1) O documento discute o papel das bibliotecas comunitárias na promoção da leitura e participação cidadã.
2) É argumentado que as bibliotecas devem se conectar às comunidades locais por meio de parcerias e programas que estimulem a leitura.
3) A criação de redes entre bibliotecas e outras organizações é apontada como forma de fortalecer as políticas e programas de promoção da leitura.
PROGRAMA DE AÇÃO 2024 - MARIANA DA SILVA MORAES.pdf
Bibliotecas, Comunidades e Políticas de Leitura
1. Bibliotecas & Comunidades
por uma Sociedade Leitora
Abraão Antunes Silva
Articulador da RBBC
rbbconexoes.ning.com // rbbconexoes.blogspot.com
2. Bibliotecas & Sociedade Leitora
A construção social de um território é a interpretação e expressão de cenários
de identidades locais e regionais visando a construção de futuros
coletivos. As bibliotecas, imersas em processos de construção social da
informação, na promoção de sociedades leitoras do texto escrito e de
seu entorno, se constituem e se consolidam como atores sociais
fundamentais no estímulo de processos de participação informada e na
qualificação de sociedades conhecedoras de si próprias, capazes de
ressignificar-se.
Adriana Betancur. Bibliotecas públicas, informação e desenvolvimento, 2007
3. Bibliotecas da Comunidade x Bibliotecas para Comunidade
INL - INSTITUTO NACIONAL DO LIVRO
• Política assistencial de doação de livros; promoção do livro, não da leitura
• Desenvolvimento do acervo excessivamente controlado pelo órgão
• Bibliotecas com funções e feições de depositária e preservadora da cultura erudita
• Criação de espaços como um “organismo plantado na comunidade”
• Ausência de um planejamento local em realização às suas atividades
BIBLIOTECAS PARA A COMUNIDADE E NÃO DA COMUNIDADE
• Excessiva centralização - isolamento na construção dos planos e programas
• Continuidade administrativa não-inovadora
• ‘Gigantismo' que dificultava o controle de suas ações
CRISTALIZAÇÃO DOS PROCEDIMENTOS E POLÍTICAS PARA A ÁREA
Zita Catarina Prates de Oliveira. A Biblioteca ‘fora do tempo’, ECA/USP 1994
4. A Leitura Localizada
A leitura do atual cenário leva à percepção que, mais do que uma
política para difusão do livro, são necessárias políticas municipais
de fomento à leitura.
É afinal no município que o sujeito desenvolve plenamente sua cidadania,
estabelecendo laços de pertencimento e partilhando objetivamente do
processo de construção da sociedade.
É na sua cidade que ele ira perceber e se apropriar dos pontos focais de
promoção da prática da leitura, se os governos locais adotarem redes de
programas e projetos de estímulo à leitura combinadas com a
institucionalização de políticas e marcos legais que garantam a
continuidade dessas ações.
MinC / MEC. Guia para elaboração e implantação dos PELL & PMLL, 2010
5. Os Pontos de Leitura
• Empréstimo de livros & Contação de histórias (82%)
• Oficinas de literatura (57%)
• Produção textual (56%)
• Estudos, formação e pesquisa (54%)
• Oficinas para formação de leitores críticos (49%)
Sua grande fragilidade está na dificuldade em articulação local e com
parceiros do espaço. A experiência demonstra que investir em iniciativas
já existentes na sociedade, dando-lhes visibilidade e articulando-as
em redes, permite que esses projetos enraízem em suas comunidades
de forma mais permanente que projetos eventuais e homogêneos.
Parcerias Precárias: com Escolas (28%), Bibliotecas (19%), Livrarias (26%),
Secretarias de Cultura (36%) e outros Pontos de Leitura (23%).
Valéria Labrea da Silva. Cartografia da cadeia Criativa do Livro, 2011
6. Comunidades Leitoras & Políticas Públicas
Movimentos Sociais: protagonistas de uma dimensão fundamental na
compreensão do que acontece em termos de leitura.
Surgindo de compromissos políticos relegados pelo Estado, estas
iniciativas ganham em qualidade porque dependem de uma sintonia
permanente com a população, e se inspiram na articulação coletiva e
independente de projetos movidos pela vontade de pessoas e pela ação
e comprometimento de instituições sociais.
A idéia de autoria é a síntese mais importante que os movimentos de
leitura trazem na sua contribuição para repensar a educação.
Aprendizes se fazem autores de obras de linguagem nas suas
múltiplas expressões, nesta arte de produção coletiva, onde se forja a
palavra e os sujeitos são constituídos em artífices da história.
CCLF. Política de Leitura: Qualidade que não pode mais esperar, 2000
8. Releitura - Recife
Propostas para Políticas de Leitura (2012) I Encontro Estadual de Bibliotecas (2012)
(com Instituto C&A,CCLF e o governo, nos três níveis)
Gestão Coletiva (2013)
• GT de Incidência Política
• GT de Formação
• GT de Eventos e Mobilização
• GT de Comunicação
• GT de Gestão Compartilhada
10. A Releitura pela(s) Leitura(s)
A leitura é uma arte que se transmite, mais do que se ensina
A apropriação da língua, o acesso ao conhecimento, como também a tomada de
distância, a elaboração de uma reflexão própria, propiciados pela leitura, podem ser o
pré-requisito, a via de acesso, ao exercício da cidadania.
Se os livros roubam um tempo do mundo, eles podem devolvê-lo, transformado e
engrandecido, ao leitor, sugerindo que podemos ser ativos em nosso destino.
Michele Petit, A Arte de Ler / Os jovens e a leitura, 2009
A linguagem é o meio para atingir uma consciência crítica, a qual, por sua vez, é o
meio de imaginar uma mudança e de fazer opções para realizar transformações.
A libertação só vem quando as pessoas cultivam sua linguagem e, com ela, o
poder de conjectura, a imaginação de um mundo diferente a que se deve dar forma.
Ann E. Berthoff in Paulo Freire & Donaldo Macedo,
Alfabetização – leitura do mundo / leitura da palavra, 1990
11. Bibliotecas & Comunidade
As bibliotecas populares, esforços permanentes do movimento sócio-cultural, devem ser
espaços de referência para um novo tipo de relação educativa com a população,
atuando como um partícipe político, visando formulações que renovem o processo
organizativo das comunidades.
Existe uma tensão, por vezes uma contradição, entre o que querem ser,
o que planejam, e o que vão conseguindo em seu cotidiano. Tendo um complexo
processo de relação com a comunidade, encontram nesta um nível de continuidade,
incorporando novos modos de organização e condução política.
Carbajo & Reluce, La Biblioteca como signo de la Cultura Popular, 1989
A biblioteca comunitária, vista como recurso de recreação, cultura e educação de
agrupamentos sociais de uma área geográfica, necessita conhecer sua população
para programar seus serviços e servir realmente como um recurso da comunidade.
Suas atividades e planejamento devem levar em conta as preferências e motivações
locais para a leitura, adequando seus serviços dentro de uma escala de prioridades.
Ida Stumpf, Estudo de Comunidades visando a criação de bibliotecas, 1988
12. O Direito à Leitura como Insumo da Democracia
A cultura escrita é um bem público e um meio para a construção individual e coletiva
do público, e a biblioteca, enquanto espaço social complexo sustentado por uma
rede de relações, é um bem para a construção do público, capaz de desempenhar um
papel na construção da democracia e na dignificação do espaço público
Silvia Castrillon, FLIP, 2012
A necessidade de que os grupos marginalizados possam expressar suas demandas,
seus modos de perceber a realidade, torna-se cada vez mais patente para que a própria
idéia de democracia não nos venha totalmente abaixo. Essas exigências devem ser
expressas, de maneira crescente, no estilo próprio de um texto escrito
Emilia Ferreiro, Cultura Escrita & Educação, 2001
A alfabetização é fundamental para erguer agressivamente a voz de cada um como
parte de um projeto mais amplo de empoderamento. A linguagem é o ‘verdadeiro
recheio’ da cultura e constitui tanto um terreno de dominação quanto de possibilidade
Henry Giroux, in Freire, Alfabetização – leitura do mundo, leitura da palavra, 1990
13. EmRedando Esforços
As organizações vêm contribuindo para o desenvolvimento de metodologias e
tecnologias sociais, atuando como laboratório de experiências no campo da educação.
Essas iniciativas muitas vezes deixam de ser sistematizadas, o que dificulta que
sejam replicadas ou adotadas como políticas.
O entendimento é que nessa atuação têm faltado monitoramento, avaliação,
capacidade de articulação e trabalho em rede. Hoje, as organizações atuam muitas
vezes de forma fragmentada e não transformam sua força em capacidade de pressão.
Liana Freire / Instituto C&A, Incidência em políticas públicas de educação, 2011
14. Redes para se ReLer
Retis // Synisthemis
(lat.: mesmo sentido) // (gr.: conjunto coordenado)
Redes são, antes de tudo, um modo de pensar. Um modo de ler o
mundo, e um modo de agir no mundo; um instrumento
intelectual para se entender um fenômeno.
as redes nunca formam totalidades ensimesmadas;
as redes tem sua força na inconstância das articulações
existentes e possíveis;
as redes são ao mesmo tempo articuladoras e desestabilizadoras
de outras redes e sistemas.
Fábio Duarte & Klaus Frey, Redes Urbanas, 2008
15. Leitura em Rede: Parâmetros de Avaliação (CEAAL)
Impacto e Incidência em Espaços Públicos (Posicionamento Político da Rede)
• Incidência na agenda pública;
• Geração de lobbys ou movimentos de opinião;
• Formacão de líderes da sociedade civil ou política;
• Frequencia de divulgação nos meios de comunicação;
• Construção de projetos alternativos à projetos dominantes;
• Realização de trabalhos em parceria con institucões públicas.
Elaboração & Construção de Conhecimentos (Posicionamento Intelectual da Rede)
• Producão de materiais temáticos educativos;
• Integração de problemáticas culturais heterogêneas;
• Incidência em planos e reformas educacionais / culturais;
• Gestão e fortalecimento de centros de estudo e/ou de aplicação (ONGs);
• Identificação, registro, processamento e disseminação de experiências significativas.
Categorias de Organicidade e Funcionamento (Institucionalização e Identidade da Rede)
• Captação de recursos econômicos;
• Interlocução com referentes alheios a rede;
• Renovação das lideranças no interior da rede;
• Processamento de informação útil para a ação;
• Elaboração de planos estratégicos para seu trabalho;
• Estruturação de bases de datos compreensivas em sua temática específica;
• Nivel e qualidade para circulação de informações internas da rede (boletins, etc);
• Estabelecimento de programas de formação e capacitação para seus associados.
16. Perspectivas
RBBC: Uma Rede em Prol da Leitura Comunitária
• Estabelecimento de uma comissão de atores envolvidos em
discussões presenciais, acompanhando as políticas públicas de
leitura no país;
• Fomentar encontros, como grupos focais, seminários e audiências
públicas, em parceria com outras instâncias envolvidas nessa área;
• Estimular, por um portal virtual, o debate contínuo dos membros da
rede, sistematizando eventos realizados, e políticas em andamento,
subsidiando o planejamento de ações inter-setoriais visando a
promoção da leitura.
Mote: estabelecer, no Brasil, algo como a CONABIP (Argentina)
17. Referências
BETANCUR BETANCUR, Adriana Maria. Bibliotecas Públicas, información y desarrollo local. Colombia: CONFENALCO, 2007
CASTRILLON, Silvia. Palestra na FLIP. Paraty, 2012.
CCLF [Centro de Cultura Luiz Freire]. Política de Leitura: qualidade que não pode mais esperar (ou qualidade cansada de
esperar?). Olinda: CCFL, 2000
DUARTE, Fábio; FREY, Klaus. Redes Urbanas. In.: DUARTE, Fábio (org). O tempo das redes. São Paulo: Perspectiva, 2008
FERREIRO, Emilia. Cultura Escrita e Educação. Porto Alegre: ARTMED, 2001.
FREIRE, Liana / Instituto C&A. Incidência em políticas públicas de educação. [SP], 2011
FREIRE, Paulo; MACEDO, Donaldo. Alfabetização – leitura do mundo / leitura da palavra. São Paulo: Paz e Terra, 1990.
LUIS CARBAJO, José; ESPINA RELUCE, Gonzalo. La Biblioteca como signo de cultura popular. Revista Contexto & Educação,
n. 13, jan./mar. 1989.
MinC / MEC. Guia para elaboração e implantação dos Planos Estaduais e Municipais do Livro e da Leitura, Brasília, 2010
OLIVEIRA, Zita Catarina Prates de. A Biblioteca ‘fora do tempo’: políticas governamentais de Bibliotecas Públicas no Brasil,
1937-1989. Tese de Doutorado, ECA/USP, 1994
PETIT, Michele. A arte de ler – ou como resistir a adversidade. SP: Ed. 34, 2010
PETIT, Michele. Os jovens e a leitura – uma nova perspectiva. SP: Ed. 34, 2009
SILVA, Valéria Viana Labrea da. Cartografia da cadeia Criativa do Livro: subsídios para uma política pública. Brasília: DLLL /
MinC; UNESCO, dez./2011
STUMPF, Ida, Estudo de Comunidades visando a criação de bibliotecas, Rev.Bibliotecon. & Comu. , Porto Alegre, n. 3, p. 17-
24, jan./dez. 1988
EDWARDS, Verónica.; TAPIA, Gonzalo. Redes desde la sociedad civil: Propuestas para su potenciación. Análisis del impacto
cualitativo de las redes de CEAAL: discusión teórico-metodológica y conceptual. La Piragua, n. 12, Consejo de Educación de
Adultos de América Latina (CEAAL), Santiago de Chile, jul/1995.
RBBC – rbbconexoes.ning.com // rbbconexoes.blogspot.com
Contatos: abrapira@gmail.com // facebook.com/abrapira
18. palavra-mundo
olha, escuta!
antes de tudo, a palavra foi voz
perceba que há bocas em luta, e nós
estando entre estantes, não estamos sós
a guerra cá dentro foi começada lá fora
humanos conflitos ressoam nos escritos
- & a hora de agir é agora
escuta: olha!
transformar o que existe será sempre o mote
dos que vislumbram nas letras outro norte
traçando e tecendo histórias
reescrevendo memórias
inventando tradições
massacrando a traição
do não saber escutar, ou olhar
- o outro
à margem
do 'ler’ Obrigado!