A pesquisa aponta que a qualidade da Educação Infantil está diretamente relacionada aos investimentos feitos pelos municípios. Há deficiências na formação continuada de professores e na integração entre professores e auxiliares. As escolas que fazem autoavaliação têm melhores resultados. É preciso garantir boa gestão e transições suaves entre os níveis de ensino.
1. Os desafios da
Proibida a Venda
Edição Especial nº 13
Pesquisa aponta os
setembro/2012
problemas da gestão
nas creches e pré-escolas
e como as redes municipais
e as instituições podem
melhorar o atendimento
uma publicação
2. Índice
Panorama
O município faz a diferença
Conveniadas
Parceria com a supervisão
Docência
Professor e auxiliar: ação em conjunto
Gestor
O papel do diretor
Avaliação
Um check-list para analisar a gestão
Entrevista
Avaliar beneficia o aprendizado
EDIÇÃO ESPECIAL “OS DESAFIOS DA EDUCAÇÃO INFANTIL”
Diretora de Redação: Maggie Krause
Diretora de Arte: Manuela Novais Coordenadora Pedagógica: Regina Scarpa
Editora: Paola Gentile Editora de arte: Renata Borges Editora assistente: Verônica
Fraidenraich Colaboraram nesta edição: Luana Almeida (design), Mauro Kawasaki
(tratamento de imagem) e Paulo Kaiser (revisão) Gerente de Projetos: Mauro
Morellato Analista de Planejamento e Controle Operacional: Kátia Gimenes
Processos Gráficos: Vitor Nogueira
Fundador: Victor Civita
(1907-1990) A edição especial “os desafios da EDUCAÇÃO INFANTIL” é uma publicação da área
Presidente: Roberto Civita de Estudos e Pesquisas da Fundação Victor Civita, (estudosepesquisas@fvc.org.br).
Diretora Executiva: Angela Dannemann IMPRESSo NA gráfica A R FERNANDEZ GRAFICA LTDA.
Conselheiros: Roberto Civita, Giancarlo Francesco Civita, Rua Ana Neri, 768, Cambuci, São Paulo/SP
Victor Civita, Roberta Anamaria Civita, Fábio Barbosa,
Maria Alice Setubal, Claudio de Moura Castro,
Jorge Gerdau Johannpeter, Parceria:
Manoel Amorim e Marcos Magalhães
ilustração da capa: Rodrigo Okuyama
3
3. Panorama
O município
faz a diferença
A Educação Infantil cresceu N o início do século 20, as primeiras creches
surgiram no Brasil como uma das várias ini-
e se profissionalizou. Agora é ciativas destinadas a resolver os problemas sociais
decorrentes da modernização do país. Dessa forma,
preciso políticas permanentes elas se propagaram como instituições separadas do
sistema educacional. Como eram dirigidas às classes
para garantir um menos favorecidas, muitas vezes foram marcadas
pelo preconceito, que considerava um luxo oferecer
atendimento de qualidade Educação de qualidade a essa população.
Porém, ao longo da história, a creche se afirmou
Verônica Fraidenraich como instituição importante na Educação, tornando-
se uma bandeira de luta dos sindicatos e organizações
Do assistencialismo à Educação
Século 19/
Século 20 1930 1970 1977 1988 1996
Surgem as Funcionárias O ensino pré- O Projeto Casulo, A Constituição A Lei de Diretrizes
primeiras creches mães passam a ter escolar (antes da Legião Federal define e Bases da
para crianças de direito a creche na dos 6 anos) é Brasileira de a Educação Educação Nacional
famílias operárias empresa em que incentivado por Assistência (LBA), Infantil como um (LDB) ratifica
e os jardins trabalham. Treze programas de é criado em nível direito da criança a Constituição
de infância para anos depois, governo com o nacional para e um dever do Federal
os filhos da a Consolidação objetivo de suprir atender crianças Estado e atribui e o Estatuto
classe média. das Leis carências culturais de famílias de aos municípios da Criança e do
Trabalhistas (CLT) de crianças de baixa renda com a obrigação de Adolescente (ECA)
reforça classes menos programas de oferecer vagas. ao reconhecer
essa conquista. favorecidas. custo reduzido. As creches – até a Educação Infantil
então vinculadas à como a primeira
área de assistência etapa da Educação
social – ficam a Básica e reforçar a
cargo da Educação. sua oferta gratuita.
4
4. comunitárias, que passam a reivindicá-la como um
marcelo almeida
direito da mulher trabalhadora e de todas as crianças
(leia linha do tempo abaixo).
Em 1988, a Constituição Federal contempla esse
anseio social e a Educação Infantil passa a ser um
dever do Estado. A Lei de Diretrizes e Bases da Edu-
cação Nacional (LDB) ratifica tal mudança e insere
a creche no setor educacional. Hoje, 18,4% do pú-
blico até 3 anos e 80% da população entre 4 e 6 anos
estão matriculados na Educação Infantil, segundo
dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domi-
cílios (Pnad) de 2009, do Instituto Brasileiro de Ge-
ografia e Estatística (IBGE). Houve progressos, mas
os municípios continuam a enfrentar muitas difi-
culdades: atender a demanda crescente, contar com
profissionais preparados para atuar com essa faixa
etária, garantir o devido suporte às entidades con-
veniadas e promover uma supervisão e programas
de formação continuada para toda a rede. Uma ques-
tão preocupante é o emprego de pessoal não quali-
ficado para substituir os professores no trabalho com
as crianças. Todo esse cenário mostra como a quali-
CONDIÇÕES ASSEGURADAS
Garantir espaço e equipamentos
adequados favorece a interação
das crianças e amplia o
conhecimento da realidade
1998 2001 2007 2009 2010 2012
O Referencial O Plano Nacional A aprovação A Emenda As Diretrizes O Plano
Curricular de Educação do Fundo de Constitucional Curriculares Nacional de
Nacional para (PNE) tem como Manutenção 59 estabelece Nacionais para a Educação (PNE)
a Educação Infantil meta atender 80% e Desenvolvimento o ensino Educação Infantil para o decênio,
ilustrações rodrigo okuyama
reforça a relação das crianças da Educação obrigatório e reúnem princípios, em tramitação
entre o cuidar de 4 e 5 anos Básica e de gratuito dos 4 aos fundamentos no Congresso
e o educar, propõe e 50% das de até 3 Valorização 17 anos até 2016. e procedimentos Nacional, repete
uma programação anos nas creches do Magistério Os Indicadores para orientar a meta proposta
pedagógica para até 2010. (Fundeb) garante da Qualidade na os sistemas e as em 2001 de
as creches e pré- o repasse de Educação Infantil unidades públicas atender 50% das
escolas e sugere o recursos para surgem como e privadas, sendo crianças de até
diálogo constante a Educação instrumento um documento 3 anos até 2020.
com a família. Infantil a fim de de autoavaliação mandatório.
que as prefeituras das instituições.
ampliem a oferta
de vagas.
5
5. Panorama
dade do trabalho realizado nas creches e pré-escolas
tem relação com o investimento e a atenção que a
Secretaria de Educação dá ao segmento.
Essas foram as principais conclusões da pesquisa
A Gestão na Educação Infantil no Brasil, que a Funda-
ção Victor Civita (FVC) encomendou para a Funda-
ção Carlos Chagas (FCC), ambas de São Paulo, com
o apoio do Itaú BBA e da Fundação Itaú Social. Fo-
ram analisadas 180 escolas públicas e conveniadas
de seis capitais. “Questões ligadas ao aprendizado, à
formação dos profissionais e à alimentação são as-
suntos difíceis de serem supervisionados ou modi-
ficados quando o atendimento se dá majoritaria-
mente de forma indireta, como tem acontecido com
a Educação Infantil”, explica Maria Malta Campos,
marcelo almeida
pesquisadora da FCC e coordenadora do estudo (co-
nheça a situação dessas entidades na página 8). Os pes-
quisadores fizeram entrevistas com técnicos das Se-
cretarias de Educação, gestores e membros das co-
munidades, contemplando temas como as políticas
municipais da área, a formação do diretor e os mo-
delos de gestão escolar. Quatro escolas tiveram o seu
dia a dia acompanhados e observados de perto.
Deficiências na formação
O estudo destaca o fato de a formação continuada
ter uma carga horária insatisfatória e desvinculada
das demandas docentes. Ressalta, ainda, a falta de
integração desse profissional com o auxiliar – que
acaba ficando responsável somente pelo cuidado
com as crianças (leia mais sobre a capacitação desses
profissionais e a parceria na docência na página 10).
“Cabe à Secretaria de Educação dar autonomia às
unidades na elaboração do projeto político-pedagó-
gico e no gerenciamento dos recursos, zelando para
que as linhas pedagógicas sejam seguidas”, afirma
Valdete Côco, professora do Centro de Educação da
Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes) e uma
das coordenadoras locais da pesquisa. Ela ressalta
que, para tanto, as redes devem destacar o papel do
diretor nesse processo, aprimorar os modelos de
seleção para o cargo e a formação (leia mais sobre a
foco nas especificidades função do gestor na página 14 e como checar a qualida-
Atender crianças pequenas de da gestão na página 16). Outro diferencial no re-
fernanda preto
inclui atividades educativas
e de cuidado, como dar banho sultado das escolas está na autoavaliação: segundo
e prever tempo para descanso os pesquisadores, as que se servem desse instrumen-
6
6. Recomendações dos especialistas
Ao Ministério da Educação
n Inserir no Censo Escolar um campo que permita
identificar as unidades de Educação Infantil anexas
a escolas do Ensino Fundamental e aprimorar
os tutoriais sobre o preenchimento desses dados.
n Desenvolver indicadores educacionais para
o segmento que sejam acessíveis e de fácil
compreensão para dirigentes e público em geral.
CAPACITAÇÃO CONTÍNUA Ao Poder Executivo Municipal
Os cursos de formação ajudam nElaborar estratégias efetivas e que garantam
os professores e auxiliares
a planejar atividades ajustadas a transparência na divulgação e no monitoramento
às especificidades do segmento das informações e dos dados da administração, bem
como da legislação do setor: percentual orçamentário
destinado à Educação, Plano Municipal de Educação,
Lei Orgânica do Município, metas de governo.
to têm desempenho melhor do que as que não o
fazem (leia entrevista da página 18). Às Secretarias Municipais de Educação
A pesquisa sugere ao poder público atentar às n Capacitar os técnicos e as equipes de Educação
transições pelas quais a criança passa. “A mudança Infantil para que utilizem as bases nacionais de dados
do ambiente de casa para o da creche, dessa para a e organizem informações sobre as taxas de cobertura
pré-escola e, depois, para o 1º ano tem de ser discu- de atendimento por faixa etária, distrito e bairro.
tida pela equipe docente”, explica Rita Coelho, coor- n Elaborar diagnósticos com base nos levantamentos
denadora geral desse segmento do Ministério da realizados que norteiem as decisões sobre a
Educação (MEC). “Esse é um modo de pensar a in- construção de unidades, atendimento da demanda,
fância e as políticas do setor, articulando as redes de critérios de matrícula e definição de períodos diários
ensino entre si e com outras esferas de governo”, diz de funcionamento (parcial e integral).
Ana Maria Mello, doutora em Psicologia da Educa- n Divulgar ao público os critérios de matrícula
ção pela Universidade de São Paulo (USP), campus e os percentuais de atendimento por etapas (creche e
de Ribeirão Preto, no interior de São Paulo (leia pré-escola) da rede municipal e conveniada.
algumas recomendações no quadro ao lado).
Ao Conselho Municipal de Educação
QUER SABER MAIS? n Elaborar normas objetivas que facilitem
Internet a fiscalização local sobre os padrões básicos
Em fvc.org.br/estudos, a íntegra da pesquisa
A Gestão na Educação Infantil no Brasil de qualidade para a Educação Infantil, levando em
conta a legislação e os documentos orientadores
Participaram do debate sobre o resultado da pesquisa A Gestão da Educação
Infantil no Brasil os seguintes especialistas, mediados pela diretora executiva do MEC e do Conselho Nacional de Educação (CNE).
da Fundação Victor Civita (FVC), Angela Cristina Dannemann; Beatriz n Estabelecer mecanismos e procedimentos
Gouveia, do Instituto Avisa Lá; Carol DeShano da Silva, da American
University; Gisela Wajskop, do Instituto Singularidades; Maria Malta para cancelar a autorização de funcionamento
Campos, coordenadora do estudo; Mozart Neves Ramos, do Movimento de instituições de Educação Infantil que não
Todos Pela Educação; Patricia Mota Guedes, da Fundação
Itaú Social; Rita Coelho, da Secretaria de Educação Básica do Ministério atendam aos critérios básicos de funcionamento.
de Educação (MEC); Sílvia Ulisses de Jesus, Educadora Nota 10 da edição
2010 do Prêmio Victor Civita; Zélia Porto, do Centro de Educação
da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE); e Zilma de Oliveira, * A lista completa de recomendações
do Instituto Superior de Educação Vera Cruz. está disponível em www.fvc.org.br/estudos
7
7. Conveniadas
Parceria com a supervisão
Acompanhar as questões pedagógicas
e a formação favorece a integração
com a rede conveniada
Alice Ribeiro
P romover a gestão eficiente da Educação Infan-
til em uma rede municipal implica em dar
condições aos estabelecimentos e assegurar que eles
e acompanhamento didático e ofereçam formação
em serviço a todos”, diz Catarina de Souza Moro, do
Núcleo de Estudos e Pesquisas em Infância e Educa-
atendam a uma série de requisitos relacionados às ção Infantil da Universidade Federal do Paraná (UF-
instalações físicas, aos materiais e equipamentos, ao PR) e uma das coordenadoras locais do estudo.
número de professores por turma e à formação do- Uma das justificativas das conveniadas para ofe-
cente. É uma tarefa que se torna cada vez mais com- recer um atendimento fora dos padrões da rede são
plexa para as Secretarias de Educação na medida em os valores dos repasses. “Mesmo as escolas que reali-
que o modelo de gestão escolhido tem sido, em mui- zam um bom trabalho não conseguem sobreviver
tas redes, o de estabelecer convênios com instituições com os recursos recebidos”, explica Ana Benedita.
privadas e filantrópicas sem fins lucrativos. Isso faz com que algumas prefeituras autorizem esses
A pesquisa da Fundação Victor Civita (FVC) cons- locais a cobrar mensalidades dos pais.
tatou que a forma como o município administra Segundo dados do Instituto Nacional de Estudos
essas parcerias apresenta variações, porém a dificul- e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep) de
dade em fazer com que as escolas conveniadas sigam 2011, 5,35% do atendimento das pré-escolas e 13,7%
os padrões estabelecidos pela rede é comum em das creches no país são feitos por instituições conve-
todas as capitais analisadas. “Por falta de pessoal na niadas. Portanto, é essencial revisar os termos dos
Secretaria ou excesso de autonomia das unidades, a acordos firmados para que contemplem as questões
supervisão não é feita a contento”, afirma Ana Be- pedagógicas e formativas, assim como as condições
nedita Brentano, formadora de professores de Edu- básicas de infraestrutura (leia no quadro ao lado as
cação Infantil do Instituto Avisa Lá, de São Paulo. orientações para as redes de ensino). “Os convênios vêm
A situação torna-se ainda mais delicada se consi- aumentando inclusive nas pequenas cidades e, na
deradas as condições de trabalho dos docentes. Além maioria das vezes, se o acerto de contas estiver em
da baixa qualificação (40% concluíram apenas o dia, o contrato é renovado”, afirma Ana Benedita.
Ensino Médio, enquanto na rede direta apenas 5%
têm esse perfil), eles não contam com horários de Ceder prédios garante boa infraestrutura
ilustração rodrigo okuyama
planejamento remunerados, ganham salários meno- O fato de as entidades funcionarem em locais próprios
res que os dos colegas do município e raramente e, não raro, inadequados – como casas com escada
participam dos cursos da Secretaria. Para piorar, ou sem área ao ar livre – dificulta a realização de
muitas entidades não têm um coordenador pedagó- reformas. Foi por causa desse impasse que a Secreta-
gico e deixam os cursos formativos a cargo do diretor. ria de Educação de São José dos Campos, a 99 quilô-
“É essencial que as redes criem uma rotina de apoio metros de São Paulo, criou, em 2005, um programa
8
8. Uma só unidade para o sistema
Para garantir a qualidade do ensino em creches e pré-escolas diretas
e conveniadas, as Secretarias Municipais de Educação devem:
Estabelecer critérios
básicos de qualidade Construir novas Providenciar pessoal Oferecer formação
da Educação Infantil. unidades de acordo (professores continuada para
com os padrões e funcionários de gestores, coordenadores,
de qualidade. apoio), equipamentos professores e auxiliares
e materiais da rede direta
pedagógicos.
ilustração mario kanno
e conveniada, assim
como fazer a supervisão
e a fiscalização
de todas as unidades.
Fazer um levantamento
para saber em
que bairros há maior
carência de vagas.
Quando necessário,
assinar contrato
com as entidades Ao realizar parcerias
conveniadas, definindo com outras
condições básicas de Secretarias, incluir
infraestrutura as unidades diretas
e dando autonomia e as conveniadas.
à contratação
de pessoal, porém
mantendo a formação
da equipe a cargo de
um supervisor da rede.
para as instituições conveniadas – que hoje atende Recomendações dos especialistas
um terço das 21 mil crianças matriculadas no mu- Às Secretarias Municipais de Educação
nicípio. “Construímos prédios nos bairros com maior n Adotar termos de convênio que incluam critérios
carência de vagas seguindo nossos padrões de segu- de ordem administrativa e pedagógica e condições
rança, com salas amplas, área de convivência e espa- básicas de infraestrutura, de acordo com o documento
ço verde”, diz Cíntia Ebram, coordenadora geral da do MEC que traz indicações detalhadas sobre o assunto.
Divisão de Educação Infantil do município. n Criar mecanismos de orientação, monitoramento
A coordenação pedagógica é exercida por um e fiscalização das instituições para garantir
profissional concursado. Já os docentes e gestores são a qualidade do atendimento.
contratados pela entidade e frequentam os mesmos n Oferecer formação continuada aos profissionais.
cursos ofertados à rede direta. “Seguimos princípios n Incluir as entidades diretas e conveniadas nas parcerias
iguais para acompanhar e avaliar as unidades con- intersetoriais feitas com as áreas de Saúde, Cultura,
veniadas e da prefeitura”, conclui Cíntia. Assistência Social e Direitos da Criança.
9
9. Docência
Professor e auxiliar:
ação em conjunto
marcelo almeida
É preciso repensar as
carreiras desses profissionais
e garantir que eles atuem “Fazemos o planejamento do ano
com a coordenadora e os auxiliares
de forma articulada para acompanhar a aprendizagem.”
Maria Eliza Fernandes da Silva,
Caroline Ferreira professora do CMEI Lala Schneider, em Curitiba
D e que a Educação Infantil é uma etapa im-
portante da Educação Básica, ninguém mais
duvida. Afinal, as vivências que acontecem nos pri-
especialização na área (leia mais sobre o perfil docen-
te no quadro da página 12).
“Além de conhecer as etapas do desenvolvimento
meiros anos de vida são marcantes para o desenvol- da faixa etária atendida por creches e pré-escolas,
vimento integral da criança. Portanto, os adultos o docente precisa saber como a criança pequena
responsáveis por cuidar das crianças de até 6 anos aprende”, diz Regina Magna, professora do Depar-
em creches e pré-escolas deveriam ser muito bem tamento de Educação da Universidade Federal de
formados. A eles cabe instigar e promover as relações, Ouro Preto (UFOP) e especialista em Gestão e Po-
interações e brincadeiras que tragam às crianças líticas Públicas da Educação.
experiências diversas, com a finalidade de ampliar Já os auxiliares – também chamados de assistentes,
o conhecimento de si e do mundo, facilitar o acesso cuidadores e recreacionistas – têm concluído, em
a diferentes linguagens e o uso delas no dia a dia geral, apenas o Ensino Médio. Todavia, a pesquisa
e a aquisição de autonomia para participar de ativi- destaca a necessidade de esse profissional trabalhar
dades individuais e coletivas. de forma articulada com o professor e ter assegura-
Lidar com essas especificidades requer muito es- dos os horários de formação em serviço. Isso porque,
tudo – o que nem sempre é garantido nos cursos de além dos cuidados rotineiros – como trocar fraldas,
formação inicial nem oferecido na formação conti- alimentar, fazer a higiene bucal, dar banho e colocar
nuada – e tempo para planejar – muitas vezes, au- para dormir –, ele participa de ações educativas e
sente da rotina desses profissionais. De acordo com atividades pedagógicas. Em diversos momentos, o
ilustrações Bruno Algarve
a pesquisa da Fundação Victor Civita (FVC), apesar auxiliar costuma ficar sozinho com a turma, princi-
de a maioria dos professores de Educação Infantil palmente quando há programação no contraturno
ser formada em Pedagogia, apenas 35% fizeram uma – o que não é adequado.
10
10. Equipe articulada
“Todo o nosso trabalho é seguido
de perto pela supervisão de ensino.
Tenho reservadas quatro horas semanais
só para o meu aprimoramento.”
Vera Lucia Martins,
coordenadora pedagógica do CMEI Lala Schneider
“Se a criança tem dificuldades,
“Quando substituímos os colegas, eu e a professora preparamos
as ações realizadas seguem a proposta atividades para ajudá-las a atingir
pedagógica da instituição.” os objetivos pedagógicos.”
Gisele Cardoso, auxiliar da equipe Célia Regina da Rosa,
de permanência do CMEI Lala Schneider auxiliar do CMEI Lala Schneider
Cabe à rede de ensino reservar espaço e tempo mais é do que um grupo de auxiliares que cuidam
para que professor e auxiliar planejem juntos e essas das crianças enquantos os colegas participam dos
horas sejam valorizadas e incorporadas à jornada de momentos de formação. “Esses substitutos, por sua
trabalho. Dentro dessa perspectiva, é imprescindível vez, também têm tempo garantido para a formação
a presença de um coordenador pedagógico em cada e o planejamento”, explica Adriana Collodel, peda-
unidade, que seja capaz de promover a capacitação goga de uma das sedes regionais da Secretaria.
em serviço, e de um supervisor que apoie e oriente Além de assegurar a contratação desse pessoal,
as equipes gestora e docente (leia outras recomendações a supervisão do município realiza visitas periódicas
no quadro da página 13). em todas as unidades, promove capacitações regu-
lares, fornece material de apoio e orienta na elabo-
Equipe extra substitui auxiliares ração do plano de ação – documento que explicita
Em Curitiba, a Secretaria Municipal de Educação os objetivos de aprendizagem para cada faixa etária
garante que, além dos cursos oferecidos pela rede, que devem ser atingidos ao longo do ano.
o auxiliar participe das duas horas semanais de tra-
balho coletivo em serviço, contando sempre com Troca de experiências enriquece reuniões
o apoio de um formador. “O planejamento conjun- Segundo o estudo da FVC, 90% dos professores par-
to me ajuda a identificar as dificuldades das crianças ticipam de capacitações. No entanto, mais da meta-
com mais rapidez”, afirma Célia Regina da Rosa, de (49,5%) dispensa menos de um terço da carga
auxiliar da CMEI Lala Schneider (leia acima outros horária para atividades extraclasse, portanto, tempo
depoimentos da equipe). inferior ao previsto na Lei do Piso Salarial do Ma-
Para que isso seja possível, cada estabelecimento gistério. Além disso, os encontros têm pouca refe-
conta com uma equipe de permanência, que nada rência aos problemas enfrentados por esses educa-
11
11. Docência
dores no dia a dia. “A disponibilidade de tempo re- pedagógica da escola, transformou o assunto em
gulamentado permite ao coordenador realizar uma pauta de reunião, providenciando vídeos e textos de
formação encadeada e contínua”, afirma Beatriz apoio. Durante a análise de dados e o debate, o gru-
Abuchaim, assistente de pesquisa da Fundação Car- po chegou à conclusão de que era preciso fazer mu-
los Chagas (FCC), em São Paulo, que colaborou com danças. “Percebemos que os ambientes tinham pou-
o estudo: “Os docentes entrevistados disseram sentir cas áreas livres para circulação e isso levava as crian-
falta de orientação específica, por exemplo, quanto ças a ficar constantemente próximas umas das outras,
ao uso de certos materiais pedagógicos ou mesmo chegando, inclusive, a se trombar”, diz Juliana. A
sobre como trabalhar com crianças com necessidades solução encontrada foi retirar parte das mesas e
especiais de aprendizagem”, afirma Beatriz. cadeiras que dificultavam a movimentação.
Estar atento às demandas do grupo é imprescin-
dível. Foi graças às conversas ocorridas nos encontros Partilhar registros facilita planejamento
formativos que os professores do CEI Ramza Bedo- Em Mogi das Cruzes, município da Grande São Pau-
glin Domingos, em Campo Grande, constataram lo, o trabalho articulado faz parte da rotina das cre-
que a organização dos espaços e disposição dos mó- ches e pré-escolas da rede. No CEIM Sebastião Silva,
veis prejudicava a realização de certas atividades a coordenação pedagógica criou, junto com a equi-
educativas. Juliana Pereira da Silva, coordenadora pe docente e os auxiliares, uma planilha comum,
Perfil do professor da Educação Infantil
Dados sobre a experiência acadêmica e profissional, segundo as respostas
marina piedade
dos 281 docentes da rede direta e conveniada das seis capitais analisadas
Diálogo constante
GÊNERO FORMAÇÃO INICIAL
“As auxiliares são tão
educadoras quanto as
professoras e devem ser
98,6% 82,2%
têm formação
53,0%
têm pós-
incluídas no trabalho de
planejamento e formação.”
são do sexo feminino superior graduação Helaine Cristina Bio Margarido,
coordenadora pedagógica do CEIM
FAIXA ETÁRIA JORNADA DE TRABALHO Sebastião Silva, de Mogi das Cruzes
53,7%
cumprem “O diálogo constante
40 horas ou mais
39,1% e o trabalho conjunto são
até 34 anos
FORMAÇÃO EM SERVIÇO essenciais para as equipes
41,3% de professoras e auxiliares.
ilustrações rodrigo okuyama
41,3% têm mais Para isso, é preciso tempo
entre 35 e 44 anos de 40 horas
e espaço físico adequados.”
49,5% Maria Inês de Mello Faria
18,9% têm 40 horas Peixoto de Miranda, professora
45 anos ou mais ou menos do CEIM Sebastião Silva
12
12. que fica arquivada no computador da sala de profes- Recomendações dos especialistas
sores. Ela permite o compartilhamento de informa-
ções gerais sobre as crianças e sobre os avanços al- Às Secretarias Municipais de Educação
cançados em relação aos objetivos estabelecidos. n Elaborar e implementar planos de carreira para
A coordenadora Helaine Cristina Bio Margarido todos os profissionais da Educação Infantil, garantir
explica que essa foi a maneira encontrada para cen- a isonomia profissional e definir com clareza
tralizar as anotações feitas nos diários de classe por e objetividade as atribuições de cada função,
cada um dos educadores. “Agora, o documento fica considerando as especificidades do segmento.
acessível para que todos o alimentem e consultem n Garantir aos professores e auxiliares horas
sobre as práticas realizadas diariamente”, afirma a de trabalho remuneradas para planejamento
professora Maria Inês de Mello Faria Peixoto de Mi- e formação continuada.
randa. Para a auxiliar Maria Clara Assumpção, essa n Implementar uma política de formação continuada
organização facilita o seu trabalho. “Sabemos quais baseada nas demandas da rede e dos profissionais.
projetos estão em andamento e se as expectativas de n Integrar a supervisão de ensino com a política
aprendizagem estão sendo contempladas. Isso nos de formação continuada e a proposta pedagógica
ajuda a dar prosseguimento às atividades” (leia abai- do município.
xo outros depoimentos da equipe). n Viabilizar o trabalho dos supervisores com
a definição das suas atribuições, o devido
dimensionamento das equipes e a elaboração
de documentos orientadores e instrumentos
de acompanhamento pedagógico e administrativo.
n Garantir um coordenador pedagógico
por escola, com carga horária semanal de 40 horas,
marina piedade
e oferecer capacitações para que ele possa lidar
com as especificidades da Educação Infantil.
n Implementar uma política de integração
da Educação Infantil e do Ensino Fundamental
com base no acompanhamento contínuo
da trajetória escolar das crianças.
“Cada professor tem um
projeto específico. A ação
das auxiliares segue os
mesmos temas e objetivos.
Então o processo fica mais
claro quando planejamos
e sistematizamos tudo juntos.”
Maria Clara Assumpção Ferreira,
auxiliar do CEIM Sebastião Silva
13
13. Gestor
edson chagas
O papel
do diretor
Figura nem sempre presente
nas escolas de Educação
Infantil, um bom gestor
é o elo entre a rede, os
professores e a comunidade
Sarah Fernandes
T er uma visão global da instituição com foco
na aprendizagem dos alunos é um dos princi-
pais atributos de quem assume a direção de uma
O ideal é que cada creche e pré-escola tenha uma
pessoa presente que olhe e responda por tudo o que
lá acontece. Para tanto, é preciso que as redes, além
escola. Ao gestor é creditada grande parte dos suces- de criar o cargo, definam com clareza as responsabi-
sos – e também dos fracassos – de uma instituição. lidades e ofereçam meios democráticos de seleção
E não é para menos, pois, como o responsável legal, e formação específica (leia outras recomendações
espera-se que ele providencie as condições necessárias no quadro da página ao lado).
à aprendizagem, zelando pelo uso dos espaços, cui- “Definir critérios para a escolha desse profissional
dando da administração dos recursos financeiros e faz com que ele entenda melhor as tarefas que rea-
melhorando as relações interpessoais (com funcio- liza e atenda às expectativas. Isso garante, por exem-
nários e professores), institucionais (com a Secretaria plo, uma tomada de decisão mais qualificada”, avalia
de Educação) e com a comunidade. Jodete Fullgraf, professora da Faculdade de Pedago-
Tantas exigências chegam a assustar alguns pro- gia da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC)
fissionais. Há, inclusive, os que nem sequer se iden- e uma das coordenadoras locais da pesquisa.
tificam com o termo gestor – que passou a ser usado A maneira de chegar ao cargo também é impor-
em meados dos anos 1980, visando levar aos sistemas tante. Em nenhum dos municípios pesquisados, os
públicos educacionais a ideia de eficiência por metas diretores assumiram a função por meio de concurso
a serem alcançadas. Sendo assim, fica a pergunta: público, pouco mais de 10,5% dos diretores foram
que condições são dadas para que esse profissional indicados por técnicos ou políticos e quase metade
exerça seu trabalho a contento? A pesquisa da Fun- (46%) declarou ter participado de uma eleição. Para
dação Victor Civita (FVC) constatou que, nas escolas Jodete, tal prática leva ao reconhecimento do diretor
que oferecem outras etapas de ensino, a Educação pelos pares e evita a nomeação de uma pessoa que
Infantil não recebe a devida atenção do diretor. desconhece a realidade da escola.
14
14. Funcionários valorizados
“Depois de lecionar por 12 anos
ilustrações rodrigo okuyama
na Educação Infantil, candidatei-me
à direção, pois queria ajudar
a resolver alguns problemas, como a
falta de participação dos funcionários
na gestão da escola. Quando eleita,
passei a envolver a todos nas
discussões e implantei um processo
de avaliação para medir a satisfação
do pessoal da cozinha, da limpeza, da
secretaria e do setor pedagógico. Com
a análise dos dados, vamos melhorar
o trabalho de cada equipe. Conto com
o apoio da supervisão de ensino por
meio das reuniões e visitas à unidade.”
Patrícia Loureiro, pedagoga com pós-graduação
em psicanálise com práticas educacionais e gestora da
CMEI Valdivia da Penha Antunes Rodrigues, em Vitória.
Foco nas dúvidas específicas
A Secretaria de Educação de Vitória realiza eleições
diretas para gestor desde 1995, com mandatos de três Recomendações dos especialistas
anos. A rede oferece uma orientação inicial aos elei-
tos, com noções gerais sobre a função, e promove Às Secretarias Municipais de Educação
encontros ao longo do ano. Foi numa dessas reuni- n Estabelecer mecanismos de seleção
ões que Patrícia Loureiro, diretora da CMEI Valdivia de diretores por processos democráticos, evitando
da Penha Antunes Rodrigues, foi alertada a não que interesses políticos prevaleçam.
comprar enlatados e embutidos para melhor atender n Garantir que todas as unidades
às necessidades nutricionais das crianças. de Educação Infantil municipais tenham um diretor.
Para Jodete, o ideal é que, nos municípios em que n Estabelecer medidas que permitam a continuidade
ocorrem eleições, os interessados no cargo recebam da gestão e a coerência do trabalho em relação
formação em serviço sobre gestão escolar. Dos dire- ao projeto político-pedagógico.
tores entrevistados no estudo, 88,9% disseram ter n Definir as atribuições do diretor, considerando
participado dessas atividades nos últimos dois anos. sua função articuladora entre a política municipal
Em Florianópolis, os gestores frequentam reuniões de Educação, os profissionais da unidade,
mensais de quatro horas, escolhendo os temas rela- as famílias e a comunidade.
cionados aos problemas do cotidiano para estudar. n Organizar cursos de formação continuada
“A maioria dos diretores foi professor, mas para aque- específicos para os gestores.
le cargo são exigidas outras competências, como n Adotar um processo de avaliação periódica do
gerir pessoas e recursos financeiros”, diz Marcos Abra- diretor, inclusive com a participação da comunidade.
el, diretor de administração escolar da Secretaria de
Educação da capital catarinense.
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15. Avaliação
Um check-list para
analisar a gestão
Os resultados podem ser usados
do cargo
tos
Acomp
para embasar as decisões institucionais a ge
en finan
m
ci
verônica fraidenraich
he
Con
D
O cargo de gestor exige
e acordo com as respostas aos questionários,
uma formação que
o estudo da FVC criou um conjunto de in-
garanta competência para
dicadores associados aos aspectos de uma boa gestão Usar a
legislação lidar com as questões
da Educacão Infantil. Os diretores de creche e pré-
relacionada administrativas e
escola podem se basear neles para verificar se as à área? pedagógicas. Você, gestor,
tarefas e responsabilidades estão contempladas no
está preparado para:
dia a dia e identificar aquelas que pedem maior
atenção. Esses indicadores também são úteis aos
supervisores da rede em seu trabalho para planejar Implantar uma
a formação em serviço e orientar o gestor nos as- programação
suntos em que ele sentir mais dificuldade. bem elaborada,
levando em conta as
especificidades da
Educação Infantil?
Culti
gica
agó
Promove boa
com o
d avaliações dos
pe
professores e da Manejar com comu
instituição? habilidade a
gestão de recursos
o
humanos?
tã
Ges
Garante
reuniões
Algumas ações regulares de
formação em
precisam estar
serviço?
asseguradas na rotina l
da escola. No seu dia
ona
a dia, você:
ci
tu
Está a par das
ilustrações mario kanno
atividades
ação insti
realizadas pelos
docentes?
Envolve a
comunidade na
discussão do Assegura tempo
projeto político- de planejamento
pedagógico? aos professores?
vali
16
A
16. humanos teriais
rsos Ma
cu
Re
Olhar para
Você, gestor,
os funcionários
tem autonomia
e suas condições de
para selecionar
trabalho é um dos atributos
e adquirir:
Professores do gestor. Baixa
em número
A escola conta com: rotatividade
suficiente? no quadro
docente? Brinquedos?
Livros?
Materiais
pedagógicos?
Um conselho
escolar ativo, com a
participação efetiva
de diretor, professores,
Acompanhar funcionários, pais e
a gestão
as famíl
com
demais representantes As queixas
financeira? da comunidade? ias da comunidade
ção sobre a
instituição são
la
levadas em
Re
consideração?
Conduzir
a elaboração Os familiares
e a revisão do se sentem bem Os familiares
projeto político- recebidos e tratados de crianças com
pedagógico? com respeito? A parceria com os pais é deficiência são
bem acolhidos?
importante para o aprendizado
das crianças. Verifique na sua
Os horários de
unidade e também faça uma
reuniões de pais Os pais de
e o calendário consulta com eles para saber se:
alunos novos
escolar consideram permanecem na
Seguir os
as necessidades instituição até
princípios de
das famílias? que as crianças se
uma gestão
democrática? sintam seguras?
Os critérios As informações
Você atende
de matrícula da ficha de matrícula
os familiares
são claramente são usadas para
individualmente em
informados? conhecer melhor
Cultivar uma horários previamente
o público e embasar
boa relação agendados?
o planejamento?
com os pais e a
comunidade?
oal
Usar os
a pess
ur
Indicadores da
Qualidade na
Educação Infantil
st
do MEC?
Po
Os
l Promover reuniões funcionários?
ona Empregar
procedimentos
regulares com a equipe
e as famílias reforça
de autoavaliação
institucional? o vínculo com ambos.
As ações regulares Você reserva tempo
de monitoramento para atender com Os professores?
ajudam a medir avanços frequência:
Avaliar o
e detectar problemas desempenho dos
no processo de ensino e professores? Os pais dos
aprendizagem. Faz parte alunos?
da proposta da escola:
17
17. Entrevista
Maria MALTA campos
Avaliar beneficia
o aprendizado
RAONI MADDALENA
Para a pesquisadora, a prática constante e formativa. Para Maria Malta Campos,
garantir o apoio da rede de ensino e fomentar
regular de autoavaliações a prática de autoavaliação é um desafio que se impõe
à sociedade e exige esforços do poder público.
e o monitoramento constante
Qual a importância das ferramentas de avaliação
pela rede de ensino impactam na melhoria da Educação Infantil?
a melhoria do serviço Maria Malta A análise do trabalho docente é
um componente da qualidade dos serviços ofere-
cidos pela instituição. Observar os professores e as
Verônica Fraidenraich condições de desenvolvimento e de aprendizagem
que as crianças encontram nas creches e pré-escolas
E
faz com que os gestores detectem os problemas antes
mbora o atendimento à faixa etária de até 6 de eles se tornarem graves e implementem interven-
anos conte com pelo menos uma ferramenta ções para aprimorar a parte pedagógica. Contudo,
de autoavaliação – os Indicadores da Qualidade na para o sistema funcionar, a escola deve promover a
Educação Infantil, do Ministério da Educação (MEC) autoavaliação com o apoio das prefeituras, que são
–, são poucas as unidades que a utilizam. É consenso, corresponsáveis pela melhoria do atendimento.
porém, que instrumentos desse tipo trazem ganhos
para o trabalho pedagógico e social das unidades. Que aspectos são avaliados nas instuições?
A pesquisa A Gestão da Educação Infantil no Brasil Maria Malta A rotina e as atividades oferecidas
constatou, por exemplo, que, em iguais condições são as primeiras coisas a serem observadas. É preciso
de estrutura, o grupo de instituições que avalia os verificar a existência de um programa bem orientado
professores se sai melhor do que o que não utiliza e aplicado no cotidiano. Para crianças de até 6 anos,
tal recurso. Essa conclusão resulta de uma metodo- ter espaço para as brincadeiras, a socialização e o
logia estatística que concluiu: as pré-escolas mais desenvolvimento motor amplo faz diferença, assim
bem avaliadas nos aspectos de gestão levantados como o incentivo à ampliação do conhecimento
nesse estudo têm traços comuns com as instituições de mundo. Garantir o acesso a uma boa Educação
mais bem pontuadas em uma análise anterior, feita
* Os indicadores de qualidade foram elaborados com base na Escala de
com base em indicadores de qualidade*. O cruza- Avaliação de Ambientes de Pré-Escola (ECERS-Revised), utilizada na
mento dos dados revelou também que a Secreta- pesquisa Educação Infantil no Brasil – Avaliação Qualitativa e Quantitativa, de
2010, coordenada por Maria Malta Campos. O estudo pontua as unidades
ria de Educação é determinante na qualidade do segundo a presença de uma série de itens relacionados aos ambientes
atendimento quando promove uma supervisão frequentados pelas crianças e às atividades desenvolvidas pelos professores.
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18. Infantil contribui para que os resultados da apren-
dizagem de um aluno sejam positivos durante toda
a escolaridade. Os critérios e as formas de acompa-
nhamento da proposta pedagógica devem se ajustar
à especificidade desse segmento.
Os Indicadores da Qualidade na Educação Infan- Somente a priorização
til atendem às particularidades do segmento?
Maria Malta Sim. Trata-se de uma metodologia da função de supervisão
participativa de autoavaliação na qual podem tomar
parte todos os profissionais da escola e também os
pode mudar
pais das crianças. A finalidade é traçar um diagnóstico o cenário da Educação
das atividades desenvolvidas. Depois, com a análise
dos resultados e a sistematização dos dados, os gesto- Infantil, pois ela
res podem elaborar coletivamente um plano de ação
conforme as necessidades. Uma análise do uso do In-
é o elo entre o
dicadores, feita com a colaboração da União Nacional governo e as escolas.
dos Dirigentes Municipais de Educação (Undime),
apontou que 50% das prefeituras confirmaram ter
recebido o documento do MEC. Dessas, 30% disse-
ram usá-lo no monitoramento da rede. Nesse caso, De que maneira as redes podem acompanhar
o instrumento teria de ser adaptado, visto que não o desempenho das unidades ao longo do ano?
foi feito com tal propósito. Mas é importante que Maria Malta Elas procuram fazer isso por meio
ele sirva de orientação à supervisão das unidades. dos supervisores de ensino – os técnicos da Secreta-
ria de Educação que têm como função observar o
Essa avaliação deveria ser obrigatória? funcionamento das escolas em todos os seus aspec-
Maria Malta Os governos locais têm autonomia tos – pedagógicos inclusive. Contudo, eles mesmos
para decidir sobre os programas educacionais que sentem falta de recursos e orientações mais objetivas
querem adotar. Seria difícil prever uma obrigação sobre como dar esse apoio e o que observar. Além
nesse contexto, ainda mais se considerarmos as di- disso, há um grande número de estabelecimentos
ferenças entre os mais de 5 mil municípios brasilei- que cada um deles precisa visitar. Somente a prio-
ros. O que podemos dizer é que, numa democracia, rização da função de supervisão poderia mudar o
espera-se que todas as instituições e políticas públicas, cenário da Educação Infantil, pois ela é o elo entre
inclusive as educacionais, tenham acompanhamento o governo e as escolas.
e sejam submetidas ao controle social.
As escolas resistem ao monitoramento?
Faz sentido criar um teste de conhecimento para Maria Malta Sim, especialmente as unidades
as crianças de até 6 anos? privadas – as particulares e as conveniadas. Nessas
Maria Malta Uma avaliação individual com- últimas, as Secretarias disseram ser difícil implantar
pulsória para essa faixa etária não é desejável nem melhorias em relação à contratação dos professo-
adequada. Exames como a Prova Brasil e o Sistema res, formação, infraestrutura e currículo, mesmo
Nacional de Avaliação da Educação Básica (Saeb) dependendo do subsídio público para funcionar. O
ilustrações Rodrigo okuyama
avaliam as redes com base no desempenho dos estu- MEC tem um documento de orientação para esses
dantes em provas objetivas. Sua realização pressupõe convênios, mas nem todas as capitais pesquisadas o
a definição de conteúdos e habilidades que, se espera, consideram. Nas particulares, são encontradas difi-
sejam dominados pelos alunos em determinadas eta- culdades semelhantes de fiscalização. Há, inclusive,
pas. Os aspectos observados na Educação Infantil não muitos casos de estabelecimentos que nao oferecem
se encaixam num sistema de avaliação individual. as mínimas condições de qualidade.
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