1) O documento discute a competência narrativa da consciência histórica segundo Jörn Rüsen, propondo quatro tipos de consciência histórica que representam estágios de desenvolvimento;
2) Rüsen argumenta que a aprendizagem histórica envolve o desenvolvimento de três competências - experiência, interpretação e orientação - através de um processo estrutural;
3) A investigação empírica da consciência histórica é desafiadora devido à sua complexidade e múltiplas dimensões, requerendo abordagens qualit
2. Jörn Rüsen é historiador e filósofo alemão. Os seus textos e investigações
abrangem, sobretudo, os campos da teoria e metodologia da história, da
história da historiografia e da metodologia do ensino de história.
3. ODESENVOLVIMENTODACOMPETÊNCIANARRATIVANA
APRENDIZAGEMHISTÓRICA:UMAHIPÓTESEONTOGENÉTICA
RELATIVAÀCONSCIÊNCIAMORAL
“A aprendizagem histórica pode se explicar como um processo
de mudança estrutural na consciência histórica. A
aprendizagem histórica implica mais que um simples adquirir
de conhecimento do passado e da expansão do mesmo. Visto
como um processo pelo qual as competências são adquiridas
progressivamente, emerge como um processo de mudança de
formas estruturais pelas quais tratamos e utilizamos a
experiência e conhecimento da realidade passada, passando
de formas tradicionais de pensamento aos modos genéticos.”
(tradução: Silvia Finocchio)
Jörn Rüsen
4. Publicações
Em alemão Em português
(2006) Kultur macht Sinn: Orientierung zwischen Gestern und Morgen.
Köln: Böhlau.
(2005) History: Narration, Interpretation, Orientation. New York:
Berghahn.
(2003) Kann Gestern besser werden? Essays zum Bedenken der
Geschichte. Berlin: Kadmos.
(2002) Geschichte im Kulturprozess. Köln: Böhlau.
(2001) Zerbrechende Zeit. Über den Sinn der Geschichte. Köln: Böhlau.
(1994) Historisches Lernen. Grundlagen und Paradigmen. Köln: Böhlau.
(1994) Historische Orientierung : über die Arbeit des
Geschichtsbewusstseins, sich in der Zeit zurechtzufinden. Köln: Böhlau.
(1993) Konfigurationen des Historismus: Studien zur deutschen
Wissenschaftskultur. Frankfurt am Main : Suhrkamp.
(1993) Studies in Metahistory. Pretoria: HSRC.
(1992) Geschichte des Historismus: eine Einführung (em co-autoria com
Friedrich Jaeger). München: C. H. Beck.
(1990) Zeit und Sinn: Strategien historischen Denkens. Frankfurt am
Main: Fischer.
(1989) Lebendige Geschichte: Grundzüge einer Historik III: Formen und
Funktionen des historischen Wissens. Göttingen: Vanderhoeck &
Ruprecht.
(1986) Rekonstruktion der Vergangenheit. Grundzüge einer Historik II: die
Prinzipien der historischen Forschung. Göttingen: Vanderhoeck &
Ruprecht.
(1983) Historische Vernunft. Grundzüge einer Historik I: Die Grundlagen
der Geschichtswissenschaft. Göttingen: Vanderhoeck & Ruprecht.
(1976) Für eine erneuerte Historik : Studien zur Theorie der
Geschichtswissenschaft. Stuttgart: Frommann-Holzboog.
(1969) Begriffene Geschichte. Genesis und Begrundung der
Geschichtstheorie J.G. Droysens. Paderborn: Schöningh.
RÜSEN, Jörn. Aprendizagem histórica: fundamentos e paradigmas.
Curitiba: W.A. Editores, 2012.
(2012) "Cultura: universalismo, relativismo ou o que mais?". (Trad.
Daniel Carlos Knoll). História & Ensino, v. 18, n. 2, 281-291.
(2011) "Pode-se melhorar o ontem? Sobre a transformação de passado
em história". (Trad. Arthur Alfaix Assis) In: Marlon Salomon
(Org.). História, verdade e tempo. Chapecó: Argos, 105-132, ISBN: 978-
85-7897-032-1.
(2010) Jörn Rüsen e o ensino de história. (Org. Maria Auxiliadora
Schmidt, Isabel Barca & Estevão de Rezende Martins). Curitiba: Ed. UFPR.
(2009) "Como dar sentido ao passado. Questões relevantes de meta-
história" (Trad. Valdei Araújo e Pedro S. P. Caldas). In: História da
Historiografia, no. 2, 163-209.
(2007) História Viva: Formas e funções do conhecimento histórico. (Trad.
Estevão de Rezende Martins). Brasília: Ed. UNB.
(2007) Reconstrução do Passado: Os princípios da pesquisa histórica.
(Trad. Asta-Rose Alcaide). Brasília: Ed. UNB.
(2006) "Didática da história: passado, presente e perspectivas a partir do
caso alemão" (Trad. Marcos Roberto Kusnick). In: Práxis Educativa (Ponta
Grossa, PR), Vol. 1, N. 2, p. 07-16.
(2001) Razão histórica. Teoria da história: Os fundamentos da ciência
histórica. (trad. Estevão de Rezende Martins). Brasília: Ed. UnB.
(2001) Perda de sentido e construção de sentido no pensamento
histórico na virada do milênio. História: Debates e Tendências (Passo
Fundo, RS), Vol. 2, N. 1, p. 9-22.
(1997) "A história entre a modernidade e a pós-modernidade". In:
História: Questões e Debates (Curitiba), Vol. 14, N. 26-27, 80-101.
(1996) "Narratividade e objetividade nas ciências históricas". In: Textos
de História (Brasília), v. 4, n. 1, p. 75-102.
(1989) "Conscientização histórica frente à pós-modernidade: a História
na era da 'nova intransparência'". In: História: Questões e Debates
(Curitiba), Vol.10, N. 18/19.
(1987) "Explicação narrativa e o problema dos construtos teóricos de
narração". In: Revista da Sociedade Brasileira de Pesquisa Histórica (São
Paulo) N. 3.
6. Umanarraçãoem quatroversões...
• Utilizar a história para demonstrar a natureza da competência
narrativa e suas diversas formas.
• O autor assinala a existência de quatro possibilidades para
interpretação:
1. Tomada de decisão guiado por uma antigo tratado;
2. Tomada de decisão motivado por múltiplas razões, mas ainda
motivado por acordos passados;
3. Pode negar-se a tomar uma decisão que leve em conta
acordos do passado, apresentando uma série de argumentos
histórico-críticos;
4. Pode tomar uma decisão baseado em considerações
modernas.
Essas quatro variantes representam quatro versões essenciais da
consciência histórica, mostrando quatro etapas de
desenvolvimento por meio da aprendizagem.
7. Arelaçãoentreconsciênciahistórica,os valores
moraiseo raciocínio
• Que significados tem os valores morais?
- “Valores são geralmente princípios, guias de
comportamento, ideias ou perspectivas-chaves que
sugerem o que deveria ser feito em uma situação
determinada, em que existem várias opções.”
- “Expressam a relação social como uma
obrigação para nós, dirigindo-nos, assim, até a
essência de nossa subjetividade, recorrendo a
nosso sentido de responsabilidade e nossa
consciência.” (p. 55)
8. Como entra a história entre nossas ações, nossa
personalidade e nossas orientações valorativas?
- “Quando se supõe que os valores morais guiam as
ações que tomamos em uma dada situação,
devemos relacionar os valores a esta situação,
interpretar os mesmos e seu conteúdo moral com
referência à realidade em que os aplicamos, e
avaliar a situação nos termos de nosso código de
valores morais aplicáveis.” (p.55)
- “Para tal, a consciência histórica é um pré-
requisito necessário”.
9. SOBRE A “CONSCIÊNCIA HISTÓRICA”
• Por que tem que ser a consciência histórica um pré-
requisito necessário para a orientação em uma situação
presente que demanda ação?
- “É que a consciência histórica funciona como um modo
específico de orientação em situações reais da vida
presente.”
• O que é especificamente histórico nesta explicação, nesta
interpretação da situação e em sua legitimação?
- “O histórico como orientação temporal une o passado ao
presente de tal forma que confere uma perspectiva futura à
realidade atual.” (p. 56)
10. CARACTERÍSTICAS DA CONSCIÊNCIA HISTÓRICA:
- “A consciência histórica serve como elemento de
orientação chave, dando à vida prática um marco e uma
matriz temporal, uma concepção do “curso do tempo” que
flui através dos assuntos mundanos da vida diária.”
- “A consciência histórica deve ser conceituada como
uma operação do intelecto humano para aprender algo
neste sentido.”
- “A história é um nexo significativo entre o passado, o
presente e o futuro.”
- A consciência histórica mistura “ser” e “dever” em
uma narração significativa.
11. - A consciência histórica traz uma contribuição
essencial à consciência ética moral.
- A consciência histórica tem uma função
prática: pode guiar a ação intencionalmente,
através da mediação da memória histórica.
- Orientação temporal:
• sob o aspecto externo - traz a dimensão
temporal da vida prática;
• sob o aspecto interno - traz a dimensão
temporal da subjetividade humana.
13. Ainda a competência narrativa da consciência histórica
• Texto 5 (Schmidt) cita 3 Princípios: Experiência
Orientação
Interpretação
• Texto 8 (Rusen) repete:
Categorias de Sentido: Percepção
Interpretação
Orientação
O passado é interpretado
O presente é entendido
O futuro é esperado
Toda narrativa é história, mas nem toda é histórica.
14. 3 dimensões da constituição histórica de sentido
(ainda no texto 8)
15. Quatro tipos de consciência histórica
- “Minha intenção aqui é propor uma teoria análoga [á do
desenvolvimento cognitivo] de desenvolvimento concernente à
realidade ou à moral e à atividade através de um ato narrativo:
o relato de uma história de fatos passados.”
- Procura-se “uma tipologia geral do pensamento histórico”.
4 princípios distintos:
a)- afirmação das orientações dadas,
b)- regularidade dos modelos culturais e dos modelos de
vida (Lebensformen);
c)- a negação;
d)- a transformação dos modelos de orientação temática.
16. Existem seis elementos e fatores de consciência histórica através dos
quais se pode descobrir estes tipos:
1)- seu conteúdo, ou seja, a experiência dominante do tempo, trazida
desde o passado;
2)- as formas de significação histórica, ou as formas de totalidades
temporais;
3)- o modo de orientação externa, especialmente em relação às formas
comunicativas da vida social;
4)- o modo de orientação interna, particularmente em relação à
identidade histórica como a essência da historicidade no conhecimento
da personalidade humana e a auto compreensão;
5)- a relação de orientação histórica com os valores morais; e
6)- sua relação com a razão moral (ver quadro).
18. O desenvolvimento
das competências narrativas
Rüsen afirma que, “para embarcar em uma
investigação sobre a consciência histórica e
sua relação essencial com a consciência
moral, é necessário primeiramente
esclarecer as bases, isto é, um marco teórico
que deva ser construído e que defina o
campo de ação e explique em termos
conceituais quais são as questões básicas a
analisar.”
19. Que conceitos de desenvolvimento podem de fato ser
oriundos da tipologia?
O tipo tradicional é primário e constitui a
condição para outros tipos. É a fonte, o
começo da consciência histórica. Na
sequência lógica cada um é precondição
para o próximo:
tradicional;
exemplar;
crítico;
genético.
20. Pode-se supor que há uma sequência estrutural no
desenvolvimento da consciência histórica
1- A sequência implica uma crescente complexidade;
2- O crescimento em complexidade pode ser especificado e
diferenciado seguindo a ordem lógica das precondições;
3- Há também um crescimento em complexidade com respeito
às formas de significação histórica;
4- É igualmente certo quando vai ao grau de abstração e
complexidade das operações lógicas;
5- Existe também uma crescente complexidade da orientação
interna e externa;
6- Transitando através das séries tipológicas, há uma
complexidade crescente em relação à identidade histórica;
21. 7- Os modos tradicionais e exemplares estão bastante
estendidos e se podem encontrar com frequência; os
modos críticos e genéticos, pelo contrário, são mais
raros;
8- A experiência de ensinar história em escolas indica
que as formas tradicionais de pensamento são mais
fáceis de aprender, a forma exemplar domina a maior
parte dos currículos de história, as competências
críticas e genéticas requerem um grande esforço por
parte dos docentes e do aluno.
22. Observaçõesempíricasacercada aprendizagem
históricaeainvestigaçãoempírica
A aprendizagem histórica pode ser conceituada como um
processo de digestão de experiência absorvendo-o sob a forma
de competências. Essa competência consiste em três
habilidades:
1- experiência, relacionada com a realidade passada;
2- interpretação, relacionada com o todo temporal que
combina: a)- experiência do passado com b)- a compreensão
do presente e c)- as expectativas concernentes ao futuro;
3- orientação, relacionada com a necessidade de prática de
encontrar um caminho através dos estreitos e remansos da
mudança temporal.
23. “Uma investigação desta natureza, enfrenta
formidáveis obstáculos em especial a
complexidade da consciência histórica e suas
quatro competências. Tal tipologia imprime a
ideia aos investigadores de que o que é
importante descobrir em relação à
consciência histórica não é a extensão do
conhecimento implícito, mas também o
marco de referência e os princípios
operativos que dão sentido ao passado”.
24. Referência Bibliográfica
RÜSEN, Jörn. O desenvolvimento da competência narrativa
na aprendizagem histórica: uma hipótese ontogenética
relativa à consciência moral. (Orgs.) SCHMIDT, Maria
Auxiliadora; BARCA, Isabel; Martins, Estevao de Rezende.
Jörn Rüsen e o ensino de História. Curitiba: Ed. UFPR,
2010, p. 51-77.