALGARVE INFORMATIVO #211 44
consiste, segundo João Cascalheira, “em
percorrer a paisagem à procura de
indícios na superfície”. “Em Vale Boi
depressa se encontraram vários
materiais à superfície que indicavam uma
cronologia do Paleolítico, de uma pré-
história antiga. Naturalmente que este
local foi escolhido, no passado, por essas
comunidades porque existia uma linha
de água doce e porque a escarpa de
calcário servia como forma de proteção.
Estamos relativamente perto da costa,
portanto, os recursos aquáticos foram
sendo utilizados ao longo do tempo, e
esta região é bastante rica em recursos
minerais, nas rochas que eram usadas
para se fazerem os utensílios da época”,
esclarece o arqueólogo.
E as descobertas foram imediatas, logo
no primeiro ano de sondagens e
escavações, o que originou vários
financiamentos da FCT – Fundação para
a Ciência e para a Tecnologia, da
Wenner-Gren Foundation e da National
Geographic Society, entre outras
entidades. As primeiras sondagens
foram realizadas a meio da vertente,
seguindo-se outras na base e no topo,
algumas delas depois ampliadas para
áreas de escavação, como aquela em
que nos encontrávamos, comummente
designado por «Terraço», ou o
«Abrigo», situado no topo da vertente.
“Era efetivamente um abrigo sobre
rocha que colapsou há cerca de 20 mil
anos, pelo que as ocupações que
estavam por baixo se encontravam
completamente seladas e
conseguimos obter toda a informação
que precisávamos. O «Terraço» é a que
tem a sequência cronológica mais
longa de todo o sítio arqueológico,
com uma grande diversidade de
45 ALGARVE INFORMATIVO #211
materiais e de ocupações”, refere João
Cascalheira.
«Terraço» que começou a ser escavado
em 2004 e que, 15 anos depois, para o
cidadão comum, se assemelha a um
simples buraco no chão, descrição que
gera um sorriso em Nuno Bicho. “Há
sempre uma equipa de campo que ronda
as 10 pessoas, mas a quantidade e
fragilidade dos materiais implica que o
trabalho seja muito lento, preciso e
minucioso”, justifica, com João
Cascalheira a confirmar tratar-se de um
trabalho de imensa paciência, “por causa
dos métodos que aplicamos e porque o
contexto arqueológico pode ser muito
rico ou bastante pobre”. “Neste
momento, como estamos já muito
próximos da base do «Terraço», não há
uma grande riqueza de materiais
arqueológicos, mas há sempre
esperança que apareça alguma coisa”.
A maioria dos artefactos encontrados
ao longo destes 20 anos são, segundo
Nuno Bicho, utensílios em pedra lascada
e osso, muitos restos de fauna e
conchas, conchas perfuradas que
poderão ter sido usadas como adornos
corporais e pessoais, materiais de arte,
pequenas pedras gravadas com
simbologia abstrata ou figuras de
animais. “Na fauna, encontramos
animais que conhecemos bem como o
veado, o javali, o cavalo ou o coelho,
mas outros que já estão extintos na
Península Ibérica, como o rinoceronte
ou o leão. Foram encontrados
elementos que indicavam que, há 20
ou 25 mil anos, a paisagem seria
ligeiramente diferente”, assume o
entrevistado.
ALGARVE INFORMATIVO #211 46
PACIÊNCIA, MINÚCIA
E MUITO ESTUDO
Encontrados os vestígios, a primeira
preocupação é, claro, não danificar os
materiais ao retirá-los da terra. Depois, há
que obter o máximo de informação
possível do contexto onde o material está,
daí utilizar-se uma estação total para
gravar coordenadas tridimensionais de
tudo o que é descoberto. Após isso, os
materiais são etiquetados, seguem para o
laboratório, onde são lavados e estudados.
“Com o apoio da Câmara Municipal de
Vila do Bispo temos um espaço em
Budens que utilizamos como laboratório
de campo, onde é realizado o
processamento dos materiais. Só depois
é que vão para a Universidade do Algarve
para mais análises. Algumas amostras de
carvões ou de faunas são enviadas
para datação por radiocarbono, que
nos dá informação cronológica precisa
de cada uma das ocupações que aqui
ocorreram”, conta João Cascalheira.
A arqueologia não se compadece com
ritmos acelerados nem pressas, e exige,
acima de tudo, um conhecimento amplo
e especializado, numa atividade que
raramente está sob a luz dos holofotes.
Isso não significa, felizmente, que não
existam profissionais bastante
competentes, garante Nuno Bicho. “A
Universidade do Algarve tem uma
licenciatura, um mestrado e um
doutoramento nesta área, pelo que há
recursos humanos em permanente
formação, o que permite avançar-se
para as análises dos materiais
provenientes dos sítios arqueológicos
que temos escavado. É um processo
47 ALGARVE INFORMATIVO #211
que nunca termina, porque a quantidade
de artefactos é imensa e muito variada, e
há várias teses de mestrado e
doutoramento que incidem
precisamente sobre achados de Vale
Boi”, declara, adiantando que,
normalmente, as escavações acontecem
ao longo de quatro a oito semanas por
ano, durante o Verão e Páscoa, até com
estudantes que chegam de universidades
dos Estados Unidos, Brasil, Inglaterra e
Canadá. “Nos últimos dois anos
implementamos um projeto que traz
alunos estrangeiros, em parceria com o
Institute for Field Research, dos Estados
Unidos. Funciona como uma escola de
campo em que têm oportunidade de
aprender novas técnicas e métodos e,
para além disso, recebem créditos que
podem utilizar nas universidades norte-
americanas”, esclarece João Cascalheira.
Quanto ao Dia Aberto, confere à
comunidade local, e a todos os
interessados, a possibilidade de se
conhecer uma jazida arqueológica e
perceber o porquê de se conduzir este
género de investigação. “Temos
sempre, não só pessoas locais, mas
muitos estrangeiros que estão cá de
férias, dos 7 aos 77 anos, algumas até
vêm todos os anos para ficar a par das
novidades”, comenta Nuno Bicho. “Os
Dias Abertos não são muito comuns e
a verdade é que as pessoas depressa
ficam seduzidas por aquilo que
fazemos. Às vezes dão-nos ideias para
resolvermos problemas práticos que
encontramos no terreno e até nos
convidam para comer e ficar em casa
delas”, acrescenta.
ALGARVE INFORMATIVO #211 48
A finalizar a conversa, que decorreu num
dia de trabalho normal, questionamos qual
o destino das peças depois de terem sido
realizados todos os estudos e análises. “Há
um projeto museológico em
desenvolvimento no concelho de Vila do
Bispo e parte dos achados de Vale Boi
irão para lá. Os restantes materiais
ficarão em reserva, por enquanto, na
Universidade do Algarve, o que dará
oportunidade a outros investigadores
para os estudar. O ano passado veio uma
jovem do Canadá que estava a fazer o
seu mestrado para estudar os achados de
Vale Boi. Uma colega alemã também fez
parte do seu doutoramento com estes
materiais”, indica Nuno Bicho. Quanto a
Vale Boi, há muito ainda por fazer, mas o
ciclo de escavações desta dupla de
arqueólogos da Universidade do Algarve
deve conhecer este ano o seu término.
“Acho que já deixámos a nossa marca
e temos material suficiente para
estudar durante mais 20 anos. O nosso
objetivo para 2019 é concluir esta área
do «Terraço» e dedicarmo-nos
exclusivamente ao trabalho de
laboratório. Claro que outra zona de
escavação é possível, se os objetivos
científicos forem bons, porque a
vantagem da arqueologia é que, daqui
a 10 anos, podem haver métodos e
técnicas mais avançadas e que
permitam extrair mais informações
daquele que conseguimos obter neste
momento”, rematou João Cascalheira,
antes de regressarem ao «buraco» do
«Terraço» onde se encontravam vários
estudantes norte-americanos .

Mais conteúdo relacionado

Semelhante a Algarve informativo #211

Património cultural português arqueologia em portugal - artur filipe dos s...
Património cultural português   arqueologia em portugal -  artur filipe dos s...Património cultural português   arqueologia em portugal -  artur filipe dos s...
Património cultural português arqueologia em portugal - artur filipe dos s...Artur Filipe dos Santos
 
Educação Patrimonial do Projeto Salobo - Parauapebas
Educação Patrimonial do Projeto Salobo  - ParauapebasEducação Patrimonial do Projeto Salobo  - Parauapebas
Educação Patrimonial do Projeto Salobo - ParauapebasAdilson P Motta Motta
 
Passatempo Autor do Mês- Outubro 2019
Passatempo Autor do Mês- Outubro 2019Passatempo Autor do Mês- Outubro 2019
Passatempo Autor do Mês- Outubro 2019AELPB
 
Museu do Mar - São Sebastião- SP
Museu do Mar - São Sebastião- SPMuseu do Mar - São Sebastião- SP
Museu do Mar - São Sebastião- SPTeresa Bock
 
Vere gordon childe introduçao a arqueologia
Vere gordon childe   introduçao a arqueologiaVere gordon childe   introduçao a arqueologia
Vere gordon childe introduçao a arqueologiaYara Milan Milan
 
Autor do mês outubro 2019
Autor do mês outubro 2019Autor do mês outubro 2019
Autor do mês outubro 2019AELPB
 
Museu Goeldi Obras Raras
Museu Goeldi Obras RarasMuseu Goeldi Obras Raras
Museu Goeldi Obras RarasFrancileila
 
Guia did+ítico museu nacional ufrj
Guia did+ítico museu nacional ufrjGuia did+ítico museu nacional ufrj
Guia did+ítico museu nacional ufrjGuiaDidatico
 
Gafanhoto #56
Gafanhoto #56Gafanhoto #56
Gafanhoto #56ESGN
 
As Gravuras Rupestres de Foz Côa
As Gravuras Rupestres de Foz CôaAs Gravuras Rupestres de Foz Côa
As Gravuras Rupestres de Foz CôaJorge Almeida
 
História pré-colonial de Santa Catarina (com foco no patrimônio arqueológico ...
História pré-colonial de Santa Catarina (com foco no patrimônio arqueológico ...História pré-colonial de Santa Catarina (com foco no patrimônio arqueológico ...
História pré-colonial de Santa Catarina (com foco no patrimônio arqueológico ...Viegas Fernandes da Costa
 

Semelhante a Algarve informativo #211 (20)

Património cultural português arqueologia em portugal - artur filipe dos s...
Património cultural português   arqueologia em portugal -  artur filipe dos s...Património cultural português   arqueologia em portugal -  artur filipe dos s...
Património cultural português arqueologia em portugal - artur filipe dos s...
 
Imersão na prática ed. patrimonial
Imersão na prática   ed. patrimonialImersão na prática   ed. patrimonial
Imersão na prática ed. patrimonial
 
Educação Patrimonial do Projeto Salobo - Parauapebas
Educação Patrimonial do Projeto Salobo  - ParauapebasEducação Patrimonial do Projeto Salobo  - Parauapebas
Educação Patrimonial do Projeto Salobo - Parauapebas
 
CVPaulaBA
CVPaulaBACVPaulaBA
CVPaulaBA
 
Teste
TesteTeste
Teste
 
Passatempo Autor do Mês- Outubro 2019
Passatempo Autor do Mês- Outubro 2019Passatempo Autor do Mês- Outubro 2019
Passatempo Autor do Mês- Outubro 2019
 
Bacia do Rio Grande Aula 1 Versão Aluno
Bacia do Rio Grande Aula 1 Versão AlunoBacia do Rio Grande Aula 1 Versão Aluno
Bacia do Rio Grande Aula 1 Versão Aluno
 
Museu do Mar - São Sebastião- SP
Museu do Mar - São Sebastião- SPMuseu do Mar - São Sebastião- SP
Museu do Mar - São Sebastião- SP
 
Bacia do Rio Tietê - Aula 1 - Versão Aluno
Bacia do Rio Tietê -  Aula 1 - Versão AlunoBacia do Rio Tietê -  Aula 1 - Versão Aluno
Bacia do Rio Tietê - Aula 1 - Versão Aluno
 
Vere gordon childe introduçao a arqueologia
Vere gordon childe   introduçao a arqueologiaVere gordon childe   introduçao a arqueologia
Vere gordon childe introduçao a arqueologia
 
Autor do mês outubro 2019
Autor do mês outubro 2019Autor do mês outubro 2019
Autor do mês outubro 2019
 
Museu Goeldi Obras Raras
Museu Goeldi Obras RarasMuseu Goeldi Obras Raras
Museu Goeldi Obras Raras
 
Guia did+ítico museu nacional ufrj
Guia did+ítico museu nacional ufrjGuia did+ítico museu nacional ufrj
Guia did+ítico museu nacional ufrj
 
Simbiontes Autismo - Actividades CADIN
Simbiontes Autismo - Actividades CADINSimbiontes Autismo - Actividades CADIN
Simbiontes Autismo - Actividades CADIN
 
Memoria De Africa, 2009
Memoria De Africa, 2009Memoria De Africa, 2009
Memoria De Africa, 2009
 
Gafanhoto #56
Gafanhoto #56Gafanhoto #56
Gafanhoto #56
 
Bacia do Rio Pardo- Aula 1 - Versão Aluno
Bacia do Rio Pardo-  Aula 1 - Versão AlunoBacia do Rio Pardo-  Aula 1 - Versão Aluno
Bacia do Rio Pardo- Aula 1 - Versão Aluno
 
Inf historia 6
Inf historia 6Inf historia 6
Inf historia 6
 
As Gravuras Rupestres de Foz Côa
As Gravuras Rupestres de Foz CôaAs Gravuras Rupestres de Foz Côa
As Gravuras Rupestres de Foz Côa
 
História pré-colonial de Santa Catarina (com foco no patrimônio arqueológico ...
História pré-colonial de Santa Catarina (com foco no patrimônio arqueológico ...História pré-colonial de Santa Catarina (com foco no patrimônio arqueológico ...
História pré-colonial de Santa Catarina (com foco no patrimônio arqueológico ...
 

Mais de arqueomike

Trilho Ambiental do Castelejo
Trilho Ambiental do CastelejoTrilho Ambiental do Castelejo
Trilho Ambiental do Castelejoarqueomike
 
Estação da Biodiversidade da Boca do Rio
Estação da Biodiversidade da Boca do RioEstação da Biodiversidade da Boca do Rio
Estação da Biodiversidade da Boca do Rioarqueomike
 
Programa II Seminário Potencialidades de um Concelho - o Mar de Vila do Bispo
Programa II Seminário Potencialidades de um Concelho - o Mar de Vila do BispoPrograma II Seminário Potencialidades de um Concelho - o Mar de Vila do Bispo
Programa II Seminário Potencialidades de um Concelho - o Mar de Vila do Bispoarqueomike
 
Fam trip omíada vila do bispo
Fam trip omíada vila do bispoFam trip omíada vila do bispo
Fam trip omíada vila do bispoarqueomike
 
Folheto Rota Omíada
Folheto Rota OmíadaFolheto Rota Omíada
Folheto Rota Omíadaarqueomike
 
Rocha das Gaivotas, Sagres, Vila do Bispo
Rocha das Gaivotas, Sagres, Vila do BispoRocha das Gaivotas, Sagres, Vila do Bispo
Rocha das Gaivotas, Sagres, Vila do Bispoarqueomike
 
Percurso Pedestre 'Pelas Encostas da Raposeira' (Vila do Bispo) - folheto (Vi...
Percurso Pedestre 'Pelas Encostas da Raposeira' (Vila do Bispo) - folheto (Vi...Percurso Pedestre 'Pelas Encostas da Raposeira' (Vila do Bispo) - folheto (Vi...
Percurso Pedestre 'Pelas Encostas da Raposeira' (Vila do Bispo) - folheto (Vi...arqueomike
 
Recursos Patrimoniais versus Sustentabilidade: o caso de Vila do Bispo (Ricar...
Recursos Patrimoniais versus Sustentabilidade: o caso de Vila do Bispo (Ricar...Recursos Patrimoniais versus Sustentabilidade: o caso de Vila do Bispo (Ricar...
Recursos Patrimoniais versus Sustentabilidade: o caso de Vila do Bispo (Ricar...arqueomike
 
Lapa do Monte Francês, Sagres (NEUA, Espeleo Divulgação 5, 1986)
Lapa do Monte Francês, Sagres (NEUA, Espeleo Divulgação 5, 1986)Lapa do Monte Francês, Sagres (NEUA, Espeleo Divulgação 5, 1986)
Lapa do Monte Francês, Sagres (NEUA, Espeleo Divulgação 5, 1986)arqueomike
 
Programa DiVam 2015 - Património Imaterial e Raízes Mediterrânicas
Programa DiVam 2015 - Património Imaterial e Raízes MediterrânicasPrograma DiVam 2015 - Património Imaterial e Raízes Mediterrânicas
Programa DiVam 2015 - Património Imaterial e Raízes Mediterrânicasarqueomike
 
Ingrina - Sophia de Mello Breyner
Ingrina - Sophia de Mello BreynerIngrina - Sophia de Mello Breyner
Ingrina - Sophia de Mello Breynerarqueomike
 
Rota al-Mutamid - Sagres
Rota al-Mutamid - SagresRota al-Mutamid - Sagres
Rota al-Mutamid - Sagresarqueomike
 
Contribuição para o conhecimento das Indústrias Mirenses de Vila Nova de M...
Contribuição para o conhecimento das Indústrias Mirenses de Vila Nova de M...Contribuição para o conhecimento das Indústrias Mirenses de Vila Nova de M...
Contribuição para o conhecimento das Indústrias Mirenses de Vila Nova de M...arqueomike
 
BERNARDES, J. P.; MORAIS, R.; VAZ PINTO, I; GUERSCHMAN, J. (2014) - Colmeias ...
BERNARDES, J. P.; MORAIS, R.; VAZ PINTO, I; GUERSCHMAN, J. (2014) - Colmeias ...BERNARDES, J. P.; MORAIS, R.; VAZ PINTO, I; GUERSCHMAN, J. (2014) - Colmeias ...
BERNARDES, J. P.; MORAIS, R.; VAZ PINTO, I; GUERSCHMAN, J. (2014) - Colmeias ...arqueomike
 
Sagres - o Promontorium Sacrum: uma petrificada paisagem sagrada (SOARES, R.,...
Sagres - o Promontorium Sacrum: uma petrificada paisagem sagrada (SOARES, R.,...Sagres - o Promontorium Sacrum: uma petrificada paisagem sagrada (SOARES, R.,...
Sagres - o Promontorium Sacrum: uma petrificada paisagem sagrada (SOARES, R.,...arqueomike
 
BWF'2014 - Arqueologia
BWF'2014 - ArqueologiaBWF'2014 - Arqueologia
BWF'2014 - Arqueologiaarqueomike
 
Vila do Bispo Arqueológica
Vila do Bispo ArqueológicaVila do Bispo Arqueológica
Vila do Bispo Arqueológicaarqueomike
 
Notícia explicativa da Carta Geológica de Vila do Bispo (1979)
Notícia explicativa da Carta Geológica de Vila do Bispo (1979)Notícia explicativa da Carta Geológica de Vila do Bispo (1979)
Notícia explicativa da Carta Geológica de Vila do Bispo (1979)arqueomike
 
Colmeias e outras produções de cerâmica comum do martinhal (bernardes, mor...
Colmeias e outras produções de cerâmica comum do martinhal (bernardes, mor...Colmeias e outras produções de cerâmica comum do martinhal (bernardes, mor...
Colmeias e outras produções de cerâmica comum do martinhal (bernardes, mor...arqueomike
 

Mais de arqueomike (20)

Trilho Ambiental do Castelejo
Trilho Ambiental do CastelejoTrilho Ambiental do Castelejo
Trilho Ambiental do Castelejo
 
Estação da Biodiversidade da Boca do Rio
Estação da Biodiversidade da Boca do RioEstação da Biodiversidade da Boca do Rio
Estação da Biodiversidade da Boca do Rio
 
Programa II Seminário Potencialidades de um Concelho - o Mar de Vila do Bispo
Programa II Seminário Potencialidades de um Concelho - o Mar de Vila do BispoPrograma II Seminário Potencialidades de um Concelho - o Mar de Vila do Bispo
Programa II Seminário Potencialidades de um Concelho - o Mar de Vila do Bispo
 
Programa
ProgramaPrograma
Programa
 
Fam trip omíada vila do bispo
Fam trip omíada vila do bispoFam trip omíada vila do bispo
Fam trip omíada vila do bispo
 
Folheto Rota Omíada
Folheto Rota OmíadaFolheto Rota Omíada
Folheto Rota Omíada
 
Rocha das Gaivotas, Sagres, Vila do Bispo
Rocha das Gaivotas, Sagres, Vila do BispoRocha das Gaivotas, Sagres, Vila do Bispo
Rocha das Gaivotas, Sagres, Vila do Bispo
 
Percurso Pedestre 'Pelas Encostas da Raposeira' (Vila do Bispo) - folheto (Vi...
Percurso Pedestre 'Pelas Encostas da Raposeira' (Vila do Bispo) - folheto (Vi...Percurso Pedestre 'Pelas Encostas da Raposeira' (Vila do Bispo) - folheto (Vi...
Percurso Pedestre 'Pelas Encostas da Raposeira' (Vila do Bispo) - folheto (Vi...
 
Recursos Patrimoniais versus Sustentabilidade: o caso de Vila do Bispo (Ricar...
Recursos Patrimoniais versus Sustentabilidade: o caso de Vila do Bispo (Ricar...Recursos Patrimoniais versus Sustentabilidade: o caso de Vila do Bispo (Ricar...
Recursos Patrimoniais versus Sustentabilidade: o caso de Vila do Bispo (Ricar...
 
Lapa do Monte Francês, Sagres (NEUA, Espeleo Divulgação 5, 1986)
Lapa do Monte Francês, Sagres (NEUA, Espeleo Divulgação 5, 1986)Lapa do Monte Francês, Sagres (NEUA, Espeleo Divulgação 5, 1986)
Lapa do Monte Francês, Sagres (NEUA, Espeleo Divulgação 5, 1986)
 
Programa DiVam 2015 - Património Imaterial e Raízes Mediterrânicas
Programa DiVam 2015 - Património Imaterial e Raízes MediterrânicasPrograma DiVam 2015 - Património Imaterial e Raízes Mediterrânicas
Programa DiVam 2015 - Património Imaterial e Raízes Mediterrânicas
 
Ingrina - Sophia de Mello Breyner
Ingrina - Sophia de Mello BreynerIngrina - Sophia de Mello Breyner
Ingrina - Sophia de Mello Breyner
 
Rota al-Mutamid - Sagres
Rota al-Mutamid - SagresRota al-Mutamid - Sagres
Rota al-Mutamid - Sagres
 
Contribuição para o conhecimento das Indústrias Mirenses de Vila Nova de M...
Contribuição para o conhecimento das Indústrias Mirenses de Vila Nova de M...Contribuição para o conhecimento das Indústrias Mirenses de Vila Nova de M...
Contribuição para o conhecimento das Indústrias Mirenses de Vila Nova de M...
 
BERNARDES, J. P.; MORAIS, R.; VAZ PINTO, I; GUERSCHMAN, J. (2014) - Colmeias ...
BERNARDES, J. P.; MORAIS, R.; VAZ PINTO, I; GUERSCHMAN, J. (2014) - Colmeias ...BERNARDES, J. P.; MORAIS, R.; VAZ PINTO, I; GUERSCHMAN, J. (2014) - Colmeias ...
BERNARDES, J. P.; MORAIS, R.; VAZ PINTO, I; GUERSCHMAN, J. (2014) - Colmeias ...
 
Sagres - o Promontorium Sacrum: uma petrificada paisagem sagrada (SOARES, R.,...
Sagres - o Promontorium Sacrum: uma petrificada paisagem sagrada (SOARES, R.,...Sagres - o Promontorium Sacrum: uma petrificada paisagem sagrada (SOARES, R.,...
Sagres - o Promontorium Sacrum: uma petrificada paisagem sagrada (SOARES, R.,...
 
BWF'2014 - Arqueologia
BWF'2014 - ArqueologiaBWF'2014 - Arqueologia
BWF'2014 - Arqueologia
 
Vila do Bispo Arqueológica
Vila do Bispo ArqueológicaVila do Bispo Arqueológica
Vila do Bispo Arqueológica
 
Notícia explicativa da Carta Geológica de Vila do Bispo (1979)
Notícia explicativa da Carta Geológica de Vila do Bispo (1979)Notícia explicativa da Carta Geológica de Vila do Bispo (1979)
Notícia explicativa da Carta Geológica de Vila do Bispo (1979)
 
Colmeias e outras produções de cerâmica comum do martinhal (bernardes, mor...
Colmeias e outras produções de cerâmica comum do martinhal (bernardes, mor...Colmeias e outras produções de cerâmica comum do martinhal (bernardes, mor...
Colmeias e outras produções de cerâmica comum do martinhal (bernardes, mor...
 

Algarve informativo #211

  • 1. ALGARVE INFORMATIVO #211 40 AO FIM DE DUAS DÉCADAS, ESCAVAÇÕES ARQUEOLÓGICAS NO «TERRAÇO» DE VALE BOI APROXIMAM-SE DO FIM, MAS HÁ MATERIAL PARA ESTUDAR DURANTE MAIS 20 ANOS Texto: Daniel Pina | Fotografia: Daniel Pina 40ALGARVE INFORMATIVO #211
  • 2. 41 ALGARVE INFORMATIVO #21141 ALGARVE INFORMATIVO #211
  • 3. ALGARVE INFORMATIVO #211 42 o dia 20 de julho, o Centro Interdisciplinar de Arqueologia e Evolução do Comportamento Humano (ICArEHB) da Universidade do Algarve dinamizou, em colaboração com a Câmara Municipal de Vila do Bispo, mais um Dia Aberto na Jazida Arqueológica Paleolítica de Vale Boi. O sítio arqueológico foi descoberto, em 1998, como resultado dos trabalhos de prospeção nos vales fluviais da Costa Vicentina. Situada a leste da Ribeira de Vale Boi (concelho de Vila do Bispo), em frente da pequena localidade com o mesmo nome, a jazida paleolítica localiza-se a cerca de dois quilómetros da atual linha de costa. Os vestígios arqueológicos apresentam uma dispersão superior a 10 mil metros quadrados, ocupando toda a vertente, que é limitada a Este por um afloramento calcário com 10 metros de altura e a Oeste pelo aluvião da Ribeira.
  • 4. 43 ALGARVE INFORMATIVO #211 Os trabalhos arqueológicos tiveram início em 2000 e têm-se pautado pela intervenção em três áreas distintas da jazida, que revelaram uma longa sequência cronológica, iniciada há mais de 30 mil anos com os mais antigos elementos da nossa espécie em Portugal. Para além de inúmeros artefactos de caça e de atividades diárias, foram também exumados milhares de ossos de animais caçados, incluindo veado, auroque, cavalo, javali e coelho, que terão servido para a alimentação desses caçadores-recolectores, bem como leão, lobo, raposa e lince, provavelmente caçados devido às suas peles. O marisqueiro fazia também parte da vida diária dessas primeiras comunidades humanas no Algarve. De realçar ainda, no sítio arqueológico de Vale Boi, a presença de elementos de arte móvel, característica do período paleolítico na Península Ibérica, conforme explicaram Nuno Bicho e João Cascalheira, professores da Universidade do Algarve e os responsáveis científicos pela escavação, durante a visita do Algarve Informativo. “É um dos locais mais importantes de Portugal em termos do Paleolítico, e talvez de todo o sul da Península Ibérica, devido à grande duração de ocupações e sua extensão. Começam há 33 ou 34 mil anos e vêm até perto dos sete mil anos, com as últimas ocupações a serem do Neolítico”, referiu Nuno Bicho. A aventura com mais de duas décadas começou, de facto, com um projeto de prospeção para sítios arqueológicos da pré-história desenvolvido em toda a região, mas que incidiu particularmente nesta parte do barlavento, e que Os arqueólogos Nuno Bicho e João Cascalheira, da Universidade do Algarve
  • 5. ALGARVE INFORMATIVO #211 44 consiste, segundo João Cascalheira, “em percorrer a paisagem à procura de indícios na superfície”. “Em Vale Boi depressa se encontraram vários materiais à superfície que indicavam uma cronologia do Paleolítico, de uma pré- história antiga. Naturalmente que este local foi escolhido, no passado, por essas comunidades porque existia uma linha de água doce e porque a escarpa de calcário servia como forma de proteção. Estamos relativamente perto da costa, portanto, os recursos aquáticos foram sendo utilizados ao longo do tempo, e esta região é bastante rica em recursos minerais, nas rochas que eram usadas para se fazerem os utensílios da época”, esclarece o arqueólogo. E as descobertas foram imediatas, logo no primeiro ano de sondagens e escavações, o que originou vários financiamentos da FCT – Fundação para a Ciência e para a Tecnologia, da Wenner-Gren Foundation e da National Geographic Society, entre outras entidades. As primeiras sondagens foram realizadas a meio da vertente, seguindo-se outras na base e no topo, algumas delas depois ampliadas para áreas de escavação, como aquela em que nos encontrávamos, comummente designado por «Terraço», ou o «Abrigo», situado no topo da vertente. “Era efetivamente um abrigo sobre rocha que colapsou há cerca de 20 mil anos, pelo que as ocupações que estavam por baixo se encontravam completamente seladas e conseguimos obter toda a informação que precisávamos. O «Terraço» é a que tem a sequência cronológica mais longa de todo o sítio arqueológico, com uma grande diversidade de
  • 6. 45 ALGARVE INFORMATIVO #211 materiais e de ocupações”, refere João Cascalheira. «Terraço» que começou a ser escavado em 2004 e que, 15 anos depois, para o cidadão comum, se assemelha a um simples buraco no chão, descrição que gera um sorriso em Nuno Bicho. “Há sempre uma equipa de campo que ronda as 10 pessoas, mas a quantidade e fragilidade dos materiais implica que o trabalho seja muito lento, preciso e minucioso”, justifica, com João Cascalheira a confirmar tratar-se de um trabalho de imensa paciência, “por causa dos métodos que aplicamos e porque o contexto arqueológico pode ser muito rico ou bastante pobre”. “Neste momento, como estamos já muito próximos da base do «Terraço», não há uma grande riqueza de materiais arqueológicos, mas há sempre esperança que apareça alguma coisa”. A maioria dos artefactos encontrados ao longo destes 20 anos são, segundo Nuno Bicho, utensílios em pedra lascada e osso, muitos restos de fauna e conchas, conchas perfuradas que poderão ter sido usadas como adornos corporais e pessoais, materiais de arte, pequenas pedras gravadas com simbologia abstrata ou figuras de animais. “Na fauna, encontramos animais que conhecemos bem como o veado, o javali, o cavalo ou o coelho, mas outros que já estão extintos na Península Ibérica, como o rinoceronte ou o leão. Foram encontrados elementos que indicavam que, há 20 ou 25 mil anos, a paisagem seria ligeiramente diferente”, assume o entrevistado.
  • 7. ALGARVE INFORMATIVO #211 46 PACIÊNCIA, MINÚCIA E MUITO ESTUDO Encontrados os vestígios, a primeira preocupação é, claro, não danificar os materiais ao retirá-los da terra. Depois, há que obter o máximo de informação possível do contexto onde o material está, daí utilizar-se uma estação total para gravar coordenadas tridimensionais de tudo o que é descoberto. Após isso, os materiais são etiquetados, seguem para o laboratório, onde são lavados e estudados. “Com o apoio da Câmara Municipal de Vila do Bispo temos um espaço em Budens que utilizamos como laboratório de campo, onde é realizado o processamento dos materiais. Só depois é que vão para a Universidade do Algarve para mais análises. Algumas amostras de carvões ou de faunas são enviadas para datação por radiocarbono, que nos dá informação cronológica precisa de cada uma das ocupações que aqui ocorreram”, conta João Cascalheira. A arqueologia não se compadece com ritmos acelerados nem pressas, e exige, acima de tudo, um conhecimento amplo e especializado, numa atividade que raramente está sob a luz dos holofotes. Isso não significa, felizmente, que não existam profissionais bastante competentes, garante Nuno Bicho. “A Universidade do Algarve tem uma licenciatura, um mestrado e um doutoramento nesta área, pelo que há recursos humanos em permanente formação, o que permite avançar-se para as análises dos materiais provenientes dos sítios arqueológicos que temos escavado. É um processo
  • 8. 47 ALGARVE INFORMATIVO #211 que nunca termina, porque a quantidade de artefactos é imensa e muito variada, e há várias teses de mestrado e doutoramento que incidem precisamente sobre achados de Vale Boi”, declara, adiantando que, normalmente, as escavações acontecem ao longo de quatro a oito semanas por ano, durante o Verão e Páscoa, até com estudantes que chegam de universidades dos Estados Unidos, Brasil, Inglaterra e Canadá. “Nos últimos dois anos implementamos um projeto que traz alunos estrangeiros, em parceria com o Institute for Field Research, dos Estados Unidos. Funciona como uma escola de campo em que têm oportunidade de aprender novas técnicas e métodos e, para além disso, recebem créditos que podem utilizar nas universidades norte- americanas”, esclarece João Cascalheira. Quanto ao Dia Aberto, confere à comunidade local, e a todos os interessados, a possibilidade de se conhecer uma jazida arqueológica e perceber o porquê de se conduzir este género de investigação. “Temos sempre, não só pessoas locais, mas muitos estrangeiros que estão cá de férias, dos 7 aos 77 anos, algumas até vêm todos os anos para ficar a par das novidades”, comenta Nuno Bicho. “Os Dias Abertos não são muito comuns e a verdade é que as pessoas depressa ficam seduzidas por aquilo que fazemos. Às vezes dão-nos ideias para resolvermos problemas práticos que encontramos no terreno e até nos convidam para comer e ficar em casa delas”, acrescenta.
  • 9. ALGARVE INFORMATIVO #211 48 A finalizar a conversa, que decorreu num dia de trabalho normal, questionamos qual o destino das peças depois de terem sido realizados todos os estudos e análises. “Há um projeto museológico em desenvolvimento no concelho de Vila do Bispo e parte dos achados de Vale Boi irão para lá. Os restantes materiais ficarão em reserva, por enquanto, na Universidade do Algarve, o que dará oportunidade a outros investigadores para os estudar. O ano passado veio uma jovem do Canadá que estava a fazer o seu mestrado para estudar os achados de Vale Boi. Uma colega alemã também fez parte do seu doutoramento com estes materiais”, indica Nuno Bicho. Quanto a Vale Boi, há muito ainda por fazer, mas o ciclo de escavações desta dupla de arqueólogos da Universidade do Algarve deve conhecer este ano o seu término. “Acho que já deixámos a nossa marca e temos material suficiente para estudar durante mais 20 anos. O nosso objetivo para 2019 é concluir esta área do «Terraço» e dedicarmo-nos exclusivamente ao trabalho de laboratório. Claro que outra zona de escavação é possível, se os objetivos científicos forem bons, porque a vantagem da arqueologia é que, daqui a 10 anos, podem haver métodos e técnicas mais avançadas e que permitam extrair mais informações daquele que conseguimos obter neste momento”, rematou João Cascalheira, antes de regressarem ao «buraco» do «Terraço» onde se encontravam vários estudantes norte-americanos .